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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

BC tem primeiro ano sem fazer leilões extras de dólar desde o início do câmbio flutuante, em 1999 (FSP)

 BC tem primeiro ano sem fazer leilões extras de dólar desde o início do câmbio flutuante, em 1999

Folha de S. Paulo | Mercado
10 de janeiro de 2024
O texto abaixo foi gerado automaticamente e não foi revisado.

BC tem primeiro ano sem fazer leilões extras de dólar desde o início do câmbio flutuante, em 1999

Nathalia Garcia

brasília O Banco Central atravessou 2023 sem ter realizado leilões extras de dólar em meio a um cenário de baixa volatilidade do real e de forte fluxo comercial. Essa foi a menor intervenção da autoridade monetária desde a adoção do regime de câmbio flutuante no país, em 1999.

A informação foi publicada pelo Valor e confirmada pela Folha. No ano passado, o BC não fez leilões extraordinários de contratos de swap cambial e conduziu apenas as rolagens integrais já previstas no cronograma ao longo dos meses.

Em uma operação chamada de "swap" (troca, em inglês), o BC opera com contratos financeiros. Nela, há simultaneamente a troca de taxas ou rentabilidade de ativos.

O objetivo é prover proteção contra variações excessivas do dólar em relação ao real (hedge cambial) e liquidez ao mercado doméstico.

A compra de contrato de swap pelo BC funciona como injeção de dólares no mercado futuro e quem compra está protegido em caso de desvalorização do real.

É um instrumento usado para evitar disfunção no mercado de câmbio, assegurando que haja oferta para atender a um aumento de procura pela moeda estrangeira.

Em 2023, o BC também não efetuou compra ou venda de dólares no mercado à vista.

Nessa modalidade, a autoridade monetária vende reservas internacionais, sem compromisso de recompra, e o dinheiro é injetado no mercado.

Foi uma alternativa mais recorrente no governo de Fernando Henrique Cardoso, durante o câmbio fixo.

A instituição também não promoveu novos leilões de linha no ano passado. Nesse caso, o BC também vende reservas internacionais no mercado à vista, mas com o compromisso de recompra em um prazo determinado.

Além de aliviar as pressões por demanda de dólar em momentos mais sensíveis, preserva o colchão financeiro por funcionar como uma espécie de empréstimo de moeda estrangeira.

BC não viu necessidade de fazer novos leilões ao longo de 2023 por causa do comportamento "um pouco mais benigno" do câmbio no ano. A cotação do dólar caiu de R$ 5,34 a RS 4,84 em 2023.

Ela ressalta o cenário mais positivo da economia brasileira ao término do ano, com recuo da inflação, ciclo de queda de juros e elevação da nota de crédito soberano do Brasil por agências de classificação de risco, o que colabora para um câmbio mais comportado.

Para Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, a menor intervenção do BC é explicada principalmente pelo forte fluxo comercial de câmbio no mercado à vista, impulsionado pelo superávit recorde da balança comercial de quase US$ 100 bilhões.

O economista ressalta que o país passa por mudanças estruturais, tendo o superávit comercial sido puxado pelo forte aumento dos volumes exportados de commodities agrícolas, minérios e petróleo.

"Ficamos menos dependentes dos fluxos financeiros. O déficit em contas correntes caiu de uma média de 3% do PIB [Produto Interno Bruto] nos últimos dez anos para cerca de 1,5% do PIB."

De acordo com Reinaldo Le Grazie, sócio da Panamby Capital e ex-diretor do BC, o fluxo "muito positivo" de 2023 talvez tenha contrabalançado um movimento que vinha de anos anteriores e pesava na volatilidade do câmbio, como a desalavancagem - redução das dívidas - de grandes empresas, como a Vale.

Ele cita também como contribuição para "calmaria" o fim do overhedge cambial, que é uma proteção excessiva dos bancos em moeda estrangeira no exterior.

"Foi o suficiente para manter o mercado irrigado sem necessidade de o BC comprar dólar. Sempre que tem menos intervenção é bom para a economia, principalmente para quem tem cabeça mais liberal", afirma ele.

Para 2024, os economistas consideram que a volatilidade do câmbio no Brasil dependerá da condução da política de juros do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) e de riscos geopolíticos no cenário global.

No ambiente doméstico, a trajetória das contas públicas é a principal preocupação dos economistas. Há ceticismo com a viabilidade da meta de déficit zero neste ano, como defendida pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda).

"O risco é a nossa situação fiscal, que se fragilizou com o déficit e a dívida pública em alta", diz Kawall.

Quartaroli acrescenta que o país deve ter menor arrecadação de receitas neste ano com a projeção de crescimento menor do PIB. "Se a gente continuar aumentando o gasto e a conta fiscal não fechar, isso tende a ser um risco", afirma.

