quinta-feira, 24 de julho de 2025

"“Estamos discutindo expulsar os EUA da OMC’, diz Bernd Lange, do Parlamento Europeu - Sim, já deveria ter sido feito (OESP)

 Eu já escrevi várias vezes que Trump simplesmente DESTRUIU o sistema multilateral de comércio, uma construção social, institucional que tomou mais de 500 anos de itinerário das nações para que ela se consolidasse no pós-IIGM. Ele simplesmente destruiu, não todo, mas a parte mais substantiva, ocupada pela nação temporariamente colocada no pináculo da economia mundial,pela evolução natural das economia de mercado.

Agora os europeus querem EXPULSAR os EUA de Trump (cabe sublinhar, os EUA DE TRUMP) da OMC. Não sei como as coisas vão funcionar, pois TODOS os países do mundo têm algo a ver com a economia americana, de uma forma ou de outra. Expulsar não vai adiantar muito, pois Trump já EXPULSOU os EUA da OMC, por moto próprio, mas talvez seja o que cabe fazer agora. PRA
Leiam a matéria abaixo:

"“Estamos discutindo expulsar os EUA da OMC’, diz Bernd Lange, do Parlamento Europeu
Organização Mundial do Comércio tem suas decisões paradas desde 2019, quando os EUA começaram, ainda no 1º mandato de Trump, a bloquear as nomeações para o órgão de apelações
O Estado de S. Paulo, 24/07/2025

A Europa pretende ser um elemento de estabilização para o comércio internacional, segundo o presidente da Comissão de Comércio Internacional (Inta, na sigla em inglês) do Parlamento Europeu, Bernd Lange. Para fazer isso, há um interesse em reviver a Organização Mundial do Comércio (OMC), que tem suas decisões paradas desde 2019, quando os Estados Unidos começaram, no primeiro mandato do presidente Donald Trump, a bloquear as nomeações para o órgão de apelações.
Para conseguir isso, o parlamentar alemão, do partido social-democrata, afirma que há discussões até sobre buscar formas de expulsar os EUA da OMC — embora admita que ainda não há certeza sobre a viabilidade jurídica da medida. Ele falou sobre esse tema para o Estadão, e sobre como o comércio global está mudando com o novo mandato de Trump. Também comenta sobre as dificuldades de negociações com o governo americano.

A seguir, leia trechos da entrevista.

As ameaças tarifárias de Trump vão redefinir o comércio global, mesmo que acordos sejam fechados nas próximas semanas, com organismos multilaterais enfraquecidos e perda de confiança em parceiros comerciais importantes, como os EUA?

De fato, o mundo mudou. Não será como era antes do Trump. Isso com certeza. Então, precisamos ser muito cuidadosos para proteger o sistema multilateral de comércio. É claro que os Estados Unidos são importantes. Mas apenas a Europa é responsável por 15% do comércio global. E estamos comprometidos com a Organização Mundial do Comércio e queremos reformar essa organização e a estabilizar. Em março do próximo ano, teremos um grande encontro em Camarões. Então, seria importante termos um bom sinal para isso.

O que é possível se fazer, já que o mecanismo de apelações está parado desde 2019, quando os EUA começaram a bloquear as nomeações para o órgão de apelações e, assim, nenhuma decisão é colocada em vigor?
Há algumas discussões agora acontecendo se devemos expulsar os EUA da OMC. Não tenho certeza se será legalmente possível, mas agora eles bloquearam, no último mês, pela 86ª vez a indicação para o mecanismo de apelações. E, então, ele continua sem juízes. Além disso, não pagam há cerca de dois anos o dinheiro que deviam dar para a OMC. Temos 165 países no órgão e devemos construir em cima disso. Países como Indonésia e Índia podem ter um papel proativo na organização.

O que mais pode ser feito para o comércio internacional responder a Trump?
Além de reformar a OMC, em um segundo ponto, queremos criar uma rede de parceiros confiáveis, e sermos um elemento de estabilização e dar previsibilidade para investimentos. Isso é crucial, ou o comércio global vai ficar parado. Espero que consigamos ter uma frente comum contra a política ilegal e injustificável do presidente Trump. O Brasil, especificamente, está sendo atacado neste momento. Trump está usando as tarifas não como uma medida econômica, mas como arma de pressão política. Há esta nova investigação, por meio da seção 301, dos EUA contra o Brasil, sobre regulação digital e com outros elementos, em que está claro que é um uso coercitivo das tarifas.

Como a Europa pretende se defender dessas ameaças?
Na União Europeia, melhoramos a nossa caixa de ferramentas de medidas defensivas, especificamente depois da experiência com o primeiro mandato de Trump. Quando ele mencionou que, se nós fossemos estabelecer um imposto digital para aquelas ‘pequenas’ empresas do Vale do Silício, ele colocaria 50% de tarifas para os carros europeus, e já estava usando tarifas comerciais como instrumentos de coerção. Então, nós estabelecemos uma nova legislação, o instrumento anticoerção.

Essa é aquela regra chamada de ACI, na sigla em inglês, aprovada em 2023?
É exatamente essa. Agora, temos toda uma cesta de medidas possíveis para reagir se o senhor Trump usar um caminho similar desta vez. Também tivemos problemas com a China, em que eles usaram medidas coercitivas. Temos uma solução para isso, agora. Mas também creio que seja um elemento que devemos evitar, e de se usar comércio e investimentos como arma política. Então, esses três elementos (OMC, rede de parceiros e ACI) estão sendo pensados firmemente como formas de estabilizar o sistema global baseado em regras.

Então, o ACI só será acionado se falharem as negociações das próximas semanas, até o dia 1º de agosto, quando Trump disse que entrarão em operação as tarifas?
Sim, logo antes dessa entrevista, eu estava no telefone com o Maros Sefcovic, o nosso comissário de comércio (comissário de comércio e de segurança econômica, relações institucionais e transparência da Comissão Europeia). E discutimos exatamente isso.

O Brasil também aprovou recentemente uma Lei de Reciprocidade Econômica, que busca defender o País de ameaças comerciais, que o presidente Lula ameaçou usar contra os EUA. Esse tipo de regra pode ser necessária como forma de dissuasão?
Nós já deixamos prontas contramedidas tarifárias para tarifas ilegais para o aço, que somam um volume de € 22 bilhões em produtos americanos. Como um segundo passo, contra tarifas ilegais contra nossos carros, estabelecemos tarifas para € 72 bilhões em produtos americanos. Há também um novo elemento de taxas de exportações para sucata de aço, já que os EUA precisam disso e importam bastante sucata da Europa para a produção de aço. Então, é uma pressão ter essas taxas. O terceiro passo da escalada seriam taxas digitais, porque as gigantes de tecnologia dos EUA geram um terço de suas receitas na Europa. Só então, a força de escalada da disputa chega no ACI.

Por meio dele, vocês acionam barreiras não tarifárias, como derrubar patentes e propriedade intelectual?
Sim, ele permite isso, além de compras governamentais. É realmente uma cesta grande.

Já houve uma análise sobre que medidas usar?
Estamos olhando o que é viável usar para realmente atingir os EUA e que medidas acabariam prejudicando os nossos cidadãos e a nossa indústria também, para não usarmos essas.

Então, deve ser um esforço bem focado?
É um pouco estratégico e tático.

Alguns produtos a serem taxados poderiam ser a soja da Louisiana, o Estado do presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, e o bourbon?
Temos um conjunto de tarifas para atingir uma grande quantidade de produtos como esses. Mas, sem prejudicar a nossa indústria. Um exemplo proeminente são tarifas para motos acima de 500 cilindradas, para direcionar as tarifas para a Harley-Davidson. Mas na Europa você poderá comprar BMW, Ducati ou Honda, o que quiser. E nessa lista temos muitos produtos agrícolas e alcoólicos, além produtos industriais ligados ao aço e ao alumínio. Também envolve têxteis, que eu não sabia que importávamos tanto dos EUA.

Mas esse cenário de retaliação não é o ideal, não?
No fim das contas, os dois lados perdem, e queremos evitar uma negociação extensa. Também está claro que a consciência dos danos também acontece nos EUA. Falei com muitos senadores em Washington, de vários Estados, e governadores, e eles sabem que a cadeia de suprimentos está rompida. Empresas precisam demitir trabalhadores, e há uma grande pressão também da Câmara de Comércio dos EUA. Agora que os preços dos carros europeus e os produtos da China estão subindo mais e mais, muitas pessoas na sociedade americana estão pensando nisso.

O que Trump deseja, ao infligir esse dano para o próprio país?
Acredito que essa pressão para negociar, primeiramente até julho e agora até o dia 1º de agosto, também esteja motivada por ele querer resolver isso tudo o mais rapidamente possível, porque as consequências agora estão aumentando. E também a preparação para as eleições de metade de mandato, no próximo ano, está começando agora. Então, ele precisa resolver isso logo.

