quinta-feira, 11 de outubro de 2012

O caso Hobsbawm: a favor, atirando no mensageiro

Logo em seguida à morte do historiador Eric Hobsbwam, dezenas de obituários e de artigos elogiosos foram publicados na imprensa britânica e internacional. Ele possuía, obviamente, uma legião de admiradores, tanto mais fervorosos quanto sua identificação com as teses que ele defendia era, ou é, completa.
Eu mesmo escrevi o que penso a respeito dele, neste post: 

SEGUNDA-FEIRA, 8 DE OUTUBRO DE 2012


Depois, coloquei mais um artigo crítico, neste post: 

QUARTA-FEIRA, 10 DE OUTUBRO DE 2012


Já tinha lido o que escreveu o jornalista Eurípedes Alcântara a respeito dele, na Veja, condenando seu comunismo renitente, mas não sabia que esse artigo mereceria uma desaprovação em regra, mais exatamente uma condenação por completo por toda uma Associação de Historiadores, que na verdade deveria manter-se neutra nessas matérias de opinião. A Anpuh, aparentemente defende absolutamente um historiador como Hobsbawm e por aí se supõe que condenaria outros como Paul Johnson. Ou seja, ela não é uma associação neutra, e defende posições políticas bem identificadas. Creio que neste caso, em lugar de desmentir os argumentos do jornalista, a Anpuh me parece praticar a velha arte de atirar contra o mensageiro.
Limito-me a transcrever aqui a nota raivosa da Anpuh e, mais abaixo, uma nota ainda mais raivosa de um autor desconhecido.


RESPOSTA [da Anpuh] À REVISTA VEJA

09/10/2012
Na última segunda-feira, dia 1 de outubro, faleceu o historiador inglês Eric Hobsbawm. Intelectual marxista, foi responsável por vasta obra a respeito da formação do capitalismo, do nascimento da classe operária, das culturas do mundo contemporâneo, bem como das perspectivas para o pensamento de esquerda no século XXI. Hobsbawm, com uma obra dotada de rigor, criatividade e profundo conhecimento empírico dos temas que tratava, formou gerações de intelectuais. Ao lado de E. P. Thompson e Christopher Hill liderou a geração de historiadores marxistas ingleses que superaram o doutrinarismo e a ortodoxia dominantes quando do apogeu do stalinismo. Deu voz aos homens e mulheres que sequer sabiam escrever. Que sequer imaginavam que, em suas greves, motins ou mesmo festas que organizavam, estavam a fazer História. Entendeu assim, o cotidiano e as estratégias de vida daqueles milhares que viveram as agruras do desenvolvimento capitalista. Mas Hobsbawm não foi apenas um "acadêmico", no sentido de reduzir sua ação aos limites da sala de aula ou da pesquisa documental. Fiel à tradição do "intelectual" como divulgador de opiniões, desde Émile Zola, Hobsbawm defendeu teses, assinou manifestos e escolheu um lado. Empenhou-se desta forma por um mundo que considerava mais justo, mais democrático e mais humano. Claro está que, autor de obra tão diversa, nem sempre se concordará com suas afirmações, suas teses ou perspectivas de futuro. Esse é o desiderato de todo homem formulador de ideias. Como disse Hegel, a importância de um homem deve ser medida pela importância por ele adquirida no tempo em que viveu. E não há duvidas que, eivado de contradições, Hobsbawm é um dos homens mais importantes do século XX.
Eis que, no entanto, a Revista Veja reduz o historiador à condição de "idiota moral" (cf. o texto "A imperdoável cegueira ideológica da Hobsbawm", publicado em www.veja.abril.com.br). Trata-se de um julgamento barato e despropositado a respeito de um dos maiores intelectuais do século XX. Vejadesconsidera a contradição que é inerente aos homens. E se esquece do compromisso de Hobsbawm com a democracia, inclusive quando da queda dos regimes soviéticos, de sua preocupação com a paz e com o pluralismo. A Associação Nacional de História (ANPUH-Brasil) repudia veementemente o tratamento desrespeitoso, irresponsável e, sim, ideológico, deste cada vez mais desacreditado veículo de informação. O tratamento desrespeitoso é dado logo no início do texto "historiador esquerdista", dito de forma pejorativa e completamente destituído de conteúdo. E é assim em toda a "análise" acerca do falecido historiador. Nós, historiadores, sabemos que os homens são lembrados com suas contradições, seus erros e seus acertos. Seguramente Hobsbawm será, inclusive, criticado por muitos de nós. E defendido por outros tantos. E ainda existirão aqueles que o verão como exemplo de um tempo dotado de ambiguidades, de certezas e dúvidas que se entrelaçam. Como historiador e como cidadão do mundo. Talvez Veja, tão empobrecida em sua análise, imagine o mundo separado em coerências absolutas: o bem e o mal. E se assim for, poderá ser ela, Veja, lembrada como de fato é: medíocre, pequena e mal intencionada.
São Paulo, 05 de outubro de 2012
Diretoria da Associação Nacional de História
ANPUH-Brasil
Gestão 2011-2013
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Agora um artigo pavoroso colocado na Wikipedia
Eurípedes Alcântara é um jornalista brasileiro. Conhecido por ser o diretor editorial da Veja, revista semanal de maior cirulação no país onde trabalha desde [[1981]. Quando da morte do maior historiador do século XX, Eric Hobsbawm, escreveu o que podemos considerar como seu retorno mais escancarado ao protofascismo, presente na sua formação intelectual desde os tempos em que escamoteava as atrocidades da ditadura, durante a década de 1980 e 1990. Lamentavelmente, nesse artigo, faz uma análise superficial e apaixonada contra o historiador inglês e a favor da perspectiva histórica determinista e elitista daqueles que ele considera como historiadores de ponta, considerados assim apenas por aqueles que não compreendem as mudanças na produção histórica ocorrida no século XX, sob importante influência de duas escolas: a marxista e a Escola dos Annales]

Impostos sobre os bancos? Sobre os bancos? - Celso Ming

O texto me parece muito bom, mas o título está completamente errado. Alguém aí acredita que os bancos vão pagar imposto? Formalmente, pode até ser, mas ele será inteiramente repassado aos clientes, que costumam ser particulares, empresas e... governos. 
O imposto vai inteiramente na conta dos clientes, como deve ser, aliás, em qualquer atividade financeira. E Celso Ming acerta: depois de recusarem durante anos e anos o que seria o equivalente da Tobin Tax -- concebida no início da flutuação das moedas e cujos montantes seria dissuasórios da especulação cambial, sendo que os altermundialistas pensavam repassar toda a receita para países em desenvolvimento -- os países europeus só estão introduzindo essa taxação agora simplesmente por que necessitam de dinheiro. Eles não se dão conta de que se trata de uma grande ilusão, por vários motivos: os governos terão um pouco mais de dinheiro, para gastar inutilmente com despesas completamente equivocadas, o nível de encargos gerais na sociedade terá subido, os usuários terão mais imposto e menos dinheiro para consumir e investir, e haverá uma pequena pressão inflacionária.
Não se deve tampouco esquecer que os países que são importadores líquidos de capital, como o Brasil, pagarão mais caro pelos volumes contratados: não sei porque, nessas condições, o atual governo brasileiro está apoiando a medida. Seria mais um exercício de tiro ao alvo...no pé?
Pode ser: o governo é especialista na bizarra arte de atirar no próprio pé.
Vai lá saber! O mundo está cheio de malucos, a começar por esses governos europeus...
Paulo Roberto de Almeida

