O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Nuestro nuevo hermano en el Mercosur: Venezuela

Muy buena inauguración del flamante miembro pleno del Mercosur:

Anti-Chavez Venezuelan TV Globovision pays $2.1m fine

People demonstrate in support of Globovision outside the court in CaracasGlobovision employees and supporters demonstrate outside the Supreme Court in Caracas

Related Stories

BBC, July 2, 2012
A Venezuelan news channel highly critical of President Hugo Chavez has paid a $2.1m (£1.3m) fine for its coverage of a prison riot a year ago.
The move comes a day after the Supreme Court placed a seizure order on assets belonging to Globovision worth nearly three times the original fine.
"The fine is unfair and disproportionate," said Globovision vice-president Carlos Zuloaga.
He said the court should lift the order now that the fine has been paid.
Globovision accused the government of trying to intimidate it ahead of the start of campaigning for October's presidential election.
Opposition candidate Henrique Capriles said the government was attempting to silence independent media.
The fine was imposed by media regulator Conatel in October 2011.
Conatel said Globovision's coverage of disturbances at the El Rodeo prison outside the capital, Caracas, in June 2011 "promoted hatred and intolerance for political reasons."
More than 20 people were killed in the prison mutiny.
Globovision went to court to fight the fine.
But the Supreme Court announced on Thursday that a seizure order had been placed on assets worth $5.7m (£3.6m) belonging to the news channel.
Globovision vice-president Carlos ZuloagaGlobovision's vice-president Carlos Zuloaga says he expects the seizure order to be lifted by Monday
"This decision doesn't surprise us because we are about to begin an election campaign in which the government tends to take judicial actions to intimidate the independent private media," said channel vice-president Maria Fernanda Flores.
Mr Zuloaga and other executives of the channel went to the Supreme Court to pay the original fine, accompanied by employees and supporters.
Globovision lawyer Ricardo Antela said the company feared bigger sanctions and the loss of its broadcasting licence.
Coup attempt
The election campaign begins on Sunday, with President Hugo Chavez seeking a third term in the 7 October vote.
Mr Chavez has accused Globovision of supporting a 2002 coup attempt, and of plotting to assassinate him.
Venezuela's opposition has frequently accused Mr Chavez's government of trying to gag the media.
Several other private radio and television stations have been forced off air for failing to comply with regulations requiring them to broadcast government information.
The government has frequently accused private media companies of using their power to try to undermine the democratic authorities.
State-owned media has expanded dramatically since Mr Chavez took office in 1999.

More on This Story

Related Stories

Economia brasileira: Giambiagi e Castelar apontam os desafios

Análise

Brasil precisa mudar de estratégia e focar na produtividade

Para os autores do livro "Além da Euforia", Armando Castelar e Fábio Giambiagi, investir em educação, infraestrutura e poupança é o caminho para o PIB continuar avançando

Anna Carolina Rodrigues
Economistas Fabio Giambiagi e Armando Castelar, autores do livro "Além da Euforia" Fabio Giambiagi e Armando Castelar, autores do livro "Além da Euforia" (Oscar Cabral e Anna Carolina Negri)
"O Brasil precisa depender menos do capital e mais da produtividade" – Armando Castelar
O governo federal anunciou na última quarta-feira mais um pacote com o intuito de tentar salvar a economia brasileira de um “pibinho”. A nova tentativa vem num momento em que o mercado - e o próprio Banco Central - rebaixa suas estimativas para 2012. Faltaram ousadia e visão à equipe da presidente Dilma, que apelou, uma vez mais, para a batida fórmula de tentar “salvar” o PIB com base na ampliação do consumo. A estratégia – que se mostrou bem-sucedida enquanto milhões de brasileiros ainda não tinham ascendido à classe média e não possuíam acesso ao crédito – dá hoje sinais de esgotamento. O país tampouco pode ser dar ao luxo de contar com o cenário externo. Por uma década, o Brasil foi favorecido pela crescente demanda por suas commodities e pelo amplo acesso ao  financiamento barato no mercado internacional. A combinação desses fatores resultou em crescimento e, de 2006 a 2010, euforia. Contudo, a dificuldade de reverter o quadro negativo que se arrasta desde a metade do ano passado começa a lançar por terra esse entusiasmo.
No pacote da semana passada, o governo resolveu oferecer seu próprio poder comprador para tentar estimular o PIB. A opção deixa antever que está perdendo fôlego o apoio do consumo ao crescimento.  De um lado, as famílias, limitadas por um endividamento recorde, não se sentem compelidas a comprar mais – mesmo com prorrogação do IPI reduzido de eletrodomésticos e móveis, automóveis mais baratos, estímulo ao crédito via bancos públicos, etc. De outro, o empresário, amedrontado pela deterioração da economia global, tem se arriscado pouco a investir. Para destravar o setor privado de nada têm adiantado a postura cada vez mais intervencionista do governo no campo microeconômico – regras que mudam a todo o momento, exigência cada vez maior de conteúdo nacional nas fábricas – e o fechamento “branco” do país à concorrência externa.
O problema apontado por analistas é que será pífio o impacto de tais compras governamentais na economia. O volume anunciado de 8,4 bilhões de reais em aquisições de caminhões, tratores, retroescavadeiras, equipamentos hospitalares, etc, representa só 0,2% do PIB. O comentário mais comum entre os economistas é que o governo criou um ‘pacote’ apenas para fazer propaganda e atender os interesses corporativistas de meia dúzia de indústrias – coincidentemente aquelas para as quais a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vinha fazendo lobby escancarado.
O cenário que se coloca hoje diante dos brasileiros felizmente não é catastrófico, mas se distancia daquela visão do “Brasil maravilha” dos últimos anos. Para mudar a perspectiva de taxas baixas de crescimento nas próximas décadas, o governo federal tem de começar a atacar os problemas estruturais da nação. Políticas de longo prazo para melhoria da educação, da taxa de poupança e da infraestrutura precisam ser bem estruturadas e postas em prática ainda que seus resultados não se mostrem visíveis no curto prazo. Essas ações é que tornarão o Brasil uma nação mais produtiva, isto é, capaz de gerar riqueza com maior eficiência.
A discussão sobre o que ainda precisa ser feito – a chamada "metade vazia do copo" – é o ponto central do livro Além da Euforia - Riscos e Lacunas do Modelo Brasileiro de Desenvolvimento (Editora Elsevier-Campus, 312 páginas), de Armando Castelar e Fábio Giambiagi, que será lançado oficialmente em 11 de julho, mas já pode ser encontrado em algumas livrarias. Os economistas falaram ao site de VEJA.
Por que o livro se chama “Além da Euforia”?
Armando Castelar – É uma referência ao fato de o Brasil ter vivido um período de euforia entre 2004 e 2010. Mas esse momento não vai perdurar indefinidamente. No livro, discutimos as razões disso. É preciso que haja um debate sobre o que precisa ser feito para melhorar a situação que virá depois que essa euforia passar.
Por que essa euforia vai passar?
Giambiagi – O Brasil teve condições excepcionais e favoráveis ao crescimento neste período. Duas delas são associadas ao cenário externo. Primeiramente, temos o índice de preço das exportações. Para se ter ideia, entre 1997 e 2002, esse indicador teve queda acumulada de 23%. Entre 2002 e 2011, contudo, houve um aumento impressionante de 165%. A segunda condição é o baixo nível das taxas de juros internacionais. Essa configuração de preços “nas nuvens” com uma taxa de juros externa pequena tirou a possibilidade de aumentar a absorção doméstica sem que fosse gerada uma situação muito dramática no balanço de pagamentos – ao contrário do que ocorreu em outros ciclos de expansão históricos.
Castelar – Parte do cenário externo favorável ao Brasil deriva da China, cujo quadro doméstico complicou um pouco nos últimos tempos. Os preços das exportações pararam de aumentar do jeito que vinham subindo e decaíram um pouco neste início de ano. O país começa a ter um pouco de dificuldade de crescimento internamente. Ainda assim, a situação dos preços continua bastante favorável ao Brasil conforme os padrões históricos. É preciso lembrar, contudo, da importância do cenário externo. Toda a América Latina teve melhora de desempenho muito semelhante à de nossa economia. Os países da região estão vivendo níveis recordes de baixa de desemprego, segundo dados recentes da Cepal. O mérito não é exclusivamente brasileiro.
No capítulo sobre produtividade, o livro afirma que a parcela dos economistas que defende estímulos ao consumo para alavancar o crescimento tem resistência a acreditar que o país começa a enfrentar limitações de oferta. Por que há tanta resistência?

