O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

José Guilherme Merquior, um intelectual brasileiro: dossiê preparatório a uma homenagem pelos seus 80 anos

 O diretor de comunicações do Livres, Mano Ferreira, convidou-me para animar um debate online em homenagem ao intelectual e diplomata (nessa ordem) José Guilherme Merquior, no dia em que ele completaria 80 anos, se vivo fosse, o que significa no próximo dia 22 de abril.

Fiquei envaidecido pelo convite, inclusive porque eu nunca conheci diretamente Merquior, mas li bastante de sua obra, bem mais a parte de sociologia política do que a de crítica literária ou de filosofia. Eu o vi apenas uma vez, de soslaio, no Itamaraty, e nunca tive oportunidade de corresponder-me com ele, a despeito de termos feito o doutoramento mais ou menos na mesma época, ele na London School of Economics, com Ernest Gellner, eu na Universidade Livre de Bruxelas, com o professor Robert Devleeshouwer. Ele fez a sua tese um pouco antes, e ela saiu publicada sob o título de Rousseau and Weber: two essays in the theory  of legitimacy, tanto que a citei em minha tese, e lembro-me perfeitamente que foi sobre o conceito de "carisma burocrático", a propósito do poder leninista.

Vou tentar organizar um dossiê en bonne et due forme, mas começo neste momento apenas coletando o que apareceu em meu blog Diplomatizzando sob o seu nome (talvez existam outras postagens que não coletam o seu nome nos marcadores). 

Este ano saiu publicado um longo ensaio em torno de sua obra de sociologia política, como indico abaixo: 

“José Guilherme Merquior: o esgrimista liberal”, In: José Guilherme Merquior, Foucault, ou o niilismo de cátedra (nova edição: São Paulo: É Realizações, 2021, 440 p.; ISBN: 978-65-86217-22-3; tradução de Donaldson M. Garshagen; posfácio de João Cezar de Castro Rocha; posfácio de Paulo Roberto de Almeida, p. 251-320); livro disponível para aquisição no site da Editora (link: https://www.erealizacoes.com.br/produto/foucault---ou-o-niilismo-de-catedra).

Transcrevo o início deste dossiê, que no momento conta unicamente com três postagens localizadas pelo instrumento do busca de meu blog Diplomatizzando.

José Guilherme Merquior, um intelectual brasileiro:

80 anos do nascimento

 

 

Dossiê seletivo com coletânea de postagens e documentos relativos à trajetória pessoal, funcional e intelectual do grande diplomata intelectual, por Paulo Roberto de Almeida. Brasília, 16 abril 2021.

 

 

https://diplomatizzando.blogspot.com/2017/02/jose-guiherme-merquior-o-intelectual.html

 

sábado, 25 de fevereiro de 2017

José Guiherme Merquior: o intelectual, antes do diplomata - Google

Eu estou escrevendo uma espécie de história das ideias de Roberto Campos, e inevitavelmente tive de fazer referência à sua convivência com José Guilherme Merquior, que serviu sob suas ordens na Embaixada em Londres, aproveitando para fazer sua tese de doutorado na LSE, daí resultando um livro que usei em minha própria tese de doutorado: Rousseau and Weber: two studies in the theory of legitimacy.

Ao googlelizar um pouco, para verificar algumas datas, acabei caindo em mais de 40 mil resultados.


Abaixo reproduzo o que veio em primeiro lugar, inclusive duas postagens minhas, que parecem, portanto (esse é pelo menos o critério do Google), ter sido bastante acessadas.

Paulo Roberto de Almeida

Aproximadamente 43.800 resultados (0,49 segundos) 

Resultados da pesquisa

José Guilherme Merquior – Wikipédia, a enciclopédia livre

https://pt.wikipedia.org/wiki/José_Guilherme_Merquior

 

José Guilherme Alves Merquior (Rio de Janeiro, 22 de abril de 1941 — Rio de Janeiro, 7 de janeiro de 1991) foi um crítico literário, ensaísta, diplomata e ...

Vida · ‎Crítica ao comunismo · ‎Polêmica · ‎Documentário

É Realizações | Jose Guilherme Merquior

www.erealizacoes.com.br/autor/jose-guilherme-merquior

 

Um dos mais renomados acadêmicos e intelectuais públicos brasileiros da segunda metade do século XX, o crítico literário, sociólogo e diplomata doutorou-se ...

O fenômeno Merquior - Olavo de Carvalho

www.olavodecarvalho.org/convidados/0122.htm

 

20 de fev de 2001 - Ninguém mais habilitado para escrever um depoimento limpo e exato sobre José Guilherme Merquior do que o jornalista (e editor da ...

 

Merquior, o conformista combativo - 23/08/2015 - Ilustríssima - Folha ...

www1.folha.uol.com.br/.../2015/.../1671785-merquior-o-conformista-combativo.sht...

 

23 de ago de 2015 - RESUMO José Guilherme Merquior (1941-91) destacou-se pela erudição, curiosidade intelectual e capacidade de trabalho. A obra do ...

José Guilherme Merquior | Academia Brasileira de Letras

www.academia.org.br/academicos/jose-guilherme-merquior/biografia

 

José Guilherme Merquior nasceu na cidade do Rio de Janeiro, RJ, a 22 de abril de 1941 e faleceu na mesma capital em 7 de janeiro de 1991. Era filho de ...

José Guilherme Merquior | Academia Brasileira de Letras

www.academia.org.br/academicos/jose-guilherme-merquior

 

17 de set de 2015 - José Guilherme Merquior nasceu na cidade do Rio de Janeiro, RJ, a 22 de abril de 1941 e faleceu na mesma capital em 7 de janeiro de 1991.

Entrevista com José Guilherme Merquior em 1981 - perspectiva online

https://perspectivaonline.com.br/2015/06/03/merquior/

 

3 de jun de 2015 - Entrevista de José Guilherme Merquior, concedida à revista VEJA em 1981. Original aqui. Quarta-feira passada, jantando com autoridades ...

Biografia de José Guilherme Merquior

https://www.ebiografia.com/jos_guilherme_merquior/

 

18 de abr de 2016 - José Guilherme Merquior (1941-1991) foi um crítico, escritor, pensador, polemista, sociólogo e diplomata brasileiro. Ocupou a cadeira 36 da ...

Livros por Jose Guilherme Merquior | Estante Virtual

https://www.estantevirtual.com.br/autor/jose-guilherme-merquior

 

Compre os livros de Jose Guilherme Merquior, no maior acervo de livros do Brasil. As mais variadas edições, novas, seminovas e usadas pelos melhores ...

Saudades de José Guilherme Merquior – introdução à crise do ...

mercadopopular.org/.../saudades-de-jose-guilherme-merquior-introducao-a-crise-do-l...

 

28 de ago de 2014 - Nesse sentido, ter saudades da figura de José Guilherme Merquior é um imperativo moral. Nascido no Rio de Janeiro em uma família ...

José Guilherme Merquior: um dos maiores (senão o maior ...

 

https://plus.google.com/112117719862124831031/posts/NmZ8bBGu6Pa

 

Paulo Roberto de Almeida

29 de mar de 2016 - José Guilherme Merquior: um dos maiores (senão o maior) intelectuais brasileiros - Estudantes Pela Liberdade Uma nova oportunidade para assistir ao ...

Jose Guilherme Merquior: uma entrevista de 1981 sobre cultura ...

 

https://plus.google.com/112117719862124831031/posts/HYKXU2GR9mR

 

Paulo Roberto de Almeida

12 de out de 2015 - Jose Guilherme Merquior: uma entrevista de 1981 sobre cultura, academia e coisas afins. Agradeço ao colega de academia e de lista no Facebook Alexandre ...

Pesquisas relacionadas a José Guilherme Merquior

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josé guilherme merquior o liberalismo antigo e moderno pdf

 

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https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/trinta-anos-sem-jose-guilherme-merquior.html

 

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Trinta anos sem José Guilherme Merquior: listagem da série "ano Merquior" - Paulo Roberto de Almeida

 

 Comecei  esta série "ano Merquior" de forma algo improvisada – aliás, como muitas coisas que faço –, ao ter conhecimento de que um longo ensaio meu, sobre a obra sociológica e política de José Guilherme Merquior – reproduzida aqui apenas em um breve trecho inicial – tinha sido incluída numa nova edição de Foucault – escrita em inglês pelo intelectual brasileiro mais universal que jamais existiu, com exceção, talvez, de Vinicius de Moraes – pelo seu editor na É Realizações, João Cezar de Castro Rocha, a ser publicado proximamente. Pretendo incluir outros materiais, até a data de seus 80 anos, em 22 de abril. Ele nos fez, nos faz muita falta: imaginem o que poderia ter escrito nestes últimos 30 anos desde a sua morte.

Paulo Roberto de Almeida

 

 

Trinta anos sem José Guilherme Merquior

 

Postagens no blog Diplomatizzando, por Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5 de janeiro de 2021

 

 

Ao se completarem 30 anos desde o falecimento do intelectual, acadêmico (da ABL) e diplomata José Guilherme Merquior, desaparecido precocemente aos 50 anos incompletos, em 7 de janeiro de 1991, o brilhante homem de cultura, de saber, de conhecimento e de sensatez política e econômica faz mais falta do que nunca, em nossos tempos conturbados, estilhaçados por ideologias contrárias e contraditórias. Exatamente tudo o que ele precisava para impor-se no debate público com sua postura serena, ponderada, nos argumentos certeiros, praticamente imbatíveis, dotados de densa, profunda, fundada racionalidade, tudo apoiado num sólido conhecimento das teorias políticas, das doutrinas sociais e de uma atenta observação das coisas do mundo. 

