Extraido de uma gravação bem mais ampla, que estará no YouTube do programa coordenado pelo Pedro Costa Jr., , o Mundo é o Moinho, sobre a Nova Ordem Mundial, que contém meu depoimento de como eu fui, em parte, responsável pela indicação do chanceler acidental a esse cargo na primeira fase do infeliz governo Bolsonaro, por ter publicado, na revista do IPRI (que eu dirigia) o artigo esquizofrênico do Ernesto Araújo, “Trump e o Ocidente”, e pelo fato dele ter ido entregar as suas bobagens ao Olavo de Carvalho, que o indicou ao Bolsonaro.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida
Site pessoal: www.pralmeida.net.quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Joesley, um diplomata brasileiro - Mariana Barbosa (UOL)
Joesley, um diplomata brasileiro
Mariana BarbosaColunista do UOL
04/12/2025 13h20
https://economia.uol.com.br/colunas/mariana-barbosa/2025/12/04/joesley-um-diplomata-brasileiro-na-venezuela.htm
Nem Celso Amorim nem Mauro Vieira. O empresário Joesley Batista se transformou no grande articulador para assuntos internacionais do presidente Lula (PT).
O dono da JBS foi crucial para distensionar as relações de Lula com o presidente americano Donald Trump, patrocinando a "química" entre os dois chefes de Estado. E, agora, sabe-se que ele foi pessoalmente, a bordo do jato Global 7500, negociar com Nicolás Maduro a saída do ditador do país — o que ajudaria a distensionar as relações com os EUA, evitando uma guerra.
Nove dias antes de desembarcar em Caracas, no domingo, dia 23 de novembro, o mesmo jato foi flagrado em Washington DC, também em um bate e volta.
Joesley virou grande articulador do governo Lula
Com negócios nas áreas de energia, óleo e gás na Venezuela, a J&F, holding dos irmãos Batista, teria muito a perder com a deflagração de uma guerra pelos EUA. Já a aproximação com Trump começou no segundo mandato do presidente americano, com uma doação de US$ 5 milhões para a festa de posse. Pouco depois, a JBS conseguiu destravar o processo de IPO (Initial Public Offering ou Oferta Pública Inicial, na sigla em inglês) na Bolsa de Nova York, que estava obstruído na SEC (a Comissão de Valores Mobiliários americana).
A aproximação também levou à liberação do visto dos empresários, que era negado desde a Lava Jato.
O grupo J&F é dono da Âmbar Energia e entrou no setor de óleo e gás nos últimos dois anos, com a aquisição da Fluxus - ambas com interesses na Venezuela.
Como ninguém faz negócios com o país vizinho sem passar pelo Palácio de Miraflores, os Batistas passaram a manter contatos estreitos com autoridades venezuelanas.
A Fluxus tem escritório em Caracas e está há mais de ano prospectando reservatórios de petróleo do país, com perspectiva de médio prazo. Dona de grandes reservas de petróleo, a Venezuela depende de empresas privadas para conseguir extrair o produto.
Já a Âmbar Energia adquiriu recentemente a distribuidora de energia de Roraima, que durante muito tempo dependeu exclusivamente da compra de energia da Venezuela por não estar ligada ao Sistema Interligado Nacional. O estado passou a integrar o sistema em setembro.
A entrada da Âmbar marcou a retomada da compra de energia venezuelana pelo Brasil, que havia sido interrompida no governo Bolsonaro por razões técnicas do lado venezuelano. No passado, a comercialização se dava entre estatais dos dois lados, sendo a Eletronorte pelo lado brasileiro. Hoje além da Âmbar, outras empresas como Engelhart CTP, RZK Comercializadora de Energia, BTG Pactual, Matrix, Bolt Energy, Eneva, Tradener e Bid Comercializadora têm autorização do Ministério de Minas e Energia para importar energia da Venezuela.
Em nota enviada à coluna, a J&F negou que tenha negócios na Venezuela. A empresa também diz que a listagem da JBS na SEC "seguiu o rito normal" e que a história do visto "não procede".
