terça-feira, 12 de novembro de 2024

‘Vitória de Trump pode tornar o Brasil mais periférico no comércio global’, diz professor da USP (Yi Shin Tang) - Lílian Cunha O Estado de S. Paulo

Entrevista Estadão Economia

‘Vitória de Trump pode tornar o Brasil mais periférico no comércio global’, diz professor da USP
Para Yi Shin Tang, globalização ficou para trás e o mundo está na era das alianças bilaterais, que deve ser aprofundada com o novo presidente dos EUA
Lílian Cunha
O Estado de S. Paulo, 11/11/2024 | 09h30
Entrevista comYi Shin TangProfessor de Relações Internacionais da USP
Há um esgotamento do modelo comercial que prevaleceu desde o começo dos anos 1990 e perdurou até o fim dos anos 2010, a chamada globalização. É o que diz Yi Shin Tang, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em comércio internacional e políticas antitruste, entre outros temas.
“Havia, nos anos 90, a ideia de comércio internacional como fator de estabilização política. E a estabilização política também como um fator de aumento do comércio global. As coisas estão se invertendo um pouco agora. E esse esgotamento está sobretudo na ideia de que o comércio não está trazendo os benefícios esperados. Tanto para quem promovia essa agenda como para aqueles que seguiram mais recentemente nesse movimento”, diz.
As duas grandes potências mundiais - Estados Unidos e China - agora passam por cima dos blocos de comércio para realizar alianças bilaterais em que o mais forte sempre é uma das duas nações. Com a vitória de Donald Trump nos EUA, o comércio mundial vai enfrentar ainda mais protecionismo segundo ele.
Yi Shin Tang será um dos participantes do Fórum Estadão Think — Do Brasil para o mundo: Desafios para a nossa inserção global, uma realização do Estadão, com apoio institucional da Fiesp, do Ciesp, da Firjan e da CNI. O evento ocorre nesta terça-feira, 12, no salão nobre da Fiesp. As inscrições podem ser feitas aqui.
Veja a seguir os principais pontos da entrevista:
As pessoas ainda concordam quando dizem que vivemos em um mundo globalizado. Mas o que vem mudando em relação ao comércio global?
Na década de 90, o período exatamente após a Guerra Fria, entendia-se que por meio de maior integração econômica e maior integração do comércio internacional se chegaria a um efeito democratizador. Então países que estavam em processo de transição democrática, como os do bloco soviético, e os menos desenvolvidos, se fizessem parte de uma integração comercial e econômica, teriam uma oportunidade de se tornarem mais democráticos. Sabe a imagem da cenoura e do cavalo? Era como se os países desenvolvidos dissessem: “Vamos dar a eles uma cenoura chamada crescimento econômico e acesso aos nossos mercados e, por consequência, vamos exigir deles que adotem instituições mais democráticas.” Isso aconteceu com países da América Latina, Ásia, África e Oriente. Eles passaram a aderir às instituições de integração econômica, ao sistema da Organização Mundial do Comércio (OMC), por exemplo. E o mundo, assim, foi caminhando. Até que houve um grande ponto fora dessa curva: a China. Foram os Estados Unidos que levaram a China para dentro do sistema da OMC. Isso aconteceu naquele cenário de ressaca do Massacre da Praça da Paz Celestial, que aconteceu na China no fim da década de 80. Houve grande pressão do bloco ocidental sobre a China para ela de fato se integrar ao mundo ocidental. E a premissa era que isso ia fazer o país se democratizar.
E a China se beneficiou muito disso… Qual foi o problema?
Sim, ela passou a ser cada vez mais um grande exportador do comércio internacional. Qual foi o grande problema? Ela não se conformou com as instituições ocidentais. Ela passou também a moldar as instituições do comércio internacional, influenciando as regras nesse comércio global. O feitiço se vira contra o feiticeiro, os Estados Unidos, porque ela passou a ser o grande rival dos americanos em termos de comércio global, uma ameaça. A indústria doméstica americana começou a ficar extremamente preocupada com a invasão de produtos chineses. Na Europa foi a mesma coisa. E aí os países ocidentais passaram a adotar medidas cada vez mais protecionistas.

E isso se acentuou mais ainda depois da pandemia, certo?
Sim, o livre comércio está sendo visto como uma ameaça à própria estabilidade interna de diversos Estados. E isso leva cada vez mais a uma fragmentação e uma fragilização do comércio global e das instituições. E a OMC passou a ser um sistema extremamente esgotado. Os Estados Unidos se recusam a validar a nomeação desses árbitros (da OMC), então é um é um órgão que não tem mais tomadores de decisões...
Então, em vez de blocos de vários países para comércio livre, como o Mercosul, a União Europeia, passamos a ter outra configuração?
Sim, bilaterais. Os Estados Unidos, para preservar seu espaço de poder, ele passa a estimular acordos bilaterais, com diferentes estados. E isso traz uma vantagem de negociação. Um Estados Unidos conversar com uma Argentina, com um Chile, Uruguai, bilateralmente, nessa relação, os americanos têm muito mais poder de barganha do que se tratasse com um bloco. E a China também faz a mesma coisa, por exemplo, com países africanos.
E o Brasil, onde fica nesse cenário?
O Brasil sempre optou pela diplomacia neutra, certo? Sempre com uma premissa de negociação acima de tudo. E de não alinhamento automático às diversas potências e hegemonias que existem pelo mundo. Só que esse é um modelo que vem se esgotando, que tem encontrado limitações importantes. Essas potências têm exigido também certa exclusividade. Com a vitória de Donald Trump nos EUA, a política dele é muito clara: privilegiar a América, muito protecionismo e alianças só com parceiros tradicionais. Isso pode trazer uma maior “periferização” para o Brasil.
Pelo fato de o governo aqui ser de esquerda? E se isso mudar nas próximas eleições?
Não acredito que mude muita coisa. No passado o Brasil tinha um alinhamento ideológico com Trump e essa aliança não aconteceu efetivamente. Quando houve o governo Trump e de Jair Bolsonaro simultaneamente havia um discurso ideológico afinado mas, claramente, não havia benefícios comerciais. Na verdade, o mundo todo vai sentir essa onda protecionista dos EUA. O Brasil por ser um país com menor peso econômico global, pode sentir ainda mais e se tornar mais dependente de outros mercados, como a China.
O que o Brasil perde se continuar com essa linha de neutralidade?
O Brasil perde com isso a oportunidade de aprofundamento das relações com esses países. E, muitas vezes, ele pode ser um país que pode, em vez de agradar todo mundo, conseguir o contrário. O Brasil, por exemplo, tem elevado tarifas de importação de diversos produtos chineses, não só a taxa das blusinhas. Acontece isso na indústria do aço, na de químicos. E isso é uma medida que, por princípio, desagrada o Estado chinês.
E as guerras e conflitos armados, como afetam o comércio global?
A posição dos Estados Unidos agora vai se tornar cada vez mais, digamos, doméstica. Cada vez mais fechado em si mesmo. A China vê isso como uma oportunidade de ampliar sua agenda expansionista em relação a Taiwan. Então, esses conflitos tendem a se aprofundar diante das limitações das instituições internacionais. Qual é a consequência sobre o comércio global? Maior instabilidade. Se há um aprofundamento dessa divisão entre Rússia e bloco ocidental, ou o comércio vai começar a se desenhar em torno dessa divisão, ou a União Europeia vai começar a fechar seus mercados para aliados da Rússia. E os russos vão começar a aprofundar suas relações comerciais com quem tenha uma agenda, digamos, neutra em relação a essa agenda expansionista deles. Por isso o governo brasileiro foi extremamente cuidadoso em criticar a posição da Rússia em relação à Ucrânia. Porque a Rússia tem uma posição importantíssima para o Brasil, com a venda para nós de um insumo fundamental, os fertilizantes. Então, muitas vezes os interesses comerciais moldam o discurso, a posição geopolítica dos Estados.
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Artigos publicados no Estadão, 1984-2014 - Paulo Roberto de Almeida

