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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

A sombra do conservadorismo brasileiro: Rio Branco e Joaquim Nabuco - entrevista a Alex Catharino - Paulo Roberto de Almeida

 A sombra do conservadorismo brasileiro: 

Rio Branco e Joaquim Nabuco  



 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Questões para debate com o prof. Alex Catharino na série “Diálogos sobre a Mentalidade Conservadora:”, dia 4/10/2021, 21hs, via Instagram (link: https://www.instagram.com/p/CUoU3kooSlF/).

 

 

1) Quem é Paulo Roberto de Almeida? Desejo que o embaixador se apresente para a nossa audiência, falando um pouco, de modo resumido, tanto de sua formação acadêmica e de suas atividades profissionais como diplomata e como professor quanto das atividades de pesquisa que vem desenvolvendo ao longo dos últimos anos.

 

PRA: Rato de biblioteca desde a alfabetização tardia, aos 7 anos, mas politização precoce, com o golpe de 1964; comecei a ler marxismo com 15 ou 16 anos, fiz leituras da bibliografia universitária antes de ingressar na universidade; professor de cursinho preparatório para vestibular; minha família queria que eu fizesse Direito, mas eu pretendia fazer Sociologia, que como dizia Mário de Andrade é a arte de fazer revolução; em outubro de 1968, fiz meu vestibular para Ciências Sociais da USP quando estavam queimando a Faculdade, na famosa batalha da rua Maria Antônia, entre os direitistas do Mackenzie e os esquerdistas da Fefelech; em 1969, fui da primeira turma dos barracões da Cidade Universitária, num momento em que eu já estava ligado aos movimentos de esquerda de resistência contra a ditadura, e fazendo serviço militar ao mesmo tempo; foi um tempo de muita leitura: como eu servia na maior parte do tempo como cabo telefonista na Vila Militar, naquelas centrais americanas antigas da Segunda Guerra Mundial – enfia cabo aqui, outro ali, para as ligações dos oficiais para suas mulheres – e eu tinha todo o tempo para ler minha literatura subversiva. Ocorre, porém, que eu fugia dos plantões para ir à Faculdade, o que evidentemente eu não revelava ao comandante do Grupo de Artilharia Antiaérea de Barueri, SP, um, coronel hidrófobo, anticomunista até a raiz dos cabelos; sem responder a uma chamada acabei pegando um mês de detenção no quartel, o que me deu ainda mais tempo de leituras. Mas, a situação se complicava: o meu quartel invadia a minha Universidade, e em maio de 1969, os principais professores do curso foram cassados pelo AI-5: Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni; sobraram o Francisco Weffort e a Marialice Mencharini Foracchi, poucos outros; aquilo diminuiu meu interesse pelo curso.

Naquele mesmo ano prenderam alguns colegas do curso, inclusive alguns que seriam até colegas de resistência ao regime, como o Frei Tito. Resolvi então sair do Brasil, já no segundo ano do curso, pois acreditei que poderia ser preso. Saí apenas em 1970, com destino ao socialismo, para tentar continuar os estudos de Ciências Sociais. Fiquei três meses em Praga, onde havia uma universidade para estudantes do Terceiro Mundo. Nos três meses que passei em Praga, visitei a casa de Franz Kafka e li O Processo, numa edição em espanhol da Casa de las Américas, cubana. Achei bastante igual ao que via, ou seja, tudo uma porcaria e resolvi sair: saí do socialismo surreal e fui para o capitalismo ideal, na Bélgica, onde passei a trabalhar e me inscrevi novamente no primeiro ano de Ciências Sociais da Universidade de Bruxelas. Fazia um pouco de tudo: trabalhos manuais, claro, e passava o meu tempo na biblioteca do Instituto de Sociologia. Terminei a graduação em 1975, comecei imediatamente o mestrado em economia na Universidade de Antuérpia e em 1976 já estava me inscrevendo para o doutoramento, um projeto de tese em torno do magnum opus de mestre da Escola Paulista de Sociologia, Florestan Fernandes, A Revolução Burguesa no Brasil. Mas, larguei no começo de 1977, para voltar ao Brasil, acreditando nas promessas de abertura do Geisel: pouco depois que cheguei veio o Pacote de Abril. 

Como eu tinha passado quase todo o tempo na Europa escrevendo contra a ditadura, embora com outro nome, resolvi inscrever-me para um concurso direto do Itamaraty, para testar minha ficha no SNI: passei e entrei na carreira diplomática no final do 1977. Mas já em 1978, eu estava sendo fichado no SNI como “diplomata subversivo”, por ter participado da campanha presidencial do general Euler Bentes Monteiro, opositor do general João Batista Figueiredo nas eleições indiretas do Colégio Eleitoral. Casei-me no final do ano, com uma economista que sempre leu muito mais do que eu, Carmen Lícia, e já em 1979 estávamos voltando à Europa para o meu primeiro posto no exterior: Berna, na Suíça. Nasceu nosso filho em 1980 e logo depois e retomei meu doutoramento interrompido em 1977. À volta, em 1985, justo para a Nova República, retomei o trabalho acadêmico e depois comecei a dar aulas de Sociologia Política no Instituto Rio Branco e no mestrado da UnB. Foi por pouco tempo, pois em 1987, já estava de volta à Suíça, desta vez em Genebra, onde trabalhei com o embaixador Ricupero na nossa delegação junto a diversos organismos internacionais. 

Desde então, fiz basicamente postos em temas de relações econômicas internacionais, em Montevidéu sobre integração, no nascimento do Mercosul, depois em Paris, onde cobri o Clube de Paris e a OCDE, e depois em Washington, instituições de Bretton Woods. Na volta a Brasília, em 2003, enfrentei um veto virtual dos companheiros do PT, o que me deixou sem qualquer cargo na Secretaria de Estado durante os treze anos e meio do reinado lulopetista. Aproveitei para ler bastante na Biblioteca do Itamaraty, escrever livros, tive uma missão provisória em Xangai, em 2010, quando viajamos bastante pela China, e fui dar aulas em Paris, em 2012. Na volta, ainda sem cargos no Itamaraty, aceitei um consulado nos Estados Unidos, de 2013 a 2015, mas também voltei sem cargo: só depois do impeachment da Dilma que me tornei diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais da Fundação Alexandre de Gusmão, onde durante dois anos e meio conduzi uma das fases mais ativas do IPRI, com muitas publicações e eventos. Felizmente, fui exonerado ao início do presente desgoverno, o que me aliviou bastante, pois eu me sentiria muito mal tendo de servir àqueles a quem eu chamo de novos bárbaros. Eis em resumo minha trajetória.

 

2) Essa nossa live de hoje dá sequência a uma série de debates que venho tendo semanalmente, desde 16 de agosto, com diferentes convidados acerca da evolução do pensamento conservador brasileiro, ressaltando muito da base liberal de alguns pensadores e estadistas. As duas figuras que iremos abordar hoje, o Barão do Rio Branco e Joaquim Nabuco, tiveram uma maior atuação no início da República, mas foram forjadas durante o Império. Desejo ouvir um pouco de sua percepção tanto acerca desse contexto monárquico na formação, quanto da tradição diplomática brasileira no Império, da qual ambos, ao lado de Ruy Barbosa, se tornam grandes herdeiros.

 

PRA: O Brasil é um grande país, em território e população, e até pelo seu PIB, embora em termos per capita ele fique muito atrás de onde deveria estar, se tudo fosse proporcional ao seu peso bruto. Mas, pode-se dizer que o nosso PIB diplomático sempre foi bem maior do que o valor agregado da economia, só perdendo para o PIB futebolístico – um pouco em regressão, também – e para o PIB musical, sobretudo a partir da Bossa Nova. É impossível percorrer qualquer shopping do mundo, qualquer loja de departamento sofisticada nas grandes capitais do mundo sem ouvir Tom Jobim. Tem também as meninas da moda, e aí não tem diplomacia que faça sombra, mas sempre fomos muito respeitados na diplomacia. Podemos descontar a presente triste descida à condição de pária mundial, que vai passar, sem deixar muitos traços no nosso itinerário diplomático.

