O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Um ornitorrinco no Itamaraty, agora necessitado de tratamento psiquiátrico (e Memorial do Sanatório) - Paulo Roberto de Almeida, Ereto da Brocha

Tomei conhecimento, no final desta terça-feira 28 de dezembro de 2022, de um inacreditável vídeo do ex-primeiro chanceler do desgoverno Bolsonaro, recomendando o caos para o Brasil, em face da perda total de credibilidade política da extrema-direita que tentou criar um regime autoritário no país. Confesso que senti pena dele. E postei o seguinte na minha página do Facebook: 

"EA, o patético chanceler acidental da pior fase ideológica do desgoverno do Bozo, é, visivelmente, um ser perturbado.

Mas ele já o era, antes mesmo de tomar posse, quando passou a ser chamado, por colegas do Itamaraty, de Beato Salu, o louco da aldeia.
Parece que piorou muito desde então: desprezado pela direita racional, abandonado por todos os antigos companheiros do bolsonarismo raiz, sem qualquer futuro profissional na carreira ou perspectivas no setor privado, só pode recorrer aos nichos niilistas da extrema-direita e por isso deu agora de apoiar o caos no Brasil. Que triste declínio!

Triste fim de um transtornado mental, urgentemente necessitado de alguma ajuda familiar para um bom tratamento psiquiátrico."

Ao mesmo tempo, lembrei-me de um antigo trabalho, escrito depois de um ano da infeliz e desastrosa gestão do personagem à frente da Casa de Rio Branco. Este aqui: 

3609. “Um ornitorrinco no Itamaraty”, Brasília, 29 março 2020, 3 p. Artigo sobre as bizarrices do Itamaraty atual. Incluído no livro O Itamaraty num labirinto de sombras (n. 3687). Postado no blog Diplomatizzando (6/11/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/11/um-ornitorrinco-no-itamaraty-paulo.html). 

Transcrevo esse artigo, apenas para que eu próprio comece a recordar que, desde 2017, eu percebi que algo não andava bem na cabeça do colega diplomático, que foi quando ele submeteu um também inacreditável revista que eu dirigia, no IPRI, chamado "Trump e o Ocidente". A despeito de considerar o artigo inaceitável se os Cadernos de Política Exterior contassem com uma equipe editorial revisora, eu o publiquei, pois não sou de censurar ninguém, e considerava o artigo simplesmente ridículo. Mas isso foi muito antes que ele fosse selecionado pela tropa de novos bárbaros para conspurcar a política externa e afundar o conceito da diplomacia brasileira.

A coletânea de crônicas a que eu me refiro nesse artigo sobre o bizarro animal que perturbava a santa paz da Casa de Rio Branco é uma série de provocações feitas ao mesmo personagem por um colega não identificado do Itamaraty, que eu editei e publiquei como indicado aqui:

Ereto da Brocha, Ombudsman do Itamaraty: Memorial do Sanatório, ou Ernesto e seus Dragões no País de Bolsonaro. Brasília: Ombudsman, 2021, 180 p. ISBN: 978-65-00-26865-2 Índice Prefácio de Ereto da Brocha, Ombudsman do Itamaraty Introdução às crônicas do diplomata anônimo Paulo Roberto de Almeida. 

Disponível neste link: 

https://www.academia.edu/71720946/Memorial_do_Sanatorio_Ereto_da_Brocha_Ombudsman_do_Itamaraty_2021_


Finalmente, transcrevo meu artigo:


sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Um ornitorrinco no Itamaraty - Paulo Roberto de Almeida

 Alguns questionaram a capa de uma coletânea de "crônicas" de cronista misterioso, sobre o Itamaraty bolsolavista, cujo animal representado, o ornitorrinco, não figura em nenhuma das crônicas do nosso resistente do Itamaraty. 

A ilustração tinha sido feita para eventualmente ilustrar a capa de meu livro, a partir de um de seus capítulos, mas que acabou adotando outro título: O Itamaraty num labirinto de sombras. 

Abaixo reproduzo o artigo original, que não deixa de ser uma espécie de distinção, pois que esse animal é o mais estranho de todos, como pode acontecer em outros habitats, com certos seres bizarros...

Paulo Roberto de Almeida

Um ornitorrinco no Itamaraty

 

Paulo Roberto de Almeida

 

O ornitorrinco – nome científico: ornithorhyncus anatinus; em inglês, duckbilled platipus; em francês, ornythorinque; em alemão, Schnabeltier; em grego, platypodas – é um animal absolutamente único na natureza: mamífero, como os primatas, exibe, no entanto, um bico de pato, sendo, como esta ave, um palmípedo, o que já estava evidente pelo seu nome em grego. Os ornitorrincos vivem em paragens distantes do resto do mundo, botam ovos, mas alimentam os seus descendentes, não pelo leite extraído de mamilos, mas por meio de glândulas. A despeito de se parecer com um castor, o ornitorrinco não possui dentes, e não usa os sentidos tradicionais para caçar o seu alimento – olfato, audição ou visão – e sim por meio de vibrações elétricas, o que fica evidente por certo tremelicar no comportamento desse animal bizarro. 

Eles têm certa dificuldade em caminhar, apesar dos pés de pato, o que os leva a passar a maior parte do tempo enfurnados em alguma caverna, que constroem para si mesmos. Com toda a sua aparência inocente, ele pode ser um animal perigoso, pois tem um veneno terrível nos esporões de suas patas, o que é suficiente para matar outros pequenos animais. Mais curioso ainda, o ornitorrinco não possui estômago, o que os cientistas acreditam ser o longo resultado do processo evolutivo, o que acabou criando uma ligação direta entre o esófago e o intestino; tem também uma pele impermeável, o que o habilita a conviver em diferentes ambientes sem problemas aparentes, entre a terra e a água, com desenvolturas diferentes em cada um desses meios.

Na classificação zoológica, trata-se da única espécie de seu gênero, sendo ainda monotípica, ou seja, não tem subespécies ou variedades reconhecidas. Os cientistas ocidentais, no século XVIII, ao receberem um primeiro exemplar, trazido por visitantes da distante Austrália, pensaram tratar-se de uma fraude, ou seja, um animal semelhante a um castor, ao qual tinha sido costurado um bico de pato, e por isso, um desses cientistas denominou-o de Ornithorhynchus paradoxus. Verificou-se também que sua temperatura média era de apenas 32 graus, bem abaixo dos 37 normais nas espécies placentárias. O fato de ser um dos poucos, talvez o único dos mamíferos venenosos o torna, uma vez mais um animal absolutamente estranho entre os membros do seu gênero dos monotremados. 