Artigos publicados no Estadão, 1984-2014

 

Paulo Roberto de Almeida

Lista dos trabalhos publicados no Estadão

 

089. “A Democracia Brasileira discutida na Universidade de Bruxelas”, Belgrado, 12 agosto 1984, 1 p. Texto de apresentação geral da Tese e informativo sobre sua defesa, para divulgação pela imprensa. Notas e inserções foram publicadas nos jornais Zero Hora (Porto Alegre: 08/09/1984, p. 3), Folha de São Paulo (12/09/1984) e O Estado de S. Paulo (09/10/1984, p. 43).

 

140. “O Estado do Progresso e o Progresso do Estado: desenvolvimento e democracia em perspectiva histórica”, Brasília, 13 dezembro 1986, 12 p. Digressão sobre a natureza do progresso e o papel do Estado na mudança social. Publicado no suplemento cultural do jornal O Estado de S. Paulo, semanário Cultura (São Paulo, Ano VII, n. 382, 24/10/87, p. 8-9). Relação de Publicados n. 044.

 

450. “O Paradoxo dos 4 ‘d’s”, Paris, 23 agosto 1994, 2 p. Artigo com base em notícias econômicas sobre desigualdade, desemprego e desequilíbrio em outros países. Encaminhado por Alberto Tamer. Publicado, sob o título “Crescimento nem sempre é tudo”, em O Estado de S. Paulo (11 setembro 1994, p. 2). Divulgado no blog Diplomatizzando (29/12/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/12/crescimento-nem-sempre-e-tudo-o-enigma.html). Relação de Publicados n. 160.

 

465. “O Estado da Nação no Limiar de um Novo Governo”, Paris, 8 dezembro 1994, 4 p. Artigo jornalístico sobre a agenda de temas do próximo Governo, nas frentes interna e externa. Publicado, sob o título de “No Limiar do Novo Governo”, em O Estado de S. Paulo (19/12/1994, p. 2). Divulgado no blog Diplomatizzando (30/12/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/12/o-estado-da-nacao-no-limiar-de-um-novo.html). Relação de Publicados n. 171.

 

469. “A agenda internacional do Governo FHC em 1995”, Paris, 20 dezembro 1994, 4 p. Artigo sobre os temas de política externa do novo governo. Publicado no O Estado de S. Paulo (Sábado, 07/01/1995, p. 2). Divulgado no blog Diplomatizzando (30/12/2020; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/12/a-agenda-internacional-do-governo-fhc.html). Relação de Publicados n. 173.

 

505. “Mercosul e União Europeia: da cooperação à associação”, São Paulo, 3 dezembro 1995, 3 p. Resumo, em português, do trabalho n° 501. Publicado na página de “Opinião” do Caderno de Economia do jornal O Estado de S. Paulo (14.12.95, p. B-2). Relação de Publicados n. 185.

 

681. “A inserção internacional do Brasil”, Brasília, 11 maio 1999, 2 p. Resenha de livro: Paulo Roberto de Almeida: O Brasil e o multilateralismo econômico (Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1999, 328 p.). Publicado, com pequenas mudanças, por Alberto Tamer, n’O Estado de S. Paulo (dia 28.06.99, caderno de Economia).

 

759. “O Fim do Brasilianista?”, Washington, 7 dez. 2000, 3 p. Artigo de caráter jornalístico sobre o seminário de estudos brasileiros nos EUA, realizado na Embaixada nos dias 2 e 3 de dezembro. Publicado [RAB] no jornal O Estado de S. Paulo, em 12.12.00. Publicado em versão revista em Network (Rio de Janeiro: Centro de Estudos das Américas, UCAM: v. 9, n. 4, out/dez. 2000, p. 1-2).

 

788. “Mr. Gordon e o Brazil”, Washington, 3 mai. 2001, 5 p. Resenha do livro de Lincoln Gordon: Brazil’s Second Chance: En Route toward the First World (Washington, D.C.: Brookings Institution Press, 2001). Publicado em versão abreviada no O Estado de S. Paulo (Domingo, 10.06.01, Caderno 2: Cultura).

 

815. “O candidato do PT e a loucura agrícola europeia”, Washington, 5 out. 2001, 4 p. Resposta a certos argumentos do candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva justificando e defendendo a política agrícola europeia. Circulado de forma restrita, reelaborado em 5/10/2001 e publicado em O Estado de S. Paulo, 9/10/2001. Post-Scriptum em 13/10/2001, no seguimento de novas declarações do candidato do PT em defesa de suas posições em matéria de política agrícola. Relação de Publicados n. 288.

 

854. “A esquerda jurássica marca encontro em Porto Alegre”, Washington, 24 jan. 2002, 3 p. Artigo sobre o próximo encontro do Foro Social Mundial, em Porto Alegre, alternativo ao Foro Econômico Mundial, antecipando algumas conclusões. Publicado n’O Estado de S. Paulo (Sábado, 26 jan. 2002, seção “Espaço Aberto). Motivou aplicação da “lei da mordaça” pelo Itamaraty. Relação de publicados n. 309.

 

906. “Dez coisas que eu faria se tivesse poder (licença poética imaginária, mas justificada em uma fase pré-eleitoral)”, Charlottetown (Ilha do Príncipe Edward, Províncias Atlânticas do Canadá), 1º e 2 de jun. de 2002, 9 p. Lista de mudanças a serem implementadas por um governo com orientação social-reformista. Publicado no painel “Artigo do Leitor” de O Estado de S. Paulo on-line (23/07/2002).