Sobre a atuação do BC para o cenário à frente, Le Grazie diz que é difícil descartar futuras interferências no caso de países emergentes, como o Brasil, que ficam mais sujeitos a variações cambiais.

"No pronto [mercado à vista] e em swap, não vejo mudança de atuação, de estratégia. Acho que houve uma mudança de comportamento em 2023 em função das condições de mercado. É difícil imaginar que a gente, daqui em diante, nunca mais vai ter de fazer intervenção", diz.

"Já no [leilão] de linha, ficou evidente que o mercado se ajeita e não precisa da participação do BC", afirma

Constitutional Courage - Timothy Snyder; o grande medo americano

 

Constitutional Courage

How our fears endanger our future

If we ignore the Constitution now, it will not protect our rights later.  We are ignoring it now, because we are afraid.

The Constitution is meant to handle our emotions, to “address itself immediately to the hopes and fears of individuals,” in Alexander Hamilton’s words.  

But there is one fear it cannot address: fear of the Constitution itself.  Too many of us, right now, are running in fear of the Constitution. 

How did it come to this?  An insurrectionist, Donald Trump, purports to be running for president, although the Constitution forbids this.  Section Three of the Fourteenth Amendment frankly disqualifies anyone who has taken part in an insurrection, or given aid and comfort to insurrectionists.  Trump has done both, and boasts of having done both. 

The authors of Section Three anticipated just such a frightful situation.  An insurrectionist who swears an oath and violates it has done something terrible.  He will have allies who have tasted tyranny and liked it.  By mandating just how to deal with such a person, Section Three lends us strength we might not otherwise have.  The Constitution defends itself by guiding us towards our better selves. 

Yet Americans who should know better are choosing fear over the Constitution, finding excuses to ignore what it says.  Indeed, they are choosing to fear the Constitution.  Far too many politicians and other media commentators respond to our present situation -- a real insurrectionist who has tried to overthrow the Constitution while in office, a real Constitutional ban on insurrectionists running for office a second time -- by saying that it is the Constitution that must yield. 

Their slogan is: “let the voters decide.”  That is to say: in the case of Trump, and Trump alone, let us simply overlook what the Constitution says. 

The exceptionalism reeks of fear.  In no other case do we wish away the qualifications for office.  There will be thousands and thousands of contested elections in the United States in November 2024.  With respect to only one of them are people saying that legal qualifications for office do not matter. 

a view of the ceiling of a building with columns

The slogan “let the voters decide” makes no sense within our Constitutional order.  We only have voters because we have elections, and we only have elections as organized under the Constitution.  Claiming that voters (and electoral systems) can disregard the Constitution is senseless, because people become citizens and thus voters in ways defined by the Constitution.  No Constitution, no citizens, no voters. 

The real issue, though, is elsewhere.  “Let the voters decide” appeals not to law or logic but to conformism and fear.  It evades critique from within our Constitutional order because it rejects that order.  Rather than following Constitutional procedures meant to handle fear, it redirects fear against those Constitutional procedures.   

When we are ourselves afraid to defend the Constitution, we indulge in a kind of victim-blaming.  Trump tried to overthrow the Constitution; when we say “let the voters decide,” we suggest that the Constitution deserved it.  In ignoring Section Three of the Fourteenth Amendment, we refuse, as it were, to hear the Constitution's side of the story. 

We are attacking the Constitution because we lack the courage to defend it.  And so we begin to unwind the constitutional order. 

Take the familiar example of checks and balances. The slogan “let the voters decide” suggests that potential presidents are beyond the reach of the other branches of government, despite what the Constitution says.  Section Three of the Fourteenth amendment raises questions that courts will have to answer.  Saying “let the voters decide” denies them that role.  Section Three of the Fourteenth Amendment very explicitly defines a role for Congress after an insurrection.  Congress may vote to allow an insurrectionist to take part in elections. 

The point goes deeper, into the very logic of constitutionalism.  Checks and balances illustrate the Constitution's capacity to transform human imperfections into decent politics.  One of those imperfections is fear.  When we direct our fear at the Constitution itself, however, we push those imperfections past the point where they can be borne.  When we are too fearful of the Constitution to allow the Constitution to address our fears, fear builds to become the main mode of politics.

We then legitimate mob rule because we imagine some future mob.  We obey a tyrant in advance.  Directing our fear at the Constitution makes the tyrant's ascent far too easy. 

The Constitution can defend itself in general, and even against the specific threat of an insurrectionist candidate -- but not on its own, not as a piece of paper, not without defenders who read it and affirm it.  When we ignore what the Constitution says, and blame the Constitution for our own cowardice, we join in Trump's attack upon it. 

It takes a little courage to admit that we are afraid, rather than to project our fears.  It takes a little more courage to act, rather than dissemble and delay.  If we want constitutional rule, right now is the easiest moment to mount its defense, in the way marked out by the Constitution itself. 

It only gets harder from here.