Ao pensar em tudo o que ele poderia ter colaborado, como reflexão e posturas, desde seu brutal desaparecimento, resolvi alinhar algumas poucas postagens, selecionando materiais diversos que ofereço como prazer intelectual – e lamento adicional – dos leitores interessados. São materiais dele ou sobre ele, inclusive um pequeno trecho de um longo ensaio que fiz sobre sua obra sociológica e política – não ousei me aventurar na produção estética e literária –, que não se esgotam aqui, pois em 22 de abril deste ano ele completaria 80 anos: ficou nos “devendo” trinta anos, pelo menos, de intensa produção cultural, política, filosófica, estética e literária. 

Já disse algo do que penso sobre ele e sua obra nas introduções das postagens que alinho abaixo, mas me permito transcrever, aqui, o posfácio escrito pelo editor atual na, É Realizações, da obra de JGM, o professor João Cezar de Castro Rocha, à reedição da obra O Marxismo Ocidental ( 2018), mas apenas o seu início: 

 

Uma obra-manifesto?

Hipóteses sobre o estilo intelectual de José Guilherme Merquior

João Cezar de Castro Rocha

 

Por onde começar?

Não é uma tarefa simples oferecer uma interpretação abrangente da obra multifacetada de José Guilherme Merquior. E não apenas multifacetada, mas também extensa – extensíssima... e aqui o superlativo seria modesto e acima de tudo sincero. Publicando desde muito cedo no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, Merquior nunca diminuiu seu ritmo intenso, quase impossível, de leitura e de escrita. Falecido precocemente aos 49 anos de idade, ele deixou vinte livros lançados e Liberalism – Old and New inteiramente revisto, embora o título tenha sido publicado postumamente.

Não é tudo.

Desses 21 livros, um foi escrito em francês, L’Esthétique de Lévi-Strauss (1977), inicialmente apresentado na forma de um seminário em presença do antropólogo; aliás, o carteio entre José Guilherme Merquior e Claude Lévi-Strauss merece uma cuidadosa edição comentada. Desde 1979, com o aparecimento de ensaio extraído de parte do segundo doutorado que completou, este sob a orientação de Ernest Gellner na London School of Economics, The Veil and the Mask: Essays in Culture and Ideology, Merquior passou a redigir – sempre à mão – seus textos mais ambiciosos em inglês. No caso foram outros cinco títulos, incluindo este Western Marxism, assim como o último que escreveu, Liberalism – Old and New (1991) 

Ainda não é tudo.

Nos livros escritos em inglês, Merquior não foi nada tímido e buscou produzir um acerto de contas com as correntes hegemônicas da tradição ocidental. E isto sem perder um decibel sequer de sua dicção polêmica – proeza incomum, e não somente em sua época. (p. 250-251 de O Marxismo Ocidental, 2018).

 

Alinho aqui as postagens que preparei de forma muito improvisada, simplesmente garimpando sem muita ordem os textos dele e sobre ele que encontrei em duas ou três pastas de meus arquivos de computador. Outras postagens virão, no devido tempo, neste ano que apelidei de “ano Merquior”, uma modesta homenagem a quem tanto contribuiu com minha formação intelectual, tanto, talvez até mais, do que outros grandes mestres: Marx, Max Weber, Raymond Aron, Fernand Braudel, Albert Hirshmann, Barrington Moore, David Landes, Deirdre McCloskey e tantos outros. 

 

Postagens iniciais nesta série “O ano Merquior”

 

1) 2021, o ano Merquior (1): aos 30 anos de sua morte precoce, ele estaria fazendo 80 anos neste ano

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-1-aos-30-anos-de.html

 

2) 2021, o ano Merquior (2): Discurso de posse na Academia Brasileira de Letras

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-2-discurso-de-posse.html

 

3) 2021, o ano Merquior (3): Homenagem de seus amigos e colegas diplomatas, depois de sua morte

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-3-homenagem-feita.html

 

4) 2021, o ano Merquior (4): uma entrevista para o jornal Gazeta do Povo sobre Merquior - Paulo Roberto de Almeida

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-4-uma-entrevista.html

 

5) 2021, o ano Merquior (5): A legitimidade na perspectiva histórica (1980) - José Guilherme Merquior, Celso Lafer

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/2021-o-ano-merquior-5-legitimidade-na.html

 

6) O ano Merquior (6): A tese do curso de Altos Estudos em 1978: A legitimidade em política internacional - José Guilherme Merquior

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-6-tese-do-curso-de-altos.html

 

7) O ano Merquior (7): o que perdemos em 30 anos de ausência de José Guilherme Merquior? - Josué Montello

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-7-o-que-perdemos-em-30.html

 

8) O ano Merquior (8): Os primeiros 30 anos de intensa produtividade intelectual - Paulo Roberto de Almeida

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-8-os-primeiros-30-anos.html

 

9) O ano Merquior (9): Fotos do jovem orador da turma de 1963: José Guilherme Merquior

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-9-fotos-do-jovem-orador.html

 



 

10) O ano Merquior (10): depoimento de José Mário Pereira sobre José Guilherme Merquior (2001)

https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/01/o-ano-merquior-10-depoimento-de-jose.html

 

 

 



A propósito desta última postagem, o testemunho de José Mário Pereira, esclareço que o segundo posfácio da nova edição do Marxismo Ocidental compõe-se de uma entrevista concedida pelo editor da Topbooks ao diretor editorial Castro Rocha, que vale ler em sua integridade.

Outros materiais virão, aguardem...

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 5 de janeiro de 2021

 

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https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/merquior-o-principe-dos-sonaibulos-por.html

 

segunda-feira, 23 de março de 2020

Merquior, "O Príncipe dos sonâmbulos", por Martim Vasques da Cunha

José Guilherme Merquior


O príncipe dos sonâmbulos

Martim Vasques da Cunha

Medium, 14 de Março de 2020 

 

Quem tentou nos salvar dessa situação miserável de Carandiru Intelectual que vivemos nas últimas décadas, mas acabou caindo numa armadilha inesperada, foi José Guilherme Merquior, famoso ensaísta e diplomata, morto aos 49 anos de idade e que faria 79 anos em 2020, um dos desaparecimentos mais tristes que o Brasil já teve. Brilhante e precoce intelectual, a vida de Merquior foi marcada pelo estigma de enfant-terrible, pelo estilo claro na exposição de ideias filosóficas e na análise de obras literárias, passando pela depuração na chamada política liberal. Foi também um polemista incrível, que — apesar de se considerar um discípulo de Antonio Candido — lutou contra uma facção da Universidade de São Paulo (na qual se encontrava Marilena Chauí), mas sem perder a elegância que faltava aos monarcas daquelas bandas. No fim da vida, já alquebrado pela doença, quis realizar um projeto de nação, o último que o país teve, e que falhou por causa de um temor de enfrentar a imprevisibilidade da vida do espírito.

Contudo, ao mesmo tempo que Merquior quis incentivar a inteligência brasileira, pondo-a para funcionar por conta própria, ele acabou sendo, em vida, e depois com a morte prematura, uma de suas vítimas. Mas, antes de analisar-lhe a obra para descobrir qual foi a sua encruzilhada intelectual, temos de retratar o impacto da chegada do garoto-prodígio ao mundo das ideias brasileiras.

Com apenas vinte e um anos de idade, Merquior já tinha publicado vários artigos de crítica literária no suplemento cultural do Jornal do Brasil. Três anos antes do golpe de 1964, ele representava uma nova geração de críticos que substituiria os centauros que foram Otto Maria Carpeaux, Álvaro Lins, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção e Eugenio Gondim. Era impressionante em seus textos a facilidade que tinha para passar da literatura à estética, desta à política, retornando através da filosofia para fazer sua conclusão. Seu estilo era exemplar por não simplificar o tema, discutindo a ideia até o ponto em que se tornasse legível e legítima aos olhos do leitor. Nunca impunha sua visão de mundo, pelo menos não de forma explícita; nesse aspecto, era um diplomata por natureza, e a carreira que seguiu no Itamaraty foi só uma confirmação. Além disso, a grande vantagem de Merquior em relação a seus novos pares, como Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho, era que ele visava compreender o fenômeno social e estético como um problema, nunca como uma solução.

Isso, no entanto, foi no início da carreira intelectual. Com o passar do tempo, Merquior, apesar do pluralismo e da tolerância com outras ideias, firmou-se no propósito de acreditar numa razão histórica, nitidamente influenciada pelo Iluminismo (era fã de Voltaire, de quem trouxe um pesado busto na primeira viagem que fizera à Europa) e por Hegel, e em que o sentido desta História é imanente a ela. Portanto, era lógico — essa palavra que fascinava tanto Merquior — que este sentido se projetasse num progresso, no qual a liberdade, a democracia e a igualdade tivessem papel fundamental. No meio disso tudo, havia o equilíbrio do Estado. Para ter este desejado progresso, seria necessário elaborar um projeto de nação e para a nação, onde a harmonia estatal traria como consequência a igualdade.

