O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

VIII Colóquio Brasileiro em Economia Política dos Sistemas-Mundo - Florianópolis, 20 e 21 de outubro de 2014

VIII Colóquio Brasileiro em Economia Política dos Sistemas-Mundo
Grupo de Pesquisa em Economia Política dos Sistemas-Mundo

Florianópolis, 20 e 21 de outubro de 2014

Chamada para contribuições:
 VIII COLÓQUIO BRASILEIRO EM ECONOMIA POLÍTICA DOS SISTEMAS-MUNDO
Organização: GPEPSM (Grupo de Pesquisa em Economia Política dos Sistemas-Mundo)
Local: UFSC, CSE - Centro Socioeconômico, Florianópolis – SC.
Data: 20 e 21 de outubro de 2014
A atual conjuntura do sistema-mundo capitalista é marcada pelo surgimento de novos arranjos interestatais e por desafios para aqueles arranjos já há muito estabelecidos. Entre os novos arranjos, há os que desafiam as instituições dominantes de governança global e defendem uma ordem mundial menos hierárquica, como o BRICS e a ALBA. Por outro lado, os EUA lideram a formação de arranjos como o TTIP e o TPP no sentido de conter a deterioração de sua posição hegemônica a Leste e Oeste de seu território. Blocos mais antigos, como o Mercosul e a União Europeia, tem sua credibilidade internacional desafiada por conflitos internos. O que explica o surgimento destes arranjos? Como podem ser compreendidos na trajetória de longa duração do sistema-mundo capitalista e na atual conjuntura de crise mundial? Qual o seu potencial para a governança global em um período de caos sistêmico? Em que medida alteram os padrões históricos de competição interestatal e intercapitalista?
Em sua oitava edição, o Colóquio Brasileiro em Economia Política dos Sistemas-Mundo convida pesquisadores a submeterem trabalhos que abordem esta problemática a partir de uma perspectiva histórico-mundial. Como sempre, serão bem-vindas contribuições e mesmo críticas à própria Análise dos Sistemas-Mundo que foquem em outros temas e períodos históricos.
Cronograma Preliminar
10.08 – Submissão de trabalhos completos
25.08 – Divulgação dos trabalhos selecionados
20 e 21/10 – Realização do colóquio

Regras para submissão dos trabalhos completos
Formato “word for windows” ou PDF. Espaçamento 1,5 pontos. Fonte Times New Roman. Máximo de 25 páginas.
Endereço para submissão: gpepsm@contato.ufsc.br

Catolicismo e liberalismo sao incompativeis? Assessor do papa Francisco

Se for verdade, ou seja, se o papa Francisco pensa realmente isso, então a Igreja está se colocando contra as liberdades em geral, e a liberdade econômica em particular.
Ou então, faz parte da tradicional ignorância da Igreja Católica em matéria de economia e processos de desenvolvimento.
Deve ser um cardeal totalmente ignorante em economia, e sobretudo em liberdades.
Ou então, está interpretando o "peronismo" do papa.
Em qualquer das duas hipóteses é grave. E muito ruim para a Igreja e para o mundo.
Seria a Igreja um fator de atraso econômico mundial?
Paulo Roberto de Almeida

Catholic and libertarian? Pope’s top adviser says they’re incompatible

WASHINGTON — Taking direct aim at libertarian policies promoted by many American conservatives, the Honduran cardinal who is one of Pope Francis’ top advisers said Tuesday (June 3) that today’s free market system is “a new idol” that is increasing inequality and excluding the poor.
This economy kills,” said Cardinal Oscar Rodriguez Maradiaga, quoting Francis frequently in a speech delivered at a conference on Catholicism and libertarianism held a few blocks from the U.S. Capitol.
The pope, Maradiaga said, grew up in Argentina and “has a profound knowledge of the life of the poor.” That is why, he said, Francis continues to insist that “the elimination of the structural causes for poverty is a matter of urgency that can no longer be postponed.”
“The hungry or sick child of the poor cannot wait,” the cardinal said.
Maradiaga, who heads a kitchen cabinet of eight cardinals from around the world that Francis established to advise him shortly after his election last year, also argued that personal charity was insufficient to solve global problems.
“Solidarity is more than a few sporadic acts of generosity,” he said.
Instead, he said, solidarity with the poor, as envisioned by Catholic social teaching, calls for “dealing with the structural causes of poverty and injustice.” The cardinal stressed that the church “by no means despises the rich,” and he said Francis “is also not against the efforts of business to increase the goods of the earth.”
“The basic condition, however, is that it serves the common good,” he said.
A charismatic churchman who speaks fluent English, Maradiaga was animated in his criticism of the effects of today’s free market capitalism and he peppered his remarks with digs at economic conservatives.
Trickle-down economics, he said, is “a deception,” and he declared that the “invisible hand” of the free market — the famous theory advanced by the 18th-century philosopher Adam Smith — was instead being used as a cruel trick to exploit the poor.
Maradiaga at one point brushed aside the fierce criticism that many conservatives have leveled at Francis by noting that “many of these libertarianists do not read the social doctrine of the church.”
“But now they are trembling before the book of Piketty,” he said with a laugh, referring to the controversial best-seller on the wealth gap by the French economist Thomas Piketty. “At least it is making them think,” he added.
Maradiaga was the keynote speaker at the conference, called “Erroneous Autonomy: The Catholic Case Against Libertarianism.”
The daylong seminar waded deep into the contentious American political debate over the economy and the role of government, and it showed once again how the moral implications of that debate are playing out most vividly in the Catholic Church.
Paul Ryan, the Wisconsin Republican who chairs the House Budget Committee, is a Catholic who is also his party’s champion for budget cuts for social programs, cuts that are opposed by the church hierarchy. He is also a disciple of the libertarian philosopher Ayn Rand.
Sen. Rand Paul, R-Ky., while not a Catholic, is the GOP’s most prominent exponent of libertarian ideas and is being widely touted as a leading candidate for his party’s presidential nomination in 2016 — a race that increasingly looks as though it will serve as a national referendum on libertarian ideas.
Tuesday’s conference was sponsored by Catholic University’s Institute for Policy Research & Catholic Studies, and the speakers — bishops and theologians, as well as pundits such as Mark Shields and academics like John DiIulio — were almost universally antagonistic to free market libertarianism.
Yet it was CUA’s own business school that last year sparked a controversy by accepting $1 million from the foundation of Charles Koch, a billionaire industrialist who is an influential supporter of libertarian-style policies.
Critics accused the university of taking money to promote ideas that are opposed to Catholic social teaching. University officials rebuffed those charges, joined by many bishops and conservative Catholics who have become prominent advocates of the idea that Catholicism and libertarianism can coexist or even support each other.
That notion, however, found little backing and much opposition at Tuesday’s sessions.
Bishop Blase Cupich of Spokane, Wash., one of the U.S. hierarchy’s more prominent champions of Catholic social teaching, warned that growing inequality is creating “a powder keg that is as dangerous as the environmental crisis the world is facing today.”
Cupich said political leaders cannot wage this debate “from the 30,000-foot level of ideas” but must take into account the real-life implications of policies as they play out on the ground. “Reality,” he said, quoting Francis, “is greater than ideas.”
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domingo, 8 de junho de 2014

