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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

Dr. Henry Kissinger Shares His Thoughts on China, Russia, & Ukraine - Krane Shares

 Government Policy

Dr. Henry Kissinger Shares His Thoughts on China, Russia, & Ukraine

KraneShares recently participated in a private discussion with former US Secretary of State Dr. Henry Kissinger at the Metropolitan Club in New York City. We hosted a private lunch briefing with the former Secretary of State in 2019. Given the significant developments over the past four years, we were eager to learn how Kissinger’s views have evolved in 2022. 

Dr. Kissinger was a key influence in shaping U.S. foreign policy with China under President Richard Nixon. He continues to share valuable insight on the relationship between the two countries against an increasingly complex political backdrop. The conference was centered on the recent Russian invasion of Ukraine and the potential political and economic consequences affecting China, Russia, and the U.S. going forward.

The main takeaways from Dr. Kissinger’s remarks include:

  • The dynamics between China, Russia, and the U.S. remain fragile and unpredictable going forward as Russia engages in conflict with Ukraine.
  • China likely did not foresee the invasion when entering into an alliance “without limits” with Russia. Despite refusing to condemn the war, China is expected to avoid entering a contentious position with Europe due to heavy trade with the continent. China will be inclined to depart from its partnership with Russia as a result.
  • China and the U.S. continue to lack the high-level diplomatic communication that is crucial to avoiding conflict and developing a strategic relationship for the future.

Dr. Kissinger stated that Ukraine should seek a return to the status quo, i.e., re-establishing the conditions that held before the war with Russia. He suggested that Ukraine will likely push further and demand to restore its border to include Crimea and the parts of the Donbas region that have been occupied by Russia. This scenario would be seen as a clear defeat for Vladimir Putin, shifting the dynamic of the war from a defense of Ukrainian territory to an encroachment on Russia. This may also risk escalation by Putin, but Dr. Kissinger believes it is unlikely that Russia would resort to the use of nuclear weapons.

Immediately prior to Russia’s invasion of Ukraine, China and Russia agreed to a “no limits” partnership with the stated purpose of countering U.S. influence. Dr. Kissinger believes that, at the time the agreement was announced China was unaware of Russia’s plans to invade. He predicts that China will begin to depart from this alliance due to the potential sanctions from the West. Furthermore, significant trade between China, Europe, and the US prevents the major economic power from siding with Russia. As a result, Russia and China presently do not share the same objectives.

The original concept of the “no limits” alliance was to join the two countries in opposition to what they both see as the U.S. interfering in their domestic affairs. Russia’s invasion of Ukraine has created uncertainty in its alliance with China, leaving room for new negotiations in the near future.

Considering the level of economic coupling between China and the U.S., it is crucial that the two countries resolve their differences and forge a partnership going forward. Communication between China and the U.S. drastically shifted under the Trump administration as Donald Trump established China as an adversary and ignited an economic war. This set the tone for Biden’s presidency which continues to see China in the light Trump cast.

Dr. Kissinger looked back to the origins of contact between China and the U.S. The two powers forged their relationship on the grounds of a common strategic interest: containing the then Soviet Union. This led to cooperation between the countries for many years following the Cold War. Since then, China has rapidly developed, creating a unique situation in which the U.S. faces a country with nearly equivalent strategic capability.

Dr. Kissinger believes it would benefit both countries now to take the basic approach observed during the Nixon administration in which communication with China focuses on common strategic interests without attempting to alter the domestic structure of either nation. Continuing to engage with China in the manner that has been may lead to a long and potentially dangerous conflict. Dr. Kissinger noted that this also brings forth an important decision for China as this conflict would be substantially damaging for the Chinese economy. He believes China is not prepared for this conflict with the U.S. because of its own internal objectives, which include containing COVID and jump-starting domestic consumption. The issue thus resides in the lack of high-level diplomatic communication between China and the U.S. The U.S. must be active in limiting and possibly reducing the confrontational aspect of its relationship with China.