Merquior começou como crítico literário e é em seus ensaios sobre Rainer Maria Rilke, Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes que podemos perceber a semente de dois problemas. Primeiro, sua análise da poesia destes autores, reconhecidamente metafísicos (mesmo Drummond, na fase que vai de A Rosa do Povo a Claro Enigma, mostra que a desordem política é também uma desordem da alma), não aborda o problema religioso com profundidade. Para ele, a transcendência está no aspecto estético da obra, cuja forma se harmoniza com o conteúdo. Dessa maneira, Merquior já dá amostras de seu futuro namoro com o estruturalismo, ao qual vai se filiar, mesmo que de forma independente, por causa de seu futuro professor, Claude Lévi-Strauss. O segundo problema é sua completa falta de consciência das falhas do seu próprio racionalismo que surgiam nas entrelinhas de suas análises. Ao destrinchar Elegias de Duíno, de Rilke, Merquior aceita o mistério que envolve a obra, mas arrisca-se a explicá-lo por meio de sua forma artística, que fundamentaria o seu conteúdo.

A grande virtude do amor de Merquior pelas ideias é que ele não suportava desonestidade intelectual. É este mesmo amor que o levava a não considerar a poesia como a linguagem mais profunda que existe para representar a vida do espírito, limitando-a somente a um fenômeno estético. Seu amigo José Mário Pereira conta em seu relato memorialístico que Merquior ia à Igreja da Candelária, no Rio, e apreciava a arquitetura e as pinturas exibidas, com olhar extasiado pela beleza, apesar de, provavelmente, se questionar em seu íntimo sobre os aspectos religiosos.[1]

Infelizmente, isto não fica evidente em sua obra. Merquior tinha pavor de quem se opusesse a sua razão histórica e estética. Os títulos de seus dois primeiros livros demonstram isso: Razão do Poema e A Astúcia da Mímese, este último, inspirado na famosa expressão “astúcia da razão” de Hegel, um homem que entendia bem deste assunto. Quem quisesse colocar o insólito no debate intelectual, como o instinto, experiências transcendentais ou transfiguradoras, Merquior não hesitava em dar um peteleco e catalogar o sujeito de “irracional”, como se a razão em que acreditava fosse a única que prestasse.

Ainda assim, era capaz de lançar luzes sobre assuntos que ninguém tinha coragem de enfrentar. A crítica literária de Merquior é recheada desses momentos brilhantes. Seus ensaios sobre Drummond e João Cabral figuram entre os melhores da fortuna crítica destes autores. A visão em torno de Machado de Assis é a melhor introdução aos estudos literários de Antonio Candido, Raymundo Faoro, Jonh Gledson e Roberto Schwartz. Sua admiração por Robert Musil era exasperante, chegando ao ponto em que ele preteria Eliot justamente por causa de seu “pensamento irracional”.

Mas o que deixa o leitor aturdido é que Merquior via a cultura como um todo orgânico que tinha suas metamorfoses e nunca se petrificava em sistema ideológico. Foi isso que o salvou da influência marxista, já que, para ele, Marx havia reduzido todo o sentido da História a uma luta de classes que terminava em ditadura, não em liberdade. Desde o início, tinha uma visão democrática do processo histórico, e foi esta visão que o botou numa série de suspeitas no Itamaraty: seria ou não um esquerdista? É certo que Merquior ajudou numa exposição de fotografia cubana, mantinha correspondência intensa com Leandro Konder (de quem era amigo desde os vinte anos) e depois teria contato frequente com Darcy Ribeiro. Ironicamente, sua política de boas relações com a esquerda foi curiosamente manipulada pelos próprios esquerdistas, que afirmaram que ele era “reacionário”, “cabeça da ditadura” e, talvez o golpe mais sujo, “guru de Fernando Collor”.[2]

Merquior suportava a esquerda porque, desde o início de sua carreira, sabia que ela teria um papel importante em seu projeto sócio-liberal. Numa carta ao então presidente José Sarney, citada por José Mário Pereira, ele comenta que “Cuba não oferece maiores perigos na América do Sul”, por isso deveriam reatar relações com o governo de Fidel Castro, como um “gesto de grande charme para a esquerda”. “Eles ficariam meio ano digerindo este pitéu, obrigados a achar que ‘pô, esse Sarney não é assim tão reaça…’”. Numa outra carta, também endereçada a Sarney, Merquior escreve: “Temos que servir certos gestos simpáticos à esquerda, embora — ça va sans dire — sem comprometer a linha moderada, social-liberal, que presidiu a nova república. Uma ‘apertura a sinistra‘, sem exagero”.[3]

É por trechos como esse que percebemos como um homem inteligente pode errar miseravelmente. Merquior dava de bandeja o poder àqueles que, durante anos, reclamaram de perseguições e exílios. A pergunta que não quer calar era: sabia ele que este seria o fim de uma ordem política no Brasil? O que fica patente nos escritos de Merquior, quer sobre política quer sobre literatura, é sua ingenuidade. Ele não era malicioso; antes, acreditava piamente que seu projeto sócio-liberal ajudaria o Brasil a recuperar os rumos da democracia após vinte anos de ditadura militar — mesmo que tivesse que contorcer suas crenças ideológicas para que o seu projeto de poder desse certo.

O nó górdio da questão em torno do “fenômeno Merquior” é que ele analisava tudo sob o dogma da complexidade social. Assim, ficava praticamente míope ao fundo maior dos problemas que apresentavam seus estudos sobre ideologia e simbolismo. Seu mergulho no mar parava ao deparar-se com os corais — e ele não tinha coragem de ir adiante. Há em seus textos o medo secreto de tornar-se consciente dos problemas do espírito. Isso fica claro em sua análise sobre a ideologia, em que usa a metáfora brilhante do véu e da máscara. O véu cobria a visão de quem fazia e atuava nos interesses de determinada ideologia; a máscara era a face de quem via de fora e percebia o efeito nocivo dos dogmas ideológicos.[4] Para Merquior, no entanto, o véu e a máscara se tornaram um muro que o protegia dos seus dogmas do temor do irracional e do místico. Observem o que ele escreve sobre Jung:

Quanto a Jung, o cabeça de um renascimento romântico na teoria dos símbolos, seu rompimento com Freud deve ser encarado como um gesto essencialmente pré e não pós-freudiano. A despeito do valor heurístico limitado, mas real, da fantasia arquetípica, [Philip] Rieff mostra a verdade de modo contundente ao nos convidar a olhar para Jung como um estudioso fundamentalmente reacionário, em cuja obra a erudição teológica protestante, numa lamentável inversão, passa a atacar o que antes fora seu orgulhoso incentivo: o racionalismo crítico. A atitude cúltica de Jung para com a religião e com a cultura, sua “sabedoria” balsâmica, sua prosa tipo sábio e seu furor anticiência não forma mais do que os derradeiros arrebóis do “humanismo literário em sua forma mais vingativa” — e, como tal, algo que mais merece ser desmascarado do que louvado. De qualquer modo, o homem que escreveu tantos estudos eruditos sobre um conjunto tão vasto de símbolos e de suas transformações (bem como sobre os símbolos de transformação) encarava de fato o simbolismo como força sagrada, não como objeto de estudo crítico. Por isso, é mais do que conveniente aceitar o que ele diz e procurar alhures por princípios, e não simples pistas, de descoberta e explicação de questões simbólicas.[5]

Claro que a teoria jungiana tem suas falhas, mas Merquior fala mais neste trecho sobre o que o assusta do que propriamente do que ele defende. Seu maior medo é a via simbólica se infiltrando na sua amada razão, e assim ele vê os símbolos como um objeto crítico, apenas em seu sentido relativo, esquecendo-se do absoluto e do seu contato entre o humano e o divino. Além disso, critica Jung por seu “furor anticiência”, o que não corresponde aos fatos, pois o suíço foi o primeiro a procurar o físico Wolfgang Pauli para elaborar sua teoria da sincronicidade, além de trocar cartas com outros cientistas sobre os mais variados assuntos.[6]

Esta foi só uma amostra dos temores de Merquior. No entanto, não se pode duvidar de que Merquior sempre foi um crítico cultural que atendia corretamente à sua própria definição, explicitada no livro As Ideias e as Formas (título que, por si só, é uma profissão de fé no estruturalismo): “um ensaísta que analisa, de maneira original, no todo ou na parte, a cultura em que vive”.[7] Infelizmente, ficou apenas na parte — o todo foi deixado para trás, ou pior, o todo ficou nas mãos do fenômeno social.

É aqui que tudo se complica. O projeto socioliberal de Merquior, elaborado durante doze anos de estudos, ensaios e discussões com políticos, é um equívoco do começo ao fim porque parte de uma doença comum aos intelectuais daquele tempo: a divinização da História. No ensaio “A Regeneração da Dialética”, publicado no livro O Argumento Liberal, apesar de analisar a obra de Gerd Bornheim, e compará-la com Experiência e Cultura, de Miguel Reale, Merquior faz um elogio subliminar a Hegel. Era óbvio que mais cedo ou mais tarde isso acabaria acontecendo. Assim como acreditava Sérgio Buarque de Holanda, a busca de um sentido dentro da própria História levaria a crer que a história da salvação humana dependia de ninguém menos que do próprio homem. Não existe neste raciocínio a possibilidade de uma intervenção divina ou da graça — algo inviável para os padrões iluministas de Merquior. Leitor voraz de Kant, acreditava que o sentido da História era imanente — e a transcendência não passava de mera “irracionalidade”.

