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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

sábado, 24 de outubro de 2020

O dilema dos grandes números: minha lista consolidada (mas abreviada) de trabalhos, de 1968 a 1992 - Paulo Roberto de Almeida

 O dilema dos grandes números: minha lista consolidada (mas abreviada) de trabalhos, 

de 1968 a 1992

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

[Objetivoapresentar uma pequena parte da lista de trabalhosfinalidadetransparência] 

 

Só os matemáticos, sempre, e os computadores, mais recentemente, não enfrentam dilemas com os grandes números. Os matemáticos antigos, no mundo clássico, tinham noção do que eram grandes distâncias e grandes quantidades, grandes volumes de grãos, por exemplo, ou moedas de ouro, mas não tinham muitos meios de expressar essas grandes quantidades de forma prática ou precisa. Até a invenção dos chamados números arábicos – na verdade hindus –, havia certa dificuldade em trabalhar com números astronômicos; na notação romana, por exemplo, como seria, para os romanos, indicar milhões de sestércios naqueles algarismos alfabéticos que eles usavam? 

Os censos medievais começaram a lidar com grandes volumes de pessoas, animais e ativos financeiros, mas tudo era feito de maneira algo improvisada, inclusive por que não havia padronização de pesos e medidas, até a disseminação do sistema métrico decimal que veio junto com a Revolução francesa (mas alguns países, entre eles a nação economicamente mais poderosa do mundo, ainda não o adotou completamente). Os computadores vieram ajudar na tarefa de contar, mas só nas últimas décadas eles passaram a lidar com volumes gigantescos; as primeiras calculadoras manuais, por exemplo, tinham limitações de inclusão, assim como as calculadoras eletrônicas da primeira geração. Contar muita coisa é árido.

Eu, por exemplo, não sei quantos livros possuo, pois estão espalhados em duas bibliotecas separadas, em várias peças na residência atual, e já não cabem nas estantes; em algum momento desisti de contar, assim como de arrumar, e não consigo achar livros que eu sei que tenho, mas não sei onde foram parar (provavelmente atrás de algum outro). O mesmo ocorre com os trabalhos escritos, originais e publicados. Se eu não tivesse decidido, já com muitas pastas e classificadores acumulados, a numerar cada um deles, e fazer listas seriais, eu estaria perdido nos grandes números dessa produção intelectual. Eis a razão deste pequeno texto, que pretende introduzir uma lista parcial desses trabalhos finalizados, apenas originais, por enquanto (existem muitos outros em preparação, quase finalizados, mas que ainda não receberam número, o que só ocorre no ponto final). 

Uma lista que fiz de todos os trabalhos escritos, desde a juventude até o final de 2019 somava exatamente 3.559, e se estendia por mais de 550 páginas com interlinha simples, sendo que neste ano de 2020 já estou no número 3.750. Os publicados, por sua vez, já somam 1.471 trabalhos, em todas as categorias (livros, capítulos, ensaios, artigos, notas, prefácios, orelhas, etc.) e, nas duas listas, originais e publicados, existe bastante duplicação, um pouco à la Lavoisier (ou seja, aproveitamento de trabalhos anteriores, trechos ou inteiros, para redigir novos), ou compilações (livros), que recolhem diversos trabalhos já feitos. Em qualquer hipótese, é muita coisa, e a partir de certo momento eu já não tinha mais como colocar tudo em classificadores, como fazia no começo – furando textos impressos e acumulando lentamente o conjunto, ou enfiando trabalhos publicados em pastas de arquivo –, o que coincidiu mais ou menos com o advento do computador pessoal e os novos meios eletrônicos de gravação e estocagem de trabalhos (por mais frágeis que possam ser esses suportes digitais). 