Existem mais motivações econômicas para todas essas tarifas?
A minha convicção para tudo isso é que eles precisam das tarifas como forma de receita para o orçamento. Além das tecnicalidades sobre as tarifas aqui e ali, eles precisam financiar o projeto aprovado pela Câmara americana, há alguns dias, o ato que chama de One Big Beautiful Bill, (que adicionaria US$ 3,3 trilhões à dívida pública americana na próxima década). Isso cria um grande problema para o orçamento, e eles querem esse dinheiro. No momento, a União Europeia está pagando € 7 bilhões em tarifas para os EUA. E, com essa tarifa-base nova e as tarifas para carros, crescerá para € 100 bilhões por ano. Então, é claro para mim que esse é o objetivo de toda essa operação.

Mas, no fim, quem paga essas tarifas não são os consumidores, que comprarão produtos mais caros, que darão dinheiro para o governo financiar esse projeto?
Sim, e isso sem o governo precisar aumentar os impostos.

Para fazer tudo isso, Trump usa argumentos de comércio e até políticos, como no caso do Brasil? Tudo isso torna as negociações mais imprevisíveis e tudo menos racional?
Na minha experiência, isso acontece. Os negociadores americanos dizem que podemos enviar propostas, mas a decisão é tomada somente pelo presidente. Nós chegamos a discutir um acordo possível, e depois o presidente Trump decidiu que não era suficiente. E recebemos uma carta com a pressão do aumento da tarifa-base de 20% para 30%, quando a gente achava que a carta seria propondo o fechamento de um acordo.

Então, os próprios negociadores americanos não têm autonomia?
A grande diferença para o primeiro mandato do Trump é essa. Era possível realmente conversar com o secretário de Comércio e outras autoridades de comércio e achar soluções, de uma forma normal. Isso acabou totalmente agora. Temos uma cesta em que tudo está dentro, e ninguém sabe exatamente qual será a decisão do presidente. Ele também tem como consultor para as tarifas o (economista) Peter Navarro, mas ele é inacreditável. Às vezes, Trump telefona para alguns amigos e pergunta para eles o que pensam sobre certa coisa, e isso é a base para a decisão."

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Trump quer dobrar o Brasil e os brasileiros. Tabata Amaral explica como e porquê...

 Vejam este vídeo: 



Esperando Godot, por escrito? - Paulo Roberto de Almeida

Esperando Godot, por escrito?

Paulo Roberto de Almeida 

O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio Geraldo Alckmin escreveu uma carta, em maio, ao Secretário de Comércio dos EUA, quando ainda se discutia a imposição de 10% sobre aço e alumínio.

Não teve qualquer resposta, sequer a simples cortesia de uma confirmação de recebimento, silêncio total.

Reincidiu novamente, recentemente, no anúncio de 50% sobre tudo, em 1o de agosto, mais o início do processo de investigação ao abrigo da seção 301 da Lei Comercial de 1974, que não tem uma data precisa para produzir “resultados”, mas é infinitamente mais destrutiva, se desejarem fazer, e de forma totalmente unilateral.

Ou seja, Trump decidiu punir o Brasil, independentemente de nosso protecionismo comercial, que é real e extensivo. A punição é uma espécie de retaliação pessoal de Trump, sem qualquer relação com atos comerciais e tudo a ver com as declarações de Lula, não apenas no contexto do Brics, mas dirigidas pessoalmente a Trump.

Minha reflexão, como diplomata: não tem Samuel Becket que resolva a angústia diplomática dos meus colegas do Itamaraty, quando a diplomacia personalista do presidente ocupa todos os espaços.

Sorry Alckmin, Godot não aparecerá.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 23/07/2025

Nuclear Powers, Conventional Wars: The Dangerous Erosion of Deterrence - Carter Malkasian and Zachary Constantino Foreign Affairs

 Nuclear Powers, Conventional Wars: The Dangerous Erosion of Deterrence

Carter Malkasian and Zachary Constantino

Foreign Affairs, July 17, 2025


CARTER MALKASIAN is Associate Professor of Strategy and Policy at the National War College. He is the author of The Korean War: 1950-53. The views expressed here are his own.

ZACHARY CONSTANTINO is a South Asia analyst and has served as a Senior Adviser in the U.S. Departments of Defense and State.

 

The past two months have witnessed a remarkable spike in warfare involving nuclear powers. From May 7 to May 10, India and Pakistan exchanged artillery fire, bombs, cruise missiles, and drones in their most intense round of combat since 1999. Then, on June 1, Ukraine executed a sophisticated covert operation, deploying drones positioned deep within enemy territory to attack bombers that Russia might depend on if it were ever to launch a nuclear strike—an unprecedented direct assault on a country’s means of nuclear deterrence. And on June 13, 200 Israeli aircraft carried out a surprise attack on Iranian nuclear facilities and strategic targets. Iran retaliated by sending hundreds of ballistic missiles and drones toward Haifa, Tel Aviv, and military installations in the heart of Israel. Although only a few dozen breached Israeli and U.S. air defenses, Iran’s response amounted to the largest military attack ever launched on the homeland of a nuclear power.

These clashes are the latest examples of an overall rise in conflicts that carry risks of nuclear escalation. First, nonnuclear powers are attacking nuclear powers in unprecedented and aggressive ways. Even more concerning, nuclear powers are directly trading blows. These trends raise concerns that the eight-decade moratorium on large-scale war between nuclear powers has ended. Although it is too early to tell whether another great-power war is on the horizon, the dangers of nuclear escalation are unmistakable. Clashes involving nuclear powers now echo the Cold War’s most dangerous moments. A realistic possibility is that today’s clashes become a new normal, with an elevated risk of events spinning out of control.

The failure of nuclear weapons to deter Iran from launching missiles at Israel—or Ukraine from conducting operations inside Russia—suggests that even if Iran obtained a nuclear weapon, it might not protect the country from further attacks. It also calls into question the ability of the United States to rely on its nuclear arsenal to prevent attacks from nuclear adversaries such as China, North Korea, or Russia.

This new normal requires politicians, generals, spy chiefs, and diplomats to adopt new strategies to de-escalate conflicts before they become crises. Military and civilian leaders alike need to redouble efforts to improve communication and confidence-building measures, such as notifying adversaries of military activities and hosting regular official dialogues. The United States and its allies should also retain a range of military capabilities that can counter enemy aggression without having to escalate. Leaders should conduct more of their “kinetic” actions—such as special operations raids or drone strikes in enemy territory—behind the scenes, where more off-ramps exist to manage tensions than in the public eye. These recalibrations will help offset the growing danger of a potential nuclear catastrophe.

THE END OF AN ERA

For eight decades, there has been no major war between nuclear powers. Nuclear powers have on occasion attacked nonnuclear ones, such as when the United States invaded Iraq in 2003 or China went into Vietnam in 1979. Nonnuclear powers have even attacked the military forces of nuclear states, but these challenges have taken place on battlegrounds far from home. In 1950, North Korea assaulted U.S. Army regiments in South Korea, and in 1983, Argentina attacked British forces in the Falklands. Yet the Americans, the British, the Chinese, the French, and the Soviets generally avoided direct combat with one another, even over peripheral interests.

Consequently, many analysts, scholars, and presidents concluded that both nuclear and conventional war between nuclear powers was highly unlikely. In 1958, U.S. President Dwight Eisenhower told his cabinet that “a nice, sweet, World War II type of war” seemed “very unrealistic.” As the political scientist Robert Jervis wrote in his 1984 book, The Illogic of American Nuclear Strategy: “Because nuclear war cannot be easily controlled or compartmentalized, the fear of nuclear war does deter the other side from much more than nuclear attack. Irrational as it may be, the chance of devastation has made our world unusually safe.” This dominant line of scholarly thinking, of course, has not stopped militaries from planning for a major war. One of the great ironies of the past 80 years is that nuclear powers have expended huge sums preparing for conventional wars that their nuclear arsenals had supposedly ruled out.

Nuclear weapons, however, have never completely deterred war between nuclear powers. The political scientist Robert Powell’s game theory model of conventional war and nuclear escalation, for example, has shown that the possibility of conventional war between nuclear powers depends on the level of risk and the balance of resolve. Indeed, nuclear powers engaged in periodic fighting during the Cold War.

The most intense combat between the Soviet Union and the United States occurred in the skies over China and North Korea during the Korean War. The Soviet Union lost 355 aircraft and 120 pilots, although it never officially acknowledged any involvement in the war. Other clashes between nuclear powers were tense but did not escalate into major conflicts. During the Cuban missile crisis, Soviet air defense units attacked U.S. aircraft and shot down a U-2 spy plane. Even riskier, a U.S. destroyer dropped depth charges on a nuclear-armed Soviet submarine. During the Vietnam War, Chinese antiaircraft gunners routinely shot at American planes over North Vietnam, and Chinese aircraft engaged U.S. jets that crossed into Chinese airspace. In total, American bombs killed or wounded roughly 5,000 Chinese troops. During the so-called War of Attrition that Israel and Arab states fought from 1967 and 1970, and again during the Yom Kippur War in 1973, Soviet surface-to-air missiles around the Suez Canal intercepted Israeli aircraft, Israeli and Soviet fighters tangled in dogfights, and Soviet special forces conducted raids in the Sinai. Border skirmishes between China and the Soviet Union in the 1969 Sino-Soviet conflict resulted in hundreds of casualties.

