segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Paises emergentes NAO sao as locomotivas da economia mundial - WSJ

The Wall Street Journal, August 12, 2013

A força da economia mundial está se deslocando para o mundo desenvolvido, afastando-se das economias emergentes que deram impulso ao crescimento desde a crise financeira.
Pela primeira vez desde meados de 2007, as economias avançadas, incluindo o Japão, os Estados Unidos e a Europa, estão contribuindo coletivamente mais para o crescimento da economia global — que movimenta US$ 74 trilhões — do que países emergentes como a China, a Índia e o Brasil, segundo dados compilados pela firma de investimentos Bridgewater Associates LP.
Getty Images
Sao Paulo
A reviravolta pode redistribuir os fluxos de capital mundiais e derrubar as previsões que grandes empresas acalentaram baseadas numa visão otimista dos mercados emergentes.
Entre as forças motrizes da mudança está um ressurgimento do Japão, que durante anos esteve entre os países de mais fraco desempenho da economia mundial. Economistas projetam que o PIB do Japão cresceu a uma taxa anualizada de 3,6% no último trimestre, um pouco mais lento do que o ritmo de 4,1% do primeiro, mas ainda assim uma mudança drástica depois de anos de estagnação.
A recuperação da economia americana tem produzido um crescimento constante, embora lento. E espera-se que relatórios a serem divulgados esta semana mostrem que a Europa teve ligeira expansão no último trimestre, após uma longa recessão.
Ao mesmo tempo, os países mais fortes do mundo emergente — como Brasil, Rússia, Índia e China — enfrentam dificuldades ou recuam depois de um desempenho estelar nos últimos anos.
A virada poderia criar novos desafios para as empresas ao redor do mundo que mantêm grandes operações globais.
Empresas que vendem para os mercados emergentes já estão sentindo o aperto. As condições em todo o mundo "abrandaram em um grau muito mais elevado do que tínhamos previsto", diz Richard White, diretor-presidente da Flexible Steel Lacing Co., fabricante americana de peças para correias transportadoras usadas no setor manufatureiro e de mineração. A empresa, de capital fechado, tinha feito planos com base em uma desaceleração no crescimento das vendas anuais dos 20% registrados nos últimos anos para 12%. Em vez disso, as vendas se estagnaram, diz White. Como resultado, o executivo diz que paralisou as contratações nos EUA, onde estão 600 dos seus 900 trabalhadores em todo o mundo.
"A causa parece ser a China", diz White, cuja empresa opera em 10 países e vende produtos em mais de 150. "A demanda que eles tinham — a necessidade de minério de ferro, cobre e carvão — estava alimentando a atividade de mineração na Austrália, África do Sul e América do Sul."
A reorganização do mapa do crescimento mundial é incipiente e poderia ser revertida caso as economias emergentes voltem a se recuperar, mesmo que só um pouco.
Muitas economias de mercados emergentes continuam sendo as de crescimento mais rápido do mundo, mesmo que não estejam se expandindo na mesma velocidade de antes. Os economistas esperam que o PIB da China, a segunda maior economia do mundo, cresça a um ritmo de 7,5% este ano, o mais lento desde 1990, mas que supera de longe o crescimento de cerca de 2% previsto para os EUA. Alguns economistas calculam que a China vai crescer de forma ainda mais lenta do que a meta do governo. Os economistas esperam que economias emergentes menores, desde o Sudeste Asiático até a América do Sul, mantenham taxas de crescimento relativamente robustas.
Um sinal de que as economias emergentes não estão se beneficiando diretamente do ressurgimento em países desenvolvidos é o índice de gerentes de compra nesses países, um indicador do crescimento do PIB. Para os países em desenvolvimento, o índice atingiu seu nível mais baixo desde o início de 2009, segundo um indicador agregado compilado pela consultoria econômica Capital Economics. As mesmas medidas para os EUA, Europa e Japão mostram expansão.
A titubeante recuperação da Europa ainda não se traduziu num aumento da atividade comercial que poderia ajudar as economias emergentes. O renascimento do Japão — ele é hoje o país que cresce mais rápido entre as grandes economias desenvolvidas — também não tem beneficiado seus vizinhos. A recuperação do Japão é acompanhada de um iene acentuadamente mais fraco, o que torna as importações mais caras e faz com que os japoneses estejam mais propensos a comprar produtos feitos localmente.
Os dados compilados pela Bridgewater, baseados em parte numa estimativa das taxas atuais de crescimento, em vez de dados oficiais, mostram os EUA, Japão e outros mercados desenvolvidos contribuindo com cerca de 60% dos cerca de US$ 2,4 trilhões na atividade econômica adicional que o mundo registrará este ano, segundo a previsão de economistas. Os mercados emergentes contribuirão com o restante.
Algumas grandes multinacionais afirmam que a desaceleração não é problema. Os emergentes "continuam a ser uma fonte fantástica de oportunidade", disse Herbert Hainer, diretor-presidente da gigante alemã de produtos esportivos Adidas AG,ADS.XE -0.04% a analistas na semana passada.
Mas os resultados da Adidas mostram um impacto de curto prazo. A desaceleração da Rússia pesou sobre seus resultados, disse Hainer, e sua receita na China cresceu 6% no primeiro semestre, em comparação com um crescimento de 19% em igual período do ano passado e de 38% no primeiro semestre de 2011.
Não há uma razão única que explique por que as economias emergentes do mundo estão sofrendo. O aumento das taxas de juros dos EUA, com base em expectativas de que o Federal Reserve vai pisar no freio em seu programa de compra de títulos de dívida, apertou o crédito em algumas partes do mundo emergente que estão expostas aos mercados financeiros globais.
O formato da atual recuperação americana também desempenha um papel. As últimas duas expansões registradas pelos EUA — o boom tecnológico da década de 90 e o boom imobiliário da década de 2000 — foram impulsionadas pela demanda do consumidor, que tem sido relativamente modesta nos últimos anos. Isso significa um crescimento mais lento da demanda por bens estrangeiros.
A atual expansão americana foi impulsionada em parte pela produção doméstica de combustíveis, o que cria demanda para equipamentos feitos nos EUA. E os salários estagnados nos EUA significam que os custos trabalhistas caíram em relação aos de rivais como a China.
A natureza da recuperação americana é um dos indicadores de que o padrão tradicional, em que o crescimento do mundo desenvolvido é apoiado pelos grandes exportadores do mundo emergente, pode estar se rompendo em lugares como a Ásia.
"Nós não podemos andar na carona do Ocidente. A Ásia se tornou muito grande", diz Frederic Neumann, um dos diretores de economia do HSBC HSBA.LN +1.75%para a Ásia.
Indicadores recentes mostram que a desaceleração da China pode estar chegando ao fim, com a produção comercial e industrial dando sinais de recuperação. Mas poucos preveem um retorno às taxas de crescimento de dois dígitos do passado.
E a desaceleração da China tem amortecido a demanda por commodities e outros bens importados, com efeitos de longo alcance na América Latina e no Sudeste Asiático.
O Brasil, a maior economia da América Latina, estagnou em parte devido ao declínio do apetite chinês por produtos como minério de ferro e carvão. O PIB brasileiro cresceu cerca de 1% no ano passado, depois de ter subido notáveis 7,5% em 2010. O real caiu ao longo dos últimos dois anos, somando-se às preocupações com o aumento da inflação. Pelo menos um milhão de manifestantes foram às ruas para protestar em junho deste ano, num reflexo da ansiedade causada pela desaceleração.
Indonésia, a maior economia do Sudeste Asiático, também tem sido golpeada pela desaceleração da China, com uma queda drástica nas exportações de carvão e óleo de palma. O PIB cresceu a um ritmo anualizado de 5,9% no segundo trimestre, o pior resultado desde 2010.
Problemas domésticos também afetam países como a Índia, onde a má administração da economia levou a um declínio da moeda local, a rupia, e a um aumento dos déficits em conta corrente.
Certamente, a desaceleração do crescimento em muitas economias emergentes tem sido suave, aquém de níveis considerados de crise, o que leva algumas multinacionais a manter uma perspectiva positiva.
O lucro da Vale SA, VALE5.BR +3.24% maior produtora de minério de ferro do mundo, caiu por oito trimestres consecutivos. A China é de longe o maior cliente da Vale, mas os chineses vão continuar precisando de minério brasileiro, diz José Carlos Martins, o diretor de estratégia da empresa.
"Há um monte de gente perdendo o sono por causa China", diz ele, "mas eu não".