Itamaraty: a degradacao da politica externa pela diplomacia companheira - Editorial Estadao

A vergonhosa atuação do Itamaraty no Caso Molina
O Itamaraty se revela, cada vez, um entreposto do bolivarianismo. Resumindo: o Itamaraty não nos representa:

Somente a total falta de traquejo no trato dos negócios exteriores, revelada pela presidente Dilma Rousseff, além de sua submissão a compromissos ideológicos que nada têm a ver com os interesses nacionais, explica a notícia de que a diplomacia brasileira pressionou um perseguido político, o ex-senador boliviano Roger Pinto Molina, a abrir mão do asilo que a própria Dilma lhe concedeu.
O caso de Molina tem se revelado, desde o seu início, uma coleção de equívocos constrangedores e atitudes indignas por parte de um Itamaraty cada vez mais manietado pelo terceiro-mundismo bolivariano. A cada novo desdobramento, porém, parece que um novo limite é superado.
Molina pediu asilo ao Brasil em maio de 2012, alegando estar sendo perseguido pelo presidente Evo Morales. O então parlamentar havia acusado integrantes do governo boliviano de corrupção e participação no narcotráfico. Ato contínuo, tornou-se alvo de diversas ações na Justiça da Bolívia, entre as quais uma que o acusa de conspiração para derrubar Morales. Como se sabe, é comum nos países ditos bolivarianos que se forjem provas e processos para criminalizar os opositores, vinculando-os a planos golpistas. Sem nenhuma chance de se defender, já que a Justiça boliviana está submetida ao Executivo, Molina achou mais prudente pedir asilo na Embaixada do Brasil em La Paz.
Em poucos dias, Dilma concedeu o asilo - como não poderia deixar de fazer. No entanto, como era previsível, em se tratando de um presidente que já demonstrou ter pouco respeito pelo direito internacional e nenhum pelo Brasil, Morales negou-se a conceder o salvo-conduto necessário para que Molina pudesse deixar o prédio da embaixada e vir em segurança para o Brasil.
O senador ficou 454 dias confinado numa sala da embaixada, num espaço de apenas 4 metros quadrados, sem banheiro nem luz solar. Só pôde receber visitas de seu advogado ou de algum parente.
Tal situação desumana não encontra respaldo em nenhum manual de diplomacia, mas se deu com plena ciência do Itamaraty, pois o então encarregado de negócios da embaixada, Eduardo Saboia, cansou de denunciá-la a seus colegas em Brasília - ele advertiu que Molina sofria forte deterioração física e mental e que ameaçava se suicidar.
Nenhuma providência foi tomada para reduzir as agruras do parlamentar boliviano, enquanto diplomatas do Brasil e da Bolívia tentavam encontrar uma saída para o impasse - preferencialmente que fosse do agrado de Morales, a despeito do que prevê a Convenção de Caracas sobre Asilo Diplomático, de 1954, que determina que a concessão de salvo-conduto tem de ser imediata.
Uma das soluções aventadas, agora se sabe, incluía a necessidade de que Molina abrisse mão do asilo, para que então pudesse ser transferido para um terceiro país. Conforme documentos obtidos pelo jornal Folha de S.Paulo, a proposta - inédita na história do Itamaraty - foi feita ao parlamentar em maio de 2013, quando o impasse completou um ano. O plano era enviá-lo à Venezuela ou à Nicarágua. Molina rejeitou a ideia, dizendo que preferia "cortar os pulsos".
Três meses depois, diante das evidências de que as negociações diplomáticas sobre o destino de Molina não passavam de logro, Saboia, responsável pela embaixada em La Paz, decidiu fazer a coisa certa: em dois carros com placas diplomáticas e protegidos por dois fuzileiros navais, ele transportou o senador boliviano em segredo para o Brasil.
A ousadia de Saboia, que nada mais fez do que seguir a tradição humanitária da diplomacia brasileira, custou o emprego do chanceler Antonio Patriota. O Itamaraty abriu uma sindicância, que deveria ser concluída em 30 dias, para apurar a atuação de Saboia - e lá se vão nove meses sem que nada se conclua, como tem sido rotineiro nesse caso.
Sejam quais forem a punição a Saboia e o destino de Molina, o único a sair perdendo neste episódio será o governo brasileiro, estranhamente submisso aos caprichos de Morales. (Estadão).

