domingo, 2 de julho de 2023

Diploweb: dossiê Estado Islâmico

DIPLOWEB
Dossier. L'Etat islamique 
Avez-vous remarqué ? L’État islamique alias Daech nous a obsédé pendant plusieurs années... puis il a disparu des radars... L'EI est-il vraiment défait ? Et comment caractériser cette organisation terroriste qui se voulait un proto-Etat ? Comment en parler, voire l'enseigner ? Parce qu'il importe de ne pas laisser le temps brouiller les repèresle Diploweb consacre le premier de ses dossiers d'été à l'Etat islamique. Vous allez disposer de documents de référence de plusieurs types pour alimenter votre connaissance. Je vous encourage vivement à les partager avec vos amis, vos connaissances institutionelles et académiques. Bonne lecture
Dr Pierre Verluise, Directeur du Diploweb.com


Patrice GOURDIN | Docteur en histoire, professeur agrégé de l’Université. Membre du conseil scientifique du Diploweb
 
Existe-il des points communs entre le fascisme, le nazisme, le communisme et le Califat ? Patrice Gourdin met en œuvre une démonstration argumentée pour répondre à la question : est-il approprié de parler d’« islamo-fascisme » au sujet du Califat ? Un texte de référence qui utile au débat public. 
 
 
 
Maxime Zoffolli  | Graphiste indépendant
 
 Maxime Zoffoli nous permet de garder en mémoire l'emprise territoriale de l'EI. Voici trois cartes qui présentent les zones d’action de Daesh en 2015, la répartition religieuse en Syrie comme en Irak et les ressources en hydrocarbures.
 
Photo
 
 
Pierre VERLUISE | Docteur en géopolitique. Fondateur du Diploweb
 
Concours ENS Géographie, la puissance est au programme du concours 2024, via l'étude de l'UE. Cette Masterclass est une belle introduction sur les fondamentaux. 
Le monde change, tous les jours, peut-être plus vite que jamais, mais la puissance reste. La puissance reste, mais elle change elle aussi, tous les jours, dans ses modalités. Pourtant, il y a des fondamentaux. Lesquels ? C’est ce que vous allez découvrir et comprendre. Ainsi, vous marquerez des points., notamment pour la question de Géographie ENS 2023-2024. Des points décisifs à un moment clé. Découvrez ci-dessous le programme, des extraits des évaluations, et qui est votre formateur. Alors que l’UE doit se réinventer sous la pression de la guerre russe en Ukraine, ce sujet est majeur.
 
 
 


 
Jean-François GAYRAUD | Haut fonctionnaire de la police nationale
 
 Cet entretien avec J-F Gayraud permet de prendre la mesure d’une des grandes nouveautés du monde post-Guerre froide : l’hybridation du terrorisme et du crime organisé. Un propos très riche et précis, très accessible. 4 minutes. 

 
Eric DANON   | Ambassadeur de France. Hugo MICHERON | Doctorant
 
C'est l'été. Vous avez le temps de profiter d'une remarquable conférence Diploweben Sorbonne. Dans la première partie de cette conférence, les deux orateurs ont analysé les forces à l’œuvre dans le terrorisme contemporain. 
La deuxième partie de la conférence a été consacrée aux formes que pourraient prendre les terrorismes du futur – non pas via des modalités techniques mais en tâchant de repérer les tensions de toute nature susceptibles de générer de nouveaux actes de terrorisme à l’avenir. Vous y trouverez des propos étonnament visionnaires. 

sexta-feira, 30 de junho de 2023

Duas histórias sobre dois casos: o Foro de S. Paulo e a Stasi - Paulo Roberto de Almeida

Two tales of two cases: sobre o Foro de S. Paulo e a Stasi (ex-RDA)

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as entrelinhas da História.

