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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 4 de maio de 2014

Os interesses das nacoes - Roberto Fendt

Os interesses das nações e seus conflitos
04 de maio de 2014 |
Roberto Fendt* - O Estado de S.Paulo

No Iluminismo Escocês do século 18 acreditava-se que a busca dos interesses individuais geraria necessária e inevitavelmente a cooperação social. Os ganhos mútuos do comércio levariam à progressiva divisão do trabalho e ao aumento da produtividade do trabalho humano. Os ganhos das trocas voluntárias superariam a violência na vida privada e nas relações entre os países.
Um século depois, lord Palmerston, duas vezes primeiro ministro britânico, afirmava que "a Inglaterra não tem amigos eternos, a Inglaterra não tem inimigos perpétuos. A Inglaterra tem somente eternos e perpétuos interesses".
Esses interesses eternos e perpétuos de cada nação constituiriam um motor de conflitos entre elas? Até que ponto os ganhos mútuos do comércio atenuariam essa tendência aos conflitos?
Nas "décadas de ouro" entre os anos de 1870 e 1913, prevaleceu a mais ampla liberdade comercial e de fluxos de capital registrada na era moderna. Essa liberdade coexistiu com a maior interdependência conhecida entre as nações. Isso, no entanto, não impediu que ocorressem conflitos de grande escala, como a Guerra Franco-Prussiana ou a Guerra Russo-Japonesa de 1904-1905.
A partir da 2ª Guerra Mundial construímos um sofisticado arcabouço institucional que serviu de base para o espetacular crescimento do comércio e do investimento transfronteiras e que serviu de motor para o crescimento das economias que deles participaram.
Esse arcabouço se centra nas grandes instituições multilaterais que regem o comércio, financiam ajustes nos balanços de pagamentos e tornam mais seguros os investimentos entre os países.
Naturalmente, o arcabouço não está completo nem perfeito. Mas, sob os auspícios da Organização Mundial do Comércio, diversos acordos bilaterais e regionais dão substância às relações econômicas entre as nações que os subscrevem.
Esse é o caso do Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio. O mesmo se dá com o Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços e o Acordo sobre Aspectos do Direito da Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio, para ficar com somente alguns deles.
Os acordos regionais que incorporam essas disciplinas conferem segurança à nova fase da divisão internacional do trabalho. Nela, a produção se distribui em cadeias internacionais de valor em que as diversas partes de um produto final ocorrem em diferentes países, em razão da competitividade de cada um deles.
A participação nas cadeias mundiais de valor será cada vez mais importante para determinar se um país poderá ou não beneficiar-se desse novo mundo mais interligado hoje que na segunda metade do século 19. Aqueles países que não souberem ou puderem fazê-lo estarão limitados a exportar somente produtos de menor valor agregado.
Há em muitas partes um sentimento de que a maior integração econômica sofrerá com o aumento dos conflitos. Para muitos a divergência entre maior cooperação no campo econômico e o dissenso político aumentará. Como exemplo citam o fato de que as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos contra a Rússia lançarão o país em severa recessão, com claras implicações para a Europa e a economia mundial como um todo.
Na década de 1930 o colapso do comércio mundial e a exacerbação do nacionalismo levou à prática generalizada do protecionismo comercial de cada nação contra todas as demais. Esse retorno à autarquia econômica foi um dos principais responsáveis pela depressão e miséria que levou à 2ª Guerra Mundial.
Devemos o marco institucional que hoje temos a esses eventos e ao compromisso de que não repetiríamos os erros do passado. O crescimento econômico que resultou da expansão do comércio e dos investimentos evitou que um novo conflito de grandes proporções voltasse a ocorrer. Não há razões para crer que os eternos e perpétuos interesses das nações não venham a prevalecer sobre suas atuais divergências e conflitos, passageiros e transitórios.
*Roberto Fendt é diretor executivo do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). 

Eleicoes 2014: PT comeca campanha sem saber o que fazer - Veja

Por Bruna Fasano, na VEJA.com, 3/05/2014

Um dia depois do encontro do PT que oficializou o nome da presidente Dilma Roussef, com presença do ex-presidente Lula, em São Paulo, o partido divulgou neste sábado um documento com as definições sobre a tática eleitoral para vencer o pleito de outubro. O texto traz também o que se parece com uma lista de diretrizes para um segundo mandato de Dilma – e quarto dos petistas. A tônica do encontro, como se viu na sexta-feira, ainda é a de abafar o ‘Volta, Lula’, que ganhou coro em setores da sigla.