Castelar – Isso é um corte histórico que data dos anos 1950 para cá. Prevalece a ideia de que se for aumentada a demanda, a oferta vai se apresentar. No livro, defendemos que é preciso ter políticas explicitas para o lado da oferta. Melhorar a produtividade, melhorar o ambiente de negócios, cuidar de ciência e tecnologia, etc.
Giambiagi – Eu e Armando destacamos no livro que a filosofia econômica hoje dominante no Brasil é aquela inspirada nas ideias do economista John Maynard Keynes, que publicou em 1936 a Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Essa grande obra foi escrita no contexto da crise dos anos 1930 – período em que a indústria estava com grande capacidade ociosa –, fornecendo o conteúdo teórico para o presidente americano Franklin Roosevelt adotar a política do New Deal, que ajudou a tirar os Estados Unidos da sua situação de penúria. A prescrição de políticas ditas keynesianas, calcada no estímulo à demanda, pode se justificar por essa situação de abundância de capacidade ociosa, como aconteceu no mundo em 2008 e hoje se vê na Europa, por exemplo. Mas uma vez que o Brasil está ‘batendo no teto’ de ocupação de recursos físicos, nosso entendimento é que é preciso ‘mudar o software’ para enfatizar a importância da expansão da oferta. Estamos vivendo uma situação inédita nos últimos 30 anos.
O que acontecerá se o Brasil não mudar esse ‘software’?

Castelar – Capacidade ociosa significa que existem fábricas e trabalhadores treinados que não estão sendo utilizados. É algo bem diferente de quando já se está usando todo o potencial e é necessário aumentá-lo para conseguir expandir a produção. Essa ampliação de capacidade não é um processo rápido. O investimento privado no Brasil é inibido pela falta de infraestrutura, pelo ambiente de negócios e pela escassez de mão de obra capacitada. Em outras palavras, temos energia elétrica insuficiente e cara; estradas, portos e aeroportos congestionados; entre outros problemas. Tudo isso limita o crescimento uma vez que o custo aumenta e o investimento fica menos interessante. A empresa cresce mais devagar. No tocante à demanda, existem outras restrições. Uma é a poupança, que é dificultada quando existe grande aumento de consumo. A segunda é confluência de expansão do consumo e do investimento, o que tende a gerar um déficit mais elevado nas transações correntes do Brasil com o exterior. Esse déficit só não estourou nos últimos anos por conta do cenário externo favorável. Além disso, com o aumento forte do consumo interno, a taxa de câmbio evolui de maneira a se apreciar – e o país torna-se menos interessante aos investimentos, como por exemplo, se dá hoje no setor industrial. É preciso trabalhar essas questões para continuar crescendo. Resolvê-las é fundamental para eliminar essa crise de produtividade do Brasil.

No livro, vocês analisam que o crescimento do produto potencial brasileiro nas últimas décadas foi possível justamente pela elevação da produtividade. O que causou esse aumento e por que ele não continuou?