  

A maior parte dos jornalistas e das pessoas comuns deve desconhecer os mecanismos pelos quais os comunistas cubanos atuaram para consolidar o Foro de S. Paulo, independentemente da capacidade do PT de supostamente “influenciar” dezenas de partidos e movimentos de esquerda da AL. 

 

Depois da queda repentina do muro de Berlim e da rápida absorção da RDA pela RFA, a Stasi não teve tempo de limpar os arquivos, e daí se soube que mulher vigiava o marido, como se viu na “Vida dos Outros”.

Os comunistas cubanos estão tendo todo o tempo do mundo para fazer o serviço, o que impedirá revelações históricas como se viu no caso da RDA, mas não os impede de controlar, agora e sempre, figuras e entidades para atingir suas finalidades próprias.

 

A diferença entre os dois casos ainda habilita certas pessoas a posarem de “democratas”, confiando na intangibilidade dos arquivos, ou na contenção segura dos controladores. São os caminhos diversos da história, sobre os quais apenas novelas ao estilo de John Le Carré podem desvendar o que está realmente por trás de certos “fatos”. 

Não sou nenhum John Le Carré, mas sei ver o que se esconde atrás de certos cenários, que podem ser de extrema-direita ou de extrema-esquerda. Muitos ignoram que Chávez, ou Fidel Castro, por exemplo, ambos considerados líderes de esquerda pelos ingênuos de sempre, foram o mais próximo que a AL teve de certo DNA fascista ou nazista, o que é característica própria de todas as ditaduras, de esquerda ou direita.

 

Ditadura é ditadura, de qualquer cor ou ideologia. Mas certa esquerda na AL apoia Putin, um êmulo de Hitler, apenas porque ele é antiamericano, um avatar próprio aos ingênuos ou ignorantes dessa esquerda.

A ingenuidade, ou desconhecimento, de certos fatos, para mim evidentes, impede que jornalistas e pessoas comuns possam reconhecer no papel que o Foro de S. Paulo tem para o PCC um equivalente funcional similar ao que o Cominform tinha para o PCUS no stalinismo tardio, entre os anos 1940 e 50.

 

Mas, tudo isso não tem mais nada a ver, como quer fazer acreditar a extrema-direita (e seu finado guru ideológico), com um “movimento comunista internacional”, hoje inexistente. Tem mais a ver com a sobrevivência material de regimes ditatoriais como o cubano e o chavista, e a própria sobrevivência política e física de seus dirigentes. 

Desse ponto de vista, Lula é um aliado objetivo, ou um “inocente” útil, de autocratas de esquerda e de DIREITA que se opõem atualmente a valores e princípios próprios a democracias liberais.

A História não o absolverá. 

Mas é pena que, diferente do caso da Stasi, documentos talvez não sobrevivam ao triste registro do verdadeiro itinerário da contrafação que representaram, no caso do Brasil, um amigo da ditadura militar e elogiador de torturadores, como o Bozo, e um amigo de execráveis ditaduras supostamente de esquerda, como faz hoje Lula, em relação a seus amigos cubanos, venezuelanos ou nicaraguenses. 

Dois relatos sobre dois casos, mas existem muitos outros mais…

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4428, 30 junho 2023, 2 p.



PS: Aproveito para indicar um outro pequeno texto sobre o Foro de S. Paulo, para quem possa se interessar pelo assunto:


4285. “As ‘internacionais’ do comunismo”, Brasília, 6 dezembro 2022, 2 p. Nota sobre as diversas associações do movimento comunista internacionais, Comintern, Cominform e Foro de S. Paulo. Postado no blog Diplomatizzando(link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/12/as-internacionais-do-comunismo.html).


quinta-feira, 29 de junho de 2023

Entre literatura oral e escrita: Livros portugueses do século XVI sobre o Brasil e a sua relação com a literatura contemporánea - Franz Obermeier (Academia.edu)

Um grande brasilianista alemão, oferecendo estudos históricos da melhor qualidade sobre o Brasil colonial: 