India and Pakistan have continued to clash frequently along their disputed border, even after both countries developed nuclear weapons. The largest incident of ground combat between nuclear powers occurred in 1999 in the mountainous Kargil section of Kashmir. Pakistan dispatched around 4,500 soldiers posing as local rebels to seize the high ground, which Indian personnel had vacated for the winter to avoid the extreme weather conditions. The ensuing battle involved artillery shells, infantry battles, and airstrikes. The two countries suffered over 3,000 casualties before Washington’s intervention and Indian resolve forced Pakistan to back down.

NUCLEAR NONDETERRENCE

Events during the past ten years have increased the risks of direct conflict between major nuclear powers. Russia and the United States fought on opposite sides of the Syrian civil war after Russia first intervened in October 2015. The two powers battled each other in February 2018, when Russian paramilitary troops and Syrian tanks attacked U.S. special operations forces and marines. Between 200 and 300 Russians and Syrians were killed in the largest ground engagement to date between Americans and another nuclear power.

The war in Ukraine has further revealed the limits of nuclear deterrence. A Russian aircraft downed a U.S. surveillance drone over the Black Sea in March 2023, and U.S.-provided missiles and intelligence have enabled Ukrainian battlefield strikes against Russian forces. Ukraine has repeatedly hit Moscow and petroleum storage facilities in Russia. When a Ukrainian drone struck a Russian radar installation linked to Moscow’s early warning system for incoming nuclear missiles in 2024, some analysts feared Russia would interpret the attack as a proxy action by the United States to degrade Moscow’s strategic deterrents. And on June 1, a Ukrainian drone operation damaged or destroyed as many as 30 bombers and airborne command-and-control aircraft deep within Russian territory, including planes that can carry cruise missiles. Even after Moscow lowered the threshold in its official doctrine regulating the use of nuclear arms—and despite Russian President Vladimir Putin’s saber rattling—Russian nuclear weapons have not stopped Ukraine from targeting the home territory of a nuclear power or attacking its early warning systems or strategic bombers.

Nuclear weapons have never completely deterred war between nuclear powers.

Israel’s nuclear weapons have failed to stop escalating warfare in the Middle East. In the two years before the war between Iran and Israel flared up again in June, Hezbollah (Iran’s Lebanon-based ally) and Iranian-backed Houthi rebels in Yemen sent drones and rockets into Israel in response to the war in Gaza. In April and October 2024, Iran and Hezbollah fired hundreds of missiles into central Israel. After Israel’s surprise attack against Iran in June killed leading military officials and scientists and damaged or destroyed nuclear facilities, military headquarters, and ballistic missile launchers, Iran targeted Tel Aviv and other areas in Israel with drones and ballistic missiles. The clash escalated as Israel bombed Iranian oil and gas infrastructure; Iran, in turn, launched hundreds more ballistic missiles at Israeli cities that resulted in at least 400 civilian casualties. Even if Iran pulled its punches because it feared nuclear escalation, its volleys into Israel marked the first time that cities of a nuclear power had been struck so heavily. Israeli threats to seek regime change in Tehran and direct U.S. strikes on Iranian nuclear sites demonstrated that further escalation was possible. Only after the U.S. intervened militarily and did not respond to Iran’s telegraphed strike on the U.S. base in Qatar did Iran back down and agree to a cease-fire.

The dangers of escalating violence between India and Pakistan are also growing. Regular skirmishes between India and Pakistan flared up in 2019 when India bombed a suspected militant compound inside northwest Pakistan in response to a terrorist suicide attack in Indian-administered Kashmir. This May, India launched airstrikes in Pakistan’s largest province in retaliation for another terrorist attack in Kashmir. Tit-for-tat strikes followed, including an Indian salvo on Pakistan’s Nur Khan Air Base only a few miles from one of Pakistan’s high-level command-and-control nodes. The four-day clash represented a new level of escalation: both sides attacked multiple locations within the homeland of the other for the first time since the India-Pakistan war of 1971, which took place before either country had a nuclear arsenal. In the initial wave of Indian strikes, Delhi employed cruise missiles, glide bombs, artillery, and drone-delivered munitions to strike militant infrastructure, including near major cities in Pakistan’s Punjab Province. India proved able to penetrate Pakistan’s air defense system, but Pakistan reportedly took down multiple Indian aircraft.

LOWERING THE TEMPERATURE

So far, conflicts between nuclear powers have been limited to skirmishes, low-level ground combat, air-to-air engagements, and airstrikes or missile exchanges—a far cry from the major wars of the twentieth century. But the increasing frequency of conflicts over the past ten years creates more chances for nuclear powers to find themselves ensnared in a larger war. Each time an attack strikes Israeli, Pakistani, or Russian territory, the potential for escalation jumps. Nuclear powers may feel that they have to send louder, more violent signals to be heard above the din of innumerable smaller clashes.

Policymakers need to recognize the high risk of escalation in a world of frequent conflicts involving nuclear powers. Even if neither party to a conflict wants war, each may find it difficult to avoid escalation, especially in a fast-moving crisis. Nationalistic domestic media environments, the greater use of autonomous aircraft, and the intermingling of nuclear and conventional infrastructure in many countries have further compounded the risk. And any conflict involving nuclear powers carries the inherent possibility of nuclear war.

To reduce the potential for rapid escalation, leaders should improve crisis communication, especially between India and Pakistan and China and the United States. Governments can build better guardrails by notifying their adversaries of military activities, promoting regular dialogue among officials, and improving their understanding of opponents’ redlines. For example, Gulf states have facilitated backchannel discussions between India and Pakistan that can buffer against the next crisis. These conversations are not intended to generate breakthroughs, but they can lower tensions and explore potential shared solutions to avoiding crises free of domestic political pressures.

The United States and its allies will also need to retain a set of military capabilities—including drones, special operations forces, missile defenses, and long-range strike systems—to respond to conventional action without resorting to higher levels of force. A robust menu of military options to retaliate against attacks allows the United States and its allies to fight at a level in which the risk of escalation is relatively manageable.

Finally, leaders should consider operating more covertly. The political scientists Austin Carson and Keren Yarhi-Milo have argued that backchannel signals sent through covert actions or quiet diplomacy can avoid public pressure that impedes concessions when actions are out in the open. The Cold War habit of keeping clashes quiet and not publicizing military actions may be worth reinstituting.

The end of the recent war between Iran and Israel highlights the importance of strategic de-escalation. The U.S. decision to forgo further retaliation and insist on a cease-fire after Iran’s perfunctory strike on the American base in Qatar prevented greater escalation. Diplomacy between the parties through both direct and indirect channels facilitated the cease-fire agreement. And Israel’s air defense systems and targeted strikes on Iran’s missile command-and-control network likely also narrowed Iran’s options for retaliation even before U.S. bombs damaged Iran’s underground nuclear sites.

In a world of weaker nuclear deterrence, governments must take deliberate steps to de-escalate tensions. Otherwise, each new border clash or drone strike could spark a disaster. The fact that the conflicts of the past two months did not spiral into protracted, large-scale wars is no guarantee that the next outbreak of violence will end similarly.


Quem quer ser um Império? - Paulo Roberto de Almeida

 Quem quer ser um Império?


        Impérios ainda são coisas do presente, mas cheiram a mofo, pois vêm de um passado muito distante.

