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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

A Arte da Resenha (para amantes de livros) - Paulo Roberto de Almeida (2006)

Revisando listas antigas, para fins de pura contabilidade, encontrei este trabalho, jamais publicado em alguma revista, e provavelmente apenas divulgado por este meio. Acredito que várias de suas considerações ainda permaneçam válidas, razão pela qual o divulgo novamente...
Paulo Roberto de Almeida


A arte da resenha
(para uso de aprendizes, neófitos e outros amantes de livros)

Paulo Roberto de Almeida
(um book-addicted e dependente livresco terminal...)

Não conheço as regras, se existem, que eventualmente se aplicariam à prática das resenhas literárias e confesso que nunca vi nenhum “manual do resenhista profissional” (creio que isso não existe, ainda que possa haver mercado para algum tipo de “How to do a perfect review” ou então “An Idiot’s Guide for Reviewing Books”). Em todo caso, não pretendo, no presente texto, ou em qualquer outro contexto, preencher essas lacunas ou responder a questões do tipo “tudo o que você sempre quis saber a respeito das resenhas de livros e nunca teve a quem perguntar”.
Meu propósito é mais modesto e totalmente autoexplicativo. Pretendo, apenas, delinear alguns princípios constitutivos do que poderia ser considerado uma resenha em moldes “normais”, uma vez que este gênero, em especial no Brasil, parece ter derivado para o equivalente das modernas guerras de religião, com trucidamentos impiedosos de um lado e excessos encomiásticos de outro. Sem pretender fazer um “Book review for beginners”, vejamos o que poderia ser dito de razoável neste campo da leitura crítica.

Como sou um book-lover irrecuperável, um leitor compulsivo e um anotador doentio – tendo já preenchido, desde a adolescência, vários cadernos de leituras, antes de passar às notas de computador –, pratico, desde o início desse meu não tão secreto vício da leitura contínua, o hábito dos resumos e das resenhas críticas. Faço-o por absoluto gosto da leitura anotada, e do debate crítico, ainda que unilateral e à distância, com o autor de cada um dos livros que leio. Antes – e durante certo tempo – tinha por hábito anotar à margem dos livros, o que só podia fazer, evidentemente, com aqueles que me pertenciam, sendo escusado fazê-lo, por respeito aos demais leitores e ao patrimônio bibliotecário, naqueles livros tomados de empréstimo, outro hábito secular meu, se ouso dizer, desde tempos imemoriais. Em todo caso, eu já freqüentava bibliotecas antes de aprender a ler, na “tardia” idade de sete anos. Creio que meu primeiro trabalho publicado, já na adolescência, foi uma resenha de um livro de Erich From – acho que foi Medo à Liberdade, versão brasileira, pela Zahar, de Escape From Freedom (1941) –, impresso em mimeógrafo a álcool num jornalzinho do grêmio acadêmico do colegial e que caberia algum dia recuperar.
Essas anotações à margem – que aumentam o valor dos livros usados quando seu autor é algum personagem famoso, cuja biblioteca foi reciclada ou doada por herdeiros “desprezíveis” – são incômodas, posto que “telegráficas” e incompreensíveis, ademais de incompletas, fora do contexto em que foram feitas. Daí minha inclinação, desde muito cedo, pela anotação crítica dos pontos relevantes de cada obra e uma avaliação final sobre a contribuição daquele livro para o conhecimento de algum campo especializado. Sim, devo confessar também que, salvo em raras ocasiões, minhas resenhas críticas sempre se dirigiram a obras de não ficção, uma vez que me confesso, não um “objeccionista” de obras puramente literárias, mas um leitor relativamente incapaz de realizar análises de obras de literatura stricto sensu. Meu “pecado original” sempre foi, e permanecerá sendo, a resenha de obras de não ficção, em especial no campo das humanidades, o que inclui também a economia e algumas vertentes das ciências “duras”.

Dito isto, vejamos agora o que eu considero que deva ser, ou constituir, uma resenha. Talvez fosse o caso de começar por dizer o que NÃO deve ser uma resenha.
Seria preciso, em primeiro lugar, que haja um mínimo de empatia entre o autor e o objeto em questão, ou seja, algum vínculo de interesse mais forte entre o resenhista e a obra examinada. Ainda que se possa conceber um exercício de crítica implacável, ou a condenação sem apelo de uma obra resenhada, não conviria que o animus examinandi do resenhista fosse totalmente negativo em relação ao autor do livro ou a temática do próprio. Resenhas sob encomenda, ou como obrigação profissional, podem correr esse risco, ainda que seja concebível a existência – aliás reconhecida – de resenhistas profissionais, pagos pelos órgãos da imprensa, para fazer exatamente esse tipo de trabalho. Mas, seria importante que o resenhista disponha de certa liberdade na escolha dos livros a serem examinados, como forma de garantir a já referida empatia.
Em segundo lugar, uma resenha tampouco deveria tentar descobrir supostas motivações pessoais do autor do livro sob exame, idéias que não estão explícitas, de forma transparente, na obra em questão. O único critério válido é o exame da obra em si, seus argumentos intrínsecos e explícitos, não o que possa pensar o autor sobre assuntos da vida civil ou suas opiniões expressas em outras circunstâncias e ocasiões, a propósito de outros temas. O que autor pensa deve se esconder atrás da obra, cujo conteúdo deve permanecer como critério único e exclusivo da atenção do resenhista.
Uma resenha também NÃO deve servir como meio de vingança por querelas passadas ou diferenças políticas e ideológicas que possam até dividir os “interlocutores” na vida civil. Trata-se de prática bastante comum nos meios de comunicação fortemente partidarizados ou dominados por alguma personalidade identificada com determinadas causas políticas e sociais. Não se pode excluir, é verdade, a exposição e o exame das posições políticas do autor da obra, mas o próprio resenhista deveria tentar separar esse aspecto da avaliação da obra, a não ser que esse aspecto seja inerente à temática exposta.