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Em busca da integração sul-americana: Consenso de Brasília (Nota do MRE)

 Ministério das Relações Exteriores

Assessoria Especial de Comunicação Social 

Nota nº 8

8 de janeiro de 2024

 

Cerimônia de Transmissão da Presidência Rotativa do Consenso de Brasília

 

Em cerimônia realizada hoje, dia 8 de janeiro de 2024, em formato virtual, o Brasil transmitiu ao Chile a Presidência Rotativa do “Consenso de Brasília”, estabelecido, em 30 de maio de 2023, no contexto da Reunião de Presidentes dos Países da América do Sul, celebrada por iniciativa do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sob a coordenação brasileira, foram realizadas duas reuniões do Grupo de Contato de Chanceleres sul-americanos, que aprovou, em 5 de outubro de 2023, o Mapa do Caminho para a Integração da América do Sul. O documento definiu diretrizes e estabeleceu 17 áreas prioritárias para o relançamento da integração regional.

Em cumprimento ao disposto no Mapa do Caminho, o Brasil coordenou sua implementação e, entre outubro e dezembro de 2023, convocou reuniões de alto nível nas áreas de saúde, financiamento ao desenvolvimento, infraestrutura, mudanças climáticas, defesa e desenvolvimento social. Em todos esses encontros, foram estabelecidas redes de contato para coordenar a elaboração de agendas de trabalho setoriais e a implementação de iniciativas concretas para a retomada da integração e da cooperação na América do Sul.

Ao longo do presente semestre, o Brasil seguirá apoiando a Presidência chilena e demais países sul-americanos na implementação do “Consenso de Brasília”. 

[Nota publicada em: https://www.gov.br/mre/pt-br/canais_atendimento/imprensa/notas-a-imprensa/cerimonia-de-transmissao-da-presidencia-rotativa-do-consenso-de-brasilia 

Como efetuar o monitoramento e avaliação da política externa? - Walter Antonio Desiderá Neto, Guilherme de Oliveira Schmitz (BEPI, IPEA)

COMO EFETUAR O MONITORAMENTO E A AVALIAÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA? AS CONTRIBUIÇÕES OFERECIDAS POR ESTUDOS FOCADOS NO DESEMPENHO DE INSTRUMENTOS DE POLÍTICA EXTERNA ALTERNATIVOS 

Walter Antonio Desiderá Neto

 Guilherme de Oliveira Schmitz

Boletim de Economia Política Internacional (IPEA)

https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/12747/1/BEPI_36_Artigo_1.pdf

SINOPSE 

Partindo da ideia de progressivamente elaborar ferramentas que componham um conjunto de rotinas gerais de monitoramento e avaliação da política externa (M&A/PE), o objetivo deste artigo é examinar alguns dos trabalhos produzidos em agendas de investigação multidisciplinares nas quais exames do desempenho de determinados instrumentos de política externa figuram como seu eixo organizador. São analisados em maior detalhe as contribuições para os casos das operações de paz, das sanções econômicas, da diplomacia tradicional e da diplomacia pública. Mesmo sem estarem necessariamente vinculados a uma literatura com a denominação explícita de monitoramento ou avaliação, tais aportes de recorte mais delimitado têm produzido avanços relevantes no encaminhamento das dificuldades de fundo teórico-metodológico envolvidas. O estudo efetuado neste artigo se orienta pela preocupação de extrair dessas experiências as contribuições que podem ser aplicadas na produção de ferramentas que tenham o propósito de efetuar o M&A/PE de forma mais ampla. Palavras-chave: monitoramento e avaliação de políticas públicas; análise de política externa; instrumentos de política externa; operações de paz; sanções econômicas; diplomacia.

 ABSTRACT 

Starting from the idea of progressively developing tools that comprise a set of general routines for monitoring and evaluating foreign policy, the aim of this article is to examine some of the works produced in multidisciplinary research agendas in which examinations of the performance of specific foreign policy instruments serve as their organizing axis. Contributions to the cases of peace operations, economic sanctions, traditional diplomacy, and public diplomacy are analyzed in greater detail. Even though they are not necessarily linked to a literature explicitly designated as monitoring or evaluation, such contributions with narrower focuses have produced relevant advancements in addressing the underlying theoretical and methodological difficulties. The study conducted in this article is guided by the concern of extracting from these experiences the contributions that can be applied in the production of tools meant to carry out the monitoring and evaluation of foreign policy in a broader manner. Keywords: monitoring and evaluation of public policies; foreign policy analysis; foreign policy instruments; peace operations; economic sanctions; diplomacy. JEL: F50; H83; H87. 

Artigo recebido em 28/7/2023 e aprovado em 11/8/2023.