Em número e importância de caciques petistas, o segundo dia de encontro na capital paulista foi menos prestigiado. Com plateia bastante esvaziada, poucos delegados do partido discursaram. A presença de Rui Falcão, presidente nacional da legenda, teve como objetivo manter os representantes regionais unidos e buscou reforçar o sentimento de que Dilma ainda é a melhor opção para manter o governo em mãos petistas.
Uma brochura entregue aos delegados, para que estes passem adiante as decisões do encontro, traz definições sobre a tática eleitoral e a política de alianças para 2014. O documento reconhece que a disputa eleitoral deve resultar em ataques ao desempenho do governo Dilma, já bastante criticado. Como é tradição no partido, a imprensa foi responsabilizada pela perda de popularidade da presidente. “Setores da mídia monopolizada, que funciona como verdadeiro partido de oposição, representam um projeto oposto”, diz um trecho do documento. Em outro parágrafo, o texto pede que o partido deve “apoiar incondicionalmente” o projeto de continuidade, e, ainda assim, “manter e manifestar o desejo de mudança”. Ou seja, internamente, o PT acredita ser possível convencer o eleitor de que o jeito de mudar é manter as coisas como estão.
No programa de governo há um ataque indireto ao pré-candidato do PSB ao Palácio do Planalto, Eduardo Campos. “As oposições estão estagnadas, sem discurso consistente, sem programa. Não escondem a disposição de abandonar as políticas de emprego e de renda dos governos Lula e Dilma. Reivindicam a “autonomia” do Banco Central (autonomia em relação a quem?)”
Também pré-candidato, o senador tucano Aécio Neves (MG) não foi poupado. “A oposição anuncia ‘medidas amargas’, ‘impopulares’, caso venham a ser eleita (…) Amargas para quem?”, diz outro trecho da brochura. Neste ponto, o PT faz referência à entrevista concedida por Aécio Neves em abril, quando o pré-candidato do PSDB afirmou não temer “medidas amargas” e disse que, se eleito, não se tornaria refém de avaliações impopulares.

Caso Padilha
 Ao final do evento, Falcão falou a jornalistas sobre a candidatura de Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, ao governo de São Paulo. “Não cogitamos substituir o candidato, até porque não há nenhum motivo para isso”, afirmou. Padilha vive um momento turbulento, com nome ligado constantemente a figuras presas e investigadas pela operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Entre os “amigos ocultos” revelados pela investigação está o doleiro Alberto Youssef, dono de uma empresa de fachada – o laboratório Labogen – que firmou contrato com o Ministério da Saúde na gestão do petista à frente do Ministério da Saúde. Entre os líderes petistas que participaram do encontro neste sábado estavam o líder do PT na câmara, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, o deputado federal Paulo Teixeira e o senador Eduardo Suplicy – todos de São Paulo.

O presidente nacional do PT passou boa parte do evento nos bastidores, articulando com alas radicais e minimizando os resultados das últimas pesquisas eleitorais que apontam que o desempenho de Dilma não é animador. Na última análise divulgada, 49,1% dos entrevistados desaprovaram o desempenho pessoal da presidente. Alas radicais dizem que o partido deveria ir às ruas protestar contra a prisão dos mensaleiro presos no julgamento da ação penal 470 – única forma que o PT se refere ao mensalão. E, em documento, defendem que José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha são representantes legítimos do PT, embora Lula tenha afirmado em entrevista recentemente que eles não seriam de sua ‘confiança’.
A necessidade de acalmar as correntes radicais mostra, mais uma vez, o tamanho do racha interno que atormenta o partido e o governo. Conhecido por embates internos intensos, o PT, cujo comando tentou nos últimos dois dias demonstrar união em torno do nome de Dilma, termina o evento sem a certeza de que sepultou o ‘Volta, Lula’. Apesar do esforço, mais importante do que o discurso oficial seria reverter a tendência de queda de Dilma, mantida nas últimas três pesquisas eleitorais.