 

938. “Carta Aberta ao Próximo Presidente: (qualquer que seja ele)”, Washington, 31 ago. 2002, 10 p. Ensaio em forma de recomendações ao vencedor das eleições presidenciais de outubro, com argumentos de natureza econômica, política e social. Publicado no O Estado de S. Paulo (versão eletrônica do jornal, seção “Artigo do Leitor”, 1 set. 2002).

 

974. “Seminário de Estudos Brasileiros nos Estados Unidos: a Embaixada em Washington homenageia brasilianistas famosos”, Washington, 25 out. 2002, 3 p. Artigo para Emb. Rubens A. Barbosa, sobre a homenagem aos brasilianistas. Publicado no jornal O Estado de S. Paulo.

 

1333. “O que Roberto Campos estaria pensando da política econômica?”, Brasília, 30 set. 2004, 4 p. Ensaio colocando RC em conversa com Keynes, Hayek e Marx, no limbo, a propósito do terceiro ano de sua morte. Preparada versão reduzida, sob o título de “O que Roberto Campos pensaria da política econômica”, publicada no O Estado de S. Paulo (sábado, 9/10/2004, caderno Econômico, p. B2). 

 

1577. “O americano cordial: Thomas Skidmore e a história do Brasil”, Brasília, 14 abril 2006, 1 p. Nota em homenagem ao conhecido brasilianista, para ilustrar matéria do jornal O Estado de S. Paulo sobre o historiador, que está sendo homenageado em uma conferência exclusiva na Brown University. 

 

1603. “Uma nova ‘arquitetura’ diplomática? Interpretações divergentes sobre a política externa do Governo Lula (2003-2006)”, Brasília, 19 maio 2006, 24 p. Artigo de revisão bibliográfica sobre a diplomacia do governo Lula. Preparada versão resumida, sob o título de “Fim de consenso na diplomacia?” (Brasília, 22 outubro 2006, 2 p.), para fins de publicação na imprensa. Aproveitado para artigo histórico (2003) sobre a diplomacia brasileira para o caderno Aliás, do jornal O Estado de S. Paulo (em maio de 2009).

 

1686. “Os BRICs e a economia mundial: Algumas questões de atualidade”, Brasília, 13 novembro 2006, 3 p. Entrevista concedida ao jornalista Lourival Sant’Ana, do jornal O Estado de S. Paulo, no Rio de Janeiro, em 9 de novembro de 2006 (link no blog Diplomatizzando: https://diplomatizzando.blogspot.com/2019/11/o-bric-e-economia-mundial-2006-paulo.html). Publicado em outro formato n’O Estado de S. Paulo em 04/12/2006, caderno Economia, pág. B7, sob o título “O Bric é só um exercício intelectual” (link na base de dados do Senado: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/323704/noticia.htm?sequence=1&isAllowed=y). Entrevista foi objeto de editorial do jornal em 5.12.06, sob o título “Atraso made in Brazil” (link na base de dados do Senado: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/324077/noticia.htm?sequence=1&isAllowed=y; link no blog Diplomatizzando: https://diplomatizzando.blogspot.com/2023/06/atraso-made-in-brazil-editorial-o.html). 

 

2543. “Por uma Fronda Empresarial Brasileira”, Hartford, 8 Dezembro 2013, 2 p. Artigo em colaboração com o acadêmico e diplomata Paulo Fernando Pinheiro Machado. Publicado no jornal O Estado de S. Paulo (ISSN: 1516-2931; 18/12/2013; link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,por-uma-fronda--empresarial-brasileira-,1109902,0.htm). Comentário do leitor Mário Rubens Costa (costamar31@terra.com.br), no Fórum dos Leitores do jornal OESP. 

 

2563. “Verdades que não podem ser definitivas”, Hartford, 31 janeiro 2014, 3 p. Retomada do trabalho 1632. Publicado no jornal O Estado de S. Paulo (ISSN: 1516-2931; 18/02/2014; link: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,verdades-que-nao-podem-ser-definitivas,1131507,0.htm). 

 

2625. “A Magna Carta completa 800 anos: alguma lição para o Brasil?”, Hartford, 8 julho 2014, 2 p. Considerações sobre o significado da Magna Carta para o Brasil. Ampliado e publicado no jornal O Estado de S. Paulo sob o título de “Os 800 anos da Magna Carta” (ISSN: 1516-2931; 14/07/2014; link: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-800-anos-da-magna-carta-imp-,1528314). Relação de Publicados n. 1135. 

 

Brasília, 11/11/2024



segunda-feira, 11 de novembro de 2024

Dilma gastou mais que Bolsonaro para tentar se reeleger (O Globo)

 Dilma gastou mais que Bolsonaro para tentar se reeleger

Estudo estima as despesas dela em 3,1% do PIB e as dele em 0,2% — mas ambos recorreram a gastos ocultos

O Globo, 11/11/2024

 

O Brasil tem um longo e problemático histórico de incúria fiscal em anos eleitorais. Tanto Dilma Rousseff quanto Jair Bolsonaro, apesar das diferenças ideológicas, recorreram a gastos eleitoreiros em suas respectivas tentativas de reeleição. Ambos adotaram mecanismos de contabilidade criativa para ocultar despesas. Mas um olhar atento revela diferenças, constata um novo estudo dos economistas Alexandre Manoel, Marcos Lisboa, Marcos Mendes e Samuel Pessôa, recém-publicado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

Para comparar os gastos, eles estimaram a variação entre os dois primeiros e os dois últimos anos de cada mandato. Constataram que, na tentativa de reeleição de Dilma em 2014, sua administração aumentara as despesas primárias em 1,4% do PIB. A maior extensão da prodigalidade fiscal, porém, ficou oculta. Pelos cálculos dos economistas, Dilma ainda acumulou 1,7% adicional do PIB em “gastos encobertos”, como adiamento de despesas para o próximo governo (restos a pagar) e manipulação da contabilidade das empresas estatais. Ao todo, entre o visível e o oculto, Dilma gastou 3,1% do PIB para se reeleger.

Bolsonaro adotou estratégia diferente em 2022. Em sua gestão, houve redução de 0,7% nos gastos primários visíveis, comparando o biênio 2021-2022 ao 2019-2020. Em contrapartida, ele também recorreu a “gastos encobertos” estimados em 0,9% do PIB. Isso inclui o atraso de pagamentos de precatórios no valor de R$ 27,2 bilhões ao longo de quatro anos e o aumento do estoque de contas não pagas em R$ 65,5 bilhões. Uma diferença crucial emerge na comparação: enquanto, sob Dilma, as despesas adicionais visíveis e ocultas atingiram 3,1% do PIB, sob Bolsonaro ficaram em apenas 0,2%.