Itamaraty subjugado (e humilhado) - Patricia Campos Mello (FSP)

Itamaraty subjugado

06/06/2014  19h58
Durante visita a Cuba no fim de janeiro, o semblante da presidente Dilma Rousseff se iluminou quando ela falou sobre "as embarcações super Pós-Panamax de até 18 metros de calado" que seriam movimentadas no recém-inaugurado porto de Mariel.
É com esse tipo de minúcia técnica que a presidente se regozija.
Agora, experimente falar sobre missão de paz no Haiti, Conselho de Segurança da ONU, anexação da Crimeia, reforma da OEA.
A presidente considera esses temas enfadonhos e os diplomatas, em geral, são vistos como desnecessários.
O desânimo no Itamaraty é patente. Desde Jânio Quadros não se via um líder do poder Executivo tão desinteressado em relações internacionais.
O fim das ambições de protagonismo global do Brasil já se incorporou à narrativa cotidiana, é dado como fato.
E o caso Roger Pinto é emblemático da situação triste em que se encontra o Itamaraty.
Diante de uma presidente da República autoritária e que pouco se importa com política externa, o ministério das relações exteriores se transformou no reino do "manda quem pode, obedece quem tem juízo". No caso, ninguém manda, todo mundo obedece.
O chanceler Antonio Patriota deveria ter se imposto no imbróglio Paraguai, quando foi atropelado pela presidente no episódio de suspensão do Paraguai do Mercosul e admissão da Venezuela.
Mas Patriota engoliu em seco, manteve a fleuma, e "carried on".
Quando levou o pito de Dilma em Malabo por causa das reclamações de Evo Morales em relação ao asilado Roger Pinto, aí Patriota deveria ter dado um ultimato à presidente.
Mas, de novo, submeteu-se aos caprichos de Dilma.
O resultado do absoluto desinteresse da presidente Dilma por relações internacionais é um Itamaraty desprestigiado, negligenciado, e saudoso de seus tempos áureos –hoje em dia, até para os mais críticos da era Lula-Celso Amorim, não dá para negar que todos eram felizes, mas não sabiam. 
patrícia campos mello


http://www1.folha.uol.com.br/colunas/patriciacamposmello/2014/06/1466498-itamaraty-subjugado.shtml

Economia brasileira: de fracasso em fracasso - Rolf Kuntz

O pibinho, os gringos e a conspiração de São Pedro
Rolf Kuntz*
...A estagnação da indústria reflete o baixo nível de investimentos, tanto privados quanto públicos, e a consequente perda de poder de competição. Por três trimestres consecutivos a produção industrial tem sido menor que nos três meses anteriores. Encolheu 0,1% no período julho-setembro, diminuiu...
O Estado de S. Paulo, 30 de maio de 2014

Com o desastre econômico do primeiro trimestre, uma expansão miserável de 0,2% combinada com inflação alta e enorme rombo comercial, a presidente-gerente Dilma Rousseff completou três anos e três meses de fracasso econômico registrado oficialmente. O fracasso continua, como confirmam vários indicadores parciais, e continuará nos próximos meses, porque a indústria permanece emperrada e o ambiente econômico é de baixa produtividade. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, parece desconhecer a história dos últimos três anos e um quarto. Em criativa entrevista, ele atribuiu o baixo crescimento brasileiro no primeiro trimestre a fatores externos e a problemas ocasionais. A lista inclui a instabilidade cambial, a recuperação ainda lenta das economias do mundo rico e a inflação elevada principalmente por causa dos alimentos. Culpa dos gringos, portanto, e isso vale igualmente para o judeu Simão, também conhecido como São Pedro, supervisor e distribuidor das chuvas e trovoadas.

No triste cenário das contas nacionais divulgadas nesta sexta-feira, só se salva a produção agropecuária, com crescimento de 3,6% no trimestre e de 4,8% no acumulado de um ano. Os detalhes mais feios são o investimento em queda e o péssimo desempenho da indústria. Em sua pitoresca entrevista, o ministro da Fazenda atribuiu o baixo investimento à situação dos estoques e ao leve recuo - queda de 0,1% - do consumo das famílias, causado em grande parte pela alta do custo da alimentação. A explicação pode ser instigante, mas deixa em total escuridão o fiasco econômico dos últimos anos, quando o consumo, tanto das famílias quanto do governo, cresceu rapidamente.

O investimento em máquinas, equipamentos, construções civis e obras públicas - a chamada formação bruta de capital fixo - caiu, como proporção do produto interno bruto (PIB), durante toda a gestão da presidente Dilma Rousseff.

No primeiro trimestre de 2011, quando o governo estava recém-instalado, essa proporção chegou a 19,5%. Caiu seguidamente a partir daí, até 17,7% nos primeiros três meses de 2014. Durante esse período o consumo das famílias aumentou velozmente, sustentado pela expansão da renda e do crédito, mas nem por isso os empresários investiram muito mais.

Além disso, o governo foi incapaz de ir muito além da retórica e das bravatas quando se tratou de executar as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Nem as obras da Copa avançaram no ritmo necessário, apesar do risco de um papelão internacional.

A estagnação da indústria reflete o baixo nível de investimentos, tanto privados quanto públicos, e a consequente perda de poder de competição. Por três trimestres consecutivos a produção industrial tem sido menor que nos três meses anteriores. Encolheu 0,1% no período julho-setembro, diminuiu 0,2% no trimestre final de 2013 e 0,8% no primeiro deste ano. Não há como culpar as potências estrangeiras ou celestiais por esse desempenho.

O conjunto da economia brasileira é cada vez menos produtivo, embora alguns segmentos, como o agronegócio, e algumas empresas importantes, como a Embraer, continuem sendo exemplos internacionais de competitividade.

O baixo crescimento do PIB, apenas 0,2% no trimestre e 2,5% em 12 meses, reflete essa perda de vigor, associada tanto à insuficiência do investimento em capital fixo quanto à escassez crescente de pessoal qualificado. Não por acaso, o País apareceu em 54.º lugar, numa lista de 60 países, na última classificação de competitividade elaborada pelo International Institute for Management Development (IMD), da Suíça.