Listar e organizar serialmente todos os trabalhos originais e publicações é necessário e importante para quem, como eu, é um leitor e “escrevinhador” compulsivo (desde a era, pré-histórica, dos cadernos de notas, que subsistiram, mas perderam relevância a partir do final dos anos 1980), assim como sou um “publicista” razoável, com algumas dezenas de livros e centenas de artigos e ensaios publicados. Outros milhares de trabalhos aguardam finalização, ainda em cadernos de notas, ou nos muitos working files do computador. Até que eu termine o que considero como importante numa fase em que já começo a planejar a fase derradeira da atividade intelectual, começo, portanto, a colocar em ordem a produção já acumulada desde o começo de minha vida acadêmica, pois existem muito mais coisas inéditas do que publicadas: são 3.750 originais para 1.471 publicados, ou seja, uma relação de 0,39, ou pouco menos de dois quintos (sem mencionar as centenas, talvez milhares, de trabalhos iniciados, interrompidos, planejados, quase terminados, mas ainda não finalizados).

Da lista original de produzidos, produzi uma lista parcial compilando os primeiros 24 anos de atividades intelectuais efetivas, que foram muito pouco “produtivas”, pois correspondeu, na maior parte do tempo, a um período de máquina de escrever, com um intenso uso de caderno de notas, até praticamente o doutoramento (1983-84), para o qual, finalmente, efetuei minhas primeiras grandes aquisições de equipamento: uma IBM elétrica de esfera circular e uma máquina Xerox, sendo que ambas me custaram, na Suíça, o preço de um carro usado, praticamente. O primeiro computador, um MacIntosh Plus, exclusivamente à base de disquete de 720 KB, só apareceu em 1988, sendo que o disco rígido só foi adquirido alguns meses depois, por absoluta necessidade. A partir daí, a produtividade aumentou, obviamente, assim como essa prática meio marota do “Lavoisier”, ou seja, a recuperação de matéria já escrito para compor novos trabalhos, o que na máquina de escrever era trabalhoso. 

Para esta primeira lista eu eliminei toda a informação intermediária e repetitiva, ou seja, tudo o que não fosse título, local e data, e eventual publicação. As fichas originais, que registram a natureza da produção, seu conteúdo aproximado, a destinação, e variantes ou usos posteriores, foram suprimidos, pois do contrário a lista, aqui reduzida a 18 páginas, poderia subir ao triplo, pelo menos. Para que se tenha uma ideia da diferença de tamanho entre a ficha original e a atual notação sintética, reproduzo aqui dois resultados desse “emagrecimento”:

 

014. “La Formation Sociale Brésilienne : étude de son structure sociale”, Bruxelas, janeiro-abril 1973, 18 + 20 p. manuscritas. Estudo de caráter acadêmico sobre a estrutura de classes no Brasil tradicional, preparado para Prof. Rudolf Abel, da Universidade Livre de Bruxelas. Transcrição incompleta do manuscrito.

014. “La Formation Sociale Brésilienne : étude de son structure sociale”, Bruxelas, janeiro-abril 1973, 18 + 20 p.

056. “Estratégias da política externa brasileira entre 1960/1978”, Brasília, agosto 1978, 6 p. Análise das diversas etapas da diplomacia brasileira, preparada como texto de apoio à campanha presidencial do PMDB, inserido no documento “Justificativas para uma possível reformulação da política externa brasileira na África”. Entregue, em setembro de 1978, ao staff do candidato do Partido, General Euler Bentes Monteiro. Inédito. Documento constando dos fundos do Arquivo Nacional, sob o título: “Justificativa para uma possível reformulação da política externa no Brasil na África”, como tendo sido elaborado por “grupo subversivo de esquerda”; Fundo: SNIG; AC_ACE_11577_78.PDF; A1157711-1978; DATA: 17/9/1978; 30 páginas.

056. “Estratégias da política externa brasileira entre 1960/1978”, Brasília, agosto 1978, 6 p. Documento constando dos fundos do Arquivo Nacional, sob o título: “Justificativa para uma possível reformulação da política externa no Brasil na África”, como tendo sido elaborado por “grupo subversivo de esquerda”; Fundo: SNIG; AC_ACE_11577_78.PDF; A1157711-1978; DATA: 17/9/1978; 30 p.