Castelar – No período áureo de crescimento do Brasil, entre os anos 1950 a 1980, houve sim um aumento razoável da produtividade graças ao investimento. Nessa época, a infraestrutura se expandiu muito. Em segundo lugar, a indústria também contribuiu. Da década de 1980 até 1994, com a crise da dívida pública, a produtividade andou para trás e ficou negativa. A economia ficou mais fechada, a inflação era muito alta e havia uma intervenção estatal gigantesca. Começou então uma série de reformas estruturais, com abertura da economia, privatização e desregulamentação de uma série de atividades. Em 1994, com a estabilização proporcionada pelo Plano Real, a produtividade recuperou-se parcialmente. Desde então, nunca mais se conseguiu reproduzir esse investimento e o capital deixou de ter contribuição relevante para o crescimento do PIB. No período mais recente, o que contribuiu para melhorar a produtividade brasileira foi o emprego, isto é, há mais gente trabalhando. Atualmente, o desemprego está baixo e uma transição demográfica está em curso. Podemos prever, no entanto, que essa fonte de crescimento vai secar na frente. Então, as outras duas – capital e produtividade – passam a ser mais importantes.
Giambiagi – Este ponto do mercado de trabalho é muito importante. Nos últimos dez anos tivemos um crescimento anual do PIB da ordem de 4% e uma ampliação da população ocupada de cerca de 2,5%. A diferença está no conceito de produtividade por trabalhador. Naquele período, a população economicamente ativa (PEA) crescia mais ou menos 1,5% ao ano. Em suma, o emprego aumentava em ritmo mais intenso que o da própria PEA, o que diminuía o desemprego. No entanto, a partir do momento em que o país esbarra no limite do pleno emprego, que se estima que seja algo próximo a 5%, a população ocupada só poderá se expandir na mesma taxa de crescimento da PEA, que caminha para ficar em 1,1% daqui a uns anos, segundo dados do IBGE. No período de 2010-2050, o número de trabalhadores deve ficar estável, ou seja, todo o aumento da produção nesse período terá de vir de produtividade porque as pessoas que vão gerar o PIB serão “as mesmas”.
Além de melhorar a produtividade do trabalho, o livro aponta que há um longo trabalho para elevar a taxa de poupança interna. Por que este ponto também precisa ser atacado?

Castelar – O Brasil tem sérios problemas em relação a isso. A poupança aqui é muito baixa – o último dado mostra que está em 15,7% do PIB – e o ambiente de negócios não ajuda o investimento. É muito comum as pessoas apontarem a Coreia do Sul como modelo, mas eles investem cerca de 30% do PIB, quase o dobro do Brasil. Isso só é possível porque possuem uma taxa de poupança muito alta. Nossa média dos últimos 20 anos foi 16,5%. Provavelmente, vamos precisar recorrer à poupança externa, mas isso tem certo limite, pois aumenta o déficit em conta corrente. O Brasil precisa depender menos do capital e mais da produtividade.
Se o Brasil tivesse conseguido manter os níveis de produtividade que foram observados até os anos 1980, como o país estaria?

Giambiagi – Seríamos uma Coreia. Tínhamos a mesma renda per capita que eles em 1980.
Em que medida a alta carga tributária agrava o problema de produtividade?

Giambiagi – As duas palavras-chave são escala e impostos. Quando se produz algo para o mercado mundial, distribuem-se os custos por um número muito maior de unidades, o que reduz o custo unitário. Lá fora, a carga de impostos é muito menor que a daqui.
Castelar – Ambos os pontos estão relacionados. O imposto aumenta muito o preço e a empresa vende menos. Consequentemente, tem menor escala. Então, parte do problema da escala tem a ver com o tamanho gigantesco da carga tributária no Brasil.
Diante de tantos desafios, que esperam para o país nos próximos anos?

Giambiagi – Nosso livro buscar servir de alerta. Os sinais estão se avolumando. De certa forma, estão corroborando nossa tese central de que a economia brasileira encontra-se num ciclo que dá manifestações crescentes de esgotamento. Vemos um 2012 fraco, com crescimento em torno de 2%. Desde que não aconteça nenhuma hecatombe na Europa, deve haver melhoria no segundo semestre. Mesmo assim, nada espetacular. Já 2013 começará com uma perspectiva mais razoável – que talvez se estique ao ano seguinte devido ao conjunto de obras que terá de ser tocado para a Copa do Mundo. Fechado esse ciclo, a partir de 2014, nossa impressão é de que o 'software' utilizado nos últimos anos, de estímulo à demanda, terá de ser trocado por estímulos à oferta com uma preocupação crescente com a produtividade e a competitividade. Associada a isso está a necessidade de colocar na agenda política do país a retomada das reformas que foram, de certa forma, abandonadas há dez anos.
Castelar - Não consigo me classificar numa escala de pessimista a otimista. Vejo que o país tem oportunidades importantes. Fizemos avanços nos últimos vinte anos, mas, por outro lado, olhando a história do Brasil e da América Latina, penso que o país já esteve nessa posição antes. Já houve muito otimismo com relação às nossas perspectivas, como nos anos 70 quando a economia crescia 10% ao ano. Não surpreendentemente a América Latina vive esse tipo de ciclo quando os preços de produtos exportados estão altos e o acesso ao crédito está fácil. Tenho esperança que nossa classe política consiga aproveitar essa oportunidade para fazer diferente do que fez no passado. Agora, há preocupação também porque nossos governantes não têm uma boa visão de quão importante o cenário externo é. Aquilo que, efetivamente, no passado fez a América Latina perder o bonde foi não perceber que existe um componente fora do controle do país que está dando uma ajuda muito grande.
Em que medida os líderes políticos podem contribuir para melhorar a produtividade brasileira?
Giambiagi – Na nossa visão, os avanços necessários não vão decorrer de propostas que emanem do Legislativo. Ele possui contradições internas e tende a não ter essa visão geral do conjunto, que é mais natural do Executivo, que tem dentro de si a restrição orçamentária e está sujeito a demandas políticas e sociais de todo o tipo. Destacamos no livro quatro elementos que nos parecem fundamentais. Primeiro, é preciso ter uma visão de longo prazo: tomar medidas não pensando apenas nos próximos dois ou três anos, mas saber onde se deseja levar o país dentro de 30 anos. Segundo, a essa visão de longo prazo tem de estar associada a certa capacidade de tolerância. Obviamente, estamos numa democracia e todo o partido político busca se eleger.  Contudo, se todas as ações políticas forem guiadas única e exclusivamente pelo objetivo de vencer a próxima eleição, questões mais controversas nunca terão vez. Outro ponto importante é a capacidade de explicar as deficiências estruturais da nação à população. Nos últimos dois períodos de governo, tivemos dois comunicadores talentosíssimos. No caso de Fernando Henrique Cardoso, não tanto o presidente, mas sim o ministro da Fazenda que conseguiu explicar um plano maluco para as pessoas e assim garantir o êxito do Plano Real. No caso do ex-presidente Lula, nem se fala. O quarto elemento é a capacidade de articulação. No governo Dilma, por exemplo, houve o caso do salário mínimo em 2011, em que o governo conseguiu vencer no Congresso com sua proposta de reajuste real zero. Quando o governo fixa uma pauta e se empenha, tem boa chance de êxito.
Castelar  – O brasileiro, às vezes, tem a sensação de que o planeta está parado e que nós estamos andando. Na verdade, o mundo também está caminhando e ele já está na nossa frente. Em outros lugares estão andando muito rápido. Por isso, o que talvez soe como avanço pode ser pouco. Acho notável como as expectativas relativas ao que a Copa do Mundo vai deixar estão sendo cada vez mais desinfladas. Tudo aponta que ficarão apenas estádios de futebol novos.
Podemos dizer que essa crise da produtividade que o Brasil começa a enfrentar é o que se vê hoje também na Europa, com os países menos eficientes com dificuldade para resolver seus problemas?