Houve outra diferença crítica: a intervenção no mercado de câmbio. O governo Dilma, sem Banco Central (BC) independente, sustentou artificialmente o real antes da eleição de 2014, aumentando o estoque de contratos cambiais de zero para 4% do PIB entre 2013 e o terceiro trimestre de 2014, quando o déficit em conta-corrente comprovava a necessidade de desvalorização. Essa intervenção se revelou insustentável e prejudicou a economia. Em contraste, Bolsonaro se beneficiou da independência do BC, aprovada em 2021. Seu governo não se envolveu em manipulação cambial. A evolução institucional impôs uma restrição crucial ao populismo em ano eleitoral.

É verdade que é difícil definir com precisão gastos eleitorais. Para garantir uma comparação justa, os economistas exploraram vários ajustes nos cálculos, considerando fatores como subsídios aos combustíveis, incentivos fiscais, o ciclo econômico e diferentes classificações para as contas não pagas. Mesmo após aplicar os ajustes mais favoráveis a Dilma, concluem que os gastos dela antes da eleição superaram os de Bolsonaro.

Ambas as gestões priorizaram ganhos políticos de curto prazo em detrimento da estabilidade no longo prazo. Tanto Dilma quanto Bolsonaro exploraram fraquezas institucionais para manipular a política fiscal. O estudo revela a necessidade de maior transparência e de mecanismos de supervisão mais fortes para evitar a exploração de “gastos encobertos” à margem das regras fiscais, também frequentes agora, no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

 

Dicas para os candidatos à carreira diplomática - Curso Sapientia

Recebido em 11/11/2024:

 Muitos candidatos cometem erros que prejudicam suas chances de aprovação.

Neste artigo, listamos os 10 erros mais comuns na preparação para o CACD e oferecemos dicas práticas para que você possa evitá-los e otimizar seus estudos.

  1. Começar a estudar apenas após a publicação do edital

Muitos candidatos só começam a estudar depois que o edital é publicado, o que deixa pouco tempo para assimilar todo o conteúdo e se preparar adequadamente. É fundamental que você assimile o quanto antes o fato de que a aprovação para a carreira de diplomata é uma jornada que deve ser levada a sério. 

Logo, a preparação para o CACD exige estudo constante e de longo prazo. O ideal é iniciar os estudos com bastante antecedência, estruturando uma rotina de aprendizado mesmo antes do lançamento do edital. Com isso, você já terá uma base sólida nas disciplinas cobradas e poderá focar em revisar e intensificar os estudos quando o edital for publicado.

  1. Falta de planejamento de estudos

Sem um planejamento detalhado, é fácil se perder entre tantas disciplinas e temas. Estudar sem um plano claro pode resultar em horas desperdiçadas e lacunas no conhecimento.

Por isso, crie um plano de estudos que abranja todas as matérias do concurso. Divida o conteúdo de acordo com o tempo que você tem disponível e revise o planejamento semanalmente para garantir que está conseguindo cumprir as metas. Inclua no plano momentos de revisão e prática de provas anteriores, essenciais para consolidar o aprendizado.

  1. Negligenciar o estudo de Línguas Estrangeiras

É raro, mas acontece sempre. Muitos candidatos deixam o estudo de línguas estrangeiras, como inglês, espanhol e francês, para o último momento, subestimando o tempo necessário para alcançar um nível adequado de conhecimento para o uso instrumental.

10 em 10 candidatos aprovados recomendam que o estudo de idiomas seja parte da rotina desde o início da preparação. Comece com o inglês, que tem maior peso, e, gradualmente, acrescente o espanhol e o francês ao seu plano de estudos. Dedicar um tempo diário ou semanal para a prática de leitura, escrita e interpretação de textos nessas línguas fará uma grande diferença.

  1. Ignorar a prática de exercícios e simulados

A prática de exercícios e simulados é essencial para testar o conhecimento e se familiarizar com o estilo da prova. Muitos candidatos focam apenas na teoria e negligenciam essa parte crucial.

Assim, incorpore a resolução de questões e simulados ao seu planejamento desde o início. Além de revisar o conteúdo, essa prática ajuda a desenvolver agilidade e a identificar pontos fracos. Reserve um tempo semanal para resolver questões de provas anteriores e simulados completos, simulando as condições reais do exame.

  1. Não revisar o conteúdo regularmente

É comum estudar um tema e nunca mais revisá-lo, o que leva ao esquecimento gradual das informações. A falta de revisões periódicas dificulta a fixação do conteúdo.

Utilize técnicas de revisão espaçada para reforçar o aprendizado. Faça anotações de resumos ou mapas mentais e reveja-os periodicamente. Uma boa prática é realizar revisões semanais e mensais do conteúdo estudado, focando especialmente nos temas mais desafiadores.

  1. Estudar apenas uma fonte de material

Limitar-se a uma única fonte de material ou apostila reduz a profundidade do conhecimento e pode deixar lacunas, uma vez que o CACD abrange uma variedade extensa de conteúdos.

Diversifique suas fontes de estudo. Combine livros, fragmentos de livros, apostilas, vídeo aulas, artigos acadêmicos e materiais de revisão. Consultar diferentes autores e perspectivas enriquece o entendimento dos temas e prepara melhor o candidato para o nível de exigência da prova.

  1. Desconsiderar a importância da redação

Não subestime a importância da redação. Muitos candidatos focam apenas nas provas objetivas, esquecendo que a capacidade de expressão escrita é essencial para a aprovação.

Já você vai praticar redação semanalmente, abordando temas variados. Escrever sobre tópicos de política internacional, economia e cultura brasileira, entre outros, ajuda a desenvolver um estilo claro e coeso. Peça para que um professor ou colega revise suas redações, dando feedback sobre pontos de melhoria.

  1. Não adaptar a estratégia de estudo conforme o progresso

Seguir o mesmo plano de estudo por meses sem ajustes pode ser ineficaz, pois as necessidades de aprendizado mudam ao longo da preparação.

É ideal que você, periodicamente, avalie seu progresso e ajuste o plano de estudos conforme necessário. Se perceber que já domina certo conteúdo, redirecione o foco para temas que ainda precisa aprofundar. Flexibilidade é essencial para garantir que o estudo continue eficiente.

  1. Não controlar a ansiedade e o stress

A pressão e o alto volume de estudo podem gerar ansiedade e estresse, prejudicando o desempenho do candidato. Esse é um erro comum, especialmente próximo das provas.

Como evitar: Inclua pausas e atividades de lazer na rotina de estudos. Técnicas de relaxamento, como meditação e exercícios físicos, são aliadas no controle do estresse. Manter uma mente equilibrada é tão importante quanto o conteúdo técnico na preparação para o CACD.

  1. Não acompanhar atualizações e notícias de política internacional

A prova de Política Internacional exige conhecimento atualizado dos principais acontecimentos globais. Muitos candidatos ignoram essa parte e perdem pontos importantes.

Leia jornais, revistas e portais de notícias confiáveis para se manter informado. Além disso, acompanhe análises e artigos especializados para entender o contexto e os desdobramentos dos eventos internacionais. Essa prática não só amplia o conhecimento, como também enriquece a argumentação em questões discursivas.

