Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 15 de julho de 2014
Bretton Woods e o Brasil (2): algumas descobertas recentes - Kurt Schuler, entrevista a Cyro Andrade (Valor)
Bretton Woods e o Brasil (1): algumas descobertas recentes - Kurt Schuler (Center for Financial Stability)
Talvez fosse o caso de, inicialmente, lembrar aqui os dois capítulos que escrevi sobre a temática, em meu livro:
Remeto, em primeiro lugar, ao site do Center for Financial Stability, que tem muitos materiais relativos a Bretton Woods, a começar por este aqui, relativo ao Brasil, e que remete a artigos no Valor Econômico, justamente sobre o trabalho do CFS, que já linko aqui, e transcreverei em post subsequente: http://www.valor.com.br/cultura/2957198/bretton-woods-sem-censura
Bretton Woods and Brazil
“Bretton Woods sem censura” (Bretton Woods uncensored)
“Bretton Woods, Keynes e a utopia da cooperação” (Bretton Woods, Keynes, and the utopia of cooperation)
segunda-feira, 14 de julho de 2014
Fukuyama: 25 anos de Fim da Historia, e a democracia liberal de mercado ainda nao foi superada...
Mesmo que seus atuais ditadores não queiram, o processo vai acabar se impondo, pela força das demandas de seus próprios povos. Isso é inevitável e só depende do tempo e da educação política dos setores médios nesses países.
Permito-me relembrar que escrevi um texto, aos 20 anos da tese de Fukuyama, cuja referência e link aqui seguem:
O “Fim da História”, de Fukuyama, vinte anos depois: o que ficou?, por Paulo Roberto de Almeida, in: Meridiano 47, n.114, janeiro de 2010
Por enquanto fiquem com esta entrevista concedida por ele à Deutsche Welle, que me foi enviada por um leitor habitual deste blog.
Paulo Roberto de Almeida
HISTÓRIA
"Ainda tenho razão", afirma Francis Fukuyama, filósofo do "fim da história"
Magna Carta faz 800 anos: alguma licao para o Brasil? - Paulo Roberto de Almeida (Estadao)
O Estado de S. Paulo, Opinião, 14/07/2014
Economia politica do futebol: a Lei do Passe (extinta com a Lei Pele) era como uma patente
O mesmo ocorre no mercado de trabalho com a formação de recursos humanos -- tanto no setor privado quanto no público -- e sua "exploração" ulterior: se esses recursos podem ser roubados facilmente por outras empresas, por head hunters, diminui o interesse das empresas em investir muito no seu próprio pessoal, preferindo ir à caça no mercado por mão-de-obra já formada, oferecendo um pouco mais de salário, mas não tendo de investir muito na preparação.
De fato, hoje, pelas deficiências da escolarização e do ensino, as empresas são obrigadas a treinar o seu pessoal, o que elas fazem de forma mínima, pois eles podem partir para outras empresas depois.
Algo similar ocorreria com a imposição de salários iguais para as mulheres em relação aos homens, por parte do poder público "contra" os empregadores privados: em vista do diferencial de produtividade entre homens e mulheres, o mercado, ou seja, as empresas vão descontar esse fator empregando menos mulheres, o que seria uma pensa.
É o que se chama lei das consequências involuntárias, válida no caso dos craques também, objeto deste artigo do economista Samuel Pessoa.
Paulo Roberto de Almeida
LEI PELÉ REDUZIU MUITO O ESTÍMULO DOS CLUBES EM FORMAR JOGADORES!
Samuel Pessôa*
Folha de S.Paulo, 13/07/2014
A capacidade do futebol brasileiro de gerar talentos reduziu-se muito. Penso que a Lei Pelé reduziu muito o estímulo dos clubes em formar jogadores. O fim da Lei de Passe faz com que o ganho que um clube tem em formar um jogador fora de série seja muito menor que no passado. A Lei do Passe funcionava da mesma forma que uma patente. O custo de desenvolver uma nova tecnologia é muito elevado. Se o custo de imitação for muito baixo, ninguém irá investir em pesquisa e desenvolvimento. A patente garante poder de monopólio por alguns anos, suficientes para que a empresa recupere o investimento.
