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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

O Itamaraty e os desafios globais do Brasil - Rubens Barbosa e Cristina Pecequilo

 Os novos desafios globais e o Itamaraty


Nos últimos anos o País não soube interpretar corretamente, segundo seus interesses, o sentido das mudanças
 
Rubens Barbosa, O Estado de S.Paulo
28 de setembro de 2021 | 03h00

O discurso do presidente Bolsonaro na ONU recoloca em pauta a função e as atribuições do Itamaraty. A competência e o conselho informado para responder aos desafios que o Brasil está enfrentando foram deixados de lado. O Ministério das Relações Exteriores (MRE) perdeu o lugar que sempre teve como principal auxiliar do presidente na formulação e execução da política externa e de efetivo coordenador dos temas de interesse do Brasil na área externa.

O mundo atravessa um momento de grandes transformações nas áreas política, econômica e social. A geopolítica e a geoeconomia, que foram se modificando na última década, vão passar por uma série de ajustes com a saída dos EUA do Afeganistão. Qual o lugar dos EUA no mundo? Como a China, a nova superpotência comercial, tecnológica e militar, evoluirá? Como se desenvolverá o novo polo dinâmico de crescimento econômico e de comércio exterior? Qual o impacto dos rápidos avanços tecnológicos (5G e Inteligência Artificial)? Como a preocupação global sobre meio ambiente e mudança de clima será traduzida em medidas comerciais restritivas? Como o acirramento da competição global entre China e EUA pela hegemonia política no século 21 afetará os países? Qual o efeito sobre a globalização do reordenamento produtivo, das cadeias de produção, protecionismo, autonomia soberana, revolução energética, crise no multilateralismo? Como a regionalização afetará a geopolítica e a geoeconomia global (fortalecimento das potências regionais e dos acordos regionais)? Qual o futuro papel da América do Sul – continuará na periferia? Quais os riscos criados pelas novas ameaças (terrorismo, ataques cibernéticos, guerra no espaço)?

O Brasil, nos últimos dois anos, não soube interpretar corretamente, segundo seus interesses, o sentido dessas mudanças. Qual será o lugar do Brasil neste mundo que emerge? Como as grandes transformações econômica, comerciais, tecnológicas e geopolíticas e geoeconômicas poderão afetar o interesse nacional? Como o Brasil se posicionará no contexto hemisférico e regional? Como o Brasil deverá reagir com a ampliação da confrontação entre China e EUA? Como o Brasil poderá contribuir para o fortalecimento da governança global? Como ficarão as políticas em relação às negociações em fóruns multilaterais (o Brasil assume em 2023 lugar no Conselho de Segurança da ONU)? Como implementar os objetivos estratégicos e os interesses do Brasil nas áreas onde pretende ter influência, como América do Sul, Antártica e o Oceano Atlântico até a costa ocidental da África, como definido na Política Nacional de Defesa (quais as implicações militares e políticas do oferecimento de parceria global com a Otan)?

Nossos interesses imediatos do ponto de vista da projeção externa incluem, em especial, a mudança da percepção externa negativa sobre o País, a volta do protagonismo nas negociações sobre meio ambiente e mudança de clima, com uma nova política em relação à proteção da Amazônia, a definição de uma política proativa para a América do Sul, o aperfeiçoamento da inteligência e da promoção no comércio exterior, a reativação da participação do Brasil nos organismos multilaterais (políticos e econômico-comerciais) e posição equidistante no confronto EUA-China, definindo, em cada caso, o interesse nacional acima de considerações ideológicas ou geopolíticas).

O Itamaraty – instituição de Estado, dedicada ao serviço dos interesses permanentes do País – terá de adequar a política externa aos novos desafios internos e externos com dinamismo e inovação. Para operar neste novo cenário, o Itamaraty precisa mais uma vez se renovar, pois nos últimos dois anos deixou de gozar da unanimidade nacional, em razão de interferências indevidas em seu trabalho analítico e em seus processos decisórios. Internamente, terá de promover uma reforma estrutural para corrigir as distorções das mudanças ocorridas em 2019 e fortalecer com pessoal os departamentos e secretarias em Brasília e as embaixadas, onde se concentrarão muitos dos interesses comerciais brasileiros, como a Ásia, o Sudeste da Ásia, a América do Sul e os Brics. A nova gestão à frente do MRE – que busca restabelecer a normalidade e as prioridades nas atividades da Casa – formalizou na presidência da Asean o interesse do Brasil em tornar-se parceiro de diálogo setorial desta associação asiática, em razão do grande interesse comercial para o agronegócio nacional. A criação de mais postos no exterior deveria estar subordinada a essas prioridades.

Os desafios que o Brasil terá de enfrentar nos próximos anos forçarão uma mudança de atitude dos funcionários diplomáticos e do governo como um todo para atender às demandas dos novos tempos. A presença mais ativa e visível do Itamaraty será importante para a recuperação de seu papel de coordenação nas matérias relacionadas com a área externa. Será imperativo dialogar com a academia e a sociedade civil em geral, e, em especial, abandonar posturas defensivas e tendências partidárias e ideológicas que contribuíram para a perda de sua influência e para o isolamento do Brasil num mundo em crescente transformação.

A reconstrução do Itamaraty e da política externa deveria ser uma das prioridades para um novo governo em janeiro de 2023.

* MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, É PRESIDENTE DO IRICE

https://opiniao.estadao.com.br/noticias/espaco-aberto,os-novos-desafios-globais-e-o-itamaraty,70003852533


Sobre o Brasil, as Nações Unidas e o multilateralismo


Democracia e Diplomacia
Colunista do UOL
28/09/2021 04h00

Por Cristina Soreanu Pecequilo*

De 2019 a 2021, assistir ao discurso brasileiro na sessão de abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) tornou-se um fato recorrente que apresenta um ciclo de expectativa, conformidade e frustração e/ou satisfação.

Além da curiosidade, a expectativa deriva da esperança de mudança de rumos em um cenário de crise, à medida que a relevância deste rito diplomático poderia gerar a contenção de rupturas. A conformidade é a percepção de que a retórica se manteve: os que esperavam mudança se frustram, e os que não desejavam alterações mantêm a satisfação.

Esta situação não é novidade. Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), atravessando as gestões de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), Dilma Rousseff (2011-2016) e Michel Temer (2016/2018), a participação do Brasil na ONU e no sistema multilateral vem sofrendo de uma intensa polarização, à medida que a política externa é um retrato das divisões internas.

Tais divisões organizam-se em torno das disputas sobre o modelo social e de desenvolvimento: capitalismo de Estado x neoliberalismo, diversificação produtiva x reprimarização, secularismo x fundamentalismo, somente para citar algumas.