A destruicao da Petrobras pelos politicos do poder - Diego Escosteguy (revista Epoca)

"Depois que você conhece os bastidores, não dorme mais tranquilo"  (João Augusto Henriques)
Diego Escosteguy
Revista ÉPOCA, 10/08/2013

João Augusto estava em silêncio. Permanecia inclinado à frente, apoiava-­se na mesa com os antebraços. Batia, sem parar, a colherzinha de café na borda do pires – e mantinha o olhar fixo no interlocutor. Parecia alheio à balbúrdia das outras mesas no Café Severino, nos fundos da Livraria Argumento do Leblon, no Rio de Janeiro, naquela noite de sexta‐feira, dia 2 de agosto.
A xícara dele já estava vazia. O segundo copo de água mineral, também. João Augusto falava havia pouco mais de uma hora. Até então, pouco dissera de relevante sobre o assunto que o obrigara a estar ali: as denúncias de corrupção contra diretores ligados ao PMDB, dentro da Petrobras.
Diante dos documentos e das informações obtidos por ÉPOCA sobre sua participação no esquema, João Augusto respondia evasivamente. Por alguma razão incerta, algo mudara nos últimos minutos. O semblante contraído sumira. Esperei que o silêncio dele terminasse.
– O que você quer saber?, disse ele.
– Sobre os negócios, respondi.

Foi então que João Augusto Rezende Henriques disse, sem abaixar a voz ou olhar para os lados: “Do que eu ganhasse (no contratos intermediados com a Petrobras), eu tinha que dar para o partido (PMDB). Era o combinado, um percentual que depende do negócio”. A colherzinha não tilintava mais.

Iniciava-se, ali, um desabafo motivado pelas denúncias que ÉPOCA investigava havia cerca de um mês. O caso envolvia a Petrobras – maior empresa do país, 25a do mundo, com faturamento anual de R$ 281 bilhões. Começara com apenas uma pista: um contrato assinado em 2009, em Buenos Aires, entre o advogado e ex-­deputado Sérgio Tourinho e o argentino Jorge Rottemberg.
No documento, previa-se que Tourinho receberia US$ 10 milhões de uma empresa no Uruguai, um conhecido paraíso fiscal, caso a Petrobras vendesse a refinaria de San Lorenzo, avaliada em US$ 110 milhões, ao empresário Cristóbal Lopez, conhecido como czar do jogo na Argentina e amigo da presidente Cristina Kirchner.
À primeira vista, o contrato não fazia sentido. Por que um lobista de Buenos Aires se comprometeria a pagar US$ 10 milhões a um advogado brasileiro, de Brasília, caso esse advogado, sem experiência na área de energia, conseguisse fechar a venda de uma refinaria da Petrobras na Argentina?
ÉPOCA foi buscar a resposta em entrevistas com partícipes do negócio, parlamentares e funcionários ligados ao PMDB. O advogado Tourinho era sócio dos lobistas do PMDB, que trabalhavam em parceria com Jorge Zelada, diretor internacional da Petrobras desde 2008 e, segundo João Augusto, apadrinhado do PMDB. A operação San Lorenzo, diz ele, não era um caso isolado.

Era mais um dos muitos negócios fechados pelos operadores do PMDB na área internacional da Petrobras. De acordo com João Augusto, todos os contratos na área internacional da Petrobras tinham que passar por ele, João Augusto, que cobrava um pedágio dos empresários interessados.

De acordo com ele, de 60% a 70% do dinheiro arrecadado dos empresários era repassado ao PMDB, sobretudo à bancada mineira do partido na Câmara, principalresponsável pela indicação de Zelada à Petrobras. De acordo com João Augusto, o dinheiro servia para pagar campanhas ou para encher os bolsos dos deputados. O restante, diz ele, era repartido entre ele próprio e seus operadores na Petrobras – os responsáveis pelo encaminhamento dos contratos.
Segundo João Augusto e outros quatro lobistas do PMDB, o dinheiro era distribuído a muita gente em Brasília. A maior parte seguia para os dez deputados do partido em Minas, entre eles o atual ministro da Agricultura, Antonio Andrade, e o presidente da Comissão de Finanças da Câmara, João Magalhães.
O dinheiro, de acordo com João Augusto, não ficava apenas com essa turma. Segundo o relato dele e dos outros lobistas, o secretário das Finanças do PT, João Vaccari, recebeu o equivalente a US$ 8 milhões durante a campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2010. João Augusto diz que organizou, pessoalmente e por meio de Vaccari, o repasse para a campanha de Dilma.
O dinheiro, segundo ele, foi pago pela Odebrecht, em razão de um contrato bilionário fechado na área internacional da Petrobras, que dependia de aprovação do então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, do PT. À Justiça Eleitoral, a campanha de Dilma declarou ter recebido R$ 2,4 milhões da Odebrecht.
As denúncias de João Augusto são contestadas pelos acusados. Vaccari, secretário de finanças do PT, diz que não era responsável pela tesouraria da campanha de Dilma. Afirma ainda que “todas as doações ao PT são feitas dentro do que determina a legislação em vigor e de uma política de transparência do PT”.
Gabrielli diz, por meio de nota, não ter conversado sobre o contrato da Odebrecht com Vaccari. Zelada afirma desconhecer a atuação de João Augusto na intermediação de contratos na Petrobras e nega ter sido indicado pelo PMDB. A Petrobras informou em nota que não comentaria o assunto.
Apesar de todas as contestações, a reportagem de ÉPOCA confirmou, por meio de entrevistas em três cidades, vários pontos do depoimento de João Augusto. Investigações oficiais ainda são necessárias para apurar todas as suas denúncias.
UMA DIRETORIA PARA O PMDB
Em janeiro de 2008, o presidente Lula aceitou entregar a Diretoria Internacional da Petrobras ao PMDB. Mais especificamente, ao grupo que [hoje] comanda o PMDB da Câmara dos Deputados. Engenheiro de carreira da Petrobras, João Augusto fora apresentado à política em meados dos anos 90, quando era diretor da BR Distribuidora, a empresa de combustíveis da Petrobras. Para fazer qualquer operação de relevo na BR, João Augusto precisava do apoio dos demais diretores. No começo, nunca conseguia.
“Não tinha a menor ideia de como as coisas funcionavam”, diz. “Mas aí conheci o Benjamin Steinbruch (dono da CSN), que me explicou como era preciso ter apoio político para fazer as coisas. O Steinbruch ligou para o Tasso Jereissati (do PSDB), que ligou para o Marcelo Alencar (governador do Rio, também do PSDB).
O Alencar avisou o Joel Rennó (então presidente da Petrobras): ‘Ó, o João Augusto está com a gente’”, diz João Augusto. E ri das lembranças. “Eu não tinha ideia do que ‘estar com a gente’ significava... A partir dali, mudou muito. Da água para o vinho. Tudo passava. Você vai mudando. O mundo real é outro, e eu tinha de me adequar a ele.”
Em pouco tempo, João Augusto migrou dos tucanos para o PMDB – segundo ele, por obra do então deputado Michel Temer. Em 1999, João Augusto prosperava na política e nos negócios. Tinha, segundo ele, apoio do PMDB para virar diretor da Petrobras. Mas uma grave hepatite C o impedira. Para sobreviver, foram precisos dois transplantes de fígado e quatro meses num hospital em Londres.
Na volta ao Brasil, João Augusto deixou a Petrobras. “Fui fazer negócios”, diz. Usava, segundo ele, o conhecimento e a rede de contatos acumulado nos anos de Petrobras para ajudar empresários com interesses na empresa. Sabia que técnicos e diretores a procurar, dependendo do assunto – e, sobretudo, que métodos de persuasão aplicar a cada um.
“A Petrobras tem três tipos de caras: o técnico, o político e o carreirista”, diz. “O técnico não vai mudar o que ele pensa porque você diz. O que ele gosta é de visitar obra, viajar em helicóptero, se sentir importante de vez em quando. Ele acha que merece. O carreirista faz o que chefe mandar. Não quer saber o que é. Nem pensa duas vezes. Hoje é cheio de carreirista. E o político é o que observa as coisas dentro da empresa, atende aos amigos, ao pessoal da área dele, aos políticos. Se você errar a abordagem, confundir um com o outro, você quebra a cara. Eu sei fazer essa abordagem.”
Com todas essas credenciais, João Augusto era o nome favorito do PMDB para assumir a diretoria na Petrobras que Lula prometera aos deputados do partido, em janeiro de 2008. Seu nome, porém, foi barrado na Casa Civil: João Augusto fora condenado pelo Tribunal de Contas da União a pagar uma multa de R$ 500 mil, em virtude de irregularidades cometidas quando ele era diretor da BR Distribuidora.
O deputado Fernando Diniz, que comandava a bancada do PMDB de Minas, comunicou-­lhe o óbice. E pediu um nome alternativo. João Augusto indicou um de seus melhores amigos na empresa, o engenheiro Zelada, que trabalhava com um dos diretores petistas da estatal. Ao nomear Zelada, João Augusto se tornou, segundo deputados e lobistas, o diretor “de fato” da área internacional.
“A função do Zelada era obedecer às ordens de João Augusto”, diz um lobista do PMDB. Para garantir que as operações do partido correriam como esperado, João Augusto recrutou técnicos de sua confiança na Petrobras. Distribuiu, pela área internacional, seus colegas de turma na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sócrates José virou chefe de gabinete de Zelada. Era o cicerone dos parceiros do grupo que visitavam a sede da Petrobras para fazer reuniões. “Se o projeto fosse bom para a Petrobras, eu levava adiante. Fazia isso por amizade”, diz Sócrates.
Ele também tinha como missão reportar o que via e ouvia a João Augusto. José Carlos Amigo assumiu a gerência para América Latina. Essa gerência, segundo João Augusto, esteve envolvida na contratação de um navio-­sonda da empresa Vantage, por US$ 1,6 bilhão – uma operação que, diz ele, rendeu uma comissão de US$ 14,5 milhões, US$ 10 milhões dos quais repassados ao PMDB.
Clóvis Correa virou diretor da Petrobras Argentina, onde a empresa mantinha a refinaria de San Lorenzo. De acordo com João Augusto e os demais envolvidos no negócio, Clóvis participava das reuniões em hotéis e receberia uma parte do “sucesso” de US$ 10 milhões. Fernando Cunha, o único que não estudara com os demais, tornou-‐se gerente para negócios na África.
João Augusto diz que ele participou da compra de um campo na Namíbia, operação encaminhada após ele ter fechado comissão com a empresa que detinha o controle desse campo.
A INCOMPREENSÃO DOS DEPUTADOS