Perspectivas negativas para a ordem mundial no futuro imediato - Paulo Roberto de Almeida

Perspectivas negativas para a ordem mundial no futuro imediato


Paulo Roberto de Almeida 


A chamada “ordem mundial” — mais bem uma desordem atualmente— encontra-se fragmentada, muito em função de desacordos e até mesmo hostilidade entre as grandes potências mundiais, que são as que possuem algum controle sobre a agenda multilateral, hoje esgarçada entre interesses divergentes entre a comunidade ocidental (EUA e o meio império europeu) e as duas grandes autocracias que lhe são opostas nos objetivos políticos globais.

A capacidade de liderança americana parece paralisada por uma grande divisão interna. O delírio do povo trumpista foi longe demais; a deformação do partido Republicano parece irreversível; se a Justiça não conseguir barrar o populista autoritário ele vai destruir instituições e arruinar a credibilidade dos EUA no mundo. Os europeus tampouco conseguem mostrar-se unidos, em grande medida pelos avanços da extrema-direita em diversos países: a guerra da Ucrânia pode ter exacerbado essas divisões.

A Rússia pode até o reter parte do território ucraniano, sacrificando milhares de seus soldados e mercenários estrangeiros, mas sairá terrivelmente diminuída economicamente e militarmente dessa guerra insana de Putin, portanto dependente de favores chineses. 

Quanto à China, o novo imperador parece ter exercido um controle nefasto sobre o seu dinamismo econômico, centralizando demais as decisões de investimento. Ou seja, a perspectiva de superar a economia americana parece ter ficado mais afastada em vários anos. 

A tal de “nova ordem” virou uma paródia, com o ajuntamento de países autoritários nesse Brics+ sem qualquer papel positivo para um sistema interdependente no plano econômico global ou liberal no plano das liberdades democráticas. 

Pena que Lula embarcou nessa aventura lá atrás, como eu sempre critiquei: não existe NENHUMA convergência entre os objetivos das duas grandes autocracias e as aspirações nacionais do Brasil. Dificuldades visíveis para o Brasil na liderança do G20 em 2024.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4545, 9 janeiro 2024, 1 p.


Benedict Anderson: Imagined Communities (on nationalism) - David Polansky (Foreign Policy)

The Greatest Book on Nationalism Keeps Being Misread

“Imagined Communities” is far weirder than you remember.

 

By David Polansky, a political theorist and research fellow with the Institute for Peace and Diplomacy.


FOREIGN POLICY, JANUARY 7, 2024, 7:00 AM


 

There’s a scene in Sam Raimi’s classic horror-comedy Evil Dead II in which the protagonist saws off his own zombified hand and traps it under a copy of A Farewell to Arms. This is an intentional joke, but a similar titular misreading has haunted another 1980s classic: Benedict Anderson’s Imagined Communities.

Due to a combination of the title’s pithiness and its well-established place on college syllabi, few works of social science have been so widely misunderstood. It is in that rarified genre of books more written about than read (officially known as the “Fukuyama Club”). For many readers appear to have taken the title literally, supposing that he treated nations as somehow fictional. His actual thesis, however, was more subtle. For Anderson, nationalism is imagined rather than imaginary — though too many readers only noted the first part.

He recognizes, in other words, that nations are historical creations rather than natural expressions of some authentic pre-political identity, but he does not assume this invalidates them. Thus (to take examples with particular contemporary relevance), Zionism is both a late 19th-century invention and a reality for Israeli citizens. Palestinian nationalism is both a derivation of a larger modern movement of Arab nationalism and the source of a recognizable collective identity. Nagorno-Karabakh acquired new (and mutually exclusive) significance for both Azerbaijanis and Armenians during the Soviet and post-Soviet eras, without thereby being any less consequential. All of these and more are real and meaningful, even when their historical claims are convenient.

And yet, being widely misread is still a greater legacy than most scholars can boast. And, indeed, the work’s scholarly footprint is substantial; four decades out, it remains one of the most-cited works in all the social sciences, and more to the point it is “by far the most cited text in the study of nationalism.” This is probably less an indication of widespread commitment to Anderson’s specific theses regarding the role of print capitalism or the role of New World states in the development of nationalism and more a testament to the way his book, and its title, came to stand in for a larger intellectual shift in the study of nationalism.

In the wake of the nationalist furies unleashed by the end of the Cold War, we are perhaps more sharply aware now of the themes of Imagined Communities than its contemporary readers were. But why more than two centuries into the age of nationalism and decades after the first wave of decolonization, when the study of nationalism only saw an efflorescence in the late ’70s and early ’80s? Anderson himself notes in a much-cited remark that “unlike most other isms, nationalism [had] never produced its own grand thinkers: no Hobbeses, Tocquevilles, Marxes, or Webers.”

The book’s shaped the study of nationalism—but it did so in a way that was sui generis. This quintessential work of modern social science is in fact quite nonrepresentative of the discipline. It proceeds unsystematically, veering into highly poetic digressions throughout, from literary references to autobiographical details. In fact, Anderson’s influential account of nationalism is ultimately poetic both in the sense that he emphasizes the role of language and literature in the formation of nations and in the sense that his own arguments themselves take poetic forms. That makes it, unlike many of its peers, remarkably readable—and has no doubt contributed to its shelf life.