O baixo desempenho da economia, especialmente da indústria, tem tudo a ver com a piora das contas externas. O efeito mais evidente é a erosão do saldo comercial. No primeiro trimestre, período de referência das contas nacionais atualizadas, o País acumulou um déficit de US$ 6,1 bilhões no comércio de mercadorias. O resultado melhorou um pouco desde abril, mas na penúltima semana de maio o buraco ainda era de US$ 5,9 bilhões. O Banco Central (BC) continua projetando um saldo de US$ 8 bilhões para o ano, muito pequeno para as necessidades brasileiras. No mercado, a mediana das projeções coletadas em 23 de maio na pesquisa semanal do BC indicava um superávit de apenas US$ 3 bilhões.

Estranhamente, os deuses parecem ter poupado outros países dos males atribuídos pelo ministro da Fazenda ao quadro externo. Outras economias continuaram crescendo mais que a brasileira e com inflação menor, apesar de sujeitas à instabilidade dos mercados financeiros e a outros problemas internacionais. A inflação no Brasil tem permanecido muito acima da meta oficial, 4,5%, e a maior parte das projeções ainda aponta um resultado final em torno de 6% para 2o14. Até agora, o recuo de alguns preços no atacado pouco afetou o varejo e os consumidores continuam sujeitos a taxas mensais de inflação superiores a 0,5%. O ritmo poderá diminuir nos próximos meses, mas, por enquanto, as estimativas indicam um repique nos quatro ou cinco meses finais de 2014.

O aperto monetário, interrompido pelo BC na quarta-feira, pode ter produzido algum efeito, mas o desajuste das contas do governo ainda alimenta um excesso de demanda. Na quinta-feira o Tesouro anunciou um superávit primário de R$ 26,7 bilhões nos primeiros quatro meses. Quase um terço desse total, R$ 9,2 bilhões, ou 31%, correspondeu a receita de concessões e dividendos. As concessões renderam 207,4% mais que no período de janeiro a abril do ano passado. Os dividendos foram 716,4% maiores que os do primeiro quadrimestre de 2013. Chamar isso de arrecadação normal e recorrente sem ficar corado vale pelo menos um Oscar de ator coadjuvante. A economia vai mal, mas a arte cênica brasileira ainda será reconhecida. 

Há mais valores entre o céu e a terra do sonham os críticos da política econômica.

Rolf Kuntz* é jornalista da área econômica, de O Estado de S. Paulo

Da novela Brasil-Bolivia para o entrevero Itamaraty-Senado - David Fleischer

Da newsletter semanal de David Fleischer, 6/06/2014:

Senate versus Itamaraty

           A nasty impasse has developed between the Brazilian Senate and the MRE (Ministry of Foreign Relations) Itamaraty.  As in other presidential systems, all ambassador appointments must be confirmed by the Upper House (Senate).  Usually, in Brazil, it is quite rare that the Senate refuses to confirm these appointments.  But in June 2014, the Senate CRE (Foreign Relations Committee) has indicated that it will not confirm any appointee to the Brazilian Embassy in Bolivia until the MRE honors the committee’s request to supply all the documents related to the August 2013 episode when the number two Brazilian diplomat in La Paz, Eduardo Saboia, decided to drive Bolivian Senator Roger Pinto Molina to Corumbá, MS – to extract him from his exile within the Brazilian Embassy, fearing his declining mental health – after 453 days of “confinement” at the Embassy. 

Pinto had sought refuge in the Brazilian Embassy because of persecution and threats from the Evo Morales government and the MRE (Foreign Minister Antonio Patriota) had ordered “severe” treatment for Pinto within the embassy in an attempt to force him to leave a small cubicle room with no window, no walks outside to get some sun, no internet access, and no visitors.  As a result, Patriota was sacked by Pres. Dilma Rousseff and then “kicked upstairs” to become Brazil’s ambassador to the UN, and the then Brazilian Ambassador at the UN became Foreign Minister.


This case is typical of the actions of the “PT commissar” for Brazil’s foreign relations with Latin America – Professor Marco Aurélio Garcia – who has been the Foreign Affairs advisor to Pres. Lula and Pres. Dilma since 2003.  The “order” was not to offend “comrade” Evo Morales and keep Senator Roger Pinto Molina in “sub-human” confinement in the Brazilian Embassy in La Paz – in contrast to the “special confinement” dispensed to former Honduran President Manuel Zelaya when he sought refuge in the Brazilian Embassy in Tegucigalpa.  This tactic was implemented in an attempt to force Senator Pinto Molina to abandon his refuge at the Embassy

O que fazer com os ingenuos e inocentes? Ou seriam apenas toscos e ignorantes?

Recebo, a propósito de uma  postagem já antiga (de Fevereiro de 2-14), sobre a Ucrânia e as atitudes respectivas dos países ocidentais (de condenação do antigo governo ucraniano e dos russos) e dos Brics (um dos quais, a Rússia, interessada em sustentar seu aliado em Kiev, contra os ucranianos pró-europeus, que queriam um país em processo de adesão à União Europeia), esta mensagem, que transcrevo abaixo, de um leitor visivelmente anti-americano e anti-capitalista.
Ele me acha pró-americano, ou seja, um aliado fiel do imperialismo, e um defensor desse capitalismo horrível que explora todos os povos e espalha miséria, desolação e dominação militar por todos os lados.
Como eu poderia responder ao DRF, que me acusa de ser conivente com todas essas barbaridades?
Acho que não tenho condições. Ele já sabe de tudo, tem todas as certezas e está convencido que o Brasil estaria muito melhor com democracias formidáveis como Rússia e China, em lugar de se alinhar com ditaduras detestáveis como as dos Estados Unidos e União Europeia.
Concordo, meu caro DRF, a vida deve ser muito melhor na China e na Rússia, ou em Cuba, talvez, do que nesses lugares capitalistas, exploradores não só de sua própria mão-de-obra como de todos os demais povos do planeta, que tem a infelicidade de cair sob a dominação das potências ocidentais.
Esses ucranianos devem ser uns malucos, ao preferirem padrões ocidentais de vida, certamente inferiores aos russos, do que aqueles oferecidos por seus tradicionais dominadores, pelos últimos 300 ou 400 anos.
E o que dizer de todos esses africanos e latino-americanos, que teimam em emigrar clandestinamente para a Europa e para os Estados Unidos: só podem ser loucos, em busca da sua própria exploração por todos esses ocidentais arrogantes, com seus horríveis McDonalds, seus iPhones desprezíveis, seus filmes amorais.
Tem muita gente louca no mundo.
Acho que você tem razão DRF, melhor mesmo é apoiar a Rússia e a China. Não é por outra razão que o Brasil adora o Brics, e pretende tecer uma aliança cada vez mais estreita com eles, para se proteger desses imperialistas bisbilhoteiros, que ficam nos espionando eletronicamente. Isso é inaceitável.
Estamos a caminho, meu caro. Mais um pouco estaremos em perfeita sintonia com essas pujantes democracias...
Paulo Roberto de Almeida