Devemos a suposta excelência da diplomacia brasileira à boa diplomacia portuguesa, para cá transplantada na vinda da Corte e que deixou um bom legado entre nós. Nosso primeiro chanceler, José Bonifácio, havia passado trinta anos na Europa, e desempenhado altos cargos na metrópole, enquanto D. João estava no Rio de Janeiro. Ao voltar, foi o primeiro brasileiro a ser ministro num gabinete português, ainda sob a regência do príncipe Pedro, e já desenhou as bases da diplomacia brasileira. Nas Regências e no Segundo Reinado aperfeiçoamos aquele legado, com grandes nomes: Alves Branco, o liberal conservador da nova tarifa brasileira, em 1844; Honório Hermeto Carneiro Leão, visconde do Paraná, fino diplomata; Paulino José Soares de Sousa, visconde do Uruguai, chanceler duas vezes e autor de importante obra de Direito Administrativo; José Maria da Silva Paranhos, visconde do Rio Branco, e vários outros. O Visconde do Rio Branco foi o chefe de gabinete mais longevo do Segundo Império, e promoveu a Lei do Ventre Livre 150 anos atrás, em 1871. O jovem Paranhos Júnior tinha acompanhado o pai na sua famosa missão no Prata, que antecedeu à guerra do Paraguai, e ali adquiriu algumas lições de diplomacia que ficaram marcadas em seu itinerário futuro, ainda que durante mais de vinte anos ele tenha sido apenas cônsul e não diplomata, que até os anos 1930 eram duas carreiras separadas. Mas foi cônsul em Liverpool, o mais movimentado porto da Grã-Bretanha, para o comércio com o Brasil e para o mundo, onde os emolumentos consulares lhe permitiam instalar a família em Paris e lá passar longas temporadas de estudo e pesquisas em velhos mapas. 

Joaquim Nabuco, quatro anos mais jovem, também estudou Direito, como Paranhos Jr. em Recife e São Paulo, e como ele também parecia destinado a seguir a respeitável carreira política dos respectivos pais, no caso de Nabuco, o deputado, ministro e conselheiro liberal do Império José Thomaz Nabuco de Araújo. Ambos tiveram cargos de deputados, mas de apenas um mandato, ambos viajaram pela Europa, apreciando os faustos dos regimes monárquicos e de um regime republicano nascente, o da França derrotada por Bismark em Sedan. Quando Paranhos Jr. foi para Liverpool, Nabuco conseguiu o cargo de attaché em Washington, mas passava a maior parte do tempo em Nova York. Mas logo em seguida foi transferido para Londres, onde reinava absoluto na legação do Brasil o eterno Barão do Penedo, que fazia grandes recepções, graças às comissões que percebia dos empréstimos feitos à Casa Rothschild.  Nabuco adorava Londres e ali se sentia como se tivesse sido transportado à Roma imperial, entre os séculos II e IV, como escreveu em seus Diários. Dos Estados Unidos ele tinha retido impressões de mau gosto e vulgaridade, e provavelmente não tinha lido ainda Tocqueville quando ali morou de 1876 a 1877. Mas ele ficou pouco tempo em Londres, porque voltou ao Brasil por causa da morte de seu pai. 

Eleito deputado, de um só mandado, apresentou em 1880 um projeto de abolição em dez anos, com indenização aos proprietários, mas seu proselitismo abolicionista descontentou os líderes liberais, mais escravistas do que os conservadores, o que lhe custou um segundo mandato. Partiu para Londres novamente em 1882, como correspondente de jornais, e ali redigiu o que é uma obra seminal da sociologia brasileira, O Abolicionismo. De volta ao Brasil em 1884 ainda tentou ser deputado por Pernambuco, mas por duas vezes foi expurgado pela maioria dos escravocratas e novamente pelo golpe militar da República. Ele e Rio Branco, elevado a Barão em 1888, foram, junto com o chefe do último gabinete do Império, João Alfredo Correia de Oliveira, os náufragos da monarquia, como escreveu Luiz Viana, biógrafo dos dois amigos diplomatas. Nabuco começa então uma longa década de ostracismo, durante a qual vai se dedicar à biografia de seu pai, que é uma verdadeira história do Império.

Rio Branco, ainda como cônsul, é alçado à condição de diplomata apenas para servir às duas missões em defesa das fronteiras do Brasil, nos casos de Palmas, com arbitragem do presidente americano, quando então se desloca para Washington, e do Oiapoque, sob a arbitragem do presidente da Suíça, quando toma residência em Berna. Apenas no final da década que ele assume seu primeiro posto diplomático, como ministro em Berlim. Nabuco, por sua vez, foi convidado, em 1899, pelo presidente Campos Salles para defender o caso do Brasil no caso da Guiana Britânica, sendo em 1891 designado ministro na legação em Londres, ao mesmo tempo em que enviado especial junto ao rei da Itália, que deveria ser o árbitro nessa questão. Dedicou dois intensos anos à preparação da defesa do direito do Brasil, apenas para ser frustrado pela decisão pró-britânica adotada pelo rei Vittorio Emanuelle. Tem início ali sua decepção com os imperialismos europeus e o início de sua aproximação ao pan-americanismo dos Estados Unidos. 

 

3) José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco é o patrono da diplomacia brasileira e um dos vultos históricos mais importantes da história pátria. O historiador mineiro João Camilo de Oliveira Torres denomina o período entre 1902 e 1912, desde a presidência de Rodrigues Alves até a de Hermes da Fonseca de "Regência Rio Branco", pois os governos mudavam e o diplomata a frente da pasta das relações exteriores continuava a atuar como uma espécie de poder moderador. Peço que fales um pouco da vida e da atuação do Barão de Rio Branco, destacando não apenas a importância desse ex-parlamentar conservador, durante o Império, para as relações internacionais, mas, também, o legado dele para a nossa política interna.

 

PRA: De fato, o grande historiador João Camilo de Oliveira Torres começa seu itinerário intelectual como um liberal, o que está expresso em A Democracia Coroada (de 1952), mas logo em seguida se converte em conservador esclarecido, ao contemplar a obra do Regresso, que ele considera “talvez a época mais importante do Brasil”. Ele admirava a obra de Paulino, sobre a teoria da centralização exposta em seus livros, sem a qual, diz ele, não haveria Império, nem haveria Brasil. Nos Construtores do Império (1968), Oliveira Torres discute “certos paradoxos da política conservadora – o conservadorismo liberal de um Rio Branco, o liberalismo conservador de Ouro Preto e Alves Branco, a Abolição como obra conservadora.” (p. xvi). Considera que o ponto alto do republicanismo no Brasil é, de fato, um resultado do Partido Conservador, como o governo de Rodrigues Alves e a política diplomática do Barão do Rio Branco, “conscientemente na linha paterna e imperial” (idem).

Como diz Oliveira Torres, ao contrário dos Liberais, os saquaremas “eram homens que viviam a realidade concreta do país em que estavam, não do país em que gostariam de estar” (p. xv). Ele chega a citar Russell Kirk, com base na edição de 1953 de Conservative Mind, destacando os elementos relevantes do conservadorismo: reconhecimento da legitimidade da existência de classes e hierarquias sociais, a convicção de que propriedade e liberdade estão intimamente ligadas, o tradicionalismo, a distinção entre mudança e reforma, ou entre revolução e reforma (p. 1 dos Construtores do Império). O conservadorismo estima que as mudanças sociais, para serem justas e válidas, não podem quebrar a continuidade entre o passado e o futuro. Pode-se reformar, por meio de uma cautelosa adaptação do existente às novas condições, mas não empreender o estabelecimento de algo radicalmente novo (p. 2) Conservadores não são nem imobilistas, nem reacionários, mas tampouco são progressistas, que tendem a renegar o passado, algo que os conservadores reconhecem como válido e importante. O conservador considera que se pode conservar reformando, uma vez que as reformas, em si mesmas, são necessárias, mas não convém precipitá-las.