Its distinctiveness surely owes something to its author. In a fascinating posthumous essay, Anderson noted how his imagination was spurred one day at Cornell from overhearing Allan Bloom in full pomp remark how the ancient Greeks had no concept of “power” as we understand it, which subsequently set him off on his own study of that theme in Javanese culture.

Several of Anderson’s qualities are on display here, all of which shape the book. One is his ability to make unexpected intellectual connections across domains and cultures. Another is his strong historical sense—what the great classicist Peter Brown calls a historicized imagination. The last is his strong orientation toward Southeast Asia, a region to which he remained devoted for much of his life. In a nice bit of biographical caesura, though Anderson was barred for decades from visiting Indonesia owing to a critical analysis of Gen. Suharto’s coup, he spent much of his retirement there, ultimately dying in Java in 2015.

This last might not be remarkable for a historian or professor of “area studies,” but it was for a time unique among scholars of nationalism, who tended to focus on its development in early modern Europe, more or less in parallel with the literature on the rise of the modern state. Anderson’s approach thus stood out even during a time of broader revisionism when it came to the study of nationalism.

Even beyond his wider geographical ambit, his practical experience with how waning colonial systems gave way to elite-shaping national consciousnesses in places like Cambodia, Laos, and the Philippines accorded his work a real sense of how nationalism actually emerged. Unlike more analytical works, Anderson’s work seemed to ask—to paraphrase a famous philosophy paper—what is it like to be a nationalist?

Some background is probably in order here. Part of what drove this movement to study nationalism anew was the apprehension that nations and nationalism were, in fact, modern creations, and that nationalism was something stranger and more complex than merely the political expression of a supposedly authentic pre-political nation. This view, labeled “modernist,” was set against the so-called perennialists, at least some of whom were themselves galvanized to develop their own theories in response to the modernist challenge (the usual caveats that this brief description greatly oversimplifies the scholarly debates apply).

Yet Anderson’s relationship to this group was always somewhat ambiguous. Anderson accepts the modernist view, he does not therefore assign it a pejorative slant or deny its validity—he explicitly distinguishes himself from his near-contemporary Ernest Gellner, whose own treatment emphasized the inherent falseness of nationalism.

Anderson’s highly memorable title led to his being casually associated with the normative positions of those he otherwise opposed. Much of this, I suspect, was due to larger prevailing intellectual trends—particularly the way that critical approaches had given license to debunk any phenomena that were held to be socially constructed. Work on the socially constructed nature of gender, for instance, tends to go hand in hand with a critique of gender norms. Thus, it was (and largely still is) tacitly assumed that acknowledging the socially constructed nature of nations must issue a similar critique.

As he himself noted: “I must be the only one writing about nationalism who doesn’t think it ugly. If you think about researchers such as Gellner and [Eric] Hobsbawm, they have quite a hostile attitude to nationalism. I actually think that nationalism can be an attractive ideology. I like its Utopian elements.”

Perhaps, for this reason, Anderson is able to address upfront (as not all his peers do) the implicit question a reader has when confronted with such a work: Why should we care about nationalism? His correct answer is that it has induced people to kill and, more importantly, to die on a scale not before seen in history.

What, however, is the basis for Anderson’s basically positive outlook on nationalism? His is not that of, say, Aleksandr Solzhenitsyn, who, in his famous Nobel lecture, endorses variety for its own sake. A multihued, patchwork world of different peoples and customs is to be devoutly preferred to the gray homogeneity of Marxism-Leninism (or democratic liberalism, for that matter).

His appreciation is, in fact, an interesting mix of traditional and modern. The traditionalist in him remarks:

In an age when it is so common for progressive, cosmopolitan intellectuals (particularly in Europe?) to insist on the near-pathological character of nationalism, its roots in fear and hatred of the Other, and its affinities with racism, it is useful to remind ourselves that nations inspire love, and often profoundly self-sacrificing love.

Here he is probably closer to George Orwell, who sought to rescue the decent and even admirable elements of these particular patriotic loyalties. Anderson labored to rescue nationalism from associations with racism, arguing that nationalists are primarily concerned with history, whereas racists are primarily concerned with essences. Some readers may find that argument more plausible than others.

Anderson’s highly memorable title led to his being casually associated with the normative positions of those he otherwise opposed. Much of this, I suspect, was due to larger prevailing intellectual trends—particularly the way that critical approaches had given license to debunk any phenomena that were held to be socially constructed. Work on the socially constructed nature of gender, for instance, tends to go hand in hand with a critique of gender norms. Thus, it was (and largely still is) tacitly assumed that acknowledging the socially constructed nature of nations must issue a similar critique.