Imposto sobre os bancos



Celso Ming
O Estado de S.Paulo, 10 de outubro de 2012
Por iniciativa e insistência da França, 11 entre os 27 países da União Europeia aceitaram ontem a adoção do Imposto sobre Transações Financeiras Internacionais. Entre eles estão também Alemanha, Espanha e Itália.
A justificativa técnica número 1 é que os negócios dos bancos e fundos de hedge têm, afinal, de ser taxados e, por meio do tributo, mais bem controlados. A de número 2 é que esse imposto coibiria a especulação. Na medida em que encarecesse as operações financeiras, acabaria por inviabilizar o jogo especulativo. Mas a verdadeira razão por trás dessa proposta é a necessidade de reforçar a arrecadação de Estados, cujas finanças estão combalidas.
O primeiro a propor um imposto assim, em 1972, foi o Prêmio Nobel de Economia de 1981, James Tobin. Incidiria apenas sobre as operações de câmbio, algo que seria contraproducente na União Europeia por serem poucas as moedas do bloco. A ideia central de Tobin foi encontrar um meio de reduzir a volatilidade do mercado de modo a que um custo mais alto das transações afastasse os especuladores. O resultado da arrecadação seria canalizado para ajudar o desenvolvimento dos países pobres - e não para reforçar as receitas dos governos.
Esse imposto se tornou uma das mais importantes propostas programáticas da Internacional Socialista. É o que em parte explica o empenho da França, agora dirigida pelo socialista François Hollande, em lutar pela sua instituição.
O grande problema técnico desse tributo é que precisa ser global para evitar que os capitais escorram para centros financeiros livres dessa taxa, como Nova York, Londres, Hong Kong, Cingapura e os paraísos fiscais.
O governo dos Estados Unidos vem sistematicamente rejeitando esse imposto. Mas a União Europeia parece propensa a instituí-lo assim mesmo. A reunião de ministros de Finanças da União Europeia, agendada para 12 de novembro, deverá discutir os próximos passos para a implantação da novidade.
Outro grande obstáculo são as suas proporções. Não pode ser nem tão alto a ponto de afugentar os aplicadores nem tão baixo a ponto de não coibir a especulação. Além disso, uma alíquota baixa demais poderia proporcionar uma arrecadação insignificante para o reforço dos Tesouros nacionais.
A proposta em discussão na União Europeia é cobrar uma alíquota de 0,1% sobre os negócios com ações e títulos e de 0,01% nas operações de derivativos. Se todo o bloco adotasse esse imposto, a arrecadação inicial prevista seria de 55 bilhões de euros por ano, pouco expressiva para uma dívida total de 8,3 trilhões de euros, apenas na área do euro. Parece óbvio que, uma vez em vigor o imposto, o passo seguinte será aumentar a alíquota.
O ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, opõe séria resistência a essa taxação. Teme o esvaziamento do centro financeiro de Londres, a velha City. Adverte que a conveniência desse imposto não pode ser medida apenas pelo seu potencial arrecadador. É preciso avaliar também, diz ele, as perdas de renda que causará pelo desvio de negócios para outros centros. Pelos cálculo s dele essas perdas poderão alcançar cerca de 3,5% do PIB - relata o diário espanhol El País

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Think Again: BRICS - Antoine van Agtmael (Foreign Policy)


Think Again: The BRICS

Together, their GDP now nearly equals the United States. But are they really the future of the global economy?