De acordo com os envolvidos, havia uma incompreensão entre os deputados sobre como funcionava a Petrobras e quanto era possível arrecadar por mês. Dois lobistas do PMDB afirmam que fora estipulada uma meta de R$ 150 mil por mês para a bancada. Num almoço na churrascaria Porcão, num domingo de sol no começo de 2009, o deputado Fernando Diniz, ao lado de assessores e de lobistas, reclamou da “performance” de Zelada.
“O‘ Gelada’ não está entregando”, disse aos amigos. Essa percepção é confirmada por João Augusto. “Num primeiro momento, eles (os deputados do PMDB) achavam que tinha um monte de coisa (na Petrobras). Não tinha. Os caras não entendiam. Achavam que estávamos (a dupla João Augusto e Zelada) de má vontade. Não entendiam que a Petrobras tem uma diretoria, um conselho, que não dá para fazer o que quiser”,diz.
A cobrança dos deputados exasperava João Augusto. “Se você não tiver os valores muito enraizados, o cara (político) vem e pega o dinheiro que está na sua carteira”, diz. “Tem que saber lidar. A pior coisa no pedido político é você engavetar. Ou você diz: ‘desse jeito aqui não dá’. Ou diz: ‘posso fazer assim’ (de acordo com os interesses da empresa). Não sou vestal. Gosto de ganhar dinheiro”, diz João Augusto.
“Mas não faço coisa que vai dar prejuízo à Petrobras, como Pasadena (a refinaria nos Estados Unidos na qual a empresa perdeu dinheiro). De zero a dez, numa escala de ética, não sou zero, mas também não sou dez. Bandido eu não sou, não. Sou três ou dois. Tenho que ser reconhecido como um cara técnico, de negócio, mas que não faço m...”
João Augusto faz uma pequena pausa, pede mais uma água mineral e continua: “Quando estava na BR, eu não podia parar o trem. Se tentasse, seria atropelado. Tinha que entrar no trem para levar na direção que eu quisesse. Eu vendia álcool quando era diretor da BR. Você não tem ideia. O Brasil inteiro me procurava. Todo político conhece um usineiro que quer comprar (em melhores condições). O que eu fazia? Fazia uma planilha menor, de coisas que a BR precisava vender mesmo, e deixava separado. Sempre que eu tinha que atender a um pedido político, pegava essa planilha e tentava conciliar o que havia nela, que era interesse da empresa, com o pedido do político.”
O que parece incomodar João Augusto, e talvez tenha contribuído para seu desabafo, seja o desequilíbrio entre os interesses dos políticos, que cobram cada vez mais de operadores como ele, e os interesses da Petrobras. “A Petrobras sempre teve influência política. Mas a decisão era técnica. A política se adequava à técnica. Se, por exemplo, os técnicos decidissem que era preciso ter uma refinaria no Nordeste, os políticos poderiam brigar para escolher em que estado. Mas a refinaria era necessária”, diz.
“De uns tempos para cá, isso se inverteu. Os políticos decidem que haverá uma refinaria no Maranhão ou no Ceará, e os técnicos têm que correr atrás.” Ele credita essa inflexão, como os demais ouvidos nesta reportagem, ao ex­‐presidente Lula. “O PT aparelhou demais. Gente que não tinha capacidade subiu rápido.”
O PROJETO ATREU
A venda da refinaria de San Lorenzo era, para o grupo, o começo da venda de todos os bens da Petrobras na Argentina – algo que, conforme revelou ÉPOCA em abril, quase aconteceu. “Quem descobriu a Argentina fui eu”, diz João Augusto. Foi sugerido a ele que contratasse advogados brasileiros.
“‘A gente que vai fazer negócio fora, seria bom receber por advogado aqui. Tudo bonitinho. Topei. Fizemos o contrato para receber tudo por eles (advogados) e cada um ia receber sua parte depois.” (Por meio de nota, o advogado Sérgio Tourinho afirma que foi contratado “para fazer o acompanhamento jurídico” na venda da refinaria San Lorezo. “Em um determinado momento, me passaram que parte dos meus honorários deveria ser repassado a terceiros. Claro que não concordei. E. por isso. tive o contrato rescindido.”)
Se a refinaria fosse vendida a Cristóbal, o amigo de Cristina Kirchner, os lobistas receberiam, segundo João Augusto, US$ 10 milhões. A divisão do “sucesso” demonstra a força do PMDB nos negócios da Petrobras lá fora. Pela conta dele, dos US$ 10 milhões, US$ 6,8 milhões estavam destinados a João Augusto.
“Eu tinha de repassar US$ 5 milhões ao PMDB. A maior parte disso era PMDB de Minas, porque era o Fernando (Diniz). A partir daí, não sei quem eles pagavam, nem quanto. Deputado é f... Você dá para um e, a partir dali, não dá para saber se ele deu para um, se ele deu para meia dúzia, se ele ficou (com o dinheiro)...”
Entre eles, a operação, não se sabe por que motivo, era conhecida como “projeto Atreu”. Em setembro e outubro de 2009, os lobistas reuniram-­se muitas vezes na sala de reuniões do Hotel Hilton, em Buenos Aires, para avançar nas tratativas. Uma das presenças certas, segundo João Augusto, era o diretor Clóvis Correa. (Hoje, Clóvis é assessor da Transpetro, empresa da Petrobras comandada pelo PMDB, e nega ter participado das negociações para a venda da refinaria de San Lorenzo.)
“O Clóvis estava conosco em todas as reuniões. Como ele havia sido meu colega de faculdade, e eu tinha boas relações com ele, fiquei mais tranquilo”, diz João Augusto. Ele conta que, nas reuniões, combinava com outros lobistas pagamentos em contas no exterior. Uma das contas citadas, segundo um dos lobistas, era identificada como Tiger, na China – uma conta usada por doleiros para fazer pagamentos a partidos como PT e PMDB, conforme afirmou a Polícia Federal, em 2009, na operação Castelo de Areia, que investigou denúncias de pagamento de propina a políticos.
Enquanto a venda da refinaria avançava, o grupo oficializava a união para organizar os futuros negócios na Petrobras. Chegaram a assinar um instrumento particular de parceria, em que se comprometiam a dividir os contratos que cada um obtivesse. A união durou pouco. Era muito dinheiro e pouca confiança entre eles.
João Augusto diz que exigiu aos demais subir sua participação de US$ 6,8 milhões para US$ 8,8 milhões, por causa da pressão do PMDB. “Ele disse que o PMDB precisava fazer caixa para a campanha de 2010”, diz um dos lobistas. Houve briga entre eles, mas o advogado Tourinho aceitou assinar um aditivo ao contrato principal de sucesso, reduzindo a participação dele e dos demais a US$ 1,2 milhão.
João Augusto quis fazer um contrato em separado com os argentinos. Conta que foi até Buenos Aires tentar persuadir Rottemberg, o operador do negócio pelo lado argentino, encarregado pelo amigo de Cristina Kirchner de pagar os brasileiros. Temendo que seus parceiros no PMDB não confiassem em sua palavra, João Augusto levou uma testemunha: Felipe Diniz, filho do deputado Fernando Diniz, que morrera recentemente.
Àquela altura, a pressão do PMDB por resultados era imensa. “Usei o nome do PMDB, até para todo mundo saber que não estava dando calote em mim, estava dando calote no partido”, diz João Augusto. O novo contrato, ele afirma, não deu certo. Em maio de 2010, a Petrobras anunciou a venda da refinaria, por US$ 110 milhões, ao empresário Cristóbal Lopez.
“O negócio saiu, mas não recebi nada. Eles (os outros lobistas) receberam. E o cara em quem eu achava que eu podia confiar, o Clovis, foi o que recebeu mais. Eu tinha compromissos e fiz papel de idiota. A única atitude que pude tomar foi mandar o Zelada tirar o Clovis da Pesa (Petrobras Argentina).”