Entre literatura oral e escrita: Livros portugueses do século XVI sobre o Brasil e a sua relação com a literatura contemporânea

Franz Obermeier

Academia.edu, Published 2023

https://www.academia.edu/103989663/Entre_literatura_oral_e_escrita_Livros_portugueses_do_s%C3%A9culo_XVI_sobre_o_Brasil_e_a_sua_rela%C3%A7%C3%A3o_com_a_literatura_contempor%C3%A1nea 

Confronting portuguese documents about Brazil in the 16 th century (Soares de Sousa, Noticia do Brasil 1587, Cardim, Tratados, depois de 1583, Pero de Magalhães de Gândavo, Historia da provincia sancta Cruz, Lisboa 1576, with contemporary French (Léry, Thevet, Claude d'Abbeville, Yves d'Évreux) and their iconography (single leaf prints about a sea monster in Brazil, italian version 1565, also German translation), also in one illustration in the Historia da provincia sancta Cruz, Lisboa 1576, we see common features. Also relating to the content (indigenous myths and migrations, we see similarities and differences. The Portuguese tratados are informative texts and are lacking the combination of a personal narrative with an ethnographic part we have in the most important book about Brazil at that time Hans Staden, Warhaftige Historia, Marburgo 1557, and in a limited way in the travel narrative by the English Anthony Knivet (after 1593, published by Purchas 1625). Ao confrontarmos as informações de origem francesa com outros documentos portugueses e alemães da época vemos as diferênças entre eles. As informações adicionais da Cosmographie (1575) e dos manuscritos de Thevet são provavelmente de fontes portuguesas. Os seus relatos da mitologia tupi são únicos na literatura etnológica do tempo. Pelo fato de muitas outras observações do livro terem sido resultante de uma provável tradição oral dos portugueses, há uma clara indicação de que também a parte da mitologia nessas obras foi colecionada por portugueses. Dois exemplos para a diferença das informações etnológicas podem ser suficientes. Na tradição francesa, os Singularitez de Thevet 1557/58 e o livro de Léry Histoire d’un voyage 1578, não vem mencionado em nenhum lugar o novo nome do matador depois do ritual antropofágico ou de outro cerimonial ligado à captura de um prisioneiro. Nem sequer a couvade do pai é mencionada depois do nascimento de uma criança. Thevet descreve primeiramente esse nome honorífico e a couvade na sua Cosmographie ("autant de prisonniers qu’ils tuent, autant prennent ils de noms [...]", 1575, 932 v, Lussagnet 1953, 132, a cou¬vade na página 916 r, 1953, 50/51). Os capuchinhos da colónia do Maranhão de 1612-1615, Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux falam....

Ver o texto integral no link acima.

Christian-Albrechts-Universität zu Kiel

Department Member


Most of my articles are on: http://macau.uni-kiel.de/ 

Here in Academia is only a choice.





Luiz Zottmann: O desenvolvimento econômico e seus segredos: a experiência brasileira - lançamento dia 13/07, Brasília

Este não é um livro convencional sobre economia; é o resultado de anos de estudo, de prática, tanto no domínio acadêmico, quanto na formulação e operação de políticas econômicas, no plano macro e no das políticas setoriais. Cabe conhecer:

Luiz Zottmanan: 
O desenvolvimento econômico e seus segredos: a experiência brasileira 
(Curitiba: CRV, 2023),
em lançamento na Travessa do Casa Park de Brasília, dia 13 de julho, 19hs (com direito a champagne).




Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal: Chamada para artigos


Chamada Pública – Edital de publicação para o N. 13 da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal 

(ISSN 2525-6653)

 

Período de submissão: os artigos devem ser enviados ao e-mail ihgdfederal@gmail.com, até o dia 31/07/2023

Sobre a Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal:

1)    Linha Editorial

A Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal aceita para publicação artigos, ensaios, documentos, resenhas bibliográficas e biográficas, entrevistas e atualidades relacionados às áreas de ciências humanas, sociais aplicadas e linguística, letras e artes, resultantes de estudos teóricos, pesquisas, reflexões sobre práticas atualizadas na área. Os textos em português devem ser inéditos, de autores(as) brasileiros(as) ou estrangeiros(as), conforme padrão da Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

 

2)    Periodicidade: 

A Revista do IHGDF tem periodicidade semestral.

 

3)    Diretrizes para Autores

1. Os artigos, de preferência inéditos, terão extensão variável, de 15 a 25 páginas, com aproximadamente 36 a 60 mil caracteres.

2. Cada artigo, com título em ponto 14 e corpo do texto em ponto 12, deve vir acompanhado de resumo em português e abstract em inglês, de aproximadamente 80 palavras, bem como palavras-chave e key words. Ao final do artigo, o autor incluirá um breve currículo de até 10 linhas.

3. Na primeira página, abaixo do nome do autor, deve constar uma informação sintética sobre a formação e vinculação institucional do autor, de até duas linhas.

4. Notas de rodapé (ao pé da página) apenas quando indispensáveis; as referências bibliográficas e citações no corpo do texto devem seguir o modelo (Autor, ano: p.); bibliografia, distinguindo entre fontes e literatura secundária, deve vir em ordem alfabética ao final do artigo, observando as normas da ABNT (6023/2018).

5. Resenhas de livros terão de preferência entre 3 e 10 páginas, começando com a identificação precisa da obra, depois de eventual título fantasia.

6. Encaminhar as colaborações ao e-mail: ihgdfederal@gmail.com.

7. Os membros dos conselhos consultivo e editorial atuarão como pareceristas anônimos; pareceristas externos poderão atuar para temas especializados. 

 

4)    Declaração de Direito Autoral

Ao submeter um artigo à REVISTA do IHGDF e tê-lo aprovado, os autores mantem os direitos de autoria e concordam em ceder, sem remuneração, os seguintes direitos autorais à REVISTA do IHGDF: os direitos de primeira publicação e permissão para que esta revista redistribua esse artigo e seus dados aos serviços de indexação e referências que seus editores julguem usados.

 

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Derrota de Putin na Ucrânia pode ter consequências inimagináveis - Thomas Friedman (NYT, OESP)

 Derrota de Putin na Ucrânia pode ter consequências inimagináveis 

Thomas Friedman, THE NEW YORK TIMES
O Estado de S. Paulo, 29/06/2023

Os acontecimentos recentes na Rússia se parecem com o trailer do próximo filme de James Bond: o ex-chefe, hacker e mercenário de Vladimir Putin, Ievgeni Prigozhin se rebela. Prigozhin, parecendo com um personagem saído diretamente de ‘Doctor No’, lidera um comboio de ex-detentos e mercenários em uma corrida excêntrica para tomar a capital russa, derrubando alguns helicópteros no caminho. Eles encontram tão pouca resistência que a internet está cheia de imagens de seus mercenários esperando pacientemente para comprar café pelo caminho, como se dissessem: ‘Ei, podem colocar uma tampa no café? Não quero sujar meu blindado.”

Ainda não está claro se o frio e calculista Putin dirigiu qualquer ameaça direta a seu velho amigo Prigozhin, mas o líder mercenário, sendo um velho laranja de Putin, claramente não estava assumindo riscos. E com razão. O sempre útil presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, que abrigou Prigozhin, relatou que Putin compartilhou consigo o desejo de matar o mercenário e “esmagá-lo como um inseto.”

Como o sinistro Ernst Stavro Blofeld, o vilão dos filmes de James Bond que lidera o sindicato internacional do crime Spectre e sempre era visto acaraciando seu gatinho branco enquanto tramava algum ardil, Putin é quase sempre visto em sua longa mesa branca, com as visitas geralmente sentadas no lado oposto da peça, onde, é possível suspeitar, uma armadilha espera pronta para engolir qualquer um que saia da linha.