        Impérios são coisas doentias, fadadas ao fracasso, ainda que possam ter sucesso durante algum tempo, por vezes durante séculos.
        Mas, eles tendem a ser dominados por personalidades autoritárias, algumas nitidamente desequilibradas.
        Alguns já ouviram certamente falar da sabedoria de um outro dos imperadores romanos, como Marco Aurélio, por exemplo.
Mas suponho que todos também ouviram falar da loucura de vários outros, entre eles Calígula e Nero. Sabemos o que ocorreu depois; Roma se afundou na confusão e os bárbaros chegaram, e se instalaram. Acabou o império de Roma; sobrou, durante mais mil anos o do Oriente, em Bizâncio, ou Constantinopla, que foi saqueada pelas cruzadas e depois conquistada pelos otomanos.
        O Império do Meio foi o mais exitoso durante séculos, mas em algum momento resolveu se fechar aos contatos com os estrangeiros, os europeus, que vinham para copiar coisas daquela civilização muito mais avançada do que os seus reinos barulhentos, briguentos, ensopados no sangue de suas batalhas contínuas, uns com os outros. Um imperador mal assessorado por mandarins introvertidos decidiu fechar a China; foi assim que o país economicamente e cientificamente mais avançado do mundo perdeu as revoluções científicas e industriais do Ocidente e acabou sendo humilhada por eles, que voltaram com canhoneiras. A China perdeu a primeira e a segunda revoluções industriais, pelo seu insulamento. Na terceira, já vivia sob o maoísmo demencial, que afundou ainda mais a China, com seu Grande Salto para a Frente (andou para trás, e eliminou mais ou menos 40 milhões de chineses) e depois com a Revolução Cultural, que destruiu as universidades e todo o sistema de ensino, substituído pela banalidade do Livrinho Vermelho do Presidente Mao. Se recuperou depois, com a tecnologia do Ocidente, e graças à energia e à educação do seu povo já superou o Ocidente, na quarta ou na quinta revolução industrial. Agora tem um novo imperador, o primeiro depois de Mao, e não sabemos como evoluirá daqui para a frente.
        O Império britânico foi o mais extenso do mundo – superado em longevidade pelos impérios centrais e pelo império otomano – mas dominou a indústria, as finanças, a cultura do mundo durante praticamente dois séculos. Quando visitei a Inglaterra pré-Thatcher já parecia um país do Terceiro Mundo, inviabilizada pelas políticas erráticas do Labour e mesmo dos Tories. Deu trabalho para colocá-la um pouco nos eixos, mas voltou a ter primeiros-ministros medíocres, e não sei se tem algum futuro.
        O império francês torrou o dinheiro continental e aventuras coloniais, que só beneficiaram seus plutocratas, o que talvez tenha motivado Jean-Baptiste Duroselle a escrever "Tout Empire Perira". É isso.
        O império americano, só tem cem anos mas já parece ter se esgotado antes mesmo de Trump, como relatam Paul Kennedy, Robert Gordon e outros. Trump veio para afundar ainda mais uma democracia disfuncional e um sistema econômico meio errático.
        E o império russo?: czarista, soviético, agora neoczarista, sob Putin? Teve algum sucesso, a roubar terras dos vizinhos, como a Finlândia, os bálticos, os povos do Cáucaso e da Ásia central (a China imperial inclusive. Vladivostock, por exemplo).
Creio que chegou ao seu limite expansionista e vai declinar, demograficamente, economicamente, militarmente (mas vai demorar nesse último aspecto, que foi o que precipitou a sua implosão, no regime soviético).
        A Europa continental, a da UE, é apenas um meio império, e vai demorar para se converter em um império verdadeiro, talvez nunca. É um conjunto agradável para passeios românticos e boa gastronomia, mas estão cansados de guerras, e talvez não queiram assumir as responsabilidades de um verdadeiro império, como os americanos (envergonhados), os russos (doentiamente vocacionados à supremacia) e os chineses (querem ser hegemons bem comportados, inundar os outros com seus produtos e nunca mais sofrer humilhações pelos estrangeiros).
        Impérios são resilientes, mas em algum momento um líder desequilibrado perturba a sua marcha. Alguns podem ter verdadeiros debiloides ignorantes no comando de um país vibrante e acolhedor, como os EUA, mas também com muita gente ignorante ao ponto de ser seduzida por demagogos como o atual presidente.
        O Brasil já foi um "império", de araque, um gigante de pés de barro, teve alguns estadistas no seu comando, mas a maior parte dos dirigentes também foi singularmente medíocre. AInda não conseguimos produzir novos estadistas, e parece que vai demorar. Calculo mais uma ou duas gerações, mas nunca seremos um império, a não ser no divertimento e na corrupção.
        Mil desculpas pela conclusão decepcionante.
        Vamos nos arrastando em direção ao futuro, pois como disse Mário de Andrade um século atrás:
        "Progredir, progredimos um pouquinho
        Que o progresso também é uma fatalidade..."

        Que seja...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 23 de julho de 2025

O Brasil, sem poder de barganha Celso Ming O Estado de S. Paulo

O Brasil, sem poder de barganha

Celso Ming
O Estado de S. Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2025

Aos poucos, a indignação infantil e inconsequente vai sendo substituída por uma visão mais realista das nossas precariedades.
A primeira reação do presidente Lula ao anúncio do presidente Trump sobre o tarifaço de 50%, a vigorar a partir de 1º de agosto, foi apelar para a soberania nacional e para revides em nome do princípio da reciprocidade. Lula chegou a avisar que recorreria à Organização Mundial do Comércio, providência que teria a mesma força de um pedido de apoio ao arcebispo de Nova York. Nesta quinta-feira, declarou que “gringo não vai dar ordens” e, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, disse que “No Brasil, ninguém está acima da lei”.
Mas, na avaliação de parte dos empresários brasileiros, cutucar a onça com vara curta poderia levar ao pior. O País está na defensiva, tentando se apegar a alguma ajuda dos empresários norte-americanos prejudicados com a alta dos preços dos produtos exportados pelo Brasil. Nem a primeira carta enviada a Donald Trump, logo após o anúncio do tarifaço geral em abril, conseguiu resposta.
O presidente Trump parece ter eliminado a principal justificativa apresentada em sua carta do dia 11, quando alegou que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava sendo vítima de uma caça às bruxas. “Bolsonaro nem chega a ser amigo”, disse Trump. “É apenas conhecido.”
A verdade é que o Brasil começa a se dar conta de que não tem poder de barganha diante de Trump, e qualquer alegação pode servir de pretexto para algum ato econômico de força. Até mesmo o Pix é acusado como política desleal aos Estados Unidos – apenas porque as bandeiras de cartões de débito começam a perder função e se tornar inúteis.
A economia brasileira carrega mazelas, enquanto o governo segue se enganando com a ideia de que somos “um país tropical, abençoado por Deus!”
Outra seria a condição do Brasil para enfrentar trancos como esse se não houvesse o rombo fiscal e, em consequência dele, os juros não tivessem de ir para a lua, derrubando a competitividade do produto nacional. Ou se a indústria e boa parte do setor produtivo não carregassem os problemas que têm hoje com seu sistema imunológico debilitado porque vivem dopados pelo protecionismo, pelos subsídios, pelas isenções tributárias, pela criação de reservas de mercado, pela imposição de conteúdos locais e pela artificialidade da competitividade zero, como a da Zona Franca de Manaus.
Bem outra seria a situação do Brasil se seus governos tivessem tomado a iniciativa de fechar acordos comerciais com o resto do mundo, em vez de insistirem tanto no Mercosul, que, até agora, não conseguiu passar ao estágio inicial de integração: o de área de livre comércio.
Esta é uma situação grave que, pelo menos, pode ser aproveitada pelo governo como oportunidade para abandonar a distribuição de presentes de Papai Noel, levar a sério a saúde das contas públicas e realizar as reformas sempre anunciadas e nunca enfrentadas.

Russia is our Rorschach - Emmanuel Todd (Substack)

Emmanuel Todd ataca outra vez, acusando britânicos e franceses de Russofobia. Talvez ele sofra de Russomania, ou pior, Russofilia. PRA

                 Emmanuel Todd

                Substack, July 20, 2025

Last April, I was interviewed by a Russian television channel about Western Russophobia and I had an epiphany. I more or less replied: "It's going to be unpleasant for you to hear this, but our Russophobia has nothing to do with you. It's a fantasy, a pathology of Western societies, an endogenous need of ours to imagine a Russian monster.”

As I was then in Moscow for the first time since 1993, I had experienced a shock of normality. My usual indicators - infant mortality, suicide and homicide - had shown me, without moving from Paris, that Russia had survived its crisis on the road out of communism. But such a normal Moscow was beyond anything I had imagined. And I had the intuition, on the spot, that Russophobia was a disease.

This intuition solves all sorts of questions. I had persisted, for example, in looking to history for the roots of British Russophobia, the most obstinate of all. The confrontation between the British and Russian empires in the nineteenth century seemed to justify such an approach. But then, in both world wars, Britain and Russia were allies, and they owed each other their survival in the second. So why so much hatred? The geopsychiatric hypothesis provides a solution. British society is the most russophobic, quite simply, because it is the sickest in Europe. As a major player and the first victim of ultraliberalism, the United Kingdom keeps producing dramatic symptoms: the collapse of its universities and hospitals, the malnutrition of its elderly, not to mention Liz Truss, the shortest and craziest of British prime ministers, a dazzling hallucination in the land of Disraeli, Gladstone and Churchill. Who would have dared a collapse of tax revenues without the protection, not just of a national currency, but of an imperial one, the world's reserve currency? Trump is also messing about with his budget, but he is not threatening the dollar. For the time being.

In the space of a few days, Truss had dethroned Macron on the hit-parade of Western absurdities. I confess to expecting a lot from Friedrich Merz, whose anti-Russian warmongering potential threatens Germany with much more than a monetary collapse. The destruction of the Rhine bridges by oreshnik missiles perhaps? Despite French nuclear protection? In Europe, it's carnival every day.

France is going from bad to worse, with its blocked political system, its economic and social system on credit, its rising infant mortality rate. We're sinking. And there we have it: an extra russophobic upsurge. Macron, the Chief of Staff of the French Armed Forces and the head of the DGSE (some secret service of ours) have just started singing the ultimate russophobic song: France now is Russia's number 1 enemy. This is crazy: thanks to our military and industrial insignificance, France is the least of Russia's worries, as it is busy enough with its global confrontation with the United States.

This latest Macronian absurdity makes recourse to geopsychiatry indispensable. A diagnosis of erotomania is inevitable. Erotomania is that condition, usually but not exclusively feminine, which leads the subject to believe that they are universally desired, sexually, and threatened with penetration by, say, all the surrounding males. Russian penetration, then, threatens...