“RAPAZ, ELES ESTÃO SEMPRE EM CAMPANHA, NÉ?”
Nem todas as operações eram tão difíceis quanto a venda da refinaria de San Lorenzo. No mesmo período, João Augusto conta que fechou um contrato de US$ 1,6 bilhão para que a Petrobras explorasse o navio-sonda Titanium Explorer, da empresa Vantage. O contrato rendeu uma comissão de US$ 14,5 milhões, que deveria ser paga em três parcelas.
Segundo João Augusto, a primeira foi paga ainda no começo de 2009; a segunda, em seguida. A terceira, diz ele, não foi paga, em razão de uma briga societária na Vantage. O sócio que o contratara é hoje processado pelos demais sob a acusação de ter desviado dinheiro da empresa. “Repassei US$ 10 milhões ao PMDB”, diz. Nesse caso, não especificou nomes. “A quem de direito no partido. É a regra.” Era dinheiro para campanha? “Rapaz, eles estão sempre em campanha,né?”, diz.
“(O repasse) era maior do que 50%. Podia ser 60% ou 70%. Dependia do negócio. (...) Na área internacional (da Petrobras), se eu fizer alguma coisa, tem de ajudar o partido. Porque foi o partido quem indicou o Zelada. O mundo é assim. E é assim em qualquer lugar.” Em seguida, afirma: “Se eu fizesse negócio em outra diretoria, não tinha fee (comissão) para o partido. E eu falava para eles: aqui não devo nada”.
João Augusto parecia genuinamente magoado com os parceiros no PMDB. “Depois que você conhece os bastidores, não dorme mais tranquilo. Pensa que é fácil nego te ligando? ‘A campanha tá aí...’ Nego xingando o Zelada porque não vinha dinheiro.” Ao mesmo tempo, ele parecia sentir-­se culpado por não corresponder às altas expectativas dos deputados: “Os caras me acolheram tão bem... Você sente que tem que ajudar o grupo”.
E quem coordenava o “grupo”, após a morte de Fernando Diniz? “Uma hora foi o (deputado) Mauro Lopes, outra foi o (deputado) João Magalhães.” (Mauro Lopes afirma conhecer João Augusto há mais de vinte anos e diz que sugeriu seu nome para ocupar a diretoria internacional da Petrobras ao então líder da bancada peemedebista de Minas Gerais, Fernando Diniz. E nega ter sido beneficiado com repasses de dinheiro.)
“Não sei como era a divisão: para quem eles davam, se davam certo... Só mandava.” João Augusto desce aos detalhes das transações: “Normalmente, (os deputados) me davam (a conta no exterior) e eu mandava via doleiro.” Ele conta que que sempre recebia reclamações. “Era muita gente (para receber). Uma operação de US$ 5 milhões parece boa, mas (...) eram dez, doze pessoas. No fim, (os deputados) achavam uma m...”.
UMA CPI PARA CÁ, UM CONTRATO PARA LÁ
Ao cabo de duas horas de revelações, João Augusto parece pronto para contar sua maior proeza, de acordo com os outros lobistas do PMDB: o contrato de quase US$ 1 bilhão entre a área internacional da Petrobras e a empreiteira Odebrecht, fechado às vésperas do segundo turno da eleição de 2010. Pelo contrato, a Odebrecht cuidaria da segurança ambiental da Petrobras em dez países.
– E a Odebrecht?
– Odebrecht? Eu montei tudo.
João Augusto diz que, no auge da CPI da Petrobras no Senado, no segundo semestre de 2009, o relator da comissão, senador Romero Jucá, do PMDB, que também era líder do governo, convocou‐o para uma reunião em Brasília. Disse que fizera um acordo com o então presidente da Petrobras, Gabrielli: o PMDB ajudaria a enterrar a CPI, que já estava morna, e, em troca, Gabrielli não criaria dificuldades à aprovação, pela diretoria executiva da Petrobras, do “projeto” Odebrecht.
“Manda o João apresentar”, disse Gabrielli a Jucá, segundo o relato de João Augusto. Logo depois, em dezembro de 2009, Jucá apresentou seu relatório final que isentava a Petrobras de irregularidades. A CPI morria conforme o previsto. (Jucá nega ter chamado João Augusto a Brasília para tratar do contrato entre Petrobras e Odebrecht. “Não houve nenhum tipo de conversa com o Gabrielli sobre qualquer contrato em troca de CPI. Até porque eu era líder do governo, eu estava tratando com seriedade.”)
Para fazer o contrato, João Augusto conta que fez “um grupo de trabalho, técnico, sério”. “Trabalhamos um ano nisso. A Petrobras precisava mesmo consolidar essas operações de meio ambiente lá fora. A empresa não sabia o tamanho do passivo, quem cuidava do quê. Era preciso centralizar”, diz João Augusto. Por que não fazer uma licitação?
“A Odebrecht tinha que ganhar. Foi até ideia minha. Pelo tamanho dela. Pelo padrão”, diz. Segundo João Augusto, a Petrobras convidou formalmente outras empreiteiras. Todas declinaram. Deu Odebrecht. Ouvida a respeito do caso, a Odebrecht nega ter feito contrato com João Augusto Henriques. E afirma, em nota: “A afirmação que a Odebrecht pagou o equivalente a US$ 8 milhões para a campanha de 2010 da presidente Dilma Rousseff, por intermédio do secretário de Finanças do PT, João Vaccari, não procede. A Odebrecht faz suas doações dentro de uma visão republicana e em prol da democracia e do desenvolvimento econômico e social do País, respeitando rigorosamente os limites e condições impostas pela legislação eleitoral”.
No momento em que Gabrielli deveria cumprir sua parte do acordo com Jucá, o PMDB foi traído, diz João Augusto. “Quando ela (a Odebrecht) ganhou, Gabrielli fez de tudo para derrubar na diretoria. A CPI, claro, já tinha passado. Quis f... o negócio. O contrato entrava na pauta da diretoria, mas eles enrolavam.” Com sua experiência política, João Augusto sabia o que fazer. Conta que conversou primeiro com seus parceiros na Odebrecht. Em seguida, procurou Vaccari, também tido como homem do PT na Petrobras. “Avisei a ele: a Odebrecht vai ajudar vocês na campanha. Vai lá e acerta com eles”, diz João Augusto. Qual o valor acertado? “Deram, mais ou menos, o equivalente a US$ 8 milhões para o Vaccari”, afirma.
As dificuldades na diretoria prosseguiram por mais algumas semanas. Em 26 de outubro de 2010, a cinco dias do segundo turno entre Dilma e José Serra, do PSDB, a diretoria da Petrobras aprovou o contrato. “Todo mundo recebeu. O partido, eu e as pessoas que ajudam. Quem ajuda, ganha”, diz João Augusto.
E quem recebeu? EleC não responde. “Pessoas de dentro (da Petrobras) que eu pago.” Quanto o PMDB recebeu? “Foram US$ 10 milhões, ou US$ 11 milhões. Não mexo com dinheiro dos outros. A Odebrecht tem os canais dela com os partidos”, diz ele. E como se dava o pagamento? “A parte deles (PT e PMDB) eu não sei. A minha foi lá fora”, disse. “Todos os contratos são assim.”
O contrato da Odebrecht parece ter sido a última grande operação da turma de João Augusto. Logo depois, no governo Dilma, o aparelhamento diminuiu. Saíram muitos dos diretores ligados ao PT. Zelada foi perdendo poder e pediu demissão em julho do ano passado. João Augusto, porém, continua à cata de negócios na Petrobras. Recentemente, participou da venda da sociedade que a Petrobras tem numa distribua idora de energia na Argentina. “Você não vai acreditar, mas não preciso de políticos para ganhar dinheiro. Ganho mais sem eles”, diz João Augusto, antes de se levantar e ir embora. Paguei a conta.
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Com Flávia Tavares, Marcelo Rocha, Murilo Ramos e Leandro Loyola