 

A redução de cada uma das fichas foi, portanto, substantiva, o que impedirá, aos leitores da lista que foi disponibilizada na plataforma Academia.edu (linkhttps://www.academia.edu/44359441/Paulo_Roberto_de_Almeida_Lista_consolidada_de_trabalhos_1968_1992), conhecer a informação precisa de cada um dos trabalhos (natureza, finalidade, destino), uma vez que muitas fichas são enigmáticas, como estes exemplos: 

045. “Introdução à realidade brasileira”, São Paulo, abril-maio 1977, 3 p. + 10 p.

052. “Economia Brasileira”, São Paulo, agosto 1977, 7 p. 

076. “A Estrutura e as Tendências do Movimento Não-Alinhado: Posição do Brasil”, Roma, 23 setembro 1981, 8 p. 

088. “Défense Publique de la Thèse : Exposé oral”, Bruxelas, 6 junho 1984, 11 p.

 

Os que desejarem conhecer as listas completas precisam consultar as relações anuais que figuram em meu site (neste link: http://pralmeida.org/originais/), onde também figuram as listas anuais de trabalhos publicados (http://pralmeida.org/publicados/). Antigamente, meu velho provedor me permitia, de modo mais ou menos fácil, disponibilizar cada um dos trabalhos (em formato texto ou pdf), mas uma ruptura nesse serviço me obrigou a depender mais fortemente das plataformas Academia.edu e Research Gate, com algum serviço acessório quando possível. Quando eu me tornar um técnico em informática, ou dispuser de assistentes para um serviço decente, a produção completa poderá se tornar acessível de modo mais prático; mas antes eu preciso colocar em ordem minha biblioteca, contar os livros e organizar tudo de maneira racional (mas já doei centenas de livros para bibliotecas, pois não consigo mais acumular toda a parte impressa (que compreende ainda muitos papeis a serem processados um dia). 

Sem mais, passemos à primeira lista abreviada, as 18 primeiras páginas das muitas dezenas, e centenas, que serão paulatinamente preparadas (com controle dos links para os trabalhos que se encontram disponíveis em bases digitais). Ei-la:

 

Lista consolidada de trabalhos, 1968-1992 (formato abreviado)

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.compralmeida@me.com)

 [Objetivo: consolidar trabalhos; finalidade: publicação]

Atualizado em 23/10/2020.

Do n. 001 ao n. 308

 

Introdução ex-post: de 1964 a 1968: 

308)        “A Jangada”, São Paulo, 22 de julho de 1964, 1 p. Poema autógrafo.

[Cadernos de notas, leituras, trabalhos, relatos]

 

1968: 

001. “Quais os Fatores que Determinam uma Escolha Profissional Consciente?”, São Paulo, maio 1968, 9 p. 

002. “Café”, São Paulo, 25 setembro 1968, 2 p.

(...)

Para o resto, remeto ao arquivo em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/44359441/Paulo_Roberto_de_Almeida_Lista_consolidada_de_trabalhos_1968_1992)

 

Brasília, 3749, 24 de outubro de 2020


sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Um poeta desafia o chanceler acidental em irônicas coplas - Guilherme Casarões

Poesia numa hora dessas?


Guilherme Casarões, colega acadêmico especialista em política externa e diplomacia brasileira, teve sua veia poética tomada por um desafio inesperado: o fato de o patético chanceler acidental ter declarado, num infeliz Dia dos Diplomatas (para os alunos do Instituto Rio Branco, cujo patrono, o verdadeiro poeta João Cabral de Mello Neto, foi acusado de ser comunista pelo autor fracassado de romances distópicos que ninguém leu), que era diplomata e poeta, ou poeta e diplomata (não importa agora).

Casarões resolveu responder com suas trovas desafiadoras, que reproduzo abaixo, a partir de seu Twitter.

Acho que vamos ter vários repentistas, que se desempenharão ao melhor de suas capacidades, só para responder ao péssimo poeta parnasiano que se tornou chanceler acidental. Se ele tivesse ficado só na literatura, teria causado menos desastres para o Brasil. Para a literatura não sei, mas para o Itamaraty certamente... 

Um poeta fracassado, mas não só nas invectivas contra os diplomatas e a diplomacia.

Paulo Roberto de Almeida

 

Guilherme Casarões

@GCasaroes

 

Quer dizer que @ernestofaraujo é poeta? 

Pois bem. Então também sou. 