Copyright: Curso Sapientia

Eleitores para Elites: Você me vê agora? - David Brooks (New York Times)

Eleitores para Elites: Você me vê agora?

Por David Brooks, New York Times – 06/11/2024

 

Entramos em uma nova era política. Nos últimos 40 anos, mais ou menos, vivemos na era da informação. Nós, da classe educada, decidimos, com alguma justificativa, que a economia pós-industrial seria construída por pessoas como nós, então adaptamos as políticas sociais para atender às nossas necessidades.

 

Nossa política educacional empurrou as pessoas para o curso que seguimos — faculdades de quatro anos para que elas se qualificassem para os “empregos do futuro”. Enquanto isso, o treinamento vocacional murchou. Adotamos uma política de livre comércio que transferiu empregos industriais para países de salário baixos no exterior para que pudéssemos concentrar nossas energias em empresas de economia do conhecimento administradas por pessoas com diplomas avançados. O setor financeiro e de consultoria cresceu rapidamente, enquanto o emprego na indústria encolheu.

 

A geografia não tinha importância — se o capital e a mão de obra altamente qualificada quisessem se aglomerar em Austin, São Francisco e Washington, não importava realmente o que acontecesse com todas as outras comunidades deixadas para trás. As políticas de imigração deram às pessoas altamente educadas acesso a mão de obra barata, enquanto os trabalhadores menos qualificados enfrentavam uma nova competição. Mudamos para tecnologias verdes favorecidas por pessoas que trabalham em pixels, e desfavorecemos pessoas na indústria e no transporte cujos meios de subsistência dependem de combustíveis fósseis.

 

Aquele grande barulho de sucção que a eleição fez foi o da redistribuição de respeito. Pessoas que subiram na escada acadêmica foram homenageadas com elogios, enquanto aquelas que não subiram foram tornadas invisíveis. A situação era particularmente difícil para os meninos. No ensino médio, dois terços dos 10% melhores da classe são meninas, enquanto cerca de dois terços dos alunos no decil inferior são meninos. As escolas não são criadas para o sucesso masculino; isso tem consequências pessoais e nacionais ao longo da vida.

 

A sociedade funcionava como um vasto sistema de segregação, elevando os academicamente talentosos acima de todos os outros. Em pouco tempo, a divisão de diplomas se tornou o abismo mais importante na vida americana. Graduados do ensino médio morrem nove anos antes das pessoas com ensino superior. Eles morrem de overdoses de opioides em uma taxa seis vezes maior. Eles se casam menos e se divorciam mais e são mais propensos a ter um filho fora do casamento. Eles são mais propensos a serem obesos.

 

Um estudo recente do American Enterprise Institute descobriu que 24% das pessoas que se formaram no ensino médio, no máximo, não têm amigos próximos. Eles são menos propensos do que graduados da faculdade a visitar espaços públicos ou se juntar a grupos comunitários e ligas esportivas. Eles não falam no jargão correto de justiça social ou mantêm o tipo de crenças de luxo que são marcas registradas de virtude pública.

 

Esses abismos levaram à perda de fé, à perda de confiança, a uma sensação de traição. Nove dias antes das eleições, visitei uma igreja cristã no Tennessee. O culto foi iluminado por uma fé genuína, é verdade, mas também por uma atmosfera corrosiva de amargura, agressão e traição. Enquanto o pastor falava sobre os Judas que buscam nos destruir, a frase “mundo sombrio” surgiu na minha cabeça — uma imagem de um povo que se sente vivendo sob constante ameaça e em uma cultura de extrema desconfiança. Essas pessoas, e muitos outros americanos, não estavam interessados na política de alegria que Kamala Harris e os outros formandos em direito estavam oferecendo.

 

O Partido Democrata tem uma função: combater a desigualdade. Mas havia um grande abismo de desigualdade bem diante de seus narizes e, de alguma forma, muitos democratas não o viam. Muitos na esquerda se concentraram na desigualdade racial, desigualdade de gênero e desigualdade L.G.B.T.Q. Acho que é difícil focar na desigualdade de classes quando você foi para uma faculdade multibilionária e faz seminários sobre greenwashing ambiental e diversidade para grandes corporações. Donald Trump é um narcisista monstruoso, mas há algo estranho em uma classe educada que olha no espelho da sociedade e vê apenas a si mesma.

 

Enquanto a esquerda se voltava para a arte performática identitária, Donald Trump entrou na guerra de classes ate o pescoço. Seu ressentimento de homem nascido no Queens pelas elites de Manhattan se encaixou magicamente com a animosidade de classe sentida pela população rural em todo o país. Sua mensagem era simples: essas pessoas traíram você, e elas são idiotas para começar.

 

Em 2024, ele construiu exatamente o que o Partido Democrata tentou construir — uma maioria multirracial da classe trabalhadora. Seu apoio aumentou entre trabalhadores negros e hispânicos. Ele registrou ganhos surpreendentes em lugares como Nova Jersey, Bronx, Chicago, Dallas e Houston. De acordo com as pesquisas de boca de urna da NBC, ele conquistou um terço dos eleitores de cor. Ele é o primeiro republicano a ganhar a maioria dos votos em 20 anos.

 

Os democratas obviamente precisam repensar bastante. O governo Biden tentou cortejar a classe trabalhadora com subsídios e estímulos, mas não há solução econômica para o que é principalmente uma crise de respeito. Haverá alguns na esquerda que dirão que Trump venceu por causa do racismo, sexismo e autoritarismo inerentes ao povo americano. Aparentemente, essas pessoas adoram perder e querem fazer isso de novo e de novo e de novo. O resto de nós precisa olhar para esse resultado com humildade.

 

Os eleitores americanos nem sempre são sábios, mas geralmente são sensatos e têm algo a nos ensinar. Meu pensamento inicial é que preciso reexaminar meus próprios antecedentes. Sou moderado. Gosto quando os candidatos democratas correm para o centro. Mas tenho que confessar que Harris fez isso de forma bastante eficaz e não funcionou. Talvez os democratas tenham que adotar uma disrupção no estilo Bernie Sanders — algo que deixará pessoas como eu desconfortáveis.

 

O Partido Democrata pode fazer isso? O partido das universidades, dos subúrbios ricos e dos núcleos urbanos hipsters pode fazer isso? Bem, Donald Trump sequestrou um partido corporativo, que dificilmente parecia um veículo para a revolta proletária, e fez exatamente isso. Aqueles de nós que condescendem com Trump devem ter humildade — ele fez algo que nenhum de nós poderia fazer.

 

Mas estamos entrando em um período de corredeiras. Trump é um semeador de caos, não de fascismo. Nos próximos anos, uma praga de desordem descerá sobre a América, e talvez o mundo, sacudindo tudo. Se você odeia polarização, espere até experimentarmos a desordem global. Mas no caos há oportunidade para uma nova sociedade e uma nova resposta ao ataque político, econômico e psicológico de Trump. Estes são os tempos que testam as almas das pessoas, e veremos do que somos feitos.