Giambiagi – O que acontece é a confluência de três crises: uma fiscal, em função de má administração em alguns países; outra financeira, devido à situação dos bancos; e outra associada à insuficiência de se ter uma mesma moeda para regiões muito díspares – problema que já era conhecido, mas que se revelou mais dramático do que se supunha no lançamento do euro.
Castelar – Há sim um elemento de crescimentos díspares de custos unitários do trabalho. Na Alemanha, a produtividade cresceu bastante e os salários subiram pouco, ao passo que em alguns países da periferia europeia (Grécia, Portugal e Espanha, em especial) ocorreu o oposto. Com isso, esses países têm dificuldade de crescer exportando, pois não são competitivos. A falta de crescimento complica o problema fiscal e de crédito.

Como ficar rico sem muito esforco: trade marks

Você não precisa ser um gênio, um grande inventor, nem ter o gênio da lâmpada ao seu lado, ou uma brilhante equipe de engenheiros e cientistas de laboratório, para descobrir uma nova maneira de tornar fácil o que é atualmente difícil.
Basta ter um pouco de imaginação, ou esperteza, e registrar nomes fantasia, ou marcas de comércio, junto a escritórios de propriedade intelectual, e depois negociar ou vender o seu título de propriedade para grandes empresas que necessitam desses nomes para comercializar seus produtos.
Tal como ocorreu no caso abaixo, sem que sequer saibamos se os "expertos" jamais estariam no mercado real de produção de suas marcas registradas. 
Durante certo tempo, não sei se continua, firmas paraguaias eram especialistas em registrar nomes de produtos brasileiros no escritório local de patentes, barrando, portanto, o acesso do mercado paraguaio à oferta dos sócios do bloco do Mercosul. Talvez o caso tenha sido resolvido, mas o fato é que paraguaios espertos ficaram ricos nesse jogo.
Paulo Roberto de Almeida 

Apple 'settles China iPad trademark dispute for $60m'

A consumer using iPadSome critics have accused Proview of trying to cash in on the success of the iPad

Related Stories

Apple has agreed to pay $60m (£38m) to Chinese firm Proview to settle a dispute involving rights to the "iPad" name, a court in China has said.
Proview had claimed that it owned the rights to the iPad name in the Chinese market after registering it in 2000.
However, Apple had insisted that it had acquired the worldwide rights for the name in 2009.
A court in Guangdong had asked the two firms to try to reach a settlement.
"The iPad dispute resolution is ended," the Guangdong High People's Court said in a statement.
"Apple Inc. has transferred $60m to the account of the Guangdong High Court as requested in the mediation letter."
Rights to China

Start Quote

When Apple is on the receiving end of a litigation, especially in China, it is a sensible move for them to settle it and move on”
Andrew MilroyFrost & Sullivan
Apple had bought the global rights to the "iPad" from Proview's Taiwanese affiliate for $55,000 (£35,000).
However, the Chinese firm had argued that its affiliate did not have the rights to sell the iPad name rights for China, which is one of the fastest-growing markets for Apple's products.
The dispute between the two firms resulted in Apple's iPads being pulled off the shelves in some parts of China.
Proview had even sought a ban on the sales of the product in Shanghai as part of the dispute, a move that was rejected by the courts.
After the court announced the settlement on Monday, Proview confirmed to the BBC that the firm had agreed to the settlement.
"The case is settled, both sides are satisfied with the agreement," Ma Dongxiao, a lawyer from Shenzhen Grandall Law Firm, which is handling Proview's case told the BBC.
Sensible move
China is one of the biggest markets for Apple's products and demand for its gadgets has been increasing steadily in the country.
However, it is starting to face increasing competition from rivals such as Samsung as they look to tap into the lucrative Chinese market.
Analysts said that one of the key reasons behind Apple agreeing to settle the naming dispute is that firm may not have wanted its sales in the country to be disrupted and as a result lose some of its market share to competitors.
"When Apple is on the receiving end of a litigation, especially in China, it is a sensible move for them to settle it and move on," Andrew Milroy of Frost & Sullivan told the BBC.
"That would help minimise the disruption to the Apple juggernaut."
End of the road?
The dispute between the two firms over the rights to "iPad" name was not limited to China.
Essex streetProview claimed Apple set up a special company in Roydon, Essex to acquire the rights to iPad name
Proview had also lodged a case against Apple in the US.
It had accused Apple of deceiving it into selling the rights to the name by setting up a company, IP Application Development Ltd (IPADL) in the UK.
It claimed that Apple said the trademark was "an abbreviation for the company name".
However, that case was dismissed by the court earlier this year.
Analysts said that with the two firms agreeing to a settlement in China, it was unlikely that Proview would take any further action against Apple.