Aproveitei e fiz uma poesia em sua homenagem:

 


 

Das profundezas da nobre burocracia 

Por amor ao mito, saí em campanha 

Lancei até um blog, coisa tacanha 

Na língua tupi, rezei Ave-Maria

 

Meu inimigo sempre foi o globalismo 

Conspiração denunciada pelo professor 

A globalização corrompida pelo marxismo 

Combate-se com coragem, fé e amor

 

Fui escolhido pela minha lealdade 

Mas também por um artigo estridente 

Em que defendo que a salvação do Ocidente 

Virá de Trump, paladino da verdade

 

No Itamaraty, a revolução é de direita 

Nações unidas pela soberania do Deus vivo 

Velhos valores, ou o diplomata aceita 

Ou baterá carimbo em Antananarivo

 

O lema agora é João oito trinta-e-dois 

Acabou, colegas, o projeto totalitário! 

Esquerdopatas, favor voltar pro armário 

Oikofobia, aqui não, nós somos bois

 

Novo Brasil, nosso papo é com Hungria 

Polônia, Índia, Israel, só fina gente 

Pela liberdade, minimizei a pandemia 

Pra quê ciência, se por aqui nem está quente?

 

Tradição da diplomacia, desapareça! 

Até chamei de comunista o Melo Neto 

Xinguei Ricupero, Amorim, quem mais mereça 

Pois se venderam a tão nefasto projeto

 

“Especialistas” me chamam de desvairado 

Não tenho culpa, analfabetos funcionais 

Sou deusplomata e com meu chefe Eduardo 

Seremos sempre párias internacionais

 

Mas, no fim das contas, pouco importa 

Se Trump vence, o Brasil será gigante 

Politicamente correto já virou letra-morta 

Em nosso reino da direita ruminante

 

E se perder? Tal hipótese não existe 

Nosso analista já previu: Biden já era 

Para não virar rodapé, a gente resiste 

Se a contagem demorar, a gente espera

 


Com Bolsonaro, diplomacia encaminha Brasil para o isolamento - Bruno Boghossian (FSP)

Imagino a reação (não revelada) dos alunos do IRBr, ao ouvir as palavras do chanceler acidental.

Paulo Roberto de Almeida

 

ITAMARATY

Com Bolsonaro, diplomacia encaminha Brasil para o isolamento

Ernesto Araújo cumpriu sua missão com discurso vazio e agendaultraconservadora

Bruno Boghossian

 

Folha de S. Paulo, 22.out.2020 às 23h15

 

Após pavimentar uma via para o isolamento e de infiltrar o fundamentalismo na diplomacia brasileira, Ernesto posa de vítima de suas supostas virtudes. Numa formatura de diplomatas, nesta quinta (22), o chanceler comemorou sua retórica vazia e escondeu os prejuízos dessa gestão para os interesses nacionais.

O ministro se gabou do fato de que Jair Bolsonaro e Donald Trump “foram praticamente os únicos a falar em liberdade” na última Assembleia Geral da ONU. Se esse é um critério relevante para a diplomacia, o Brasil está em má companhia. O chanceler da Coreia do Norte também pediu um mundo “livre de dominações” e defendeu a soberania dos países.

Na cartilha internacional do bolsonarismo, a liberdade serve de slogan para o atraso. Ernesto usa esse argumento para agir como despachante de uma agenda religiosa, dos interesses do atual governo dos EUA e de bandeiras da ultradireita.

Às vezes, a liberdade fica esquecida. Nesta quinta, o Brasil se aliou a alguns dos países mais conservadores do mundo numa declaração em defesa da família baseada em casais heterossexuais e contra o aborto. Nesse clube está a Uganda, onde reina a discriminação sexual e de gênero.

Ernesto aproveitou a cerimônia de formatura para celebrar a intolerância que levou à perseguição do poeta João Cabral de Melo Neto, acusado de liderar uma célula comunista no Itamaraty em 1952. O chanceler disse que o autor escolheu “o lado errado do marxismo e da esquerda”.