BY ANTOINE VAN AGTMAEL | Foreign Policy, NOVEMBER 2012

"The BRICS Are in a Class by Themselves."
Yes and no. There is no question that the BRICS -- Brazil, Russia, India, China, and the group's newest member, South Africa -- are big. They matter. In terms of population, landmass, and economic size, their pure dimensions are impressive and clearly stand out from those of other countries. Together, they make up 40 percent of the world's population, 25 percent of the world's landmass, and about 20 percent of global GDP. They already control some 43 percent of global foreign exchange reserves, and their share keeps rising.
Jim O'Neill of Goldman Sachs put the spotlight on the rise of the original four of these big new economic powers when he gave them the name BRICs in 2001, and their collective growth began to soar. But in reality their economic success had been a long time coming. Twenty years before that, when I was at the World Bank's International Finance Corp. (IFC), we were identifying the opportunity to rebrand these countries, which, despite their enormous economic potential, were still lumped together with the world's perennial basket cases as "underdeveloped countries" stuck in the "Third World." At the time, Third World stock markets were simply off the radar screen of most international investors, even though they were starting to grow; I gave them the name "emerging markets." Local investors were already quite active in Malaysia, Thailand, South Korea, Taiwan, Mexico, and elsewhere, as homegrown companies became larger and more export-competitive while market regulation became more sophisticated. But until the IFC built its Emerging Markets Database and index in 1981, there was no way to measure stock performance for a representative group of these markets, a disabling disadvantage when stacked against other international indices, which were skewed in favor of developed countries such as Germany, Japan, and Australia. This brand-new research on markets and companies provided investors with the confidence to launch diversified emerging-market funds following the success of individual country funds in markets such as Mexico and South Korea.
The BRICs, however, took much longer to get ready for prime time. Until the beginning of the 1990s, Russia was still behind the Iron Curtain, China was recovering from the Cultural Revolution and the Tiananmen Square unrest, India remained a bureaucratic nightmare, and Brazil experienced bouts of hyperinflation combined with a decade of lost growth. These countries had largely muddled along outside the global market economy; their economic policies had often been nothing short of disastrous; and their stock markets were nonexistent, bureaucratic, or supervolatile. Each needed to experience deep, life-threatening crises that would catapult them onto a different road of development. Once they did, they tapped into their vast economic potential. Their total GDP of close to $14 trillion now nearly equals that of the United States and is even bigger on a purchasing power parity basis.
Here's the problem, however, with asking whether the BRICS "matter": Big is not the same as cohesive. The BRICS are part of the G-20, but not a true power bloc or economic unit within or outside it. None is fully accepted as "the" leader even within its own region. China's rise is resented in Japan and distrusted throughout Southeast Asia. India and China watch each other jealously. Brazil is a major supplier of commodities to China and has relied on it for its economic success, but the two powers compete for resources in Africa. Russia and China may have found common cause on Syria, but they compete elsewhere. And though intra-BRIC commerce is growing rapidly, the countries have not yet signed a single free trade agreement with each other. Then there's South Africa, which formally joined this loose political grouping in 2010. But being a member of the BRICS doesn't make it an equal: South Africa doesn't have the population, the growth, or the long-term economic potential of the other four. Indonesia, Mexico, and Turkey would have been other logical contenders -- or South Korea and Taiwan, for that matter, which have comparable GDPs but much smaller populations than the original BRICs.
The BRICS are also nowhere near economically cohesive. Russia and Brazil are way ahead in per capita income, beating China and India by a huge amount -- nearly $13,000 compared with China's $5,414 and India's $1,389, according to 2011 IMF data. And their growth trajectories have been very different. What's more, the BRICS face stiff competition from other emerging powerhouses in the developing world. While China and India seemed to have a competitive edge for a while due to their low labor costs, countries like Mexico and Thailand are now back on the competitive map. And while growth in the BRICS seems to be slowing, many African countries are receiving more foreign investment, may be more politically stable, and are at long last moving away from slow or no growth toward much more robust economies.
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"The Continued Rise of the BRICS Is Inevitable."
True, but their growth is slowing. Forecasts by Goldman Sachs and others project China will overtake the United States in GDP before 2030. China, meanwhile, dwarfs the other BRICS, whose combined economic size isn't expected to catch up to China during that period. The BRICS will approach the total size of the seven largest developed economies by 2030, and by the middle of this century they are projected to be nearly double the size of the G-7.
BRICS consumers are also beginning to rival their American counterparts in terms of total purchasing power. More cars, cell phones, televisions, refrigerators, and cognac are now sold in China alone than in the United States. Even with slower growth, the economic engine of the BRICS should be more important than that of the United States or the European Union for most of the 21st century.
Then again, there's no guarantee that the BRICS can maintain their torrid growth rates. Just as their expanding economies took the world by surprise over the past decade, the big shock for the next decade may be that they will grow less quickly than assumed. Japan, South Korea, and Taiwan have already shown that growth rates slow down once a basic level of industrialization has been reached. The unquenchable thirst for "goods" tends to moderate when basic infrastructure is in place and consumers want more health care, education, and free time.
To some extent, this is already occurring. Leading Chinese economists now expect China's annual growth to slow down from rates of 10 to 12 percent to 6 to 8 percent by the end of this decade. Dreams of India reaching sustainable annual growth of 8 percent or more have been lowered to 5 to 6 percent after the country hit an inflation barrier and offshore gas production disappointed. Brazil has also struggled to return to its exuberant pre-crisis growth, while Russia has been staggered by Europe's economic problems. The projections by Goldman Sachs and others always expected slower growth for the future, but some enthusiasts did not read the footnotes.
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"The Financial Crisis Was Good for the BRICS."
Not for long. The 2008 financial crisis did not emanate from emerging markets. Instead, the BRICS came to the rescue when the United States, Europe, and Japan collapsed due to their overspending, fiscal imprudence, and overreliance on just-in-time production that made them too dependent on a consumer economy that quickly blew up. After the BRICS suffered brief, V-shaped recessions of their own, as swift in their decline as they were in their recovery, the BRICS' demand helped pull the global economy out of its initial slump.
It certainly wasn't clear initially that this was how the crisis would play out. The Financial Timeswarned (and many investors feared) that the banking systems of emerging markets would succumb to the same massive financial problems that plagued the United States and Europe, but Asia and Latin America had learned their lessons from earlier financial crises and put their houses in order. The Chinese had ample reserves for a fiscal stimulus that was not only massive, but, unlike its U.S. counterpart, also disbursed funds quickly. The BRICS' central banks, along with those in other emerging markets, cooperated on global monetary easing. Without it (and without China's quickly disbursed stimulus at home), Western stimulus and easing would have been inadequate and ineffective. With it, demand for commodities stabilized and the world avoided a depression.
These crisis interventions came at a significant cost, however, the full price of which is not yet clear even today. The real estate bubble, which played such a big part in the United States and Southern Europe, didn't burst in the BRICS. Inflation also increased well beyond the comfort zone of central banks in China, India, and Brazil. Although all this did not provoke another crisis, it might have planted the seeds for future problems. Economic history teaches us that the next crisis usually comes from the region where the applause and self-satisfaction were loudest the previous time around. If that holds true, the next economic shock will more likely than not come from the BRICS.
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"The BRICS Are Unbeatable Competitors."
No. The BRICS benefited for several decades from cheap labor, higher productivity, massive (but far from universal) investment in infrastructure and education, and a hunger to catch up with wealthier rivals. Their transformation was remarkable: With better-off populations, domestic markets finally became economically attractive, South-South trade exploded, and leading corporations transformed themselves from second-rate producers of cheap goods into world-class manufacturers of smartphones, semiconductors, software, and planes. China's Lenovo took over IBM's PC business. Brazilian and South African beer companies became leading global brewers. Just as had been the case with the Russians after Sputnik and the Japanese in the 1980s, the BRICS became feared and formidable competitors, even if some of the fears about their rise were exaggerated.
But the story is not over. Cheap, abundant energy from shale gas is attracting new investment in the United States, giving energy-intensive industries a renewed competitive edge. Abundant shale gas could also make Russian Arctic drilling and Brazilian pre-salt production too expensive. Stagnant U.S. wages and soaring pay in China and India are eroding the BRICS' labor-cost advantage, while their seemingly bottomless labor pool has suddenly started emptying out, leaving them with shortages of trained labor.
Mechanization is also allowing the developed world to make a comeback. Increasingly affordable and sophisticated robots can now do what 10 or more human workers did until recently. They work 24 hours a day and do not ask for higher wages or better benefits. Smartphones and tablets may still be made in Asia, but the BRICS lag behind in taking advantage of the productivity gains they bring. As a result, traditional multinationals are fighting back after years of retreat, from General Motors winning the biggest market share in China to General Electric's foray into producing low-cost medical equipment to Nestlé's invention of the wildly successful Nespresso machines, turning high-end coffee from a store-bought luxury into an at-home convenience. The competitive edge may be turning back to the West much faster than we thought.
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"The BRICS Are the Best Place to Invest."
No longer true. Until 2008, the BRICS performed far better than other emerging equity markets -- or developed markets, for that matter. And by a lot: For the five years ending in 2007, investors in the four original BRICs earned an annualized 52 percent return, compared with just 16 percent in the G-7 markets. But in the past five years, through Aug. 31, that figure was -3 percent for the BRICs and -1 percent for the G-7. This was in part a correction to exaggerated expectations, which drove up valuations and currencies to unsustainable levels. It also seems, however, that the BRICS' competitive edge is now being questioned in more fundamental terms. Of course, it makes perfect sense for investors to diversify and not ignore such a huge, successful part of the global economy, but that is different from blind euphoria.
Each of the BRICS is very different, and so are the question marks that accompany their economies. For example, China's wage costs had been so much lower than Mexico's for several decades that Mexico had difficulty competing, despite its closeness to the U.S. market. But that wage gap has closed in recent years -- Chinese labor rates have grown from 33 percent of Mexico's in 1996 to 85 percent in 2010 -- and now investment is flowing back to Mexico. Even when Indian growth rates went through the roof, bureaucracy, budget deficits, and infrastructure bottlenecks remained serious impediments. Brazil successfully turned around its floundering economy in the 1980s and then benefited from three windfalls: China's thirst for commodities, energy discoveries, and a competitive edge as an agribusiness giant. Now, however, China's slowing economy and the world's shift toward ubiquitous shale gas is changing the picture. Or consider Russia, which, to its peril, has squandered its oil-and-gas weapon by pooh-poohing the potential of shale gas, opening up export opportunities for the United States in Europe.
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"The BRICS Will Surpass the West."
Not so fast. Yes, the BRICS will remain the main source of growth in tomorrow's world, as they already are today. Together they will dominate the global economy later this century the way Europe and the United States once did.
Just as the pendulum swung far toward the BRICS but then swung back hard in recent years, there are signs of new forms of BRICS competitiveness. Research and development in the BRICS is paving the way for increasingly high-value-added production. Ninety-one percent of U.S. plants are more than a decade old, versus only 43 percent of China's plants, according to a 2007 IndustryWeek survey. While 54 percent of Chinese companies cited innovation as one of their top objectives in the survey, only 27 percent of U.S. respondents did. Chinese telecom equipment-makers are giving more traditional players a run for their money, Indian-made generic drugs are making inroads, Brazilian protein producers dominate world markets, and Russian oligarchs are making smart investments abroad. The BRICS are going through a rough patch right now, yet they're poised for a roaring comeback.
But though the era of American or Western domination may be over, BRICS domination is still some time off. What is already a fact is that the clear delineation between developed and "backward" countries is a thing of the past. Western multinational companies are seeking to expand in the BRICS as growth in their home markets has dried up. Chinese and Indian corporations are building their brands in other emerging markets and the West. More than ever, developed countries' economic fates are tied to those of emerging markets.
Intellectual property remains a strong suit of advanced economies. The United States, Japan, and Germany -- just three advanced economies -- accounted for 58 percent of patent filings in 2011, according to the World Intellectual Property Organization. But even here the BRICS are catching up: China's applications soared 33 percent in 2011, Russia's filings were up 21 percent, Brazil's 17 percent, and India's 11 percent. Compare that with 8 percent growth for the United States and 6 percent for Germany. Chinese telecommunications equipment giant ZTE Corp. dislodged Japan's Panasonic from the global top spot with 2,826 patent applications. China's Huawei Technologies was in third place, while a previous American leader, Qualcomm, dropped from third to sixth place in 2011. Why does it matter? Because patents are a key indicator of future economic strength.
TEH ENG KOON/AFP/Getty Images
"Politics Could Be the BRICS' Undoing."
True, and you disregard them at your peril. The spread of democracy and free markets in much of Asia, Latin America, and Eastern Europe is impressive, but some BRICS have been laggards rather than leaders in this area. Legitimacy in these countries often depends on meeting sky-high expectations for economic success, while political checks and balances remain in their infancy. So forget about all those paeans to "authoritarian capitalism" you read in the op-ed pages. Just because Beijing has a fancy new airport and President Vladimir Putin can bulldoze entire neighborhoods at will doesn't mean China's and Russia's politics give them an edge. Even in democratic India, politics are often overwhelmed by corruption, and politically open Brazil struggles with crippling crime stats and political scandals.
The BRICS may seem stable now, but nobody knows what the future holds. Admiration for oligarchs easily turns into envy and anger. Ubiquitous mobile-phone cameras and instant Internet distribution constrain the use of public force. Under the surface and among the younger generation, pride in economic achievements and a sense of material well-being are now coupled with demands for better health care and national recognition. Increasingly, more is not the answer -- citizens of the BRICS want better. Local elites must act adroitly to keep this new mood from developing into a combustible mix. The current generation of leaders in China has not forgotten the lessons of the Cultural Revolution -- but the next generations may.
Some tailwinds that have benefited the BRICS these past decades may yet turn into headwinds. For instance, these countries have benefited from relatively low budget allocations to military spending -- a fruit of Pax Americana. That could change if conflict broke out on the Indian subcontinent or Iran acquired nuclear weapons. And serious political unrest could easily derail the rise of the BRICS: The Bo Xilai case in China, the upheavals following the Arab Spring, and the power blackout in India were recent red flags that showed the dramatic impact of sudden events.
Still, the BRICS are not going anywhere. Sure, they may face tough adjustments getting used to less lofty growth expectations while satisfying more demanding populations. But one way or another it's safe to say: These big emerging economies will put their stamp on the 21st century.
SAJJAD HUSSAIN/AFP/Getty Images
 