No futebol a Lei do Passe funcionava como esse monopólio. No caso da formação de jogadores de futebol, o desenvolvimento da tecnologia está associado ao processo de "achar" o craque e de desenvolver sua potencialidade. Achar o craque é mais difícil do que parece. O problema é que o craque não sabe que é craque, o olheiro não sabe e o técnico da escolinha não sabe. É impossível saber. Ser craque significa a pessoa ter um conjunto de características. Se uma delas falha, não temos mais o craque.
O talento é importante, mas não é a única característica. É necessário, por exemplo, ter uma rápida capacidade de recuperação. Candidatos a craque, como Pedrinho, ex-Vasco e Palmeiras, não se desenvolvem, pois se contundem com frequência e têm recuperação muito lenta. Simplesmente não conseguem desenvolver o potencial, pois estão o tempo todo de molho. Ou seja, em uma escolinha de um clube de futebol há vários candidatos a Neymar que não vingam. E simplesmente não temos uma tecnologia que diga quem vingará e quem não vingará.
O clube tem que investir em centenas de candidatos a Neymar para produzir um Neymar. Assim, quando acha um Neymar, tem que ser remunerado não somente pelo custo de formação do Neymar mas também pelo custo de formação da centena que não vingou. Esse é o problema. A Lei do Passe, com todos os seus problemas, era uma forma de abordar essa questão. Precisamos encontrar um substituto para a Lei do Passe. Aparentemente a legislação atual não estimula suficientemente o esforço de formação.
* Formado em física e doutor em economia pela USP, é pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Derivativos toxicos: quem disse que os bancos escapariam impunes?
Citigroup se lame la herida. El tercer grupo financiero de EE UU cerró un acuerdo con el Departamento de Justicia por el que le abonará 4.000 millones de dólares en efectivo por el empaquetado de deuda de hipotecas "tóxicas". Es suficiente para comerse prácticamente todo el beneficio trimestral. El pacto se completa con 2.500 millones destinados a los consumidores, 200 millones para compensar a la agencia que garantiza los depósitos y 300 millones para zanjar las investigaciones abiertas por los estados.
El acuerdo definitivo se anunció una hora antes de que presentararesultados del segundo trimestre y apareció en las cuentas en forma de unas cargas de 3.800 millones de dólares. Los 7.000 millones en los que se valora el total de la reprimenda se quedan lejos de los 12.000 millones que reclamaba el departamento de Eric Holder, una exigencia que casi hizo descarrilar el proceso de negociación y por el que el banco de Michael Corbat arriesgó con ir a juicio.
Holder insiste en que el monto del castigo se corresponde con el daño causado por una conducta que calificó de "falsa y fraudulenta". Es más, el equivalente estadounidense al ministro de Justicia insistió en que este arreglo con el banco no absuelve a ningún empleado, por lo que deja abierta la puerta a una acción por la vía penal. Pero los fiscales han tenido hasta la fecha muy complicado probar que hubo una intención de cometer relamente un fraude.
JPMorgan Chase ya resolvió un expediente similar el pasado noviembre. El fiscal general les acusaba de haber vendido a los inversores paquetes estructurados con deuda hipotecaria de baja calidad. Es uno de los productos financieros detrás de la pasada crisis financiera, la peor desde la Gran Depresión. El banco de Jamie Dimon tuvo que pagar 13.000 millones. Bank of America está en proceso de negocia un castigo que puede ser incluso mayor.
“La conducta del banco fue execrable”, afirma el titular de Justicia en la nota con el anuncio, en la que señala que Citigroup admitió durante la negociación que engañó a los inversores ofreciendo como sanos "productos financieros tóxicos". Para el conglomerado financiero, el pacto le permite dejar atrás el legado de la crisis. “Creemos que va en el mejor interés para los inversores, porque nos permite ahora centrarnos en el futuro y no en el pasado”, señala Corbat.
Aunque este tipo de sanciones no están diseñadas para tumbar a un gran banco sistémico como Citigroup, si le hacen daño a su balance. El grupo financiero con sede en Nueva York cerró el segundo trimestre con un beneficio neto de 181 millones de dólares por las cargas asociadas a la factura legal. Hace un año ganó 4.200 millones. En cuanto a la cifra de negocio, la redujo ligeramente a los 19.300 millones la pasada primavera.
Corbat debe convencer ahora a los inversores de que el banco está bien colocado para sacar tajada de la recuperación. El ejecutivo asegura que el negocio del banco “se mostró resistente ante un clima económico desequilibrado”. También explicó que sigue adelante con el proceso para reducir costes operativos, simplificando productos y procedimiento. También dejó claro que el cuantioso pacto con Justifica no afectará a la posición de su balance.