Para justificar a posição marginal do Brasil, o ministro disse que talvez seja melhor ficar ao relento do que participar do “banquete do cinismo interesseiro dos globalistas”. Missão cumprida. Caso esteja sem companhia para jantar, Ernesto pode telefonar para seu colega norte-coreano.

Bruno Boghossian

Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

 

As proparoxítonas não foram feitas para humilhar ninguém - Eduardo Afonso

 PROPAROXÍTONAS 

por Eduardo Afonso

(recebido em 23/10/2020)


Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto.

As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico.

Estão para as outras palavras assim como os mamíferos para os artrópodes.

As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às célebres.

Se o idioma fosse um espetáculo, permaneceriam longe do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando o máximo.

Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto - e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica!

Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito. 

É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo. 

O inclinado e o íngreme. 

O irregular e o áspero. 

O grosso e o ríspido. 

O brejo e o pântano. 

O quieto e o tímido.

Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice. 

Uma coisa é estar no topo – outra, no ápice. 

Uma coisa é ser fedido – outra é ser fétido.

É fácil ser valente, mas é árduo ser intrépido. 

Ser artesão não é nada, perto de ser artífice. 

Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser Pontífice.

(Este último parágrafo contém algo raríssimo: proparoxítonas que rimam. Porque elas se acham únicas, exóticas, esdrúxulas. As figuras mais antipáticas da gramática.)

Quer causar um impacto insólito? Elogie com proparoxítonas. 

É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo. 

O sujeito pode ser bom, competente, talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico, esplêndido.

Da mesma forma, errar é humano. Épico mesmo é cometer um equívoco.

Escapar sem maiores traumas é escapar ileso – tem que ter classe pra escapar incólume.

O que você não conhece é só desconhecido. O que você não tem a mínima ideia do que seja – aí já é uma incógnita.

Ao centro qualquer um chega – poucos chegam ao âmago.

O desejo de ser uma proparoxítona é tão atávico que mesmo os vocábulos mais básicos têm o privilégio (efêmero) de pertencer a esse círculo do vernáculo – e são chamados de oxítonos e paroxítonos. Não é o cúmulo?

_______

EDUARDO AFFONSO

Arquiteto, escritor e colunista do jornal "O Globo".

O chanceler está nu - Jamil Chade (UOL)

 O grau de anomalias presentes na Casa de Rio Branco desde a posse dos aloprados no governo e de um desequilibrado na chancelaria arrastou o Itamaraty para o fundo do poço em matéria de desprestígio internacional. Pode ser que o chanceler acidental escape de uma justa punição pelo trabalho de destruição que conduziu no Itamaraty ao longo de 22 meses, mas não escapará de um registro histórico de "indiciamento político", pelo nefando afundamento da sua instituição, e certamente não de meu julgamento analítico extremamente rigoroso. 

Paulo Roberto de Almeida

Jamil Chade

https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/

O chanceler está nu

UOL notícias, 23/10/2020

Ernesto Araújo não esconde mais o óbvio. Somos um país pária. Em seu discurso na formatura dos novos diplomatas brasileiros nesta semana, o chanceler usou manobras de retórica e meias verdades para confirmar nosso status internacional.

"É bom ser pária", declarou.

A frase me lembrou de um encontro entre Steve Bannon e a extrema-direita francesa em 2018. "Se lhes chamarem de racistas, usem a acusação como uma medalha", disse o americano ao grupo que tem o ódio como instrumento de política.

Desde ontem, somos oficialmente um país pária. Mas pária com orgulho. Com medalha. Araújo sabe do que fala. Há um objetivo e um método. No palco internacional, as posições adotadas pelo governo o afastaram de tradicionais parceiros e romperam consensos internacionais sobre temas que, por décadas, tinham se estabelecido como base.

Mas era isso que o governo queria: romper pilares para, então, construir um novo mundo, com base em valores ultraconservadores.

Enquanto Araújo discursava no Itamaraty, o Brasil assinava com o governo americano um pacto exatamente no sentido de consolidar uma postura internacional com fortes características ideológicas.

Mas o projeto mostrou o tamanho do isolamento. Apesar de uma forte campanha para atrair outros governos para a aliança, o Brasil foi o único sul-americano a embarcar na cruzada ultraconservadora. Na América Latina, o Haiti - completamente dependente da ajuda de Washington - foi o outro que colocou seu nome na lista.