Vejamos, agora, o que pode ser uma resenha. Ela pode, obviamente, ser muitas coisas, ao mesmo tempo ou alternativamente, mas tudo depende da finalidade ou destinação da resenha em causa. Não estou considerando aqui “press releases” das próprias editoras ou notas factuais com finalidades puramente comerciais ou de simples informação e registro. Uma resenha deve conter uma exposição do conteúdo do livro, uma observação sobre o eventual ineditismo ou caráter original das informações ou dados nele contidos e alguma apreciação crítica sobre seu valor enquanto obra literária (ou científica, no sentido amplo).
Quanto à forma das resenhas, não existem propriamente padrões fixos. Os modelos consagrados são os mais variados possíveis, indo das pequenas notas às resenhas quilométricas. Essas variedades tendem a distribuir-se segundo os meios de divulgação. Jornais e revistas de informação geral parecem reservar espaço para apenas dois tipos de “resenhas”: curtas notas de registro sobre a publicação das obras correntes, isto é, a produção comercial das editoras, e resenhas stricto sensu que informam sobre o conteúdo e discutem as principais idéias ou argumentos do autor. Já os veículos especialmente consagrados à discussão da produção literária – periódicos especializados e suplementos literários dos próprios jornais – costumam abrigar resenhas lato sensu, que soem ser de maior amplitude.
Confesso minha preferência pelos artigos-resenhas – ao estilo dos review-articles do quinzenal literário The New York Review of Books (não confundir com The New York Times Book Review, o suplemento literário dominical desse jornal) – pois neles é possível discutir um grande problema mediante a apresentação de um ou mais livros que tratem do assunto em pauta. Trata-se de um gênero de resenhas muito pouco cultivado no Brasil, praticamente sem espaço em nossa imprensa, pois mesmo as revistas que agora surgiram para tratar de livros – como a Entrelivros, por exemplo – não ostentam, a propriamente falar, essas resenhas-artigos que fazem a fama da NYRB (a Entrelivros, aliás, publica resenhas do NYTBR). Nem sempre se trata de livros – pode ser uma exposição, ou um filme –, mas sempre é uma peça literária no mais alto sentido intelectual da palavra.

A forma não é, contudo, o coração da resenha, uma vez que ela pode ser tão mutável ou inovadora quanto os gêneros literários. O essencial da resenha está naquilo que é transmitido ao leitor, seu espírito e seu discurso. Uma resenha deve conter, antes de mais nada, um resumo dos argumentos principais do livro sob exame, dispensável, na parte relevante, quando se trata de uma trama policial, quando sequer se sugere o famoso “whodunit”, mas podem ser dadas as circunstâncias do crime. A exposição honesta, concisa e objetiva do teor do livro é um elemento essencial da resenha bem conduzida, sem a qual ficam lacunares tanto a discussão dos argumentos ou idéias do autor do livro quanto a crítica que se pretende fazer deles.
Uma vez apresentado o livro, idealmente no primeiro terço da resenha, caberia ao comentarista agregar outros elementos que permitam situar o livro no seu contexto, um pouco como sua posição no “estado da arte” daquele campo do conhecimento, o que no caso dos romances representaria discutir o que ele traz de novo ou de original em relação ao gênero no qual ele se situa. Essa parte também pode vir ao início, se há espaço suficiente para o resenhista começar o exame de uma obra pela avaliação do campo mais vasto no qual ela se situa.
O terceiro elemento central de uma resenha, obviamente, é a avaliação crítica do resenhista, sua apreciação favorável ou a indicação das limitações da obra em exame. Este ponto é um componente indispensável de toda resenha, ainda que bastante flexível em relação às possibilidades abertas segundo o veículo ao qual a resenha se destina. Uma revista acadêmica tem padrões bastante rígidos para a elaboração desse tipo de nota crítica, ao passo que um pasquim literário oferece latitude para considerações de ordem mais subjetiva. A resenha verdadeira sempre termina por algum julgamento de valor, o que por vezes descamba para alguma condenação sem recurso, segundo as escolas e clãs em que se divide a chamada république des lettres. São raros, contudo, os casos nos quais a resenha nada mais representa do que uma estocada mortal nas pretensões do autor a uma brilhante carreira literária. No mais das vezes, os golpes são superficiais, apenas para não inflar por demais o ego do autor, quando se trata do pura literatura.
Nos campos das ciências humanas e da economia, que constituem meus terrenos de manobras favoritos, a seriedade é de rigor, mas também já assisti a descomposturas em regra, quando não a poderosos tiros de canhão, como acontece nas verdadeiras guerras de religião, que nestes casos separam a esquerda – dominante nos meios da academia – de uma suposta direita, sempre envergonhada e quase inexistente. O que ocorre, geralmente, é que uma ala ignora a outra, sendo que a esquerda faz resenhas favoráveis de sua tribo e os liberais só se interessam pelos livros que eles reputam ter qualidades suficientes para merecer uma avaliação crítica. Não vou listar os veículos preferidos de uma ou outra escola, mas no terreno universitário todas as revistas estabelecidas ostentam, por dever de ofício, seções de resenhas, nas quais os mestrandos e outros candidatos a títulos podem exercer seus talentos até serem chamados a assinar verdadeiros artigos “científicos”.
Resumindo, e dando as “palavras-chave”, eu diria que uma boa resenha deveria ser feita dos seguintes elementos:
(a) Objeto: apresentação resumida do livro, com suas partes ou seções constitutivas e algum destaque para o argumento principal;
(b) Desenvolvimento: discussão das idéias centrais do autor, sua coerência intrínseca, sua validade extrínseca e contexto mais amplo nas quais elas podem ser inseridas;
(c) Avaliação: apreciação crítica, tanto do ponto de vista do conteúdo quanto do método, se for o caso, com balanço da contribuição do autor para a área do conhecimento;
(d) Prolegômenos e derivações: havendo espaço e possibilidade, a resenha pode começar discutindo o próprio campo no qual se situa a obra, fazendo um balanço do “estado da arte” e antecipando seu possível impacto para os estudos futuros naquele campo.

Voilà, creio ter apresentado o meu “manual” da resenha honesta, mas na verdade devo confessar que sou muito pouco sistemático, no sentido dos pontos acima resumidos. O que acaba valendo, para mim, é, finalmente, a empatia para com o livro ou o autor, elementos centrais, senão essenciais, de toda boa resenha. Vale!
Brasília, 24 de janeiro de 2006

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Addendum em 14/02/2015: 
Googlelizando um pouco agora, descobri que existem mais de 900 milhões de artigos indexados sobre a arte de resenhar um livro. Entre as primeiras listadas, figura inclusive um post que eu havia feito em torno de um artigo de George Orwell sobre essa exata questão:


Aproximadamente 916.000.000 resultados (0,44 segundos) 
Resultados da pesquisa
www.writing-world.com/freelance/asenjo.shtml
And even though I knew I didn't, that didn't stop me from firmly inserting my foot in my mouth by agreeing to conduct a book review writing workshop for my local ...
www.wikihow.com › ... › Books
How to Review a Book. Writing a book review is not just about summarizing; it's also an opportunity for you to present a critical discussion of the book.
www.wikihow.com › ... › Book Reviews
How to Write a Book Review. You've been assigned a book review but don't even know what book to pick, let alone how to write the review. Do you go for an ...
writingcenter.unc.edu › Handouts
This handout will help you write a book review, a report or essay that offers a critical perspective on a text. It offers a process and suggests some strategies for ...
www.booktrust.org.uk › Books › For teens › Writing tips
·  Other readers will always be interested in your opinion of the books you've read. Whether you've loved the book or not, if you give your honest and detailed ...
guides.library.queensu.ca › Guides - Traduzir esta página
23 de out de 2014 - A book review is both a description and an evaluation of a book. It should focus on the book's purpose, contents, and authority. Scan the Book's ...
www.enotes.com/topics/how-write-book-review
Here's a 10-step process you can use to review any book. 1) Don't read the book. At least, not yet. Instead, start by looking at it. Look for clues to the nature of the ...
en.wikipedia.org/wiki/Book_review
A book review is a form of literary criticism in which a book is analyzed based on content, style, and merit. A book review can be a primary source opinion piece, ...
teacher.scholastic.com/writewit/bookrev/tips.htm
This lesson plan invites students to plan, draft, revise, and publish a book review. Important writing tips and a professional writing model are particularly useful.
leo.stcloudstate.edu/acadwrite/bookrev.html
Steps for Writing a Good Book Review. Introduce the subject, scope, and type of book. Identify the book by author, title, and sometimes publishing information.
https://plus.google.com/.../H1ugAsdEa5H
1 de fev de 2015 - Reflexao da semana: George Orwell on book reviewing. Confessions of a Book Reviewer George Orwell Confessions of a Book Reviewer , 1946 [L.m./F.s.: ...



sábado, 14 de fevereiro de 2015

Ditaduras latino-americanas: um manifesto a favor das liberdades, e um teste historico...