Dxxxx Rxxx Fxxx comentou a postagem de seu blog
Voce tem nome de Brasileiro, mas parecer um defensor do Imperialismo Anglo-Americano, que tem feito a grande maioria das nações de escravas e submissas as Ordens de Washington. Eles dominam o mundo e esfolam os países sub-desenvolvidos ricos em energia, porque por mais que se tem desenvolvido outras formas de energias alternativas, o mundo ainda é escravo dos motores a combustão onde os EUA, Alemanha, Japão e Coréia do sul mandam no negócio de automóveis movidos a esses motores. E as maiores empresas do mundo de extracão e refino de petroleo são dos EUA.
O assunto de quem manda no pedaço (mundo) é energia. E os BRICS são ricos em petroleo e gás.
Deixa de ser tolo e leia o que o George Soros fêz na Ucrânia, criando Ongs, para aliciar jovens neo-nazistas para invadirem a praça Maidam, tudo foi patrocinado pelos EUA, para desestabilizar o governo. Nunca esqueça que pela Ucrânia passa todos os gasodutos e oleodutos oiginários da Russia que é atualmente o maior produtir de petróleo e gás do mundo., e alimenta 40% de toda avdnergia consumida pela Europa. Os EUA querem cortar a fonte de recursos da Russia, para enfraquecê-la, dai a Russia vai a China e fecha um contrato de 400 bilhoes de dolares para suprir a China de gas po 30 anos.
Os EUA acabaram de juntar 2 potências contra o ocidente, e realmente acho que depois do nosso Brasil saber que  NSA esteve espionando a Petrobras, vai se juntar ao outros, assim como ja se manifestou o prim. Ministro da Índia, e da Africa do sul. 

Deixa de falar bobagem seu tolo, acorda para a vida. O mundo é uma guerra pela sobrevivência, quando os EUA estiverem sob pressão economica dos BRICS, fazendo suas trocas comerciais na suas próprias moedas, o dolar vai ficar totalmente enfraquecido, até porque, não sei se o nobre amigo sabe que a dívida dos EUA em dolar esta no patamar total de 102% de todo o seu PIB.
Simplificando,a América deve para o mundo outra América, está falida, e não resta a ela outra alternativa, a não ser mostrar suas garras( poder militar, poder nuclear), e é ai que a cobra cai fumar, porque a Russia esteve 20 anos quietinha, desde a época do Gorvachov, modernizando sua máquina de guerra, é por isso que a China se associou a Russia, porque agora os EUA estáo intimidando também a China por causa de seus poços de petróleo perto do Vietnã, e também as ilhas reividicadas pela China e pelo Japão.

A coisa tá ficando muito feia, ve se lê mais um pouco antes de tecer uma porcaria de matéria dessa.

sábado, 7 de junho de 2014

Ciclo da borracha no Brasil: por que acabou? - Carlos U Pozzobon

Todo mundo imagina que o exuberante ciclo da borracha no Brasil, que trouxe inédita riqueza a uma região periférica, e uma grande fortuna a barões da seringueira e ao Estado, obviamente, acabou por causa dos pérfidos ingleses, que nos roubaram sementes da hevea brasilienses, para plantar de forma ordenada na Malásia. Isso exime os nacionais, e o próprio Estado, de qualquer responsabilidade no desastre que ocorreu em 1913 e que mergulhou novamente a Amazônia na decadência, na pobreza e na marginalidade econômica, social e política.
Essa coisa de pirataria biológica é uma bobagem: o Brasil não tinha cana de açúcar, não tinha café, não tinha soja, e tudo isso foi objeto de "pirataria", ou não foi?
Pois bem, quem acabou com o ciclo da borracha foi o próprio governo, ao taxar pesadamente todo o ciclo produtivo, ao passo que os ingleses estimularam a produção e as exportações.
Qual é o governo suficientemente estúpido para gravar de impostos as atividades produtivas de suas empresas e cidadãos ao ponto de torná-las inviáveis, anti-competitivas no plano interno e no plano internacional?
Pois o nosso é estúpido a esse ponto, ou melhor, as nossas elites políticas são predatórias.
Como destacado mais adiante nesta resenha de Carlos Pozzobon, nossa esquizofrenia tributária torna a vida econômica impossível neste cantinho de planeta e neste cantão de continente.:

Para se ter uma ideia do descalabro tributário, de acordo com IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tribu­tário), em 25 anos (1988-2013) foram editadas 309,1 mil normas tributárias, uma mé­dia de 31 por dia nos três níveis de governança do país.
O que fica para ser calculado é o quanto perdemos em riqueza. 