I must confess to being weary of Macron bashing (others are taking care of this, despite general journalistic servility). Fortunately for me, we had been prepared for the President's 14 July speech with brand new official madness: idiotic speeches by two of the regime's little soldiers, Thierry Burkhard (Chief of the Armed Forces Staff) and Nicolas Lerner (head of the DGSE, the French foreign intelligence services). I'm not a constitutionalist, and I can’t tell whether it augurs well for democracy that two of the managers of the State's monopoly on legitimate violence are spilling out over the airwaves, in a press conference (Burkhard) or in anguished ramblings on LCI TV channel (Lerner), to define France's foreign policy in advance.

The fact remains that the public and free expression of their Russophobia is a treasure trove for the geopsychiatrist. I get two essential elements about the state of mind of the French ruling class (these interventions were taken as normal by the majority of the political and journalistic world and therefore tell us about the whole group).

Let's listen to Burkhard first. I'm using the Figaro transcript with its obvious imperfections. I'm not touching anything. How does our Chief of Staff define Russia and Russians? "It's also because of its people's ability to endure, even if the situation is complicated. Here too, historically and culturally, this is a people that is capable of enduring things that seem completely unimaginable to us. This is an important aspect of resistance and the ability to support the State". Let me translate: Russian patriotism is unimaginable for our military. He's not talking about Russia, he's talking about himself and his kind. He doesn't know, they don't know, what patriotism is. Thanks to the Russian fantasy, we are discovering why France has lost its independence, why, integrated into NATO, it has become a proxy for the United States. Our leaders no longer love their country. For them, rearmament is not about France's security, it's about serving an empire in decomposition which, after throwing the Ukrainians and then the Israelis into the fray against the world of sovereign nations, is preparing to mobilise the Europeans to continue sowing havoc in Eurasia. France is far from the front line. If Germany is a Hezbollah, our mission as proxies will be to be the Empire's Houthis.

Let's move on to Nicolas Lerner on LCI. This man seems to be in great intellectual distress. Describing Russia as an existential threat to France... With its shrinking population, already too small for its 17 million square kilometres? Only a nervous wreck could believe that Putin wants to penetrate France. Russia from Vladivostok to Brest? The fact remains that, in his distress, Lerner is useful for understanding the mentality of the people who are leading us to the abyss. He sees Russia imperial where it is national, viscerally attached to its sovereignty. “New Russia”, between Odessa and the Donbass, is quite simply the Alsace-Lorraine of the Russians. Would we have described the France of 1914, ready to resist the German Empire and take back its lost provinces, as imperial? Burkhard does not understand patriotism, Lerner does not understand the nation.

An existential threat to France? Yes of course, they sense it, they are right, but they are mistaken in looking for it in Russia. It is within themselves that they should be looking. The existential threat is twofold. Threat no. 1: our elites no longer love their country. Threat no. 2: they put it at the service of a foreign power, the United States of America, without ever taking our national interests into account.

When they talk about Russia, French, British, German or Swedish leaders tell us who they are. Russophobia is a pathology, no doubt. But above and beyond, Russia has become a formidable projective test. Its image is similar to the plates of the Rorschach test. The subject describes to the psychiatrist what he sees in shapes that are both random and symmetrical. In so doing, he projects some deep, hidden elements of his or her personality. Russia is our Rorschach.


La société française à la veille de la Révolution, vue par Hippolyte Taine - Gérard Grunberg (Telos)

 Estaria o Brasil no limiar de uma revolução, como a grande Revolução Francesa de 1789, por exemplo? Este autor recupera um trecho do historiador francês do século XIX, Hippolyte Taine, que toca em alguns pontos válidos para a França atual e talvez para o Brasil de nossos dias.

La société française à la veille de la Révolution, vue par Hippolyte Taine
Gérard Grunberg
La bibliothèque de Telos
July 19, 2025
    "Au moment où la situation du pays exigerait que les Français fassent corps derrière leurs gouvernants pour sortir de la grave crise financière qui menace le pays en acceptant leur plan de réforme, ils ne semblent pouvoir s’unir que pour le rejeter, et, avec eux, ceux qui l’ont élaboré. Cette incapacité des Français à faire peuple n’est pas nouvelle. À la fin du XIXe siècle Hippolyte Taine l’analysait dans ce monument de l’histoire politique française que sont Les Origines de la France contemporaine, tâchant de comprendre les raisons qui ont mené le pays à la situation de 1789. Selon ce républicain conservateur cette incapacité venait de loin. Son analyse mérite d’être rappelée aujourd’hui."


"« Depuis longtemps, et par un travail insensible, l’administration de Richelieu et de Louis XIV a détruit les groupes naturels qui, après un effondrement soudain, se reforment d’eux-mêmes. Sauf en Vendée, je ne vois aucun endroit ni aucune classe où beaucoup d’hommes, puissent, à l’heure du danger, rallier autour d’eux pour faire corps. Il n’y a plus de patriotisme provincial ou municipal. Le bas clergé est hostile aux prélats, les gentilhommes de province à la noblesse de cour, le vassal au seigneur, le paysan au citadin, la population urbaine à l’oligarchie municipale, la corporation à la corporation, la paroisse à la paroisse, le voisin au voisin. Tous sont séparés par leurs privilèges, par leurs jalousies, par la conscience qu’ils ont d’être frustrés au profit d’autrui. […] “La nation, disait tristement Turgot, est une société composée de différents ordres mal unis et d’un peuple dont les membres n’ont entre eux que très peu de liens, et où, par conséquent, personne n’est occupé que de son intérêt particulier. Nulle part il n’y a d’intérêt commun visible.” […] Depuis cent-cinquante ans le pouvoir central a divisé pour régner. Il a tenu les hommes séparés, il les a empêchés de se concerter, il a si bien fait, qu’ils ne se connaissent plus, que chaque classe ignore l’autre classe, que chacune se fait de l’autre un portrait chimérique, chacune teignant l’autre des couleurs de son imagination, l’une composant une idylle, l’autre se forgeant un mélodrame, l’une imaginant les paysans comme des bergers sensibles, l’autre persuadé que les nobles sont d’affreux tyrans. Par cette méconnaissance mutuelle et par cet isolement séculaire, les Français ont perdu l’habitude, l’art et la faculté d’agir ensemble. Ils ne sont plus capables d’entente spontanée et d’action collective. Au moment du danger personne n’ose compter sur ses voisins ou sur ses pareils. Personne ne sait où tourner les yeux pour trouver un guide. “On n'aperçoit pas un homme qui puisse répondre pour le plus petit district ; et, bien plus, on n’en voit pas un qui puisse répondre d’un autre homme” (Tocqueville — paroles de Burke). La débandade est complète et sans remède. L’utopie des théoriciens s’est accomplie, l’état sauvage a recommencé. Il n’y a plus que des individus juxtaposés ; chaque homme retombe dans sa faiblesse originelle, et ses biens, sa vie sont à la merci de la première bande qui saura se former. Il ne reste en lui que l’habitude moutonnière d’être conduit, d’attendre l’impulsion, de regarder du côté du centre ordinaire, vers Paris, d’où sont toujours venus les ordres. […] C’est à cela qu’aboutit la centralisation monarchique. Elle a ôté aux groupes leur consistance et à l’individu son ressort. Reste une poussière humaine qui tourbillonne et qui, avec une force irrésistible, roulera tout entière en une seule masse, sous l’effort aveugle du vent ».

A TEORIA DA MINEIRIDADE - BENÍCIO MEDEIROS (Blog de São João Del-Rei, de Francisco Braga)

 A Mineiridade e outras manias...

Não sou muito afeto a essas manias de peculiaridades regionais: "Ah, o carioca é assim, sempre chiando; o paulista insiste no "né"; o gaúcho tem aquelas manias farroupilhas; o baiano é isso mais aquilo; o pernambuco sabe se lá o quê. Acho tudo isso muito subjetivo. Mas não deixo de apreciar a boa literatura, como esta que fala de Otto Lara Resende e a Mineiridade.
Mineiridade, o que seria isso? Vamos ver... PRA

A TEORIA DA MINEIRIDADE
Por BENÍCIO MEDEIROS *
Blog de São João Del-Rei, de Francisco Braga
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/07/a-teoria-da-mineiridade.html
domingo, 20 de julho de 2025

A TEORIA DA MINEIRIDADE
Por BENÍCIO MEDEIROS *
Blogdomingo, 20 de julho de 2025

"O mineiro é velhíssimo, é um ser reflexivo, com segundos propósitos e enrolada natureza."
João Guimarães Rosa

Otto Lara Resende (✰ São João del-Rei, 1º/05/1922 ✞ Rio de Janeiro, 28/12/1992) ocupou a cadeira nº 39 da Academia Brasileira de Letras.

Minas assumiu o poder com a Revolução de 30. Não o poder político. O poder cultural. Embora o movimento tenha sido liderado pelos gaúchos, com Getúlio Vargas à frente, coube a um mineiro, Gustavo Capanema, dirigir a política educacional e cultural do governo Vargas, na qualidade de ministro da Educação e Saúde Pública.


Muito já se falou da luminosa passagem de Capanema pelo MES. Decerto favorecido pela ditadura estadonovista, que tornou de fato efetiva a carta-branca a ele conferida por Getúlio, Capanema, durante a sua gestão, promoveu a sua revolução particular, espanando, com extraordinário vigor, o empoeirado universo cultural da época.