Copa do Mundo: encerramento comecou com grosseria, terminou com cara feia...
Maquiavel
Dilma constrange convidados ao não assistir à festa de encerramento
A chanceler alemã Angela Merkel e o presidente da Fifa Joseph Blatter assistem à cerimônia de encerramento da Copa do Mundo no Maracanã (AFP)
A presidente Dilma Rousseff não assistiu à cerimônia de encerramento da Copa do Mundo no estádio do Maracanã. Na tribuna, estavam sozinhos – e constrangidos – convidados como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e a chanceler alemã, Angela Merkel. A ausência de Dilma provocou mal-estar entre dirigentes da Fifa e demais autoridades presentes à tribuna. Vários deles comentavam em voz baixa que se tratava de uma grosseria. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, deixou claro seu desconforto com a ausência de Dilma. Mais cedo, a presidente almoçou com nove autoridades no Palácio Guanabara. Mesmo tentando se preservar e dispensando a cerimônia de encerramento, Dilma irá ao Maracanã acompanhar a final entre Alemanha e Argentina. E promete entregar a taça ao time campeão. Resta saber se a presença de Dilma não irá provocar novas vaias.
Leia também: Governo detecta piora do humor do eleitor após queda da Seleção
(Com Estadão Conteúdo)
Um close na cara de Dilma entregando a taça ao capitão alemão, Philipp Lahm, diz tudo. E olhem que a foto não tem som, não é mesmo? Presidente se comportou mal também quando a Alemanha fez o gol. Angela Merkel, claro, levantou-se entusiasmada. E olhem que ela não é, assim, o retrato da animação tropical. Dilma permaneceu sentada, com os braços cruzados. Foi ridículo. Deveria ter se levantado imediatamente para aplaudir. Se, em algum momento, fez isso, não sei. Enquanto Merkel vibrava, a presidente brasileira ficou lá, com ar desenxabido.
Economia brasileira: a crise industrial se aprofunda
Parece que no brejo já caímos.
Só o agronegócio nos impede de nos precipitarmos no precipício, com perdão da redundância...
Paulo Roberto de Almeida
Economia
O Brasil depois da Copa: amor proprio ferido - Milton Simon Pires
Tenho certa distância também, em relação aos comentários de jogadores, de jornalistas, de técnicos, pois as banalidades que ouvimos são de arrepiar...
Mas, não é isto que eu quero falar.
De tudo o que eu li sobre a Copa, e seus resultados, e não postei nada, só gostei desta crônica de um médico de Porto Alegre, de quem reproduzo habitualmente os escritos, pois os acho bem preparados para a situação do Brasil atual, um país afogado em sentimentos contraditórios, e que não consegue ver direito quais são os seus problemas, e onde está a solução.
Ele enxergou direito quais são os problemas e sabe qual é a solução.
Mas, como ele, eu também sei que a solução não aparecerá por milagre, ela é muito dificil...
Paulo Roberto de Almeida
Brics no Brasil: os democratas e os autoritarios - El Pais
Paulo Roberto de Almeida
Unidos pela economia, separados pela democracia
Quando os cinco presidentes do clube dos BRICS se reunirem na manhã de terça-feira em Fortaleza, voltarão a comprovar que como gigantes emergentes estão unidos muito mais por seus interesses econômicos do que por seus posicionamentos políticos e sociais. Por trás da sexta cúpula entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –que respondem por 20% do PIB mundial e 40% da população global– será vislumbrado um choque de filosofias que mostrará se a democracia é necessária para conseguir um sólido crescimento econômico e reduzir a pobreza.
Depois da queda do Muro de Berlim em 1989, o modelo ocidental democrático-capitalista parecia se impor a longo prazo como a melhor receita de sucesso, mas a crise econômica internacional de 2008 e a gradual perda de influência do Ocidente diante do surgimento de novos atores mudaram este paradigma. “Enquanto os poderes ocidentais lutavam por superar a paralisação política, o ‘establishment’ político chinês continuava gerando altos níveis de crescimento e tirando milhões de pessoas da pobreza”, destaca um relatório dos BRICS, apresentado recentemente em Washington e elaborado pelo centro de estudos britânico Legatum, com a colaboração de think-tanks brasileiros, indianos e sul-africanos.