A minha reação inicial ao ver o drama se desenrolar na CNN foi questionar se tudo aquilo era real. Não sou fã de teorias da conspiração, mas 007 — Viva e Deixe Morrer não tem nada a ver com esse motim com um roteiro escrito em Moscou — um roteiro ainda em produção, enquanto um Putin analógico tenta alcançar com a TV estatal russa um Prighozin digital que o cerca com sua comunicação via Telegram.

Responder a pergunta que muitos me fazem — O que Putin fará agora — é impossível. Eu seria cauteloso, no entanto, em tirá-lo de cena tão rápido. Lembrem-se: Blofeld apareceu em seis filmes do James Bond até que o 007 finalmente o derrotasse.

Tudo que se pode fazer por enquanto, creio, é tentar calcular os diferentes equilíbrios de poder envolvidos nessa história e analisar quem, nos próximos meses, pode fazer o quê.

As fraquezas de Vladimir Putin
Permitam-me começar com o maior equilíbrio de poder em questão, que nunca pode ser deixado de lado. E o presidente Biden merece os aplausos por ele. Foi graças à ampla coalizão reunida pelo presidente dos Estados Unidos para enfrentar Putin na Ucrânia que expôs a face do vilarejo Potemkin do líder russo.

Gosto da argumentação de Alon Pinkas, ex-diplomata israelense sediado nos EUA, em um artigo publicado no Haaretz nesta semana. Segundo ele, Biden entendeu desde o começo que Putin é o epicentro de uma constelação antiamericana, antidemocrática e fascista que precisa ser derrotada. E com ela, não há negociação possível. O motim de Prigozhin fez na prática o que Biden tem feito desde a invasão da Ucrânia: expôs as fraquezas de Putin, ferundo sua já abalada aparência de invencibilidade e sua suposta condição de gênio estrategista.

Putin, há muito, governa com dois instrumentos: medo e dinheiro, cobertos com uma capa de nacionalismo. Ele comprou quem poderia comprar e prendeu ou matou quem não podia. Mas agora alguns observadores do que acontece na Rússia argumentam que o medo está se dissipando em Moscou. Com a aura de invencibilidade de Putin abalada, outros poderiam desafiá-lo. Veremos.

Se eu fosse Prigozhin ou um de seus aliados, ficaria longe de qualquer um que passasse na calçada em Belarus com um guarda-chuva em um dia de sol. Putin tem feito um trabalho bastante efetivo eliminando seus críticos e ninguém pode subestimar o temor profundo dos russos sobre qualquer retorno ao caos do período pós-soviético, no início dos anos 90. Muitos deles ainda são gratos a Putin pela ordem que ele restaurou no país.

Um plano que pode dar certo
Quando analisamos o equilíbrio de poder de Putin com o resto do mundo as coisas ficam complicadas. No Ocidente, temos de temer as fraquezas de Putin tanto quanto tememos suas forças.

Ainda não há um sinal de que o motim de Prigozhin ou a contraofensiva ucraniana tenham levado a qualquer colapso significativo das forças Rússias na Ucrânia. Apesar disso, ainda é cedo para qualquer conclusão.

Fontes do governo americano dizem que a estratégia de Putin é exaurir o Exército ucraniano até o ponto em que ele não tenha mais suas peças de artilharia howitzer de 155 milímetros nem seus sistemas antiaéreos cedidos por Washington. Essas peças são a principal arma das forças terrestres ucranianas. Sem elas, a Força Aérea Russa teria alguma supremacia até que os aliados ocidentais tenham seus recursos exauridos, ou até Donald Trump voltar à Casa Branca e Putin conseguir algum acordo sujo com ele que salve sua pele.