domingo, 11 de agosto de 2013

Economic Freedom of the World, 2012 - sumario executivo

Eu já havia colocado aqui o mapa principal e o link para o estudo, que repito aqui, ambos. Mas faço-os imediatamente seguir do sumário executivo preparado pelos editores, com alguns destaques importantes.
Os EUA, que durante muito tempo estavam em segundo ou terceiro lugar, logo depois de Hong-Kong, recuaram muito, quase atravessando a segunda dezena de países mais livres.
O Chile é o décimo, agora, muito à frente da Alemanha e da França.
Nem preciso mencionar que o Brasil se situa bem atras, no lugar 105, ou seja, 95 países atrás do Chile.
Parece que vamos ter de fazer algum esforço para avançar, certamente não sob os companheiros...
Paulo Roberto de Almeida

Economic Freedom of the World 
http://www.freetheworld.com/2012/EFW2012-complete.pdf

The index published in Economic Freedom of the World measures the degree to which the policies and institutions of countries are supportive of economic freedom. The cornerstones of economic freedom are personal choice, voluntary exchange, freedom to compete, and security of privately owned property. Forty-two variables are used to construct a summary index and to measure the degree of economic freedom in five broad areas:

1 Size of Government;
2 Legal System and Property Rights;
3 Sound Money;
4 Freedom to Trade Internationally;
5 Regulation.

Since our first publication in 1996, numerous studies have used data from Economic Freedom of the World to examine the impact of economic freedom on investment, economic growth, income levels, and poverty rates. Virtually without exception, these studies have found that countries with institutions and policies more consistent with economic freedom have higher investment rates, more rapid economic growth, higher income levels, and more rapid reductions in poverty rates.

In this year’s index, Hong Kong retains the highest rating for economic freedom, 8.90 out of 10. The other top 10 nations are: Singapore, 8.69; New Zealand, 8.36; Switzerland, 8.24; Australia, 7.97; Canada, 7.97; Bahrain, 7.94; Mauritius, 7.90;  Finland, 7.88; and Chile, 7.84.

The rankings (and scores) of other large economies in this year’s index are the United Kingdom, 12th (7.75); the United States, 18th (7.69); Japan, 20th (7.64); Germany, 31st (7.52); France, 47th (7.32); Italy, 83rd (6.77); Mexico, 91st, (6.66); Russia, 95th (6.56); Brazil, 105th (6.37); China, 107th (6.35); and India, 111th (6.26).

The scores of the bottom ten nations in this year’s index are: Venezuela, 4.07; Myanmar, 4.29; Zimbabwe, 4.35; Republic of the Congo, 4.86; Angola, 5.12; Democratic Republic of the Congo, 5.18; Guinea-Bissau, 5.23; Algeria, 5.34; Chad, 5.41; and, tied for 10th worst, Mozambique and Burundi, 5.45.

Nations that are economically free out-perform non-free nations in indicators of well-being

Nations in the top quartile of economic freedom had an average per-capita GDP of $37,691 in 2010, compared to $5,188 for bottom quartile nations in 2010 current international dollars.

In the top quartile, the average income of the poorest 10% was $11,382, compared to $1,209 in the bottom in 2010 current international dollars.

Interestingly, the average income of the poorest 10% in the most economically free nations is more than twice the overall average income in the least free nations.

Life expectancy is 79.5 years in the top quartile compared to 61.6 years in the bottom quartile.

Political and civil liberties are considerably higher in economically free nations than in unfree nations.

Questão final: se mais liberdade é tão melhor para todo mundo, por que mais nações não são livres, ou por que existem tão poucas nações livres no mundo?
Minha explicação seria esta: interesses constituídos de elites dominantes, e estupidez econômica...
As simple as that...
Paulo Roberto de Almeida 

A frase do fim de semana: o peso dos economistas mortos - Hans-Hermann Hoppe

"Não sou fã de John Maynard Keynes. Mas creio que ele estava certo quando disse que
"as ideias dos economistas e filósofos políticos, estejam elas certas ou erradas, são mais poderosas do que comumente se percebe. Com efeito, elas governam o mundo quase sozinhas. Homens práticos, que se acreditam isentos de qualquer influência intelectual, costumam ser escravos de algum economista defunto". 
Ironicamente, ele mesmo, Keynes, é o economista defunto por excelência — emitindo, por sinal, ideias falsas —; aquele por quem os homens práticos de hoje são escravizados intelectualmente."

Hans-Hermann Hoppe
entrevista completa neste link: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1646