Isso termina na religião civil do Estado — ou, na visão ingênua de Merquior, em seu “equilíbrio social”. Ao comentar que a consciência humana, com Descartes e Hegel, tornou-se à parte de toda a interação do mundo, Merquior escreve que

Hegel fez do cogito não só um primeiro princípio, como um Todo — uma totalidade das totalidades, uma unidade absoluta. Simultaneamente, tentando escapar às dificuldades do platonismo e da metafísica cristã no tocante à justificação do finito, fez do seu Espírito absoluto algo autossuficiente, porém não atualizado. O Espírito hegeliano só se atualiza em todas as suas possibilidades ao fim de um longo processo: nesse processo, como “substância que é sujeito”, o Espírito se torna progressivamente objeto.[8]

Não se trata apenas uma maneira de demonstrar admiração por Hegel. Merquior está devidamente fascinado pelo idealismo alemão, acreditando que a consciência humana só se concretiza dentro de um longo processo histórico que, inevitavelmente, terminará no progresso e no equilíbrio das instituições.

O Espírito — um “eu que é nós”, no dizer de Hegel — é Deus, mas corresponde à consciência histórica do gênero humano […]. Hegel teria sido um criptoofita, um adepto clandestino da seita que, no paleocristianismo, adorou a Serpente como veículo da divinização do homem. O tema gnóstico da alienação positiva exalta o humano, por meio da identidade entre o Espírito e a consciência histórica; o tema gnóstico da retirada de Deus o glorifica ainda mais, pois confia ao homem a própria tarefa de redenção.[9]

Retira-se qualquer possibilidade de existência da graça divina neste raciocínio. Com a consciência humana abandonada por seu Absoluto — já que Deus se retirou deste mundo –, o que lhe resta é acreditar na razão que, como faz Merquior citando seu mestre polonês Leszek Kolakowski, “tem de ser ‘capaz de compreender a realidade como gestação da razão’”.[10] É a ideia de uma ideia, dentro de uma outra ideia — e, obviamente, isso não vai terminar bem.

Merquior insiste no erro como se estivesse amando o método do hábito. “Assim, a consciência que apreende o real sabe que esse ato de apreensão é parte, e parte motriz, da realidade”,[11] escreve. Não há mais o choque entre a apreensão da realidade e a realidade em si; a luta foi preterida para um dos lados, o que é sempre prejudicial quando se trata da abertura amorosa da alma. É então que vem a conclusão:

Talvez seja possível resumir a questão dizendo que, na dialética do Espírito progressivamente autoalienante (Espírito objetivo), até a reinteriorização-síntese que coroa todo o processo histórico-teológico (Espírito-absoluto), a filosofia, órgão supremo da conscientização da odisseia do Espírito, não pensa tanto sobre o mundo quanto pensa o mundo.[12]

O pensamento que deveria refletir sobre o mundo se torna o próprio mundo. A razão vence tudo, segundo Merquior. E, como o fim último de todo este processo histórico culmina com o Estado, seria coerente com seus propósitos iluministas esboçar um projeto nacional para um país que nunca teve uma visão adequada deste último. Merquior explica qual seria esta visão em seu livro A Natureza do Processo:

[A] consciência histórica deve ensinar-lhe a recusar juntamente ambas as falácias: a estadólatra e a estadófoba. Bobbio resumiu muito bem o problema ao advertir que o estado liberal não deve ser nem um mero guarda de trânsito, como preferem os neoliberais, nem um general, como pretendem os dirigistas “à outrance”. O guarda de trânsito se limitaria a tentar prevenir acidentes e trombadas no tráfico volumoso do desenvolvimento econômico e social contemporâneo, a que o estado — e o estado democrático, por definição — não pode ser indiferente. O general tentaria ordenar todas as ações da sociedade a partir de decisões tomadas exclusivamente por ele. No primeiro caso, a sociedade engoliria o estado; no segundo, o estado deglutiria a sociedade. Ora, na lição da história, a relação profunda entre os dois não é de contradição antagônica, e sim de implicação mútua.[13]

Sua visão equilibrada do Estado é uma doce idealização. Merquior parece se esquecer da sua natureza expansionista, em que, para preservar a natureza secreta do poder, se desdobra em inúmeros tentáculos de maneira tão sutil que o ataque à alma individual se torna imperceptível. “O Estado, no Brasil, não deve se omitir, nem precisa se demitir”, continua ele, “basta que não seja um estado comandado por petrograndistas e ocupado por novos emboabas”.[14] Para seu azar, ele foi justamente pregar este novo Estado no governo de Fernando Collor, repleto de emboabas.

Collor era um homem que se achava inteligente e acreditava que deveria se cercar de pessoas inteligentes, entre elas José Guilherme Merquior. No entanto, eram sujeitos que usavam o dom da inteligência para o proveito próprio. Merquior foi um dos poucos que realmente acreditavam que seu projeto daria certo porque era para o bem da nação. Foi ele quem escreveu o discurso de posse de Collor. “O principal redator do discurso de posse foi sem dúvida José Guilherme Merquior”, disse o embaixador e ex-ministro Marcílio Marques Moreira em seu livro-depoimento Diplomacia, Política e Finanças. Explica Moreira:

Gelson (Fonseca, embaixador) deu mais a forma, e Merquior, a substância. De Washington o presidente foi para o Japão e depois para a Europa, e ali se encontrou longamente em Paris, com Merquior, que era embaixador na Unesco. Depois, Merquior foi chamado ao Brasil. O presidente chamou também Vargas Llosa para conversar, porque ele era candidato no Peru, e até certo ponto os dois comungavam as mesmas ideias. Merquior participou da conversa. Ele me reportava tudo, infelizmente até o leito da morte.[15]

O encontro de Collor com Merquior e Vargas Llosa tem um relato mais detalhado no texto de José Mário Pereira. Cogitava-se a possibilidade do Ministério de Relações Exteriores para o jovem diplomata. Quem também estava presente no almoço era Roberto Marinho, que disse a Pereira:

Não tive oportunidade de conversar sozinho com o Collor. Aliás, tenho pouca intimidade com ele, apesar de conhecê-lo desde pequeno. Mas o Merquior foi prestigiadíssimo no almoço. A toda hora o presidente reportava-se a ele. Pediu-lhe, inclusive, que fizesse o discurso de saudação a Vargas Llosa.[16]

A nomeação para o ministério desejado não sairia (foi convidado para ser ministro da Cultura, mas recusou alegando que prejudicaria seus rendimentos), mas Merquior não guardou rancores de Collor. Fez mais dois discursos para o presidente, e voltou às suas funções na Unesco. Mesmo com o aparente rompimento de suas ideias em relação ao Plano Collor — uma verdadeira intervenção estatal digna da URSS — o prestígio de Merquior perdurou mesmo após sua morte, com a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência. FHC defenderia o papel de Estado que Merquior via como “equilibrado” — e hoje o PT se apropria da mesma retórica da social-democracia obscurantista para legitimar o aparelhamento ideológico das instituições a serviço do mito da “revolução permanente”.

Mas qual seria a causa de tamanho equívoco, alarmante para alguém que possuía uma lucidez intelectual peculiar sobre a cultura do país? “Merquior foi a mente mais brilhante da minha geração”, disse certa vez Bruno Tolentino numa de suas palestras, “mas seu grande problema era que ele evitava a qualquer custo refletir sobre o problema da morte”. Segundo Tolentino, Merquior não enfrentava a morte e, quando soube de sua doença, seu reconhecido “estoicismo” era uma forma de fazer da situação uma espécie de “conta-gotas”. Ele explicita esta relação nos dois primeiros sonetos do ciclo de “A Indesejada”, publicado no livro Os deuses de hoje:

Penso em José Guilherme Merquiorcomo o deixei certa vez em Paris:melancólico e ativo, um chafarizde noções lapidares, do melhorque até então lhe ouvira. O monitorde ideias transformado em aprendiztardio e prematuro de uma dorsem sentido, remédio ou cicatriz.O embaixador na última audiência,curvado sem querer na reverênciamais inútil que fez… José Guilhermeque eu mandei passear e dei ao vermesem dar-me conta! Como dói a ausênciaque lhe impus quando mais queria ver-me!

2.Ninguém pensou menos na morte, creio,do que aquele gnomo; mais ninguém,que eu saiba, conseguiu passar tão bem,tão distraído, no lugar mais feioda esplêndida viagem: seu passeio,rápido, sem paradas como um tremdireto, iria longe, mais alémdir-se-ia que não. Observei-omais de uma vez às voltas com alguém,algum pobre-diabo a que o recheioapodrecia, e vi-o sempre alheio,sem compartir-lhe o drama, sem receiode que a sorte o tratasse assim também.Que o castigasse à hora do recreio. [17]

A tragédia de José Guilherme Merquior é que ele nem sequer teve tempo de rever suas ideias para, algum dia, reelaborá-las sob outro prisma, sem o muro do racionalismo. Praticou a mesma traição dos intelectuais que Antonio Candido e seus asseclas cometeram na cultura brasileira, trocando a preocupação das coisas perenes pelas paixões políticas. A ausência de preocupação dos problemas do espírito, substituindo-os pelo dogma da razão e da História, levou-o a uma encruzilhada que quase o aproximou de uma nova variação do ódio organizado, mesmo que fosse um ódio com toques de esnobismo. Seus ideais socioliberais influenciaram os burocratas e os revolucionários do poder que comandam este país e, se suas intenções eram as melhores, nunca saberemos, pois as consequências levaram o Brasil a uma crise espiritual sem precedentes.