Oliveira Torres ainda destaca o que opunha liberais e conservadores, os primeiros federalistas, inimigos do Poder Moderador e do Senado Vitalício, nomeado pelo Imperador, os segundos unitários, apoiadores da figura do monarca, como representante da nação. O pai de Quincas, Senador Nabuco de Araújo, resumia o sentido dos gabinetes do Império, na segunda fase da trajetória eleitoral do regime monárquico: “O Poder Moderador pode chamar a quem quiser para organizar ministérios: esta pessoa faz a eleição, porque há de fazê-la e esta eleição faz a maioria” (p. 18 dos Construtores do Império). Nisso se confirmava a frase: “Nada tão parecido a um ‘saquarema’ como um ‘luzia’ no poder” (idem, p. 33).

Rio Branco era um conservador por instinto, nos grandes princípios defendidos pelo Partido Conservador desde as Regências: a unidade do Império, a figura do imperador como símbolo da nação, a defesa da ordem, contra as tendências federalistas dos liberais, o que poderia ameaçar a integridade da nação. Para reforçar suas preferências, cabe registrar que os liberais ingleses eram mais colonialistas e imperialistas do que os conservadores, numa época em que todas as potências europeias estavam fazendo a partilha da África, conquistando partes da Ásia e mantendo a mesma atitude arrogante vis-à-vis os países da América Latina. Daí a sua busca de uma postura de equilíbrio entre os imperialismos dos dois lados do Atlântico Norte, quando ele assume a chancelaria, a convite de Rodrigues Alves, inaugurando sucessivos mandatos à frente da chancelaria que o mantiveram sob quatro presidentes sucessivos. Foi Rio Branco que converte Nabuco no primeiro embaixador do Brasil, ao designá-lo para servir em Washington em 1905, onde ele viverá seus cinco últimos anos. 

Enquanto conservador, Rio Branco, na verdade, foi mais pragmático do que doutrinal, pois que ele se guiou, basicamente, pela mesma lição que lhe tinha sido ensinada pelo seu pai, e que vai repetir, praticamente ipsis litteris, em seu primeiro discurso no Brasil, quando vai ao Clube Naval logo que desembarcou no Rio em dezembro de 1902: não vim servir a partidos, e sim ao Brasil. Seu primeiro e complicado caso foi o da invasão de seringueiros brasileiros ao território da Bolívia, para o qual ele abandonou qualquer recurso à arbitragem – como aliás faria para todos os demais casos de negociações de limites –, preferindo negociar diretamente com o governo boliviano a cessão, via compra, do território do Acre. Rui Barbosa foi convidado a integrar a delegação do Brasil, mas logo se dissociou, pois não concordava nem com a compra, nem com a cessão de pequeno pedaço do território do Brasil aos bolivianos, para viabilizar o acesso da Bolívia à saída para o mar, via ferrovia, a ser construída pelo Brasil, e depois navegação no Madeira-Mamoré. O custo do pagamento feito à Bolívia foi coberto, segundo o embaixador Ricupero, em menos de dois anos de exportação da valiosa borracha, no seguimento do Tratado de Petrópolis de 1903. 

Rio Branco e Nabuco voltaram a cooperar na Terceira Conferência Americana, realizada no Rio de Janeiro em 1906. A primeira tinha sido realizada em Washington, no final de 1889 até o início de 1890, quando o Brasil justamente passa da monarquia para a República. James Blaine, o Secretário de Estado do nascente império do livre comércio e dos investimentos no hemisfério, com o objetivo algo utópico de realizar uma união aduaneira continental, um projeto ainda mais ambicioso, naquelas circunstâncias, do que o da Alca, proposto em 1994 por Bill Clinton e implodido dez anos depois pelo trio de populistas de esquerda, Chávez, Kirchner e Lula. A Terceira Conferência, já no contexto do Corolário Roosevelt à doutrina Monroe, opõe ainda mais expressamente a visão da responsabilidade dos Estados na condução das suas relações com os credores privados e os partidários da soberania absoluta dos países latino-americanos na questão das dívidas públicas, questão que também será retomada na Segunda Conferência da Paz da Haia, em 1907, simbolizada pelo confronto entre a Doutrina Drago, do nome do chanceler argentino, e a doutrina Porter, o americano, que pretendia que os Estados assumissem sua responsabilidade nessa área. Na Haia, Rio Branco fez uma perfeita dobradinha com Rui Barbosa, o chefe da delegação, que nunca hesitou em se confrontar às grandes potências em questões que ele considerava como sendo a defesa da igualdade soberana das nações, uma das bases da nossa diplomacia e do próprio multilateralismo contemporâneo. Rui Barbosa retornou triunfante da Haia, e ainda fez mais uma missão diplomática nos 100 anos da independência argentina, em 1916.

 

4) Joaquim Nabuco foi um parlamentar liberal durante o Império, sendo o grande tribuno da causa abolicionista. Durante os primeiros anos do regime republicano assumiu uma postura mais conservadora, tendo sido um defensor da monarquia e um crítico da República, tanto do militarismo, especialmente de Floriano Peixoto, quanto das práticas oligárquicas vigentes. Por fim, em uma terceira fase, como diplomata nos Estados Unidos se tornou um dos precursores do pan-americanismo. Desejo que fales um pouco sobre a vida, a obra e a atuação prática desse grande escritor e estadista brasileiro.

 

PRA: Nabuco se considerava liberal, mas o fato é que os liberais, a despeito de teoricamente abolicionistas, sempre foram mais escravagistas do que os conservadores, que realizaram todas as medidas abolicionistas do Segundo Reinado: a extinção do tráfico em 1850, a Lei do Ventre Livre, por Paranhos pai, em 1871, a lei dos Sexagenários, por Cotegipe, em 1885, que descontentou Nabuco, por considera-la insuficiente, ademais da própria abolição, pelo gabinete João Alfredo, em 1888, o último do Império, outro náufrago da monarquia. Depois da Abolição, Nabuco escrevia em seu Diário que se opunha a João Alfredo por outras razões que não o abolicionismo, e já não se identificava com qualquer partido, pois todos eles lhe pareciam igualmente plutocráticos. “Eu hoje luto por ideias e não por partidos. Nas ideias sou intransigente; quanto aos partidos não mais presto mais a galvanizá-los. Estão mortos e bem mortos.” (p. 249 do vol. 1 dos Diários, 2005). De fato, sua oposição a João Alfredo se devia à criação dos bancos hipotecários, que Nabuco considerava uma forma disfarçada de indenizar os antigos escravocratas. Confirmando seu caráter de liberal social, escreveu numa carta a um amigo pernambucano em julho de 1888 o seguinte: 

Os partidos esmagam o povo. Ambos eles são exploradores e, mas começa, o republicano já está adorando o Bezerro de Ouro. Eu me oponho aos bancos [hipotecários] porque quero a pequena propriedade, a dignidade do lavrador, do morador, do liberto – a formação do povo que está ainda abaixo do nível dos partidos. Não considero o interesse de nenhum partido, mas somente do povo, que nada pode fazer por si porque ainda nem sequer balbucia a linguagem de seus direitos. (p. 250).