Mais irracionalidades governamentais: debate com Gustavo Franco e Helio Beltrao - Instituto Mises Brasil

“Nossa cultura nacionalista e protecionista nos faz muito mal”, diz Gustavo Franco

O presidente do Conselho de Governança do Instituto Millenium, Gustavo Franco, participou de um bate-papo sobre economia com o presidente do Instituto Mises Brasil, Helio Beltrão, e o diretor do Instituto Liberal do Nordeste, Raduán Melo, no 27º Fórum da Liberdade, realizado em abril, em Porto Alegre.
No encontro, promovido pelo “Liberzone”, site que discute política e liberdade, os três debateram perspectivas para a economia brasileira em ano de eleição. Para Franco, o atual governo destruiu o tripé macroeconômico e apenas se esforça para que a situação fiscal brasileira não se revele desastrosa. “Nós não temos mais metas de inflação. O objetivo é apenas não ultrapassar os 6,5% do teto antes da eleição”. Franco também criticou o forte intervencionismo do Banco Central no mercado e a proximidade do governo com regimes bolivarianos. “Nossas conexões com a globalização estão precárias”, lamentou.
Assista ao vídeo na íntegra:

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Politica economica companheira: aumenta a irracionalidade, e osprejuizos - Merval Pereira

Nau dos insensatos

As intervenções pontuais do governo em setores da economia têm provocado consequências maléficas em outros, como, por exemplo, na questão elétrica. Ou na redução forçada dos juros, que acabou sendo revertida pela realidade, e hoje temos juros mais altos do que antes, para tentar controlar a inflação crescente. Querendo reduzir compulsoriamente a tarifa de energia, o governo praticamente obrigou as empresas a aceitar uma renovação de contratos em novas bases, provocando prejuízos e impedindo que investimentos necessários fossem feitos.
As tarifas acabaram não caindo como o prometido em um pronunciamento propagandístico na televisão, e o governo está com um problema para o Tesouro enfrentar, que pode chegar a R$ 50 bilhões segundo algumas estimativas. O desequilíbrio financeiro em consequência da Medida Provisória 579, de 2012, já obrigou o governo a colocar R$ 18 bilhões no setor, para financiar a redução arbitrária da tarifa, afetando as contas públicas.
O malabarismo para financiar outros R$ 11 bilhões está provocando uma crise na Câmara de Compensação de Energia Elétrica (CCEE), com diretores pedindo demissão por não concordarem com essa contabilidade criativa, o que pode obrigar o Tesouro a garantir de alguma maneira esse empréstimo, anulando a tentativa de não aumentar o rombo nas contas públicas.
Depois desse imbróglio todo, ainda restará para o próximo governo um tarifaço e o perigo de um apagão. Caminhamos para uma situação semelhantes à ocorrida em 1998, com sinais trocados. Naquele ano de reeleição, o governo Fernando Henrique Cardoso adiou o mais que pôde a desvalorização do Real, que acabou vindo em janeiro de 1999, no primeiro mês do segundo mandato.
Prometer que a tabela do Imposto de Renda será reajustada no próximo ano no mesmo dia em que terminava o prazo para a declaração do IR deste ano parece uma burla ao cidadão comum
Agora, o governo tenta adiar um programa de racionamento de energia para não sofrer eleitoralmente, mas todos os especialistas advertem que se nada for feito o racionamento virá, com mais força, já em novembro deste ano, um mês depois de fechadas as urnas, seja quem for o eleito.
Uma herança maldita que Dilma pode estar deixando para si mesma, assim como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, retarda uma campanha de racionalização do uso da água em São Paulo, para não ter prejuízos nas urnas. Corremos o risco de ter, fechadas as urnas, apagão de energia e água.
Tudo isso para dizer que soluções atípicas, como as que a presidente Dilma anunciou em cadeia nacional de rádio e televisão na véspera do Dia do Trabalho, não significam medidas racionais para o bem da população, e acabam produzindo efeitos contrários.
Mesmo a carga positiva que essas medidas populistas possam trazer para uma candidatura em risco é duvidosa. O aumento de 10% para os integrantes do Bolsa Família não fará com que mais beneficiários do plano votem em Dilma, a grande maioria já deve estar com ela. Mas fortalece a percepção do restante da população de que o programa social é utilizado como arma eleitoral, e aumenta o rombo nas contas públicas.
Prometer que a tabela do Imposto de Renda será reajustada no próximo ano no mesmo dia em que terminava o prazo para a declaração do IR deste ano parece uma burla ao cidadão comum. Além de o reajuste anunciado ser inferior à inflação, não parece lógico que o governo tome uma decisão dessas em ano eleitoral, para valer em um mandato que pode não ser o seu.
A garantia de continuar, além de 2015, com uma política de reajuste do salário mínimo com ganhos reais é uma vantagem para a candidatura governista, que os oposicionistas só equipararão caso a campanha eleitoral entre numa corrida demagógica que vencerá aquele que prometer mais coisas impossíveis de cumprir. Essa política, aliás, está sendo questionada no Supremo Tribunal Federal.
O que se desenha ao final é um quadro de irresponsabilidade fiscal que se agrava com o populismo eleitoral. Como as medidas anteriores, essas também terão consequências indiretas em vários outros setores, provocando a alta da inflação futura e a necessidade de aumentar os juros mais ainda, neutralizando os benefícios que porventura trouxessem aos trabalhadores do Brasil. E assim a nau dos insensatos navega em águas turbulentas.