Permito-me reproduzir abaixo um manifesto de apoio ao povo cubano escrito por intelectuais argentinos. Mas ele poderia ser aplicado, mutatis mutandis, ao povo venezuelano, nas mesmas circunstâncias. Assim diz o texto, no original, com cortes mínimos por conter informações desnecessárias: 

Ante la situación política de Cuba, un grupo de intelectuales argentinos dio a conocer una declaración, en la que expresa su apoyo moral al pueblo de ese país en su lucha para restablecer el imperio de la libertad y la justicia en la tierra de Martí. La declaración dice así:
Los escritores y artistas argentinos que subscriben (...) expresan su solidaridad con quienes, en otros pueblos de América, luchan por la liberación de sus respectivos países, sometidos a regímenes de fuerza. Desean manifestar especialmente su apoyo moral al pueblo cubano, que, tremendamente agraviado y despojado de las garantías elementales de la civilización política, sufre persecución, vejamen y tortura, y lucha con admirable decisión y valentía para abatir la dictadura y restablecer, en la tierra de Martí, el imperio de la libertad y la justicia, cimentados en la soberanía del pueblo y la vigencia del derecho.

Firmaram esse documento dezenas de nomes de intelectuais conhecidos na história artística e literária argentina, entre eles Adolfo Bioy Casares e Jorge Luis Borges. Pois bem, como ambos escritores, como se sabe, já não estão mais entre nós desde algum tempo, cabe fazer um esclarecimento a respeito e agregar um comentário pessoal sobre esse tipo de exercício, se eventualmente conduzido atualmente, e em direção da mesma Cuba, e da Venezuela, atualmente.

O texto, na verdade, não é atual, tendo sido publicado no diário El Mundo, de Buenos Aires, em 2 de março de 1958, e se referia, portanto, à luta dos democratas e revolucionários cubanos contra a ditadura de Fulgencio Batista
Os argentinos, então, saiam de uma outra ditadura, ainda que alguns a classificassem simplesmente de regime populista: o governo peronista, que tinha durando dez anos, desde o imediato pós-segunda guerra. Os intelectuais argentinos se orgulhavam, assim, de ter deixado para trás um triste período de sua história e se dispunham a ajudar outros povos da América Latina que também lutavam contra a ditadura em seus respectivos países, antecipando um pouco o que seria a chamada “doutrina Betancourt”, formulada depois de superada uma outra ditadura na Venezuela nesse mesmo ano de 1958 (e que levou inclusive o governo venezuelano a suspender relações diplomáticas com o Brasil, quando instalada aqui a ditadura militar de 1964).
Se me permito, agora, fazer um comentário atual, na verdade uma triste constatação, seria esta. Não creio que, atualmente, intelectuais brasileiros ou argentinos, ou de qualquer outro país latino-americano, se dispusessem a assinar um manifesto do mesmo teor – que poderia ter, inclusive, exatamente o mesmo texto – em favor do povo cubano ou do povo venezuelano, em luta pelo restabelecimento da democracia e do império da liberdade, da justiça e do direito naquela ilha e no grande país caribenho, a primeira desde cinqüenta anos dominada por um regime que prometeu acabar com uma ditadura opressiva, o segundo dominado por uma clique que na verdade obecede aos ditamos daquela ditadura caribenha.
Pode ser patético fazer tal tipo de constatação “regressiva”, mas ela nos revela o quanto recuaram os intelectuais latino-americanos na defesa da democracia e da liberdade em nossos países. Em nome de não se sabe qual ‘soberania popular’ e de não se sabe qual ameaça de ‘dominação imperialista’, intelectuais dos países latino-americanos se mostram muito mais dispostos, na verdade, a assinar, de forma totalmente servil e incompreensível, manifestos em favor da continuidade da ditadura na ilha caribenha. Se pretendesse citar nomes, eu poderia alinhar alguns acadêmicos brasileiros que cometeram a indignidade de apoiar o regime cubano quando este condenou à morte alguns balseros (boat-people) que tentavam fugir da ilha, em 2003. Triste constatação, sem dúvida, que talvez merecesse adjetivos mais fortes.
Da mesma forma, nenhum, não venho nenhum intelectual brasileiro, salvo dois ou três articulistas, se pronunciarem sobre o regime venezuelano.
 Tristes tempos...
Paulo Roberto de Almeida  
Hartford, 14 de fevereiro de 2015

Venezuela: Memorias do Carcere, versao bolivariana...

E o Mercosul, e a Unasul, não tem nada a ver com o que está acontecendo naquele país?
Não preciso de respostas, eu já sei...
Paulo Roberto de Almeida

Rei Momo chavista

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, exibiu mais uma vez seu pendor para a democracia, tão apreciado por Lula e Dilma Rousseff.
Leopoldo López, o principal prisioneiro político do chavismo, sofreu uma violenta busca em sua cela na prisão militar Ramo Verde. Um grupo de homens armados e mascarados, liderada pelo diretor da prisão, coronel Homero Miranda, destruiu os pertences pessoais e os documentos do líder do movimento oposicionista.
A Venezuela está se esfacelando. Nicolás Maduro será derrubado pelos militares. Mas vai fazer muitos estragos daqui até lá, com a cumplicidade do governo brasileiro.