  

Da Moral no Plano Internacional: complemento - Paulo Roberto de Almeida

 No dia 30 de outubro escrevi e publiquei neste meu blog — que eu sempre classifiquei como um “quilombo de resistência intelectual” (e talvez tenha faltado complementar a designação com o acréscimo necessário: resistência contra o quê, exatamente? Bem, contra a indignidade na vida pública e nos assuntos de Estado) — o texto que reproduzo novamente abaixo, por perceber que ele não foi suficientemente explicito em algumas coisas que nos concernem, como país, e que também me concernem pessoalmente, como ex-funcionário da burocracia federal, mais precisamente como diplomata aposentado. Pois complemento agora, em face de novos desafios ao Brasil como nação partícipe das relações internacionais e exibindo uma diplomacia de qualidade, como sempre foi a sua, a minha, durante mais de quatro décadas.

Quando falo de "moral", ou de ética, nos assuntos diplomáticos, nas relações internacionais, sei que estou falando de um tema absolutamente marginal, secundário nas preocupações de operadores da política externa de um país, pois que antes passam os interesses, os mais imediatos ou relevantes que se apresentam. Poucos países renunciam a determinadas vantagens que possam obter nos assuntos externos por considerações de caráter moral ou ético em suas respectivas condutas, mesmo que determinados fatos sejam chocantes, e que mesmo se chocam contra tratados e convenções solenemente firmados, promulgados e supostamente seguidos.

Eu me referia mais concretamente às relações entretidas com um violador sistemático das obrigações internacionais, como é o caso da Rússia de Putin, e deixei a entender que o Brasil, desde Bolsonaro, tem sido leniente e relativamente amoral a esse respeito. Pois bem, sei que o governo Lula, atualmente, apoia objetivamente a Rússia na sua guerra de agressão contra a Ucrânia, por mais que ele e a sua diplomacia aleguem neutralidade nessa grave questão internacional. Repito: o Brasil de Lula despreza seus compromissos derivados da Carta da ONU e continua apoiando uma potência agressora, que pratica terrorismo contra a população civil, que sequestrou crianças e as expediu ilegalmente para a Rússia, que se empenha no mais terrível morticínio contra quem ousou não se submeter à sua vontade, e que continua a destruir sistematicamente o país vizinho.

Não fui suficientemente explícito contra os crimes de guerra perpetrados pelas Forças Armadas de Israel contra a população civil da Faixa de Gaza e agora contra o povo libanês, ambos abrigando, contra a vontade da maioria da população, movimentos terroristas que pretendem destruir Israel e matar o povo judeu.

O governo Lula tem sido bastante eloquente contra Israel, alegando inclusive o crime de genocídio contra o povo palestino – o que ainda precisa ser aferido concretamente pelos órgãos internacionais – e também acredito que o líder Benyamin Netanyahu precisa ser enquadrado como criminoso de guerra, assim como Putin, e demandado pelo TPI para cumprir pena pelos crimes cometidos. Concordo inteiramente com essa postura, menos certos exageros verbais do presidente – como empregar improvisadamente conceitos como nazista ou fascista –, mas acho que sua tolerância para com Putin é absolutamente inaceitável no plano moral. Sei também que meu protesto não terá nenhum efeito no plano prático.

Mas, sinto-me no dever moral de reforçar a mensagem abaixo transcrita.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 11/11/2024


 Da Moral no Plano Internacional 

Paulo Roberto de Almeida

30/10/2024

Que o Brics seja pró ou antiamericano não tem nenhuma importância, uma vez que ninguém, ou nenhum país, é obrigado a gostar ou se relacionar com todo mundo. 

Como se diz, gosto não se discute. Preferências politicas, ou diplomáticas, tampouco. Cada país, ou governo, pode ter suas amizades ou parcerias estratégicas com quem quiser, bastando respeitar a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (1961), assim como, mais importante, a Carta da ONU (1945).

O mais preocupante, ou propriamente escandaloso, é que países ou governos, teoricamente aderentes a esses instrumentos, considerem ser normal, e até observem comportamento simpático, e mesmo cooperativo, com paises ou governos que violam concretamente, abertamente, desavergonhadamente, a Carta da ONU e outros instrumentos da convivência cooperativa no plano internacional (bilateral ou plurilateral).

Estão neste caso, atualmente, Rússia e Israel (ademais de muitos outros, mas num plano puramente interno, como, por exemplo, Sudão ou Venezuela).

A Rússia, particularmente, conduz, desde quase três anos, uma guerra criminosa, destruidora e mortifera, contra um país soberano, ademais de já ter violado diversos outros princípios do Direito Internacional, assim com das leis de guerra e convenções humanitárias, sem mencionar suas contravenções às rrgras da não interferência nos assuntos internos de outros Estados.

Que o Brasil, ademais de muitos outros paises, considere normal, admissível ou moralmente aceitável, se relacionar normalmente, e até cooperativamente, com  um país notoriamente contraventor do Direito Internacional me parece degradante nos planos político, diplomático, mas, sobretudo, moral.

Certas coisas ofendem o sentido de justiça, de ética no campo dos comportamentos, ou simplesmente o senso comum.

Certas atitudes, na verdade, se afiguram repugnantes, quando se considere a simples postura no que concerne a vida humana, o respeito à dignidade de cada ser humano, ou, no plano diplomático, as regras mais elementares do Direito Internacional. 

Não, existem coisas que não são admissíveis num relacionamento normal bo contexto da comunidade internacional.

Sinto dizer, como diplomata, ou como simples cidadão brasileiro, que o atual governo brasileiro, ao lado de muitos outros — como por exemplo o governo dos Estados Unidos no tocante a Israel — não faz juz a princípios do Direito Internacional ou a simples regras morais admissíveis no comportamento humano.

Ninguém tem o direito de tirar a vida, impor sofrimentos, violar a dignidade de outrem.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 30/10/2024


Trump contra o chamado Deep State: burocratas federais em estado de alerta - Zolan Kanno-Youngs (NYT)

 Frase definidora de Trump: “ou nós destruimos o Deep State ou o Deep State destrói os Estados Unidos.”

Não sei se Trump vai conseguir executar seu intento talvez parcialmente, mas o mal que ele fará ao seu próprio país – filho de imigrantes que criminaliza outros imigrantes – vai ser revelado nos próximos meses e anos.

Paulo Roberto de Almeida


Inside the Federal Work Force That Trump Has Promised to Eviscerate

President-elect Donald J. Trump and his allies have pledged to strike fear in the heart of what they term “the deep state.” They have already succeeded.