More on This Story

Related Stories

China-India: amigos-inimigos - The Economist

article image

Relações comerciais entre China e Índia ainda precisam de uma boa dose de equilíbrio (Peter Schrank)
ÁSIA



A conturbada relação entre chineses e indianos

Forte parceria comercial entre China e Índia ainda é prejudicada por antigos rancores

fonte | A A A
As relações entre a Índia e a China são frágeis em muitos aspectos. Ricos laços culturais existiram há muito tempo, desde o estudo dos eclipses até os cânticos budistas, mas quase ninguém se lembra disso hoje, lamenta Amartya Sen, um economista ganhador do Prêmio Nobel. Depois de um momento de amor durante a década de 1950, a China derrotou a Índia em uma guerra fronteiriça em 1962, e os dois continuaram a rosnar sobre sua fronteira de alta altitude desde então. Indianos invejam a ascensão econômica da China, mas consolam-se, salientando que o país não é uma democracia. Além de demonstrações rígidas de fraternidade em encontros internacionais, mais recentemente na cúpula do G20 no México, a China parece não perder muito tempo pensando na Índia. Os fluxos de investimento são desprezíveis. Ainda não há voos diretos entre cidade como Pequim ou Xangai e Mumbai, o centro comercial da Índia.
E ainda assim, uma grande mudança ocorreu na configuração do comércio indiano. Quando a Índia começou a liberalizar sua economia em 1991, o Ocidente ainda dominava a economia mundial, e foi para o Ocidente que a Índia virou suas aspirações comerciais. A ascensão da China mudou tudo para a Índia. A China é agora o seu terceiro maior parceiro comercial de bens, e o maior, se você incluir Hong Kong. Para os vizinhos da China no leste asiático, um comércio dominante com a China é um presente, mas os indianos ainda estão tentando digerir a ideia.
O aumento do comércio com a China tem sido bom para a Índia. Ela importa principalmente bens de capital chineses, com as empresas que se beneficiam de equipamento barato e decente. A gigante Reliance Group comprou equipamentos para centrais elétricas e redes de telecomunicações – em parte pagos com empréstimos chineses competitivos. As empresas chinesas, muitas vezes se esforçam para ganhar tais negócios. Song Pan, da Shanghai Electric, que produz equipamentos de energia para a Reliance, entre outros, relembra anos de trabalho árduo na Índia.
Mas a China é responsável por um quinto do déficit comercial da Índia com o mundo, mais da metade se o petróleo for excluído. Com a problemática balança de pagamentos da Índia, a rúpia caiu em 20% nos últimos anos, e até mesmo empresários chineses temem que a discrepância no comércio bilateral seja pouco saudável.
E ela pode aumentar. Para começar, a pequena produção industrial da Índia tende a ser bastante sofisticada. Com as empresas chinesas mudando para formas mais complexas de produção, elas tornarão a vida mais difícil para as empresas indianas. Saif Qureishi de Kryfs, que fabrica os núcleos de metal de transformadores utilizados em redes de energia, diz que a China ganhou um terço do mercado de transformadores da Índia e está dando “uma surra” nos locais.
Enquanto isso, a Índia não produz muito que a China queira comprar, um buraco que governantes coloniais britânicos conseguiram preencher com as exportações de ópio indiano. Hoje, as principais exportações da Índia para a China são matérias-primas, principalmente minerais e algodão. Mas o seu sucesso contínuo não é um acidente. Nos últimos dois anos, os rios que fluem para Goa na costa oeste da Índia já fervilhavam com barcaças que transportavam minério de ferro com destino à China. No entanto, uma ofensiva no final de 2011 sobre a mineração ilegal diminuiu esses números em um quinto, diz Atul Jadhav, da Associação dos Proprietários de Embarcações de Goa. Em março, a Índia proibiu brevemente as exportações de algodão devido a temores de escassez.
A Índia é realmente propensa a impulsos protecionistas. Nenhum acordo de livre comércio bilateral existe, e a Índia, muitas vezes flerta com a ideia de impostos sobre as importações chinesas, mais recentemente, de equipamentos de energia. As vendas indianas da Huawei, uma empresa de telecomunicações, caíram pela metade depois que ela foi atingida com taxas anti-dumping e rotulada como um risco à segurança. As empresas chinesas reclamam de problemas com vistos.
Indianos querem aumentar suas exportações para a China. No encontro do G20, o país fechou um acordo para vender mais arroz. A Índia também gostaria que empresas líderes em setores que incluem drogas, automóveis e Tecnologia de Informação tivessem melhor acesso à China. A maioria já tem uma presença, mesmo que apenas para os contratos. No entanto, o que é bom para as multinacionais indianas pode não gerar empregos ou divisas para a Índia. A Tata Sons, com a maior operação na China, vende principalmente carros Range Rover, fabricados na Inglaterra, e serviços de TI, em grande parte contratando equipes chinesas.
Logo, o déficit da balança comercial parece ter vindo para ficar. Mas a China poderia fazer mais para ajudar a financiá-lo, se tivesse a chance. Mais empréstimos dos bancos chineses seriam bons – até agora a Índia tem sido cautelosa, com apenas um banco chinês autorizado a ter uma filial no país. Mais investimento estrangeiro direto também ajudaria. Em 2011, Narendra Modi, o ministro-chefe do Estado de Gujarat, visitou a China para angariar investimento. Mais frequentemente, a Índia parece considerar o investimento direto estrangeiro como um presente que vem apenas de multinacionais ocidentais.
Não precisa ser assim. Numa porção empoeirada do estado de Maharashtra está uma das primeiras fábricas chinesas na Índia, dirigida pela Sany, que fabrica escavadeiras e máquinas de construção. Richard Deng, seu chefe, diz que já investiu US$ 70 milhões e emprega 460 moradores; se tudo correr bem ele pretende dobrar de tamanho em pouco tempo. T.C.A. Ranganathan, presidente do Exim Bank of India, afirma que dez empresas chinesas têm ou estão construindo usinas na Índia, e 100 empresas têm escritórios no país.
Apesar dos habituais temores que estrangeiros têm sobre a Índia (burocracia e diferenças culturais), os executivos chineses concordam que a produção mais local irá acontecer. Dom Haiyan, da Trina Solar, uma empresa de equipamentos de energia solar, diz que, como uma empresa global, deve ter fabricação local. Wu Rong, da ZTE, uma empresa de telecomunicações, diz que emprega principalmente os habitantes e está produzindo mais na Índia. A Huawei, apesar de seus problemas na Índia, está construindo um campus de pesquisa novo, em Bangalore. Niu Qingbao, cônsul da China em Mumbai, diz que as empresas chinesas estão interessadas em investir em infraestrutura, ainda que permaneçam um pouco assustadas.
Isso pode ser o início de uma onda de investimentos chineses? A Índia precisa de capital externo e experiência na fabricação e na infraestrutura. A China deve investir seus fundos de excedentes no exterior, de preferência não apenas em títulos do governo, como acontece principalmente nos Estados Unidos e, de preferência, em países que não estejam prestes a quebrar, como pode acontecer na Europa. O investimento chinês na Índia é uma ideia cujo momento chegou, se apenas os dois lados puderem superar um legado de desconfiança.