Errata:
• Diferentemente do que foi publicado anteriormente, a Âmbar ainda não controla a Roraima Energia. A Âmbar adquiriu a Roraima Energia em outubro deste ano, mas o negócio ainda depende da aprovação dos órgãos competentes. A Âmbar não foi comprada há dois anos, como escrito anteriormente, mas foi criada pela J&F em 2015. O texto foi corrigido.
Reportagem
Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
sexta-feira, 28 de novembro de 2025
Política externa e diplomacia do Brasil: como são, como podem ser, 2 - Paulo Roberto de Almeida (revista Será?)
Política externa e diplomacia do Brasil: como são, como podem ser, 2
Por Paulo Roberto de Almeida | nov 28, 2025 | Artigos | 0 |

Conjunto das Nações
Quais são, para fins de um exercício exploratório obviamente parcial e incompleto, setores e temas que aparecem como prioritários num processo de formulação de diretrizes para uma política externa consensual do ponto de vista do interesse nacional, cujas orientações básicas podem ser integradas à agenda da diplomacia brasileira? As seguintes áreas aparecem como relevantes na interface externa do Brasil que poderia ser priorizada nos anos à frente: maior e mais ativa integração à economia mundial; adaptação e modernização das estruturas e mecanismos domésticos para acelerar e tornar mais flexível esse processo de inserção na economia internacional; revisão dos atuais esquemas de integração regional (Mercosul, acordos da Aladi, preferências tarifárias com determinados parceiros) num sentido de maior abertura econômica e liberalização comercial; avaliação das parcerias estratégicas definidas nos últimos anos, de maneira a considerar, antes, os objetivos nacionais estrito senso, do que preferências ideológicas ou partidárias, de escassa ou nenhuma relevância para a política externa; modernização do funcionamento do instrumento diplomático, ou seja, reforço da organização e métodos do Itamaraty, de maneira a aparelhá-lo para responder aos novos desafios aqui enfocados.
Abertura comercial global, concomitante à reforma tributária em curso
Não parece existir espaço, no horizonte previsível, para grandes negociações no plano multilateral, sugerindo-se possíveis acordos bilaterais ou inter-regionais, que requerem um novo perfil da política comercial do Brasil, eventualmente com revisão da TEC do Mercosul. A exposição do setor produtivo à concorrência internacional – benéfica em si, para os próprios produtores e consumidores – requer a redução da carga tributária no plano interno, e uma reforma não pode ser feita sem a outra, sob risco de desmantelar ainda mais as empresas do setor manufatureiro.
Aspecto importante da conjuntura recente do Brasil é o seu projeto de aproximação à Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), emoldurada pela demanda de adesão, feita em junho de 2017, confirmada no governo subsequente, assim como pela própria organização, ao acolher esse pedido e começar a examinar tal processo desde 2022, processo que deveria ser concomitante ao da modernização institucional e operacional das principais políticas públicas no país, justamente no sentido da interdependência e de sua maior integração ao mundo. Esse processo – que compreende igualmente uma revisão e uma cuidadosa atualização dos principais compromissos externos do Brasil, nos planos regional (em política e em economia, com destaque para os esquemas de integração econômica), multilateral (organismos internacionais) e plurilateral (blocos ou grupos de países, bem como os grandes parceiros nas relações bilaterais prioritárias) – passou por diferentes fases, entre avanços e recuos, o que pode ser interessante revisar.
A aproximação do Brasil à OCDE tinha sido iniciada no agora distante governo Collor, foi em seguida perseguido sem qualquer estratégia definida nos mandatos de FHC, entre 1995 e 2002, mas foi completamente descurado nos mandatos lulopetistas de 2003 a 2015. Não obstante uma oposição ideológica do partido, ele foi retomado timidamente em 2015, por iniciativa de um ministro (“neoliberal) da Fazenda, em 2015, mediante novo exercício de aproximação, retificado e encaminhado oficialmente nos dois anos e meio do governo Michel Temer, cujo ministro da Fazendo encaminhou carta solicitando formalmente a adesão do Brasil. Tanto o Itamaraty, quanto outros órgãos interessados na adesão, trataram o dossiê durante o governo Bolsonaro, com progressos substantivos realizados no período. O novo governo petista, sob Lula 3, encapsulou novamente o projeto, por razões obscuras, não explicitadas oficialmente.