Em 2021, repetiu-se uma retórica multi nível, refletindo as diversas metas dos grupos de interesse que compõem a coalizão governamental. Três dimensões estiveram presentes: a político-social-cultural, a estratégica-diplomática e a econômica. Enquanto a primeira esteve associada aos temas da nacionalidade, soberania, negacionismo e conservadorismo, a estratégica-diplomática tendeu ao unilateralismo e às críticas, enquanto a terceira, a econômica, procurou descolar-se das demais.

Esta tática busca garantir os interesses brasileiros, principalmente dos setores exportadores de commodities, desconectar as parcerias de agendas radicais que possam prejudicar comércio e investimentos, e apresentar uma nação responsável diante do mundo. Enquanto isso, a realidade se impõe, em meio à pandemia e às instabilidades institucionais, pois não é possível apagar o passado, o presente e nem a sombra do futuro.

Estas múltiplas camadas retóricas não são exclusivas do Brasil à medida que outras nações, incluindo os Estados Unidos e a China, levam ao espaço da ONU, e de outras instituições, demandas associadas à pauta doméstica e seus objetivos estratégicos. Mais do que "falar à ONU e ao mundo", chefes de Estado e de governo dirigem-se a seus públicos internos e a seus adversários globais.

Este comportamento não se limita à abertura da AGNU, sendo uma ação sistemática que mina a cooperação. Cada vez mais a ONU e os alicerces do sistema multilateral construído no pós-Segunda Guerra Mundial em 1945 perdem espaço para instituições e alianças mais restritas, que permitem o exercício de interesses particulares com maior facilidade.

Esta dinâmica revela muito sobre a relação entre os Estados e o sistema multilateral, e a incompreensão sobre o que ele é e como funciona. Desde a sua fundação, este sistema alterna fases de consolidação, expansão e crise diretamente relacionadas aos compromissos assumidos por suas partes (os Estados membros).

Negociar é assumir a possibilidade de perder e ceder em nome do consenso, em um cálculo permanente de custos e benefícios, em um contexto que depende da convergência de interesses e princípios. Ainda assim, as falhas ou sucessos das organizações não são atribuídos a estes problemas de ação coletiva, mas sim a sua natureza: um instrumento de força para os poderosos, a voz dos fracos, uma soma fragmentada das partes ou entes autônomos que impõem sua vontade sobre as nações.

Destas percepções, a última justifica radicalismos, porém é a menos verdadeira. Raramente, ou quase nunca, uma organização é capaz de impor regimes ou embargos, a não ser que existam grandes potências envolvidas em uma relação assimétrica (vide o caso das tensões nucleares EUA e Irã). Predominam condicionalidades ou a condenação verbal.

O Brasil pode até ser citado como exemplo: independente das críticas recebidas sobre suas ações no campo ambiental e dos direitos humanos, o país retornará ao Conselho de Segurança das Nações Unidas como membro não permanente em cadeira rotativa no biênio 2022/2023 e até 2022 é membro do Conselho de Direitos Humanos. Afinal, o que é fato ou fake no sistema multilateral?

Ele é a convergência de todas as outras avaliações: a voz dos fortes, dos fracos, e uma soma de partes, sustentado pelo pragmatismo e idealismo, que garantiu canais de cooperação diplomática permanente e participação. Evoluiu, reforçando valores, incorporando membros e temas à medida que o sistema internacional se transformava, com o processo de descolonização afro-asiática, a ascensão dos emergentes e do Sul, o regramento sobre direitos humanos, meio ambiente, armas de destruição em massa e desenvolvimento até chegar a iniciativas como a Agenda 2030 que combinam as diversas faces do empoderamento global.

O multilateralismo nunca foi para os fracos, muito pelo contrário, foi sempre o sistema dos fortes: seja dos que impunham seu poder, seja dos que, independentemente de seu poder relativo, foram ouvidos. Quanto mais sucesso teve, mais se aproximou de seus dilemas porque, devido à resistência a mudanças, barradas por seus membros, é incapaz de se atualizar e se encontra estagnado.

Por mais curioso que seja, o presidente Trump (2017-2021), associado de maneira simplória ao unilateralismo, tinha razão: é preciso repactuar o sistema multilateral, atualizando seus mecanismos de governança e representatividade. Certamente, não falamos da repactuação que o ex-presidente pensava, mas sim de um sistema multilateral mais inclusivo e que reflita as realidades geopolíticas e geoeconômicas de poder do século 21. Esse é um caminho possível e necessário com o qual o Brasil poderia contribuir como parte de sua reconstrução.

*Cristina Soreanu Pecequilo é professora de relações internacionais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)

https://noticias.uol.com.br/colunas/democracia-e-diplomacia/2021/09/28/sobre-o-brasil-as-nacoes-unidas-e-o-multilateralismo.htm

China's road to all-round moderate prosperity - CGTN

 Graphics: White paper traces China's road to all-round moderate prosperity

Updated 12:22, 28-Sep-2021
CGTN

China's goal of achieving a moderately prosperous society in all respects has ushered in comprehensive socio-economic development, according to "China's Epic Journey from Poverty to Prosperity," a white paper released by the State Council Information Office on Tuesday.

In pursuing moderate prosperity, China has emphasized balanced, coordinated and sustainable progress in the economic, political, cultural, social, and eco-environmental fields, the white paper said.

China's GDP soared from 67.9 billion yuan (#10.53 billion) in 1952 to 101.6 trillion yuan ($15.7 trillion) in 2020. As the world's second-largest economy, it now accounts for over 17 percent of the global total.

China has evolved from a populous country where a vast majority of people were illiterate or semi-illiterate to one with high-quality education and human resources, the white paper said. It has established the world's largest education system, spanning preschool, primary, secondary, and higher education, and ranks in the upper-middle category worldwide in terms of modern education.

People's lives have notably improved, the white paper added. Personal incomes have grown steadily, with average per capita disposable income rising from 171 yuan ($26.5) in 1978 to 32,189 yuan ($4,990) in 2020.

In addition, China has set up a system of eco-environmental protection zones, safeguarding its biodiversity with natural reserves at different levels and of various types now covering 18 percent of the country's landmass.


Bozo, o aprendiz de genocida - Celso Rocha de Barros (FSP)

 Bozo, o aprendiz de genocida (Mao e Stalin mataram muito mais), só porque não teve tempo de matar mais…

Paulo Roberto de Almeida

A CPI provou tudo

Celso Rocha de Barros, Folha de S. Paulo (27/09/2021)

A CPI encontrou os documentos, fez a conta e descobriu o CPF dos culpados

A CPI da Pandemia, que se aproxima de seu fim, provou a ocorrência do maior crime da história republicana brasileira. Encontrou os documentos certos, fez as contas certas e descobriu o CPF dos culpados.