Será que ele se sente solitário na natureza, pois que diferente de todos os outros animais? Provavelmente, mas ele não deve discutir esse tipo de questão filosófica. Em todo caso, para o que nos interessa, o Brasil do presidente Bolsonaro também é um país solitário no mundo, praticamente sozinho em determinadas políticas que o fazem sentir-se como um continente à parte, à deriva dos demais, talvez uma jangada de pedra, à maneira de José Saramago. Vive uma fase de transformações culturais que poderia ser apropriadamente chamada de EA, a Era dos Absurdos. Nada é tão mais conforme a essa designação do que a sua política externa e a sua diplomacia, aparentemente sob a condução, mas apenas aparente, de Ernesto Araújo. Ele é o verdadeiro ornitorrinco num governo feito de vários outros animais estranhos. 

Registre-se que as bizarrices começaram antes mesmo da posse do governo, pois que o chanceler, em plena campanha presidencial – o que, em princípio, deveria refrear ardores políticos de funcionários de Estado –, já deblaterava, num blog simbolicamente chamado Metapolítica 17: contra o globalismo, contra colegas que teriam se deixado seduzir pelo marxismo, o petismo, pelo esquerdismo, de modo geral. Depois de algumas décadas de carreira, ele já deveria ter aprendido que os diplomatas não são marxistas ou esquerdistas, e sim carreiristas, embora alguns sejam oportunistas (como, aliás, ele próprio, que se forjou uma identidade olavista para conquistar o cargo). Levantou sua lança contra o multilateralismo, contra um desconhecido “climatismo”, contra um mais estranho ainda “comercialismo”, mas sobretudo – para satisfazer o guru expatriado da Virgínia que o empurrou para cima – contra essa paranoia de conspiracionistas malucos que se chama “globalismo”, o que é propriamente estarrecedor para um diplomata. 

Desde o primeiro dia do governo, antes mesmo de assumir formalmente, já tinha declarado seu servilismo ao império, apoiando a instalação de uma base dos EUA no Brasil, no que foi imediatamente rechaçado pelos militares. Depois da posse – em latim, grego e tupi-guarani, sem expor sua “política externa para o povo” –, eles continuaram a controlar seu ímpeto adesista na tentativa de juntar-se ao projeto eleitoreiro de Trump, de forçar uma mudança de regime na Venezuela, incorporando o vice-presidente Mourão numa das reuniões do Grupo de Lima, para obstar qualquer aventura militar contra a ditadura chavista. Mas ordenou a imediata retirada do Brasil do Pacto Global das Migrações, uma imitação canhestra da postura xenófoba de líderes de extrema direita, quando esse acordo não ameaça em nada a “soberania” de um país que possui muitos mais emigrantes do que imigrantes. A suprema bizarrice foi atribuir ao asfalto a elevação dos termômetros usados pela “turma” do aquecimento global. Essa foi forte!

Uma obsessão doentia por agradar o seu chefe fez com que ofendesse o então candidato nas primárias argentinas, ambos alertando contra a emigração maciça dos hermanos ao Brasil se ganhasse a “esquerdalha”. O chefe, por sua vez, conseguiu brigar contra importantes chefes de governo da Europa, com a retirada de importantes suportes financeiros a programas de sustentabilidade ambiental e mais de uma vez a ministra da agricultura teve de amenizar posturas dos dois que ameaçavam as relações comerciais com a China e com países muçulmanos. Outro exemplo recente foi mais uma tentativa de agradar o chefe ao pretender demonstrar que a “maioria” do G20 não aplica políticas de isolamento na luta contra o Covid-19, o que eventualmente pode torná-lo cúmplice de uma das mais temerárias atitudes de um chefe de Estado no mundo. Ian Bremmer, do Eurasia Group, chegou a dizer que, perto de Bolsonaro, Trump parece um Churchill. 

Se esse é o critério, o ornitorrinco do Itamaraty tem como padrão o chanceler do governo militar Juracy Magalhães, para quem “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Na verdade, a Casa de Rio Branco não conhece precedentes ao estranho animal que intimida pela truculência os colegas diplomatas...

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 29 de março de 2020


terça-feira, 27 de dezembro de 2022

O Japão deixa oficialmente de ser uma nação pacifista - Signal GZero

 Mais de um século e meio atrás, o Japão deixou de ser uma nação reclusa para se tornar um perigoso império expansionista, militarista e fascista, que evoluiu para a agressão contra os vizinhos. O resultado foi de guerras e destruição. Recuperou-se, mas agora, devido à postura agressiva de um China recuperada e ascendente, resolveu rearmar-se. 

Para os dois países, serão gastos inuteis com armas que nunca serão usadas, mas que só servem para intimidar e dissuadir. Um pacto conjunto de não agressão e de investimentos sociais seria bem melhor. 

Paulo Roberto de Almeida 


   GZero, Signal, Dec 27, 2022

After decades of pacifism, Japan recently announced that it will double its military budget over the next five years to become the world’s third-biggest defense spender behind the US and China.

How did Tokyo, whose commitment to pacifism is enshrined in the country’s post-war constitution, get here? And what are the implications – at home and abroad – of the world’s third-largest economy embarking on a major military buildup?

Japan’s move towards beefing up its military posture has been incremental. Tokyo's transition to increasing its fighting capacity has taken decades of debate by successive governments. Politically, the measures have been slow but steady, with many initiated during the long tenure of recently slain former Prime Minister Shinzo Abe, including a more enhanced role of the National Security Council, which has translated into the loosening of arms controls, the constitutional re-definition of collective defense to fight alongside partners, and Tokyo’s founding membership of the Quad. More recently, Tokyo unveiled its first new national security strategy in a decade.

What is Prime Minister Fumio Kishida actually pushing for? In short, doubling the defense budget to 2% of GDP by 2027. For starters, $315 billion are earmarked for multi-dimensional defense over the next five years, including the acquisition of Tomahawk cruise missiles that could hit targets in mainland China. Critically, besides filling a major gap through a 20,000-strong cyber force, Japan would also build counter-strike capabilities to conduct retaliatory attacks on and across the Korean Peninsula, with the ability to penetrate Chinese defenses.

This isn’t just a military tech upgrade. It’s the end of the country’s pacifist foreign policy. “For years, Japan talked the talk — about increasing defense spending and acquiring counter-strike missile capabilities — without walking the walk,” says David Boling, director of Japan & Asia Trade at Eurasia Group. “Now it's walking the walk. Maybe even starting to run.”

Why is famously pacifist Japan beefing up at this rate? For more than half a century, Tokyo has refused to call its military a military – referring to it as a self-defense force – and has limited its uniformed engagements to multilateral peacekeeping missions aligned closely with the US.

“The reason for Japan’s new hawkishness can be explained in one word: China,” Boling says. 

“China’s constant intrusions into Japan’s territorial waters, its rapid military buildup, and its firing five ballistic missiles into Japan’s exclusive economic zone in August during the military exercises around Taiwan — all these combined to reach the tipping point for Japan,” adds Boling.

But China’s buildup isn’t just rapid and advanced. For a Japan haunted by memories of Hiroshima and Nagasaki, it’s increasingly nuclear too. Considering that Japan has long supported Taiwanese democracy, the more Beijing threatens Taiwan, the more imperiled Japan feels. This is due to both the political and geographical proximity between Tokyo and Taipei. 