Marcha do Impeachment: agora menos marcha e mais protesto mesmo - Guilherme Fiuza

Já estamos sabendo que a tropa de mafiosos, como convém a mafiosos, articulou com o seus fieis amigos e sócios na extorsão de dinheiro público, um meio de safar os principais malfeitores -- ou seja, os chefes da quadrilha e seus financiadores financiados por todos nós -- da ameaça de cadeia, ou da paralisação das atividades extrativas, justamente.
As chances do impeachment, que nunca foram muito grandes -- pois mesmo havendo motivos imperiosos, inclusive do ponto de vista criminal, seria barrado no legislativo -- agora diminuiram de vez. Sobra o protesto do dia 15 de março, a ser antecedido por um pronunciamento da soberana (e beneficiária no esquema).
Nunca antes neste país me senti espectador passivo de um espetáculo tão torpe quanto este.
Acredito que o jornalista Guilherme Fiuza ainda terá matéria para outros artigos entre a gozação e a indignação, que é o tom deste aqui.
Paulo Roberto de Almeida

Todo mundo de preto
Guilherme Fiuza
O Globo, 14/02/2015

O sustento nababesco dos companheiros com dinheiro público é uma das poucas instituições realmente sólidas no Brasil

Depois do carnaval, Dilma Rousseff fará um pronunciamento à nação, em cadeia nacional de rádio e TV, para defender a Petrobras. Providência oportuna. A maior estatal brasileira está afundando, e isso é grave. Como se sabe agora, uma boa fatia do dinheiro que ajuda o PT a ficar para sempre no poder é sugada da Petrobras. É o orçamento da revolução companheira que está em jogo — e com isso não se brinca.

Em defesa da Petrobras, Dilma deveria começar sua fala aos brasileiros condenando esse absurdo, esse descalabro que é a ação da polícia e da Justiça. De forma golpista e neoliberal, os homens da lei insistem em tentar sabotar o duto entre a estatal do petróleo e o Partido dos Trabalhadores. O sustento nababesco dos companheiros com dinheiro público é uma das poucas instituições realmente sólidas no Brasil do século 21 — e esses invejosos são assim mesmo, não podem ver nada funcionando direito que já querem melar. Só falta exigirem que os guerreiros do povo brasileiro devolvam as centenas de milhões de dólares que ganharam da Petrobras com o suor dos seus rostos e das suas mãos ágeis. Dilma não pode permitir esse golpe da elite branca.

No seu pronunciamento pós-carnavalesco, a presidenta mulher e oprimida precisa denunciar o preconceito. Como se não bastasse o trauma do mensalão, lá vêm as vozes reacionárias perseguir novamente as estrelas do proletariado. Será que o Brasil, esse insensível, não se lembra do sofrimento imposto ao nosso Delúbio, só porque o tesoureiro zelava pela segurança das transferências do Banco do Brasil para os cofres da revolução? Não, não se lembra. Senão não estaria impondo a mesma tortura a Vaccari. Só pode ser preconceito contra a categoria dos tesoureiros.

Agora está aí, nas manchetes da imprensa burguesa: João Vaccari e José Dirceu recebiam pessoalmente parte da propina da Petrobras destinada ao PT, segundo a investigação da Lava-Jato. Prezado brasileiro, você não está desconfiando de nada? Não percebe que são sempre os mesmos personagens implacavelmente perseguidos, só porque dão ao dinheiro do contribuinte a honra de financiar a rave deles no Palácio do Planalto?

Chega de discriminação contra o governo popular, chega de humilhar essa gente sofrida e milionária. Se vocês querem saber, seus conspiradores, os heróis do PT nem precisam desse dinheiro. Como acaba de ser revelado, o partido criou e oficializou a propina por dentro. Está dito e confirmado pelas testemunhas do petrolão: o suborno requerido aos fornecedores da Petrobras era convertido em doação legal ao PT. Propina oficial – com recibo, à luz do dia, tudo direitinho. Parem de perseguir quem está roubando honestamente.

Dilma, vá à televisão e grite contra os golpistas. O dinheiro abençoado do petrolão ajudou a bancar a sua reeleição, não permita que ponham sob suspeita a legitimidade do seu mandato — obtido com o voto consciente e a pilhagem mais consciente ainda. Defenda os companheiros que lhe têm bancado essa aventura inimaginável no leme da nação, com o mesmo ardor com que defendeu os mensaleiros. A nova CPI no Congresso possivelmente levará à discussão do seu impeachment. Corte esse mal pela raiz. Mande avisar que as mesadas serão cortadas e os traidores ficarão a ver navios, como esses que explodem a serviço da Petrobras.

Seu pronunciamento à nação será um sucesso, presidente. Carnaval terminado, todo mundo de ressaca e sem dinheiro — a sua aparição na TV será um bálsamo, tudo que o brasileiro estará desejando para recobrar o ânimo e encarar 2015 com alegria e otimismo. Não economize seu carisma e sua simpatia. Defenda a Petrobras com aqueles argumentos inteligentes usados na primeira reunião ministerial — acusando os inimigos de quererem “desprestigiar o capital nacional”. É bem verdade que naquela ocasião o teleprompter travou, justamente nessa frase. Foi oportuna a sua descompostura no operador da máquina. É muito desagradável gaguejar nessa frase depois do que o PT fez com a Petrobras.

Mas na gravação da mensagem aos brasileiros não haverá problema desse tipo. Errou, repete. Só não permita que seus olhos falem demais — não se esqueça de que eles não estão na delação premiada.

E você, cidadão brasileiro, não fiquei aí parado. Guarde um pouco da sua energia carnavalesca para ajudar Dilma Rousseff a defender a Petrobras e o bloco dos sujos. No dia do pronunciamento histórico, saia de casa de preto — a cor do petrolão, energia vital do governo popular. Se possível, na hora da cadeia obrigatória de rádio e TV vá para a rua trajando seu pretinho básico (não precisa assistir ao pronunciamento, você já sabe que a sua presidenta vai arrasar). Não se esqueça de deixar pendurado na janela também um pano preto, simbolizando a paz (dos cemitérios).

Ah, sim: leve uma vela acesa na mão, para iluminar o apagão governamental e ajudar a chefe da nação a encontrar a porta da saída.