As he himself noted: “I must be the only one writing about nationalism who doesn’t think it ugly. If you think about researchers such as Gellner and [Eric] Hobsbawm, they have quite a hostile attitude to nationalism. I actually think that nationalism can be an attractive ideology. I like its Utopian elements.”

Perhaps, for this reason, Anderson is able to address upfront (as not all his peers do) the implicit question a reader has when confronted with such a work: Why should we care about nationalism? His correct answer is that it has induced people to kill and, more importantly, to die on a scale not before seen in history.

What, however, is the basis for Anderson’s basically positive outlook on nationalism? His is not that of, say, Aleksandr Solzhenitsyn, who, in his famous Nobel lecture, endorses variety for its own sake. A multihued, patchwork world of different peoples and customs is to be devoutly preferred to the gray homogeneity of Marxism-Leninism (or democratic liberalism, for that matter).

His appreciation is, in fact, an interesting mix of traditional and modern. The traditionalist in him remarks:

In an age when it is so common for progressive, cosmopolitan intellectuals (particularly in Europe?) to insist on the near-pathological character of nationalism, its roots in fear and hatred of the Other, and its affinities with racism, it is useful to remind ourselves that nations inspire love, and often profoundly self-sacrificing love.

Here he is probably closer to George Orwell, who sought to rescue the decent and even admirable elements of these particular patriotic loyalties. Anderson labored to rescue nationalism from associations with racism, arguing that nationalists are primarily concerned with history, whereas racists are primarily concerned with essences. Some readers may find that argument more plausible than others.



 

But the modernist in him also celebrates nationalism for its instrumental role in the process of decolonization. Here, his particular engagement with Southeast Asia dovetailed with his left-wing political sympathies. This may in fact be the most striking thing for a reader encountering it today—even in the later revised editions: how much of Anderson’s considerations play out within the context of Marxism.

His thought was steeped in Marxism, though his treatment was never dogmatic. To begin with, honesty compelled him to take seriously the national conflicts that he saw erupting between Marxist nations.

In this he resembles his brother, the historian and social critic Perry Anderson, whose trenchant commentary still graces issues of the London Review of Books. It is difficult for us at the other end of history to recall (assuming we were there in the first place) the overwhelming presence of Marxist ideas at the time, but much of the show Anderson puts on makes more sense when viewed in light of his intended audience (though Marxist ideas are hardly absent from academia today, they no longer enjoy the hegemony they once held over entire areas of study). It may seem bizarre to us now, but Anderson was at the time fighting a bit of an uphill battle to demonstrate that national identities, however recent, were not less real or consequential than the movements of capital or material production that were and are the chief preoccupations of Marxists.

Anderson himself takes a largely benign view of such movements without sharing the internal perspective of those working from within them (that they are participating in the formal establishment of an authentic pre-existing social identity). How, then, does he expect us to judge their successes or failures? The implicit answer, I think—particularly given Anderson’s Marxist leanings—is to look to the material well-being of the real people that a given nation purports to represent. There, the record has been mixed, from the bloody methods of decolonization in places like Algeria and Vietnam to the fratricidal viciousness by which former neighbors decoupled themselves during the breakup of the Soviet Union and Yugoslavia. At the same time, the extraordinary economic achievement of pulling hundreds of millions out of poverty in China, Vietnam, Indonesia, and elsewhere cannot be decoupled from the social cohesion that nationalism provides. Anderson himself thus characterizes nationalism’s legacy as “Janus-headed.”

As I write this, the enduring conflict between two opposed nationalisms in the Levant has erupted again into terrible violence. Imagining a beneficent nationalism seems harder than ever. Perhaps for this reason, many outsiders have increasingly embraced a binational solution to the conflict—a kind of nationalism without nationalism—regardless of the actual preferences of the protagonists. And when confronted with such visible evidence of nationalism’s hard edge—the atrocities Hamas committed on Oct. 7, or the Israel Defense Force’s ongoing shelling of Gaza—it is understandable that many would blanch at what it really entails.

And it is similarly understandable that one may ask in the face of this and so many other conflicts—from Armenia and Azerbaijan to India and Pakistan to the Balkan Wars of the 1990s and beyond—just what people get from nationalism. Why do they imagine this and not some other form of community? One answer is that at the level of practical reality, the nation provides the form for the ordinary liberal goods we enjoy. In another classic of modern social science, Seeing Like a State, James Scott described the state as “the ground of both our freedoms and our unfreedoms.” Something like this is true of nationalism as well: that for all its capacity for violence, it also makes possible the bounded community within which we gain protections of individual rights and welfare benefits and security.

Anderson goes beyond this, however; his view of nations is not just instrumental. And perhaps for this reason the language we use to describe these conflicts today is very much his language. Hence the use of mythologized histories to legitimize territorial claims. And hence also the attempts to force the Israel-Palestine conflict into the framework of decolonization, in which a righteous emerging nationalism confronts a system of oppressive domination.