The problem on the peninsula. Japan is also feeling increasingly threatened by Pyongyang. Experts think a fresh nuclear test looks inevitable – which would be the seventh since Pyongyang went nuclear in 2006 (the last one was carried out in 2017). North Korea has conducted 86 missile tests this year, an all-time high, with many projectiles launched into Japanese airspace. 

Add Russia’s actions in Ukraine, as well as China’s saber-rattling with India in the Himalayas to the contemporary geopolitical mix, and the messaging for Tokyo is clear: Aggression isn’t a mere policy option. On the Eurasian landmass, when strong armies confront a weaker force, it’s an actual policy. 

The politics of it all. Kishida is already facing pushback at home. Influential members of his Liberal Democratic Party have already renounced his solution for paying for the spending hike by increasing taxes. The pushback from within the ruling party may also be connected to Kishida’s low approval ratings, which are hovering in the 30s and have been hammered by a year of controversial decisions, a weak economy, and a spiraling yen. 

Critically, more than 60% of Japanese favor the newly proposed counter-strike capability. In a new poll released after the proposed militarization, the majority of respondents favored Kishida’s plan to boost defense, with 55% endorsing the new national security plan.

Moreover, Eurasia Group’s Boling surmises that Kishida has some other factors in his corner, including a weak opposition, growing national support for sanctions against Russia, and years of experience in navigating national security as a former foreign minister. Kishida’s also wary of recent China-centric and defense-based polling: According to a recent survey, a third of the Japanese population thinks that there will be a military conflict in the Taiwan Strait. 

Indeed, according to Boling, the recent intra-party controversy over raising taxes for defense is a sign of what’s to come. 

“It augurs increased friction between Kishida and other leading LDP members in 2023,” he says.

Arminio Fraga alerta para o descontrole fiscal (FSP)

NÃO SE PODE IGNORAR OS EFEITOS COLATERAIS DA PEC DA TRANSIÇÃO!

Arminio Fraga, sócio-fundador da Gávea Investimentos, presidente dos conselhos do IEPS e do IMDS e ex-presidente do Banco Central
Folha de S. Paulo, 24/12/2022 

O governo Lula não tomou posse ainda, mas já vem dando sinais importantes sobre que caminho tomará na área econômica. Em seus dois mandatos, o presidente Lula manteve a política de responsabilidade fiscal que herdou de seu antecessor. Foram anos de superávits primários, salvo a correta política de expansão em resposta à grande crise global de 2008.

O presidente eleito manteve também ou ampliou uma agenda de reformas voltadas para a redução das desigualdades e o aumento da produtividade. Foi um bom período para a economia, que cresceu um pouco mais do que o resto da América Latina (mas bastante menos do que a média dos países emergentes).

Durante a campanha, o candidato Lula evitou entrar em detalhes quanto à sua visão do futuro fiscal do país, mencionando apenas o seu histórico como garantia de bom comportamento. Passados dois meses das eleições, tudo indica que o superávit primário de 0,6% do PIB em 2022 se transformará em 2023 em um déficit próximo de 2,0%. Alguma deterioração fiscal já era esperada, em razão de fatores não recorrentes como o congelamento dos salários e a alta das commodities. No entanto, me parece imprudente ignorar os efeitos colaterais dessa expansão fiscal, reforçados por sinais explícitos de falta de apreço pela responsabilidade fiscal que tanto bem fez ao país enquanto durou. Vejamos alguns.

Em primeiro lugar, em razão da alta da inflação a partir de 2021, o BC (Banco Central) vem elevando a taxa de juros, em linha com sua missão precípua. O esforço vem dando resultado, mas as expectativas de inflação embutidas nas taxas de juros dos títulos do governo ainda apontam para uma inflação de 6,5% ao ano a perder de vista, o que significa que o trabalho do BC está longe de estar concluído.

A economia superou a crise associada à pandemia e mostra razoável dinamismo no mercado de trabalho. Nesse contexto, uma substancial expansão fiscal como a que está sendo gestada pressionaria a inflação para cima e, portanto, representaria uma frontal contradição com o trabalho do BC, que seria forçado a aumentar ainda mais as taxas de juros. Ou seja, um grave erro, semelhante ao cometido no governo Dilma e que resultou na profunda recessão de 2015-16.

Em segundo lugar (e, como consequência do que tudo indica, será um bate-cabeça entre as políticas fiscal e monetária), a dívida pública retomaria uma ainda mais acelerada trajetória de crescimento. Tal crescimento seria fonte de elevada incerteza quanto ao futuro da economia, ensejando cenários de alta da inflação, depreciação do real, alta dos juros, aumento da carga tributária, recessão e desemprego.

O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, vem sinalizando a intenção de reintroduzir uma âncora fiscal, o que seria de todo desejável. Do que se trata? Basicamente de um compromisso com uma política fiscal que mantenha em níveis razoáveis o gasto e a dívida públicos. Uma possibilidade aventada recentemente nesta Folha por Marcos Mendes e por mim seria recuperar elementos da Lei de Responsabilidade Fiscal e do teto de gastos. O foco maior seria no controle do gasto público, posto que a carga tributária no Brasil já é bastante elevada para um país de renda média, salvo no que tange à eliminação das brechas regressivas das regras do Imposto de Renda.

Tal ajuste teria que ocorrer nas rubricas mais relevantes, como a folha de pagamentos e a Previdência. Em todas, o ajuste poderia e deveria contribuir diretamente para uma redução da desigualdade de renda, algo que certamente deveria fazer parte dos planos de um governo de centro-esquerda de um país tão desigual como o nosso.

Não há chance de sucesso sem encarar esse desafio, mas as resistências serão ferozes, como sempre. Nessas horas, cabe a nossos líderes lembrar que com o grande ajuste ocorreria uma relevante queda nos prêmios de risco na economia, elemento essencial para a construção de um círculo virtuoso de crescimento e estabilidade.

Mas, mais importante do que uma nova âncora, que em um primeiro momento careceria de credibilidade, seria anunciar (e cumprir) metas para o saldo primário e o gasto público por, pelo menos, três anos. Como sugestão, no mínimo, eu apontaria uma imediata redução do déficit primário projetado para o ano que vem para, no máximo, 1% do PIB, seguido de superávits primários de 0,5% em 2024 e 2% em 2025. Para que não reste dúvida, estou falando de gastos adicionais bem inferiores aos que foram aprovados na PEC de Transição ou a partir de decisões do STF.

Seria um primeiro passo na direção de um gasto público genuinamente mais voltado para o social, sem a quase certeza da volta da inflação e da recessão que sempre trouxeram tanto sofrimento à população.

Olhando mais adiante, o ideal seria chegar a 2026 com um saldo primário que pusesse em queda a relação dívida/PIB. Esse resultado depende também dos níveis da taxa de juros (r) e da taxa de crescimento da economia (g). Quanto menor a famosa diferença "r menos g", melhor. Essa diferença depende de uma miríade de fatores qualitativos e institucionais que contribuem para aumentar a produtividade e reduzir a incerteza na economia.