Leiam o que vai abaixo e depois continuem no site do autor:

Livros e Mais Livros

Pró-Pátria e o Ciclo da Borracha

AS MEIAS-VERDADES SOBRE O PRIMEIRO CICLO DA BORRACHA (1827-1912)


Livro em Português
KINDLE - Amazon
EM PAPEL - Impressão sob demanda

Autor: Carlos de Vasconcelos
Palavras: 47.773
Páginas: 167


Pode-se pensar que uma intelligentsia mostre sinais de impotência provocados por algum princípio mensurador da decadência de um país. Mas também podemos atribuir a nossa vocação para o fracasso intelectual a um estranho fenômeno tropical, a uma deficiência que nos mantém no círculo vicioso de uma escolástica motivada pelas mesmas interpretações.
O ciclo da borracha no Brasil constitui um desses exemplos em que a falta de lógica, a ausência de pergun­tas, a incapacidade para ver além das aparências, nos prendem a uma interpretação que não seria singular se não fosse um exemplo revelador da doença do espírito que nos abrasa como uma malária, e que nos incapacita de enxergar além dos lugares comuns do vitimismo. Mas tudo não passa de falsificações de uma verdade que não se quer ver, e cu­jos resultados não se quer calcular — uma aversão congênita à verdade, e uma impotência ao raciocínio frio do cálculo.
Pouco se pode fazer contra uma montanha de asni­ces, exceto resistir com a evidência dos fatos descobertos pela metodologia intuitiva do pesquisador. Nossos historia­dores repetem à exaustão de que o ciclo de navegação portuguesa foi motivado pela busca de especiarias, e o po­bre adolescente engole esta estória na sala de aula como se, na Idade Média, o povo tivesse uma compulsão misterio­sa para se encher de pimenta, cravo, canela e sabe-se lá o que mais para arder seus gorgomilos febricitantes de condi­mentos extravagantes.
E, na verdade, a mais banal das ligações entre causa e efeito, é que a dita pimenta da Índia era também um con­servante dos alimentos dos navegadores, que metiam as carnes assadas em barricas, cobriam-nas com banha de porco e, sobre a superfície distribuída em alguns centímetros, colocavam sua porção de pimenta para evitar a deterioração. E, assim, o que era uma necessidade logística passa a ser uma questão de condimentar a sociedade em proporções rabeleaisianas, na ausência de explicações de autores que leem outros e passam a macaquear sem se fazer perguntas, e, muito menos, sem chegar às verdadeiras razões dos atos mais ordinários da vida cotidiana de uma época.
(...)
Leiam a íntegra neste lik: 
http://pzzeditora.blogspot.com.br/2014/04/pro-patria-e-o-ciclo-da-borracha.html

Filosofalhas e literatolices dos tempos em que vivemos - Carlos U Pozzobon

21 de maio de 2014

Você é aquilo que lê

Desabafos sobre filosofalhas e literatolices dos tempos em que vivemos

Carlos U Pozzobon
Que todos conhecem a desgraceira de nossa vida política, não é preciso comentar. O que precisamos entender é a relação de uma sociedade de corte estatal com a cultura, em que o mérito sempre esteve seriamente comprometido com as cotas destinadas à proteção dos tolos, dos despojados de energia intelectual, dos fraquinhos, dos frívolos inseridos no processo de produção cultural ― marca indelével de um país contaminado pela corrupção intelectual, que consiste no espírito de rebanho em aderir à onda produzida pelas calamidades elevadas ao pedestal da glória ― causa maior e mais aviltante do que a corrupção moral em que chafurdamos. Quando uma Academia de Letras homenageia Ronaldinho Gaúcho com uma medalha de mérito, quando universidades distribuem títulos de doutor honoris causa a um apedeuta, podemos entender por que tanta gente expressa suas preferências por autores com obras vazias de conteúdo estético e artístico.
São essas cotas de literatolice que transformam autores sem conteúdo em celebridades nacionais e internacionais, confundindo o leitor eventual que ainda não tem um gosto consolidado, ou que não dispõe das ferramentas de análise do crítico. Supostamente deve ser a principal razão para que a leitura seja afinal considerada um sofrimento pela maioria dos brasileiros, e por sua inclinação à brevidade do jornal e da revista em lugar do livro.
Escravo do “ouvir dizer”, da fama turbinada pelas editoras “do mercado” (espécie de “seguimento da deseducação geral do país”), e de colunas de revistas, o brasileiro lê com sofreguidão o que lhe dizem que é bom, e procura fugir como o diabo da cruz do próximo bestseller, até que, forçado pela necessidade de inserção social, volta a porejar o sacrifício da leitura, o que o impede de evoluir intelectualmente para apurar seu gosto para os refinamentos mais sutis das formas de expressão, para o deleite eriçante da beleza da linguagem, ou para a compreensão do sublime ou do paradoxal, do poético ou do assombro que só o escritor erudito e talentoso pode proporcionar.
Dependente do padrão alienígena, em uma sociedade cujos valores mais cultivados são a imitação do estrangeiro, cativo das opiniões de membros de instituições avacalhadas difundidas incansavelmente, o leitor comum nunca desenvolverá a sensibilidade para contestar aquilo que a maioria consagra como grande autor. E esta deformidade atravessa as décadas com a mesma constância e uniformidade de nossa imutável realidade social, acorrentada nas tradições desesperadoramente retrógradas.
Quem lê a avassaladora crítica de Sylvio Romero ao espírito limitado de José Veríssimo, em Zeverissimações Ineptas da Crítica – Repulsas e Desabafos, percebe claramente a diferença abissal entre o erudito e o convencional, e entende muito bem por que somos uma sociedade onde a mediocridade tem um lugar garantido no triunfo das corriolas paroquianas, da crítica sem profundidade, do aceito sem controvérsias, para vislumbrar a amorfia que causa a repulsa ao próprio gênio da brasilidade que as instituições têm por missão instigar, pois nem sequer sabem como fazê-lo. Nossa sociedade está tão aviltada intelectualmente que perdeu os sensores que emitem os sinais de alerta para a chegada do mais dotado, para a presença catalítica dos melhores. Vive o entorpecimento de seu próprio contexto de servidão institucional.