The York Times, Nov. 8, 2024

The tremors from Donald J. Trump’s decisive electoral victory have hit every corner of Washington. But their maximum intensity is felt by the capital’s federal work force, which comprises tens of thousands of mostly anonymous employees not-so-fondly referred to by Mr. Trump as “the deep state.”

Few notions have consumed the once and future president more than the belief that his executive power has been constrained by a cabal of unelected bureaucrats. In his first rally of the 2024 campaign in Waco, Texas, Mr. Trump framed the bureaucracy as a national adversary, declaring, “Either the deep state destroys America, or we destroy the deep state.”

His intention to accomplish the latter is an explicit feature of Mr. Trump’s official to-do list, known as Agenda 47. From numerous interviews conducted with government officials spread across eight federal agencies, the overwhelming consensus is that Mr. Trump and his allies are not bluffing. That said, exactly how his war on the bureaucracy will be waged, and how government workers will respond to it, remain looming questions.

“There’s definitely anxiety, no question,” said Thomas Yazdgerdi, the president of the American Foreign Service Association, which represents about 17,000 active-duty and retired service members across six federal agencies. He said diplomats were asking him: “Is my job going to be OK? Will they shut down my bureau? What will happen to me?”

Many longtime federal employees expressed exhaustion at the very prospect of a second go-round with Mr. Trump. “I believe there will be a significant exodus among the one-third of our work force that is eligible to retire,” said Nicole Cantello, a former lawyer for the Environmental Protection Agency speaking on behalf of the agency’s union, which she represents. “Many of them will be unwilling to relive all the hostility they experienced four years ago.”

But most federal workers do not have the option to retire or to transfer their expertise to the private sector. Their anxieties about the incoming administration extend well beyond the usual uncertainty about what a new president’s priorities and leadership team will be.

Much of their concern centers on Mr. Trump’s pledge to reinstitute Schedule F, an executive order he issued late in his presidency that would have empowered his administration to convert tens of thousands of civil servants to “at-will” employees, who could more easily be fired and replaced with political appointees. The legality of Schedule F was never tested because President Biden revoked the order when he took office.

“They are what makes this government work,” Natalie Quillian, a deputy chief of staff in the Biden White House, said of the federal work force. Referring to a rule that President Biden finalized this spring making it difficult to reinstate Schedule F, she continued, “I think we’ve taken all the actions we can to make sure they are protected, and I’m not aware of any other action we can take.”

Mr. Trump is hardly the first prominent politician to denounce the federal work force. George Wallace, the former governor of Alabama and four-time presidential candidate, inveighed against “pointy-headed bureaucrats with thin briefcases full of guidelines.” Richard M. Nixon derisively termed them “little people in big jobs.”

And though career government employees often serve in successive administrations from both parties, they are ultimately guided by viewpoints that some might construe as agendas.

“It’s clear that there are civil servants with different policy views that work in government,” said David E. Lewis, a professor of political science at Vanderbilt University, who has written extensively on bureaucracies. “And in some ways, that’s by design. We would expect experts to have opinions about what should be done. Sometimes those opinions fall along party lines, and you end up seeing some agencies with more Republicans and others with more Democrats. But historically speaking, that effect has been small.”

Mr. Trump clearly does not believe this, Mr. Lewis acknowledged. “I would say his views of the bureaucracy are more strident than what we’ve seen from recent presidents,” he said. The closest parallel, Mr. Lewis added, was the “spoils system” administration of Andrew Jackson’s administration nearly two centuries ago, in which government jobs were doled out to cronies and family members.

Officials interviewed for this article warned that making civil servants feel more vulnerable about their livelihood would almost certainly create a chilling effect on how they go about their work. The mere perception of exhibiting insufficient loyalty to Mr. Trump’s agenda is more discomfiting at some agencies than at others.

Three midlevel E.P.A. officials said they feared that the subject of climate change would be off limits in the new administration. At the Pentagon, officials were trying to game out what policies might catch Mr. Trump’s attention and prompt edicts like the one he announced five years ago on social media, forbidding transgender people from serving “in any capacity in the U.S. Military.” There also are fears inside the Education Department that its legacy of civil rights reforms could soon be terminated, or that Mr. Trump will make good on his vow to dissolve the department altogether.

Aaron Ament, who served as chief of staff of the Education Department’s general counsel’s office during the Obama administration, said that even if the Trump administration kept the agency intact, it could immediately test the resolve of its staff by cutting back many of the department’s main regulatory and enforcement functions.

“During his first term, Trump outsourced higher education policy to for-profit industry executives who systematically dismantled enforcement and regulatory protections for students,” Mr. Ament said. “If this term is similar, we could not only see the same harms but find Trump weaponizing the Office for Civil Rights to cut off funds for state universities that teach from books he doesn’t like or disagree with him politically.”

Even agencies with distinctly nonideological missions could come under scrutiny. At the Federal Aviation Administration, for example, the mission of safely landing airplanes has found no skeptic among the authors of Project 2025, a conservative policy blueprint for reshaping the federal government.

But federal employees at the F.A.A. and elsewhere have taken notice of Mr. Trump’s close association with Elon Musk, the billionaire industrialist and owner of the social media platform X as well as SpaceX, whose rocket launches are regulated by the agency. Mr. Musk also has been openly contemptuous of collective bargaining rights. One F.A.A. official said his co-workers fear that Mr. Musk may exercise undue influence in that regard and are concerned that Mr. Trump will roll back any protections against discrimination that the new president deems to be “woke.”

One intelligence official predicted that many at the Central Intelligence Agency would make their career decisions based on whether the new C.I.A. director is a conservative who is openly respectful of the intelligence community, like Senator Tom Cotton, Republican of Arkansas, or a bomb-heaving outsider, like Kash Patel.

Several people who were interviewed for this story pointed to Mr. Trump’s mercurial character as a factor that might ultimately come to their rescue. Though they did not doubt the sincerity of his hostility toward “the deep state,” they strained to imagine a 78-year-old man with a notoriously fleeting attention span poring over employee manifests and organizational charts.

In the end, what might end up blunting any damage Mr. Trump might try to inflict upon the bureaucracy is its own hidebound imperviousness. One former official at the Transportation Department, who asked for anonymity to speak freely, recalled the more than yearlong effort to obtain the funding for a specific, relatively small project that had already been authorized.

It was the nature of bureaucracy, the official said: Nothing could be done, or undone, with the stroke of a pen.

Zolan Kanno-Youngs contributed reporting.


https://www.nytimes.com/2024/11/08/us/politics/trump-federal-bureaucracy.html

Um ataque frontal à democracia americana - Carmen Lícia Palazzo e Lourival Sant’Anna (O Estado de S. Paulo)

 Carmen Lícia Palazzo transcreveu e introduziu este artigo impecável de Lourival Sant'Anna, sobre o neofascista Trump, amigo e chantageado pelo neoczar Putin.

“Bom resumo da situação, feito pelo Lourival [Sant’Anna].