Debate: a meritocracia da meritocracia nao diminui a virtude da meritocracia

O comentarista abaixo, Flavio Moura, pretende desmerecer a meritocracia pelo fato de os mais "meritocráticos" serem os filhos da "aristocracia", que tendem a se perpetuar no poder e na riqueza, justamente por serem filhos de quem já tem poder e riqueza.
Não se propõe nada substitutivo, mas a suposição é a de que o Estado precisa corrigir essas "deformações", provavelmente avançando sobre a fortuna dos mais ricos e distribuindo benesses entre os pobres, ou criando cotas para permitir a ascensão dos supostos oprimidos sociais.
Não há nada que justique o fim do argumento meritocrático, apenas porque alguns são mais meritocráticos do que outros. Este é um dado da realidade, que se explica pela mesma linha da desigualdade entre países: alguns são mais produtivos do que outros, porque o seu capital humano é maior e melhor. 
Qual a resposta a isso?: certamente não é responsabilizar os países mais ricos pela pobreza dos outros ou pretender transferir a sua riqueza para os países mais pobres, como se transferência de renda fosse melhorar a produtividade dos mais pobres.
Da mesma forma é falso o argumento que pretende que a educação é um "capital valioso [que] está cada vez mais escasso e [sendo] dominado pelos mais ricos e bem formados".
Não é simplesmente verdade. Todos reconhecem tratar-se de um capital valioso, mas os mais pobres ainda não tomarem plena consciência disso. Eles precisam ser convencidos pela educação, pela ibstrução, pelo ensino, pelo exemplo, pela experiência dos demais.
É falso o argumento que esse capital vem sendo dominado, ou seja, monopolizado, pelos mais ricos e poderosos, como se ele não estivesse aberto igualnente aos demais. 
É certo que os mais ricos tem acesso a uma educação melhor, por terem mais dinheiro, nas isso não diminui as chances dos mais pobres que buscam aceder ao ensino de qualidade pelo princípio meritocrático, ou seja pelo esforço individual. Muitas das grandes fortunas, nos EUA e em outros países, foram construídas por indivíduos sem títulos universitários, na base do lampejo individual, do esforço próprio, ou seja, na base da meritocracia.
A resposta para as falhas da meritocracia é mais meritocracia, não menos. 
Ou seja, todos os recursos individuais e públicos precisam ser devotados para a formação de capital humano. Se os ricos precisam ou podem ser mais taxados - mas se supõe que todos os países democráticos sejam mais progressivos do que regressivos em suas estruturas fiscais e impositivas -- todos os recursos adicionais devem ser dirigidos à educação, em todos os níveis, mas preferencialmente para os níveis básicos, elementares, técnico-profissionais. 
Nenhum país necessita de 100% de universitários, pesquisadores ou cientistas em sua população ativa, mas todos eles precisam de uma população educada e funcionalnente preparada para todas as tarefas da vida diária. Um país não precisa devotar todos os seus recursos para a educação superior, e se pode ter meritocracia também entre motoristas, bombeiros (encanadores), padeiros e açougueiros.
A ilusão é o igualitarismo. A solução para isso é o princípio meritocrático.
Paulo Roberto de Almeida

Até a bíblia do liberalismo reconhece que a meritocracia é uma ilusão

Foto: ReproduçãoFoto: ReproduçãoA revista TheEconomist pode ser criticada por vários motivos, mas jamais por ser uma publicação de esquerda. Fundada em 1843, é a mais influente divulgadora do pensamento liberal de recorte clássico, aquele com origem nos pensadores britânicos do século XVIII.

Metade dos colunistas da imprensa brasileira que se auto intitulam “liberais”, quando não estão vocalizando preconceitos de classe, se pautam por matérias publicadas nessa revista.

Por isso é particularmente revelador o silêncio desses mesmos colunistas a propósito da matéria de capa da edição da última semana de janeiro. “Uma meritocracia hereditária”, diz o título do texto principal.

O argumento é simples: nos Estados Unidos, a pátria da ideologia em torno das “oportunidades iguais”, virou piada falar em meritocracia. Pelo simples motivo de que os filhos dos ricos e poderosos estão cada vez mais aptos a ganhar mais dinheiro e poder que os demais.  

Claro que as elites econômicas, em todo lugar, sempre souberam se perpetuar e o nepotismo nunca deixou de ser um instrumento à mão.

Mas agora os americanos se deram conta de que a fração privilegiada das crianças e adolescentes, aquela cujos pais têm curso superior, dinheiro e boa rede de relações, é a que se encaixa melhor nos critérios meritocráticos.

Em outros termos: alguns “merecem” mais do que outros.

Há dados interessantes para embasar o argumento. Entre 1960 e 2005, a porcentagem de homens com diploma universitário que se casaram com mulheres que também concluíram o ensino superior subiu de 25% para 48%.

Isso significa um aumento bastante significativo na preocupação dos pais com a educação dos filhos. “As pessoas tendem a encorajar nos seus filhos o que valorizam nelas mesmas e nos seus parceiros”, diz o autor do texto.

Mais relevante do que isso: casais com ensino superior tendem a ter mais dinheiro para investir em educação. E isso tem gerado uma lacuna cada vez maior, do ponto de vista de renda, entre casais com maior escolaridade.

Eles também têm números para exemplificar: entre 1979 e 2012, a distância entre o rendimento de casais com nível universitário, em comparação aos vencimentos daqueles que têm apenas segundo grau, cresceu quatro vezes mais do que a distância entre os famosos “um por cento” mais ricos e o restante da sociedade.

Como é sabido para todos, o grande funil para a ascensão social é a educação – e o que a reportagem mostra é como esse capital valioso está cada vez mais escasso e dominado pelos mais ricos e bem formados.

Esse truísmo já está entronizado no pensamento de qualquer corrente que se queira preocupada com a desigualdade social. Mas é significativo que mesmo as bíblias do “liberalismo” contemplem essa nuance importante para a noção de “meritocracia”.

É um exemplo contundente de como a discussão está rebaixada por aqui.

O economista de esquerda mais festejado do momento, o francês Thomas Piketty, é a favor da economia de mercado e tira sarro da mentalidade presa na dicotomia da guerra fria.

A bíblia do liberalismo dá matéria de capa para construir uma noção menos chapada de meritocracia.

Já na briga de torcidas que impera por aqui, o pessoal continua gritando os disparates em branco e preto de costume.

Meritocracia para quem, cara-pálida? 

Nossos liberais mereciam estudar um pouco mais.

Brasil: o impeachment do impeachment, ou, como os mafiosos ganharam uma vez mais

Acho que foi o chefe da quadrilha que disse uma vez algo como: "eles não sabem do que somos capazes", ou "eles não sabem o que somos capazes de fazer".
Pensei que era só bravata, e de certa forma era.
Mas agora sabemos, realmente, do que eles são capazes. Tudo.
Mafiosos, no cinema ou na realidade, nunca acabam de verdade, não é verdade?
Eles continuam atazanando por aí até o próximo filme, certo?
Pois é...
Paulo Roberto de Almeida

Luís Inácio corre para salvar Luiz Inácio

O Antagonista, 14/02/2015

Agora ficou claro por que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse a um advogado de empreiteira, em reunião secreta, que a Operação Lava Jato "tomaria outro rumo" depois do carnaval e, portanto, ele "desaconselhava" que os executivos presos partissem para a delação premiada.

Em conluio com Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, dirigiu-se ao Tribunal de Contas da União (TCU), com uma Instrução Normativa redigida no Palácio do Planalto. Por essa Instrução Normativa, aprovada em tempo recorde, o TCU analisará concomitantemente com a Controladoria-Geral da União (CGU) os acordos de leniência firmados com o Estado. Isso garante que os acordos feitos no âmbito da CGU não correrão o risco de serem anulados depois pelo tribunal -- mesmo com um TCU dominado por PT e PMDB, as empreiteiras temiam essa possibilidade quando lhes propunham tal saída.