Revisão do processo de integração visando à inserção econômica externa
O Mercosul não é o culpado pelo fechamento comercial do Brasil, ou pelas disfunções acumuladas ao longo dos anos, essencialmente em função de distorções criadas por descumprimentos de suas obrigações institucionais por parte de seus dois maiores países membros. Se e quando os países membros resolverem cumprir os requerimentos estabelecidos no tratado original, ademais de eventuais arranjos que possam ser feitos em paralelo a um processo de revisão, ele voltará a ser uma base para a integração mundial das economias dos países membros. Caberia, portanto, efetuar um exame profundo das opções estratégicas do Brasil em matéria de política comercial, para decidir, a partir daí se cabe reformar o Mercosul, ou caminhar no sentido de uma independência nesse terreno. Uma agenda aberta, portanto, mas que ainda não recebeu a atenção devida, dada a descoordenação ainda existente entre os diversos ministérios envolvidos nessa frente, assim como em função de uma completa falta de diálogo entre as administrações respectivas dos dois maiores países membros, Brasil e Argentina, precisamente.
Análise das “alianças estratégicas” num sentido puramente pragmático
As políticas externas ainda que diversas, tanto do bolsonarismo quanto a atual, a do lulopetismo, conduziram o Brasil a uma série de coalizões político-diplomáticas definidas a partir de uma visão ideológica deformada das relações internacionais do país, uma vez que baseadas, a primeira, numa aliança subordinada à principal potência ocidental (em verdade a seu líder, identificado às correntes conservadoras da política mundial, a segunda na miopia de um mirífico “Sul Global” – que não existe na prática, a não ser nas concepções ideológicas de seus promotores – e de um mal definido projeto de “nova ordem global multipolar”, que é apenas um slogan para a conformação de um bloco antiocidental. O governo anterior tinha desmantelado, parcial ou totalmente, os esquemas existentes de consulta e coordenação em escala regional criados nos mandatos anteriores dos governos lulopetista, sem colocar absolutamente nada em seu lugar, a não ser uma política de adesão ao governo americano anterior (o de Donald Trump 1, 2017-2020) e com regimes similares ou de orientação iliberal e direitista. O atual governo de Lula 3, confirmou sua preferência por uma aliança estreita com as duas grandes potências contestadoras da atual “ordem ocidental”, proclamando sua adesão de princípio a uma indefinida “ordem global multipolar”, mas as tomadas de posição foram feitas no contexto de uma diplomacia presidencial personalista, não exatamente em nome da diplomacia profissional brasileira (que, diga-se de passagem, não é responsável por certas escolhas feitas primordialmente no Palácio do Planalto, e não no Itamaraty).
O tema também implica uma revisão profunda das grandes escolhas estratégicas do Brasil na arena mundial, e requer uma exposição específica que não cabe nos limites deste trabalho. Cabe, no entanto, relembrar que, ao longo de várias décadas, a política externa do Brasil logrou manter-se imune aos embates, diretos ou indiretos, entre as grandes potências, postura que atualmente parece ter sido esquecida em favor de uma aproximação irrefletida ao campo da contestação da ordem global atual, considerada pelos decisores correntes da política externa como pouco adequada aos interesses nacionais brasileiros. Não existe, contudo, nenhuma exposição clara e explícita sobre como, e por quais razões, a tal “ordem global” alternativa seria mais compatível com os interesses nacionais de longo prazo do Brasil, assim como com suas características de sociedade democrática e inserida plenamente numa economia de livres mercados.
Atuação do Itamaraty: fortalecimento institucional, preparação adequada
O corpo diplomático profissional, mais até do que ocasionais diplomacias presidenciais mais ou menos efetivas, foi uma componente essencial da formulação e da execução das principais diretrizes em matéria de política externa e da sua execução prática. Diplomacias presidenciais ativas podem representar um aporte adicional aos esforços da burocracia oficial, mas, se exercidas numa vertente excessivamente personalista, elas podem guardar a marca de improvisos irrefletidos, desprovidos do requerido embasamento técnico preliminar, com implementação deficiente das escolhas feitas segundo instintos momentâneos, mais até do que apoiados em uma preparação adequada. Certos dossiês, nos últimos governos, foram objeto de tratamento quase amadorístico, pois que conduzidos sob processos decisórios divididos entre o ambiente burocrático da diplomacia profissional e os interesses momentâneos dos círculos do poder político.