É isso o que acontece quando uma sociedade inteira se enamora do fetichismo do conceito: o sistema ideal acaba matando o mistério da realidade. O Estado mínimo é um mal necessário, e o que o indivíduo tem de fazer é vigiá-lo com todas as armas de sua consciência, pronto para aceitar os enigmas da vida que a razão iluminista não consegue explicar. Os verdadeiros problemas que a existência apresenta são insolúveis, e não são em hipótese nenhuma a representação de um fenômeno social, por mais complexo que este possa ser. E, se são insolúveis, a única coisa que se pode fazer é tratá-los com carinho, nunca como se fosse um combate em que um sonho soluciona tudo. Quem caça a realidade acaba sendo caçado por ela.

Entretanto, o caso de José Guilherme Merquior deve servir de exemplo. Era um homem digno, brilhante, mas que se deixou levar por seu próprio medo e se tornou o príncipe dos sonâmbulos. Ao querer evitar a disseminação da estupidez institucionalizada, sem saber acabou levando o Brasil para o Carandiru intelectual em que se encontra agora. Sua morte prematura é a prova de que podemos cair nos mesmos erros porque também somos humanos, e também temos medo do inexplicável e do irracional — da realidade implacável que deixa tudo para o verme. Sem dúvida, o melhor para nós seria o hábito da História e a preguiça do Estado. Contudo, é nos tempos de crise que, entre as trevas, aparecem os primeiros lampejos de luz. A escuridão está aí, densa e compacta, mas devemos estudar a trajetória de Merquior para que nossa consciência não caia na mesma alucinação, e assim não sermos dominados pelo medo, pela inveja e pelo ressentimento.

 

Notas:

[1] José Mário Pereira, “O fenômeno Merquior”. Texto publicado em novembro de 2001, em: http://www.olavodecarvalho.org/convidados/0122.htm. Acessado em 15 de fevereiro de 2015. Também editado em: José Mário Pereira, “O fenômeno Merquior”. In: José Guilherme Merquior, Verso Universo em Drummond. Trad. Marly de Oliveira. 3ª ed. São Paulo, É Realizações, 2012, p. 327–61.

[2] Ibidem.

[3] Ibidem.

[4] José Guilherme Merquior, O véu e a máscara. São Paulo: T. A. Queiroz, 1998, p. 2 e 28.

[5] José Guilherme Merquior, , O véu e a máscara. São Paulo: T. A. Queiroz, 1998, , p. 108.

[6] Ver o seguinte livro sobre a relação de Jung e Pauli: Arthur I. Miller, 137 — Jung, Pauli, and the pursuit of a scientific obsession. Nova York: Norton&Company, 2009.

[7] José Guilherme Merquior, As ideias e as formas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981, p. 17.

[8] José Guilherme Merquior, O argumento liberal. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 61–62. [Você poderia confirmar a paginação, Martim?].

[9] Ibidem, p. 64–65.

[10] Ibidem, p.65.

[11] Ibidem, p. 65.

[12] Ibidem, p.65.

[13] José Guilherme Merquior, A Natureza do Processo. Rio de Janeiro: Noiva Fronteira, 1982, p. 142–43.

[14] Ibidem, , p. 147.

[15] Marcílio Marques Moreira, Diplomacia, Política e Finanças. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2001, p.231.

[16] José Mario Pereira, op. cit., p. 346. E também em: http://www.olavodecarvalho.org/convidados/

0122.htm.

[17] Bruno Tolentino, Os deuses de hoje. Rio de Janeiro: Record, 1995, p. 117.

[Excerto de A Poeira da Glória — págs. 548–560]

 

 [Pretendo continuar coletando materiais]


Cultura e diplomacia: debate na ABI Cultura, com Diogo Schelp, Duda Teixeira e Ricardo Carvalho (15/04/2021; canal YouTube da ABI)

Um debate recente sobre a política externa: 

“Embaixador Paulo Roberto de Almeida, que enfrentou Ernesto Araújo, no Encontros da ABI com a Cultura”, 15 abril 2021, 1:20hs. Debate organizado por Zezé Sack, diretora do Cine Clube Macunaima da ABI, com a participação dos jornalistas Diogo Schelp, Duda Teixeira e Ricardo Carvalho, diretor da ABI-SP em torno dos grandes temas da política externa. Incluído no canal da ABI no YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=lg6Tkxh5E-s)

INSCREVER-SE

Paulo Roberto de Almeida é um embaixador sem papas na língua e ingressou, há dois anos, com uma ação na Justiça Federal do Distrito Federal, responsabilizando a União por ações de assédio moral e de perseguição no Ministério das Relações Exteriores, inclusive por retaliações financeiras. Aconteceu desde que começou a criticar publicamente nas suas redes sociais o trabalho do chanceler Ernesto Araújo. Ele, que editou revista 200 com foco na Independência do Brasil também relatou que toda a edição dessa revista foi recolhida por ordem do ex-chanceller e ele não sabe o destino da publicação. Diplomata de carreira desde 1977 e também escritor com mais de 20 livros publicados, serviu na embaixada de Paris e como adido na de Washington, entre outros postos de destaque e, em 1984, obteve o doutorado em Ciência Política pela Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica. Hoje, a partir das 19h30, ele será entrevistado no programa Encontros da ABI com a Cultura pelos jornalistas Diogo Schelp, da revista Crusoé; Duda Teixeira, colunista da UOL; e Ricardo Carvalho, diretor da ABI, em São Paulo. A apresentação é da jornalista e produtora cultural, Zezé Sack. Assistam pelo canal da Associação Brasileira de Imprensa do YouTube e divulguem. Diplomata O diplomata Paulo Roberto de Almeida, com 42 anos de carreira, foi demitido, em março de 2019, do cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) e alocado na Divisão de Comunicações e Arquivo com funções burocráticas por críticas ao ex- Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, em seu blog. Na semana passada, durante o debate semanal no Cineclube Macunaíma da ABI, Paulo Roberto lembrou que o ex-Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é filho de um ex-censor da ditadura, à época do governo Geisel, justificando seu comportamento. Foi também categórico ao afirmar que não podemos ficar esperando as eleições do próximo ano “de braços cruzados”, tendo pedido ao cineasta Sílvio Tendler, que participa do programa, para realizar um documentário que mostre as atividades da Semana de Arte Moderna, em 1922, e fale ainda do bicentenário da Independência, as duas datas que precisam ser comemoradas no próximo ano. Entre os livros publicados do diplomata estão Apogeu e demolição da política externa brasileira: reflexões de um diplomata não convencional (2020), Uma certa ideia do Itamaraty: a reconstrução da política externa e a restauração da diplomacia brasileira (2020), além de diversos artigos. Ele também foi professor de Sociologia Política no Instituto Rio Branco e na Universidade de Brasília (1986-87) e, desde 2004, dá aulas de Economia Política no Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub). Paulo Roberto é ainda editor adjunto da Revista Brasileira de Política Internacional, colabora com várias iniciativas no campo das humanidades e ciências sociais e participa de comitês editoriais de diversas publicações acadêmicas. De agosto de 2016 a março de 2019, foi Diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IPRI), afiliado à Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), do Ministério das Relações Exteriores. Entrevistadores Duda Teixeira é editor de assuntos internacionais da revista Crusoé e trabalhou por 12 anos na Veja, passando pelas revistas Superinteressante, Saúde e Istoé Dinheiro. É autor dos livros O Calcanhar do Aquiles, Guia Secreto de Buenos Aires, 100 Dúvidas Universais e Almanaque do Pênis Brasileiro. Com Leandro Narloch, escreveu o Guia Politicamente Incorreto da América Latina. Diogo Schelp é colunista do UOL, da Gazeta do Povo e comentarista de política na Jovem Pan News. Foi editor executivo da VEJA e redator-chefe da ISTOÉ. Por14 anos, dedicou-se à cobertura e à análise de temas internacionais e de diplomacia em 20 países como endurecimento do regime de Vladimir Putin, na Rússia; o narcotráfico no México; a violência e a crise econômica na Venezuela; o genocídio em Darfur, no Sudão; o radicalismo islâmico na Tunísia; e o conflito árabe-israelense. É coautor dos livros Correspondente de Guerra com André Liohn e No Teto do Mundo com Rodrigo Raineri. Ricardo Carvalho é diretor da ABI, em São Paulo, e trabalhou na Folha de São Paulo, TV Globo e TV Cultura, onde foi diretor de Jornalismo. Há mais de 20 anos vem se dedicando ao estudo e pesquisas sobre Comunicação, Meio Ambiente e Sustentabilidade. A apresentadora Zezé Sack, da Comissão de Cultura da ABI, é jornalista e produtora cultural; trabalhou com Alberto Dines no Observatório da Imprensa e no programa Sem Censura da TVE.

Neste link:

quinta-feira, 15 de abril de 2021

A estratégia do caos e o sofrimento dos brasileiros - Paulo Roberto de Almeida

 Um ano atrás, exatamente, eu postava isto:

“ ‪Antes, pensávamos que o “Exército” bolsonarista fosse assim uma espécie de Armata Brancaleone; agora descobrimos que podem estar armando os fasci di combatimenti, mais os palavrões do Rasputin de subúrbio. 

O Mussolini de opereta se leva a sério.‬

Está faltando um Charlie Chaplin, em versão de comédia pastelão série C, para fazer uma nova paródia do candidato a ditador.

Sem financiamento da Ancine...”

Hoje, 15/04/2021, complementei com este texto:

O Mussolini do cerrado central continua querendo armar os seus camisas pardas, como eu avisava um ano atrás. Não conseguiu e não conseguirá, mas não vai deixar de causar confusão. O Brasil está começando a enveredar pela vertente descendente. Pode demorar para se recuperar, mas um dia conseguirá, ainda que com o sacrifício dos cidadãos. O que não vai cessar é a “estratégia do caos” do genocida do Planalto.