Antoine van Agtmael, a founder and former chairman of AshmoreEMM, is author of The Emerging Markets Century.

Tudo por Sao Paulo: nao, nao e' 1932...

Longe de ser um encontro a favor de São Paulo, pode ser algo muito nebuloso. Essa promiscuidade entre agenda pública, agenda partidária, interesses sectários era tudo o que tivemos no Mensalão...
Enfim, agora basta convocar quem manda e dar as ordens...
Paulo Roberto de Almeida 


Lula e Dilma têm 4 horas de reunião fechada em SP
José Maria Tomazela
O Estado de S.Paulo, 10/10/2012

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff fizeram o possível para evitar a imprensa durante o encontro de quatro horas que mantiveram nesta quarta, em São Paulo, para discutir a o segundo turno das eleições. 
O tema do encontro não foi divulgado nem pelo setor de comunicação da Presidência, nem pela assessoria de imprensa de Lula, mas o presidente nacional do PT, Rui Falcão, foi visto deixando o local - o gabinete da Presidência da República na capital. O PT de Dilma e Lula negocia apoios a Fernando Haddad no segundo turno em São Paulo contra o tucano José Serra, mas a questão paulista passa por cenários eleitorais em outros Estados.
A presidente viajou em dia útil para uma agenda privada, segundo sua assessoria. Foi confirmada, na reunião com Lula, a participação dos ministros Aloizio Mercadante, da Educação; Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, além do assessor especial Marco Aurélio Garcia. 
Dilma entrou no prédio às 14 horas e só deixou o local alguns minutos antes das 16 horas, sem falar com a imprensa. O carro que levava a presidente ganhou escolta de seis batedores da Polícia Militar estadual e de uma viatura da Rota, a força especial da PM paulista.
Lula saiu do prédio em seguida e também não atendeu os jornalistas. Ele havia chegado para o encontro uma hora antes da presidente. 
O almoço foi servido no gabinete. Lula havia mantido reuniões com a equipe de Haddad antes do encontro com Dilma, no Instituto Lula. O presidente retornou ao seu posto de trabalho depois da reunião. 
Além da agenda eleitoral, o ex-presidente prepara sua viagem à Argentina, no próximo dia 17. Em Buenos Aires, ele almoça com a presidente Cristina Kirchner na Casa Rosada e, à noite, dá palestra sobre o papel da iniciativa privada no desenvolvimento econômico, em Mar del Plata.