A CPI provou, com documentos, que Jair Bolsonaro se recusou a comprar as vacinas oferecidas pela Pfizer e pelo Instituto Butantan, e que só comprou metade da oferta do consórcio Covax Facility.

Tudo documentado.

Com esse número de vacinas não compradas e os documentos que provam as datas em que elas poderiam estar disponíveis, os cientistas foram trabalhar. Eles sabem o quanto o número de mortes costuma cair conforme a vacinação progride.

Na conta do epidemiologista Pedro Hallal, feita a pedido da Folha, só as vacinas da Pfizer e do Butantan teriam salvado cerca de 90 mil pessoas. Bolsonaro matou essa gente só com duas decisões.

Por sua vez, o jornal O Estado de S. Paulo calculou que, só com as vacinas recusadas do Butantan, todos os idosos brasileiros teriam sido imunizados com duas doses até o fim de fevereiro, estando, portanto, todos imunizados a partir do meio de março. Entre o meio de março e o momento em que a reportagem foi publicada (27 de maio), 89 mil idosos morreram de Covid. Supondo que a mortalidade pós-vacinação de idosos fosse igual à do Chile (20% dos doentes), Bolsonaro matou, com uma única decisão, cerca de 70 mil idosos só entre o meio de março e maio deste ano.

Todas essas contas, que ainda não usam os números de vacinas que Bolsonaro se recusou a comprar do consórcio Covax Facility, foram apresentadas à CPI. O Ministério da Saúde tem gente que saberia refutá-las, se elas estivessem erradas. Ninguém se pronunciou.

A CPI também descobriu o que Bolsonaro estava fazendo em vez de comprar vacina: mandando os trabalhadores brasileiros para a rua para adoecer, mentindo que haveria remédio caso eles ficassem doentes.

A CPI documentou a existência de um gabinete paralelo de médicos estelionatários que, por dizerem o que Bolsonaro queria ouvir, tornaram-se mais influentes do que os técnicos do Ministério da Saúde. Foram eles que promoveram os tratamentos com remédios como a cloroquina, muito depois da ciência ter demonstrado que eles eram ineficazes.

Mais recentemente, veio à luz o caso da Prevent Senior, que executou experimentos em pacientes inocentes com o protocolo bolsonarista de cloroquina e similares. O tratamento fracassou, os pacientes morreram, mas os dados foram falsificados para que não se soubesse que os pacientes haviam morrido de Covid.

Finalmente, a CPI descobriu que o governo Bolsonaro se esforçou para que uma, e só uma, vacina específica fosse aprovada: a Covaxin, que ofereceu suborno à turma do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara. O negócio foi denunciado antes de ser efetivado, mas não por iniciativa de Bolsonaro.

Em resumo, a CPI provou que Bolsonaro matou mais de cem mil brasileiros, mentiu para eles que haveria remédio caso adoecessem, e acobertou gente de seu governo que tentava roubar dinheiro de vacina.

As revelações da CPI terão algum efeito político? Tem gente poderosa trabalhando para que não. Mas as provas que a CPI recolheu não vão embora. Ficarão lá, à espera de um Brasil que volte a ter instituições que não se vendam nem tenham medo do próprio Exército.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Grandes empresas pedem protagonismo do Brasil na agenda verde - Mônica Ciarelli e Bruno Villas Boas (OESP)

 Em carta, grandes empresas pedem protagonismo do Brasil na agenda verde

Em documento que será levado para a COP26, presidentes de empresas como Bradesco, Ipiranga, BRF, Renner, Klabin e Natura, entre muitas outras, alertam para o risco de ‘enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira’

O Estado de S.Paulo 
Mônica Ciarelli e Bruno Villas Boas
27/09/2021, 05:00

Em meio à desconfiança global em relação à gestão ambiental brasileira por parte do governo, os empresários voltam a se posicionar sobre o tema. Presidentes de 105 grandes empresas nacionais e estrangeiras e de dez entidades setoriais assinaram uma carta defendendo objetivos climáticos ambiciosos e o protagonismo do País nas negociações do clima. Antecipado com exclusividade pelo Estadão/Broadcast, o documento será apresentado ao governo brasileiro e levado para a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, a COP26, marcada para novembro, em Glasgow, na Escócia.

O tamanho das empresas que subscrevem o documento é um indicativo da importância que a questão ambiental tem para a economia brasileira. Apenas as 46 empresas desse grupo que têm capital aberto somam quase R$ 1 trilhão em faturamento. Assinam o documento CEOs como Octavio de Lazari Júnior (Bradesco), Lorival Luz (BRF), Marc Reichardt (Bayer), Daniel Klabin (Klabin), Fabio Faccio (Renner), Marcelo Melchior (Nestlé), André Lopes de Araújo (Shell), Daniel Mazini (Amazon), Christian Gebara (Vivo), João Paulo Ferreira (Natura) e Marcelo Araujo (Ipiranga).

Chamada de “Empresários pelo Clima”, a iniciativa liderada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) ocorre em meio a uma série de movimentos do setor privado para se blindar do posicionamento ambiental do governo de Jair Bolsonaro. Diante de ameaças, por parte dos estrangeiros, de retirada de investimentos e boicote aos produtos brasileiros, lideranças empresariais têm manifestado publicamente preocupação com o desmatamento e cobrado medidas.

“Objetivos climáticos ambiciosos correspondem à nossa convicção de que o Brasil deve buscar o protagonismo nas negociações de clima. Esse é o papel compatível com a nossa tradição de integridade climática”, afirma um trecho da carta. “O Brasil deve manter a sua centralidade nesse diálogo, sob pena do enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira.”

A presidente do CBEDS, Marina Gross, que foi negociadora em conferências sobre o clima no fim dos anos 90, explica que o conselho tem alertado internamente ao governo sobre como seu posicionamento tira recursos das empresas. “Na carta, estamos dizendo ao governo: ‘por favor, avance, pois nós vamos dar a retaguarda’. Para fora do Brasil, estamos mostrando que o País tem grandes empresas e instituições, com um peso grande do PIB, fazendo a coisa certa.”

Baixo carbono

No documento, empresários defendem medidas para uma economia de baixo carbono e assumem responsabilidades. Eles lideram empresas que adotam medidas para redução e compensação das emissões de gases causadores do efeito estufa (GEE), precificação interna de carbono, descarbonização das operações. Os executivos pedem um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória, com “ações eficazes para o fim do desmatamento ilegal e a conservação do meio ambiente”.

O Brasil emitiu, em 2019, 2,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e), sendo que 44% dessas emissões foram decorrentes do desmatamento. Marina explica que 98% desse desmatamento no País é ilegal. “O desmatamento ilegal é o nosso elefante na sala, que acontece sobretudo no bioma da Amazônia, e isso tem de acabar. Isso não traz desenvolvimento”, afirma.