Leia o texto completo neste link: 
http://ensaioseducativos.blogspot.com.br/2014/05/voce-e-aquilo-que-le.html

A reconstrucao economica do pais, depois do desastre petista - Rogerio Werneck

Reconstruir a economia
Rogério Werneck
O Estado de S.Paulo, 6/06/2014

O melancólico apagar das luzes do atual mandato presidencial vem surpreendendo até mesmo quem jamais escondeu seu pessimismo sobre as possibilidades do governo Dilma Rousseff. O desempenho da economia deteriora-se a cada dia. Na esteira de um colapso na confiança de consumidores e investidores, o nível de atividade praticamente estagnou no primeiro trimestre. E está em queda no trimestre em curso. Já se estima que o crescimento do PIB em 2014 não chegue a 1,5%. O que deixaria a taxa anual média de crescimento da economia no governo Dilma Rousseff abaixo de 1,9%.

Apesar desse crescimento pífio, o quadro inflacionário segue preocupante. A inflação em 12 meses está prestes a ultrapassar o teto de tolerância da meta. Inflação de 7,5%, em 2015, em decorrência da inevitável descompressão de preços administrados que ocorrerá depois das eleições, é o que agora prevê um dos principais responsáveis pela desastrosa pajelança ministrada ao País sob o rótulo de "nova matriz macroeconômica" (entrevista de Nelson Barbosa, O Estado de S. Paulo, 29/5).

É bom não ter ilusões sobre a herança amarga com que terá de arcar o novo governo. Há pela frente uma complexa agenda de reconstrução da política econômica. E, dessa perspectiva, o cenário de reeleição da presidente só pode ser visto com enorme desalento. O governo mostra-se completamente despreparado para fazer o que precisa ser feito. Insiste em negar a necessidade de mudanças na política econômica. E, agarrando-se a um discurso primitivo e populista, que marca retrocesso de pelo menos 20 anos no debate econômico do País, vem denunciando qualquer proposta de mudança como defesa de arrocho salarial e desemprego.

A análise do cenário alternativo, de vitória da oposição na eleição presidencial, permite vislumbrar com mais clareza a agenda de reconstrução da política econômica que terá de ser enfrentada em 2015. É bom notar que, em meio às muitas dificuldades, haveria amplo espaço para uma colheita fácil de resultados iniciais importantes, com o anúncio de medidas que possam dar lugar ao choque de credibilidade que há muito tempo se faz necessário na condução da política econômica.

A simples nomeação de uma equipe econômica respeitável, que soubesse manter um discurso coerente e fosse capaz de restabelecer a sintonia entre as atuações da Fazenda e do Banco Central (BC), já faria grande diferença. Na área fiscal, a restauração da credibilidade do registro das contas públicas seria um grande avanço. Bastaria um anúncio singelo de encerramento definitivo do festival de truques contábeis que vêm pautando a política fiscal. Naturalmente, isso exigiria a desmontagem do gigantesco orçamento paralelo que, há muitos anos, o governo vem alegremente mantendo no BNDES.

A condução da política econômica em novas bases, aliada à percepção de efetivo compromisso do novo governo com a manutenção de regras estáveis, agências reguladoras bem tripuladas e postura desarmada em relação ao papel do capital privado na expansão da infraestrutura, poderia engendrar vigorosa recuperação dos investimentos e do nível de atividade.

Depois de todo um mandato presidencial em que as autoridades monetárias se permitiram manter a inflação muito acima da meta, reancorar as expectativas inflacionárias deverá exigir bem mais do que a simples nomeação de uma diretoria competente para o BC. Em meio à necessidade de reajustar preços administrados represados, é bem provável que o novo Banco Central leve algum tempo para fazer a inflação convergir para a meta, mesmo que se mostre convincentemente comprometido com esse objetivo.

Tudo isso seria só o começo: a reconstrução institucional preliminar que, em seguida, permitiria reabrir uma agenda mais ambiciosa de medidas que possam destravar o crescimento econômico do País. Uma agenda que desapareceu de cena há anos.


É essa possibilidade de ampliar as perspectivas de expansão da economia que estará em jogo na eleição de outubro.

The Evidence on Globalisation - Niklas Potrafke

Um bom amigo, e grande pesquisador dos temas econômicos globais, e das políticas comerciais em geral, Rogerio Farias, me envia não apenas o link mas este trabalho completo:

The Evidence on Globalisation
Niklas Potrafke *
The World Economy (2014)

doi: 10.1111/twec.12174
Available at:
http://feedly.com/e/cYvLjeQQ

Do trabalho retiro esta tabela (p. 4), desformatada, construída sobre a base de indicadores agregados por diversas instituições, diferentes em escopo, mas que permitem visualizar como quantificar, para um determinado país, o seu grau de globalização, segundo um conjunto de critérios que estão claramente identificados, com seus respectivos pesos na ponderação de valores a serem considerados nesse rankeamento de países.

Components of the 2013 KOF Index of Globalisation
Indices and Variables Weights (%)

A. Economic globalisation 36
(i) Actual flows 50
Trade (% of GDP) 21
Foreign direct investment, stocks (% of GDP) 28
Portfolio investment (% of GDP) 24
Income payments to foreign nationals (% of GDP) 27
(ii) Restrictions 50
Hidden import barriers 24
Mean tariff rate 27
Taxes on international trade (% of current revenue) 26
Capital account restrictions 23

B. Social globalisation 37
(i) Data on personal contact 34
Telephone traffic 25
Transfers (% of GDP) 3
International tourism 26
Foreign population (% of total population) 21
International letters (per capita) 24
(ii) Data on information flows 35
Internet users (per 1,000 people) 33
Television (per 1,000 people) 36
Trade in newspapers (% of GDP) 31
(iii) Data on cultural proximity 31
Number of McDonald’s restaurants (per capita) 45
Number of IKEA stores (per capita) 45
Trade in books (% of GDP) 10

C. Political globalisation 26
Embassies in country 25
Membership in international organisations 28
Participation in U.N. Security Council Missions 22
International treaties 26

Uma tabela global sobre os progressos da globalização no mundo, notando que o aspecto social é o que menos progrediu:


Mais informações sobre a metodologia e os estudos podem ser vistos aqui:


* Center for Economic Studies, University of Munich, Munich, Germany and 2Ifo Center for Public
Finance and Political Economy, Munich, Germany

Contra os suplentes senatoriais - Wagner Rocha D’Angelis

A REDEMOCRATIZAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS
WAGNER ROCHA D’ANGELIS (*)
Curitiba, 07 de junho de 2014.