A arte de melhorar a escrita (se isso e' possivel, depois de certa idade)...

Um leitor frequente deste blog estava buscando umas recomendações minhas sobre a arte da escrita (como seu eu fosse modelo: posso ter ter escrita, mas certamente nenhuma arte) e não sabia onde encontrar. Enfim, acabou achando num texto do meu site em que eu fazia recomendações para os aluninhos desesperados com monografia de final de curso e um outro dirigido aos mestrandos alucinados com a preparação da dissertação.
Mas, no meio, acabou achando esta postagem, da qual eu mesmo já tinha esquecido.
Quem sabe eu ainda aprendo a escrever?
Um dia, talvez...
Paulo Roberto de Almeida 


Como escrever bem (e existem regras para isso) - Paulo Roberto de Almeida

Meus vícios de escrita (e algumas regras para melhorar...)
Paulo Roberto de Almeida

Eu escrevo mal, eu sei. Não tanto coisas absolutamente erradas, ou estúpidas (embora sempre se encontre quem ache isso), mas basicamente construções difíceis, frases muito longas, palavras inventadas (do que não me desculpo, aliás), rebuscamento e prolixidade na expressão de um pensamento (se é que tenho algum), enfim, diversos vícios de linguagem, ou seja, de expressão oral e de escrita, que foram se acumulando ao longo do tempo, e dos quais só posso me desculpar junto a meus (poucos) leitores com promessas (vãs?) de que vou me esforçar para escrever melhor da próxima vez.
A que posso atribuir essas deficiências na expressão escrita (já que falo muito pouco, fora das aulas que ministro regularmente)? Erros de origem, provavelmente, agravados pelo desleixo em corrigi-los, por certo descuido com os aspectos formais da escrita. Mas não é apenas pelo seu estilo capenga e descuidado que meus textos são ruins; é também pelo desenvolvimento deficiente dos argumentos, se ouso agora incriminar também a substância de meus trabalhos.
Como sempre estamos procurando bodes expiatórios para nossas deficiências, aqui vão os meus. Minha primeira infância transcorreu num lar quase sem livros, carente de revistas e jornais, na total ausência de volumes enfileirados em alguma estante ou num canto qualquer da casa. Meus pais nunca terminaram o primário: tiveram de trabalhar desde muito cedo, e por isso não se poderia esperar que, na idade adulta, se convertessem, não em intelectuais, mas em pessoas motivadas pela leitura. O meio de informação habitual era o rádio (a TV só apareceu muito mais tarde), ou o que vinha na ruas e nas conversas com vizinhos e conhecidos de trabalho. Só aprendi a ler, como já disse, na “tardia” idade de sete anos, como era o hábito no primário de antigamente. Desde então, tentei me corrigir, lendo tudo o que estivesse a meu alcance, mas talvez eu me tenha motivado mais pelas ideias, em si, do que por sua expressão formal. Enfim, seja como for, nunca deixei de ler, o que pode ser uma base excelente para a melhoria do estilo e da correção formal e substantiva dos meus textos, mas parece que nunca aproveitei a oportunidade (talvez porque eu tenha me concentrado mais em livros de estudo, com o seu jargão prolixo e especializado, em lugar da boa literatura).
Depois, como me politizei muito cedo, sem nenhum desdouro por quem faz isso também, isso me levou a ler uma faixa determinada da produção nas humanidades: história, política, marxismo, economia e coisas em torno desse universo restrito. Convivi, portanto, com os “escritores” desse ambiente cheio de slogans (ou conceitos) politicamente marcados e por vezes até maniqueístas. Como eu me dirigi também muito cedo para a chamada “escola paulista de sociologia”, adquiri o terrível (temível?) jargão desse pessoal, em especial do mestre Florestan Fernandes, prolixo como poucos, com longas frases cheias de apostos e complementos. Enfim, eu me contaminei com esse tipo de escrita, que “deformou” (não hesito em dizer) completamente meu modo de expressão.
Devo dizer, também, que durante toda a minha educação formal – que eu reduzo apenas ao primário e ao ginasial, ou seja, dos sete aos quinze anos – eu nunca gostei de gramática, ou de Português em geral (como também tropecei muito cedo na matemática). Eu gostava de ler, mas não tinha nenhuma paciência pelas regras gramaticais, pelas normas de linguagem que era preciso decorar, pelo respeito a certas concordâncias ou construções estilisticamente corretas. Para mim, o mais importante era absorver as ideias e retransmiti-las de alguma forma, sem maiores cuidados quanto à forma. Devo ter passado impune por algumas reformas ortográficas e como eu gostava de ler livros antigos, também devo ter confundido formas de escrita e normas cambiantes. Para agravar o meu caso, saí do Brasil com 20 anos e passei quase sete anos completos no exterior, estudando exclusivamente em francês, falando espanhol (ou ensaiando outras línguas), com pouco contato formal com o Português (a não ser pela leitura dos mesmos livros no meu mundinho das ciências sociais e do marxismo).
Pronto, estão aí meus bodes expiatórios, os que explicam, pelo menos parcialmente, algumas das razões de minha horrível expressão escrita (claro, boa em comparação com a miséria educacional dos nossos tempos, mas sempre deficiente com respeito às normas cultas e elegantes da linguagem). Que posso fazer, então? Talvez ler mais literatura de boa qualidade, dedicar mais tempo à revisão dos meus textos, tentar expressar minhas ideias de forma mais clara, usar frases mais curtas, concentrar-me no essencial e deixar o acessório de lado (nessa tentativa ilusória de abarcar um problema por todos os seus lados e aspectos), enfim, tentar melhorar aquilo que é primordial nesse tipo de ofício que é o meu: ser atraente, interessante, conciso (já que ninguém tem mais tempo, hoje em dia, para ler textos longos). Pensando em tudo isso, vou tentar melhorar meu desempenho na expressão escrita recorrendo a algumas regras muito simples, cuja inspiração me veio da leitura de um texto na revista Piauí, “Manual de estilo para cientistas”, de Bernardo Esteves (Questões de Ciência, 11/05/2011; link: http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/manual-de-estilo-para-cientistas), mas que remete a um artigo do respeitado biólogo Kaj Sand-Jensen, (http://www.fbl.ku.dk/ksandjensen/presentation.html) da Universidade de Copenhague, autor de um clássico instantâneo da estilística científica: “Como escrever literatura científica consistentemente chata”, publicado em 2007 na revista Oikos (“How to write consistently boring scientific literature”, Volume 116, Issue 5, pages 723–727, May 2007, link:http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.0030-1299.2007.15674.x/full).
Eu recomendaria uma leitura do seu original, mas vou aqui me contentar em retomar suas recomendações ao contrário, ou seja, invertendo o sentido original de suas recomendações – irônicas, por certo – para tentar apresentar algumas ideias positivas, quem sabe até úteis?, aos candidatos a uma boa escrita, a começar por mim mesmo. Portanto, ainda que eu me disponha a pagar copyright – ou talvez, mais apropriadamente, moral rights – ao cientista dinamarquês, eu tenciono converter suas regras da escrita chata em advertências ao projeto de escritor que pretende ser interessante (e lido).
Vejamos o que pode resultar.