Tais problemas podem ser enfrentados mediante estreita coordenação entre a área técnica que formata cada um dos dossiês de política externa e a instância política decisória que decide sobre a implementação de uma determinada postura ou iniciativa diplomática. Essa coordenação exclui, em grande medida, a diplomacia personalista, poucas vezes apoiada num conhecimento rigoroso dos antecedentes e do contexto relacional de cada uma das questões tratadas em nome do Estado. Um excesso de autoconfiança pode não apenas criar novos problemas, como agravar os existentes, o que repercute negativamente na implementação da ação diplomática institucional.
O que pode ser feito?
Argumentos detalhados, relativos às diferentes vertentes da política externa – nos domínios bilateral, regional, multilateral, nas áreas econômica, de segurança e de plena inserção nos grandes temas da agenda global –, podem ser objeto de novas considerações, mais abrangentes, com abordagens macro e setoriais em cada um dos itens da agenda externa, num documento de planejamento político – ou seja, contendo objetivos estratégicos e prioridades táticas para a política externa do Brasil – de caráter mais amplamente propositivo do que a exposição sintética aqui oferecida.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 5110, 8 novembro 2025, 4 p.
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O primeiro artigo, desta série de 2, pode ser consultado nestes links:
1602. “Política externa e diplomacia do Brasil: como são, como podem ser, 1/2”, revista digital Será? (ano xiv, n. 684, Recife, 21 de novembro de 2025; link: https://bit.ly/4o6CUpD ou https://revistasera.us2.list-manage.com/track/click?u=411db2b245b4b4625516c92f4&id=5960193be7&e=b9cc4cc5fd); divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2025/11/politica-externa-e-diplomacia-do-brasil.html). Relação de Originais n. 5109
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
19 de novembro é o "Dia Nacional do Cordelista", e também Dia da Bandeira
Descubro agora, que o 19 de novembro (que já passou) é o "Dia Nacional do Cordelista", o que eu ignorava completamente.
quarta-feira, 19 de novembro de 2025
BRICS Is Missing Its Chance - Oliver Stuenkel and Alexander Gabuev (Foreign Affairs)
BRICS Is Missing Its Chance
United by Trump’s Hostility, but Too Divided to Seize the Moment
Oliver Stuenkel and Alexander Gabuev
Foreign Affairs, November 18, 2025
https://www.foreignaffairs.com/south-africa/brics-missing-its-chance#
This year, the BRICS—a ten-country group whose first five members were Brazil, Russia, India, China, and South Africa—has gained a renewed sense of purpose thanks to one catalyst: the United States. With U.S. President Donald Trump’s return to the White House, the bloc looks, more than ever, like a necessary hedge against an increasingly erratic and fragmented global order. Many of Trump’s actions—including his chaotic tariff crusade against friends and foes, strikes on Iran and legally dubious military actions in Latin America, and withdrawal from the UN-supported Paris agreement on climate change—have sparked condemnation from the BRICS. Trump’s policies have put in stark relief BRICS’ raisons d’être: to help its members adapt to and build a less Western-centric world, gain greater leverage in their dealings with Washington, and find alternatives to Western-dominated institutions such as the World Bank and the International Monetary Fund.
But despite their shared interests, BRICS as a grouping is not ready to seize the moment. Its members—which now include Egypt, Ethiopia, Iran, Indonesia, and the United Arab Emirates—are too divided to turn the group into a real challenge to Washington. They vary significantly in their degree of antagonism toward the United States, and each wishes to maintain strategic autonomy. As a result, the bloc will struggle to mount joint action. To unite and marshal their collective strength, the BRICS would have to turn into something akin to the G-7—a U.S.-led group of economically advanced countries that, in the interest of promoting their common purpose and values, willingly sacrifice a significant degree of strategic autonomy. But the BRICS countries, whose bond is based mainly on a collective rejection of U.S. hegemonic power, won’t find the cohesion that could make the bloc an effective geopolitical force.