Em recente discurso na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, Bolsonaro divulgou, porém, dados imprecisos sobre meio ambiente e a Amazônia, o que prejudica ainda mais a imagem do País no exterior.

Tito Martins, presidente da mineradora Nexa (ex-Votorantim Metais), é um dos executivos que assinaram a carta. Segundo ele, o documento reafirma que o setor econômico apoia a necessidade de olhar a questão da Amazônia e da emissão de carbono de forma séria e prática. “Se não participarmos disso ativamente, seremos cobrados por clientes, fornecedores e diferentes ‘stakeholders’. E vamos perder, do ponto de vista de negócio e econômico”, afirma o executivo.

Denise Hills, diretora de sustentabilidade de Natura, diz que estar alinhada com a agenda global e fazer esforços para endereçar a emergência climática é, além de uma obrigação moral, um imperativo econômico. “Os ganhos para o Brasil, entretanto, não serão só em termos financeiros, mas também socioambientais e reputacional”. Glaucimar Peticov, diretora executiva do Bradesco, acrescenta que a carta reforça a “importância do comprometimento mais amplo da sociedade e de uma ação conjunta em prol de objetivos climáticos ambiciosos”.

Marina entregou a carta, ainda sem as assinaturas, para o presidente da COP26, Alok Sharma, durante visita ao Brasil, realizada em agosto. Os organizadores tentam apresentar o documento ao governo brasileiro. Há pedidos de encontro com o ministro das Relações Exteriores Carlos França e os ministros Joaquim Leite (Meio Ambiente), Paulo Guedes (Economia) e Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Marina diz que tem recebido sinalizações positivas para o encontro.

Leia a íntegra da carta:

Posicionamento empresários pelo clima

"O mundo precisa, com urgência, caminhar para uma economia de baixo carbono e o setor empresarial no Brasil reconhece sua responsabilidade nessa transformação. Sobre as bases do compromisso, da ciência e da inovação, as empresas estão respondendo ao chamado expresso no Acordo de Paris, que, em 2015, conferiu ao setor produtivo protagonismo na defesa contra o agravamento e os efeitos das mudanças climáticas, em parceria com a sociedade civil e governos.

O Brasil tem vantagens comparativas extraordinárias na corrida para alcançarmos uma economia de emissões líquidas de carbono neutras, valendo-nos dos nossos múltiplos recursos naturais e da capacidade de nosso povo. Para isso, devemos desenvolver um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória dentro de um compromisso firme com ações eficazes para a preservação do meio ambiente e o cumprimento das metas de combate ao desmatamento ilegal. Essa é uma oportunidade única do Brasil ser competitivo e melhorarmos as condições de vida da população, alinhados com as novas prioridades em torno das quais o mundo está se movimentando.

É possível trazer escala à inovação e às boas práticas e planejar estrategicamente para que o Brasil realize rapidamente o seu potencial de crescimento sustentável e alinhado com os objetivos de combater a mudança climática e proteger a biodiversidade. O setor empresarial brasileiro está engajado na recuperação do país dos efeitos da Covid-19, promovendo uma retomada verde (green recovery) fundada em bases de economia circular, de baixo carbono e de inclusão. Os CEOs signatários deste documento têm assumido posições e trabalhado por esse avanço em todo o país.

Às vésperas da COP de Glasgow, o momento é de ação, com vistas a evitar o aquecimento global para além de 1,5º C em relação ao período pré-industrial. Por isso, as empresas no Brasil já vêm adotando medidas para a redução e compensação das emissões de gases causadores do efeito de estufa (GEE), precificação interna de carbono, descarbonização das operações e cadeias de valor, investimentos em tecnologias verdes e estabelecimento de metas corporativas ambiciosas de neutralidade climática até 2050.

Uma transição célere para o baixo carbono é possível e desejada pelo setor produtivo brasileiro. Segundo estudo recente, apoiado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), é possível reduzirmos as emissões de GEE em até 42% no Brasil já em 2025, em relação aos níveis de 2005.

Para atingirmos essa meta, são importantes os avanços representados pelo RenovaBio, nossa recém-aprovada política de pagamento por serviços ambientais – PSA, futuro mercado regulado de carbono no Brasil, bem como o esforço para o reconhecimento global da experiência e contribuição brasileiras para a mitigação das emissões líquidas de gases do efeito estufa, inclusive com soluções baseadas na natureza. Assim, consideramos crucial o aprofundamento da discussão entre o setor privado, a sociedade civil e o governo brasileiro sobre a posição brasileira em relação ao Artigo 6° do Acordo de Paris.

Objetivos climáticos ambiciosos correspondem à nossa convicção de que o Brasil deve buscar o protagonismo nas negociações de clima. Esse é o papel compatível com a nossa tradição de integridade climática, presente na decisão do país em assumir uma contribuição nacionalmente determinada (NDC) para o combate à mudança climática relevante e não condicionada, e de construção de consensos internacionais que tem caracterizado nosso país. O Brasil deve manter a sua centralidade nesse diálogo, sob pena do enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira.

Acreditamos que as discussões dos mecanismos de apoio ao objetivo de carbono neutro previstos no Acordo de Paris, a serem conduzidas em Glasgow, são uma oportunidade de estimular a economia mundial, abrindo fronteiras e alinhando esforços, para a inclusão dos países de todos os níveis de renda, com estímulo à inovação e atenção à integridade no combate ao aquecimento global.

Para dar concretude aos esforços na direção de uma economia de carbono neutro, apoiamos a aderência a metas baseadas em conceitos científicos (Science Based Targets) e práticas de transparência financeira (Task Force on Climate-Related Financial Disclosures), com a adoção de mecanismos de financiamento para a promoção da transição climática e o combate integral e inequívoco ao desmatamento ilegal da Floresta Amazônica e de outros biomas brasileiros.

É preciso, ainda, a adoção de regras que possibilitem o desenvolvimento de mercados de carbono voluntário e regulado no Brasil – com práticas de transparência na contabilização das emissões e sua conexão com mercados mundiais, assegurando a qualidade ambiental e integridade dos créditos de carbono a serem comercializados e cooperando para a criação de um mercado de carbono global no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC).

Devemos construir uma trajetória orientada para um futuro de claros objetivos climáticos, sob pena de sermos excluídos de uma nova ordem climático-econômica que se consolida diante dos nossos olhos, o que seria injustificável para um país como o Brasil.