But what happens when two authentic nationalisms compete for the same territory? And while we may speak of the self-sacrificing love the nation inspires, what makes these sacrifices worthwhile in the end? The poetic resonances of Anderson’s treatment of nationalism have been widely recognized—but even poetry has its limits.

David Polansky is a political theorist who writes on geopolitics and the history of political thought. He is currently a research fellow with the Institute for Peace and Diplomacy.


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Abade Raynal, sobre o futuro do Brasil, que ainda não chegou

Esse Raynal era um vidente, só que ainda não aconteceu o que ele desejava...

“O Brasil converter-se-á num dos mais formosos estabelecimentos do globo (nada para isso lhe falta) quando o tiverem libertado dessa multidão de impostos, desse cardume de recebedores que o humilham e oprimem; quando inúmeros monopólios não mais encadearem sua atividade; quando o preço das mercadorias que lhe trazem não mais for duplicado pelas taxas que andam sobrecarregadas; quando os seus produtos não pagarem mais direitos ou não os pagarem mais avultados que os dos seus concorrentes; quando as suas comunicações com as outras possessões nacionais se virem desembaraçadas dos entraves que as restringem...”.

Guillaume-Thomas Raynal, conhecido como Abade Raynal,

Histoire philosophique et politique des établissements et du commerce des européens dans les deux Indes (Amsterdam, 1770);

Apud Manuel de Oliveira Lima, D. João VI no Brasil (3a. ed.; Rio de Janeiro: Topbooks, 1996), p. 58-59. 



Orbis Universalis, mapa de Jerônimo Marini (1512) - Arquivo Histórico Diplomático do Itamaraty

 

Orbis Universalis, 1512


Reprodução do fac-simile existente na mapoteca do Ministério das Relações Exteriores, situada no Arquivo Histórico Diplomático, no Rio de Janeiro.

O mapa-mundi do veneziano Jerônimo Marini, de 1512, é a primeira carta onde aparece o nome Brasil para designar as terras até então conhecidas como de Vera Cruz, Santa Cruz, dos papagaios ou ‘del brazille’. 

Desenhado em pergaminho, é um dos poucos mapas manuscritos do início do século 16 hoje existentes. Está de cabeça para baixo, pois, por influência dos costumes árabes, ele é orientado pelo sul. A Palestina, onde há um presépio, é colocada no centro da Terra, conforme a tradição medieval. 

O mapa apresenta os defeitos da época, como a representação errada da Inglaterra. Por outro lado, é inovador quanto à colocação mais exata da Escandinávia e da península de Malaca. A obra de Marini, cujo original está na Libreria Antiquari Pio Luzzeti, em Roma, é de grande importância na história geral da cartografia, pois documenta a concepção veneziana do mundo que ainda estava sendo descoberto. 

O Equador, embora passando ao sul de Gibraltar, corta o Mediterrâneo, ainda considerado, como na Idade Média, o eixo das terras habitadas. É, também, característica veneziana a presença maciça das regiões asiáticas, pólos de atração da época. Da América, vê-se apenas a costa oriental, com destaque para o Brasil. 

Em torno do mapa estão alegorias representando o Sol, a Lua, as estrelas e os ventos. Nos extremos oriental e ocidental, duas esfinges simbolizam os mistérios do mundo, que só mais tarde Fernão de Magalhães decifraria.

Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/mapa83.htm

Imagem: http://www.dissonancia.com/2006/77-06-008.jpg


segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Lula mira no G20 após entraves na América Latina - Eliane Oliveira (O Globo)

 Lula mira no G20 após entraves na América Latina 

Eliane Oliveira
O Globo, 8/01/2024

No primeiro ano do terceiro mandato, presidente resgata imagem do Brasil no exterior, mas sofre revés na integração da América do Sul; atuação na presidência do grupo de maiores economias do mundo será prioridade em 2024, dizem analistas.

Em 2023, afirmam especialistas ouvidos pelo GLOBO, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu tirar o Brasil da condição de pária internacional e levar o país de volta aos grandes debates da agenda mundial, como prometido durante a campanha. A diplomacia voltada para a América Latina, no entanto, não saiu como esperado. 

Sem sucesso em seu projeto de integração sul-americana, Lula terá agora que intensificar seus esforços em uma região cada vez mais dividida em 2024, ano em que o governo estará concentrado na presidência do G20, grupo formado pelas maiores economias do planeta. Ainda no começo de 2023, Lula tentou ressuscitar a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), abolida no governo do então presidente Jair Bolsonaro. Promoveu, em maio, uma reunião de líderes da região em Brasília, mas, sem receptividade nem entre os governantes de esquerda, teve de desistir da ideia.