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O Brasil avestruz dos petistas e as multinacionais brasileiras - Marcos Troyjo

Ataque às multis brasileiras

Das 15 maiores economias do mundo, a do Brasil é a menos internacionalizada, tanto pelo pequeno número de empresas nacionais com presença no exterior como pela baixa participação no comércio mundial.
A insularidade incomoda há tempos. Desde que descoberto por Cabral há 514 anos, se excetuarmos os ciclos de commodities (cana-de-açúcar, café, etc.), raramente o Brasil contabilizou exportações superiores a 15 % do PIB.
A Suécia tem 10 milhões de pessoas e 200 empresas multinacionais (EMNs) O Brasil, 200 milhões de pessoas e apenas duas dúzias de companhias com atuação verdadeiramente global. A dimensão do mercado interno não é desculpa. Os EUA têm a mesma porcentagem do PIB ocupada pela soma de exportações e importações (cerca de 22%) que o Brasil — e dispõem de milhares de EMNs nos mais diversos portes e setores.
Dentre as economias mais avançadas do Ocidente ou mesmo aquelas da Ásia-Pacífico de maior crescimento relativo, a internacionalização é marcante. Japão, Coreia do Sul e China transformaram-se em “Nações-Comerciantes”. Fortaleceram o elo entre elevadas fatias do comércio mundial e EMNs robustas.
Já países como a Suíça contam com “empresas-rede”. A Nestlé é bom exemplo. Grande parte de sua atividade industrial e 98% da receita vêm de fora do país.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade.
Para empresas nacionais com vocação internacional, os obstáculos são complexos. O oneroso “Custo Brasil” atravanca a operação no país-sede. A não-participação brasileira em acordos plurilaterais de comércio e investimento inibe a presença de nossas companhias em redes produtivas globais.
Há, assim, elo indissociável entre maior internacionalização e aprimoramento da competitividade
É nesse contexto que parece particularmente esdrúxula a MP 627 aprovada pelo Governo, sobretudo a taxação de 35% sobre lucros oriundos de atividades no exterior. Trata-se de mais um fardo a erodir a posição competitiva de EMNs brasileiras em terceiros mercados.
A implantação de tal medida evidencia a ausência, por parte do governo, de qualquer rumo estratégico voltado à inserção competitiva do País no cenário global.
É gritante sua incoerência com a prática de financiar internamente empresas “campeãs nacionais” com créditos facilitados que, a cada ano, superam recursos destinados a programas de alívio da pobreza como o Bolsa-Família.
Assim, em vez de maior competitividade externa, o resultado é o aumento do grau de oligopolização do mercado interno e maior vulnerabilidade de empresas nacionais ante possíveis aquisições por parte de EMNs estrangeiras.
O discurso oficial brasileiro alardeia que nas últimas décadas o país conseguiu estabelecer três pactos: o da democracia (desde a segunda metade dos anos 80); o da estabilidade (com o Plano Real) e o da inclusão social (com as políticas de assistência social do período Lula-Dilma).
Seria agora o momento de um novo pacto (o da competitividade). No entanto, com medidas que cortam as asas da internacionalização brasileira, esse quarto pacto tem tudo para não sair do chão.

Socialismo da pobreza: deputado do PT quer eliminar a riqueza, e disseminar a estupidez economica

O mais incrível é que estupidezes desse tipo ocupem o trabalho de comissões e de parlamentares.
Delirante, não é mesmo? Mas o PT abriga gente rústica como esse deputado.
Mas observem que a questão de fundo é a mesma que anima os defensores da última novidade editorial, que tanto encanta os socialistas: O Capital no Século XXI, de Thomas Piketty, que acha que a riqueza está muito concentrada e que o Estado deve atuar para redistribui-la.
Se o PT ganhar, teremos, não o projeto estúpido desse deputado, mas o imposto sobre as grandes fortunas (um projeto socialista de FHC) e a nova taxa de transações financeiras supostamente para a saúde.
E já temos a burrice dos 10% do PIB para a educação: vão gastar mais com uma escola que vai continuar ruim, aliás deve piorar, pois isso reforçará as máfias sindicais de professores.
Paulo Roberto de Almeida