O setor empresarial brasileiro convida, portanto, toda a sociedade e atores políticos que apoiem o engajamento do Brasil nessa nova realidade global de economia climática, por meio da retomada verde da economia e da participação ativa na Conferência de Glasgow e em seus preparativos. Assim poderemos reafirmar nossa inserção internacional e construir um melhor legado ambiental, social e econômico, com menos desigualdades e melhores condições de vida, para essa e as próximas gerações."

Conselho de Líderes

CEBDS

Assinam a carta:

·         Cláudio Ribeiro – 2WEnergia

·         Elizabeth Garcia – Approach Comunicação

·         Karin Marangoni Ferrara Formigoni – Arcadis

·         Alfredo Pinto – Bain & Company

·         Jean-Emmanuel Seixas – Egis

·         Juliana Azevedo – P&G

·         Winston Fritsch – Struttura Desenvolvimento e Financiamento de Projetos e WF Consultores

·         Jean-Urbain Hubauy – Ticket Log

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,em-carta-grandes-empresas-pedem-protagonismo-do-brasil-na-agenda-verde,70003851465


Fatores materiais e psicológicos das guerras: Troia e Grande Guerra - Khaled Serafy (Road Without End)

Um ensaio interessante sobre os fatores que precipitam uma guerra: estruturais e contingentes, inevitáveis, ou por puro acaso.

Paulo Roberto de Almeida 

Who Triggered World War I and the Fall of Troy?

When Serbian Rebel Gavrilo Princip and Pandaros of the Trojan army shot their powerful victims

Khaled Serafy
Photo by British Library on Unsplash and illustration by Johann Balthasar Probst (1673–1748), Public domain, via Wikimedia Commons

It’s hard to say why wars happen. The words dispute and conflict get thrown around a lot. It might be a territorial dispute over a piece of land that starts a war, or a conflict over who has the right to rule it. It’s a simple enough explanation: when two groups of people can’t peacefully resolve a material dispute, they turn to violence.

You’ll also find psychological explanations for war. Here, war is some deeply embedded instinct which brews for a long time in the depths of the human psyche, before it bubbles up to collective consciousness and explodes into the world. It’s not a bad way of thinking about it either, and there’s some scientific evidence that supports the idea that it’s in our nature to go to war. See: the case of the Gombe Chimpanzee War.

A third explanation for war, aside from the political and the psychological, is one that defies rationality. It’s the idea that wars are a product of fate, decreed by “the gods”. It’s just one of those explanations that feels like a cop-out, like it’s not an explanation at all but a way of holding our hands up and saying “we don’t know how it happens.”

But if you take a close look at one particular war, World War I, and the role that one man and one freak accident had in starting it, you may feel that there’s more to the “fate explanation” than meets the eye.

Funnily enough, a similar twist of fate breaks the truce of the Trojan war and leads to the fall of Troy in Homer’s Iliad. The Trojan War and World War I are different in lots of ways. For one thing, one is mostly fictional and the other is very real. But they’re similar in other ways, and one of those is that fate, destiny, or “the gods” seemed to play a big role in making them happen.

World War I was one of the deadliest conflicts in human history. It paved the way for World War II, the atomic bomb, the rise of fascism and communism, and the deaths of tens of millions of young men. It’s an event whose significance is hard to overstate, and it may not have even happened if it weren’t for a coincidence.

In the summer of 1914, the heir to the Austro-Hungarian throne, Archduke Franz Ferdinand, was assassinated by Serbian rebel Gavrilo Princip.

After the assassination, Austria-Hungary issued a humiliating ultimatum to Serbia, Serbia ignored the ultimatum, Austria-Hungary invaded Serbia, and a network of interlocking alliances was triggered which pulled all the forces of modern Europe into The Great War.

But the assassination of Franz Ferdinand did not originally go to plan. He was visiting Sarajevo to give a speech in the Town Hall, and six assassins were positioned along his motorcade’s route. They planned to kill the Archduke as he drove past and waved to the crowd.

The first assassin choked and didn’t pull the trigger. The second assassin hurled a grenade but missed the Archduke’s car. His grenade hit another car in the motorcade instead, seriously injuring some members of the Archduke’s entourage, but leaving Ferdinand himself unscathed. The car sped off to the Town Hall after that, and the rest of the assassins, including Gavrilo Princip, missed their shot. For a moment it seemed like peace would reign, but the moment didn’t last long.

Later that day, Franz Ferdinand delivered his speech and left the Town Hall. He decided to pay a visit to the people who had been hurt by the assassin’s grenade that morning. His driver was instructed to head to the hospital, and as they were driving, the driver incorrectly turned right at the Latin Bridge into Franz Joseph Street. General Potiorek, who had been riding in the car with them, shouted at the driver to stop and turn back. The driver slammed the breaks, and the engine stalled. The car happened to stop just outside of a cafe called Schiller’s Delicatessen, where none other than Gavrilo Princip had been standing. The heir to the Austro-Hungarian empire was a sitting duck. Gavrilo Princip took out his pistol, walked up to the stalled vehicle, and shot the Archduke and his wife at point-blank range.

Photo of Gavrilo Princip, Public Domain via Wikimedia Commons

If the driver hadn’t taken a wrong turn, if the engine hadn’t stalled, and if it hadn’t stalled right outside Schiller’s Deli where Princip happened to be standing, Europe may not have slid down the slippery slope to WWI.

Now let’s turn our attention to another war, which predates the first World War by thousands of years — and is mostly a work of fiction.

Everybody and their grandpa apparently knows the story of how the Trojan War started. Paris, the prince of Troy, took Helen from her husband Menelaus, the king of Sparta. Menelaus and his brother Agamemnon raised the armies of Greece, and they besieged the city of Troy. They wanted to kill every Trojan in the city and return Helen to Greece.

As Homer’s story goes, the Greeks had been besieging the city of Troy for nine years with no success. Try as they might, they weren’t able to penetrate its walls. After so many years of fighting, in Book IV of the Iliad, a truce was struck between both sides. They agreed to a ceasefire on the following condition: Menelaus and Paris would fight man-to-man, the winner would take Helen, and the Greek army would sail home.

It sounds like a sensible solution. Thousands of unnecessary deaths could be prevented. But the gods would not have it so, they had a different plan in mind.

Aphrodite, who had soft-spot for Paris, protected him from Menelaus’ spear and carried him off to safety. The soldiers were dumbfounded, where had Paris disappeared to in the middle of the duel? The truce had been agreed on the condition that Paris fight Menelaus to the death, and they demanded that he come back and finish the fight.

At this point, Athena descended on the battlefield and appeared to an obscure soldier of the Trojan army by the name of Pandaros. “If you dare send an arrow at Menelaus you will win honour and thanks from all the Trojans, and especially from prince Paris.” she said to him. “He would be the first to reward you very handsomely if he could see Menelaus mount his funeral pyre, slain by an arrow from your hand.”