Minha mini-reflexão sobre uma anomia em formação no Brasil, mas uma anomia diferente, auto-induzida, mas sem qualquer consciência de quem a fabrica sem qualquer determinação ou controle sobre as consequências dessas ações e palavras desvairadas. A verdade é muito simples: o Brasil está entregue a uma malta de novos bárbaros ineptos, perversos, no limite da loucura, alguma forma de psicopatia. Meus cumprimentos aos militares, aos políticos e aos donos do capital, nessa ordem, que construíram e ainda mantêm essa monstruosidade no poder. A História não os absolverá, não no que depender de mim.

 O Brasil, os brasileiros, mas sobretudo os “donos do poder” — militares, políticos, capitalistas — cometemos um erro terrível em 2018, e não estamos perto de nos redimir. 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 15/04/2021

Um diplomata precisa mentir por seu país? E pelo governante?

 Eu sempre achei completamente IMBECIL aquela frase de um embaixador inglês— a despeito de sincera — que afirma que um embaixador é um homem (já tem essa) enviado ao exterior para mentir pelo (ou sobre) seu país”. Além de imbecil, indigna de alguém que se respeite. Confesso que nunca fiz isso, nem nunca recebi instruções para fazê-lo (e se recebesse não as cumpriria). Lamento a postura daqueles embaixadores que, durante a ditadura, tinham de mentir para jornalistas e outros interlocutores, negando que no Brasil ocorressem torturas, desaparecimentos e assassinatos políticos. Aliás, antes de ingressar na carreira, em 1977, e depois, eu fazia exatamente o inverso (um dia vou publicar o meu material escrito sob outros nomes dessa época), e por isso fui fichado pelo SNI como “diplomata subversivo” (está no Arquivo Nacional de Brasília).

Mas acho que muito pior do que mentir pelo país é mentir em favor de um governante escroto, nojento, execrável.

Paulo Roberto de Almeida

"Nossa economia não depende do turismo", diz embaixador brasileiro

14/04/2021 10h05

Os dois últimos voos provenientes do Brasil antes da entrada em vigor da suspensão da ligação aérea entre os dois países decidida pela França aterrissaram na manhã desta quarta-feira (14) em Paris com medidas sanitárias reforçadas. O decreto do governo francês publicado hoje detalha que os voos permanecerão suspensos pelo menos até 19 de abril. O embaixador do Brasil na França, entrevistado pela BFM TV, negou a responsabilidade do presidente Bolsonaro nessa crise e minimizou o impacto econômico da suspensão.

A suspensão dos voos entre a França e o Brasil é notícia em todos os canais de TV e rádio franceses. Eles enviaram repórteres ao aeroporto Roissy-Charles de Gaulle para colher a reação dos passageiros que puderam embarcar nos últimos voos, antes do início da suspensão. A decisão foi anunciada nessa terça-feira (13) pelo primeiro-ministro Jean Castex, pressionado pela grave situação sanitária no Brasil, devido a variante brasileira, conhecida como P1, considerada a mais contagiosa e perigosa.

Os dois voos da Air-France, provenientes do Rio de Janeiro e de São Paulo, aterrissaram por volta das 7h30, horário local. O desembarque foi mais demorado que o previsto por causa da imposição de novas medidas. Além de apresentar um PCR negativo realizado 72 horas antes do embarcar, os passageiros tiveram que fazer um teste de antígeno e se comprometer a respeitar um isolamento de 7 dias. Mas todos estavam aliviados por terem conseguido viajar. Segundo eles, os aviões não estavam cheios e a viagem foi tranquila.

Um francês, residente no Brasil, ouvido pela Franceinfo, que veio de São Paulo, disse que "esperava um clima de pânico a bordo, mas que tudo foi tranquilo. "Meu problema agora vai ser voltar", indicou. Um jovem, também entrevistado pela Franceinfo, disse que preferiu antecipar a viagem para não ficar retido no Brasil. Essa foi a opção relatada por vários passageiros entrevistados pela mídia francesa.

O estudante Luan Santos afirmou ao site do Le Figaro, ainda no Brasil, que "estava aliviado por poder embarcar" porque vai estudar em Portugal e precisa chegar ao país com uma certa antecedência. Luan escolheu passar pela França porque os voos entre Brasil e Portugal estão suspensos desde o final de janeiro e pelo menos até 15 de abril.

A medida impediu a viagem de franceses que já estavam com passagem marcada para o Brasil. Capucine, entrevistada pela RFI, que iria ao Rio de Janeiro a trabalho e aproveitaria para visitar a mãe, se sente 'privada de sua liberdade" e critica a decisão "autoritária" do governo francês. Outra turista francesa, também entrevistada pela RFI, garante que "ela tem mais risco de pegar covid na França, principalmente em cidades como Paris, do que no Brasil".

Passar por um outro país europeu, onde os voos com o Brasil são permitidos, como a Suíça e a Holanda por exemplo, é uma solução imaginada por vários viajantes. Mas as autoridades alertam que esses passageiros podem ser impedidos de pegar a conexão para a França, uma vez que é o local inicial de embarque que será levado em conta.

Voos de repatriação 

Até o dia 19 de abril, quando os voos ficarão suspensos, o governo francês estuda a adoção de medidas mais restritivas que permitiriam a retomada da ligação aérea. Entre as pistas estudadas, está um isolamento obrigatório em um hotel, na região do aeroporto, com as despesas pagas pelo viajante. Atualmente, a França recomenda o isolamento de 7 dias e um novo teste PCR no final deste prazo, mas não tem como controlar o cumprimento da medida.

A suspensão provocou críticas. A deputada francesa para a América Latina, Paula Fortaleza, declarou em entrevista à RFI que impedir os franceses que estão no Brasil de voltar para a França representa "um risco sanitário grande" para essas pessoas. Ela pede a imposição do sistema obrigatório de quarentena como solução.

Enquanto isso, o governo francês examina a organização de voos para repatriar os franceses, turistas ou residentes no Brasil, que querem voltar para a França. "Nossos cidadãos têm o direito constitucional de retornar ao nosso território", afirmou o secretário de Estado para Assuntos Europeus, Clément Beaune, à TV France 2.

"A culpa é da esquerda" acusa embaixador brasileiro 

O embaixador brasileiro na França, Luís Fernando Serra, concedeu duas entrevistas ao canal BFMTV, a primeira na noite desta terça-feira (13) e a segunda nesta manhã. O diplomata disse respeitar a "decisão soberana da França", mas minimizou o impacto da mesma ao lembrar que "a economia do Brasil não depende do turismo”.

Questionado pelos jornalistas, negou categoricamente a responsabilidade do presidente Jair Bolsonaro nessa crise. "Vocês pensam que o presidente Bolsonaro faz pouco? Que a culpa é do presidente? Essa é uma boa oportunidade para dizer que o Brasil já vacinou 31 milhões de pessoas e é o 5° país que mais vacinou no mundo segundo a OMS", apontou Serra.

"E as mortes, a decisão de não decretar lockdown, o caos nos hospitais?, perguntaram os apresentadores. "Proporcionalmente, em relação ao tamanho de sua população, o Brasil é o 19° país em número de mortes por um milhão de habitantes (...) A culpa dos hospitais lotados é da esquerda que não construiu hospitais durante os 24, 26 anos, que ficou no poder", respondeu o embaixador.

Sobre o lockdown, repetindo o que afirma Bolsonaro, ele explicou que a culpa é do STF. "O presidente Bolsonaro é solidário, mas quer que as pessoas trabalhem. Tem 35 milhões de brasileiros que vivem da economia informal e tem que sair de casa trabalhar. O Brasil não tem um sistema social como a França. Se não trabalharem, eles vão morrer de outra coisa, de fome, de depressão", insistiu Serra.

Mas se o embaixador fez questão de relativizar os 358 mil mortos pela covid no Brasil, ele não fez o mesmo com a vacinação. Proporcionalmente, o Brasil vacinou apenas 11,5% da sua população e está abaixo de 60ª posição mundial.

https://www.uol.com.br/nossa/noticias/rfi/2021/04/14/nossa-economia-nao-depende-do-turismo-diz-embaixador-brasileiro.htm

Alexandre de Gusmão: o estadista que desenhou o mapa do Brasil - Synesio Sampaio Goes Filho (O Globo)

ALEXANDRE DE GUSMÃO, UM ILUSTRE DESCONHECIDO!

Synesio Sampaio Goes Filho, embaixador aposentado
O Globo, 11/04/2021 


Em fevereiro, a Record lançou meu livro Alexandre de Gusmão — o estadista que desenhou o mapa do Brasil. Fiquei muito contente com a qualidade da crítica que provocou: Celso Lafer, a referência básica em política externa, e Elio Gaspari, nosso grande jornalista, tiveram palavras simpáticas a seu respeito. Mereceu ainda duas páginas da “Veja – São Paulo” de 17 de março, assinadas por Guilherme Queiroz. Mas o que queria comentar aqui foi um ponto notado por mais de uma pessoa, nas entrevistas que sobre ele tenho dado: a relativa ignorância sobre Gusmão, até de gente bem informada sobre a História do Brasil.

Vejamos. No livro destaco o papel do santista na concepção e negociação do Tratado de Madri de 1750, que aumentou em duas vezes o território brasileiro definido em Tordesilhas, em 1494. Não é pouca coisa... E é uma originalidade brasileira: nossas fronteiras vêm basicamente da Colônia; em contraste com os Estados Unidos, que ampliaram muito seu território, mas só depois da Independência.