A estratégia não é maluca. A Ucrânia gasta tanto esse tipo de munição — cerca de 8 mil por dia — que o governo americano está tentando encontrar reposição para elas antes que novas entregas industriais dessas peças cheguem no ano que vem.

Além disso, a logística é importante numa guerra. Também é importante se você está no ataque ou na defesa. Atacar é mais difícil e os russos estão entrincheirados e com toda sua linha defensiva minada. É por isso que a contraofensiva ucraniana tem sido tão lenta.

Como me disse Ivan Krastev, especialista em Rússia e diretor do Centro de Estatégias Liberais na Bulgária: “No primeiro ano da guerra, quando a Rússia estava no ataque, todo dia sem uma vitória era uma derrota. No segundo ano, todo dia em que a Ucrânia não está vencendo é uma vitória para os russos.”

Nós não devemos subestimar a coragem dos ucranianos. Mas também não podemos superestimar a exaustão do país como uma sociedade.

E como a história ensina, o Exército da Rússia tem aprendido com seus erros. John Arquilla, professor da Escola Naval de Pós-Graduação na Califórnia e autor de Blitzkrieg: os novos desafios da guerra cibernética, “os russos sofrem, mas aprendem.”

Segundo o professor, o Exército de Putin ficou melhor em manter a hierarquia da tropa no front. Além disso, segundo Arquilla, eles aperfeiçoaram o uso de drones em combate. Ao mesmo tempo, os ucranianos mudaram sua estratégia inicial, de usar unidades móveis menores, armadas com armas inteligentes, para atacar um imóvel Exército russo, para um perfil mais pesado e maior, com tanques e blindados.

“Os ucranianos agora estão cada vez mais parecidos com o Exército russo que estavam derrotando no ano passado”, disse Arquilla. “O campo de batalha nos dirá se essa é a melhor estratégia.”

Os riscos de uma Rússia sem Putin
Isto posto, devemos nos preocupar tanto com a perspectiva de uma derrota de Putin quanto de qualquer vitória. E se ele for derrubado? Não estamos mais na época do fim da União Soviética. Não há ninguém bonzinho ou decente ali. Nenhum personagem inspirado em Yeltsin ou Gorbachev está à espreita para assumir o poder.

“A velha União Soviética tinha algumas instituições estatais que eram responsável por manter o funcionamento da burocracia, bem como alguma ordem de sucessão. Quando Putin entrou em cena, ele destruiu ou subverteu todas as estruturas sociais e políticas além do Kremlin”, me explicou Leon Aron, especialista em Rússia do American Enterprise Institute, cujo livro sobre a Rússia de Putin sai em outubro.

No entanto, a História da Rússia traz algumas reviravoltas surpreendentes, ele diz. “Apesar disso, numa perspectiva histórica, os sucessores de líderes reacionários no país costumam ser mais liberais: o czar Alexander II depois de Nicolas I, e na URSS, Kruschev depois de Stalin, e Gorbachev depois de Andropov. Então, se houver uma transição pós-Putin, há esperança.

Apesar disso, no curto prazo, Se Putin for derrubado, podemos acabar com alguém pior. Como você, leitor, se sentiria, se Prigozhin estivesse no Kremlin desde hoje cedo comandando o arsenal nuclear da Rússia?

Um outro cenário possível é a desordem ou uma guerra civil e a consequente implosão da Rússia nas mãos de diversos oligarcas e grupos armados. Por mais que eu deteste Putin, eu odeio o caos ainda mais, porque quando um Estado do tamanho da Rússia colapsa é muito difícil reconstruí-lo As armas nucleares e a criminalidade derivadas dessa catástrofe mudariam o mundo.

E isso não é uma defesa de Putin. É uma expressão de raiva pelo que ele fez a seu país, tornando-o uma bomba-relógio continental. Ele fez o mundo inteiro refém.

Se Putin vencer, o povo russo perderá. Mas se ele perder e for substituído pelo caos, o mundo inteiro sairá derrotado.


Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...