Pandaros’ heart was persuaded. He took his bow from its case, notched an arrow, drew the string to his chest, prayed to Apollo, and let the arrow fly towards Menelaus. Menelaus was also favoured by the gods, so the arrow only hit his belt buckle. It wasn’t enough to kill him, but it was enough to draw his blood in front of the entire Greek army, and so it was enough to break the truce and resume the war.

This is how Homer tells the story of the gods decreeing a fate of war upon humans by persuading one man to take drastic action.

If it wasn’t for Athena persuading Pandaros to shoot Menelaus, the truce wouldn’t have been broken, and Troy may not have fallen.

If it wasn’t for the Archduke’s car stalling in front of Schiller’s deli where Gavrilo Princip happened to be standing, Austria-Hungary wouldn’t have issued the July Ultimatum to Serbia, and World War I may not have started.

To what extent does fate play a part in the great events that shape human history? The rational mind says: none. Everything boils down to either political conflict or psychological disturbance. If we could only resolve peacefully any dispute over land or governance, if we could only overcome the animalistic war-waging chimpanzee within, then there would be no more war.

But what if there were forces beyond our control, forces barely within reach of our imagination, which guide and manipulate us towards war, when all we want is peace? To the Ancient Greek mind, this is self-evidently true. Man is powerless before the gods, who hold his fate in their hands. To this, the modern mind says that the gods are nothing but a creation of man, and it is he who holds them in his hands.

The way I see it, there is such a thing as fate, but we’re not totally powerless against it. We can to an extent become masters of our own destiny, but only with great effort. If our fate is to wage war after bloody war, and human history demonstrates that it is, then we have to do whatever we can to wrestle our future from its grip. We have to be aware of it and to pay attention to it, otherwise we might unknowingly become its victims simply because we dismissed that such a factor could even exist.

Os "sonâmbulos" da nova Guerra Fria: os paranóicos da contenção militar - entrevista com ex-primeiro ministro da Austrália

 Pelo meu título dá para perceber que eu considero esses paranóicos um bando de malucos, pois estão construindo, deliberadamente, uma nova Guerra Fria.

Paulo Roberto de Almeida

Der Spiegel, Hamburgo – 27.9.20921

Former Australian Prime Minister Kevin Rudd

"A Cold War with China Is Probable and Not Just Possible"

China presents a significant threat, believes former Australian Prime Minister Kevin Rudd. Which is why, he says, the West must work together rather than engage in the kind of bickering triggered by the recent submarine deal between Australia and the United States.

Interview Conducted by Bernhard Zand

 

Kevin Rudd, born in 1957, was prime minister of Australia from 2007 to 2010 before becoming foreign minister and, in 2013, prime minister again for a brief stint. During his first and second terms in office, he was the leader of the Australian Labor Party.

Today, Rudd is president of the Asia Society, a non-governmental organization based in New York, which is focused on deepening ties between Asia and the West.

Last week, Canberra, Washington and London reached agreement on a military pact reminiscent of the era of nuclear standoffs. The alliance, known as AUKUS, foresees Australia being outfitted with nuclear-powered submarines from the U.S. and Britain. It is a reaction to China’s rise to becoming the dominant economic and military power in the Indo-Pacific region.

 

Australia, located in the Far East but politically part of the West, lies on the fault line of the largest conflict of our times, the growing rivalry between China and the U.S.

With its close economic ties to China as a supplier of raw materials and foodstuffs, Australia recognized earlier than other countries the opportunities presented by Beijing's rise – and the risks. As early as the beginning of the last decade, the Australian government concluded that it needed to bolster its maritime power. The country tendered a multibillion-dollar contract for the construction of 12 conventionally powered submarines.

The deal, for which the German arms manufacturer ThyssenKrupp also submitted a bid, ultimately went to the Naval Group in France, with the first submarines scheduled for delivery in 2027. Officially, Canberra remained committed to the deal until just a few weeks ago, even as technical delays and spiraling costs threatened it with collapse. Then, last Thursday, Australia pulled the plug, announcing its alliance with Washington and London and backing out of the contract with the French.

The political consequences have been significant. Paris feels as though it has been hoodwinked by Australia and its NATO allies, the U.S. and Britain. France temporarily recalled its ambassadors from Washington and Canberra. In Brussels, meanwhile, the debate over Europe's "strategic autonomy" has been reopened and new questions have arisen regarding the efficacy of NATO, which French President Emmanuel Macron already referred to back in 2019 as "brain dead."

DER SPIEGEL: Mr. Rudd, the 20th century was ravaged by two world wars, both of which began in Europe. Might we be facing a massive confrontation in the Pacific in the 21st century?

Kevin RuddIt is quite possible. It is not probable, but it is sufficiently possible to be dangerous. And that is why intelligent statesmen and women have to do two things. First, identify the most effective guardrails to maintain the course of U.S.-China relations, to prevent things from spinning out of control altogether. And second, find a joint strategic framework, which is mutually acceptable in Beijing and Washington, to prevent crisis, conflict and war.

DER SPIEGEL: Germany was on the front lines of the Cold War. Now, in the current confrontation between the U.S. and China, Australia is exposed. Is today’s China as formidable and serious an adversary as the Soviet Union was 60 years ago?

Rudd: If we degenerate into a Cold War – which at this stage is probable and not just possible – then China looms as a much more formidable strategic adversary for the United States than the Soviet Union ever was. At the level of strategic nuclear weapons, China has sufficient capability for a second strike. In the absence of nuclear confrontation, the balance of power militarily, but also economically and technologically, is much more of a problem for the United States in the pan-Asian theater than was the case in Europe.

DER SPIEGEL: Your country, the U.S. and Britain have now entered into a new military alliance, which will provide Australia with a fleet of nuclear-powered submarines. What are the strategic considerations behind this decision?

Rudd: On the question of moving from conventional to nuclear-powered submarines, I have yet to be persuaded by the strategic logic. First, there is a technical argument that has been advanced about the range, detectability and noise levels of conventional submarines versus nuclear powered submarines. This is a technical debate which has not been fully resolved. If it is resolved in favor of nuclear-powered submarines, however, then another question arises.

DER SPIEGEL: Namely?

Rudd: We do not have a domestic civil nuclear industry, so how do we service these submarines? Which then leads to a third problem: If they have to be serviced in the United States and by the United States, does this lead us to a point where such a nuclear-powered submarine fleet becomes an operational unit of the U.S. Navy as opposed to belonging to a strategically sovereign and autonomous Royal Australian Navy? These questions haven't been resolved yet in the Australian mind, which is why the alternative government from the Australian Labor Party, while providing in principle support for the decision, insists that these questions have to be resolved.

DER SPIEGEL: What are the risks?