15/04/2004 

Projeto da poupança fraterna começa a ser analisado

A Câmara vai iniciar a análise do Projeto de Lei Complementar 137/04, do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), que estabelece um limite máximo de consumo e a criação de uma "Poupança Fraterna", pela comissão de Finanças e Controle. O projeto estabelece que, durante sete anos, haverá um limite máximo de consumo mensal que cada pessoa poderá utilizar para seu sustento e de seus dependentes residentes no País. Este limite será calculado de acordo com a renda per capita nacional mensal calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o IBGE, em 2003, a renda per capita anual era R$ 8.565, o que significa cerca de R$ 713 ao mês.
Pelo projeto, a parcela dos rendimentos, que exceder o limite de consumo, será depositada, a título de empréstimo compulsório, em uma conta especial de caderneta de poupança, em nome do depositante, denominada Poupança Fraterna.

Distribuição de renda
O objetivo do projeto, segundo o autor, é fortalecer os valores humanísticos de fraternidade, liberdade e igualdade, que facilitarão e possibilitarão a todos os brasileiros acesso aos bens essenciais. Na avaliação de Fonteles, a proposta promoverá também a inclusão social e econômica da parcela da população que hoje possui baixa capacidade de consumo. "A fome em que vivem milhões de seres humanos deve-se à má distribuição da renda e da riqueza, e não à escassez de alimentos", defende o deputado.

Poupança
O projeto estabelece que os depósitos da “poupança fraterna” poderão ser feitos no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica Federal, a critério do titular da conta. A proposta também prevê a livre movimentação dos recursos pelo titular entre as duas instituições financeiras. Os recursos aplicados serão remunerados com juros equivalentes à 50% dos depósitos efetuados em caderneta de poupança.

Devolução
Os recursos aplicados serão devolvidos aos poupadores ou seus herdeiros nos 14 anos seguintes ao término do prazo de poupança, em prestações mensais equivalentes à metade de cada um dos depósitos realizados. Haverá, no entanto, as seguintes hipóteses de saques extraordinários dos valores depositados: 
1. morte do titular;
2. aquisição de casa própria para fins de residência permanente, limitado a R$ 200 mil; e
3. tratamento de doença grave do titular, do cônjuge ou dependentes diretos; 

Gestão
O projeto prevê a criação do Conselho Nacional de Poupança Fraterna (CNPF), a quem caberá a gestão da Poupança Fraterna. O conselho terá, entre outros, os seguintes integrantes:
1. ministro de Desenvolvimento Social e Combate à Fome, que o presidirá; 
2. representantes dos Ministérios da Saúde; Educação; Planejamento; Meio Ambiente; e Ciência e Tecnologia; 
3. representantes de centrais sindicais e confederações; 
4. representantes de entidades de classes; e
5. representantes do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. 

Segundo o texto apresentado, poderão ser criados, conforme demandas regionais e locais, Conselhos Estaduais e Municipais da Poupança Fraterna, que atuarão em articulação com o Conselho Nacional.

Sonegação
O PLP prevê multa equivalente a duas vezes o valor sonegado, além de juros de mora nos casos em que o correntista não depositar, na Poupança Fraterna, o excedente ao limite máximo de consumo. Além disso, terá seu nome inserido no Cadastro da Dívida Ativa da União, pelo valor correspondente a duas vezes o valor sonegado

O projeto será relatado pelo deputado João Leão (PL-BA). Após a avaliação da Comissão de Finanças e tributação, a proposta será apreciada pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Em seguida, seguirá para o Plenário. 

Economia mundial: acabou-se o que era doce (para o Brasil) - Pedro da Motta Veiga, Sandra P. Rios

O avestruz num mundo em transformação
Pedro da Motta Veiga e Sandra Polónia Rios*
O Estado de S.Paulo, 02 de maio de 2014