POWER IN NUMBERS
While previous U.S. presidents have largely ignored the BRICS, Trump has adopted a more confrontational stance. He has called the BRICS an “anti-American bloc” and has repeatedly threatened to impose 100 percent tariffs on its members if they were to replace the U.S. dollar as a reserve currency. For now, the Trump administration is not going after the bloc as a whole but picking fights with individual countries. Some BRICS members, such as China and Russia, are better equipped to weather U.S. pressure than others, such as Brazil, India, and South Africa. But all now have a clearer understanding that they are stronger together than apart: the more domineering the United States behaves, the more important the group is to its members.
For years, Beijing has warned fellow BRICS members that the U.S.-led order is unstable and subject to the political mood swings of Washington and its allies. The Chinese leadership has presented Trump’s return, and the United States’ unreliability as a partner in development, as evidence that Beijing’s push to build parallel institutions, such as the New Development Bank, was not premature but prescient. And the consequences of Trump’s “Liberation Day” tariffs, including volatility in the U.S. bond market and a fluctuating U.S. dollar, have spurred some developing countries to take steps to hedge against their exposure to the dollar. For China and its partners in the BRICS, these developments present an opportunity to leverage financial services that are not controlled by the United States, develop tools to reduce their dependence on the U.S. dollar, and facilitate trade in alternative currencies.
Moscow, too, sees advantage in the chaos that the Trump administration has sown. During the Biden administration, the United States and other Western countries imposed unprecedented sanctions against Russia in response to the Kremlin’s war of aggression against Ukraine. Trump’s return to the White House presented Russian President Vladimir Putin with an opening to improve, if not normalize, relations with Washington. Trump has dramatically scaled back financial support for Ukraine, but he continues to issue periodic threats against Moscow and has sanctioned Russia’s two largest oil producers. This is why Russia realizes that it needs to strengthen its partnership with fellow BRICS countries and leverage the grouping as a support network to withstand the Western sanctions pressure and to erode U.S. global dominance in finance and technology.
Trump’s crusade against Brazil, India, and South Africa has likewise set in motion forces that should, in theory, bring the BRICS members closer. Trump imposed 50 percent tariffs on Brazilian imports earlier this year, arguing that an investigation of former president Jair Bolsonaro was politically motivated. When Brazil’s top court convicted Bolsonaro of attempting a coup, Trump escalated further, sanctioning a Brazilian Supreme Court justice tied to the case and cancelling the visas of several Brazilian judicial and government officials. These measures have only pushed Brazil to deepen its ties with fellow BRICS members. As one of Lula’s advisers recently pointed out, Trump’s attacks “are reinforcing our relations with the BRICS, because we want to have diversified relations and not depend on any one country.” Even before the Bolsonaro conviction, Lula had been currying favor with BRICS allies and paying official visits to China and Russia as well as Vietnam, which became a BRICS partner in June. But Trump’s bellicose approach is sure to accelerate this trend.
South Africa’s diplomatic friction with the United States has had similarly predictable results. Relations hit a new low following Trump’s meeting with South African President Cyril Ramaphosa in May. In a tense encounter that was widely broadcast and dissected across South African media, Trump ambushed Ramaphosa with false and inflammatory claims about a “white genocide” targeting Afrikaner farmers. Trump’s rhetoric echoed fringe conspiracy theories and played to segments of his domestic base, but it left South Africans across the political spectrum shocked and offended. The Trump administration had previously expelled South Africa’s ambassador, threatened to impose steep trade penalties, and canceled aid programs. For the South African leadership, the disastrous White House meeting was yet more evidence that the United States had ceased to be a trustworthy partner. Facing a peculiarly hostile administration in Washington, Pretoria has ample reason to pursue greater intra-BRICS cooperation—not out of ideological affinity with its members but out of the strategic necessity to protect itself against an erratic and punitive United States.