Com o poder que lhe foi delegado, ele introduziu nos sistemas oficiais conceitos e pontos-de-vista ao gosto dos modernistas de 22 que não haviam no entanto, àquela altura, merecido o crédito da sociedade e, menos ainda, das chamadas autoridades constituídas. O Brasil, culturalmente falando, era ainda um país tacanho, dos saraus pseudoliterários e das conferências meloparnasianas, comandado, esteticamente, pelos cânones mais retrógrados das beaux arts.

Mineiro, Capanema cercou-se de mineiros. Pôs como seu chefe de gabinete Carlos Drummond de Andrade (como o ministro, de uma geração anterior à de Otto ¹), o que por si só equivalia a uma tomada de posição. O poeta, tido como comunista, não era benquisto pela nata da sociedade conservadora, incluindo-se aí os velhos mandarins dos círculos literários oficiais e os representantes da direita católica.

Eram conhecidas, por exemplo, as diferenças entre o poeta de Claro Enigma e o crítico Alceu Amoroso Lima ². Em março de 1936, Drummond recusou-se a assistir a uma conferência de Alceu, "A educação e o comunismo", no MES. Por causa disso, o poeta-funcionário-público se viu obrigado a por o cargo à disposição do ministro, que, no entanto, desconsiderou sua atitude.

O episódio pode parecer estranho à luz da atualidade. Mas fazia parte da guerra ideológica que se travava no período. Cruzado e patrulheiro da causa do catolicismo, embora com os anos tenha arrefecido sua posição no que esta tinha de mais intolerante, Alceu Amoroso Lima foi, na mesma época, o responsável pela demissão do cronista Rubem Braga do Diário da Noite, de Assis Chateaubriand. Irreverente e anticlerical, Braga escreveu, num momento infeliz, que a Igreja espanhola "não passava de uma pinóia". Só por causa disso Alceu, indignado, pediu a cabeça do jornalista. Chateaubriand a concedeu.

Outro mineiro ilustre no MES foi o jovem advogado, escritor e jornalista Rodrigo Melo Franco de Andrade. Para não fugir à regra da tradição da sua terra, tinha publicado um livro de contos tristes, Velórios, do qual aliás não gostava. Rodrigo foi o criador, em 1937, do antigo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, IPHAN), voltado, pioneiramente, para a preservação do patrimônio cultural brasileiro.

A perspectiva do MES era a de reconhecer e identificar os valores notáveis do nosso passado, através do SPHAN, e, ao mesmo tempo, projetá-los ao futuro, a partir do reconhecimento de certas propostas da vanguarda que ainda causavam ojeriza tanto ao senso comum como às elites renitentes. Algumas das cabeças mais brilhantes da época se associaram a essa tarefa de redescobrir, com novos olhos, o passado cultural brasileiro.

Mário de Andrade, por exemplo, foi um colaborador incansável de Rodrigo desde os primeiros tempos, tendo redigido o anteprojeto de criação do SPHAN e, mais tarde, como um caçador de relíquias, saído pessoalmente à cata de dados pelo país, particularmente o interior de São Paulo, que enriqueceriam o repertório conceitual da instituição e engrossariam as suas primeiras listas de bens tombados.

Mário de Andrade se tornaria uma espécie de mentor e orientador intelectual do grupo de mineiros de que Otto Lara Resende fazia parte. De espírito aberto e extrovertido, entusiasta dos esforços literários da juventude, o autor de Macunaíma, a partir da sua obra e de suas passagens por Belo Horizonte, influenciaria de forma decisiva a carreira de Otto e de seus amigos, que, durante anos, mantiveram correspondência com o escritor, já então consagrado.

O MES, ou melhor, Gustavo Capanema, acolheu e prestigiou artistas que encontrariam, naquela época, pouco espaço de atuação fora do abrigo da estruturas oficiais. Encomendou painéis ao incompreendido Portinari. Esculturas aos malditos Celso Antônio, Bruno Giorgi e Lipchitz, cujo talhe moderno incomodava a muitos. E até um edifício inteiro, a superenvidraçada sede do MES, a um grupo de arquitetos liderados por Lúcio Costa, achando-se entre estes um jovem especialmente talentoso, porém ainda desconhecido: Oscar Niemeyer.

Tanto Lúcio Costa como Niemeyer — conduzidos logo depois, pelas mãos de Juscelino Kubitschek, a Belo Horizonte — teriam papel destacado no sentido de arejar um pouco a então fechada, e mesmo opressiva, sociedade mineira. Por volta de 1940, no entanto, os jovens mais esclarecidos de Belo Horizonte, entre os quais Otto Lara Resende, só tinham olhos para a guerra na Europa. E, apesar dos feitos vanguardistas do conterrâneo Capanema na Capital Federal, todos detestavam Getúlio.

Mais de uma vez, Otto Lara Resende valendo-se, em geral, de opiniões alheias pautadas no determinismo geográfico, descreveu o mineiro como um ser à parte no contexto das psicologias regionais. Se o brasileiro do litoral, por exemplo, tendia à comunicabilidade e à extroversão, o homem da montanha era, em geral, um ser reservado, desconfiado e muito cioso do seu universo individual.

Num artigo sobre Carlos Drummond de Andrade "O mel oculto, o áspero minério", na tentativa de explicar a personalidade do poeta, Otto se refere a um texto de Guimarães Rosa sobre o "enigma mineiro" (expressão de Otto). Nele, ao seu estilo, o autor de Tutameia arrola algumas características que lhe pareciam fundamentais do montanhês:

“Seu gosto do dinheiro em abstrato. Sua desconfiança e cautela. Sua honesta astúcia meandrosa, de regato serrano, de mestres na resistência passiva. Seu vezo inibido, de homens aprisionados nas manhãs nebulosas e noites nevoentas de cidades tristes, entre a religião e a regra coletiva, austeras, homens de alma encapotada, posto que urbanos e polidos.”
A opinião de Drummond não é muito diferente:
“O Estado mais tipicamente conservador da União abriga o espírito mais livre. Sua aparente docilidade esconde reservas de insubmissão, às vezes convertida em ironia, e de algum modo chocada na pachorra de esperar, que tanto ilude o observador apressado, incapaz de perceber a chama latente do borralho. As revoluções liberais em Minas ilustram isso.”
A teoria da mineiridade explicaria em parte, assim, a Inconfidência e outros episódios históricos. A ironia e a dicotomia de espírito a que se refere Drummond estariam também na base do extenso anedotário envolvendo alguns políticos mineiros ilustres, de Benedito Valadares a José Maria Alkmin e Tancredo Neves. Valadares foi o interventor escolhido por Getúlio para governar Minas no Estado Novo. A notícia da sua nomeação causou surpresa à própria mãe, que não confiaria muito nos dotes intelectuais do filho. "Mas será o Benedito?" ³ — teria ela exclamado, introduzindo assim no repertório popular uma nova interjeição.
Outra anedota envolvendo Benedito Valares versa sobre um discurso que o político teria feito numa cidade do interior de Minas, conhecida pelo cultivo de uma fibra vegetal chamada pita. Começava assim: "Nesta região, onde a pita abunda..." Percebendo o cacófato, ele voltou atrás, tentou corrigir, mas a emenda saiu pior que o soneto: "Nesta região, onde abunda a pita..."

A julgar até pela sua frase mais famosa, Otto Lara Resende, apesar da fidelidade às suas raízes, não cultivava bairrismo em relação a Minas. Disse ele:

“O fato de Minas produzir muito escritor e muito banqueiro tem certamente a mesma explicação pela ecologia e pela sociologia. Mineiro é o povo que se deixa cortar o pescoço para não pagar imposto, porque não acredita no Estado. A própria formação de Minas, com aquelas levas de aventureiros de diferentes etnias que procuravam vender pastéis e miçangas aos arruinados do ouro, determinou uma economia de reflexos fechados, à base do pé-de-meia individual.”
A mudança de eixo no poder, com a consequente abolição da "política do café-com-leite", pela Revolução de 30, gerou certamente, entre os mineiros, ressentimentos e preconceitos em relação ao governo central. Essa sensação de esvaziamento explicaria, em certa medida, o horror que Getúlio Vargas despertava em Minas, ao qual Otto e o seu grupo não eram indiferentes. Anos depois, já entendendo melhor os complicados meandros da política nacional, o escritor mudaria de ideia.
Como jovem repórter, já no Rio, cobrindo a instalação da Constituinte de 1946 para O Globo, Otto Lara Resende teve a oportunidade de conhecer de perto Getúlio Vargas, então um ex-presidente retornando ao poder, dessa vez ao poder legislativo, na qualidade de senador dos mais votados. Essa entrevista renderia a Otto, mais tarde, algumas de suas melhores páginas.

Ele encontrou-se com Getúlio no apartamento deste, no Morro da Viúva. Em vez do repulsivo tirano da sua adolescência, deparou-se com um homem algo bonachão, às vezes mesmo meio tímido, disposto a ouvi-lo paternal e pacientemente, sempre com um atencioso sorriso nos lábios. Deu até espaço para que Otto, um mero foca ³, explicitasse todas as suas furibundas críticas acumuladas contra o Estado Novo. Depois disse: "Tu és ainda muito jovem e não sabes que um ditador não pode fazer tudo. Um dia saberás."