Rudd: We already knew in 2009 that it was important from an Australian national security perspective to have a greater capability of securing the air and maritime approaches to the Australian continent. So I launched a new defense white paper as prime minister, which recommended the construction of a new fleet of 12 conventionally powered submarines, which would make the Australian conventional submarine fleet the second largest in East Asia. The sudden change to a nuclear-powered option comes fully eight years after the conservative government of Australia inherited that defense white paper, commissioned tenders for it to be filled – which were won by the French contractor Naval Group in 2016 – and then proceeded to cancel the contract in the middle of the night in 2021. The Australian government has yet to provide a convincing strategic rationale for that decision. Nor has it been frank about the unspecified cost of building nuclear-powered boats through some sort of Anglo-American duopoly.

DER SPIEGEL: Either way, France has lost the contract. Do you understand their indignation?

Rudd: Absolutely. Australians take pride in the fact that we are people of our word. Such a U-turn is alien to our character. We don’t do these things. Secondly, if you reach a technical decision to commission nuclear-powered boats as opposed to conventional boats, then you have a duty to tell the French that the project specifications have changed and to invite them to retender for the new projectThe French are perfectly capable of building and servicing nuclear-powered submarines. That is why the French, in my judgment, have every right to believe that they have been misled.

DER SPIEGEL: The German company ThyssenKrupp also submitted an offer to build the conventional submarines. In retrospect, was it a blessing for the Germans that they didn't win it?

RuddI regret to say that the current Australian government seems to exhibit what I would describe as a level of Anglophone romance which puzzles the rest of us in this country who are more internationalist in our world view.

DER SPIEGEL: Are you fundamentally in favor of Europe becoming involved militarily in the Indo-Pacific? Britain and France have warships in the region, and Germany has now joined them, with the frigate Bayern.

Rudd: These are obviously sovereign decisions in Berlin and Paris and London, and it depends on the aggregate naval capabilities of our European friends and partners. The more important question is that of developing a common strategy across the board – military, diplomatic, economic – to deal with the problematic aspects of China's rise. Not all the aspects of China's rise are problematic, but in a number of them, China is seeking to change the international status quo. The current Australian government's torpedoing of the submarine contract with France actually renders the possibility of a common, global allied strategy for dealing with China's rise more problematic and more difficult rather than less.

DER SPIEGEL: Australia, the United States, Japan, and India are members of a loose group of four nations concerned about China's rise. Is this "Quad" the nucleus of an Indo-Pacific NATO?

Rudd: I think this is a false analogy. NATO has mutual defense obligations. That is not the case with Japan and Australia because we are part of separate bilateral security arrangements with Washington, not a multilateral arrangement. And India is not an ally because it has no formal alliance structure. I think it is unlikely for the foreseeable future that the Quad would evolve into a NATO-type arrangement. However, the Chinese take the Quad seriously because it is becoming a potent vehicle for coordinating a pan-regional strategy for dealing with China's rise.

DER SPIEGEL: Australia and Germany have extremely close economic ties with China. Have our countries become too dependent on Beijing?

Rudd: Any modern economy does well to diversify. Under Xi Jinping, China's economic strategy has become increasingly mercantilist. If you are the weaker party in dealing with a mercantilist power, then you will increasingly have terms dictated to you. Another point is this: China's domestic economic policy is moving in a more statist and less market-oriented direction. We have to ask ourselves whether this will begin to impede China's economic growth over time and whether China will be as robust in the future. All these are reasons for not pinning all global growth, all European and German export growth, on the future robustness of this one market.

DER SPIEGEL: Australia has been economically punished by China, in part because your government has called for an independent investigation into the origin of the coronavirus pandemic. What can other countries learn from Australia’s experience?

Rudd: The critical lesson in terms of China's coercive international diplomacy is that it's far better for countries to act together rather than to act independently and individually. If you look at Beijing’s punitive sanctions against South Korea, against Norway and now against Australia, the Chinese aphorism can be applied everywhere: "sha yi jing bai,” kill one to warn 100. Therefore, the principle for all of us who are open societies and open economies is that if one of us comes under coercive pressure, then it makes sense for us all to act together. And if you want a case study to see how that could be effective, look at the United States. When was the last time you saw the Chinese adopt major coercive action against the U.S.? They haven't because the U.S. is too big.

DER SPIEGEL: A few days ago, the European Union announced its strategy for the Indo-Pacific. Brussels plans to rely less on military means against China and more on closer cooperation with China's neighbors – on secure and fair supply chains, and on economic and digital partnerships. What do you think of this approach?

Rudd: In the recent past, the logic in Brussels and many European capitals was pretty simple and went like this: First, China is a security problem for the United States and its Asian allies, but not us in Europe. Second, China presents an economic opportunity for us in Europe, which should be maximized. And third, China represents a human rights problem, which occasionally we'll engage in with some appropriate forms of political theater. That was the logic, if I may summarize recent history in such a crude Australian haiku.

DER SPIEGEL: You may!

Rudd: But now, this has evolved. Europeans have experienced cyberattacks of their own. Germany in particular has experienced the consequences of Chinese industrial policy and the aggressive acquisition of German technology, as well as the strategic collaboration between China and Russia, which is now almost a de facto alliance. When I see this evolution reflected in the posture of the G-7, of NATO and of the of the European Union, it's pointing in a certain direction. The Europeans have finally concluded that China represents a global challenge. The Asia-Pacific region has now evolved westwards, to the Indo-Pacific, through the Suez Canal and into the Mediterranean and Europe itself. China is a global phenomenon, both in terms of opportunities and challenges. There's not a single country from Lithuania to New Zealand which is not being confronted with the reality of China. China cannot simply be put to one side and regarded as someone else's problem.

"When it comes to China, Germany is not just another country."

DER SPIEGEL: German Chancellor Angela Merkel has geared her China policy to Germany's economic interests and has often been criticized for doing so. Do you agree with this criticism? And what advice would you give Merkel's successor?

Rudd: I know Angela Merkel reasonably well; she was chancellor when I was prime minister. She is a deeply experienced political leader, respected around the world. And to be fair, the China that she encountered when she first became chancellor under Hu Jintao was a quite a different China to the one which has evolved since the rise of Xi Jinping. In fact, the China of Xi’s first term was different to the China after the 19th Party Congress …

DER SPIEGEL: … when term limitations for his presidency were eliminated.

Rudd: Since then, I have detected some change in the German position. Germany could have vetoed the approaches adopted by the G-7, NATO and the EU. But it chose not to. So if there is some skepticism in the world about German foreign policy under Merkel, it is because Germany has been robust multilaterally in its response to China and much more accommodating bilaterally.

DER SPIEGEL: What does this mean for the next government?