Dr. Kissinger suggested a good principle to keep in mind: when dealing with two adversaries, it is best for them to be greater enemies with each other than they are with you. The U.S. should place itself closer to China than China is with Russia. However, he believes once the conflict in Ukraine is settled politically, the U.S. should not expect the alliance between China and Russia to be dissolved. The more China’s objectives diverge from Russia’s, the more they begin to align with the U.S. The U.S. should seize the opportunity presented by China’s frustration with Russia to encourage China to work more constructively with the U.S. going forward.

Kissinger believes that China has consistently honored the position of mutual respect for sovereignty that is in the written principles of its foreign policy. Russia’s invasion of Ukraine put a wedge in the partnership between Russia and China as it would be against China’s strategic interests and operating principles to support Russia’s invasion. This is evidenced by China’s refusal to condone Russia’s actions. In the wake of their “no limits” alliance, this conflict opens an opportunity for the U.S. to strengthen foreign relations with China going forward. If the two countries can use this opportunity to develop high-level diplomatic communication, we could see an improvement in U.S.-China relations in the future.


Câmara aprova acordo para instalação de escritório da OCDE no Brasil

Câmara aprova acordo para instalação de escritório da OCDE no Brasil

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico é formada por 38 países, entre os quais EUA, Alemanha e Japão

Câmara dos Deputados, 29/06/2022

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (29) o Projeto de Decreto Legislativo 253/21, que valida os termos de acordo para a instalação de um escritório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no Brasil. O texto seguirá para o Senado.

O acordo foi assinado em Paris (França), em 8 de junho de 2017 e, para começar a valer, precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional.

Relator da proposta, o deputado Eduardo Cury (PSDB-SP) afirmou que a OCDE é uma das instituições internacionais mais importantes do mundo e tem em seus quadros parceiros estratégicos do Brasil. O grupo é formado por 38 países, entre os quais Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Austrália, Japão, Turquia, Chile, Canadá e México.

“Embora o Brasil ainda não seja membro da OCDE, a sua relação com o Brasil é de longa data, sendo considerado parceiro-chave”, disse Cury. A estratégia de boa relação do Brasil com o órgão internacional, segundo ele, é uma política de Estado.

Ao justificar a proposta, o governo brasileiro avaliou que o escritório vai promover atividades conjuntas entre o Brasil e a OCDE, funcionando como ponto de contato efetivo entre autoridades brasileiras e o secretariado da organização.

"O estabelecimento do escritório no Brasil será especialmente oportuno, considerando a recente solicitação do País de iniciar o processo de adesão à organização, por carta datada de 29 de maio de 2017”, diz o texto assinado pelo ex-chanceler Ernesto Araújo e pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Segundo o texto, o escritório servirá também para apoiar missões e eventos da OCDE no Brasil e para garantir privilégios e imunidades aos agentes da entidade no desempenho de suas funções.

Discussão
PT, Psol e PSB votaram contra a matéria. O deputado Afonso Florence (PT-BA) afirmou que não concorda com determinados pontos do acordo, como a concessão de incentivos fiscais. “São incentivos que existem como regra para países que fazem parte da OCDE, mas nós não somos”, disse.

Já o deputado General Peternelli (União-SP) defendeu a aprovação do acordo. “Esse escritório de representação do País é muito importante, todos sabemos que o escritório tem uma representatividade semelhante a uma embaixada e vai permitir uma inserção do Brasil no cenário internacional”, declarou.

Garantias
O texto do acordo estabelece, entre outros pontos, que a OCDE terá personalidade jurídica e seu escritório gozará de privilégios e imunidades idênticos àqueles garantidos às agências especializadas das Nações Unidas, os quais serão aplicáveis à propriedade da OCDE, seus bens, agentes e especialistas em missão no Brasil.