As tendências que ganham força no quadro econômico e político internacional apontam para um cenário muito diverso da bonança que tanto beneficiou o Brasil na primeira década do século. Independentemente dos contornos precisos que o cenário global adquirirá nos próximos anos, as margens de manobra de um país com as características do Brasil serão, daqui até pelo menos o fim dos anos 10, muito mais estreitas do que as vigentes no período anterior à eclosão da crise.
Já há a percepção difusa da emergência de um mundo marcado por mais riscos do que oportunidades para o Brasil. As preocupações com o "isolamento" internacional da economia brasileira e as críticas ao atrelamento das posições brasileiras em negociações comerciais às preferências argentinas são expressões dessa percepção. Mas, em geral, a percepção de riscos e ameaças é genérica e com frequência "transborda" para visões quase apocalípticas do futuro que nos espera num mundo mais hostil.
Não é para tanto, mas o que vem por aí é, de fato, preocupante. Senão vejamos. Não se esperem mais da China os bônus gerados por espantosas taxas de crescimento e pela disparada dos preços de commodities. A China em transição para um modelo de crescimento baseado mais no consumo doméstico do que em investimentos e exportações continuará a demandar as commodities exportadas pelo Brasil - provavelmente mais as agropecuárias que as minerais -, mas crescerá menos e não produzirá o choque externo positivo que nos proporcionou na primeira década do século.
Mesmo com taxas anuais que serão uma fração (minoritária) daquelas observadas há menos de dez anos, o crescimento da China continuará a ser uma estrela de primeira grandeza num mundo marcado pelo baixo crescimento. Este já está contratado para os próximos anos na União Europeia e seria irrealista esperar uma vigorosa recuperação dos EUA no curto prazo.
De seu lado, o vigoroso crescimento dos emergentes esbarrou em limites estruturais e em obstáculos políticos. Nesse processo, percebeu-se que o tal crescimento vigoroso dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foi um fenômeno principalmente chinês. À exceção da China, o principal desafio dos Brics é a volta ao crescimento sustentado nos próximos anos, o que supõe o enfrentamento de uma agenda de reformas domésticas econômica e politicamente complicada. Difícil imaginar que esses países (exceção feita à China, mais uma vez) venham a dar, nos próximos anos, contribuição muito relevante para o crescimento global.
Não bastassem essas evoluções, as negociações comerciais preferenciais - quase um anátema para a política externa brasileira, quando não se trata de Mercosul e congêneres - voltaram à agenda dos principais atores da economia internacional. A China tece gradualmente sua rede de acordos, principalmente na Ásia e na América do Sul, mas a
principal novidade, aqui, é a negociação dos acordos ditos megarregionais - o TPP, envolvendo os EUA e diversos países da Ásia-Pacífico; e o TTIP, envolvendo EUA e União Europeia.
Como o foco principal dessas negociações são regras e disciplinas aplicáveis a um grande número de temas, há a preocupação - não de todo injustificada, mas certamente exagerada - de que países que não participam das negociações estarão virtualmente excluídos dos grandes mercados do mundo.
Ainda que a conclusão desses acordos possa ser mais difícil do que fazem crer seus patrocinadores, há um forte movimento na direção da convergência de regras comerciais, que moldará crescentemente os fluxos de comércio de bens e serviços. Essa convergência tem motivações econômicas, mas também segue lógica geopolítica, que vem ganhando peso depois da intervenção russa na Ucrânia.
Diante dessas evoluções, o governo brasileiro tem adotado a postura do avestruz e torce para que alguma "força maior" detenha as mudanças em curso no mundo. O Brasil não aproveitou o período de bonança para se preparar para tempos mais difíceis. Ante o novo cenário, o País estará diante da alternativa de (mais uma vez) se proteger de um mundo pouco amigável com políticas de isolamento ou de adotar políticas ativas de revisão e modernização de suas relações econômicas internacionais.

*Pedro da Motta Veiga e Sandra Polónia Rios são diretores do Centro de Estudos de Integração Econômica (CINDES).

sábado, 3 de maio de 2014

Turismo Sem Fronteiras Para Monoglotas

O que mais surpreende é que os monoglotas acham que o governo, isto é, todos nós, precisamos pagar cursos de linguas indefinidamente. 
Turismo Sem Fronteiras?
Paulo Roberto de Almeida