Iran: descendo na crise economica - NYTimes

A situação econômica do Irã é quase tão dramática, talvez um pouco pior, do que a da Venezuela, sua aliada política. Ambos países, a despeito de contarem durante anos com renda extraordinária do petróleo, conseguiram desmantelar as bases econômicas por singular má administração econômica. Mas a Venezuela pode ser considerada o país ainda mais infeliz, pois não sofreu sanções econômicas como o Irã.
Conhecemos este filme, da aceleração inflacionária, aumento da especulação, perda total de referência de preços, afundamento na crise e desespero dos mais pobres. O pior é que todo e qualquer dirigente político sabe, ou deveria saber, que esse caminho é para o desastre. Que não façam nada para reverter a direção testemunha de sua monumental incapacidade a dirigir o país.
Paulo Roberto de Almeida 


Already Plagued by Inflation, Iran Is Bracing for Worse

Newsha Tavakolian for The New York Times
Shoppers at the Grand Bazaar in Tehran. Ali, a fruit vendor in the capital, asked: “Who in Iran can afford to buy a pineapple costing $15? Nobody.”
  • FACEBOOK
  • TWITTER
  • GOOGLE+
  • EMAIL
  • SHARE
  • PRINT
  • REPRINTS
TEHRAN — Bedeviled by government mismanagement of the economy and international sanctions over its nuclear programIran is in the grip of spiraling inflation. Just ask Ali, a fruit vendor in the capital whose business has been slow for months.
People hurried by his lavish displays of red grapes, dark blue figs and ginger last week, with few stopping to make a purchase. “Who in Iran can afford to buy a pineapple costing $15?” he asked. “Nobody.”
But Ali is not complaining, because he is making a killing in his other line of work: currency speculation. “At least the dollars I bought are making a profit for me,” he said.
The imposition on Sunday of new international measures aimed at cutting Iran’s oil exports, its main source of income, threatens to make the distortion in the economy even worse. With the local currency, the rial, having lost 50 percent of its value in the last year against other currencies, consumer prices here are rising fast — officially by 25 percent annually, but even more than that, economists say.
Increasingly, the economy centers on speculation. In this evolving casino, the winners seize opportunities to make quick money on currency plays, while the losers watch their wealth and savings evaporate almost overnight.
At first glance, Tehran, the political and economical engine of Iran, is the same thriving metropolis it has long been, the city where Porsche sold more cars in 2011 than anywhere else in the Middle East. City parks are immaculately maintained, and streetlights are rarely broken. Supermarkets and stores brim with imported products, and homeless people are a rare sight on its streets.
But Iran’s diminishing ability to sell oil under sanctions, falling foreign currency reserves and President Mahmoud Ahmadinejad’s erratic economic policies have combined to create an atmosphere in which citizens, banks, businesses and state institutions have started fending for themselves.
“The fact that all those Porsches are sold here is an indicator that some people are profiting from the bad economy,” said Hossein Raghfar, an economist at Al Zahra University here. “Everybody has started hustling on the side, in order to generate extra income,” he said. “Everybody is speculating.”
Some, like Ali the fruit seller, who would not give his full name, exchange their rials for dollars and other foreign currencies as fast as they can. More sophisticated investors invest their cash in land, apartments, art, cars and other assets that will rise in value as the rial plunges.
For those on the losing end, however, every day brings more bad news. The steep price rises are turning visits by Tehran homemakers to their neighborhood supermarkets into nerve-racking experiences, with the price of bread, for example, increasing 16-fold since the withdrawal of state subsidies in 2010.
“My life feels like I’m trying to swim up a waterfall,” said Dariush Namazi, 50, the manager of a bookstore. Having saved for years to buy a small apartment, he has found the value of his savings cut in half by the inflation, and still falling. “I had moved some strokes up the waterfall, but now I fell down and am spinning in the water.”
Western sanctions have hurt, economists say, particularly in denying Iran access to foreign currency reserves, which it had used to prop up the rial. Yet economists also agree that much of the damage to the economy has been self-inflicted, saying that the Ahmadinejad government went on an import spending spree after oil revenues started hitting record levels from 2005 on.
With the government buying so many goods from abroad, many domestic producers were forced to lay off workers and close factories. That, in turn, has made Iran more vulnerable to international sanctions, they say. Companies that might have helped produce goods to replace those blocked by sanctions have long since gone out of business, as the owners shifted their wealth to speculation, building and selling properties, foreign currency or raw materials.
Near the industrial city of Pakdasht, outside Tehran, rows of factory buildings stood idle in the burning summer sun, heavy locks on their metal gates. In the distance, columns of Turkish trucks thundered past, swirling up clouds of dust. There were no buses bringing in new shifts of workers, and instead of mechanical clatter filling the air, stray dogs barked in the distance.
In one of the few factories still operating, Manoucher, 60, an engineer turned industrialist, recalled that only a decade ago being a factory owner in Iran meant not only a secure income but also social admiration as a job creator and someone who was building Iran’s future.
“Nowadays, it means you are a loser,” he concluded. Men in blue overalls peeked nervously up toward the director’s window, perhaps fearing they could be next to be laid off. “I am responsible for these people,” said Manoucher, who did not want to disclose either his family name or what his factory makes, because he sells products to a government company.