Deverão ser concedidos privilégios fiscais ao escritório da OCDE no Brasil, como isenção de imposto sobre a compra de veículos importados para o escritório da organização; de taxas de licença de rádio e televisão; e de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o consumo local de bens e serviços por parte do escritório da OCDE, cobrado sobre energia elétrica, telecomunicações e gás.

https://www.camara.leg.br/noticias/892233-camara-aprova-acordo-para-instalacao-de-escritorio-da-ocde-no-brasil

Bolsonaro cria crise com a Bolívia por oferecer asilo a ex-presidente golpista (RFI)

 Ex-presidente da Bolívia recusa proposta de asilo no Brasil feita por Bolsonaro


O governo boliviano afirmou que é ‘absolutamente impertinente’ o plano do presidente brasileiro

POR RFI | Carta Capital, 29.06.2022 07H51

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, enfureceu o governo boliviano ao oferecer asilo à Jeanine Áñez no último domingo 26.

A ex-chefe de Estado foi condenada a dez anos de prisão no início deste mês, por assumir a presidência da Bolívia irregularmente, após a renúncia de Evo Morales em 2019.

Áñez está detida em uma peninteciária feminina em La Paz desde março de 2021. Através das redes sociais, administradas por seus parentes, a ex-presidente boliviana agradeceu a Bolsonaro na terça-feira (28). No Twitter, ela ressaltou que “é inocente” e que “não saiu nem sairá do país”.

A ex-chefe de Estado também voltou a afirmar que “não conheceu Bolsonaro pessoalmente”, embora o presidente brasileiro garanta que se encontrou com ela. “Estive uma vez com ela apenas. Achei uma pessoa bastante simpática, uma mulher, acima de tudo”, declarou.

Esse contraponto tem sido usado pelo governo boliviano para concluir que a renúncia do então presidente Evo Morales, em novembro de 2019, foi um “golpe de Estado” arquitetado com a cumplicidade de agentes externos. Dessa suposta conspiração internacional teriam participado, segundo os aliados de Evo Morales, o Brasil, o Equador, a União Europeia e os Estados Unidos.

“Compartilhamos as preocupações da ONU quanto ao devido processo de Jeanine Áñez”, insistiu, nesta terça-feira (28), o secretário adjunto para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado, Brian Nichols, em referência aos questionamentos das Nações Unidas sobre a independência da Justiça boliviana.

Bolívia acusa Bolsonaro de intromissão
O governo boliviano afirmou na terça-feira que é “absolutamente impertinente” o plano de Bolsonaro de conceder asilo à Áñez. Legisladores governistas acrescentam que a ideia não cumpre com os requisitos internacionais e reforçam a acusação de que o presidente brasileiro teria sido cúmplice do “golpe de Estado” que levou Áñez ao poder em novembro de 2019.

O ministro das Relações Exteriores da Bolívia, Rogelio Mayta, classificou como “inapropriada ingerência em assuntos internos” a proposta de Bolsonaro. “Lamentamos as desafortunadas declarações do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, que são absolutamente impertinentes, constituem uma inapropriada ingerência em assuntos internos, não respeitam as formas de relacionamento entre Estados e não coincidem com as relações de boa vizinhança e de respeito mútuo entre o Brasil e a Bolívia”, definiu o chanceler durante uma coletiva, especialmente convocada para abordar a questão.

No domingo (26), durante uma entrevista ao programa “4 x 4” transmitido pela Internet, Bolsonaro revelou o plano de acolher a ex-presidente boliviana, condenada no último 10 de junho a dez anos de prisão por “não cumprir com deveres e por tomar decisões contrárias à Constituição e às leis”, num processo conhecido como “Golpe de Estado II”

“O Brasil está botando em prática a questão de relações internacionais, de direitos humanos, para ver se traz a Jeanine Áñez e oferece para ela o abrigo aqui no Brasil. É uma injustiça com uma mulher presa na Bolívia”, disse Bolsonaro.”Faremos tudo o que for possível. Está presa injustamente”, concluiu o presidente brasileiro.