Rudd: Our German friends need to know that the rest of the world observes German politics very closely. And there's a reason why we do that: Of all Western countries outside the United States, China has the deepest respect for Germany. This has to do with the economic miracle after World War II, the depth of German manufacturing, and the remarkable living standards Germany has been able to generate while still maintaining a posture of environmental sustainability. So when it comes to China, Germany is not just another country. It is the one Western country, outside the United States, which the Chinese predominantly respect.

DER SPIEGEL: After the recent announcement of AUKUS, the security pact between Australia, the UK and the U.S., former British Prime Minister Theresa May warned of the consequences of a military escalation, specifically in the Taiwan Strait. How do you rate this risk?

Rudd: I do not think either Beijing or Washington want a war over the Taiwan Strait as a matter of deliberate policy. Certainly not Beijing in this decade, since it is not yet ready to fight and is still in the middle of a reorganization of its military regions and its joint command structures. Another question is whether an accident could happen, similar to what happened in 1914 after the assassination of the Austrian archduke, which led to the outbreak of World War I.

DER SPIEGEL: What exactly do you have in mind?

Rudd: There are multiple possibilities. A collision of military aircraft or naval vessels, for example. Or some unilateral act by an incoming Taiwanese government – not the current one – taking a much more decisively independent view, could trigger a crisis.

DER SPIEGEL: How could such a crisis be prevented?

Rudd: Crisis management in 2021 may not be that much better than in July of 1914. Therefore, the danger is not war as a consequence of intentional policy action. It's war as a consequence of miscalculation.

DER SPIEGEL: In his book "The Sleepwalkers,” your compatriot, the historian Christopher Clark, described how Europe's alliances mobilized each other into World War I in 1914. Is such a scenario really still conceivable today?

Rudd: Those of us who are looking carefully at the evolution of East Asia began rereading the history of World War I long ago. The possibility of an open, land-based missile conflict between Chinese and American forces in the East Asian Pacific is as real now as an escalation was then. Even worse, because the mobilization times, in terms of getting people on trains back then, were far longer than now.

DER SPIEGEL: What about the danger that military alliances will put pressure on each other?

Rudd: We do have an aggregation of alliances even today. China may have no formal allies, but Russia, in the event of a conflict, could well take action on behalf of its Chinese friends. We cannot over-study World War II in terms of the warnings it sends to all of us about unintended consequences. For that reason, I have written a book which will come out early next year. I've just sent it to the publishers. The title is "The Avoidable War.”

DER SPIEGEL: Mr. Rudd, we thank you for this interview.

Quando o Brasil perdeu o rumo? - Paulo Roberto de Almeida

Quando o Brasil perdeu o rumo?

Paulo Roberto de Almeida

Volto à pergunta feita por William Waack aos seus convidados, na primeira edição do seu programa na CNN, WW (26/09/2021). Quando o Brasil perdeu o rumo?

Vargas Llosa já havia feito a mesma pergunta, em um dos seus livros: Cuando Peru se j...ó? (Quando o Peru se f...u?)

Para mim, desde sempre, ou seja, desde o centralismo português, criado pela PRIMEIRA monarquia moderna da Europa ocidental, ainda na Idade Média, unindo o soberano, os nobres e a burguesia, num poder unificado, centralizador e dominador, em lugar de se desenvolver a partir das aldeias, como no itinerário dos anglo-saxões. Isso faz toda a diferença, pois democracia tem de começar pela base, não pelo alto. Começando pelo alto é o regime das oligarquias, dos coroneis, do patrimonialismo, em todas as suas formas.
Essa é a base fundamental de nossa não democracia, que deriva dessa centralização pelo alto, que também começa na aldeia, no município, dominado pelo grande proprietário, pelos coroneis, como estudado por Victor Nunes Leal, autor de "Coronelismo, enxada e voto" (1949, o ano em que nasci).
Quanto aos nossos erros mais prosaicos, ou seja, crises políticas que nunca foram resolvidas de forma democrática, mas pela imposição da força, dá para resumir nas seguintes datas, todas da República (mas a monarquia não era melhor): 1889 (o golpe republicano), 1892 (a ditadura de Floriano), 1910 (a presidência Hermes da Fonseca, aliás sobrinho do golpista de 1889), 1922-26 (as revoltas tenentistas, não resolvidas politicamente por Artur Bernardes, que governou em estado de sítio), 1930 (um golpe dado por uma Aliança dita "liberal"), 1932 (os instintos autoritários de Getúlio Vargas e a revolta paulista), 1935 (a intentona comunista, comandada pelo alucinados do Komintern, que inviabilizaram uma participação normal dos comunistas na vida política), 1937 (o golpe de Vargas, sustentado pelos autoritários das FFAA), 1945 (novo golpe), 1955 (novas tentativas de golpes), 1961 (um idiota que resolveu renunciar, para tentar o seu golpe), 1964 (três governadores e generais golpistas, que queriam impedir JK de ganhar as eleições de 1965), 1968 (o AI-5 de milicos autoritários), 1969 (a Junta militar de três paspalhos fardados), 1974 (o general prussiano que não soube conduzir nem a política, nem a economia), 1979 (um presidente despreparado que deixou a direita militar agir livremente), 1986-90 (planos e mais planos de estabilização por economistas aprendizes), 1987-88 (uma Constituinte que achou que bastava colocar no papel as benesses que se pensava distribuir ao povo generosamente), 2002-2010 (uma aventura de inclusão social não sustentável, na falta de um processo de reformas estruturais que deveria complementar o Plano Real de 1994 e seus ajustes em 1999), 2011-2016 (uma presidente totalmente despreparada, que deveria ser uma simples fantoche e que inventou de estragar tudo, provocando a MAIOR recessão de nossa história), e finalmente 2019-2022(?), um psicopata perverso eleito por equívocos dos governos petistas, e que está destruindo as instituições e levando o Brasil à estagflação.
Como vocês podem ver, erramos em tudo, desde o começo, inclusive a monarquia, que começa mantendo o tráfico e a escravidão, ao desprezar a educação das massas, ao manter a centralização e o poder das oligarquias, que perdura até hoje.
Ou seja, o Brasil é um erro monumental, desde que aqui desembarcou o primeiro governador-geral em 1549, que deu início à centralização administração.
Depois disso, os erros foram se acumulando, um após o outro, até chegarmos ao estupor, à escória do presidente atual, que consegue ser o PIOR dirigente de todos os tempos, ou seja, sem qualquer parâmetro de comparação com qualquer outro, talvez um novo Floriano, mas burro, estúpido a mais não poder.
Estamos mal, e vai demorar para consertar, pois seria preciso refundar o país, a nação, o Estado, a partir de sua base natural, o município, a democracia de aldeia. Vai ser difícil...
Sorry pelo pessimismo.

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 27/09/2021