Curioso, anotou o repórter, é que o ex-presidente chamava-se a si próprio de "ditador", mesmo termo usado pela imprensa de oposição para ofendê-lo. Anos depois, anotaria o escritor maduro:

“A despeito de seu estilo caudilhesco, de sua formação pouco inclinada ao prestígio das instituições democráticas, é possível que a História venha um dia a reconhecer, sem paixão, que Getúlio Vargas foi um momento importante em nossa trajetória republicana.”
Nos tempos da juventude de Otto, no entanto, eram poucos os mineiros que pensavam assim.


* Jornalista e escritor, nasceu em Niterói-RJ em 1947 e faleceu no Rio de Janeiro em 11/10/2019. Estreou na imprensa em 1970 como repórter do jornal Última Hora. Trabalhou como editorialista no Jornal do Brasil, no Estado de S. Paulo; foi repórter e crítico literário da revista Veja, redator da revista Isto É, editor do Jornal da Globo e redator-chefe da revista Manchete. Também foi diretor de jornalismo da Academia Brasileira de Imprensa (ABI), editor da Revista do Livro da Biblioteca Nacional, tendo participado do conselho editorial da Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. É autor de “A poeira da Glória” (Relume Dumará, 1998), “Brilho e sombra” (Bem-Te-Vi, 2006), sobre a vida e obra de Otto Lara Resende, e “A rotativa parou” (Record, 2010), que relata a história do jornalista Samuel Wainer à frente do jornal Última Hora.


II. NOTA EXPLICATIVA do gerente do Blog


¹ Efetivamente, é da vida e obra de Otto Lara Resende que trata o livro "A Poeira da Glória" de Benício Medeiros, de cujo terceiro capítulo intitulado "A teoria da mineiridade", esse texto foi extraído.

² O célebre pensador e crítico literário brasileiro, Alceu Amoroso Lima, adotou o pseudônimo de Tristão de Athayde, ao se tornar crítico em O Jornal (1919).

³ Na gíria brasileira, "foca" significa jornalista novato, sem experiência.

⁴ Marcelo Duarte, in Guia dos Curiosos, dá a seguinte versão para o dito popular: "A expressão "Será o Benedito?" nasceu em 1933, quando o presidente Getúlio Vargas demorou muito para escolher o interventor de Minas Gerais. Todos temiam que ele escolhesse o pior candidato, Benedito Valadares. Por isso, a população se perguntava: "Será o Benedito?" E o Benedito foi o escolhido."


III. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA


MEDEIROS, Benício: OTTO LARA RESENDE: a poeira da Glória, integrante da série “Perfis do Rio”. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará: Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, 1998, 141 p.

__________________: À SOMBRA DO CARAÇA, 2º capítulo do livro A POEIRA DA GLÓRIA, postado no Blog de São João del-Rei em 08/01/2025
Link: https://saojoaodel-rei.blogspot.com/2025/01/a-sombra-do-caraca.html
Postado por Francisco José dos Santos Braga às 17:01

terça-feira, 22 de julho de 2025

DUAS REVISTAS: UMA NAUFRAGOU, A OUTRA QUASE VIROU CINZA - Edmílson Caminha (ANE)

 Um artigo no site da Associação Nacional de Escritores, de Edmilson Caminha, provavelmente de 2019 ou 2020, do qual só tive conhecimento recentemente:


DUAS REVISTAS: UMA NAUFRAGOU, A OUTRA QUASE VIROU CINZA
Edmílson Caminha

Site da ANE
https://anenet.com.br/lygia-uma-saudade/

        Ao longo da História, o Itamaraty transcendeu o papel institucional que lhe cumpre exercer – representar diplomaticamente as posições políticas e os interesses econômicos do Brasil no concerto das nações – para também se fazer um centro de primazia acadêmica, à altura do que há de melhor no magistério universitário brasileiro. Prova disso são os homens e mulheres diplomatas que o honram e engrandecem, ontem como hoje: Guimarães Rosa, Antônio Houaiss, José Guilherme Merquior, Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Sérgio Paulo Rouanet, Vera Pedrosa, Alberto da Costa e Silva, Evaldo Cabral de Mello, Francisco Alvim, Lauro Moreira, Carlos Henrique Cardim, Paulo Roberto de Almeida, João Almino, Gisela Maria Padovan, Sérgio Danese, Gonçalo Mourão, José Maurício Bustani e Irene Vida Gala, além de tantos outros. A par do desempenho das funções burocráticas e protocolares como embaixadores e cônsules, publicaram obras literárias (e muitos felizmente ainda as escrevem), dirigiram programas editoriais de relevo e possibilitaram o lançamento de periódicos que enriquecem a cultura brasileira.
        Criada em 1993 por decreto do presidente Itamar Franco, a Comissão Nacional para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil foi presidida pelo embaixador Lauro Moreira, responsável pela publicação de três excelentes números da revista Rumos. Com o subtítulo “Os caminhos do Brasil em debate”, abria as páginas para a discussão de ideias, a livre defesa de pensamentos e de opiniões, longe do oba-oba demagógico que está mais para a propaganda de governos do que para o diálogo intelectual. Sob a direção do jornalista Dirceu Brisola e o saber do também jornalista Daniel Piza, um dos editores, não havia dúvida quanto à seriedade do projeto, como se lê na apresentação do diplomata Lauro Moreira:
        A revista Rumos nasce com objetivos claros. Ela se insere na proposta da Comissão Nacional do V Centenário de fazer dos 500 Anos um momento de reflexão sobre caminhos e perspectivas do Brasil. (…) Como espaço de debates, Rumos será pluralista e crítica. Cada número privilegiará um tema, tratado por intelectuais de diferentes tendências. (…) Espero que Rumos contribua para mobilizar a sociedade brasileira em torno de uma reflexão crítica sobre o significado de nossos quinhentos anos de história, com os olhos postos no futuro.
        O primeiro número (dezembro de 1998 / janeiro de 1999), com o tema “Conflitos da identidade nacional”, traz longos e substanciosos ensaios de Jorge Coli, Olgária Matos, Carlos Guilherme Mota, Eduardo Portella, Renato Janine Ribeiro, Ismail Xavier e Rosa Maria Dias. Textos a que se somam uma entrevista com o professor João Luís Fragoso, poemas de Marly de Oliveira e a memória de Ferreira Gullar como uma das primeiras vítimas do AI-5, preso que foi no infausto dia 13 de dezembro de 1968. Que outra revista brasileira, mesmo as acadêmicas, reúne tanta gente boa logo na edição inaugural?
        Para o número 2 (março / abril de 1999) escrevem, como resposta à pergunta “Quem és tu, Federação?”, intelectuais com a relevância de Francisco de Oliveira, Fernando Luiz Abrucio, Isabel Lustosa, Rui de Britto Álvares Affonso, Celso Furtado, Luiz Roncari, Milton Hatoum, Rubens Ricupero, Roberto DaMatta e Daniel Piza. O entrevistado é o filósofo José Arthur Giannotti, que, há 25 anos, defendia ideias que continuam válidas:
Acho que a primeira coisa a fazer seria pegar a borracha e limpar a Constituição. Uma emenda supressiva. Não uma constituinte, mas uma reforma geral para que a Constituição fosse mais do tipo americano, mais com princípios, deixando o resto para a lei ordinária. Com um capitalismo desse jeito, com luta social, vai-se adaptando a lei. Definem-se grandes princípios, sem imaginar que a Constituição vá garantir tudo. E conforme venha um governo mais de esquerda, promulga certas leis, em vez de mexer na Constituição. O detalhismo da Constituição não tem sentido. Em segundo lugar é a reforma política. Esse negócio de partido nanico é altamente prejudicial para a política. Ter um jogo político mais limpo não permite, por exemplo, aventureiros que chegam a matar gente. A reforma política é fundamental.
“Brasil / Portugal, o legado ambivalente” é o mote da terceira edição de Rumos (maio / junho de 1999), com estudos de Aspásia Camargo, Evaldo Cabral de Mello, Miriam Dohlnikoff, Evanildo Bechara, João Almino, a portuguesa Graça Capinha, Jacqueline Hermann, Luís Antônio Giron e Leda Tenório da Motta. Entrevistado por Daniel Pizza, o historiador inglês Kenneth Maxwell não vê, hoje, afinidades maiores entre Brasil e Portugal:

        O Brasil é muito grande, muito diversificado, multiétnico e multirracial, com uma experiência histórica que seguiu caminhos muito diferentes dos de Portugal, por mais de um século, para que essa identidade reflita a realidade. Os laços de idioma e história, o passado colonial comum, algumas continuidades institucionais e atitudes burocráticas obviamente continuam. Mas me espantei em minha primeira visita ao Brasil com o quanto ele é diferente de Portugal, da mesma forma como os Estados Unidos são muito diferentes, em vários sentidos, do tipo de mundo inglês onde cresci.
        A capa não informa, como antes, “publicação da Comissão Nacional para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil”, mas apenas “publicação comemorativa do V Centenário do Descobrimento do Brasil”. Sinal, talvez, de que, por inveja ou por mesquinharia, já houvesse insatisfeitos com o brilho de Lauro Moreira à frente da Comissão, como a folclórica e ridícula figura do governo Fernando Henrique Cardoso que poria tudo a perder. Abandonou-se o belo programa de eventos culturais pela construção de uma réplica da caravela de Cabral, que afundou sem navegar sequer uma milha. Melancólico símbolo de como triunfam as nulidades, desde o tempo de Rui Barbosa. Assim naufragou a revista Rumos, que não chegou a padecer do “mal dos sete números”, como tantos bons periódicos brasileiros: foi morta aos três…