“A senhora Áñez está sendo investigada e processada criminalmente no nosso país porque cometeu várias violações de direitos humanos e existem indícios suficientes de também ter cometido delitos de lesa humanidade”, recordou o chanceler boliviano em referência a outro processo, nesse caso o “Golpe de Estado I”, no qual Jeanine Áñez é acusada de sedição terrorismo, levantamento armado e genocídio.

Queixa diplomática
Rogelio Mayta afirmou ainda que o governo da Bolívia iniciará um processo contra o Brasil. “Já trabalhamos nessa queixa. Vamos cumprir com as regras do relacionamento internacional e, nesse caso, o correto é fazermos uma reclamação diplomática”, apontou o ministro.

Pelo lado dos legisladores governistas, o presidente da Câmara de Deputados, Freddy Mamani, interpretou que “a proposta de Bolsonaro confirma a sua cumplicidade no golpe de Estado de 2019”. “Estamos vendo, aos poucos, como todo o plano de um golpe de Estado fica visível.  Sabíamos que esse golpe não era só interno, mas também externo”, acusou Mamani.

O senador Luis Adolfo Flores também classificou a proposta de Bolsonaro como uma “aberta ingerência nas decisões de órgão independentes da Bolívia”. Segundo ele, o presidente brasileiro fere as regras internacionais para a concessão de asilo. “Um solicitante de asilo é aquele que ainda não foi processado”, destacou Flores.

Presidentes da região foram sondados
Para o seu plano de conceder asilo à ex-presidente Áñez, Bolsonaro esclareceu que depende “se o governo boliviano estiver de acordo” e que já conversou sobre o assunto, no começo do mês durante a Cúpula das Américas, com alguns líderes da América Latina, citando o presidente argentino, Alberto Fernández, um aliado do atual governo da Bolívia.

Bolsonaro também afirmou que Lula é “hipócrita” por não condenar a sentença contra Jeanine Áñez, indicando que a preocupação com os direitos humanos tem viés ideológico. “O ex-presidente [Evo Morales] e o atual [Luis Arce] são amigos do Lula e ele não diz absolutamente nada sobre esse caso”, frisou Bolsonaro.

A chegada de Jeanine Áñez ao poder
A então senadora Jeanine Áñez assumiu a presidência da Bolívia em 12 de novembro de 2019, depois da renúncia de Evo Morales, acusado de fraude durante as eleições daquele mês, em uma época em que o país vivia uma convulsão social.

Ao deixar o cargo, Evo Morales não denunciou um “golpe” e toda a linha sucessória – vice-presidente, presidente do Senado e presidente da Câmara de Deputados -, pertencente a seu partido, também renunciou. Jeanine Áñez era a seguinte dessa linha e a sua posse foi validada pelo Supremo Tribunal. O Brasil reconheceu sua legitimidade

Como presidente interina, Jeanine Áñez ficou um ano no poder até que Luis Arce, candidato de Evo Morales, ganhou as eleições. Em março de 2021, a ex-senadora foi presa preventivamente até ser condenada em 10 de junho passado.

Também foram condenados os ex-comandantes das Forças Armadas e da polícia que estão foragidos. “Se estiverem no Brasil, não vão sair daqui”, avisou Bolsonaro, estendendo a oferta de asilo.

https://www.cartacapital.com.br/mundo/ex-presidente-da-bolivia-recusa-proposta-de-asilo-no-brasil-feita-por-bolsonaro/

O futuro do grupo BRICS - ensaio por Paulo Roberto de Almeida

O futuro do grupo BRICS 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Notas para subsidiar participação em evento sobre o BRICS; 30/06/2022; 17hs.