1. Concentre-se no foco do problema
Vá direto ao assunto desde a primeira frase, eventualmente precedida de algum exemplo histórico (como é meu hábito) e literário que pretende realçar o problema a ser tratado. Diga logo de cara algo assim: “Este texto pretende abordar este problema e visa demonstrar esta coisa; meu método, ou meus procedimentos serão os seguintes: blá, blá curto”. Desenvolva a seguir seu argumento principal, mantendo o foco na questão que você de propôs tratar, fazendo eventualmente alguma alusão a questões paralelas que possam ter relevância para o problema central. Tire suas conclusões, dizendo claramente que é aquilo que você descobriu e faça algumas considerações finais sobre a importância desse tratamento para o estado da arte naquele campo (e sua contribuição para ele). Estaria bem assim, ou estou sendo muito elementar? Acho melhor ser simples e direto.

2. Tente ser original e demonstrar sua contribuição para o avanço da “arte”
Pessoas sem ideias se contentam em resumir contribuições alheias, no que não vai nenhuma grande tragédia. Se este for o caso, diga claramente: Fulano disse isto, Sicrano disse aquilo, e eu resumo o que disse Beltrano a respeito ou sobre os dois; mas tente, se possível, expressar uma opinião própria sobre a questão, ainda que seja a de dizer que você pretende apenas oferecer uma síntese que resumo o estado da arte dos outros. Se não tiver nenhuma ideia interessante ou inteligente para expressar sobre a questão, tente, pelo menos, formular algumas perguntas para pesquisa ulterior, mais ou menos neste sentido: seria útil pesquisar tal questão em sua aplicação ao caso brasileiro, ou então dizer que dados concretos sobre tais e tais manifestações do problema precisariam ser pesquisados com vistas a refletir sobre aqueles ensinamentos nesta ou naquela situação nova. Gostou?

3. Escreva contribuições concisas e objetivas, com frases legíveis e compreensivas
Tente seguir o estilo americano: frases curtas, muitos pontos, perguntas claras, afirmações diretas, sem rebuscamentos de linguagem, com eliminação de tudo que não seja absolutamente necessário para a compreensão do “seu” problema. Mesmo que tenha vontade de escrever um tratado erudito sobre o assunto, comece por expor o conjunto de forma breve, se possível com outlines prévios, enxugando tudo o que for secundário. Depois que terminar seu “mini-artigo”, você poderá se lançar na obra prima da sua carreira acadêmica, em algo que fique nos anos como o magnum opus daquela área; mas comece modestamente por favor, pois o efeito pode ser maior. Não é para ser curto e grosso, apenas conciso e objetivo. Pode até ter frases de efeito, mas apropriadas ao caso.

4. Explore implicações do seu problema e especule inteligentemente a respeito
Todo e qualquer problema humano está sempre relacionado a muitos outros, para frente, para trás, para os lados, em direção ao futuro, vindo de um passado mais ou menos próximo ou distante. Ou seja, você não está sozinho, e sua questão genial apresenta efeitos em cadeia ou impactos em outras áreas; portanto, explora essas possíveis interações e interdependências, visualize consequências desse problema para outras áreas, e até se permita digressões sobre os resultados de uma determinada ação naquele terreno (pode até ser a famosa lei das consequências involuntárias, mas sempre existo algo mais).

5. Mostre exemplos, casos análogos, dados concretos sobre o “seu” problema
Nada melhor para ilustrar uma digressão científica especialmente chata – e existem alguns filósofos franceses e sábios alemães que se especializam na chatice – do que mostrar exemplos concretos, casos reais, ações efetivamente perpetradas pelos agentes envolvidos no seu caso. Ser abstrato é vedado aos comuns dos mortais, e apenas autorizado a membros da academia e outras vacas sagradas. Como você tem de convencer pares, professores, curiosos em geral, que todos, em geral, sabem menos do que você naquela área específica (a menos que você esteja enganando todo mundo), você precisa ser o mais convincente possível. Nada melhor, portanto, do que trazer exemplos à colação (é assim que se diz nas teses jurídicas especialmente chatas?) para tornar sua demonstração perfeitamente clara e empiricamente verificável.

6. Exponha claramente o itinerário metodológico e demonstrativo do seu trabalho
Todo trabalho acadêmico apresenta uma estrutura muito simples, até repetitiva: geralmente ele tem uma pequena introdução, na qual se expõe o objeto a ser tratado, seguida da metodologia, ou das técnicas a serem seguidas no tratamento do problema; o argumento principal vai ser desenvolvimento no núcleo central do trabalho, em quantas partes forem necessárias para demonstrar, discutir, esquartejar um assunto determinado; finalmente se chegam às conclusões a serem tiradas do tratamento precedente; o resto é complemento (notas, bibliografia, anexos, etc.). O importante é que seu raciocínio seja muito claro quanto a essas diferentes etapas do trabalho de construção de uma explicação para o problema selecionado. Por isso, uma regra elementar deve ser seguida: antes de começar a escrever, pare e pense no seu problema. Quem não tem ideias claras, não pode, ou não consegue se expressar claramente, ou seguir um itinerário linearmente rigoroso de pensamento. Quando seu trabalho estiver suficientemente pensado, voilàzut!, ele já está pronto: só falta escrever, mas isso é o de menos quando se sabe onde se quer chegar...