 

Os três momentos altos da vida e da carreira de Joaquim Nabuco foram: (1) sua preeminência na campanha abolicionista, frustrada na prática (pois que seu projeto de 1880 de abolição em dez anos com compensação aos proprietários foi vencida pela Lei de 13 de maio de 1888, abolição imediata sem compensações), mas parcialmente vencedor no espírito, ainda que seus objetivos complementares, reforma agrária e educação para todos os pobres jamais tenham sido levados adiante; (2) a defesa do direito do Brasil na arbitragem dos limites com a Guiana inglesa, perfeita no papel, mas novamente frustrada, já que o rei Vittorio Emanuelle, em 1904, não quis “descontentar a Inglaterra”, ao dividir o território em dois, nisso contrariando os membros da comissão italiana que davam inteiro ganho ao Brasil; (3) sua adesão ao monroismo e ao pan-americanismo, ao se tornar embaixador (o primeiro do Brasil) em Washington, quando prega uma aliança quase total com os Estados Unidos, na Terceira Conferência Americana, realizada no Rio de Janeiro em 1906 (quando se constrói o Palácio Monroe, depois sede do Senado), postura que recebe apoio contido de Rio Branco, sempre desconfiado dos grandes impérios, e a oposição aberta de Oliveira Lima, que rompe com o amigo, em vista justamente dessa adesão ao império expansionista, numa fase de “Corolário Roosevelt” à doutrina Monroe, pregando uma espécie de missão policialesca dos Estados Unidos sobre países latinos recalcitrantes em suas obrigações financeiras. 

Os momentos altos de sua obra literária também são três: (1) o livro O Abolicionismo, novamente, que é um verdadeiro tratado sociológico e histórico do papel do escravo na formação do Brasil, e na injustiça feita pelo regime monárquico ao preservar a escravidão; (2) os três volumes originais de Um Estadista do Império, a história da carreira de seu pai que é, ao mesmo tempo, uma história do Segundo Reinado (e que depois vai dar inspiração a Afonso Arinos de Melo Franco para fazer obra similar em homenagem a seu pai Afrânio, em Um Estadista da República (1955); e (3) sua biografia Minha Formação (de 1900), na qual relata que foi criado à base de “leite preto”, sua devoção o imperador e o choque terrível do golpe republicano de 1889, e a dedicação feita durante o longo ostracismo ao trabalho literário, sobre a revolta da Armada, sobre a tragédia do suicídio do presidente chileno Balmaceda, e sua própria reconversão religiosa, 

Do ponto de vista da monarquia, ele pressentiu o desastre dos anos finais, a provável inviabilidade de um Terceiro Reinado, e seu esforço final por uma reforma do regime, num sentido mais federalista, deixando de ser um Império unitário. O golpe da república veio com o abalo financeiro das aplicações na Argentina, que ele fizera durante a viagem de lua-de-mel ao Prata, em 1889, durante a qual ficara impressionado com a pujança do país; a Argentina deu um calote em 1890, quase provocando a falência do secular banco londrino Baring Brothers, finalmente salvo com a ajuda do Bank of England e de outros banqueiros, inclusive os Rothschild (mas que depois veio a soçobrar nas especulações financeiros dos anos 1990). 

Os anos Floriano corresponde a seu estupor ante o “descalabro do país”, foi quando ele se recolheu ao seu ostracismo literário, do qual resultariam algumas obras que até hoje são incontornáveis na literatura histórica, sociológica e política. No final da década, já tendo se desentendido com muitos amigos monarquistas que ainda pensavam num possível retorno do antigo regime, ele é recuperado pela República para servir ao Brasil como ministro em Londres e defensor do direito do Brasil no caso dos limites com a Guiana britânica, território que tinha sido colonizado pelos portugueses, desde a viagem de Alexandre Rodrigues Ferreira, no final do século XVIII, que depois ficou sendo uma capitania real, a de São José do Rio Negro. Nabuco passou dois anos redigindo os 18 volumes do seu relatório, com base nas melhores fontes primárias, algumas repassadas por Rio Branco. 

O historiador Evaldo Cabral de Mello, na nota que ele fez à passagem dos Diários de Nabuco, relativa ao dia 14 de junho de 1904, quando foi anunciada a sentença do rei Vittorio Emanuelle, na presença dos dois embaixadores, o britânico e o brasileiro, refaz, num longo texto explicativo, as quatro enigmáticas linhas que Nabuco consignou em seu diário, estas: 

14 junho – Às 11 horas ao Quirinal, somos introduzidos o Embaixador inglês e eu: o rei, depois de algumas palavras, faz-nos sentar cada um de um lado, ele no sofá, e dá-nos a leitura da sentença. Jantamos todos da Missão em casa do Barros Moreira.

 

Nada além disso, com apenas uma nova notação no dia 19 de junho: “Telegrama do Rio Branco oferecendo-me Washington”. Evaldo Cabral de Mello, apensou a seguinte longa nota de rodapé na entrada do dia 14, dia fatídico para Nabuco: 

O laudo de Vitor Emanuel III rejeitava a pretensão do Brasil de haver exercido posse efetiva sobre todo o território ...

 (nota 233, p. 310, do vol. 2: 1889-1910 dos Diários, 2005)

 

Essa decepção “romana” de Nabuco talvez o tenha convencido a aceitar o novo posto na nova Roma do século XX, a despeito de já estar sofrendo de diversos males, inclusive a surdez e comichões na pele, a progressão da erisipela que levaria consigo durante todo o período na embaixada em Washington. Uma nova decepção se manifestaria, des depois do relativo sucesso da conferência americana do Rio de Janeiro, quando ele se converteu em sincero aliado da causa monroísta, panamericana, e até mais do que isso, excessivamente pró-Estados Unidos, na visão de Oliveira Lima. Essa decepção foi a postura decididamente imperialista demonstrada pelos EUA, em relação às principais questões discutidas na conferência da Haia de 1907, onde Rui Barbosa mantinha intenso contato com Rio Branco, por via telegráfica, para tentar demover o gigante hemisférico de sua aliança de fato com a velhas potências europeias, em detrimento das demandas e justas reclamações dos vizinhos do continente. Nabuco viajou para a Europa e encontrou-se com Rui em Bruxelas no dia 15 de setembro de 1907, mas alguns dias antes tinha recebido um telegrama do jurista baiano: 

6 setembro – Hoje recebi este telegrama do Rui Barbosa: “Acumulação contínua trabalhos tem me impedido responder afetuosa carta, motivo de ainda maior satisfação para mim, ver nossa conformidade ideias questão atual. Situação cada vez mais delicada. Projeto americano sistema de seguridade composição Corte [Permanente de Justiça Arbitral] caiu vencido pelo princípio afirmado por nós com apoio conhecido, quase unanimidade, nações latino-americanas. Todavia persistem novas tentativas torcer-nos, mas nosso governo inabalavelmente resolvido resistir. Opinião Rio excitadíssima, dificilmente contida; esforços Rio Branco, cujo procedimento tudo isto tem sido admirável. Conferência não acabará antes fins setembro, sendo eu retido aqui trabalhos diários, convites e conferências sobre caso pendente. Não poderei, pois, vê-lo Paris. Seu sincero amigo, Rui.” (Diários, 2º vol., p. 409)

 

A última entrada no diário de Nabuco foi feita no dia 11 de janeiro de 1910: “Um pouco melhor. Não tive vertigem à noite. Retomo com prudência minha vida usual. Tenho sempre a dor de cabeça e sonolência.” Evaldo acrescentou sua última nota de rodapé: “A 17 de janeiro, Nabuco falecia, vítima de congestão cerebral. Seus restos mortais seguiram para o Rio e para o Recife, onde foram sepultados no cemitério de Santo Amaro, por desejo seu e do governo de Pernambuco”. (vol. 2, p. 479) 

 

5) Ao longo do século XX, além das figuras icônicas do Barão do Rio Branco, de Joaquim Nabuco e de Ruy Barbosa, nosso país teve outros importantes pensadores de tradição liberal ou conservadora, dentre os quais destaco os nomes de Roberto Campos, José Osvaldo de Meira Penna, Mario Vieira de Mello e José Guilherme Merquior. Sendo um dos mais destacados representantes dessa tradição, gostaria de ouvir suas impressões acerca dela.