Há muito espaço para avançar, mas todo cuidado aqui é pouco. Propostas de revisão para pior dos marcos legais do saneamento e das estatais sinalizam a volta a um Brasil velho, desigual e incapaz de crescer de forma sustentada e inclusiva.

Finalmente, resta o argumento de que a responsabilidade social tem pressa. Tem que ter mesmo. Mas, como procurei demonstrar aqui, a expansão fiscal ora em consideração seria um tiro pela culatra. E não custa lembrar que as consequências políticas de um fracasso econômico seriam nefastas.


Legião Estrangeira Futebol Clube - artigo de Rubens Barbosa (Estadão)

Legião Estrangeira Futebol Clube

Tem razão o embaixador Rubens Barbosa, mas a internacionalização dos jogadores de futebol é uma realidade inescapável   de TODOS os times que disputaram a Copa; em geral, todos eles jogavam em grandes clubes europeus de futebol. Isso é bom para cada um deles, mas torna vazio qualquer fervor patriótico: eles estão defendendo o seu vslor de mercado, não os países em que nasceram. 

Liberais defendem a liberdade individual. Ponto!

PRA


 PÁTRIA SEM CHUTEIRA


Rubens Barbosa

O Estado de S. Paulo, 27/12/2022

               

 A Copa do Mundo na Rússia e no Catar pouco mobilizou nossa torcida. Havia poucas bandeiras nas ruas e calçadas pintadas.  Mesmo depois do início da competição, houve pouca vibração nacional, muito diferente do que ocorria no passado. Até o começo dos jogos, poucos sabiam os nomes dos titulares do time. Mesmo depois da eliminação, apesar da grande decepção, houve muito pouca emoção e repercussão. O Brasil hoje está longe de ser aquela pátria de chuteira, como dizia Nelson Rodrigues.

                Uma das muitas razões da falta de interesse e da baixa atenção para a competição mais importante do esporte em que o país é uma das forças no mundo é o distanciamento emocional entre os jogadores da seleção e a torcida, já que a quase totalidade dos convocados joga no exterior.  O Brasil se tornou o maior exportador de jogadores de futebol do mundo. Alguns, ainda antes da maioridade são vendidos e começam a atuar no exterior, sem nenhum contato com os clubes daqui. A seleção virou uma verdadeira legião estrangeira.

                O Brasil, com a decisão de convocar grandes estrelas que jogam no exterior, perdeu seu estilo de jogo, tão admirado pelos adversários, e se transformou em um time comum, defensivo e burocrático. Os jogadores perderam a característica de improvisação brasileira e como resultado a seleção joga sem estilo e sem exibição de talento, uma das características dos antigos craques nacionais. Deu pena ver a atuação em todos os jogos na Copa do Catar com muita dancinha e pouca garra.

                Chegou a hora de dar uma virada no que se passa no futebol brasileiro. Desde a governança da CBF e dos clubes, passando pela organização de um calendário mais racional para os campeonatos regionais, nacional e as competições internacionais, até a política de convocação para a próxima Copa do Mundo, em 2026, tudo parece precisar de um bom freio de arrumação.

                Assim como na política, também no futebol estamos carentes de líderes e jogadores que vistam a camisa do Brasil com o verdadeiro respaldo da opinião pública. Os jogadores que atuam no exterior têm salários altíssimos e hoje estão entre os poucos milionários brasileiros. Pensam mais em seus interesses financeiros e comerciais do que nos resultados dos jogos.  Com menos incentivos para se empenhar pela pátria que veem de longe e para onde só retornam depois que seus clubes no exterior passam a achar que não valem o quanto pagam.

Apesar da dificuldade de ser implementada, seria muito oportuna a discussão de uma política radical: a partir da disputa da classificação para a Copa de 2026, a convocação deveria limitar-se apenas a jogadores que atuam nos times brasileiros. A seleção nacional deveria ser composta por jogadores de times nacionais para trazer de volta a paixão, a fé e a adesão dos torcedores. Quem se lembrará em 2026 do time que perdeu para Camarões e para a Croácia?

Se ficasse decidido que, em 2026, todos os jogadores convocados para integrar a seleção deveriam estar jogando no Brasil, haveria incentivo aos que atuam por aqui para recuperarmos o estilo e o brilho do futebol brasileiro. Adicionalmente, se empenhariam talvez com mais dedicação e esforço para disputar com as seleções melhor preparadas e ganhar. Haveria ainda, porque não dizer, o interesse individual de atrair a atenção dos clubes do exterior para serem contratados e atuar lá fora. Os negócios milionários seriam adiados para depois da Copa e os atletas teriam interesse em se valorizar com o trabalho na seleção. Quem saísse do país, automaticamente, ficaria fora da convocação.

                Com isso, os torcedores se envolveriam e apoiariam os jogadores de seus times que se destacaram nos campeonatos regionais e nacional e foram chamados para atuar na seleção brasileira. Todos saberiam os nomes dos que integrariam a time nacional e o desinteresse e distanciamento entre torcedores e jogadores rapidamente seriam substituídos pela emoção e pela paixão.

                A renovação da atual geração seria assim certamente facilitada e os clubes fortalecidos. O trabalho que se iniciará em 2023 deveria ter continuidade nos próximos quatro anos. O importante é definir um critério que começaria a ser aplicado a partir da fase de classificação.

Se nada for feito, vamos repetir o que ocorreu nas últimas copas. Vamos selecionar estrelas que brilham no exterior, mas não são conhecidas no Brasil. Provavelmente, vamos com muito esforço tentar chegar na semifinal e, depois da Copa, voltaremos a lamentar a desorganização de nosso futebol, a falta de profissionalismo dos clubes e a reclamar dos nossos jogadores que atuam no exterior.

Devemos aproveitar o momento e prestigiar os jogadores de grande qualidade que são esquecidos de modo a podermos projetar uma nova geração internacionalmente. Depois, valorizados pelos resultados alcançados, se quiserem poderiam ser contratados para atuar no exterior. Clubes e jogadores ganhariam.

A discussão sobre se o técnico da seleção deveria ser brasileiro ou estrangeiro mostra a falta de foco usual em todas as áreas de nossa sociedade, desde a política, até o futebol, quando estão em jogo decisões importantes com implicações de médio e longo prazo.

A palavra de ordem é prestigiar a prata da casa para, com garra, conquistar o Hexa.

 

Rubens Barbosa, membro da Academia Paulista de Letras

 

 

 

 de TODOS os times que disputaram a Copa; em geral, todos eles jogavam em grandes clubes europeus de futebol. Isso é bom para cada um deles, mas torna vazio qualquer fervor patriótico: eles estão defendendo o seu vslor de mercado, não os países em que nasceram. 

Liberais defendem a liberdade individual. Ponto!