A aprovação da Instrução Normativa é ótima para Lula, Dilma e os larápios associados porque:

a) Acordos de leniência podem ser feitos diretamente com a CGU, sem passarem pela Justiça

b) Dessa forma, contorna-se o juiz Sergio Moro

c) Pelos termos de um acordo de leniência, as empresas reconhecem que praticaram os crimes, pagam uma multa e não são consideradas inidôneas. Podem continuar a assinar contratos com o governo em qualquer nível

d) Ao contrário do que ocorre com a delação premiada, elas não precisam contar tudo. Ou seja, que Lula e Dilma estão implicados até o pescoço no esquema do Petrolão

e) A chance de Dilma sofrer impeachment reduz-se dramaticamente, visto que será quase impossível imputar-lhe o crime de responsabilidade

f) Sem o perigo de falência, as empreiteiras podem dar um grande cala-a-boca ou um aguenta-aí-até-chegar-no-STF aos executivos presos e aos seus sócios em cana, como Ricardo Pessoa, da UTC, que ameaçavam seguir o caminho da delação premiada. A ameaça de Ricardo Pessoa de partir para a delação foi decisiva para o Planalto armar rapidamente o golpe

Luís Inácio Adams percorreu freneticamente os gabinetes dos ministros do TCU, acompanhado do ministro Bruno Dantas, para aprovar uma Instrução Normativa, repita-se, redigida no Palácio do Planalto, e não pelo ministro Bruno Dantas, como foi noticiado. Ninguém levantou a menor objeção.

A menos que um executivo preso ache insuportável a ideia de passar anos na cadeia, ainda que com o seu futuro assegurado economicamente, ou que a sociedade esboce reação, Luís Inácio salvou Luiz Inácio -- e Dilma.

Diplomacia: um embaixador diz claramente que o chefe de governo mentiu; fez bem...

Onde foi? Em Portugal.
E o embaixador já serviu no Brasil, e sabe quando um chefe de governo está a mentir...
Paulo Roberto de Almeida
Azar
Hoje, sexta-feira 13, o senhor primeiro-ministro teve azar. Disse que Portugal foi dos países que mais contribuiu na ajuda europeia à Grécia. O Dr. Passos Coelho, no seu militante empolgamento contra o novo governo de Atenas (confessou também que, no Conselho Europeu, não se cruzou com o seu colega grego, o que é uma coisa no mínimo estranha), passou ao lado da verdade - e custa-me ter de admitir que deveria saber que o fazia deliberadamente, porque a alternativa era estar mal informado, o que não sei se não seria pior. O chefe do governo tinha a obrigação de dizer aos portugueses a verdade. E a verdade é muito simples. Por um lado, Portugal não contribuiu para a Grécia com nem menos nem mais do que aquilo que todos contribuíram: de acordo com o peso do seu PIB. Por outro lado, essa contribuição portuguesa fez-se na simples obediência aos tratados europeus, que Portugal, tal como a Grécia, subscreveu. A contribuição portuguesa nada teve a ver com a "bondade" da posição nacional, isto é, não derivou de qualquer decisão tomada pelo executivo de Lisboa. 
 
Podem não acreditar, mas custa-me bastante ver o chefe do governo do meu país a mentir. Eu sei que a palavra é forte, mas é a que me ocorre para qualificar a não observância da verdade dos factos. Se alguém me provar que o que aqui digo é falso, não terei a menor dificuldade em me penitenciar e apresentar um pedido de desculpas ao dr. Passos Coelho.

Marcha do Impeachment: seis crimes e contando...; precisa mais? - O Antagonista

Sempre achei que O Antagonista deveria se chamar O Contrarianista, mas acho que o nome que escolheram parece bem e fico com ele.
Eles resolveram realmente antagonizar a soberana, que por enquanto só cometeu seis crimes passíveis de impeachment.
Pode ser que já esteja de bom tamanho, mas acho que cavocando, sempre se vai achar mais.
Ou vocês acham que eles só roubaram 1 TRILHÃO?
Eu acho que foi muito mais...
Comparo o governo ao Titanic, não por ser grande e bonito, luxuoso e muito eficiente. Pelo contrário: pelo fato de que ele também vai a pique, direto ao fundo, e vai arrastar muita gente consigo e deixar muitos outros boiando sem salva-vidas (salvo os espertos de sempre, como certo apedêuta, que tem não só uma lancha salva-vidas, mas um iate inteiro, com uisque, companhia, essas coisas de ricaço).
E o iceberg, vocês podem perguntar?
Bem, o iceberg só pode ser a corrupção.
Não porque seja gelada, e vai bater no Titanic.
Ele já bateu. Mas é porque, como os icebergs, só uma pequeníssima parte está emersa. A maior parte, e talvez seja até mais do que 9/10, está submersa, e vamos ter de mergulhar para medir o tamanho.
Brrrr, só de pensar me dá arrepio...
Paulo Roberto de Almeida

3 minutos e 42 segundos de desastres

"O Brasil está realmente na pior".

É o título de um novo vídeo do Financial Times, que resume em três minutos e quarenta e dois segundos todos os desastres econômicos associados a Dilma Rousseff: incompetência, corrupção, estagflação, queda das vendas no varejo, risco de rebaixamento por parte das agências de rating e a ameaça de impeachment por causa do escândalo na Petrobras.
A propósito da Petrobras, o Financial Times cita aquilo que John Kenneth Galbraith chamou de "Bezzle" - a quantidade desconhecida de fraudes dentro das empresas. Não está na hora de investir no Brasil. O que está ruim pode piorar.

Caiu até aqui, mas deve cair ainda mais

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Operacao Brasil: a alianca militar com os EUA na Segunda Guerra - livro de Durval Lourenço Pereira Jr.

(Formulo alguns comentários adicionais, que transcrevo ao final. PRA)


Durval Lourenço Pereira Jr. é Tenente-Coronel R/1 do Exército Brasileiro. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras, é Fotointérprete pela Escola de Instrução Especializada e Mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais.

Graduado em Cinema, Televisão e Mídia Digital, é membro da Academia Campineira de Letras, Ciências e Artes das Forças Armadas. Em 2006, produziu e dirigiu o Documentário O "Lapa Azul" - Os homens do III Batalhão do 11° Regimento de Infantaria na II Guerra Mundial, exibido e distribuído pelo The History Channel, A&E Mundo e Russian Television para a América Latina, Ásia, Europa e Estados Unidos.


Para muitos brasileiros, acostumados às versões oficiais sobre  a entrada do Brasil na Segunda Grande Guerra, este livro pode ser desconcertante.

O ponto central da obra é  a narrativa da maior operação militar lançada pelo III Reich contra um país das Américas, batizada pela Kriegsmarine de Operation Brasilien. 

No inverno de 1942, a Marinha de Guerra alemã organizou uma poderosa flotilha de submarinos com a missão de atacar os portos e a navegação do Brasil. O ataque seguia uma diretriz de Adolf Hitler, determinando que a investida fosse um "emprendimento sério" e não se limitasse a "alfinetadas".

O potencial destrutivo dos planos nazistas era capaz de levar o país a uma encruzilhada perigosa, frente a várias escolhas possíveis — a maior parte delas de consequências desastrosas para o futuro do Brasil.