 

PRA: Eu tinha apenas 16 anos quando fui assistir a uma palestra de Roberto Campos sobre o PAEG, o Plano de Ação Econômica do Governo, que não apenas reduziu a inflação, gradualmente, como procedeu a uma completa reforma da economia e da administração do Brasil. Nasceram ali minhas primeiras lições de economia e de política. Seu livro de memórias, A Lanterna na Popa, é indispensável em qualquer curso de economia, de história, das humanidades em geral. Quando ele completaria 100 anos, em abril de 2017, coordenei um livro em sua homenagem: O Homem Que Pensou o Brasil, depois complementado pela compilação de seus artigos sobre o processo de elaboração constitucional: A Constituição Contra o Brasil (2018). meus livros. 

José Osvaldo de Meira Penna foi um dos maiores intelectuais, liberal clássico. Eu me correspondi com ele quando ele era cônsul em Zurique, e estudioso de Jung; tinha sido embaixador em Israel e depois em Varsóvia, quando denunciou o escândalo das “polonetas” (dívidas não pagas da Polônia por financiamentos brasileiros a exportação). Ficamos amigos depois que eu voltei do meu doutorado em 1984; ele costumava receber muita gente no seu sítio de Brasília, para conversas de fim de semana. Creio que ele foi o membro brasileiro mais antigo e mais longevo da Sociedade do Mont Pélérin, uma confraria de pensadores liberais coordenada por Friedrich von Hayek, da qual também foi membro Henry Maksoud. Morreu com mais de cem anos: fiz um artigo em homenagem a ele, mas ainda lhe devo um volume inteiro em sua homenagem.

Mario Vieira de Mello, diplomata de carreira, foi autor de muitas obras de filosofia e de estudos de estética, mas não o conheci, pois ele se aposentou no ano em que ingressei na carreira diplomática, em 1977. A Funag publicou a 3ª edição da obra Desenvolvimento e cultura: o problema do estetismo no Brasil, em 2009 (disponível na Biblioteca Digital). 

Finalmente José Guilherme Merquior, a mais fascinante máquina de pensar, na concepção de Eduardo Portella. Em 2020, elaborei um ensaio sobre sua obra sociológica: “José Guilherme Merquior: o esgrimista liberal”, publicado como posfácio na nova edição de seu livro sobre, Foucault, ou o niilismo de cátedra (É Realizações, 2021), também disponível numa brochura que fiz em sua homenagem, no começo deste ano, nos seus 80 anos, se tivesse ultrapassado os 49 que viveu e os mais de 30 que produziu intensamente, que está na minha página do Academia.edu: 3894. José Guilherme Merquior: um intelectual brasileiro, Brasília, 19 abril 2021, 322 p. Coletânea de textos de e sobre o grande intelectual diplomata. Postado na minha página na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/46954903/Jose_Guilherme_Merquior_um_Intelectual_Brasileiro_2021_); divulgado no blog Diplomatizzando (20/04/2021; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2021/04/jose-guilherme-merquior-uma-homenagem.html).

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3993: 4 outubro 2021, 12 p.

 

 

Anexo: 

Russell Kirk: The Conservative Mind: from Edmund Burke to T. S. Eliot

Conservatism is not a fixed and immutable body of dogmata; conservatives inherit from Burke a talent for expressing their convictions to fit the time. … conservatism is preservation of the ancient moral traditions. Conservatives respect the wisdom of their ancestors; they are dubious of wholesale alteration. They think society is a spiritual reality, possessing a eternal life but a delicate constitution: it cannot be scrapped and recast as if it were a machine.

F. J. C. Hearnshaw, in his Conservatism in England, lists a dozen principles of conservatives, but possibly these may be comprehended in a briefer catalogue.

(1) Belief in a transcendent order, or body of natural law, which rules society as well conscience. Political problems, at bottom, are religious and moral problems. (…)

(2) Affection for the proliferating variety and mistery of human existence, as opposed to the narrowing uniformity, egalitarianism, and utilitarian aims of most radical systems; (…)

(3) conviction that civilized society requires orders and classes, as against the notion of a “classeless society”. With reason, conservatives often have been called “the party of order” (…) … equality of condition… means equality in servitude and boredom.

(4) Persuasion that freedom and property are closely linked: separate property from private possession, and Leviathan becomes master of all. Economic levelling, they maintain, is not economic progress.

(5) Faith in prescription and distrust of “sophisters, calculators, and economists”, who would reconstruct society upon abstract designs. (…)

(6) Recognition that change may not be salutary reform: hasty innovation may be a devouring conflagration, rather than a torch of progress.

 

O Mercosul estaria se desfazendo? Uruguai busca acordo de livre comércio com a China - Janaína Figueiredo (O Globo)

Estamos assistindo ao próximo desaparecimento do Mercosul? E justamente pelo governo que prometia inserção econômica internacional do Brasil?

Durante anos, o pequeno Uruguai pediu licença para fazer um acordo de livre comércio com os EUA, projeto ao qual se opôs veementemente o Brasil. Agora, como os EUA são protecionistas – como Argentina e Brasil, aliás –, os uruguaios querem tem um waiver para negociar um acordo de livre comércio com a China, seu principal parceiro atualmente (o que é incrível, pois Brasil e Argentina sempre foram os dois maiores durante décadas, talvez mais de um século). 

Agora, o Paulo Guedes demonstra mais uma vez que ele NÃO ENTENDE NADA, ABSOLUTAMENTE NADA, não apenas de Mercosul, como de política comercial, de OMC, de estruturas tarifárias, tudo, ele NÃO CONHECE NADA dessa importante política setorial, que é relevante em qualquer projeto internacional do Brasil.

O que disse o ignorante? 

"O Mercosul vai se modernizar e quem estiver incomodado que se retire. Vamos ficar firmes em posição de avançar durante presidência brasileira do Mercosul”.

“Paraguai, Uruguai e Brasil querem modernizar o Mercosul, Argentina não concorda. Não vamos sair do Mercosul, mas não aceitaremos um bloco como instrumento ideológico.”

INACREDITÁVEL!

Ele NÃO TEM A MENOR IDEIA DO QUE ESTÁ FALANDO!

Em primeiro lugar, ele NÃO PODE, o Brasil NÃO PODE reduzir unilateralmente a TEC do Mercosul, que é um protocolo apresentado pelo bloco do Mercosul à OMC, e só pode ser comunicado em suas mudanças pelo bloco, enquanto personalidade de direito internacional registrada na OMC. 

Em segundo lugar, essa afirmação de que o "Mercosul vai se modernizar" não quer dizer absolutamente nada, assim como a Argentina não vai se retirar por se sentir "incomodada".

O ministro da Economia não é apenas um desastre na economia, mas ele é catastrófico na diplomacia, um desmonte completo de todas as normas e conteúdos impulsionados pelo Itamaraty nos últimos 30 anos.

Esses novos bárbaros do desgoverno atual precisam ser defenestrados, pois eles estão DESTRUINDO o Brasil e suas políticas de Estado.