Even in India, a country that has spent the better part of the past two decades cultivating close ties with Washington, policymakers are keenly aware that they must hedge in the face of Trump’s unpredictability. This year, Washington has deported thousands of Indian nationals, stalled negotiations over a bilateral trade agreement, and imposed 50 percent tariffs on Indian products. Indian policymakers are now firmly committed to a strategy of “multialignment,” in which BRICS serves not just as a platform for cooperation among countries of the so-called global South but also as a geopolitical insurance policy when U.S. commitments are no longer credible.
Similar sentiments are palpable throughout the other BRICS capitals, where leaders fear that close partnership with the United States may become a liability. Unsurprisingly, the number of countries hoping to join BRICS, either as full members or partner countries, keeps growing. That list includes Bangladesh, Belarus, Bolivia, Cuba, Kazakhstan, Malaysia, Nigeria, Senegal, Thailand, Uganda, Uzbekistan, Venezuela, and Vietnam. The desire to diversify partnerships has not emerged because of Trump alone, of course. Turkey, for example, expressed interest in becoming a full member of BRICS well before Trump’s return. But the president’s second term has elevated multialignment from distant aspiration to urgent strategy.
MUDDLING THROUGH
And yet BRICS is not ready to take advantage of this moment. As the group has grown in size, so have its internal contradictions. This is not entirely surprising. Both Brazil and India, fearing the loss of their own influence and concerned about the group’s cohesion, had long opposed expansion, before giving in to Chinese pressure in 2023. Egypt, Ethiopia, Indonesia, Iran, and the United Arab Emirates all joined in the last three years.
At a BRICS foreign ministers meeting in Rio de Janeiro in April, member states failed, for the first time, to issue a joint communiqué. The deadlock underscored mounting divisions within the bloc over the pace and direction of de-dollarization, the level of antagonism toward the United States, and Beijing’s aspirations for leadership in the grouping. In this case, the source of disagreement was a topic of long-standing symbolic importance to Brazilian President Luiz Inácio Lula da Silva: reform of the United Nations Security Council. Both Egypt and Ethiopia objected to language that would have acknowledged South Africa’s aspirations for a permanent seat, highlighting the complications introduced by the group’s recent expansion. And this July, in an unprecedented development, several heads of state failed to participate in-person in a BRICS summit, and only half of the bloc’s ten member countries sent delegations; the others attended remotely.
The U.S. bombing of Iranian nuclear facilities in June could have unified BRICS. Several member governments were appalled by the strikes, arguing that the United States acted unilaterally, dangerously, and without regard for international norms. For China and Russia, the strikes confirmed long-standing critiques of U.S. militarism; for Brazil and South Africa, countries that have historically prioritized nonintervention and peaceful conflict resolution, the attack was seen as a reckless move that undermined global stability. For India, the assault was not only a violation of international law, but also an attack on a vital energy supplier. Yet in the end, the BRICS’ joint statement, published several days after the bombing, was remarkably vague, failing even to mention Israel or the United States, revealing the grouping’s incapacity to speak with one voice.
Friction is visible on other fronts, as well. China’s heavily subsidized exports, including steel, textiles, and cars, threaten local industries in countries such as Brazil and South Africa. The resulting tensions complicate intra-BRICS economic coordination, as governments face domestic pressure to adopt protectionist measures against Chinese goods. Although China is eager to use BRICS as a platform to expand its influence and advertise its governance model, other members remain wary of subordinating their interests to Beijing’s ambitions. A recent virtual summit of BRICS leaders, convened by Lula and aimed at developing a common strategy against U.S. tariffs, produced few tangible results.
Despite renewed urgency created by Trump’s return to power, BRICS remains hamstrung by the same structural weaknesses that have long limited its effectiveness: divergent national interests, conflicting economic priorities, and a deep mistrust of one another’s geopolitical ambitions. Expansion has only magnified those challenges, adding more actors and contradictions to an already unwieldy organization. Beijing may view Trump’s bellicosity as conclusive proof of the United States’ unreliability, but other members are reluctant to align too closely with China or to subordinate their own national agendas to a single leader. Group cohesion remains a long way off.