  PÁTRIA SEM CHUTEIRA

 

    Rubens Barbosa


  A Copa do Mundo na Rússia e no Catar pouco mobilizou nossa torcida. Havia poucas bandeiras nas ruas e calçadas pintadas.  Mesmo depois do início da competição, houve pouca vibração nacional, muito diferente do que ocorria no passado. Até o começo dos jogos, poucos sabiam os nomes dos titulares do time. Mesmo depois da eliminação, apesar da grande decepção, houve muito pouca emoção e repercussão. O Brasil hoje está longe de ser aquela pátria de chuteira, como dizia Nelson Rodrigues.

                Uma das muitas razões da falta de interesse e da baixa atenção para a competição mais importante do esporte em que o país é uma das forças no mundo é o distanciamento emocional entre os jogadores da seleção e a torcida, já que a quase totalidade dos convocados joga no exterior.  O Brasil se tornou o maior exportador de jogadores de futebol do mundo. Alguns, ainda antes da maioridade são vendidos e começam a atuar no exterior, sem nenhum contato com os clubes daqui. A seleção virou uma verdadeira legião estrangeira.

                O Brasil, com a decisão de convocar grandes estrelas que jogam no exterior, perdeu seu estilo de jogo, tão admirado pelos adversários, e se transformou em um time comum, defensivo e burocrático. Os jogadores perderam a característica de improvisação brasileira e como resultado a seleção joga sem estilo e sem exibição de talento, uma das características dos antigos craques nacionais. Deu pena ver a atuação em todos os jogos na Copa do Catar com muita dancinha e pouca garra.

                Chegou a hora de dar uma virada no que se passa no futebol brasileiro. Desde a governança da CBF e dos clubes, passando pela organização de um calendário mais racional para os campeonatos regionais, nacional e as competições internacionais, até a política de convocação para a próxima Copa do Mundo, em 2026, tudo parece precisar de um bom freio de arrumação.

                Assim como na política, também no futebol estamos carentes de líderes e jogadores que vistam a camisa do Brasil com o verdadeiro respaldo da opinião pública. Os jogadores que atuam no exterior têm salários altíssimos e hoje estão entre os poucos milionários brasileiros. Pensam mais em seus interesses financeiros e comerciais do que nos resultados dos jogos.  Com menos incentivos para se empenhar pela pátria que veem de longe e para onde só retornam depois que seus clubes no exterior passam a achar que não valem o quanto pagam.

Apesar da dificuldade de ser implementada, seria muito oportuna a discussão de uma política radical: a partir da disputa da classificação para a Copa de 2026, a convocação deveria limitar-se apenas a jogadores que atuam nos times brasileiros. A seleção nacional deveria ser composta por jogadores de times nacionais para trazer de volta a paixão, a fé e a adesão dos torcedores. Quem se lembrará em 2026 do time que perdeu para Camarões e para a Croácia?

Se ficasse decidido que, em 2026, todos os jogadores convocados para integrar a seleção deveriam estar jogando no Brasil, haveria incentivo aos que atuam por aqui para recuperarmos o estilo e o brilho do futebol brasileiro. Adicionalmente, se empenhariam talvez com mais dedicação e esforço para disputar com as seleções melhor preparadas e ganhar. Haveria ainda, porque não dizer, o interesse individual de atrair a atenção dos clubes do exterior para serem contratados e atuar lá fora. Os negócios milionários seriam adiados para depois da Copa e os atletas teriam interesse em se valorizar com o trabalho na seleção. Quem saísse do país, automaticamente, ficaria fora da convocação.

                Com isso, os torcedores se envolveriam e apoiariam os jogadores de seus times que se destacaram nos campeonatos regionais e nacional e foram chamados para atuar na seleção brasileira. Todos saberiam os nomes dos que integrariam a time nacional e o desinteresse e distanciamento entre torcedores e jogadores rapidamente seriam substituídos pela emoção e pela paixão.

                A renovação da atual geração seria assim certamente facilitada e os clubes fortalecidos. O trabalho que se iniciará em 2023 deveria ter continuidade nos próximos quatro anos. O importante é definir um critério que começaria a ser aplicado a partir da fase de classificação.

Se nada for feito, vamos repetir o que ocorreu nas últimas copas. Vamos selecionar estrelas que brilham no exterior, mas não são conhecidas no Brasil. Provavelmente, vamos com muito esforço tentar chegar na semifinal e, depois da Copa, voltaremos a lamentar a desorganização de nosso futebol, a falta de profissionalismo dos clubes e a reclamar dos nossos jogadores que atuam no exterior.

Devemos aproveitar o momento e prestigiar os jogadores de grande qualidade que são esquecidos de modo a podermos projetar uma nova geração internacionalmente. Depois, valorizados pelos resultados alcançados, se quiserem poderiam ser contratados para atuar no exterior. Clubes e jogadores ganhariam.

A discussão sobre se o técnico da seleção deveria ser brasileiro ou estrangeiro mostra a falta de foco usual em todas as áreas de nossa sociedade, desde a política, até o futebol, quando estão em jogo decisões importantes com implicações de médio e longo prazo.

A palavra de ordem é prestigiar a prata da casa para, com garra, conquistar o Hexa.

 

Rubens Barbosa, membro da Academia Paulista de Letras

 

Nem na guerra o comando militar pode sobrepujar o político! - Manuel Domingos Neto

 Um artigo interessante, mas pleno de invectivas, que caberia ponderar. PRA

Nem na guerra o comando militar pode sobrepujar o político!

Manuel Domingos Neto

Ceilândia em Alerta,  30 de novembro de 2022


Escolha de Comandantes

A chefia-de-Estado, não comandando os militares, será por eles comandada. Foi assim desde sempre e em todo canto.

Organizações armadas veem a sociedade, às vezes chamada “pátria”, como dádiva das fileiras. Não sendo comandadas, conduzirão sua pretensa cria.

À chefia-de-Estado cabe determinar como as tropas devem ser preparadas. Comandantes supremos que atendem demandas corporativas invertem a hierarquia e se anulam: corporações devem atender ao chefe-de-Estado, não o contrário.

Ao comando supremo cumpre estabelecer diretrizes claras, objetivos precisos, missões circunscritas e meios adequados. Extrapolações da autonomia corporativa são inadmissíveis.

Militares aprendem a obedecer. Se não recebem ordens, desnorteiam-se.

Em surto, como no caso brasileiro, outorgam-se um “poder moderador”! Garroteiam as instituições e a cidadania.

De armas na mão, inventam “sinergias” desarrazoadas com juízes e parlamentares. Danam-se a “dialogar” com poderes desarmados. Nem na guerra o militar pode sobrepujar o político!

No Brasil, o desinteresse, o despreparo e a inaptidão de chefes-de- Estado para comandar as Forças Armadas lesou a democracia.

Generais usurparam o poder e contingenciaram governantes. Não há exemplo de presidente da república que tenha assumido efetivamente o comando supremo das Forças.

Só ditadores da estirpe de Floriano e Geisel acumularam simultaneamente o poder político e o comando militar. Os demais governaram acossados pelas fileiras de forma explícita ou encoberta.