Saliento que, sem o Tratado de Madri, de nada teriam valido as portentosas correrias de bandeirantes, as dificultosas navegações de monçoeiros, as admiráveis missões de religiosos portugueses na Amazônia (havia 60 em 1750). Nessa região, não se pode esquecer a navegação precursora de Pedro Teixeira, no longínquo ano de 1647, de Belém a Quito; e a fundação, na viagem de volta, da povoação de Franciscana “nas bocainas do rio do Ouro” (que Alexandre e muitos outros identificam como a foz do Aguarico no Rio Napo, em pleno Equador atual).

Para alguns entrevistadores, é surpreendente que um personagem tão importante da nossa história seja tão desconhecido. Dou um exemplo concreto. Um deles, bastante culto, e — destaque-se — formado em História, confessou que não se lembrava de ter lido ou escutado de algum professor alguma palavra sobre Alexandre de Gusmão; quando viu o título, pensou que se tratava de Bartolomeu de Gusmão, o “padre voador” (o irmão mais velho)... Ao ler o livro, convenceu-se da relevância dos feitos de Alexandre e começou a se perguntar por que autores de nossa história não dão a ele o espaço devido.

Nos meios diplomáticos, não é bem assim. Veja-se o recente e magnífico livro de Rubens Ricupero, A diplomacia na formação do Brasil, que se inicia no ano do Tratado de Madri, e não com a Independência. Lembre também que o braço acadêmico do Itamaraty é a Fundação Alexandre de Gusmão (Funag) e que, na sala mais importante do ministério em Brasília, há só três bustos, e um deles é do nosso personagem.

A propósito, lembro que essa obra, de Bruno Giorgi, é inspirada num busto que há no Itamaraty do Rio de Janeiro, aí colocada pelo Barão do Rio Branco, nos anos iniciais dos Novecentos. O grande chanceler foi dos primeiros a reconhecer a importância de Gusmão, em artigos publicados em jornais de então (sua coluna chamava-se “Efemérides”), e foi também o descobridor, numa biblioteca parisiense, de um dos dois originais do Mapa das Cortes, a base cartográfica do Tratado de Madri.

Na verdade, há poucos livros sobre Gusmão, a maioria é do século XIX e trata especificamente das cartas — originais, curiosas, ousadas — que, como secretário de D. João V, escrevia aos grandes do Reino. O mais importante sobre sua obra política só foi publicado na década de 1950 pelo Itamaraty: “Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri”. Seu autor foi um notável intelectual português, Jaime Cortesão, que, exilado no Brasil de 1940 a 1957, especializou-se na formação do território brasileiro. Trata-se de um trabalho denso, erudito e de grande dimensão: dois volumes de texto, quase 800 páginas (reeditados em 2016 pela Funag/Imesp), seguidos de sete outros de documentos comentados. Infelizmente, é do conhecimento de uns poucos especialistas e está ausente da bibliografia dos manuais de História do Brasil modernos, inclusive os melhores.

Espero que meu livro, de dimensões manuseáveis, com mapas, melhor distribuição e uma linguagem mais acessível, contribua para a divulgação, entre o público com interesses mais gerais, de um estadista brasileiro que vale a pena ser mais conhecido. E fico feliz por estar ele esta semana, numa das maiores livrarias do Brasil, entre os mais vendidos. 


quarta-feira, 14 de abril de 2021

Beijing’s Message to America: We’re an Equal Now - Lingling Wei, Bob Davis (WSJ)

 Beijing’s Message to America: We’re an Equal Now 

Xi Jinping is confronting Biden administration with a new world view

BY LINGLING WEI AND BOB DAVIS

The Wall Street Journal, April 13, 2021


It quickly became obvious in Anchorage, Alaska, last month that Chinese President Xi Jinping’s diplomatic envoys hadn’t come carrying olive branches. Instead they brought a new world view.

As Biden administration officials expected in their first meeting with Chinese counterparts, Yang Jiechi, Mr. Xi’s top foreign-policy aide, and Foreign Minister Wang Yi asked them to roll back Trump-era policies targeting China. Beijing wanted to restore the kind of recurring “dialogue” Washington sees as a waste of time, say U.S. and Chinese officials briefed on the Alaska meeting.

Mr. Yang also delivered a surprise: a 16minute lecture about America’s racial problems and democratic failings. The objective, say Chinese officials, was to make clear that Beijing sees itself as an equal of the U.S. He also warned Washington against challenging China over a mission Beijing views as sacred— the eventual reunification with Taiwan.

That is a big shift for Chinese leaders, who for decades took care not to challenge the U.S. as the world’s leader and followed the dictum Deng Xiaoping set decades ago: “Keep a low profile and bide your time.” Some senior Chinese officials privately—often sarcastically— called the U.S. Lao Da, or Big Boss.

Now Mr. Xi is reshaping the relationship. As far as he is concerned, China’s time has arrived.

“China can already look at the world on an equal level,” he told the annual legislative sessions in Beijing in early March, a remark widely interpreted in Chinese media as a declaration that China no longer looks up to the U.S.

The U.S. routinely describes China as a strategic rival, but Beijing has rarely if ever used such terms, emphasizing terms like “win-win” and cooperation.

“One of the more obvious changes in China’s attitude is that China now recognizes the existence of competition, which was never expressed in the past,” says Wang Huiyao, an adviser to China’s State Council and president of the Center for China and Globalization, a Beijing think tank.

The increasingly contentious relationship has created competition for allies, with American diplomats jetting to Japan, South Korea and Western Europe, while Chinese equivalents sew up deals in Southeast Asia, Russia and Iran.

Mr. Yang’s warning in Alaska on Taiwan reunification is an ominous inkling of how a competitive relationship between the world powers could lead to conflict.

The U.S. is committed to helping Taiwan preserve its autonomy under pledges including the 1979 Taiwan Relations Act, and the Biden team trumpets its plans to strengthen economic and political links to Taipei. Mr. Xi has made reunification with Taiwan, which Beijing regards as a breakaway province, a big part of his “China Dream” of national revival.

China’s Foreign Ministry says of Mr. Yang’s Anchorage warning: “The Chinese side pointed out that the Taiwan issue is related to China’s sovereignty and territorial integrity and China’s core interests.” It adds that “There is no room for compromise.”

There is little sign of imminent Chinese actions to take back the island, though there have been plenty of symbolic gestures. Soon after the Alaska meetings, Mr. Xi inspected Fujian province, across the strait from Taiwan. Chinese airplanes in recent weeks have stepped up incursions into Taiwan’s air-defense zone.

Days after the Alaska encounter, the White House’s China coordinator, Kurt Campbell, told a private conference hosted by the University of California at San Diego that Beijing had become “impatient” at the pace of reunification, according to participants.

Adm. Phil Davidson, who heads the U.S. Indo-Pacific Command, warned the Senate Armed Services Committee earlier in March that China could try to take control of Taiwan by decade’s end, perhaps in as little as six years. China might act rashly, says a senior U.S. official, because of an exaggerated belief that the U.S. is a declining power.

Relations between the countries plummeted during the Trump administration. After both sides fought a two-year trade war to a wary truce, the U.S. president blamed Beijing for unleashing the coronavirus. China rejected the charges and labeled Secretary of State Mike Pompeo a “doomsday clown.”

After President Biden’s election, academics and officials in Beijing reached out to American contacts to try to figure out whether the new administration would change course. They were quickly discouraged.

Even before Mr. Biden took office, Chinese diplomats sought to schedule a high-level meeting between the two sides, people close to the matter say. Biden officials never approved the request and instead repeatedly talked about working with allies to confront China.

China’s concerns were reinforced in January, when Mr. Biden’s choice for secretary of state, Antony Blinken, used his confirmation hearing to declare that China had committed genocide against Uyghur Muslims in the northwestern region of Xinjiang. China has called the charge “the lie of the century.”

The Biden team shares its predecessor’s view of China as America’s greatest military, technological and economic challenger. From the new administration’s perspective, Chinese provocations never ceased. Beijing cut off imports from Australia over its call for an investigation into the origins of the coronavirus, skirmished with India over the countries’ Himalayan border, and sought to intimidate Philippines and Vietnam ships in the South China Sea.

Beijing, as Chinese officials put it, sought to “duo hui hua yu quan ,” or take back the narrative. China’s diplomats and state-media outlets aggressively denounced Western meddling in its domestic affairs and heralded China’s rise.

Muscular approach

Before the Alaska meeting on March 18 and 19, the U.S. signaled a muscular approach. Mr. Biden met online with the leaders of India, Australia and Japan. Mr. Blinken and Jake Sullivan, the national security adviser, flew to Tokyo and Seoul to confer with security counterparts and insisted that Messrs. Yang and Wang fly to Alaska for the U.S.-China session rather than meeting in Asia. A day before the Anchorage meeting, the U.S. expanded sanctions against two dozen Chinese officials over the repression of Hong Kong’s pro-democracy protesters.

Some U.S. foreign-policy experts thought the Americans went overboard, including Jeffrey Bader, a senior China official in the Clinton and Obama administrations, now a senior fellow at the Brookings Institution. “The more you assert you’re not a declining power,” he says, “the less convincing you are.”

With cameras rolling in Anchorage, Mr. Blinken briefly criticized China’s actions in Hong Kong and Xinjiang and threats against Taiwan. Mr. Yang, a member of the Communist Party’s ruling Politburo, gave his blistering 16-minute rejoinder, which the Chinese officials say was meant to show China’s new world view.