For the foreseeable future, the grouping is likely to continue muddling through—attracting new members, producing grand declarations, and occasionally coordinating positions, but falling well short of becoming the basis of a new model of global governance. Trump has reminded BRICS members why the bloc matters, while simultaneously exposing why it cannot rise to the occasion.
domingo, 16 de novembro de 2025
A CHEGADA DE BOLSONARO NO INFERNO - Bastião da Curiboca
A CHEGADA DE BOLSONARO NO INFERNO
Por Bastião da Curiboca
Corria um dia tranquilo
Na portaria do inferno.
A fila estava pequena
Com três caboco de terno;
Um agiota, um banqueiro,
E um pastor potoqueiro
Invocando o Pai Eterno.
O capeta da guarita
Só conferia os malfeito
Numa lista bem comprida
Ia ticando, com jeito:
Ladroagem, carteirada,
Ódio, usura, mentirada,
Consciência com defeito.
Mais atrás vinha uma quenga
E um vendedor de seguro;
Pouco depois um pinguço
Ralando o chifre no muro;
Uma dupla sertaneja,
Uma barata-de-igreja,
E um tarado de pau duro.
Tudo estava nos conformes
Naquela burocracia,
Quando se ouviu ao longe
Uma estranha tropelia.
Fazendo muita poeira,
Promovendo quebradeira,
Xingando a democracia.
Na frente, boca espumando,
Tinha um tal de Capitão.
Com a mão fazia um gesto
Imitando um três-oitão;
Riso de psicopata,
Catinga de vira-lata,
E zóio de assombração.
Ele logo foi dizendo:
“Sou presidente, tá oquei?
Tenho apoio da milícia,
Da rede globo e da lei.
Vou trocar o delegado!
Eu quero um advogado,
Daqueles que eu já comprei”.
O diabo olhou o tipo
E pensou: “Lá vem encrenca!”
O cabra não vinha só,
Vinha com ele uma renca:
Tinha milico fardado,
Fazendeiro, deputado,
E jornalista em penca.
“Trezentos mil. E daí?”
Relinchava o genocida,
E era aplaudido com força
Pela claque ensandecida.
Os quatro filhos vibravam,
Enquanto compartilhavam
Da rachadinha bandida.
Puxando o coro dos males,
O general Pazuello;
Damares, Ricardo Salles,
Parecia um pesadelo!
O chanceler Araújo
Com QI de caramujo,
Paulo Guedes num camelo.
“Eu vim para destruir!”
Gritava o quase-demente.
E chegou na portaria
Querendo passar na frente.
“Não ligo pra pandemia!
Mi-mi-mi é covardia,
De quem não votou na gente!”
Capeta coçou o rosto,
E farejou confusão.
“Esse aí parece encosto,
Vou precisar de outra ação.”
E ligou prum mais chifrudo,
Mais graduado, pançudo,
Que chegou com a guarnição.
“O que está acontecendo
Nessa repartição?
Aqui é lugar decente,
Não pode haver confusão.
Não me importa a patente,
Tem de ser obediente
Em nossa jurisdição.”
O capitão gargalhou
De um jeito alucinado.
Virou-se pra sua plateia,
Soltou um berro, alterado:
“Vamos passar a boiada!
Isso aqui não é nada,
Comparado com meu gado.”
O tinhoso, experiente,
Percebeu a desvantagem.
Era muita gente bronca
Seguindo aquela visagem.
“Vou ligar pro meu Supremo.
Briga boa eu não temo,
Mas assim é sacanagem…”
Satanás estava na mesa
Comendo um leitão assado.
Quando recebeu o zap
Caiu no chão, alarmado.
“Como é que esse bandido
Que acompanho, escondido,
Veio parar desse lado?”
Vestiu a capa vermelha,
E procurou o tridente.
Passou um pente na telha
Deu um gole de aguardente.
Arriou uma jumenta
Que tinha fogo na venta,
E foi pra linha de frente.
Chegando na portaria
Viu aquela confusão.
O povo fazendo arminha,
Gritando “É o Capitão!”
Trinta pastores na grama,
Dez generais de pijama,
e o Bonner na narração.