Com certeza, um dos exemplos mais reveladores é a dificuldade do Governo dos Estados Unidos –dada a paralisia que amarra o Capitólio– de conseguir a aprovação para a construção de uma infraestrutura, em contraste com a eficácia e a rapidez da China.
O documento compara os modelos de governos democráticos do Brasil, da Índia e da África do Sul frente aos autoritários da China e da Rússia. E sua conclusão é muito nítida: “A democracia não é um obstáculo ao crescimento. Não é necessário, como alguns argumentam, renunciar às liberdades individuais, ao Estado de Direito, instituições independentes, liberdade de imprensa e eleições regulares. Ao contrário, os direitos e liberdades democráticas podem ajudar a promover um desenvolvimento sustentado, um maior crescimento e reduções efetivas da pobreza”.
Os autores sustentam que o desenvolvimento econômico e social do Brasil, da Índia e da África do Sul nos últimos 25 anos não pode ser entendido sem sua evolução democrática. Por isso, argumentam, representam um modelo de “democracia alternativa do Sul”, afastado do padrão ocidental dos Estados Unidos e da Europa, e que pode servir de referência para outros países emergentes – como Malásia, Turquia e Cingapura-, tentados a não avançarem em relação a liberdades e contrapoderes plenos.
Nas últimas duas décadas, China e Rússia –ainda que em menor medida– registraram uma queda drástica da taxa de pobreza e uma ampliação da classe média. O mesmo foi conseguido pelo Brasil, Índia e África do Sul. Portanto a pergunta surge rapidamente: O que a democracia acrescenta nesses casos? E a resposta, segundo o relatório, é: muitíssimo. Em uma ampla análise comparativa e partindo do pressuposto de que o conceito de democracia vai além da realização das eleições, o documento destaca que esse modelo permite uma maior liberalização econômica, dá poder e protege indivíduos que não pertencem a classes privilegiadas, gera instituições alheias às interferências políticas –um assunto-chave para reduzir a corrupção–, e permite aos indivíduos denunciar abusos de poder sem serem reprimidos. Fatores imprescindíveis em nações emergentes com amplas disparidades raciais, étnicas, regionais e de classe.
Além disso, ao contrário das sociedades autoritárias, as democráticas “podem corrigir a si mesmas”, geram um “contrato social” ao forjar uma identidade nacional em torno de valores democráticos que permitem uma solução pacífica de tensões, e que “fomentam e blindam a inovação social e econômica.” Por exemplo, os autores duvidam que o Bolsa Família, o bem-sucedido programa brasileiro de subsídios para reduzir a pobreza, teria conseguido impulso em países despóticos.
O panorama, no entanto, está longe de ser idílico. Brasil, Índia e África do Sul mantêm numerosos problemas e desafios –além dos econômicos, a corrupção e a desigualdade continuam elevadas–, o que os coloca em uma encruzilhada. “Existem circunstâncias perigosas nos três. É preciso mais democracia”, afirmou na apresentação do relatório Ann Bernstein, diretora-executiva do Centro para o Desenvolvimento e Empreendimento, um laboratório de ideias sul-africano.
O documento considera que as reformas estruturais empreendidas nos três países na década de noventa ficaram obsoletas e defende uma segunda onda para fazer frente às crescentes exigências de melhorias por parte da classe média urbana, ao risco de perder competitividade mundial e à dificuldade de manter o elevado gasto público em políticas sociais. Em concreto, propõe melhorar a transparência e a responsabilidade nas instituições, liberalizar mais a economia, ganhar eficiência na gestão de serviços públicos e promover a autossuficiência nas políticas contra a pobreza. O objetivo: conseguir um crescimento econômico sólido e inclusivo sem perder a estabilidade política.
O contexto não é por acaso: 2014 é um ano eleitoral para os três grandes emergentes democráticos. Índia e África do Sul foram às urnas em abril e maio, com a mudança de governo no gigante asiático. E será a vez do Brasil em outubro, com a presidenta Dilma Rousseff liderando as pesquisas. O que parece muito improvável, concordam os analistas, é que as divergências democráticas no seio dos BRICS sejam tratadas na cúpula de Fortaleza. O clube dos emergentes, enfatizam, nasceu como um conceito econômico e de contraposição aos organismos ocidentais.