7. Seja claro nas expressões, use uma linguagem a menos sofisticada possível
Não existe nada entre o céu e a terra, neste vasto universo que ainda não é o nosso, que não possa ser explicado em termos simples, inteligíveis, compreensíveis a um leigo no assunto. Pense que você vai ter de explicar aquele problema para uma criança de dez anos, ou um adolescente de quinze, que seja (no limite para a sua mãe, que não é do ramo, digamos assim). Portanto, escolha expressões comuns, e se tiver de empregar termos técnicos, ofereça uma explicação mais palatável se eles forem suficientemente obscuros, talvez entre parênteses. Coloque de lado aqueles filósofos franceses que se especializaram em enganar os trouxas com frases incompreensíveis (e elas são mesmo). Essa coisa de jargão sofisticado geralmente é para iludir os incautos, portanto não abuse de sua permissão para falar difícil. Claro, não precisa descer ao nível rasteiro de certo personagem que se vangloriava de nunca ter tido diplomas na vida, e que falava deliberadamente errado para encantar o povão; mas não tente fazer de seu trabalho um exemplo do barroco linguístico.

8. Evite adjetivos, exploração de emoções, subjetivismos dramáticos
A vida e o mundo já são suficientemente complicados como eles são, mas um trabalho acadêmico não é uma novela mexicana, nem um dramalhão daqueles antigos. Adjetivos de qualidade – estupendo, magnífico, único, etc. – devem ser evitados absolutamente (e lá vou eu com um...). De forma geral, adjetivos e qualificativos devem ser banidos do trabalho, embora ele possa ter evidências quanto ao impacto significativo de certos fenômenos sobre a ação humana. Mas como diria um personagem famoso, todos os seus gestos devem ser friamente calculados, ou seja: evite grandes explosões terminológicas, quando você pode expressar a mesma ideia em tom mais comedido e, sobretudo, mais objetivo e contido. Eu, por exemplo, costumo chamar muita gente de idiota – e existem, efetivamente, muitos idiotas no mundo – mas o que é aceitável num post rápido em blog de divertimento não cabe num paper supostamente sério. Em outros termos, não deixe transparecer sua emoção no tratamento de uma questão, ainda que ela o coloque em sérios dilemas morais e em angústias existenciais. Fique frio...

9. Tente quantificar fenômenos, use números, mas não abuse da estatística
Tudo, com a provável exceção do amor (e talvez do ódio), pode ser quantificado, medido, colocado em gráficos e comparado a outras situações (anteriores, de outros agentes em outros lugares). Os economistas são pródigos em usar e abusar de estatísticas e os economistas teóricos gostam de encontrar uma equação que traduza a realidade dos indicadores a uma fórmula de sua modelagem que sirva para prever ou antecipar processos similares, podendo, portanto, ser objeto de políticas públicas, na área macroeconômica ou setorial. Se pudessem, eles resumiriam toda a complexidade do mundo numa fórmula mágica, do tipo: E = mc2. Nos assuntos humanos – e isso inclui a economia também – fórmulas e números são úteis, mas apresentam limites efetivos para sua utilização contínua, pela simples razão que os homens estão sempre ajustando sua conduta para obter a maximização de seus fatores e ativos em face dos constrangimentos do real – que são as ações dos governos (geralmente em seu detrimento, caro leitor) e as de outros agentes da sociedade. Por isso, faça recurso dos indicadores quantitativos e tente medir, ou mensurar, os problemas que são objeto de sua análise, mas não confie demais nos procedimentos estatísticos como indicativos de tendências futuras. Nada é imóvel neste nosso mundinho tumultuado...

10. Demonstre conhecimento das fontes, mas não abuse das referências
Eu já li muita monografia de aluno que, mesmo para fatos históricos indiscutíveis – uma guerra, uma revolução, enfim, coisas objetivas –, se esmeram em juntar uma pletora de citações e de referências bibliográficas para dizer, finalmente, o óbvio: “nossa civilização tem bases greco-romanas” (bem, não precisa citar nenhum grande historiador para saber disso, pois não?). Não é preciso carregar um paper, um trabalho mais alentado ou até uma tese doutoral com centenas de remissões anódinas, ou seja, tratando daqueles casos que já pertencem ao estado da arte do problema tratado. Fatos são fatos, por mais que se desgoste deles, e eles não vão deixar de existir porque algum autor tem uma opinião mais negativa sobre esses mesmos fatos (a dominação perversa do capitalismo financeiro monopolista, por exemplo). Todos nós estamos cansados de ver o capitalismo condenado ao desaparecimento como resultado das últimas dez crises ocorridas em seu itinerário tumultuado, não é mesmo? Bem, sendo mais objetivo, a regra aqui, e a última desta série desorganizada, é muito simples: erudição não precisa ser medida em toneladas de bibliografia; ela pode ser medida com comentários inteligentes à obra de um autor consagrado, o que normalmente exige mais inspiração do que transpiração. Portanto, seja comedido no “ajuntamento” (esse é o termo) de sua bibliografia de referência e tente trabalhar com os autores essenciais ao problema que você escolheu. Se algum outro autor não tem nada de relevante a dizer sobre o problema selecionado, ignore-o solenemente. Mas, em sentido contrário, não tente a sorte pescando na internet coisas que depois você não vai citar devidamente e dar o crédito a quem merece: os instrumentos de busca que os professores utilizam estão cada vez mais sofisticados, e seria muito triste alguém perder uma bela carreira por acusações de plágio ou falsificação de trabalhos alheios.

Seja feliz em seu trabalho, melhore a sua escrita (o que eu mesmo vou tratar de fazer) e avance alguns degraus na ladeira do conhecimento: você vai se sentir muito melhor olhando o mundo do alto de sua capacitação intelectual. Escreva claro, escreva bem, trate dos problemas como eles devem ser tratados: objetivamente, concisamente, reflexivamente.

Paulo Roberto de Almeida
(Brasília, 14 de maio de 2011)

Brasil adere 'a censura da expressao em temas islamicos - FGV-Direito

Lamentável o quadro descrito pelo Janer Cristaldo, um verdadeiro iconoclasta profissional.
Paulo Roberto de Almeida 

Posted: 10 Oct 2012 01:37 PM PDT

Por Janer Cristaldo

 Fins de setembro, recebi esta mensagem:

Prof. Janer Cristaldo,

Sou aluno da Direito-GV de São Paulo e faço parte de uma instituição recém-criada: CEJUR (Centro de Estudos Jurídicos Júnior). Dentre outras coisas, o CEJUR tem a finalidade de organizar palestra sobre temas relacionados à sociedade e ao universo jurídico.

Assim sendo, pretendemos realizar um debate sobre as reações do filme "Inocência dos Mulçumanos" no mundo e também no Brasil - que, como o senhor deve saber, já produziu um julgado sobre o tema no dia 21.09. Após ler seu texto na Folha de São Paulo no dia 26, acreditamos que o senhor possa ter opiniões interessantes sobre o tema.