Business was extremely bad, he said, mainly because the government company had not paid its bills for six months. “I blame myself for feeling that speculation was beneath me,” he said. “My family and all my business partners would be rich now had we invested in building, lands and foreign exchange.”
For Iran’s army of employees, even state jobs no longer hold security. On Thursday, an official within Iran’s elite Islamic Revolutionary Guards Corps admitted in an interview with the corps’ own publication, Sobh-e Sadegh, that the government had been late in paying soldiers their wages.
Government officials and lawmakers have been quick to blame the West for Iran’s troubles. Last week, the head of Parliament, Ali Larijani, accused the Ahmadinejad administration of failing to take measures to “counter the enemy’s hostile policies.”
Many economists, though, say that even without the sanctions, Iran would still have big problems: a legacy of inflationary oil spending and budget-busting state subsidies of food, gasoline and other basic items that encouraged overconsumption and the steady erosion of the country’s industrial base.
“Many fundaments of the economy of our country have been destroyed over the past years,” said Mr. Raghfar, the economist. “And now, slowly but surely, the chickens have come home to roost.”

A inacreditavel leviandade do Mercosul - Carlos Malamud

Sei que o título do autor é outro, mas me pareceu pouco forte nas circunstâncias atuais. O Mercosul está atualmente mais para Kafka do que para Kundera.
Paulo Roberto de Almeida 



A inevitável leveza do Mercosul

Carlos Malamud
InfoLatam-EFE, Madrid, 2 Julho 2012



Na última cúpula do Mercosul foram tomadas duas medidas consecutivas, quase simultâneas, relacionadas entre si. Para começar, os presidentes da Argentina, Brasil e Uruguai suspenderam a participação do Paraguai até a realização de eleições e a recuperação da “normalidade democrática”, alterada pelo impeachment de Fernando Lugo. Quase sem opção, os mesmos atores validaram a incorporação da Venezuela ao Mercosul.
A primeira coisa que podemos pensar após essas medidas é que FernándezMujica e Rousseff assinaram a carta de morte do mercado austral. No entanto, observando o processo de integração latino-americano, onde as numerosas instituições que vão surgindo nunca morrem de todo, o mais provável é que o Mercosul comece um longo período de hibernação e irrelevância.
O presidente do Conselho de Comércio Exterior brasileiro acha que os responsáveis diretos pelo fim do Mercosul são as autoridades argentinas. Apesar de ter sido a presidente Fernández, juntamente com seu ministro de Exteriores, os que dispararam o gatilho, valeria a pena não esquecer que Rousseff e Mujica validaram a ação. Por isso, cabe se perguntar o que o Brasil quer do Mercosul e qual é a sua utilidade futura, dado seu crescente peso internacional e sua aliança com os BRICS.
Posteriormente, a Unasul seguiu os passos do Mercosul e os países membros (Chile e Colômbia inclusive) decidiram suspender o Paraguai do bloco regional. Como ali reina o acordo político no lugar do comércio e dos interesses econômicos, os paraguaios não se deixaram afetar e disseram que cumprido o período de suspensão, o mais provável é que não se reincorporassem ao grupo.
Ocorrerá algo parecido com o Mercosul? A resposta dependerá basicamente do que acontecer nos próximos meses. Ao estar fora, ainda que seja temporariamente, o Paraguai se sentirá livre para negociar acordos bilaterais (de livre comércio, investimentos ou outros) com quem achar oportuno, começando pelos EUA e, inclusive, com a China, com quem ainda não tem relações. Também poderia ser possível uma negociação bilateral UE Paraguai, à margem do Mercosul, ainda que por enquanto isso seja pouco provável.
A China é um caso interessante e será um bom teste sobre o futuro do Mercosul. Durante a visita do premiê chinês Wen Jiabao à Argentina, foram anunciadas, em alto e bom som, negociações sobre um tratado de livre comércio (TLC) com o Mercosul. Isto ocorreu depois do impeachment de Lugo e do presidente Franco ser excluído da teleconferência na qual esse anúncio foi realizado. Para Pequim, sua ligação com Taiwan tem prioridade em relação a outros objetivos diplomáticos. Por isso, o reconhecimento do Paraguai, o único país da América do Sul que tem relações com Taiwan, poderia fazer valer a pena abandonar temporariamente as negociações impossíveis com o Mercosul.
Assim, o futuro do bloco regional será irrelevante por vários motivos. Primeiro porque atravessa uma situação de bloqueio muito séria, agravada pelo extremo protecionismo argentino. Em Mendoza, em território argentino, discutiu-se aumentar de 100 para 400 o número de produtos gravados com o imposto externo comum, o que foi recusado pelos brasileiros. Mas não só isso. As desavenças e o mal-estar entre Brasil e Argentina são crescentes, como mostrou a forte disputa entre as duas funcionárias dos ministérios de Comércio na cúpula de Mendoza.
A esta situação soma-se a incorporação da Venezuela ao grupo. Segundo o comunicado lido pelo ministroTimerman, esta decisão é irreversível. No entanto, muitos políticos e acadêmicos se perguntam sobre a legalidade da medida e o que poderia ocorrer depois da volta do Paraguai, no caso de que isto aconteça. De todas as maneiras e independentemente do futuro da Venezuela, por enquanto o que está garantida é uma maior politização do Mercosul e um menor peso em relação às questões comerciais e econômicas, que passarão a um segundo plano.
O rendimento da Venezuela como membro pleno do Mercosul também implicava a adequação da legislação venezuelana sobre comércio exterior aos regulamentos do mercado austral. Temo que pouco se tenha avançado em relação a este assunto, ainda que isto não represente um problema para ninguém. Como assinalou o presidente Chávez em uma breve intervenção telefônica, seu rendimento ao Mercosul é uma dura derrota para o império e para as burguesias servis. A grande dúvida que fica é se também é uma grande vitória para os povos que integram o Mercosul, que assim veriam suas condições de vida melhorar, ou se apenas será uma nova promessa, dessas às quais os que controlam a retórica bolivariana nos acostumaram.