Operação Brasil vai além da reconstituição desse episódio histórico. Três anos de pesquisas em fontes primárias nos arquivos oficiais da Alemanha, Brasil e Estados Unidos, revelaram fatos desconhecidos; entre eles, o que contradiz o relato oficial sobre a origem dos eventos que levaram o Brasil à guerra, repetido há mais de 70 anos pela historiografia nacional e internacional.

A investigação mergulhou nas águas turvas e conturbadas do Estado Novo, percorrendo os meandros da política interna e externa do governo Vargas. Na busca pelo leito rochoso do fato histórico, a exploração afastou o lodo sedimentado por décadas de estudos e trabalhos baseados em conceitos e modelos equivocados. 

O mergulho foi proveitoso, trazendo à luz passagens obscuras de um período crucial da história brasileira no século XX. Foi possível resgatar tesouros inesperados, fazendo emergir conclusões que divergem daquelas consagradas pelos livros de História.

Fruto de uma investigação minuciosa, trazendo novos materiais e surpreendentes insights,  Operação Brasil entrelaça a História do Brasil com a da II Guerra Mundial utilizando uma abordagem extremamente rara: a narrativa do conflito segundo o cruzamento dos relatos alemães, brasileiros e norte-americanos.

A obra une a descrição da verdadeira origem da participação brasileira no conflito a um episódio desconhecido da História Militar, que permitiu a mudança do curso da guerra a favor dos Aliados. 

De forma surpreendente, Operação Brasil mostra como o rumo da monumental batalha pelo futuro da civilização passou pelas mãos de um único homem.

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 Comentários Paulo Roberto de Almeida:
Este livro promete mudar a percepção que temos atualmente sobre as razões da entrada do Brasil na guerra, ao lado dos aliados. Ainda estou aguardando a chegada do livro para constatar quais seriam essas novas informações. Tenho por mim que a ideia já estava sedimentada desde o início na cabeça de Oswaldo Aranha, que convenceu Goes Monteiro, contra as simpatias filo-fascistas, e nazistas, de Dutra e Felinto Muller. Vargas era um oportunista, mas sabia também qual era o lado a escolher. Só que na hora decisiva, quando recebeu Roosevelt em Natal (e quando se acentuaram também ataques de submarinos ao Brasil), ele deixou Oswaldo Aranha no Rio de Janeiro, a despeito deste ter preparado um Memorando precioso sobre o planejamento do Brasil para a guerra e mais além, para a ordem do pós-guerra. Depois, novamente, em abril ou maio de 1994, quando Roosevelt pessoalmente queria falar com Oswaldo Aranha em Washington, para preparar essa ordem do pós-guerra, Vargas não lhe permitiu viajar, para imensa frustração de Oswaldo Aranha e, estou certo disso, EM PREJUIZO do Brasil. Foi pena, pois a história poderia ter sido diferente, se Oswaldo Aranha assumisse a liderança do processo político no Brasil ao final do Estado Novo. Como diria Roberto Campos, o Brasil é um país que nunca perdeu uma oportunidade de perder oportunidades. Agora mesmo: estamos há mais de 12 anos perdendo oportunidades, que talvez nunca mais sejam recuperadas. Azar o nosso, por ter dirigentes tão tacanhos e tão despreparados... 

Decadencia brasileira: uma sociedade destruida pela falta de valores - Ricardo Velez-Rodriguez

O modelo de sociedade pautada por um Estado patrimonialista está em crise. Mas não apenas pela ação dos políticos larápios e dos empresários cooptados por eles. O nosso modelo social entrou em parafuso por falta de sustentação axiológica. A crise vem de baixo, da grande massa das famílias. Isso ficou evidente em pesquisa recente efetuada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo a qual o Brasil é campeão mundial em mau comportamento em sala de aula, o que leva os professores a gastar 15% do seu tempo tentando manter a disciplina.

Essa lamentável realidade levou a presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios, a contestar o lema do governo federal, que, no voluntarismo que o caracteriza, tentou erguer o bordão "Brasil, pátria educadora", ao mesmo tempo que a presidente Dilma Rousseff tenta acobertar os corruptores do PT no caso do petrolão. E ao mesmo tempo que o PT, na sua reunião para "comemorar" os 35 anos de fundação, se solidarizou com os larápios petralhas, ignorando o mal-estar que a sociedade brasileira vive ao ensejo da pior onda corruptora do País, que conseguiu fazer naufragar a nossa maior empresa estatal, a Petrobrás.

Para Amábile Pacios, o slogan "Brasil, pátria educadora" constitui apenas mais um jingle político bolado por marqueteiros. "Eu percebo", frisou a presidente da Fenep, "que esse desrespeito vem muito do modelo de sociedade que a gente está tendo e pelo modelo de família, e diz respeito à falta de valores que a gente está impondo à sociedade". A mesma opinião foi externada pelo presidente do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo, que representa 1.400 escolas.

Ora, a crise vivida pelo ensino nos seus níveis primário e secundário se estende também às universidades e faculdades. Antigas ilhas de excelência, como a Universidade de São Paulo (USP), têm assistido a cenas de vandalismo e de longa perturbação da ordem, em intermináveis greves de caráter político que têm como prato forte a destruição do patrimônio, o consumo de tóxicos e o desrespeito à sociedade. O modelo anarquista de greves generalizadas no ensino superior estendeu-se pelo Brasil afora e reforça a convicção de que o nosso país perdeu o rumo.

Duas vias se apresentam, nesse conturbado cenário. Do ponto de vista da sociedade, uma tomada de consciência da gravidade do problema, acompanhada da mudança de comportamento, de forma a dar ensejo a nova atitude que leve a gerar responsabilidade nos educandos e educadores. Do ponto de vista político, a urgência de colocar sobre o tapete soluções na reformulação da nossa política, que enveredou por esse caminho de privatização do Estado por clãs, como se o único norte fosse beneficiar amigos e apaniguados.

Difícil tarefa, quando o caminho para solucionar os conflitos passa por algo que as pessoas se recusam a observar: os valores que as movem. Sem isso a revisão deles e a mudança de atitudes se tornam tarefas impossíveis.

Mas as coisas não param por aí. É necessário, também, reformular as nossas instituições, a fim de que o Estado passe a servir à sociedade e não continue a ser o balcão de negócios gerido por espertalhões que privatizaram o governo em benefício próprio. Aqui a via necessária é a da reforma política, que deve partir para reestruturar o nexo de responsabilidade entre eleito e eleitor, impedindo a proliferação de partidos nanicos e adotando um modelo de voto, como o distrital, que atrele o eleito às responsabilidades decorrentes da representação de interesses dos cidadãos.
De outro lado, faz-se necessário, na reforma apontada, colocar freio ao excessivo poder acumulado pelo Poder Executivo, capaz de corromper o Poder Legislativo mediante o oferecimento de vantagens pecuniárias. O caminho da reforma, neste ponto específico, seria, em primeiro lugar, o da responsabilização da atual presidente pelas decisões erradas em face da Petrobrás, que de forma criminosa tiraram desta a sustentação de credibilidade no cenário.