O Brasil e' a terra da violencia? Parece - New York Review of Books

In the Violent Favelas of Brazil

Suketu Metha
The New York Review of Books, August 5, 2013
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Favela da Rocinha, Rio de Janeiro, December 2011
My Brazilian friend Marina and I were picking up a visiting friend from New York, who heads an NGO, in her hotel lobby near Paulista, the most prestigious avenue in São Paulo. It was 7:30 on a busy Friday night last October.
We walked up to a taxi outside the hotel. I sat in the front to let the two women chat in the back. Marina asked me to Google the restaurant menu. I was doing so when I saw a teenage boy run up to the taxi and gesticulate through my open window. I thought he was a beggar, asking for money. Then I saw the gun, going from my head to the cell phone.
“Just give him the phone,” Marina said from the back seat.
I gave him the phone. He didn’t go away.
Dinheiro, dinheiro!
I didn’t want to give him my wallet. The boy was shouting obscenities. “Dinheiro, dinheiro!
The boy’s body suddenly jerked back, as a man’s arm around his neck pulled him off his feet. The man, dressed in a black shirt, was shouting; he had jumped the boy from behind. He started hitting the boy. The taxi driver sitting next to me was stoic. He said that this had never happened to him before, but he couldn’t have been more blasé.
The next thing I saw was the boy and another teenager, probably his accomplice, running away fast up the street. The man in the black shirt chased them a bit, then came back panting to the taxi. “Did the bastard get anything?” our savior, whom we later nicknamed Batman, asked. He wasn’t a plainclothes cop, as I’d originally thought; he was just an ordinary citizen who was tired of the criminals.
“A phone,” Marina responded.
“Sons of whores. These motherfuckers—they always come in twos. Cowards.”
The taxi driver drove us to the nearest police station. Two lethargic cops were the only people there. “We get ten of these a day, just in this precinct,” said one of them.
The other cop went over to check in his register. “Three before you today.” There are 319 armed robberies a day in São Paulo.
Everyone in this country has a story. Priscilla, whom I met the next day, has been robbed ten times. Once a kid held a piece of glass from a broken bottle to her neck. Another time she was in a home invaded by gunmen, and one of them held a gun to her head for forty minutes.
I had gotten off lightly—just my phone taken. I still had my wallet, thanks to Batman, and I wasn’t beaten or killed or kidnapped.
The cities of Brazil are some of the most violent places in the world today. More people are murdered in Brazil than in almost any other country. In 2010, there were 40,974 murders there—21 per 100,000 inhabitants, according to the United Nations Office on Drugs and Crime (UNODC), compared to the global rate of 6.9. The highest number of murders was in India, at 41,726. But India has a population six times bigger than Brazil’s, so its murder rate is only 3.4 per 100,000 inhabitants. (Italy, by comparison, had 529 murders that year, at a rate of 0.9.) Four Brazilian cities had a murder rate of over 100 per 100,000 residents. Between 5 percent to 8 percent of Brazilian homicides are solved—as compared to 65 percent of US murders and 90 percent of British murders. Most of the victims are male and poor, between fifteen and just shy of thirty. The homicide rate has shaved seven years off the life expectancy in the Rio favelas (slums).
And this year another form of violence started making the headlines, with several high-profile cases of rape in Rio, including that of an American woman in a moving public bus. Rapes in the city increased 24 percent last year, to 1,972 reported cases. Sociologists and police officials are at a loss to explain this trend in a country where women are free to dress as they please, whose laws are often held up as a model for combatting gender violence, and whose president, Dilma Rousseff, is a woman.
The violence done to humans parallels the violence visited on the environment. In the great swath of greenery that makes up a large part of the country, fires, logging, and ambitious agribusiness schemes continue to devastate the rainforest, in spite of—or perhaps because of—Rousseff’s changes in the forestry code first formulated in 1965. According to government figures, deforestation, which had declined by 84 percent in the eight years before August 2012, has shown a 35 percent increase since then.
The violence hasn’t prevented Brazil from emerging on the world stage as the preeminent country in Latin America. Next year, it will host the World Cup; two years after that, the Olympics. Between 2003 and 2011, Luiz Inácio Lula da Silva—“Lula”—Brazil’s remarkable president, brought about one reform after another that improved the country’s economy. Rousseff, his successor, was until the protests of this June favored to win a second term next year. Both she and Lula are from the center-left Workers’ Party. Now, while not growing as fast as it did in the days before the crisis of 2008, the economy is still the world’s seventh largest. Brazil in the 1950s was 85 percent rural and 15 percent urban. Today the figures are reversed: the country is 87 percent urban. It’s the fastest urbanization of any country in recent times.
Brazil is also a model for other developing countries looking to help the poorest of their citizens. “Bolsa Família” (family allowance), introduced by Lula in 2003, is a startlingly successful program in which the government pays small amounts of cash directly to poor families. Some of the benefits are tied to certain conditions that the recipients must meet, such as making sure their children attend school. It covers a quarter of all Brazilians, 50 million people. This has led to a 20 percent drop in income inequality in Brazil since 2001, when it was one of the most unequal countries on the planet. Thanks to Bolsa Família, Brazil’s middle class grew from 40 million to 105 million in the last ten years. This has created the world’s biggest lower-middle class.
Revolutions generally begin with the formation of a middle class, as recent events demonstrate. In June, protests in São Paulo over a ten-cent increase in bus fares swelled into the largest demonstrations since the fall of the dictatorship, drawing millions of people into the streets of all the major cities. They were protesting the lavish outlays on the World Cup and other sporting events at the expense of basic facilities for transport and education; endemic corruption in the Workers’ Party; the slowdown in the economy; and the high levels of violence in Brazilian society. Most of the protesters were young, college-educated, and unaffiliated with any political party.
The government tried hard to respond to the demonstrators’ wide-ranging grievances. The mayors of São Paulo and Rio rolled back the bus fares. Dilma Rousseff promised a referendum on a package of reforms including a shift from proportional representation to voting by district, which could mean more responsive governance in the favelas. The demonstrators, some of whom seek an outright cancellation of the World Cup, do not so far seem to be satisfied. Rousseff’s approval rating plunged from 57 percent in early June to 30 percent a month later.
The anger of the demonstrators arose partly from injustices that have persisted throughout Brazil’s history. Bolsa Família has done much to solve the problem of inequality, but not race. Half of the country is black, but blacks make up 70 percent of the poorest Brazilians. According to studies based on the 2000 census, an eighteen-year-old white Brazilian boy has, on the average, 2.3 years more education than an eighteen-year-old black boy. The father of a white boy also had 2.3 years more education than the father of a black boy. Sixty years ago, the grandfather of a white boy had 2.4 years more education. Practically everything else in the country has changed, but the educational disparity between white and black has remained stubbornly constant over three generations.
Brazilians like to think of themselves as a multiracial society, but a walk around the favelas of the cities demolishes this myth. Most of the residents are dark-complexioned, much darker than most of the rich who live by the water or in the suburbs, and darker than most of the young people who have recently been protesting in the streets. Over the last year and a half, I have been visiting São Paulo and, especially, Rio de Janeiro, observing the process of “pacification,” by which the government attempts to peacefully enter and reestablish state control over the most violent enclaves of the city, those dominated by drug gangs calledtraficantes, or by syndicates of corrupt police called militias. Until 2008, when the pacification program started, the traficantes controlled roughly half of the favelas, and the militias the other half. Both still hold power in most favelas. The ultimate aim of the state government of Rio’s plan, called the Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), or Police Pacification Unit, is to drive both of these groups out and replace them by the state.
Today, of Rio’s 6.3 million people, 1.4 million live in the favelas. There are some 630 of them, containing more than a thousand “communities.” The state government aims to “pacify” forty of these favelas by the time of the World Cup next year—a kind of demonstration effect that will get attention from visitors. Since the program started in 2008, thirty of the largest have been pacified—that is, they are under the control of the official police forces, not the drug dealers or the militias. In the past, the police would raid individual favelas, capture or kill the biggest drug dealers, and leave. They would soon be replaced by other dealers, and the violence would continue. “The new strategy is not to target individual drug dealers. It is to take back territory,” a high police official told me.
Under the UPP program, elite police units—and in some cases troops from the army and even the navy—invade the favelas and stay for up to three months. Then they are replaced by the regular police and squads of UPP civil servants. The UPPestablishes schools and garbage collection, brings in public and private companies to provide utilities such as electricity and television, and hands out legal documents such as employment and residency certificates. In the areas under its control, the UPP has set up community security councils, which attempt to mediate conflicts between local hotheads before they spread. The message is: the state is here to stay. So far, the program has generally been seen as a success, and was a major factor in the reelection of Sérgio Cabral in 2010 as the state governor backed by the Workers’ Party.
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baile funk, or street party, in the favela of Complexo da Maré, Rio de Janeiro, June 2011
One night in Rio, Walter Mesquita, a street photographer, took me to a baile funk, a street party organized by the drug dealers, in the unpacified favela of Arará. It was an extraordinary scene: at midnight, the traficantes had cordoned off many blocks, turning the favela into a giant open-air nightclub. One end of the street was a giant wall of dozens of loudspeakers, booming songs and stories about cop-killing and underage sex. Teenagers walked around carrying AK-47s; prepubescent girls inhaled drugs and danced. On some corners, cocaine was being sold out of large plastic bags. Everybody danced: grandmothers danced, children danced, I danced. It went on until eight in the morning.
Although such parties are officially prohibited in the pacified favelas because of their multiple breaches of the law, ranging from noise violations to exhortations to murder—even the music played there is called baile funk proibidão—the state and its forces were nowhere to be seen. The rival gangs were a bigger threat than the police. The three gangs that control much of Rio have remained more or less stable for the last couple of decades: the Red Command, the Third Command, and Friends of Friends. According to a top police official I spoke to, in a city of just over six million there are some thirty to forty thousand people in the gangs.
The day after the baile funk, I was flying in a police helicopter over Rio. It took us over Ipanema, a beach for the well-to-do, and the newly pacified favela of Rocinha. I asked if we could fly over Arará. The pilot pointed it out in the distance, and said he could not fly directly over it. He was concerned about getting shot down. A couple of years ago, the traficantes had brought down a police helicopter with antiaircraft guns. So the police cannot safely enter a large part of Rio by land or by air. This, too, is the future of many megacities in the developing world, from Nairobi to Caracas. There is a de facto sharing of power between the legitimate organs of the state and the gangs, the militias. Many people will die as the exact contours of this power-sharing are negotiated.