A morte do Mercosul (tal como o conhecemos...) - Paulo Roberto de Almeida


A morte do Mercosul (tal como o conhecemos...)

Paulo Roberto de Almeida

O que acabam de decidir, politicamente, três membros do Mercosul, Argentina, Brasil e Uruguai, reunidos em Mendoza, no dia 29 de junho de 2012, representa, nada mais, nada menos, do que a morte do Mercosul, tal como o conhecemos. E o pior é que ele não vai dormir em paz; não haverá RIP em sua tumba.
Com efeito, a eloquente retórica bolivariana do novo membro acolhido, também politicamente, pelos três, a Venezuela, vai preencher os espaços vazios de comércio do Mercosul, agora convertido em mero ajuntamento de vontades políticas, sem qualquer respeito pela letra e pelo espírito dos tratados constitutivos. Por outro lado, o novo governo paraguaio não vai deixar de apontar as ilegalidades jurídicas e a total falta de legitimidade intrínseca das duas medidas tomadas pelos outros três membros: a “suspensão” do Paraguai até a realização de novas eleições no país e a incorporação “plena” da Venezuela ao esquema.
De fato, ambas são claramente ilegais e ilegítimas, à luz dos acordos existentes, tanto pela forma quanto pela sua substância. Que a Unasul tenha seguido os três membros do Mercosul, na decisão de também “suspender” o Paraguai de suas “atividades”, não tem nenhuma importância substantiva, uma vez que essa organização se destina mais a fazer reuniões políticas do que tratar de integração regional, tal como registrado nos manuais.
Assim, pouco depois de completar 22 anos de uma existência feita de altos e baixos, talvez mais destes do que daqueles, o Mercosul acaba de ser ferido de morte pela mais perfeita demonstração de leviandade política de que se tem notícia em toda a sua história, aliás não muito brilhante. Como na América Latina – e um pouco em todo o sistema do multilateralismo contemporâneo – organismos nunca são declarados extintos, mesmo ultrapassadas e tornadas irrelevantes suas funções precípuas, o mais provável é que o Mercosul tampouco deixe de existir formalmente; ele vai continuar arrastando-se penosamente pelo futuro indefinido, sem qualquer papel relevante no terreno econômico e comercial, mas continuará servindo de palco para a retórica política de seus dirigentes.
Convém não esquecer, tampouco, que na mesma reunião de Mendoza, os três sócios aprovaram significativa elevação das alíquotas tarifárias autorizadas para cada membro – ou seja, não se trata sequer de uma medida conjunta, do bloco – o que confirma que o Mercosul se compraz no mais tosco protecionismo de que se tem notícia desde a lei Smoot-Hawley de 1930 e o festival de barreiras comerciais elevadas pelos demais países em sua sequência. Ainda que o Mercosul não represente uma grande parcela do comércio internacional – lembremos que o Brasil, saudado como a “sexta potência econômica mundial”, não faz mais do que 1,2% dos intercâmbios globais – se trata, ainda assim, de uma péssima demonstração de protecionismo vulgar, que não contribui em nada para realçar o prestígio do Mercosul, na região ou no mundo.
O mais importante, porém, é que, já fragilizado pela tolerância demonstrada pelo Brasil em face das crescentes arbitrariedades comerciais argentinas, o Mercosul acaba de ser enterrado, inconscientemente, pelos três sócios originais do bloco. A “adesão plena” de um quinto membro, na ausência forçada – e ilegal – do quarto participante original, apenas reforça o ambiente de descalabro jurídico ao qual foi remetido o Mercosul. Pode-se perguntar se os consultores jurídicos dos países membros foram substituídos por militantes partidários na tomada de decisão de tão graves e tão prejudiciais medidas acolhidas politicamente pelos dirigentes do bloco. Temo que o Mercosul não venha a se recuperar deste golpe.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 2405, 2 julho 2012