A aliança conta com sauditas, paquistaneses, líbios, iraquianos e outros governos com fortes acusações de violações de direitos humanos e onde a liberdade é apenas um sonho para milhões de mulheres. Dos 194 países da ONU, apenas 32 aderiram ao "consenso".

No resto do mundo, praticamente os demais aliados democráticos dos EUA se recusaram a se aliar ao projeto. Restaram apenas os governos da Hungria e Polônia, ambos duramente questionados por desmontar pilares da democracia em seus países.

Na América do Sul, a situação tampouco é de liderança. A ingerência na eleição argentina, as trapalhadas na Bolívia, a utilização do território nacional para promover os interesses americanos e a perda de espaço no debate ambiental para Ivan Duque, na Colômbia, são apenas peças de um caleidoscópio.

Na Europa, a imagem é de um país que não respeita seus engajamentos internacionais e que, de forma descarada, mente. O acordo comercial com a UE que Araújo citou em seu discurso dificilmente será aprovado pelos parlamentos nacionais, enquanto uma opinião pública hostil a tudo que vier de Bolsonaro cobrará um preço caro de seus representantes que ousem chancelar o governo.

Na OCDE, a avaliação é de um país que mina o combate à corrupção. Na ONU, pela primeira em sua era democrática, o Brasil foi alvo de uma recomendação de um relator para que um inquérito internacional seja aberto contra o país. Na OIT, denúncias se acumulam. Nos fundos soberanos, pressões são cada vez mais nítidas para que o Brasil seja evitado.

Com a China, Araújo sabe que pode elevar o tom contra Pequim. Mas uma coisa é fazer isso ao lado da maior potência nuclear do mundo. Outra é ser pária sem o apoio da Casa Branca. E, se o cenário político americano mudar nas próximas semanas, dúvidas pairam nos corredores do Itamaraty se o chanceler terá a capacidade de se reinventar.

Não por acaso, o chefe da diplomacia entrega elementos centrais do interesse nacional brasileiro, cede em tarifas e abre mão de reivindicações do setor produtivo para tentar ajudar Donald Trump ser reeleito. O que está em jogo é sua sobrevivência.

Ontem mesmo, nem bem terminado o discurso em Brasília, já surgiram comentários ácidos de que ele poderia mergulhar na carreira de poeta como opção. Afinal, em sua intervenção, ele declarou: "Modestamente, considero-me também as duas coisas, diplomata e poeta".

De fato, o status de pária de Araújo também começa a ganhar força dentro dos muros do palácio do Itamaraty.

Por meses, não foram poucos os diplomatas que buscaram postos irrelevantes no exterior que os fizessem "desaparecer" do radar do gabinete do ministro. A ideia é de aguardar o fim desse pesadelo para, então, retornar à busca de uma carreira. Já outros optaram por "black label". A bebida...

Ex-chanceleres de diferentes partidos e visões de mundo se aliaram para pensar o futuro e ampla rede de contatos foi montada para salvar, nos bastidores, a credibilidade do futuro do país.

Mas um dos maiores atos de resistência foi feito por jovens diplomatas nesta semana. Ao escolher batizar a turma de João Cabral de Melo Neto, mandaram um recado de que a visão de mundo que impera hoje na chancelaria não será a que os guiará.

"Esta nova turma, quero crer, já nasce com os olhos abertos", disse Araújo. Sim, e o que enxergam é um chanceler nu, dentro e fora do palácio. E não foi nem por zoom.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Jamil Chade é correspondente na Europa há duas décadas e tem seu escritório na sede da ONU em Genebra. Com passagens por mais de 70 países, o jornalista paulistano também faz parte de uma rede de especialistas no combate à corrupção da entidade Transparência Internacional, foi presidente da Associação da Imprensa Estrangeira na Suíça e contribui regularmente com veículos internacionais como BBC, CNN, CCTV, Al Jazeera, France24, La Sexta e outros. Vivendo na Suíça desde o ano 2000, Chade é autor de cinco livros, dois dos quais foram finalistas do Prêmio Jabuti. Entre os prêmios recebidos, o jornalista foi eleito duas vezes como o melhor correspondente brasileiro no exterior pela entidade Comunique-se.