E acho que devemos nos preocupar, sim, inclusive com o nosso compatriota tosco e com tendências neofascistas. 

Acrescento da minha parte [CLP] o que eu penso, lendo os dados sobre quem votou no Trump e na Kamala:

O fascismo, em qualquer lugar do mundo, chega ao poder pelas vias da democracia, com o voto das pessoas mais simples, com um discurso que "levanta as massas" (li muito sobre como o Mussolini chegou ao poder na Itália). E a maioria do eleitorado nos EUA (e certamente também no Brasil) não é letrada e nem faz grandes considerações mais sofisticadas. Foi o caso dos chamados rednecks norte-americanos. Aí mora o perigo. E o poder de alcance dos discursos eivados de ignorância, de incitação à violência é que dá a muitos uma ideia de pertencimento a um grupo liderado por alguém que é percebido como um macho forte e que conduz a tropa a algum hipotético futuro, fantasiosamente melhor. 

Copio o artigo do Lourival:

"Trump vai eliminar a separação de Poderes e os freios concebidos pelos ‘pais fundadores’

Trump está mobilizado pelo desejo de ver materializada a sua delirante visão de mundo

Por Lourival Sant'Anna

09/11/2024 | 17h00

A volta de Donald Trump à Casa Branca equivale a um terremoto no alicerce da democracia, da diversidade, da valorização da ciência e dos fatos, uma derrota no combate às mudanças climáticas e uma vitória para as ditaduras que contestam a ordem mundial, lideradas por China e Rússia. É a revanche de setores de baixa renda e sem ensino superior contra a elite intelectual.

Trump está mobilizado pelo desejo de ver materializada a sua delirante visão de mundo. Dessa vez, não haverá “adultos na sala” — assessores civis e militares que sutilmente descumpriram suas ordens e heroicamente mitigaram os efeitos desastrosos de seu primeiro mandato. 

Trump conta que em 2016 não conhecia muita gente em Washington — a capital que tanto despreza — e acabou sendo vítima da traição de inúmeros colaboradores. Esse é um dos combustíveis de seu rancor. 

Desta vez, Trump se cerca de pessoas escolhidas não pelo critério da competência ou reputação, mas da lealdade. Ele deixou claro que usará o Departamento de Justiça, equivalente à Procuradoria-Geral da República, para perseguir seus adversários políticos, a começar pela ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi. 

Com maioria na Suprema Corte, no Senado e provavelmente na Câmara, e o propósito explícito de colocar o Estado a seu serviço, Trump procurará eliminar a separação de Poderes e os freios e contrapesos concebidos pelos chamados “pais fundadores” no século 18 para criar uma república e evitar a tirania representada, na época, pela monarquia absolutista e colonialista britânica, de cujo jugo acabavam de libertar sua jovem nação. 

Esse sistema, aperfeiçoado ao longo dos séculos para incorporar os direitos das mulheres, dos negros e de outras minorias, pressupõe a existência de uma elite guiada pelos valores do Iluminismo. A falibilidade e o egoísmo humanos eram limitados por um contrato social de busca do bem comum e de patriotismo. Quando esse consenso falhasse, o Congresso, a Justiça, a academia e a imprensa disparariam mecanismos de correção. É esse arcabouço que o trumpismo se dedica a destruir.

Trump e seus seguidores nutrem teorias conspiratórias contra o establishment político, jurídico e estatal, incluindo os órgãos de inteligência, contra a ciência e a imprensa, como cúmplices de um complô para extorquir a população e destruir sua identidade e tradições. 

Com vitória de Trump, republicanos veem sinais de uma nova coalizão de eleitores para se manter no poder

Em seu governo, a saúde deve ficar a cargo do ex-candidato independente à presidência Robert Kennedy Jr., que pretende retirar o flúor da água, responsável pelo quase desaparecimento das cáries; revisar o uso de vacinas e adotar terapias alternativas. Suas teses têm a qualidade daquele lampejo de Trump de injetar detergente no sangue para combater o vírus da covid. 

Kamala perdeu a eleição porque os eleitores de renda e escolaridade mais baixas deram preferência a Trump, e eles são a maioria. Ela teve 47% dos votos dos que ganham menos de US$ 50 mil por ano (27% dos eleitores) e 46% da faixa entre US$ 50 mil e US$ 100 mil (32%). Só ganhou entre os que recebem mais de US$ 100 mil (40% dos eleitores), com 51%, segundo a boca-de-urna da CNN.

Dos eleitores com ensino superior, 55% votaram em Kamala. Mas eles são apenas 43%. Na maioria, que não tem diploma, ela teve 42% dos votos. Kamala recebeu 53% dos votos das mulheres, que representam 53% de quem votou, mas apenas 42% dos homens. Obteve 52% dos votos dos latinos (12% dos votantes) e 85% dos negros (11% dos que compareceram às urnas).

Joe Biden teve mais apoio desses três grupos em 2020, embora Kamala seja mulher, filha de imigrantes e negra. Suas margens não foram suficientes para compensar a preferência dos brancos, que representam 71% dos eleitores, por Trump, que teve 57% dos votos deles. Até mesmo um quarto das mulheres pró-aborto dos Estados-pêndulo da Pensilvânia, Michigan e Wisconsin votou em Trump.

Esses resultados são a expressão da frustração com o alto custo de vida e da sensação de que o poder de compra era maior no governo Trump. Esses sentimentos se combinam com a percepção mais estrutural e profunda de que a elite intelectual, representada por Biden e Kamala, construiu um mundo que lhe favorece.

O livre comércio e a imigração levaram para longe as fábricas que davam empregos de qualidade para os operários e trouxeram os estrangeiros que aceitam trabalhar por salários menores. Trump entendeu isso e se elegeu prometendo elevar as tarifas de importação, deportar e barrar os imigrantes ilegais. Diante disso, a democracia, os direitos individuais, a ciência, o meio ambiente, a ordem internacional baseada em regras e a imprensa parecem distrações de intelectuais."”

domingo, 10 de novembro de 2024

Mandate For Leadership: The Conservative Promise - Trump's Mandate 2025-2028 (The Heritage Foundation)

 Postei na minha página da plataforma Academia.edu o documento-guia da campanha, e possivelmente do governo Donald Trump:

Mandate For Leadership: The Conservative Promise
(Trump's Mandate 2025-2028; The Heritage Foundation, 2023)

This work, Mandate for Leadership 2025: The Conservative Promise, is a collective effort of hundreds of volunteers who have banded together in the spirit of advancing positive change for America. Our work is by no means the comprehensive compendium of conservative policies, nor is our group the exclusive cadre of conservative thinkers. The ideas expressed in this volume are not necessarily shared by all. What unites us is the drive to make our country better.

https://www.academia.edu/125431018/Mandate_For_Leadership_The_Conservative_Promise_Trumps_Mandate_2025_2028

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...