Envio este e-mail, então, a fim de saber se o senhor possui interesse de participar de um debate sobre o tema. Seria uma grande honra cont armos com a sua presença que seria, certamente, enriquecedora.
Att.,

Guilherme Franco
Diretor Financeiro
Centro de Estudos Jurídicos Júnior 

Ora, nada mais prazeroso que um debate, e particularmente sobre o Islã, assunto tão contemporâneo e tão pouco conhecido no Brasil. Aceitei o convite com entusiasmo. Seria uma oportunidade de ouro de contar aos participantes aqueles fatos que o correspondente da Folha de São Paulo em Teerã devia contar e não nos conta. De trazer ao debate nacional o que está acontecendo na Europa: os imigrantes muçulmanos querendo impor ao continente suas práticas teocráticas e a Europa se rendendo, lenta e inexoravelmente, à barbárie.


Poderia falar da fórmula singela que o Irã encontrou para acabar com o homossexualismo. Em um primeiro momento, condena-se o homossexual à morte. Mas Alá é generoso e o Estado iraniano incentiva as cirurgias transexuais. Você é hom em e gosta de homem? É simples. Corte esse incômodo apêndice que o perturba, construa uma vagina e poderá gostar de homens à vontade. Tudo se conserta quando o bom Deus permite.

Pensei também em falar de solução não menos genial encontrada pelos aiatolás para esse eterno problema do Ocidente, a prostituição. Este caminho é o sigheh, o matrimônio temporário permitido pelo ramo xiita do Islã, que pode durar alguns minutos ou 99 anos, especialmente recomendado para viúvas que precisam de suporte financeiro. Reza a tradição que o próprio Maomé o teria aconselhado para seus companheiros e soldados. O casamento é feito mediante a recitação de um versículo do Alcorão. O contrato oral não precisa ser registrado, e o versículo pode ser lido por qualquer um. As mulheres são pagas pelo contrato e ofereceriam seus serviços em "casas de castidade". 

Esta prática foi aprovada após a "revolução" liderada pelo aiatolá Khomeiny, que de rrubou o regime ocidentalizante do xá Reza Palhevi, como forma de canalizar o desejo dos jovens sob a segregação sexual estrita da república islâmica. Num passe de mágica, a prostituição deixa de existir. O que há são relações normais entre duas pessoas casadas. Não há mais bordéis. Mas casas de castidade. A cidade está limpa. 

Pensei também comentar fatos que nossa imprensa esconde dos brasileiros, como o aumento considerável de estupros na Suécia decorrente da invasão muçulmana. Como a pretensão dos árabes de instaurar tribunais islâmicos na Europa. Como o desejo de imigrantes de expulsar cães de certas cidades europeias... porque o Profeta não gosta de cães. Como a ablação do clitóris e a infibulação da vagina, práticas que constituem crime na Europa mas estão sendo importadas pela imigração muçulmana, a ponto de médicos europeus já sugerirem um corte simbólico do clitóris – desde que haja sangue; sem sangue não vale – para aplacar as necessidades culturais dos imigrantes.

Pensei também em falar da Finlândia, onde somalis mortos de fome – que recebem do Estado assistência social, saúde, emprego e educação – exigem que seus filhos sejam educados por professores. Assim, no masculino. Pois um macho somali não dirige a palavra a uma mulher.

Pensava eu em contar estas e outras coisas, para as quais me faltaram espaço naquele artigo na Folha, quando algo preocupou-me, o formato do debate. Perguntei ao Guilherme se disporia de um bom tempo para a exposição.Sim! A ideia é uma exposição de 10 a 15 min do seu ponto de vista e depois teriamos uma ar mais de bate-papo entre os debatedores e a plateia.
Tentaremos focar em:

• Liberdade de expressão, seus limites e a decisão judicial no Brasil
• Intenção do enunciador e reação do público 
• A influência da religião mulçumana 
• A intensidade da reação

São apenas umas ideias de temas para a discussão.
Por motivos administrativos, a sala só será liberada às 14h, então podemos marcar para 14:10?
Att., 

Maravilha, pensei. Terei até tempo para mostrar alguns livros poucos conhecidos no Brasil, como Nomade Infiel, da Ayaan Hirsi Ali. Ou os inéditos entre nós da Oriana Fallaci: La Rabia e l’orgoglioLa Forza de la RaggioneOriana Fallaci intervista sé stessa. A escritora italiana, que já havia publicado alguns livros no Brasil, mal denunciou a invasão árabe da Europa sumiu de nossas livrarias. Pensei levar também Os últimos dias da Europa – Epitáfio para um velho continente, de Walter Laqueur. Neste livro, o historiador alemão critica a imigração maciça de populações da Ásia, da África e do Oriente Médio para os países europeus – sobretudo porque estas levas de migrantes não buscam a assimilação nas sociedades europeias, mas apenas se beneficiar dos generosos serviços oferecidos por aqueles países. Os desafios que o velho continente enfrenta, adverte o autor, podem ser mortais. E aos que consideram suas análises excessivamente pessimistas, alarmistas e sombrias, ele lembra que os museus estão cheios de restos de civilizações desaparecidas.

Pensei tudo isso, dizia. Não que pretendesse fazer uma síntese de cada livro. Pensava apenas exibi-los. Apenas pensei. Ontem à noite, recebo mail do Guilherme:Caro prof. Janer,

Por motivos alheios a nossa vontade vamos ter que cancelar a abertura do evento na Direito-GV e realizá-lo apenas com membros desta.
Peço desculpas pelo inconveniente diante de seu demonstrado interesse no debate que pretendíamos realiz ar, com pessoas de dentre e fora da instituição, e também de sua gentileza em manter o contato comigo e o CEJUR.
Como o CEJUR é uma empresa júnior recém-criada, sofremos alguma pressão da diretoria para fazer um evento de menor porte, a fim de ver como nos saimos na sua realização para, posteriormente, organizar eventos maiores.
Por razões "políticas" foi decido internamente ao CEJUR seguirmos as orientações da Direção da Direito-GV. Espero que você entenda nossa situação.
Também espero que possamos manter contato e de fato realizar algum debate futuramente com a sua presença, já que o senhor possui argumentos interessantes de serem explorados.
Novamente, peço desculpas pelo ocorrido.
Abraços. 

Grato, Guilherme. Você fez o que pode. Jovem, você ainda não deve ter percebido que qualquer crítica ao islamismo é proibida no Brasil. Ao que tudo indica, a fatwa de 1989 do aiatolá Khomeini se estendeu à FGV. O q ue espanta é ver uma instituição de Direito, que pretende debater a liberdade de expressão e seus limites, começar censurando qualquer debate. 

O Islã chegou até nós e já exerce sua censura, tanto na universidade como na imprensa.

10 de outubro de 2-12
janer cristaldo

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Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...