Paulo Roberto de Almeida


Uruguai cobra apoio do Brasil a conversas bilaterais com China, e crise do Mercosul se agrava

Governo uruguaio quer declaração contundente do brasileiro a favor de acordo comercial do país vizinho com chineses. Argentina e Paraguai são contra
Janaína Figueiredo 
O Globo, 05/10/2021 

Como se não bastassem as divergências entre Brasil e Argentina, que continuam em negociações para tentar chegar a um entendimento sobre a redução da Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC, que taxa produtos de fora do bloco), nas últimas semanas, informaram fontes brasileiras, surgiram no horizonte tensões entre os governos brasileiro e uruguaio.

O motivo, de acordo com as fontes, seria a demanda do Uruguai de que o Brasil faça uma declaração contundente de respaldo ao início das conversas bilaterais do país vizinho com a China, para negociar um acordo de livre comércio.

O Uruguai, que nos últimos tempos foi o principal aliado do Brasil no Mercosul, virou, inesperadamente, uma dor de cabeça.

De acordo com as fontes consultadas, o governo do presidente Luis Lacalle Pou estaria condicionando a adesão de seu país à proposta de redução da TEC à aceitação, ou não, por parte do Brasil de ratificar explicitamente seu apoio à decisão do Uruguai de, contrariando, segundo Argentina e Paraguai, normas fundacionais do bloco, negociar um acordo com a China por fora do Mercosul.

Negociar sozinho
O governo do presidente Jair Bolsonaro já deixou claro em diversas oportunidades sua posição favorável à flexibilização da dinâmica de negociações comerciais.

Enquanto Argentina e Paraguai insistem em assegurar que o Tratado de Assunção (ata fundacional do bloco) proíbe acordos que não sejam negociados por todos (o chamado 4 + 1), o Brasil sempre se mostrou alinhado com os desejos do Uruguai de negociar sozinho.

O argumento do governo uruguaio (o mesmo defendido por todos os governos anteriores) é de que a resolução 32.00, aprovada no ano 2000, que regulamenta a dinâmica do 4 + 1, nunca foi internalizada pelos países.

Por uma surpreendente ironia do destino, hoje os dois países que pareciam mais afinados dentro do bloco, estão atravessando turbulências em seu relacionamento, o que deixou o Mercosul numa situação ainda mais complexa.

Fontes uruguaias negaram que o governo Lacalle Pou tenha mudado sua posição sobre a proposta de redução da TEC, mas evitaram comentar as exigências que o Uruguai teria feito ao Brasil para manter sua posição numa questão considerada essencial pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Do lado brasileiro, existe preocupação. Se o Uruguai não acompanhar o governo Bolsonaro nas negociações sobre corte da TEC - e atrapalhar a estratégia do ministro Paulo Guedes de combate à inflação -, o estremecimento da relação poderia contaminar outras questões, ampliou uma fonte brasileira. Uma dessas questões seria a negociação anual para renovar as zonas francas bilaterais.

No ano passado, o Brasil pediu incluir o açúcar no regime, mas o Uruguai não aceitou. Este ano, disseram as mesmas fontes, o Brasil poderia exigir a incorporação do açúcar como condição para aceitar a renovação. 

Em Montevidéu, o anúncio oficial de que começou a ser realizado um estudo de viabilidade de um acordo de livre comércio com a China gerou expectativa.

Exportações para a China
Segundo explicou Marcel Vaillant, professor de Comércio Internacional da Universidade da República, hoje a China é o principal destino das exportações uruguaias. 

— Para nosso país, é um fato transcendental. Somos uma economia pequena, mas com vocação de abertura. Brasil e Argentina são as economias mais protecionistas do planeta e o Mercosul é um subproduto disso — disse Vaillant.

Ele acredita que existe sintonia entre o Brasil de Bolsonaro e seu país em matéria de política comercial, e confia em que ambos caminharão no mesmo sentido. 

— No Mercosul foram toleradas diversas flexibilidades, principalmente em relação à Argentina. A tolerância deve ser recíproca — frisou o especialista.

No entanto, no momento, o diálogo entre Brasília e Montevidéu não está fluindo como antigamente. Em paralelo, as tensões com a Argentina não foram superadas.

Ataque à Argentina
Semana passada, Guedes jogou um balde de água gelada na Casa Rosada ao afirmar que ”o Mercosul vai se modernizar e quem estiver incomodado que se retire. Vamos ficar firmes em posição de avançar durante presidência brasileira do Mercosul (que termina em dezembro)”.

O ministro reiterou que continua com o propósito de reduzir a alíquota da TEC em 10% este ano e mais 10% no ano que vem.

“Paraguai, Uruguai e Brasil querem modernizar o Mercosul, Argentina não concorda. Não vamos sair do Mercosul, mas não aceitaremos um bloco como instrumento ideológico”, enfatizou o ministro.

Em Buenos Aires, as declarações de Guedes não caíram bem. Segundo uma fonte do governo Alberto Fernández, nas últimas semanas as negociações entre os dois países para tentar encontrar um acordo possível em matéria de TEC tinham avançado.

O Brasil teria, segundo a mesma fonte, aceitado que uma primeira redução de 10% não incluiria bens finais como automóveis, calçados e têxteis. Também teria sido adiado o segundo corte de 10% que Guedes pretendia fazer em 2022. Participaram das conversas negociadores da equipe econômica e do Itamaraty.

Uso político do conflito
O novo chanceler argentino, Santiago Cafiero, já conversou com o ministro Carlos França e o diálogo, segundo fontes argentinas, foi bom. Por isso, o novo ataque de Guedes à Argentina surpreendeu e deixou a Casa Rosada sem saber se o que parecia estar caminhando para se tornar um acordo que seria, posteriormente, apresentado a uruguaios e paraguaios, naufragou antes de sair do papel.

O objetivo de ambos, confirmaram fontes dos dois países, continua sendo alcançar um entendimento ate a cúpula presidencial de dezembro. Mas não existem mais certezas.

Na visão da especialista Sandra Rios, do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, “será difícil superar a crise do bloco nas atuais conjunturas políticas na Argentina, Brasil e Uruguai”.

— A única via possível é um waiver (permissão), para que cada país faça o movimento que quiser. 

A especialista lamentou que “os três países estejam usando politicamente o conflito e não buscando uma solução de fato”.

https://oglobo.globo.com/economia/macroeconomia/uruguai-cobra-apoio-do-brasil-conversas-bilaterais-com-china-crise-do-mercosul-se-agrava-25224894

Shutdown: How Covid Shook the World's Economy, by Adam Tooze - new book, preview

 Shutdown: How Covid Shook the World's Economy

Shutdown: How Covid Shook the World's Economy, by Adam Tooze

'A complex story, which Tooze tells with clarity and verve... The world is unlikely to be treated to a better account of the economics of the pandemic' The Times

'A seriously impressive book, both endlessly quotable and rigorously analytical' Oliver Bullough, The Guardian

From the author of Crashed comes a gripping short history of how Covid-19 ravaged the global economy, and where it leaves us now

Preview: https://libro.eb20.net/Reader/load.aspx?b=210029359&h=af4c34e93b1a41f192746ae363c5928e

When the news first began to trickle out of China about a new virus in December 2019, risk-averse financial markets were alert to its potential for disruption. Yet they could never have predicted the total economic collapse that would follow in COVID-19's wake, as stock markets fell faster and harder than at any time since 1929, currencies across the world plunged, investors panicked, and even gold was sold. 

In a matter of weeks, the world's economy was brought to an abrupt halt by governments trying to contain a spiralling public health catastrophe. Flights were grounded; supply chains broken; industries from tourism to oil to hospitality collapsed overnight, leaving hundreds of millions of people unemployed. Central banks responded with unprecedented interventions, just to keep their economies on life-support. For the first time since the second world war, the entire global economic system contracted. 

This book tells the story of that shutdown. We do not yet know how this story ends, or what new world we will find on the other side. In this fast-paced, compelling and at times shocking analysis, Adam Tooze surveys the wreckage, and looks at where we might be headed next.