Alunos do Ciência sem Fronteiras foram orientados a racionar alimentos

Um grupo de estudantes brasileiros que foram selecionados pelo programa federal Ciência sem Fronteiras para estudar no Canadá e tiveram as bolsas cortadas começou a retornar nesta semana ao Brasil, reclamando do tratamento recebido. Sem dinheiro, contam que foram orientados a "racionar alimentos".
Luana Monteiro Leite, 27, e Rondinelly Guimarães, 23, estavam entre os 80 estudantes do Ciência sem Fronteiras que estavam no Canadá -há mais deles 30 na Austrália- e que foram chamados de volta ao Brasil por não terem atingido o nível de proficiência no inglês necessário para serem aceitos pela universidade de sua escolha. Os estudantes começaram a chegar no Brasil nesta semana.
Esses alunos foram selecionados pelo programa para cursar um período de sua graduação em uma universidade de Portugal. Mas o edital foi cancelado e eles foram transferidos para o Canadá, onde chegaram em setembro, para realizar seus estudos.
Weimer Carvalho/Folhapress
Rondinelly Guimarães, 23, bolsista do Ciência Sem Fronteiras, que retornou ao país
Rondinelly Guimarães, 23, bolsista do Ciência Sem Fronteiras, que retornou ao país
Como o nível de inglês desses estudantes era insuficiente para ingressar diretamente em uma universidade do Canadá, foi estabelecido, inicialmente, que eles fariam um curso de inglês até janeiro, quando realizariam testes. Os que não obtivessem a nota necessária continuariam o curso e fariam novo teste em março ou abril.
Os estudantes contam que houve apenas o primeiro teste, em meados de janeiro, e que aqueles que não obtiveram a nota tiveram a bolsa cortada e receberam a ordem de voltar ao Brasil.
"No começo foi um sonho, mas, depois de todas as injustiças, é como se tivéssemos recebido uma punhalada nas costas", diz Luana.
O momento mais tenso ocorreu em dezembro de 2013, quando a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) atrasou por quase um mês o pagamento das bolsas.
Após relatarem dificuldades financeiras, os estudantes receberam, em 4 de dezembro, um e-mail de Nathalí Rosado, coordenadora do CBIE, órgão que gerencia o programa no Canadá, dizendo: "Racionem a sua alimentação, mas não excessivamente (isto é, não cessem de comer)".
No mesmo e-mail, Rosado recomendou que os estudantes fossem ao banco de roupas e alimentos da Universidade de Toronto para receberem uma cesta de comida gratuita.
"Foi um período em que tivemos de racionar comida mesmo", diz Rondinelly. Luana e Rondinelly recorreram ao banco de alimentos mais de uma vez.
CRITÉRIO DE RETORNO
Ela conta que alunos da mesma turma que obtiveram notas idênticas àqueles que estão voltando continuarão no Canadá, estudando inglês até setembro.
Os estudantes questionam também a falta de critério para decidir sobre quem ficaria ou voltaria.
Documentos obtidos pela Folha mostram dois resultados dos testes realizados em janeiro, uma aluna que obteve a nota 56 no teste TOEFL IBT foi convocada pela Capes para retornar, enquanto um aluno que obteve a nota 45 no mesmo teste recebeu o aceite da Universidade de Toronto. A Capes disse que não discute casos de alunos específicos.
Rondinelly e Luana dizem considerar o programa positivo, apesar de tudo. "Mas não podemos ficar calados diante da falta de planejamento e de compromisso", diz Rondinelly.
Eles tentarão retomar a vida universitária no Brasil, mas como o semestre letivo já iniciou há dois meses, só devem conseguir retornasr às aulas em agosto. 

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Eleicoes 2014: mau inicio para os companheiros


Público vaia petistas e atira latas durante festa da CUT em SP
Prefeito Fernando Haddad foi embora sem discursar
Ex-ministro da Saúde e pré-candidato ao governo paulista, Alexandre Padilha fez apenas saudação
por LINO RODRIGUES, 01/05/14

SÃO PAULO - Políticos petistas como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), o pré-candidato ao governo do estado Alexandre Padilha (PT) e o ministro Ricardo Berzoini foram impedidos de fazer os discursos programados para a festa do 1º de Maio, liderada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), Central dos Trabalhadores (CTB) e Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), na tarde desta quinta-feira, no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo. O público vaiou e atirou papéis, latas e garrafas em direção ao palco todas as vezes que os nomes de políticos foram anunciados.
Pela programação do evento em comemoração pelo Dia do Trabalho, os discursos políticos deveriam durar uma hora, mas acabaram abreviados em poucos minutos. O primeiro a subir no palanque seria Haddad. Mas tão logo seu nome foi anunciado pelo apresentador do evento, o público, estimado em 3 mil pessoas segundo a Polícia Militar (80 mil pessoas de acordo com a organização), começou a vaiar e a arremessar objetos. Indignado, o prefeito foi embora sem sequer falar com a imprensa.

O apresentador tentou acalmar o público exaltado durante vários momentos, pedindo calma várias vezes, e chegou a dizer que “o ato político era importante”. O ministro de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, também foi recebido com vaias e impedido de discursar.
No momento de anunciar Alexandre Padilha, o locutor não o apresentou como pré-candidato, apenas como ex-ministro. Padilha, ao pegar o microfone, logo lançou uma pergunta: - Quem é contra o racismo?. As pessoas ergueram os braços e Padilha aproveitou o momento e resumiu seu discurso à saudação única “bom dia, boa tarde e boa noite”. E logo deixou o palco e foi embora.
O senador petista Eduardo Suplicy também só agradeceu o público e a festa seguiu com os shows programados. 