Seguindo aquele fascista,
Tinha de tudo um pouquinho.
Acadêmico e artista,
Sílvio, Datena e Ratinho.
Racista, neonazista,
comboio de taxista
atravancando o caminho.
O Demônio encheu o peito
Com seu bafo venenoso,
E perguntou pro sujeito:
“Cê quer o que, malcheiroso?
Não pense que me engana,
A facada foi chicana,
Recurso bem vergonhoso.”
Bolsonaro então sorri,
Lembrando a maracutaia.
“Não foi ali que morri,
Bem sabe o Rodrigo Maia.
Cheguei com apoio do Moro,
Dos tucanos de alto foro,
E também do Malafaia.”
“Mas então você me explique”,
Interrogou Belzebu:
“Por que vem fazer chilique
Com esse bando de urubu?
Pra entrar tem que ter senha,
Espero que aqui não venha
Provocar um sururu.”
“É Deus acima de todos,
Brasil acima de tudo!”
Desta forma inconsequente
Blasfemou o linguarudo.
O Demo pegou a deixa,
E transmitiu sua queixa
Para o Senhor-Pai-de-Tudo.
“Mestre Supremo, desculpe,
Nessa hora incomodar.
Mas tem um cara suspeito,
Aqui a me atazanar.
É um tal de Bolsonaro,
Se não me falha o faro,
É cabra ruim pra danar.”
Deus pôs a mão na testa,
deu um suspiro profundo.
“Belzebu, tu estás comigo
Desde o início do mundo.
Sabes que não ajo errado:
Se alguém vai pro teu lado,
É porque é vagabundo!”
“Mas, Deus, será que mereço
Um castigo tão tacanho?
O cara é sociopata,
Quem segue é um povo estranho.
Aqui temos uma ordem,
Por mais que outros discordem,
É disso que eu tiro o ganho.”
“Penso que um cabra desses,
Tão seguido de pastores
De igrejas tão diversas,
Guiadas por malfeitores,
Devia ir para o limbo
E receber um carimbo
Por proclamar tais horrores!”
O Supremo, com um sorriso,
Respondeu ao Lucifer:
“É justamente por isso
Que a situação requer
um jeitinho mais profano:
Aceite o miliciano
E seja o que Deus quiser!”
O Maligno, abismado,
Achou a declaração hostil.
“Se Deus quiser, ora essa!
Onde é que já se viu?
Agora que a coisa aperta!
Se Deus quisesse, na certa,
Tinha salvado o Brasil!”
Belzebu ficou cabreiro
Com aquela situação.
Lá fora o Bozo rosnava
Incitando a multidão.
Foi quando um diabo-raso
Preocupado com o caso,
Disse: “eu tenho a solução!”
“Lá no Brasil tem um cabra
Que todo mundo respeita.
Correu cinquenta países,
E em nenhum fez desfeita.
Cabra bom de Garanhuns,
Adorado por alguns,
Temido pela direita.”
Satanás, bem curioso,
Viu uma chance bem clara.
O diabinho, orgulhoso,
Sentiu que a fala tocara.
“É Lula, meu comandante!
Sei também que o meliante
Morre de medo do cara.”
“Quero o telefone agora
Dum homem desse quilate!”
Lucifer se apresentou,
E contou qual o embate.
Lula soltou uma risada,
E falou: “Esse é barbada.
Desafia prum debate!”
O Demonho, agradecido,
Foi direto pro portão.
Com a capetada ao lado
Anunciou a intenção:
“Vamos expor nossos planos.
Se os teus não forem insanos,
Te entrego a chave e o bastão!”
Bolsonaro ouvindo aquilo
Na hora empalideceu.
O suor correu na testa
E a garganta emudeceu.
Pra escapar da desgraça
Numa nuvem de fumaça,
Depressa se escafedeu.
A multidão, sem comando,
Aos poucos se diluiu.
Os diabos festejaram
A vitória sem fuzil.
Se alguém pergunta o destino
Do capitão asinino,
Saiba que está no Brasil.
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[Grato a Olympio Pinheiro pela postagem]