Em segundo lugar, a reforma política deveria contemplar a punição exemplar daqueles que puseram as instituições do Estado a serviço de políticas populistas que terminaram esvaziando os cofres públicos. É necessário deixar às claras as obscuras decisões tomadas pelos governos de Lula e Dilma no caso do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para beneficiar amigos no cenário internacional, sem que aparecessem as vantagens que daí adviriam para o Brasil. Refiro-me, sobretudo, ao milionário financiamento para a construção do porto de Mariel, em Cuba. Isso para não falar da falida aventura da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, da qual participaria com recursos o governo venezuelano, sem que até a data o Brasil tenha recebido um só tostão.

Uma providência necessária seria também acabar com a prática das "emendas parlamentares", que só corrompem a representação e colocam o Legislativo em mãos das negociatas inescrupulosas do Executivo.

O cenário, como se vê, é complicado e não sairemos dele sem um grande esforço pessoal e coletivo. Escrevia recentemente o Prêmio Nobel Mário Vargas Llosa (Suicídio político em voga,  O Estado de São Paulo, 8/2, A14) que as nações optam, às vezes, pelo haraquiri político, tomando decisões erradas que comprometem o bem-estar de futuras gerações. O Brasil, infelizmente, está nesse caminho. Não será fácil sair dele. Mas não temos outra escolha, se quisermos legar aos nossos filhos um País habitável, e não um cenário de conflito e destruição.

Petrolao: bandidos sao bandidos, e meliantes sao meliantes; tem tambem os mafiosos... - Veja

Não dá prá contrariar a natureza: uma rosa é uma rosa, é uma rosa, é uma rosa...
Essa é a essência da bandidagem, vocês perceberam?
Nunca Antes tínhamos tido um ministro da Justiça assim. Ou já tivemos?
Paulo Roberto de Almeida

Em VEJA desta semana

As conversas impróprias do ministro da Justiça

Em encontro com advogados, o ministro da Justiça tranquiliza empreiteiras ao garantir que investigações da Lava-Jato sofrerão uma reviravolta logo depois do Carnaval

BATE-PAPO - José Eduardo Cardozo diz que se encontrou casualmente com o advogado Sérgio Renalt, que tem contrato com a UTC e trabalhou com Thomaz Bastos no governo Lula. As empreiteiras, porém, gostaram do resultado da reunião

BATE-PAPO - José Eduardo Cardozo diz que se encontrou casualmente com o advogado Sérgio Renalt, que tem contrato com a UTC e trabalhou com Thomaz Bastos no governo Lula. As empreiteiras, porém, gostaram do resultado da reunião (Ueslei Marcelino/Reuters)

Desde a morte do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos no ano passado, o PT perdeu seu grande estrategista em momentos de crise. Chamado carinhosamente de “God” (Deus, em inglês) pelos amigos, o onipresente MTB foi convocado para coordenar a defesa das empreiteiras tão logo deflagrada a Operação Lava-Jato. Ele tinha uma meta clara: livrar seus clientes de penas pesadas na Justiça e, de quebra, o governo petista da acusação de patrocinar um novo esquema de corrupção para remunerar sua base aliada no Congresso.

Negociador nato, Thomaz Bastos se dedicava a convencer o Ministério Público Federal de que a roubalheira na Petrobras não passava de um cartel entre empresas -- e que, como tal, deveria ser punido e superado com o pagamento de uma multa bilionária. Nada além disso. A morte tirou o criminalista cerebral da mesa de negociação. MTB deixou um vácuo. O governo perdeu sua ponte preferencial com as empreiteiras, o diálogo entre as partes foi interrompido, e as ameaças passaram a dominar as conversas reservadas. Foi nesse clima de ebulição que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, assumiu o papel de bombeiro. Ex-deputado pelo PT e candidato há anos a uma vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cardozo se lançou numa ofensiva para acalmar as construtoras acusadas de envolvimento no petrolão, que, conforme VEJA revelou, ameaçam implicar a presidente Dilma Rousseff e o antecessor Lula no caso se não forem socorridas. Há duas semanas, o ministro recebeu em seu gabinete, em Brasília, o advogado Sérgio Renault, defensor da UTC, que estava acompanhado do ex-deputado petista Sigmaringa Seixas.

O relato da conversa percorreu os gabinetes de Brasília e os escritórios de advocacia como um sopro de esperança para políticos e empresários acusados de se beneficiar do dinheiro desviado da Petrobras. Não sem razão. Na reunião, que não constou da agenda oficial, Cardozo disse a Renault que a Operação Lava-Jato mudaria de rumo radicalmente, aliviando as agruras dos suspeitos de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. O ministro afirmou ainda que as investigações do caso envolveriam nomes de oposicionistas, o que, segundo a tradição da política nacional, facilitaria a costura de um acordo para que todos se safem. Depois disso, Cardozo fez algumas considerações sobre os próximos passos e, concluindo, desaconselhou a UTC a fechar um acordo de delação premiada. Era tudo o que os outros convivas queriam ouvir. Para defender a UTC, segundo documentos apreendidos pela polícia, o escritório de Renault receberá 2 milhões de reais. Além disso, se conseguir anular as provas e as delações premiadas que complicam a vida de seu cliente, amealharia mais 1,5 milhão de reais. Renault esgrime a tese de que a Lava-jato está apinhada de irregularidades, como a coação de investigados. No encontro, Cardozo disse o mesmo ao advogado, ecoando uma análise jurídica repetida como mantra pelos líderes petistas.

Depois da reunião no ministério, representantes de UTC e Camargo Corrêa recuaram nas conversas com o Ministério Público para um acordo de delação premiada. A OAS manteve-se distante da mesa de negociação. “Na quarta-feira (um dia depois do encontro em Brasília), fomos orientados a suspender as conversas com os procuradores”, confidencia um dos advogados do caso. Cardozo não operou esse milagre sozinho. “Chegou o recado de que o Lula entrará para valer no caso e assumirá a linha de frente. Isso aumentou a esperança de que o governo não deixe as empresas na mão”, diz outro advogado de uma empreiteira.

Procurados por VEJA, Cardozo, Renault e Sigmaringa tropeçaram nas próprias contradições ao tentar esclarecer a reunião no Ministério da Justiça, classificada por eles como um mero bate-papo entre amigos sobre assuntos banais. Cardozo disse inicialmente que não se reuniu com Renault. Depois, admitiu o encontro. A primeira reação de Sigmaringa também foi negar a audiência com Renault no gabinete do ministro, para, em seguida, recuar. Os amigos compartilham, como se vê, do mesmo problema de memória. Na versão de Cardozo, a reunião teria sido obra do acaso. Sigmaringa, um “amigo de longa data”, teria ido visitá-lo. Renault, que estava em Brasília e tinha um almoço marcado com o ex-deputado, decidiu se encontrar com Sigmaringa também no ministério. Pimba! Por uma conjunção cósmica, o advogado da UTC, empresa investigada pela Polícia Federal, acabou no gabinete de José Eduardo Cardozo.