A Defesa Nacional é tarefa de gravidade e amplo espectro. Envolve todos os domínios do Estado e da sociedade.

Transcende os instrumentos de força. Demanda planejamento especializado. Não comporta improvisações, humores momentâneos, vontades paroquiais e ditames de fileiras.

Ao escolher o titular da Defesa no intuito de apascentar corporações, a chefia-de-Estado declina do comando supremo. Ministros devem encarnar o poder político sufragado. Se sua escolha é para agradar a tropa, a corrupção institucional é promovido.

Comandantes militares são preparados para exercer a força em última instância. Caso se dediquem ao ordenamento social e à administração pública, o farão ao seu modo, tomando os cidadãos divergentes como dignos de abate. Além disso, sujeitarão a Defesa aos conflitos corporativos.

A chefia-de-Estado deve respeitar regras hierárquicas na escolha de comandantes sem anular-se como topo da cadeia.

Regras de promoção corporativas não se sobrepõem à determinação constitucional. Comandantes virtuosos admitem a condição de auxiliares do chefe supremo.

No Brasil de hoje não há clivagens relevantes no preparo técnico e na formação doutrinária dos generais.

Todos passaram pelas mesmas escolas, tiveram acesso a mesma literatura especializada e à mesma pregação ideológica. As diferenças entre suas capacidades profissionais é pouco relevante. Todos provaram qualidades de liderança e chefia.

As diferenças que importam dizem respeito ao preparo intelectual, ao caráter e à sensibilidade para enfrentar os desafios das mudanças impostas pela realidade internacional. Vivemos na iminência de conflagração mundial.

Precisamos amparar pelas armas nossa política externa.

Comandantes de verdade preocupam-se em mostrar força aos candidatos a dono do mundo. Não terão gosto nem tempo para tratar de urnas eletrônicas, furar poços artesianos e buscar sinecuras.

Oficiais precisam ser sabatinados para aferição de sua afinidade com as proposições do comandante supremo para a Defesa Nacional.

Não sei como Lula pensa a Defesa do Brasil, mas sei que está atento à coesão nacional, a primeira pilastra do sistema defensivo. Sociedade fragmentada se expõe à cobiça estrangeira. Sociedade coesa se defende melhor.

A base da coesão nacional é dignidade da cidadania. Não há Defesa sólida às expensas dos mais fragilizados. A eliminação de iniquidades sociais e disparidades regionais explosivas é fundamental.

Racismo, xenofobia, misoginia, fanatismo religioso e preconceitos regionais enfraquecem a Defesa. Reformas socioeconômicas que superem o legado colonial são impostergáveis. Sem crença em futuro promissor para todos, sem comunhão de destino, sem orgulho de ser brasileiro não haverá Defesa que preste.

A segunda pilastra da Defesa é o cultivo de amizades. Nisso, o próximo presidente é mestre. País com sólidas parcerias internacionais se protege melhor de agressões.

Amizades são consolidadas através de acordos promotores do desenvolvimento econômico e científico, da proteção sanitária e ambiental. Amigos de verdade compartilham a vontade de bem- estar coletivo.

A soberania nacional é incompatível com a integração subalterna aos blocos de poder em disputa pela hegemonia mundial. O estreitamento de laços com a vizinhança é indispensável e prioritário para a Defesa. Precisamos impulsionar a inserção mundial da América do Sul e da África.

Países dependentes de importações de alimentos, energia, matérias primas, máquinas e remédios são vulneráveis.

Assim, a terceira pilastra da Defesa é mobilização das capacidades nacionais em vista do máximo de autonomia. Países que não produzem suas próprias armas e equipamentos de guerra são obrigados à integração subalterna a Estados poderosos.

A atual capacidade de dissuasão do Brasil não corresponde às suas potencialidades e necessidades. A Defesa precisa estar em sintonia com ampliação da comunidade científica e dos setores técnicos- industriais. Até o presente, tal sintonia foi quimérica.

Finalmente, a Defesa deve contar com instrumentos de força para cumprir missões especializadas. Hoje prevalece a confusão de atribuições desses instrumentos, distribuídos entre as diversas alçadas da Federação.

O Exército, sobretudo, dá exemplo negativo ao se meter em tudo. Não admite que a dissuasão de agressores estrangeiros e a segurança pública garantidora da cidadania são missões distintas.

Resultado: temos fragilidade na vigilância de fronteiras terrestres, na proteção do espaço cibernético, na segurança da navegação costeira e fluvial, na segurança do tráfego rodoviário, na repressão à criminalidade, na proteção à cidadania, na contenção de distúrbios e de grandes comoções, na efetividade da guarda patrimonial e da proteção do patrimônio ambiental.

A atribuição de preservar a “Lei e a Ordem” conferida ao Exército, à Marinha e à Aeronáutica conturba a definição de papéis dos instrumentos de força do Estado. Funções militares e policiais precisam ser diferenciadas.

Enquanto persistirem indefinições sobre a natureza das corporações armadas, tanto a Defesa quanto a proteção da cidadania serão débeis ou inexistentes.

Ao escolher os comandantes, cabe à chefia-de-Estado dirigir perguntas iniciais aos mais graduados:

I) As Forças Armadas têm poder moderador?

II) Os que não observam os regulamentos disciplinares e as leis devem ser punidos?

III) Vamos trabalhar para defender os brasileiros neste mundo tumultuado?

IV) Que tal fechar os escritórios militares em Washington?

Daí escolherá os que revelarem mais afinidade com sua concepção de Defesa Nacional. Trata-se de escolha avisada, mas solitária. A Defesa não cabe em rateios de coligação partidária.

De outro modo, o chefe-de-Estado não poderá dizer: pela primeira vez na história deste país um presidente da república assumiu o comando supremo das Forças Armadas e risca ser tragado por desordeiros uniformizados.

*Manuel Domingos Neto é professor aposentado da UFC, ex- presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e ex-vice-presidente do CNPq. Por Manuel Domingos Neto, em seu perfil de rede social


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segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

A China quer ser tratada de igual para igual pelos EUA: conversa dos dois chanceleres

 Politics

CGTN,

13:12, 23-Dec-2022

Wang Yi says China, U.S. should find 'the right way' to get along in talk with Blinken
Updated 20:03, 23-Dec-2022
CGTN

China and the United States should follow the direction set by the two heads of state to explore the right way for the two sides to get along with each other as two major countries, and make due efforts for the well-being of their people and world peace and stability, Chinese State Councilor and Foreign Minister Wang Yi said during a phone conversation Friday with U.S. Secretary of State Antony Blinken.

The phone conversation was made at the U.S. side's request.

Last month, Chinese President Xi Jinping and U.S. President Joe Biden met in Bali, Wang said, which provided strategic guidance for steering bilateral relations out of grave difficulties and back to a healthy and stable track, sending a positive signal to the outside world. Wang is also a member of the Political Bureau of the Communist Party of China (CPC) Central Committee.

The teams on both sides have carried out a series of contacts in accordance with the consensus of the two heads of state, which are generally beneficial, Wang said.