 Durante a cúpula, Lula dedicou tratamento diferenciado ao presidente venezuelano, Nicolás Maduro — aposta que também não deu certo. O chefe de Estado brasileiro causou polêmica à época ao declarar que as denúncias de desrespeito aos direitos humanos na Venezuela eram uma questão de “narrativa”. Atraiu críticas até mesmo de governos de esquerda na região, como o do chileno Gabriel Boric. Fator Milei Meses depois, foi apanhado de surpresa pela ameaça de Maduro de invadir a região do Essequibo, na Guiana, rica em petróleo — confronto que, caso saia da retórica, atinge diretamente o Brasil.  
Para dificultar ainda mais seu empenho na América do Sul, o economista ultradireitista Javier Milei, amigo da família Bolsonaro e que atacou duramente o presidente brasileiro durante a campanha, foi eleito na Argentina. Lula e Milei não se falam, mas a diplomacia dos países trabalha por uma boa relação. — Como se fosse pouco, a vitória de Milei e sua anunciada aproximação com os Estados Unidos subtrai de Lula seu principal trunfo diplomático no continente como interlocutor privilegiado e partícipe da mesma visão de mundo — afirma o ex-ministro da Fazenda e do Meio Ambiente Rubens Ricupero, que chefiou as embaixadas do Brasil na Itália e nos EUA. 

 Ricupero cita, ainda, como fatores complicadores, o fato de o 
Chile não ter conseguido adotar uma nova Constituição, após dois referendos; o Peru seguir mergulhado em aguda instabilidade política; e a Colômbia, parceiro incontornável na Amazônia, ter-se convertido em promotora da tese de proibição da prospecção petrolífera na região, posição oposta à brasileira. — Parece natural, assim, que o eixo de prioridades da política exterior de Lula se desloque da América do Sul e dos problemas intratáveis da guerra da Ucrânia e da Faixa de Gaza [foco do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas] para a ênfase no desafio de presidir o G20 e preparar sua grande reunião de cúpula no Rio em novembro de 2024. O diplomata reconhece, no entanto, que as prioridades de política externa definidas por Lula dominaram boa parte deste primeiro ano de governo. Segundo ele, pode-se dizer que algumas “foram finalizadas”, entre elas a de se garantir em pouco tempo que o Brasil estivesse de volta ao cenário mundial “como ator de primeira linha”. 

 — A expressão visível do atendimento dessas prioridades consistiu na rápida sucessão de viagens ao exterior: Buenos Aires, Montevidéu, Washington, Pequim, Lisboa, Bruxelas, além de visitas expressivas ao Brasil de personalidades como o chanceler alemão [Olaf Scholz], a presidente da União Europeia [Ursula von der Leyen] e altos funcionários americanos. A precondição para viabilizar tudo isso foram as profundas medidas internas de combate ao desmatamento e ao garimpo ilegal na Amazônia, a decisão de realizar em Belém a COP30 [Conferência Mundial sobre o Clima, em 2025], e a política em relação aos povos indígenas e aos direitos humanos. Creio que toda essa parte do programa foi concluída. Reposicionamento Marcos Caramuru, conselheiro do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e ex-embaixador na China e na Malásia, concorda que é preciso melhorar a coordenação dos países da América do Sul, num contexto de governos com diferentes orientações ideológicas e baixa capacidade de diálogo. 

Mas avalia que, em cenário em que as lideranças mundiais reconhecidas estão perdendo espaço e diversos países se posicionando de forma independente no quadro internacional, novas oportunidades se abrem. — O Brasil, que parecia haver desistido de ocupar um espaço próprio no cenário mundial, soube se reposicionar como ator visível e atuante. Em alguns momentos, a política externa alimentou a ambição de interferir em questões que não podemos resolver, o que não obscurece os acertos. Para Dawisson Lopes, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais, Lula cumpriu objetivos estabelecidos na transição: o Brasil retornou ao cenário internacional, participou de mesas negociadoras na América Latina e ao redor do mundo, e tem sido um articulador em temas como a governança ambiental. Lopes também cita o pagamento das dívidas com organismos internacionais e a volta do Brasil à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). E afirma que o mais importante está por vir: a atuação brasileira na presidência do G20. Nesse quesito, Lula busca agenda consensual: a luta contra a fome e a desigualdade; o combate ao aquecimento global e a reforma do sistema internacional.

 — O primeiro ano foi um ensaio para o que virá na política externa. É natural que alguns objetivos ainda não tenham sido atingidos, como a normalização democrática na Venezuela — diz o acadêmico. Principal formulador da diplomacia presidencial, o assessor para Assuntos Internacionais de Lula, Celso Amorim, confirma que o esforço de integração da América do Sul é prioridade. E destaca a presidência do G20 — o mandato do Brasil vai até novembro —, a preparação para a COP30, a aproximação com a África e a administração de impactos causados por crises. — O papel do Brasil em ajudar a resolver conflitos é reconhecido internacionalmente — afirma Amorim.