• •

        Em 2017, o presidente Michel Temer criou, por decreto, a Comissão Nacional do Bicentenário, responsável pelos eventos oficiais comemorativos dos 200 anos da Independência. Presidido pelo ministro da Cultura, o grupo jamais se reuniu, tão rapidamente se sucederam as nomeações para a chefia do ministério. Sabedor de que tudo resultaria em nada, o diplomata Paulo Roberto de Almeida, então presidente [Diretor] do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais, sugeriu a formação de um Grupo de Trabalho do Bicentenário da Independência, no âmbito do gabinete do à época ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira. O coordenador-adjunto, embaixador Carlos Henrique Cardim, propôs a edição de uma revista que ombreasse com os 49 números da Oceanos, publicada em Lisboa, entre 1989 e 2002, pela Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses.
        Criou-se, assim, a 200, cuja meta se patenteia na apresentação do editor Cardim:
        A revista 200 é uma publicação periódica de divulgação de artigos sobre a Independência: textos já publicados, mas de difícil acesso, e textos originais. Contribui para uma visão mais ampla do processo, com ênfase na sua dimensão de relações exteriores. Colabora, assim, com a “Comissão Nacional do Bicentenário”. (…) Assim inspirada, a revista 200 propõe-se difundir “monografias conscienciosas”, principalmente do ângulo das relações exteriores.

        “Muitas vezes o olhar estrangeiro enxerga mais nítido e seleciona melhor que a visão do nacional”, escreve o apresentador, para concluir com uma história:

No almoço oferecido pelo Presidente Tancredo Neves, em nossa Embaixada em Buenos Aires, em janeiro de 1985, em homenagem ao Presidente Raúl Alfonsín, Jorge Luis Borges, presença honrosa no ato, comentou ao Presidente Trancredo Neves duas coisas que impressionavam, e o tocavam forte sobre o Brasil: o livro de Euclides da Cunha, Os Sertões, e particularmente a frase do Hino da Independência: “Brava gente brasileira”, disse cantarolando.
        Tancredo ouviu com atenção e apreciou bastante. Borges – ao lado da mulher, María Kodama –, cego, e com bengala que trouxera dos pastores do Egito, viu claríssimo o espírito e o sentimento que movem o Brasil.
        Com data de outubro / dezembro de 2018, o primeiro número da 200 enfeixa páginas de Jean-Baptiste Debret, Arno Wehling, Gilberto Freyre, Márcia Regina Berbel, Raymundo Faoro, Carlos Lima Junior, Solange Ferraz de Lima, Pedro Calmon, José Murilo de Carvalho (com Lúcia Bastos e Marcello Basile), Gonçalo Mourão, João Alfredo dos Anjos, Paulo Roberto de Almeida e Manuel Diegues Júnior. Capítulos primorosamente ilustrados, a comprovar a excelência do projeto e o apuro da edição.
Impressa pela gráfica em dezembro de 2018, a revista foi censurada pelo governo Jair Bolsonaro, que se empossaria um mês depois. Sobre a espantosa decisão, lembra o diplomata Paulo Roberto de Almeida:

        Qual não foi a nossa surpresa quando a tropa de bárbaros que estava tomando posse do Governo e do Itamaraty, sob as ordens diretas do patético chanceler acidental, ordenou o “sequestro” – essa é a palavra – da revista e sua não distribuição. Depois, eu soube que foi ordenada a sua destruição, así no más…

        Sem lançamento nem circulação, nenhum exemplar da 200 chegou a leitores, a bibliotecas, a cadernos de cultura da imprensa. Não bastasse a asfixia, determinou-se a queima de toda a edição, como se regredíssemos aos autos de fé medievais, sob a loucura de infames que nos afrontaram como povo e nos comprometeram como nação. Milagrosamente, salvou-se a revista das chamas, para que ficasse como prova de que o bicentenário da Independência poderia ter-se comemorado de maneira digna, honrosa, decente.
        Em 7 de setembro de 1822, Pedro I gritou, às margens do Ipiranga, “Independência ou morte!” Dois séculos depois, o insano Bolsonaro empunha um microfone em Brasília e puxa o coro de “Imbrochável! Imbrochável! Imbrochável!” Que, daqui a cem anos, não voltem os brasileiros a passar por essa vergonha. Quem sabe, então, possa o Itamaraty publicar sua grande revista, com o título 300, devidamente atualizado…


Has Brazil Invented the Future of Money? - Paul Krugman (Substack)

Has Brazil Invented the Future of Money?

 Paul Krugman

Sunstack, July 22, 2025

Last week the House passed the GENIUS Act, which will boost the growth of stablecoins, thereby paving the way for future scams and financial crises. On Thursday the House also passed a bill that would bar the Federal Reserve from creating a central bank digital currency (CBDC), or even studying the idea.
Why are Republicans so terrified by the idea of a CBDC that they’re literally ordering the Fed to stop even thinking about it?
In 2022 the Fed issued a preliminary report on the possibility of creating a CBDC, which it described as “analogous to a digital form of paper money.” Currently, Americans are able to hold and spend one form of Federal Reserve liability: green pieces of paper bearing pictures of dead presidents. A CBDC would expand that right, allowing us to hold and spend deposits at the Fed, which, like all deposits these days, would just be digital records.
If this sounds outlandish, you should realize that we already have what amounts to central bank digital currency — but only for financial institutions. Banks maintain accounts at the Fed and can transfer funds to each other via an electronic payments system. Why shouldn’t comparable facilities be made available to individuals and nonfinancial companies?
Republicans say that they’re worried about invasion of privacy, that a CBDC would open the door to widespread government surveillance. But remember, these are the people who have handed over personal Medicaid data to ICE to facilitate arrests and abductions. If you think they’re deeply concerned about potential surveillance, I have some Trump family memecoins you might want to buy.
I’d also point out that the government can access private bank records under certain circumstances and certainly has the technological ability to watch every financial move you make. The only thing that keeps it from doing so is the law, specifically the Right to Financial Privacy Act. If we ever do create a CBDC, it will surely involve comparable privacy protection. Either you trust in rule of law or you don’t.
What Republicans are really afraid of, with good reason, is the likelihood that many people would prefer a CBDC to private bank accounts, especially but not only stablecoins. And in general any attempt to create a full-fledged CBDC would run into fierce opposition from the financial industry.
But what about the possibility of creating a partial CBDC? Could we retain private bank accounts but provide an efficient, publicly-run system for making payments out of those accounts?
Yes, we could. We know this because Brazil has already done it.
Most people probably don’t think of Brazil as a leader in financial innovation. But Brazil’s political economy is clearly very different from ours — for example, they actually put former presidents who try to overturn elections on trial. And the interest groups whose power, for now at least, makes a U.S. digital currency impossible appear to have much less sway there. Brazil is, in fact, planning to create a CBDC. As a first step, back in 2020 it introduced Pix, a digital payment system run by the central bank.
As I understand it, Pix is sort of like a publicly run version of Zelle, the payment system operated by a consortium of U.S. private banks. But Pix is much easier to use. And while Zelle is big, Pix has become simply huge, used by a reported 93 percent of Brazilian adults. It appears to be rapidly displacing both cash and cards:



Source: The Economist

And why not? According to an IMF report,

· Pix transactions take place almost instantaneously. A Pix payment settles in 3 seconds on average versus 2 days for debit cards and 28 days for credit cards.

and

· Transaction costs are low. The authorities have set a requirement on Pix to be free for individuals, and the cost of a payment transaction for firms/merchants is only 0.33 percent of the transaction amount, versus 1.13 percent for debit cards and 2.34 percent for credit cards.

I can’t help noticing that Pix is actually achieving what cryptocurrency boosters claimed, falsely, to be able to deliver through the blockchain — low transaction costs and financial inclusion. Compare the 93 percent of Brazilians using Pix to the 2 percent, that’s right, 2 percent of Americans who used cryptocurrency to buy something or make a payment in 2024.

Oh, and using Pix doesn’t create an incentive to kidnap people and torture them until they give up their crypto keys.

So, will we get a Pix-type system in the United States? No. Or at least not for a long time, for two reasons.

First, the U.S. financial industry just has too much power, and would never allow a public system to compete with its products — even, or actually especially, if the public system is superior. In fact, the Trump administration suggests that Pix’s mere existence in Brazil constitutes unfair competition for U.S. credit and debit card companies.

Second, the U.S. right is firmly committed to the view that the government is always the problem, never the solution. Republicans will never, ever admit that a government-operated payments system might be better than private-sector alternatives.

Other nations may well learn from Brazil’s success in developing a digital payment system. But America will probably remain trapped by a combination of vested interests and crypto fantasies.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...