 

 

A primeira questão que vem à baila, quando se participa de um webinar que tem por título “O futuro do grupo BRICS”, depois do início da invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro de 2022, é justamente a de saber se o grupo, do qual a Rússia é um dos membros mais relevantes, tem algum futuro, a partir de uma guerra de agressão absolutamente cruel e desumana em seu portfólio internacional. Trata-se, obviamente, não só de uma violação flagrante da Carta da ONU e todos os princípios conhecidos do Direito Internacional, mas também da prática deslavada e aberta de crimes de guerra, talvez similares aos que levaram líderes civis e militares nazistas ao Tribunal de Nuremberg, em 1946.

Apresso-me, contudo, em dizer que não existe, aparentemente, nenhum risco para a sobrevivência e a existência continuada desse grupo, mesmo com a continuidade dessa guerra inaceitável sob todos os critérios do direito e da diplomacia. Acredito que ele tem, sim, futuro, ainda que este seja patético e agora manchado por crimes que atingem diretamente seus pressupostos de atuação. Tenho duas razões para admitir a continuidade momentânea – não sei se futura – desse grupo que desafia as regras gerais de constituição de grupos: uma é de ordem burocrática, a outra de caráter político, embora desafiadora das concepções subjacentes a tal conceito de política. 

A história nos ensina que uma vez criada um novo órgão de consulta e coordenação entre Estados, dificilmente ele será extinto, mesmo sobrevivendo como dinossauro escapado de um grande desastre: interesses burocráticos, suposta credibilidade de seus membros, letargia dos programas iniciados na origem, novas iniciativas que justificam diárias e passagens dos funcionários engajados no exercício, desejo de continuar aparecendo na mídia, tudo se combina para manter respirando algum organismo que já se desviou de suas funções originais. Pela declaração emitida em junho de 2022, por ocasião da 14ª reunião de cúpula, organizada pela China, pode-se constatar que existem amplas evidências de que o grupo cresceu demasiado, já virou uma grande organização, e por isso mesmo ela precisa continuar se alimentando dela mesma. Pela burocracia já criada em torno dele, concluo, portanto, que o BRICS vai sim continuar.

Politicamente, o BRICS tampouco parece perto do seu esgotamento diplomático, a julgar pela declaração ministerial liberada pelos chanceleres do BRICS, em maio último, preparatória ao encontro de cúpula, no dia 28 de junho sob comando chinês. E o que, exatamente, disseram os chanceleres do BRICS nessa declaração, que parece situar-se num universo paralelo ao dos simples mortais, que somos todos nós? Leio isto, logo no terceiro parágrafo da declaração (ênfases agregadas, por necessárias): 

3. Os Ministros reiteraram seu compromisso com o multilateralismo por meio da defesa do direito internacional, inclusive os propósitos e princípios consagrados na Carta das Nações Unidas como sua pedra angular indispensável, e com o papel central das Nações Unidas em um sistema internacional no qual Estados soberanos cooperam para manter a paz e a segurança, promover o desenvolvimento sustentável, garantir a promoção e proteção da democracia, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos e promover a cooperação baseada no espírito de respeito mútuo, justiça e igualdade

 

Esse parágrafo 3º da declaração ministerial é praticamente idêntico ao parágrafo 5º. da declaração de cúpula, como se pode constatar logo a seguir (ênfases idem): 

5. We reiterate our commitment to multilateralism through upholding international law, including the purposes and principles enshrined in the Charter of the United Nations as its indispensable cornerstone, and to the central role of the United Nations in an international system in which sovereign states cooperate to maintain peace and security, advance sustainable development, ensure the promotion and protection of democracy, human rights and fundamental freedoms for all, and promoting cooperation based on the spirit of mutual respect, justice and equality.

 

Qualquer pessoa que acompanhe o noticiário internacional, desde o dia 24 de fevereiro, ou até mesmo antes, a partir da acumulação de tropas russas e reiteradas ameaças feitas pelo presidente russo ao governo da Ucrânia, pode ficar estupefata ao ler que os ministros do BRICS reiteram seu compromisso com a Carta das Nações Unidas, que eles apoiam um sistema no qual os Estados cooperação com a paz e a segurança e, para maior estupor, a promoção e a proteção da democracia, dos direitos humanos, etc., etc., etc. 