O ano de 2014, para o Brasil, não será marcado apenas pela realização da Copa do Mundo de Futebol em doze de suas praças esportivas, mas igualmente pela realização de eleições majoritárias e proporcionais nos planos estadual e federal.  Vale dizer, independentemente do resultado final da competição futebolística, que a população manifestará no segundo semestre civil, por sufrágio universal, para investidura em novo mandato, a sua preferência para os cargos de Presidente da República, governador de Estado e do Distrito Federal, senador e, igualmente, para a função de deputado federal, deputado estadual e deputado distrital (DF)

É público e notório que inexiste democracia sem eleições e partidos políticos. O que passa despercebido da maioria, porém, é a vulnerabilidade democrática do sistema partidário na definição de seus candidatos próprios a tais cargos eletivos, notadamente diante da característica do sistema majoritário brasileiro pela formação de chapa para a disputa de altos cargos políticos - como é o caso dos candidatos a vice-presidente, vice-governador, bem como dos dois suplentes de cada senador, os quais têm a sua postulação registrada junto da candidatura do titular da chapa. Quando o eleitor vota, ele escolhe apenas o titular, sendo que o vice ou suplente é eleito automaticamente. 

Como é sabido, aliás, o 1º turno das eleições ocorrerá no dia 5 de outubro e o 2º turno no dia 26 de outubro. Até por isto, cabe relembrar que, nos termos do calendário eleitoral definido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é de 10 a 30 de junho o prazo para as Convenções Estaduais dos Partidos Políticos deliberarem intramuros acerca de coligações e escolha de candidatos.  

O que se pretende neste contexto é demonstrar, analisando-se o formato empregado na escolha de suplentes de senador, que os partidos políticos, todos eles, pregam a democracia apenas externamente, valendo-se interna corporis de métodos e práticas antidemocráticas.

Via de regra, as agremiações partidárias são redutos conservadores, fechados e pouco democráticos, nos quais é comum a prática do caciquismo, do clientelismo, da imposição de prepostos nos cargos diretivos, dos conchavos de cúpula e eleições internas biônicas, e da pouquíssima abertura participativa em postos- chaves ao filiado que não for ungido pelo grupo dominante.  

Recriados após 21 anos de regime ditatorial, os partidos políticos são atualmente regidos pela Lei Federal nº 9.096, de 19/09/1995, cujo art. 1º estabelece que tais agremiações destinam-se a assegurar, no interesse do regime democrático e em âmbito nacional, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. Vale dizer, conquanto tais agremiações se pautem organizacionalmente por estatuto próprio, que a prática partidária não pode estar divorciada dos princípios constitucionais.   

Neste ponto, acrescente-se que o art. 18 da Resolução nº 23.405/2014, do TSE, determina que cada partido político ou coligação pode requerer registro de um candidato ao Senado Federal em cada Unidade da Federação, com dois suplentes (CF, art. 46, § 3º). Em outras palavras, no atual pleito eletivo haverá apenas a renovação de um terço dos senadores, para mandato de oito anos, devendo o registro de candidatos a Senador se fazer em conjunto com o dos respectivos suplentes em chapa única e indivisível (Código Eleitoral, art. 91, § 1°).

E, frise-se, dado o modus operandi no campo partidário, cada candidato a senador tem direito a escolher dois suplentes. Caso algum senador ou senadora renuncie ou se licencie, o seu respectivo primeiro suplente substitui o dignitário, de modo semelhante aos vices nos cargos do poder executivo. O problema é que os suplentes são frequentemente ilustres desconhecidos perante os eleitores, o que tem gerado críticas sobre a falta de legitimidade do sistema, além de notória desconfiança pública tanto em relação à competência técnica e lisura comportamental dos indicados, quanto a eventuais suspeitas de alguns deles terem sido escolhidos apenas pela possibilidade de poderem patrocinar boa parte da campanha do titular em troca de benesses futuras.   

Ora, da mesma forma que o país recebe de presente os vices e suplentes por meio de candidaturas em pacote, também o filiado de um partido político recebe, goela adentro, a imposição de nomes que acompanham a candidatura principal. Enquanto a Constituição da República proclama que todo o poder emana do povo, que o exerce pelo voto quando da escolha de seus representantes (Art. 1º, § único), os partidos políticos mantêm dirigentes biônicos e cerceiam o direito dos filiados disputarem, pelo sufrágio, vários cargos para efeitos internos e externos. 

Há alguns anos se debate no Congresso Nacional a necessidade de uma Reforma Política. Pois bem, de pouco adianta uma Reforma Eleitoral, inclusive concedendo-se o direito absoluto de fazer listas de candidatos e obter recursos públicos para campanhas, se não se puser fim ao coronelismo, ao oportunismo e às relações dinástico-familiares que imperam dentro das agremiações partidárias. E, via de consequência, pouco se avançará na matéria se tais agremiações não se democratizarem internamente, suspendendo as viciosas práticas de impedir eleições livres para todos os cargos, inclusive abrindo-se candidatura direta aos suplentes de senador.
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(*) Wagner Rocha D’Angelis – advogado, historiador e professor universitário, já exerceu os cargos de Ouvidor-Geral do Estado do Paraná e Coordenador da Fundação Projeto Rondon no Paraná.