However, it must be noted that the United States should not engage in dialogue and containment at the same time, neither should it talk cooperation, but stab China simultaneously, he said.

This is not reasonable competition, but irrational suppression. It is not meant to properly manage disputes, but to intensify conflicts. In fact, it is still the old practice of unilateral bullying, Wang said.

This did not work for China in the past, nor will it work in the future, he said, adding that China will continue to resolutely defend its sovereignty, security and development interests.

The United States must pay attention to China's legitimate concerns, stop containing and suppressing China's development, especially not constantly challenge China's red line in a "salami-slicing" way, Wang said.

Wang stressed that the two sides should focus on translating the consensus reached by the two heads of state in their Bali meeting into practical policies and concrete actions.

Noting that the recent meeting between senior diplomats of the two countries in the Chinese city of Langfang was in-depth and constructive, Wang called on both sides to step up consultations on the guiding principles for China-U.S. relations, advance dialogues at various levels and in various fields in an orderly manner, and resolve specific issues between the two countries through joint working groups.

The New Year should have a new outlook, Wang said, adding that it is the hope of people in both countries and around the world that China-U.S. relations will stabilize and improve.

A zero-sum mindset will only lead to mutual attrition and head-on collision between the two major countries, Wang said, noting that what is right and what is wrong is all too clear.

For his part, Blinken said the United States is willing to discuss with China the guiding principles for bilateral relations, manage the relationship in a responsible manner, and carry out cooperation in areas that meet the common interests of both sides.

The United States continues to pursue the one-China policy and does not support "Taiwan independence," he said.

The United States lauds China's leadership and its role as the presidency of the 15th meeting of the Conference of the Parties (COP) to the UN Convention on Biological Diversity to promote an ambitious framework for biodiversity conservation, Blinken said, adding that he looks forward to the United States and China working together to promote the implementation of the framework.

Wang said that China will continue to follow Xi Jinping's Thought on Ecological Civilization, strive to build a community of life between man and nature, and is willing to join hands with all parties to safeguard the only planet we live on together.

The two sides also exchanged views on the Ukraine issue. Wang emphasized that China has always stood on the side of peace, of the purposes of the UN Charter, and of the international society to promote peace and talks. China will continue to play a constructive role in resolving the crisis in China's own way, Wang said.

(With input from Xinhua)


Relações Exteriores: receita de Bolsonaro para tornar o país um pária - Rodolfo Lago (Congresso em Foco)

 Relações Exteriores: receita de Bolsonaro para tornar o país um pária

Congresso em Foco
24 de dezembro de 2022

Rudolfo Lago 

Em um evento de formatura de novos diplomatas em 2020, o então ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, não teve pudores em indicar que caminhos pretendia para a diplomacia brasileira. Araújo disse na ocasião que preferia ver a política externa brasileira ser condenada por outros países que se aliar ao "cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos". E disparou: "Se a atuação da diplomacia brasileira faz de nós uns párias, então que sejamos esse pária".

Como outros nomes do núcleo mais radical do bolsonarismo, Ernesto Araújo acabou deixando o governo Bolsonaro antes do seu fim. Mas, de acordo com o diagnóstico contido no relatório de transição para o governo Luiz Inácio Lula da Silva, os integrantes do grupo de trabalho que analisou os dados sobre relações exteriores, o sucesso de o Brasil atingir o objetivo almejado pelo ex-chanceler de se tornar pária ficou próximo de ser alcançado.

"A combinação entre o desmonte de políticas públicas, em nível interno, e o predomínio de visão isolacionista do mundo, no nível externo, afetou a imagem do país e prejudicou a capacidade brasileira de influir sobre temas da agenda global", conclui o relatório.

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"Ao assumir posturas negacionistas, o Brasil perdeu protagonismo em temas ambientais, desafiou esforços de combate à pandemia e promoveu visão dos direitos humanos inconsistente com sua ordem jurídica", observa o texto do relatório. "Na América Latina, tornou-se fator de instabilidade. A política africana foi abandonada e pouca atenção foi dada às comunidades brasileiras no exterior".

Fim de políticas de integração

O relatório observa que o estímulo a processos de integração política, de formação de blocos, de multilateralismo, sempre foram características da diplomacia brasileira. Segundo os integrantes do GT de Relações Exteriores, tudo isso foi abandonado na era Bolsonaro. Adotando postura "diametralmente oposta", as ações do governo resultante do desmonte da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), da saída do país da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e no crescimento de forças favoráveis ao desmantelamento do Mercosul, bloco formado pelos países do continente sul-americano.

"Ao apostar no isolamento da Venezuela, o Brasil cometeu erro estratégico de transformar a América do Sul em palco da disputa geopolítica entre EUA, Rússia e China", analisa o relatório. "De catalisador de processos de integração, o país passou a ser fator de instabilidade regional".

O Brasil acabou perdendo protagonismo internacional em discussões nas quais sua voz era considerada. Como direito à saúde, direito à alimentação adequada, igualdade de gênero e racial, e enfrentamento a todas as formas de violência e de discriminação. "A mudança no discurso diplomático e a participação desastrada em alianças ultraconservadoras caminharam de mãos dadas com o desmonte de políticas públicas domésticas, em especial no que se refere a igualdade de gênero, direitos sexuais e reprodutivos e direito de minorias", diz o texto.

Dívida com organizações

Durante o governo Bolsonaro, o país se endividou com organismos internacionais que têm papel estratégico na discussão mundial. "A dívida com organizações internacionais representa grave prejuízo à imagem do país e à sua capacidade de atuação e compromete severamente sua política externa", considera o relatório da transição.

"O Brasil deve atualmente cerca de R$ 5,5 bilhões de reais" com organismos internacionais. "Se um valor mínimo dessa dívida não for pago ainda no atual exercício, haverá perda de voto em organizações como a ONU, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre outras", alerta o relatório.

Rudolfo Lago

Tércio Amaral

Política externa de Lula precisa se afastar da ideologia - Editorial O Globo

 Política externa de Lula precisa se afastar da ideologia

O Globo | Opinião do GLOBO
25 de dezembro de 2022

Futuro chanceler prometeu orientar Itamaraty pelo interesse nacional.

Faria bem em cumprir a promessa

As primeiras viagens internacionais de Luiz Inácio Lula da Silva como presidente serão para Argentina, Estados Unidos e China, revelou ao GLOBO o embaixador Mauro Vieira, que voltará ao comando do Itamaraty. O objetivo imediato da política externa será, segundo ele, reparar ou reconstruir as pontes depois do desastrado governo de Jair Bolsonaro, que virou persona non grata no exterior.

É um objetivo pertinente e necessário. Mas, para que a volta do protagonismo do Brasil tenha chance de sucesso, Vieira precisará adotar uma postura bem mais realista do que transpareceu na entrevista. Para ele, há "sede de ver o Brasil" atuando de novo - um evidente exagero. Há uma diferença entre a sensação de alívio pela saída de Bolsonaro e países ávidos por ouvir a opinião brasileira em tudo.