Resenha: As Amarras, de Jorge Sá Earp (2020)

https://www.atraentemente.com.br/2020/09/resenha-as-amarras-jorge-sa-earp-7letras.html?fbclid=IwAR2N3mO2_maceOUoYztZSDTM3JVXUdJHV44IgbisU8CuxChIlOxhSHZYowA 

Resenha: As amarras - Jorge Sá Earp (7Letras)


As Amarras
, do autor Jorge Sá Earp, foi publicado em 2020 pela Editora 7Letras.  Até que ponto somos livres para fazermos nossas próprias escolhas?  Seria mesmo possível anular os desejos para se enquadrar em um padrão social?


Depois de muitas aventuras homossexuais, mesmo sem estar apaixonado, Eusébio acabou casando-se com Aglaia, uma amiga de infância.  Talvez tenha sido esse o ápice da submissão do personagem para encaixar-se em um modelo aceito e respeitado pela sociedade.   Ele sempre permitiu que a intenção dos outros se sobressaísse  sobre sua própria vontade.

Ele era arquiteto, profissão praticamente escolhida pelo pai, diante de suas aptidões para o desenho mostradas ainda criança.  Logo de início, o casamento se tornou um tormento para Eusébio.  Infeliz ao lado da esposa e entediado com o novo emprego no escritório do sogro, não havia outra saída além de tentar romper as amarras que tornavam sua vida enclausurada.   Ele era um prisioneiro  de si mesmo.

Verdade seja dita.   Ele até podia se sentir assim, mas nunca realmente conseguiu reprimir seus desejos, afinal desejo é desejo e ponto.  Eusébio sempre viveu muitas aventuras em sua juventude ao lado de Ismael Josué, os grandes amigos que lhe acompanharam por toda a vida.  Digamos que Aglaia, a esposa, tenha sido a verdadeira vítima, afinal o casamento poderia ser considerado uma grande farsa, que obviamente teve suas consequências.   

Quando percebeu que estava no meio de uma grande cilada, que era seu casamento, e sentia-se totalmente infeliz com a profissão, Eusébio se enveredou pelo mundo do teatro a convite de um amigo.  Tentou isso e aquilo no tal universo mágico, mas acabou se descobrindo realizado na cenografia, que trouxe um novo frescor em sua vidinha sem sabor.  

Todo esse lado dramático se torna leve e ganha ares de comédia com as situações vividas pelo personagem.  Suas dúvidas, aventuras e neuroses dão ritmo à trama e torna a leitura muito divertida.  Aos poucos, muitas figuras vão ganhando destaque na trama como o garçom Inair que cruza seu caminho na festa de casamento, ou Fabiano, um jovem ator de teatro por quem ele se apaixona.   Tem ainda a amiga Bel e os amigos Ismael Josué que servem de apoio para seus dilemas.  Além dos pais, que sempre interferem em sua vida, conhecemos também o tio Zacharias, uma figura pra lá de excêntrica.

É muito difícil exercitar a empatia com o personagem principal.  Por uma abordagem mais profunda poderíamos supor que ele foi vítima da sociedade, e que o casamento foi uma tentativa de formar uma família convencional.  Por outro lado, verdade seja dita,  ele nunca se privou de seus desejos, e viveu ao extremo suas fantasias.  Eusébio nunca se entregou ao sofrimento, ou se tornou amargurado. Traiu e ignorou por completo o casamento e a família construída.  Foi um mau-caráter.   

O enredo contém muitos elementos que podem contribuir para que cada leitor tire suas próprias conclusões.   A verdade é que a trama explora um tema bastante recorrente na sociedade moderna. Mesmo que muitas amarras tenham sido desfeitas nos últimos anos, ainda há muita hipocrisia que acaba desencadeando grandes mazelas aos indivíduos e fazendo novas vítimas todos os dias. 