Putin post-communist, or post-fascist; may be, de facto fascist - Jan Fleischhauer

Opinion: Putin's Not Post-Communist, He's Post-Fascist

By Jan Fleischhauer
Der Spiegel, May 2nd, 2014
Russian President Vladmir Putin: "Death is horrible, isn't it?"
Some like to idealize Vladimir Putin as the ideological successor to the 
left-wing Soviet leaders, but that's sheer nonsense. His speeches 
offer clear evidence that his points of reference originate in fascism. 
Russian President Vladmir Putin: "Death is horrible, isn't it?"Zoom

In order to understand Vladimir Putin, you have to listen to him. You have to read what he wants. More importantly, though, you have to see what it is that he is seeking to prevent. Often, a politician's fears and aversions can be more telling than his or her plans and promises.
So what is it that drives Putin? The central theme of all his speeches is the fear of encirclement -- the threat represented by powers that want to keep the Russian people down because they fear its inner strength. "They are constantly trying to sweep us into a corner because we have an independent position, because we maintain it and because we call things like they are and do not engage in hypocrisy," he said in a March 18 speech before the Duma. In a television interview in April, he said: "There are enough forces in the world that are afraid of our strength, 'our hugeness,' as one of our sovereigns said. So they seek to divide us into parts."
A Threat to the Russian Soul
There remains a tendency to view the Kremlin's foreign policy primarily from a geopolitical perspective -- namely that the country is seeking to recover some of the territory it lost when the Soviet Union dissolved. But when Putin speaks of the enemy of the Russian people, he is speaking about something deeper and more basic. The forces against which he has declared war are not only seeking to expand their influence further and further into the East -- they are also going after the Russian soul. That's what he means when he says that Russia must put up a fight against the West.
But what's at the heart of this soul? Putin has provided some insights here as well. "It seems to me that the Russian person or, on a broader scale, a person of the Russian world, primarily thinks about his or her highest moral designation, some highest moral truths," he said in the interview. In contrast to this is a West that is fixated on personal success and prosperity or, as Putin states, the "inner self." In the view of its president, the battle Russia is waging is ideological in nature. It is a fight against the superficiality of materialism, against the decline in values, against the feminization and effeminacy of society -- and against the dissolution of all traditional bonds that are part of that development. In short, against everything "un-Russian."
Even today, many are having trouble recognizing the true nature of a man who is currently in the process of turning the European peace order on its head. Perhaps we don't have the courage to make the right comparisons because they remind us of an era that we thought we had put behind us. Within Germany's Left Party and parts of the center-left Social Democrats, Putin is still viewed as a man molded in the tradition of the Soviet party leader, who stood for an idealized version of Socialism. The old knee-jerk sense of solidarity is still there. It is based on a misunderstanding, though, because Putin isn't post-communist. He's post-fascist.
A search for the right historical analogy should focus on the events of Rome in 1919 rather than Sarajevo in 1914. It won't take long for those who step inside the world of echo chambers and metaphors that color Putin's thinking to identify traits that were also present at the birth of fascism. There's Putin's cult of the body, the lofty rhetoric of self-assertion, the denigration of his opponents as degenerates, his contempt for democracy and Western parliamentarianism, his exaggerated nationalism.
Enemies of freedom on the far right in Europe sensed the changing political climate early on. They immediately understood that, in Putin, someone is speaking who shares their obsessions and aversions. Putin reciprocates by acknowledging these like-minded individuals. "As for the rethinking of values in European countries, yes, I agree that we are witnessing this process," he told his television interviewer last Thursday, pointing to Victor Orban's victory in Hungary and the success of Marine Le Pen in France. It was the only positive thing he had to say in the entirety of a four-hour interview.
An Historic Mission for the Russian People

When they were first introduced one year ago, people also failed to recognize the true meaning of Russia's new anti-gay laws. But today it is clear that it marked the emergence of the new Russia. What began with an anti-gay law is now continuing at another level: The logical progression of the belief that certain groups are inferior is the belief in the superiority of one's own people.And when Putin evokes the myth of Moscow as a "Third Rome," it is clear he is assigning the Russian people with an historic mission. Responsibility is falling to Russia not only to stop Western decadence at its borders, but also to provide a last bastion for those who had already given up hope in this struggle. But he is also saying that Russia can never yield.
"Death is horrible, isn't it?" Putin asked viewers at the end of his television appearance. "But no, it appears it may be beautiful if it serves the people: Death for one's friends, one's people or for the homeland, to use the modern word." That's as fascist as it gets.
Jan Fleischhauer is the author of SPIEGEL ONLINE's weekly conservative political column.