Pode-se perguntar onde estiveram os ministros desde o dia 24 de fevereiro, e como podem os líderes do grupo conseguir ignorar tudo o que ocorreu, na vida real, a partir dali, em TOTAL CONTRADIÇÃO com o que está descrito nesses dois parágrafos, não só fantasiosos, como também falsos e mentirosos. Esta é, para mim, uma prova cabal de que o grupo BRICS não só pode sobreviver, como poderá ter, com certeza, um futuro promissor diante de si, ainda que seja difícil imaginar que tipo de futuro seja esse, não só em função da continuidade de uma guerra devastadora, e criminosa, como também da credibilidade que possa ter o grupo ao continuar sustentando um de seus membros, cujo presidente poderá – e deveria – ser processado e incriminado pelo Tribunal Penal Internacional, por crimes de guerra, certamente por crime contra a paz e possivelmente por crimes contra a humanidade. Que sinalização ao mundo pretendem dar os seus líderes com tal tipo de declaração?

Acredito que se trata de uma situação constrangedora, pelo menos para três dos países membros do Brics que são, supostamente, democracias consolidadas, com alternância de partidos no governo, por meio de eleições livres e transparentes, e não regimes autocráticos como são, de fato, dois dos seus mais poderosos membros. Como continuar defendendo a Carta da ONU, a não intervenção nos assuntos internos de outros países, o não recurso à guerra – sobretudo não provocada –, a solução de controvérsias por meios pacíficos, enfim, o respeito à vida e o patrimônio de nações soberanas? Os quatro outros membros, que não diretamente responsáveis por esses crimes e violações flagrantes do Direito Internacional, pretendem continuar apoiando, ou vão insistir em se eximir, de fugir à realidade, em face das provas irrefutáveis que estão todos os dias no noticiário internacional? Eles por acaso não se dão conta de que essa realidade, transparente na mídia mundial soa como um desmentido cruel, até patético, em face do que está escrito naquela declaração? Como podem ser cegos, surdos e mudos no confronto com fatos cristalinos que desmentem cada uma dessas palavras?

Existe uma terceira razão, de ordem prática, ou operacional, que promete manter o grupo BRICS ao nível da água no futuro imediato, embora ameaçando submergir, caso a situação da guerra se torne incontornável na agenda internacional. Ela se explica pela necessidade ressentida pela Rússia, talvez pela própria China, de encontrar nos demais membros do grupo BRICS um pequeno sustentáculo do teatro de absurdos grotescos que se desenvolve no território ucraniano desde o dia 24 de fevereiro de 2022, e talvez desde antes, não apenas nas semanas imediatamente antecedentes – com a farsa, diversas vezes, repetida, de que não se pretendia atacar a Ucrânia – ou mesmo desde antes, mas sobretudo em 2014, quando a Rússia atacou covardemente os territórios da Ucrânia oriental e invadiu, sequestrou, amputou a península da Crimeia da soberania do seu vizinho, a pretexto de proteger nacionais que estariam sendo objeto de nada menos do que genocídio. Nada disso figura nos textos das duas declarações, a ministerial e a da cúpula, mas até quando se poderá manter a fantasia?

A Rússia precisa, desesperadamente, de algum apoio desses membros de um grupo que ela mesma criou, com a imediata solicitude do Brasil, na primeira década deste século. Salvo estes seus “colegas” de grupo, e mais algumas patéticas ditaduras em alguns poucos pontos do planeta, a Rússia conta, se tanto, com a indiferença benigna, ou malévola (segundo os casos), de uma parte dos demais países da comunidade internacional. Talvez a China – que hipotecou solidariedade prática para com a Rússia, sob a forma de uma “aliança sem limites”, pouco antes da invasão e da terrível guerra de agressão, conduzida por um vizinho que já lhe amputou territórios no passado – também necessite dessa “solidariedade cúmplice” de outros membros do grupo BRICS, pois que imagina, eventualmente, que possa ter de empreender aventura similar em outras paragens.