Com 176 páginas, 19 capítulos, folhas amareladas, fonte e espaçamento confortáveis, As amarras traz um texto moderno e divertido, tendo entre outros cenários a cidade do Rio de Janeiro como destaque.  Mesmo lidando com uma questão delicada, o autor consegue inserir leveza nos diálogos e situações que escorregam sempre para o lado cômico.  Para quem curte leituras fluídas e ligeiras é uma ótima dica de leitura.

Boa leitura!


Autor:  Jorge Sá Earp

128 páginas

1ª Edição - 2018 

Dimensão:  14x21cm

ISBN 978-85-421-0705-0 

Onde Comprar

https://www.7letras.com.br/a-praca-do-mercado.html

E em outras lojas.

Sobre o Autor 


https://www.facebook.com/jorge.saearp


Jorge Sá Earp nasceu no Rio de Janeiro, em 1955. Cursou Letras na PUC-Rio. Como diplomata serviu na Polônia, Holanda, Gabão, Bélgica, Romênia, Equador e atualmente vive na Costa Rica. Publicou, entre outros, Ponto de Fuga (romance, 1996), vencedor do prêmio Nestlé de Literatura; Areias Pretas (contos, 2004), O Novelo (romance, 2008), As marés de Tuala (romace, 2010), O Jogo dos Gatos Pardos (romance, 2011), Bandido e mocinho (contos, 2012), Quatro em Cartago (romance, 2016) e A praça do mercado (2018).

* Livro gentilmente cedido pela Oasys Cultural

Pesquisa nos Arquivos Diplomáticos americanos: Presentation by the Office of the Historian - US Foreign Relations series

 On-Line Global Research Tactics for the Twenty-First Century: The Foreign Relations of the United States (FRUS) Digital Archive and Related Online Resources

Time: Oct 23, 2020 09:00 AM Eastern Time (US and Canada) 

Zoom Meeting


Presentation by historians at the Office of the Historian at the Department of State: 


A brief tour of history.state.gov


  • A central, online location for all of the Office of the Historian’s publications
  • Most notably, the digital edition of the Foreign Relations of the United States (FRUS) series, the official documentary history of U.S. foreign relations—among many other unique and valuable publications for the study of U.S. diplomacy & the institutional history of the Department of State.
  • To offer free, fully accessible and searchable editions available of all resources published by the Office and its predecessors; downloadable ebook editions; and open data formats. 


Selected documents: 


Foreign Relations of the United States (FRUS)

Principal Officers & Chiefs of Mission

Travels of the President & the Secretary of State

Visits by Foreign Leaders & Heads of State

History of Recognition, Diplomatic, Consular Rel’ns

Administrative Timeline of the Department


Additional publications and resources: 

  • Scholarly Monographs
    • Toward “Thorough, Accurate, and Reliable”: A History of the Foreign Relations of the United States Series (2015)
    • War, Neutrality, and Humanitarian Relief: The Expansion of U.S. Diplomatic Activity during the Great War, 1914–1917 (2020)
  • “Status of the Series”: information on upcoming FRUS volumes
  • Transcripts and videos from 6 conferences
  • Minutes of Advisory Committee (“HAC”) meetings
  • 537 free, downloadable ebooks of FRUS volumes for iPad, Kindle


Designed by Historians: 

  • Digitized all print publications using archival guidelines (Library of Congress, University of Wisconsin Digital Collections Center)
  • Adopted open standards: Text Encoding Initiative (TEI), the plain-text, non-proprietary, de facto standard for encoding digital texts; and web technologies (HTML, CSS, and EPUB) for dissemination
  • Use free, open source software: eXist-db and TEI Publisher, which excel in the storage and search of TEI (and all XML-encoded) documents
  • Open data: all source code and TEI- & XML-encoded data can be downloaded from our GitHub repository: github.com/HistoryAtState


Looking ahead: 

  • 12 remaining microfiche supplements
  • A growing collection of published Office monographs
  • Improved search tools: new facets and filters for finer-grained exploration of the information
    • People and organizations
    • Document types and topics
    • Archival source repositories
  • … your ideas?

How to Reach us? 


Final Note:


Until we complete the digitization, the microfiche supplement’s placeholder URL is https://history.state.gov/historicaldocuments/frus1958-60v17-18mSupp