  • Penguin Books Ltd; September 2021
  • ISBN: 9780141995458
  • Title: Shutdown
  • Author: Adam Tooze
  • Imprint: Penguin
  • Language: English

In The Press

A complex story, which Tooze tells with clarity and verve... The world is unlikely to be treated to a better account of the economics of the pandemic.


About The Author

Adam Tooze is the author of the highly praised CrashedThe Deluge and The Wages of Destruction, all published by Allen Lane. He has been the recipient of the Wolfson Prize for History, the Longman-History Today Book of the Year Prize and the Lionel Gelber Prize. Tooze has taught at Cambridge and Yale and is now Kathryn and Shelby Cullom Davis Professor of History at Columbia University.


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ISBNs

  • 9780241485873
  • 9780141995458

Dois trechos que estou lendo em Preview: 





Roberto Campos, diplomata, economista e político: o constituinte profeta, livro em sua homenagem - 6/10/2021, 10:00hs (IDP)

 

Como informado na nota acima, participarei, nesta quarta-feira, 6 de outubro, às 10hs, do lançamento virtual do livro preparado em homenagem ao grande estadista brasileiro Roberto Campos, como um dos autores de um dos capítulo, ao lado de colegas acadêmicos (como Arnaldo Godoy, Lênio Streck), advogados, políticos, além do filho e do neto de Roberto Campos.


 O livro contém contribuições de diferente qualidade, mas abrindo com um ensaio de rico conteúdo analítico, da pena de meu colega e amigo Arnaldo Godoy, cujo título já constitui todo um programa: "Roberto Campos: o profeta da catástrofe institucional e dos desacertos econômicos da Constituição de 1988", e fechando com uma contribuição de minha autoria, tratando de todos os artigos publicados na imprensa diária sobre esses desacertos (reunidos na segunda parte do livro), cujo título também é revelador: "
Roberto Campos e a utopia constitucional brasileira", 


Faremos o lançamento nesta quarta-feira, dia 06/10, às 10h, pela plataforma Zoom, mas que pode ser assistido por todos os interessados, neste kink do Youtube: https://youtu.be/YCbGEmoCY_Q

Eis os dados completos da publicação:

Gilmar Ferreira Mendes e Ives Gandra da Silva Martins (coords.): 

Roberto Campos: diplomata, economista e político – o constituinte profeta 

(São Paulo: Almedina, 2021, 391 p.; ISBN: 978-65-5627-192-7; p. 81-122); disponível no site da Editora (link: https://www.almedina.com.br/produto/roberto-campos-diplomata-economista-e-politico-o-constituinte-profeta-9265 ). 


segunda-feira, 4 de outubro de 2021

O ministro dolarizado e sua fabulosa política cambial: um Guedes quase chegando nos 10 milhões de dólares

 

PT aciona MP para investigar offshore milionária de Paulo Guedes em paraíso fiscal

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Foto: José Cruz/Agência Brasil

O líder do PT na Câmara, Elvino Bohn Gass (RS), anunciou hoje que a bancada do partido vai encaminhar à Procuradoria –Geral da República pedido de investigação do ministro da Economia, Paulo Guedes, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em razão de denuncia divulgada neste domingo (3) pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, na sigla em inglês). Ambos foram denunciados por terem empresas em paraísos fiscais e as manterem depois de ingressar no governo, no início de 2019.

Para Bohn Gass, Guedes e o presidente do BC devem ser alvo de profunda e rigorosa investigação por parte do Ministério Público. “Com base nas normas do serviço público e na Lei de Conflito de Interesses, o caso sugere que pode ter havido autofavorecimento”, disse Bohn Gass. ´’Estamos falando de dois dos mais importantes responsáveis pela condução da política econômica do País neste momento. Em nome da lisura e da transparência, o povo brasileiro tem o direito a essas informações”, completou o líder do PT.

Sob suspeição 

O petista lembra que quem tem offshore precisa declarar à Receita Federal e ao próprio Banco Central. “Mas, se o dono dessa offshore for ocupante de cargo público, está sujeito, ainda, a outras regras, justamente para que não haja autofavorecimento”, comentou.

“E causa estranheza que tanto Guedes quanto Campos Neto, como integrantes do Conselho Monetário Nacional, tenham participado diretamente da decisão do atual governo de elevar de 100 mil dólares para 1 milhão de dólares o valor que se pode ter no exterior sem informar ao Banco Central”, disse Bohn Gass. O líder informou  que também deve assinar pedido para que as duas autoridades monetárias sejam convocadas a prestar esclarecimentos no Congresso Nacional.

Segundo o consórcio de jornalistas, no dia 24 de setembro de 2014, com o mercado financeiro cada vez mais agitado diante da iminência da reeleição de Dilma Rousseff (PT), o Banco Central interveio para conter a alta do dólar. No dia seguinte, o economista Paulo Guedes, então sócio da gestora de recursos Bozano Investimentos, tomou uma providência para manter parte da sua fortuna longe das turbulências da economia brasileira: fundou a Dreadnoughts International, uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe.

Saldo no exterior

Nos meses seguintes, Guedes aportou na conta da offshore, aberta numa agência do banco Crédit Suisse, em Nova York, a quantia de 9,55 milhões de dólares, o equivalente a 23 milhões de reais na época (no câmbio atual, o valor hoje corresponde a 50 milhões de reais).

A abertura de uma offshore ou de contas no exterior não é ilegal, desde que o saldo mantido lá fora seja declarado à Receita Federal e ao Banco Central. Mas, no caso de servidores públicos, a situação é diferente. O artigo 5º do Código de Conduta da Alta Administração Federal, instituído em 2000, proíbe funcionários do alto escalão de manter aplicações financeiras, no Brasil ou no exterior, passíveis de ser afetadas por políticas governamentais. A proibição não se refere a toda e qualquer política oficial, mas apenas àquelas sobre as quais “a autoridade pública tenha informações privilegiadas, em razão do cargo ou função”. Em janeiro de 2019, cinco anos depois de abrir a offshore e depositar 9,55 milhões de dólares, Guedes virou o principal fiador do governo Bolsonaro e assumiu o cargo de ministro da Economia, sob cuja responsabilidade está um enorme leque de decisões capazes de afetar seus próprios investimentos no exterior.

As penas para quem infringe o artigo 5º variam de uma simples advertência à recomendação de demissão. O ministro disse à Piauí que, assim que assumiu o ministério em janeiro de 2019, ele informou à Comissão de Ética Pública, encarregada de julgar possíveis infrações ao código, sobre seus investimentos externos. A Comissão de Ética, no entanto, só julgou o caso em julho passado. Não viu nenhuma irregularidade e decidiu arquivar o caso. A Piauí pediu ao órgão a justificativa da decisão, mas recebeu como resposta que as informações contidas nos julgamentos são sigilosas “em face dos dados sensíveis que delas constam – inclusive fiscais e bancários”.

Desde o início da gestão Bolsonaro, a Comissão de Ética de Pública tem sido criticada por ser leniente com comportamentos antiéticos por parte da cúpula do governo. Em maio de 2020, o conselheiro Erick Vidigal pediu demissão e divulgou uma carta com fortes críticas ao órgão. “Eu não entrei na Comissão de Ética para bater palma para governantes indecentes ou para perseguir desafetos do governo”, escreveu. Em 2019, último ano em que a comissão divulgou dados, apenas um servidor fora punido – com pena de advertência –, contra seis no ano anterior e 17 em 2017. “A comissão só trabalha de verdade na análise das quarentenas e em alguns casos de conflito de interesses. Quanto aos desvios éticos, adoram colocar panos quentes, especialmente quando se trata de ministros de Estado”, critica um ex-membro do órgão, que não quis se identificar para não se indispor com os atuais conselheiros.