My friend Luiz Eduardo Soares told me a story about power in the favelas. He is an anthropologist who was the national secretary for public security in 2003. He also wrote the book Elite da Tropa (Elite Squad), a study of police brutality and corruption that was made into the most popular film in the history of Brazilian cinema. He made many enemies among corrupt politicians and police. In 2000, security forces found detailed plans to kill Luiz and his daughters—there were notes on when and where they would be going to school, and at what times. The planners were corrupt police officers. Luiz had to flee with his family, first to the US, and then when he returned to Brazil, to a state in the south of the country.
One night Luiz had a call from a man named Lulu, one of the top traficantes in Rio. Lulu was now old for the drug trade—in his thirties. He wanted to surrender; he wanted to give up the gangs and live to see his children grow up.
Luiz said that if Lulu came to see him he’d have to arrest him. Then he would be put away in a jail like Carandiru, where after a 1992 riot the police opened the gates and sprayed the inmates with gunfire, massacring 111 of them. Luiz hoped for the best for Lulu, but his prospects did not seem good. He was wanted both by the police and by rival gangs.
A little later, Luiz was in the far north of the country, in a traditional temple where they worship old gods, the ones who were here before the Portuguese. Luiz was praying when he felt a tap on his shoulder. He turned around and saw Lulu smiling at him.
“What are you doing here?” Luiz asked.
“I’m here to see my mother. I got away.”
Soon after that meeting, the Rio police found Lulu. It was stupid of him: the first place a wanted man runs to is his mother. Men came up in a jeep and, without arresting him, took him back to Rio, to his favela, to the police station.
According to Luiz, the chief of the local police appealed to Lulu: “We want you back. It’s been hell since you left. You kept the peace among the gangs. And besides, I need your money for my political campaigns. You have to get back to work, or else.”
So Lulu went back to work, selling coke and meth to the rich kids in the nightclubs of Copacabana and Ipanema. But he had tried to break away; the boys on the corner didn’t trust him, didn’t respect him as they used to. He couldn’t make the 300,000 reais the cops demanded each week.
So one day they came again for Lulu. The cops, Luiz told me, sat him down in a stone chair in an open area of the slum and, with the whole favela watching, shot him in the head. He was useful to the police only when he had power to share. Powerless, he was dead.
Mário Sérgio Duarte is the high police official who led the invasion of Alemão, one of the largest and most dangerous favelas in Rio. In an eight-day operation in 2010, the police found more than five hundred guns: 106 carbines, rocket launchers, bazookas, thirty-nine Browning antiaircraft guns.
“Pacification started with me,” he tells me in the bar at the top of my hotel. Duarte’s mother was a seamstress; his father was murdered in 1972 over a “personal dispute.” Duarte studied physics in college, but chose to join the police force. His T-shirt says, “Listen as your day unfolds.”
In the 1980s, cocaine started coming into the favelas from Colombia and Bolivia, accompanied by Eastern European AK-47s from Paraguay. A carbine, such as anAK-47 or M-15, now costs around fifteen or twenty thousand reais—$7,500 to $10,000. The traficantes have rocket launchers now, says Duarte, “better weapons than the police,” who have .38s and 9-millimeter revolvers. Each year, some fifty cops and around 1,500 traffickers are killed. Last year, over a hundred police in São Paulo were murdered by the drug dealers, and police promised to kill five “bad guys” for every cop killed.
The drug trade in just one favela, Rocinha, Duarte tells me, runs to around a million reais per week. But it’s not just drugs. The dealers run a parallel economy in pirated cable TV, phones, and moto taxis, and have their own systems of justice.
“We don’t expect drugs to be stopped, just the violence with the drugs,” Duarte says. The drugs these days are ecstasy, PCP, and crystal meth, coming in from Europe. He points to Santa Marta as an example of a pacified favela where drugs are still traded, but there are no visible weapons, “no king of the hill.”
The state government has increased the armed police force in Rio from 36,000 to 42,000, toward a target of 50,000. (Another 10,000 are in the “civilian police,” who don’t wear uniforms and don’t carry official weapons.) Their salaries start at 1,500 reais per month, and in six years go up to 1,900 reais. A policeman stationed in a pacified area gets another five hundred a month to help him fight the temptation to take bribes or join one of the violent syndicates—the militias—run by corrupt police.
Duarte calls the militias “the rotten product of the official order.” There are a couple thousand policemen in the militias, he estimates, along with firefighters and ex-soldiers. They started…
“…from 2006!” a waiter from Rocinha who has been listening while getting our drinks chimes in.
The militias don’t allow drug dealing by the traficantes, but they make money in protection, cable TV, transportation, loan sharking. “A trafficker is hell, a militia is purgatory,” Duarte says. The militias create unwritten, though widely obeyed, rules for neighborhoods: you can’t leave your home after a certain time; if you rape women, you’ll be killed publicly in a ceremony. Your radio can’t be too loud. The punishment is often torture or the death penalty. The militias sell arms to traffickers; they deal drugs when necessary; they employ guards who are former traffickers expelled from gangs.
The enemies of the militias are the elite police squad, the BOPE, created during the dictatorship to fight Marxists but then retrained for pacification. (BOPE stands for Batalhão de Operações Policiais Especiais, or Special Police Operation Battalion—the unit featured in Soares’s book Elite Squad.) Duarte, who led theBOPE for a time, had to try to convince the government that there was a distinctive kind of conflict in Rio: “not ethnic, not religious, not Marxist.” He likes to quote Plato and Hegel in casual conversation. When I later mentioned to aBOPE sergeant that I’d met Duarte, he said, with a mocking laugh, “Ah, the philosopher.”
Along with Marina, I went to meet some “bad guys” in the Parque União subdivision of the Maré favela complex by the port. Two of them meet us in an open-air bar, a twenty-one-year-old ex-traficante and a handsome young man of the same age who sings in a nightclub and acts as the master of ceremonies there. The drug dealer has a tattoo on his right forearm that reads “Emilly.” “Minha filha,” he explains—his daughter. She is seven years old, and he doesn’t want her to go to the baile funk where he picks up his women. “I would like my daughter to escape the statistics.”
When he was active in the gang, he killed people in gunfights, and doesn’t feel bad about it. “At that moment, I can’t afford to think, he might be a father just like me. I’d rather have his mother’s tears falling on his grave than my mother’s on mine.” He’s also been involved in robberies in the rich parts of Rio. After the robberies, he and his gang hijack a series of cars until they get safely back to the favela. He never robs in the favela. Only someone who’s on crack will rob here. This explains why I feel safer here than I did the previous night on the beach in Ipanema.
When the favela wants to have a baile, people steal two buses from the yard across Avenida Brasil and block off the street with them. At the baile they may hear about someone who will be killed by the end of the evening—someone who’s insulted the “owner of the favela”—the top traficante.
The two young men insist on escorting us to our van on the highway. At one point, there are three white metal bollards implanted into the road, turning it effectively into a pedestrian zone. “That’s for BOPE,” the trafficker explains. The police cars will find a surprise when they try to invade.
Their favela, they say, is to be pacified by the end of the week. It’s not that the young traffickers lack alternatives for employment, such as in Rio’s booming tourist industry. It’s that they won’t have the same level of luxury: “a gold chain as broad as a baby’s arm.”
The BOPE did invade the Maré complex—but not as part of the UPP process. During the June protests, robbers from the favela started looting shops along the Avenida Brasil. The BOPE was called in, and a sergeant chasing the robbers into the favela was shot dead. His colleagues erupted. By the time the smoke died down, eight residents of the favela—some of them young traficantes just like the one I had recently interviewed, others merely innocent bystanders—had been killed.
What is happening in the favelas of Rio is not so much pacification as legalization. The dictatorship that ruled from 1964 to 1985 was brought down after many years and great sacrifices. Everyone who was not connected to the junta was its victim. People rushed to spend their pay as soon as they got it in their hands, because by the afternoon it would be worth much less. When democracy came, everybody—the rich in Leblon and the poor in Rocinha—felt they should benefit from it, and in Brazil, for a time, most people did.
But in the favelas there was no democracy. The traffickers continued with their own dictatorship; the people of the favela still had great trouble getting access to the courts or casting a vote. Pacification is an attempt to interrupt a despotic process. It is, for the construction workers and ladies who sell feijoada—a black bean stew—in the slum, the final fall of the dictatorship.
During the last twenty years, the drug dealers took informal control of much of life in the favelas, including, most importantly, music, the cultural lifeblood of Brazil. “Our challenge is what will happen after the pacification,” I was told by Ricardo Henriques, who was until last year the head of the Instituto Pereira Passos, the government’s urban think tank that formulates policy for the UPP.
As Henriques rather optimistically sees it, the takeover of the favelas will happen in three phases. The first consists of the police moving in and denying the drug dealers the ability to do what they want, legally and culturally. The second: “It’s a little bit boring, the police are here.” The third phase consists of the state substituting for the prohibited culture an officially sanctioned culture, or at least culture that doesn’t continue to glorify rape and murder. “You do it in a creative manner,” explained Henriques. “No guns. Less erotic, but really creative. The music is not proibidão.”
For decades, the favelas have existed in a parallel system to the rest of Brazil. “The idea of the state is to stay there for the long, long term,” Henriques said. He wants to reduce the inequality between the favela and the rest of the city. “Our challenge is to integrate those areas into the city.”
If this schematic-sounding vision of pacification works—and the ongoing protests throughout the country are putting it in doubt—what would come after it? One night I went to a jazz club in the favela of Tavares Bastos, which had been pacified for a year, right below the headquarters of the BOPE. The rooms of the club were packed with sweaty bodies and heavy with marijuana smoke. If theBOPE wanted to find drugs it wouldn’t have to go far. But it will never come here, because these are people from the rich, white areas of Ipanema and Leblon. The only black people I could see were the saxophonist and my guide, the street photographer, who lived here.
“The people from the favelas can’t imagine themselves here,” said the photographer. The music was bebop and bossa nova, an American idea of the jazz that Brazilians listen to. No samba here, much less funk.
The club was opened five years ago. A beautiful white economist who works for a bank, wearing an expensive dress, told me she was already bored. “Two years ago there used to be more interesting people. Now I only see all the people I would see near the beaches.”
It costs fifty reais to get in; a beer is fifteen reais. On the way to the club, I passed a number of small cafés. In some, neighbors were enjoying beers that cost a third as much. In one, pleasantly overweight couples were dancing close together to samba. All the lights in the houses of the favela were out; it was after midnight. But the white patrons on their way to the jazz club were raucous, laughing, energized by the thrill of the expedition to this clandestine destination.
In Tavares Bastos, and in favelas like Cantagalo, with its easy access to the rich southern zone of Rio and increased security after the pacification, the residents are being forced out, not by violence, which they can live with, but by high rents, which will make living there impossible. Their right to live there was protected as long as it was illegal. After pacification, the biggest threat to longtime residents of the Rio favelas will come not from drug dealers, but from property dealers.
—July 11, 2013