After rattling off his country’s achievements under Mr. Xi, he said China wouldn’t follow “what is advocated by a small number of countries as the so-called rule-based international order.” He criticized the U.S. as having “deepseated” human-rights problems and declared that “the U.S. itself doesn’t represent international public opinion.”

After the doors closed, say the officials briefed on the meeting, the Chinese laid out the differences between the nations in three categories. The first category was what could be dealt with fairly easily.

The second would require more negotiations. Issues involving both sides relaxing restrictions on diplomats and journalists belong to the first two groups. The third category, largely concerning China’s sovereignty, was off limits.

On the second day, the diplomats addressed Taiwan. Control of the island has been a Communist Party goal since Mao Zedong’s forces drove Chiang Kai-shek’s Nationalist government there in 1949.

As he turned to the West after Mao’s death, Deng made clear that reunification could wait while China focused on developing its economy. For Mr. Xi, the wait is wearing thin. As Mr. Xi heads for an unprecedented third term as China’s leader late next year, his talk of national revival has broad support. There is little that would cement his legacy more forcefully than bringing the island back into Beijing’s fold, China watchers say.

In Anchorage, the U.S. reaffirmed its adherence to the “One China” policy, under which Washington agrees not to recognize Taiwan as an independent nation, but also reiterated pledges to help Taiwan economically and militarily.

Beamed back to China, Mr. Yang’s lecturing made him a national hero. It also represented a sharp departure from the policy of cooperation with the U.S. that Deng had adopted shortly after the two countries established diplomatic ties. “As we look back, we find that all of those countries that are with the U.S. have become rich,” Deng told aides in 1979, according to official accounts, “while all of those against the U.S. have remained poor. We should be with the U.S.”

That principle guided his successors. Jiang Zemin pushed through Beijing’s negotiations with Washington to get China into the global trading system in 2001. He wooed American and other CEOs to showcase the country’s greater opening to the world. The next leader, Hu Jintao, went further in following the U.S. lead. During the 2008 financial crisis, Mr. Hu signed up to a plan laid out by President George W. Bush to stimulate the Chinese economy to help lift the world from recession.

Mr. Xi started his reign on a similar path. His “China Dream” slogan nodded to the appeal of the American Dream. In late 2017, he entertained President Donald Trump at a private dinner in the Forbidden City, despite Mr. Trump’s threats to punish China.

“We have a thousand reasons to get the China-U.S. relationship right,” he regularly told Chinese underlings and foreign visitors, “and not one reason to spoil it.”

But as the Trump administration piled tariffs on Chinese imports and blacklisted major Chinese companies, which it argued were stealing U.S. intellectual property and helping to build up the Chinese military, Mr. Xi soured. From his perspective, the U.S. had become an unreliable partner, and he worked to make China less reliant on America, especially on technology.

Trump as ‘unifier’

In Beijing’s corridors of power, Mr. Trump was derisively known as “a great unifier”— America’s aggressive actions were unifying support in China for the party and Mr. Xi.

America’s chaotic pandemic response, followed by a summer of racial upheaval and the Jan. 6 Capitol storming, solidified his faith in the Chinese system’s superiority, Chinese officials say. In internal meetings, they say, he compares American democracy to “a sheet of loose sand” and declares that the one-party system allows him to get things done.

With Mr. Biden in the White House, China has continued a hard-line approach, signaling that companies not following Beijing’s rules will lose access to the Chinese market. Swedish clothing brand Hennes & Mauritz AB recently met with a strong social-media rage and consumer boycott in China over its stance against sourcing cotton from Xinjiang. Chinese authorities have restricted military personnel and employees of certain state-owned companies from using electric vehicles made by America’s Tesla Inc., citing national security risks including concerns about the cars’ cameras. H& M declined to comment. Tesla, which didn’t respond to requests for comment, said last week that its cameras aren’t activated outside North America.

Since the Alaska meeting, the competition has played out in a search for allies. Within a week, Mr. Blinken organized joint condemnation of China’s Xinjiang policy with Canada, the European Union and the U.K., which included the first EU human-rights sanctions on China since the 1989 crackdown on Tiananmen Square protesters.

Even Japan, typically wary of angering China, its largest trading partner, appears to be tying itself more tightly to the U.S. Last week ahead of a trip by Prime Minister Yoshihide Suga to Washington for an April 16 summit with Mr. Biden, Foreign Minister Toshimitsu Motegi called on Beijing to improve human-rights conditions for Uyghurs and stop the Hong Kong crackdown.

Mr. Wang, the foreign minister, met his Russian peer in late March, prompting the nationalist Chinese newspaper Global Times to headline, “China, Russia to break US hold on ‘world order.’ ” Then he traveled to the Middle East and signed a wide-ranging economic and security agreement with Iran.

Countries like India are trying to avoid getting caught between the two sides. Mr. Biden’s plan to hold a Summit for Democracy will sharpen the divide.

China retaliated against the EU sanctions by blacklisting European lawmakers and think tanks, although that might make the EU Parliament’s ratification of a pending investment treaty with China harder.

“It’s a high-stakes gamble for the Chinese,” says Daniel Russel, a former Obama China official, now a vice president at the Asia Society Policy Institute, a think tank. “But it’s not a gamble they are certain to lose.”

The contentious relationship has created competition for allies.


Embaixador do Brasil na França culpa esquerda por hospitais lotados (Metropoles)

Correto! A esquerda tem um poder extraordinário no Brasil: ela ordenou que milhares de pessoas, em lugar de trabalhar, como sugeriu o atilado e clarividente presidente, fossem aglomerar em frente a hospitais reivindicando, não um trabalho, mas essas coisas inadequadas, como tubos de oxigênio e atendimento imediato. A esquerda deveria ser encaminhada a campos de reeducação pelo trabalho, como o bom Stalin fazia com os recalcitrantes. Elementar caros franceses...

Paulo Roberto de Almeida 

 Embaixador do Brasil na França culpa esquerda por hospitais lotados


Diplomata Luis Fernando Serra chegou a ser cogitado para assumir o Itamaraty, no lugar de Ernesto Araújo

Flávia Said
Metropoles14/04/2021 7:45 

O embaixador do Brasil na França, Luis Fernando Serra, afirmou à imprensa em Paris que a culpa por hospitais lotados hoje no país é da falta de investimentos da esquerda em saúde.

O diplomata foi convidado a participar da emissão da BMFTV na noite de terça-feira (13/4), depois de a França anunciar a suspensão de voos ao Brasil. Serra chegou a ser cotado para substituir Ernesto Araújo como chanceler. Ele é benquisto no Palácio do Planalto por defender o governo federal, inclusive em protestos diante da embaixada.

Ao tratar da crise de Covid-19 no Brasil, Serra não indicou qual seria a responsabilidade do presidente da República.

“Se os hospitais estão lotados é por causa dos 24 anos da esquerda no Brasil, que não construiu hospitais suficientes”, afirmou, segundo reportagem do portal UOL. “Não é por conta de o presidente se recusar a confinar o país?”, questionou o repórter.

Para o embaixador, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não pode ser responsabilizado. Ele citou decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que conferiu a estados e municípios poder para estipular medidas restritivas locais.

“O STF decidiu que o presidente não tem o poder de confinar”, afirmou. “Isso precisamos dizer. Ele não teve o poder de confinar”, continuou. A rede de TV francesa ainda mostrou um trecho de um discurso de Bolsonaro no qual o presidente, em março, diz que o país precisa parar de chorar. “Você entende isso?”, perguntou o repórter ao diplomata.

“Claro que entendo. Ele é solidário e quer que as pessoas trabalhem”, respondeu o embaixador. Segundo ele, o confinamento impede os brasileiros de trabalhar e 35 milhões de pessoas precisam de renda diária para sobreviver. “Não há a cobertura social que existe na Europa”, justificou. Ele ainda alegou que, se não forem autorizadas a sair, essas pessoas “morrem de depressão ou de fome”.

Suspensão de voos
O embaixador disse que não considerava a interrupção da ligação aérea entre França e Brasil como uma sanção, mas foi incisivo em alertar ao apresentador que ele deveria entender que o turismo não representa uma parte significativa da economia nacional.

“Não dependemos do turismo. Recebemos apenas 6,5 milhões estrangeiros que visitam o Brasil, um país de beleza extraordinária, enquanto a França recebe 95 milhões de estrangeiros. O peso do turismo não é enorme”, alegou.

Na entrevista, Serra foi confrontado com os dados de mortes por Covid-19 no Brasil e, diante do comentário do jornalista francês de que existe uma percepção de que Bolsonaro “não faz muita coisa” para lidar com a pandemia, o embaixador subiu o tom.

“Você acha que ele faz pouca coisa? Então, vou te dizer uma coisa: o Brasil é o quarto, quinto país do mundo que mais vacinou. Você sabia disso? Fale isso, fale isso!”, insistiu o diplomata.

Ele ressaltou o número de vacinados no Brasil, mas não fez referência ao acordo entre o Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, e a farmacêutica chinesa Sinovac, que fornece 80% dos imunizantes hoje aplicados no país.

“O presidente vacinou 30 milhões de brasileiros. E, por conta desse dado, nós somos o quinto país que mais vacinou, depois dos EUA, China, Índia e Reino Unido. Você não acha que esse é um bom resultado?”, retrucou.

https://www.metropoles.com/brasil/embaixador-do-brasil-na-franca-culpa-esquerda-por-hospitais-lotados