A proposta de reforma tributária apresentada pelo governo ao Congresso Nacional é um exemplo de conflito de interesses. Por sugestão da Receita Federal, o projeto original da reforma previa a taxação de ganhos de capital no exterior, incluindo investimentos em paraísos fiscais – situação que, sabe-se agora, atingia o ministro Guedes. A ideia, no entanto, acabou derrubada com a anuência do Ministério da Economia. Outro item da reforma, negociado e aprovado pela equipe econômica, reduz drasticamente a taxação sobre a repatriação de recursos. Hoje, a taxa não é um consenso, e sempre rende discussões judiciais, mas varia de 15% a 27,5%, a depender do volume de recursos. Pela proposta do governo, a alíquota, se aprovada, cairá para 6%.

 

Leia a íntegra da denúncia do ICIJ:

https://apublica.org/2021/10/guedes-tem-offshore-milionaria-em-paraiso-fiscal/

 

domingo, 3 de outubro de 2021

Barão do Rio Branco e Joaquim Nabuco: uma conversa com o professor Alex Catharino - Paulo Roberto de Almeida

Nesta segunda-feira, tenho uma entrevista com o Professor Alex Catharino conforme este anúncio que ele fez em sua página no Instagram: 


 Segundo ele me relatou, ao convidar-me, essa live dá sequência a uma série de debates que ele vem promovendo semanalmente, desde 16 de agosto, com diferentes convidados acerca da evolução do pensamento conservador brasileiro, ressaltando muito da base liberal de alguns pensadores e estadistas. 

As duas figuras das quais iremos trataremos são o Barão do Rio Branco e Joaquim Nabuco, ambos "náufragos da monarquia", como afirmou Luiz Viana Filho (que foi um biógrafo excepcional), que detiveram uma maior atuação no início da República, mas que foram forjados durante o Império. 

Alex Catharino quer ouvir minha percepção tanto acerca desse contexto monárquico na formação, quanto da tradição diplomática brasileira no Império, da qual ambos, ao lado de Ruy Barbosa, se tornam grandes herdeiros.

Li muito sobre ambos, e até escrevi alguma coisa sobre eles. 

Sobre Joaquim Nabuco, escrevi o seguinte trabalho: 

2046. “O Brasil e os Estados Unidos antes e depois de Nabuco: uma avaliação de desempenho relativo no plano do desenvolvimento social”, Brasília, 16 setembro 2009, 23 p. Ensaio preparado, com base no trabalho 1999 e aproveitando partes do trabalho 1991, para livro sobre Joaquim Nabuco. In: Severino J. Albuquerque (org.): Joaquim Nabuco e Wisconsin: Centenário da conferência na universidade, ensaios comemorativos (Rio de Janeiro: Editora Bem-te-vi, 2010; ISBN: 978-85-88747-34-0; p. 221-251). Reproduzido no volume: Paulo Roberto de Almeida, André Heráclio do Rêgo, Oliveira Lima: um historiador das Américas (Recife: CEPE, 2017, 175 p.; ISBN: 978-85-7858-561-7), p. 131-160. Relação de Publicados n. 986.


Sobre o Barão tenho dezenas de escritos, mas vou mencionar apenas as suas "memórias", como abaixo, que eu apresentaria da seguinte maneira: 


Memórias do Barão do Rio Branco: um exercício inconcluso

 Paulo Roberto de Almeida


3643. “Memórias do Barão: a partir de seus cadernos de notas”, Brasília, 20 abril 2020, 23 p. Compilação dos textos parciais escritos anteriormente (2346, 2356, 2367, 2370 e 2375) e no próprio dia (n. 3641). Divulgado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42801645/Memorias_do_Barao_a_partir_de_seus_cadernos_de_notas_2020_) e no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/memorias-do-barao-do-rio-branco-partir.html). 

Textos precedentes: 

2356. “Memórias do Barão do Rio Branco: Nota Liminar do organizador”, Bragança, 18 de janeiro de 2012, 4 p. Introdução às memórias do Barão, explicando como e por que o caderno veio a lume. Destinado a integrar um volume amplo, sobre diversos temas da diplomacia brasileira, de época e posterior. Postado no blog Diplomatizzando (10/02/2012; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2012/02/memorias-do-barao-do-rio-branco-1-nota.html). Todos os textos (2356, 2367, 2370 e 2375) foram novamente publicados em meu blogDiplomatizzando: “Memórias do Barão do Rio Branco” (27/08/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/memorias-do-barao-do-rio-branco-nota.html).


2346. Memórias do Barão do Rio Branco (1), Brasília, 18 dezembro 2011, 4 p. Memórias fictícias do Barão, em fevereiro de 1909. Postado no blog Diplomatizzando (10/02/2012; link: http://diplomatizzando.blogspot.com/2012/02/memorias-do-barao-do-rio-branco-1-20-de.html). Boletim da ADB (ano 19, n. 76, janeiro-fevereiro-março 2012, p. 26-29; ISSN: 0104-8503). Relação de Publicados n. 1066. 


2367. “Memórias do Barão do Rio Branco, 2: nuestros hermanos, siempre tan hermosos”, Saint Malo, 13 Fevereiro 2012, 4 p. Segundo capítulo das memórias do Barão, tratando das relações com a Argentina. Postado no blog Diplomatizzando (13/02/2012; link: http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/02/memorias-do-barao-do-rio-branco-2-ah.html). Postado novamente no aniversário do Barão, em 20/04/2012 (http://diplomatizzando.blogspot.com/2012/04/no-aniversario-do-barao-mais-um-pouco.html). Publicado no Boletim ADB (ano 19, n. 77, abril-junho 2012, p. 27-29; ISSN: 0104-8503). Todos os textos (2356, 2367, 2370 e 2375) foram novamente publicados em meu blog Diplomatizzando: “Memórias do Barão do Rio Branco” (27/08/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/memorias-do-barao-do-rio-branco-nota.html).Relação de Publicados n. 1069.


2370. “Memórias do Barão do Rio Branco, 3: Militares e intelectuais: tão diferentes, tão semelhantes...”, Paris, 21 fevereiro 2012, 5 p. Terceiro capítulo das memórias do Barão, tratando da eleição do Marechal Hermes da Fonseca e de Oliveira Lima. Todos os textos (2356, 2367, 2370 e 2375) foram novamente publicados em meu blog Diplomatizzando: “Memórias do Barão do Rio Branco” (27/08/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/memorias-do-barao-do-rio-branco-nota.html).


2375. “Memórias do Barão do Rio Branco”, Paris, 20 março 2012, 7 p. Versão resumida dos trabalhos anteriores, combinando duas partes, para publicação no Boletim da ADB (ano 19, n. 76, janeiro-fevereiro-março 2012, p. 26-29; ISSN: 0104-8503; link: www.adb.org). Blog Diplomatizzando (11/04/2012; link: http://diplomatizzando.blogspot.fr/2012/04/as-memorias-do-barao-do-rio-branco.html). Todos os textos (2356, 2367, 2370 e 2375) foram novamente publicados em meu blog Diplomatizzando: “Memórias do Barão do Rio Branco” (27/08/2017; link: https://diplomatizzando.blogspot.com.br/2017/08/memorias-do-barao-do-rio-branco-nota.html). Relação de Publicados n. 1066. 


3641. “Memórias do Barão do Rio Branco, 4: escapando dos áulicos”, Brasília, 20 abril 2020, 5 p. Mais um “capítulo” das memórias do Barão, desta vez na véspera do seu aniversário, coisa que ele detestava pelas demonstrações de subserviência de seus assessores. Divulgado no blog Diplomatizzando (20/04/2020; link:https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/04/feliz-aniversario-barao-malgre-lui-jose.html).