Politica economica dos companheiros so beneficia os ricos - Marcos Mendes

Crescimento e desigualdade

Marcos Mendes
Blog Brasil Economia e Política, Instituto Fernand Braudel, 5/06/2013

O Valor Econômico publicou recentemente caderno especial que discutiu os motivos do baixo crescimento do país. Os diagnósticos apontam, corretamente, para uma combinação de alto e crescente gasto público, tributação elevada e complexa, baixa escolaridade, economia excessivamente fechada, infraestrutura precária e juros elevados. Se essas causas do baixo crescimento estão claramente identificadas há bastante tempo, por que o país não foi capaz de encaminhar a solução dos problemas? Reclama-se há anos da infraestrutura e as estradas continuam no buraco; os economistas estão roucos de apontar os malefícios do gasto público excessivo, e ele continua a crescer. Reforma tributária simplesmente não acontece…
Essa aparente inércia decorre do fato de que as causas acima apontadas são, em grande medida, consequência de uma característica histórica da sociedade brasileira: a desigualdade de renda e de patrimônio. Uma sociedade desigual é tipicamente composta por uma grande maioria de pobres e um pequeno grupo muito rico. Após à transição para a democracia, em 1985, a classe política gradativamente percebeu que a maioria dos votos está entre os pobres: sem atender os interesses imediatos desse grupo não se ganha eleição. Daí a expansão do gasto público e a dificuldade em conter seu crescimento: aumentos reais para o salário-mínimo, expansão da aposentadoria rural, universalização da saúde, etc. Iniciou-se vigorosa “redistribuição para os pobres”.
Por outro lado, os muito ricos dispõem de poder financeiro para influenciar as decisões governamentais, de onde decorrem: proteção comercial para a indústria, crédito subsidiado para empresas escolhidas a dedo, políticas de desenvolvimento regional capturadas pelos ricos das regiões pobres, fundos de pensão de estatais prontos a financiar projetos “geniais” de pessoas bem conectadas, agências reguladoras frágeis que facilitam a vida dos grupos regulados. Essa “redistribuição para os ricos” também custa dinheiro e pressiona o gasto público e a dívida pública, além de impedir a livre concorrência e envenenar o ambiente de negócios.
Nos primeiros anos da nova era democrática, essas pressões redistributivas (em favor dos pobres e dos ricos) foram financiadas pela inflação. Quando o custo desta alternativa se tornou insuportável para a sociedade, foi possível fazer avanços institucionais que resultaram em maior controle fiscal e monetário. Mas a desigualdade continuou pressionando o gasto público. Para manter o equilíbrio fiscal foi preciso jogar a tributação para as alturas e abandonar os investimentos em infraestrutura (que geram ganhos para todos no longo prazo, mas não são prioridade de curto prazo para nenhum dos dois grupos situados nos extremos da distribuição de renda). Ainda assim persiste significativo déficit público, que drena a poupança da sociedade e pressiona a taxa de juros para cima.
As causas imediatas do baixo crescimento, listadas no primeiro parágrafo são, na verdade, as consequências do caminho que a sociedade brasileira encontrou para evitar que a
desigualdade levasse à instabilidade política: os pobres são atendidos e não se revoltam, os ricos são atendidos e deixam de sonhar com golpes de estado. E graças a isso já temos quase trinta anos de estabilidade democrática. A Constituição de 1988 é a segunda mais longeva da história da República, perdendo apenas para a Carta de 1891, que ficou 43 anos em vigor.
Porém, no meio do caminho há uma classe média que não se beneficia dos gastos direcionados para os ricos e para os pobres, e que está sufocada por impostos, má infraestrutura, juros elevados e por ambiente de negócios inóspito, sem espaço para empreender e prosperar.
As perspectivas de longo-prazo tornam-se medíocres, pois no longo-prazo só se muda de patamar de desenvolvimento através do crescimento da economia.
A notícia positiva é que a desigualdade aos poucos vem caindo, em boa medida devido às políticas de “redistribuição para os pobres”. É possível que em alguns anos a chamada nova classe média passe a pressionar menos por redistribuição pró-pobres; aumentando sua demanda por políticas que facilitem a prosperidade da iniciativa privada, o que criaria suporte político para o controle do gasto público, racionalização tributária, etc. Nesse caso, o baixo crescimento de hoje seria o preço a pagar pelo maior crescimento no futuro.
Há, contudo, o risco de que o redistributivismo atual (para ricos e pobres) persista por muito tempo, e que o país viva décadas de baixo crescimento, o que pode até mesmo romper a estabilidade política, pois muitos anos de estagnação fará o cobertor ficar curto para atender às demandas dos extremos da distribuição de renda, além de saturar a paciência da classe média, que paga a conta do atual modelo.
Para evitar esse cenário negativo, e facilitar o caminho do país em direção a maior crescimento e maior igualdade, é necessário dar prioridade a políticas redistributivas pró-pobres mais eficazes e de menor custo. Investimentos em saneamento básico e educação fundamental, por exemplo, são bons para os pobres e para o crescimento econômico ao mesmo tempo. Reajustes elevados para o salário-mínimo, por outro lado, reduzem a competitividade das empresas e pressionam os gastos públicos. É verdade que tais reajustes redistribuem renda para os mais pobres, mas a um custo muito mais alto do que outras políticas, como o Bolsa Família, que além de mais barata tem maior impacto redistributivo. Subsidiar universidades de qualidade duvidosa para os jovens pobres talvez não seja tão eficaz quanto gastar mais em ensino fundamental para crianças pobres.
Tão desafiador quanto reorientar a política de redistribuição para os pobres é conter a redistribuição para os ricos. Não é fácil extinguir privilégios e reformar instituições: justiça lenta e enviesada, feudos políticos dentro da administração pública, corporações viciadas em subsídios públicos. É preciso fortalecer a democracia e a transparência, para que tais políticas percam legitimidade. E continuar martelando a necessidade das reformas institucionais.
Os óbices que a desigualdade impõe ao desenvolvimento não são uma armadilha inescapável. O Chile tem uma história de desigualdade bastante semelhante à nossa, mas encontrou caminhos produtivos para lidar com ela e fortalecer conjuntamente a democracia e a economia. O Brasil precisa encontrar o seu próprio caminho.
(Texto originalmente publicado no jornal Valor Econômico de 3 de junho de 2013.)
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