Desde que Vieira deixou o cargo de ministro das Relações Exteriores no governo Dilma Rousseff, o mundo mudou bastante. Solidificou-se no governo americano a ideia de que a China é o maior adversário estratégico. Na Europa, Vladimir Putin ajudou a unir o Ocidente com a invasão da Ucrânia. Em Washington, a importância relativa do Brasil caiu não apenas pelos erros de Bolsonaro, mas também pelos do PT. As trapalhadas do Itamaraty na tentativa de costurar um acordo de paz envolvendo o Irã não foram esquecidas. Continuam a circular entre petistas idéias de grandeza sem cabimento, como o papel brasileiro numa eventual negociação de paz entre Rússia e Ucrânia.

E evidente que há outras prioridades. Dado o tamanho do Brasil, nossos interesses são diversos. Nas áreas comercial, financeira, tecnológica e militar, a atenção tem de se voltar para as grandes potências, Estados Unidos, China e União Européia (UE). Vieira tem razão em querer retomar o acordo Mercosul-UE, paralisado em retaliação pela política ambiental de Bolsonaro. Mas é um erro ressuscitar a política Sul-Sul dos anos petistas, que resultou na exportação de esquemas de corrupção bilionários com resultados pífios ao país.

A entrevista de Vieira foi reveladora pelo que foi dito, mas também pelo que omitiu. Não está errado, por si só, reativar relações com ditaduras como Venezuela, Cuba e Nicarágua. Se o Brasil só tivesse representação em países democráticos, não estaria em Pequim, Moscou, nem na maioria das capitais africanas. Mas isso não significa fazer afagos nesses governos. Não é verossímil que Vieira desconheça as informações públicas sobre torturas e violações de direitos humanos do regime venezuelano, como afirmou. E incompreensível - e inaceitável - a deferência com que sucessivos governos petistas tratam ditaduras de esquerda.

Questionado sobre a disputa entre chineses e americanos, Vieira foi mais sensato. Lembrou que a China é nosso principal parceiro comercial e que os Estados Unidos são o segundo no comércio e o primeiro em investimentos. "O Brasil tem condições de falar e de (...) defender seus interesses nacionais com cada país", afirmou.

A mesma atitude deveria ser adotada diante de todos os países, sejam os amazônicos na questão do meio ambiente, os andinos em temas de segurança e drogas ou os parceiros do Mercosul na agenda comercial. O que importa em todas as frentes é o interesse nacional, não a cor política do governo local. Vieira afirmou que não guiará o Itamaraty por ideologia, como fez Bolsonaro. Faria bem em cumprir a promessa.


O terrível legado do olavismo para a política e a cultura no Brasil - Guilherme Casarões e Paulo Roberto de Almeida

 Importante artigo sobre uma das nossas misérias dos últimos anos. Eu li e comentei o artigo importante de Guilherme Casarões sobre o “legado” (se o termo se aplica) do olavismo, na atual recomposição dos movimentos de direita e de extrema-direita no Brasil. 

Creio que o oportunismo fisiológico da cleptocracia de parte do estamento político brasileiro prevalecerá sobre qualquer “legado” ideológico. Mas de uma coisa estou certo: o olavismo imbecil, no campo do pensamento internacional, produziu, pelas mãos e pés de um desequilibrado primeiro chanceler (o patético e submisso EA) a maior destruição da imagem externa do Brasil e da credibilidade de sua diplomacia profissional. 

Não gostaria de relembrar, por outro lado, que, à exceção dos aposentados, a quase totalidade dos diplomatas profissionais permaneceu inerme ante o trabalho de destruição de nossos princípios e valores. 

Paulo Roberto de Almeida


O LEGADO DO OLAVISMO

Guilherme Casarões 

O Estado de S. Paulo, 26 de janeiro de 2022

Morreu o homem que resgatou a direita do ostracismo, a radicalizou e a popularizou – tudo isso em poucos anos. Até meados da década passada, Olavo de Carvalho era um ideólogo de nicho. Com seus cursos de filosofia, pregava para algumas centenas de pessoas, potencializado pela inserção precoce no mundo digital e nas redes sociais.

O terremoto político iniciado em 2013, que levou à ascensão de vários movimentos de direita, coincidiu com a chegada de Olavo ao mainstream editorial. Em pouco tempo, o sucesso de seus livros começou a repercutir nas manifestações antipetistas, na forma de cartazes com o escrito “Olavo tem razão”. Olavo, de fato, tinha razão numa coisa. Havia um espaço enorme para o pensamento conservador no mercado das ideias políticas.

Na realidade brasileira, que o ideólogo alegava ser dominada pelo “marxismo cultural”, o fortalecimento do conservadorismo exigiria a destruição total da esquerda. A saída, portanto, era a articulação de um projeto reacionário, uma espécie de jacobinismo de direita. Esse movimento demandava três ingredientes: uma narrativa conspiracionista, uma legião de seguidores fiéis e uma liderança populista que pudesse colocar o projeto em prática.

As teorias conspiratórias foram ganhando força após 2013. Misturando perenialismo de René Guénon, variações católicas e militares do anticomunismo e a paranoia supremacista da alt-right americana, Olavo foi capaz de criar uma narrativa que acolheu e deu sentido a um número crescente de críticos ao Partido dos Trabalhadores.

Uma vez tornadas populares, as teses de Olavo trouxeram milhares de alunos, alguns dos quais passaram a compor uma suposta “nova elite intelectual” tupiniquim. Para certos influenciadores digitais e políticos, ser aluno do Olavo era a maior das virtudes, além de receita certeira de engajamento – mesmo que isso exigisse subscrever a ideias estapafúrdias, equivocadas e muitas vezes perigosas.

O ápice do olavismo deu-se em 2018, diante da possibilidade real da vitória de Jair Bolsonaro à presidência. As concepções tortas e a vocação populista do ex-capitão, mas sobretudo seu ímpeto destrutivo, casavam-se bem com o projeto reacionário de Olavo. Mais que isso: uma vez no poder, Bolsonaro poderia transformar o ideólogo em guru e seus seguidores em peças-chave do desmantelamento institucional do país. E assim o fez.

Mas a combinação entre incompetência técnica, fundamentalismo ideológico e desavenças políticas logo tornou Olavo e seu grupo um fardo para Bolsonaro. Para chegar ao fim do mandato, o governo trocou a extrema direita jacobina pela direita fisiológica, ainda que permaneça o legado de destruição em áreas tão diversas como saúde, educação e relações exteriores.

Olavo morreu, mas suas ideias permanecem – e serão chave para compreendermos o futuro da extrema direita, de Bolsonaro e da política nacional. No momento, elas estão à espera de alguém que confira alguma unidade ao movimento forjado a partir de 2013 e que vem rachando sob o peso das disputas de poder. Resta saber se o legado do olavismo sobreviverá à ganância de seus herdeiros.

Guilherme Casarões é professor da FGV EAESP