Esta terceira razão talvez até sobrepuje as duas primeiras, a burocrática e a política-diplomática, pois se trata de um oportunismo dos mais vis, baseado num cálculo político dos mais sórdidos, o de que a assim chamada “operação especial” responde a uma necessidade legítima de segurança. A justificativa se deve à existência, no mundo, um hegemon com pretensões à supremacia estratégica absoluta, que atua de forma arrogantemente unilateral, e que pretende submeter todos os demais países a seus interesses nacionais, à sua visão do mundo, aos seus valores e princípios: democracia, direitos humanos, liberdades. Tais elementos, inerentes às economias de mercado, não devem combinar com outros princípios e valores que sustentam Estados, certamente soberanos, mas que pretendem preservar regimes políticos organizados em torno de outros princípios, uma organização econômica mais bem determinada pelo Estado do que pelos mercados e uma definição própria do que sejam as “formas de expressão” aceitáveis para seus dirigentes. Vários dos elementos constitutivos de seus regimes políticos podem, eventualmente, não estar de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquela peça de papel de adesão voluntária, aprovada em 1948, depois que o mundo conseguiu dar cabo de ditaduras hediondas, responsáveis por milhões de mortos inocentes, por um genocídio jamais visto na história da humanidade e por uma destruição material nunca antes enfrentada pelas sociedades contemporâneas.

Mas, vejam, não se trata exatamente de um conflito ideológico, entre totalitarismos e democracias, como visto durante a Segunda Guerra Mundial, pois não parece mais haver uma disputa por modelos alternativos, opostos, de desenvolvimento econômico e político. O que se trata neste caso é o de uma percepção de ameaça à segurança, em vista da existência de uma aliança militar que foi criada justamente quando havia essa tremenda diferença entre duas visões opostas do mundo, coisas que parecem ter ficado para trás, embora talvez não tão atrás como pensávamos. Essa percepção, em legítima, de uma ameaça potencial à segurança de um Estado membro da ONU deveria ter, segundo o que reza a própria Carta da ONU, levada à consideração dos membros da ONU, eventualmente ao conhecimento do seu Conselho de Segurança, para deliberação e possível ação. É assim que deveriam proceder, de boa fé, os membros da ONU, segundo o que está disposto nos principais artigos da Carta. Não foi isso, infelizmente, o que ocorreu. Registre-se que a ação da Rússia sequer obedeceu antigas leis e costumes da guerra, que a despeito de serem proibidas formalmente, logo nos primeiros artigos da Carta, podem ser autorizadas em razão de ameaça credível ou de ataque iminente, o que não desobriga o Estado de levar isso ao conhecimento do órgão que cuida da paz e da segurança internacionais, do qual, aliás, o Estado agressor é, pasmem, membro permanente, ainda dotado do poder de veto sobre quaisquer de suas resoluções.

 

Volto à pergunta: poderia existir algum futuro para o grupo BRICS, em face dessa terrível realidade?

Acredito que sim, e por isso prognostiquei um futuro para o grupo BRICS, ainda que, realmente, eu não consiga definir que tipo de futuro será esse, com a continuidade da guerra e a permanência das violações à Carta da ONU, já apontadas pela Corte Internacional de Justiça, em resolução que ordenou a cessação imediata da agressão. O problema aqui é que a CIJ não tem dentes, ou seja, não pode tornar realidade qualquer uma de suas decisões a menos de uma tomada de posição concordante do Conselho de Segurança, um órgão notoriamente paralisado pelo absurdo poder de veto concedido a cinco de seus membros permanentes, inclusive quando um deles é o violador incontestável das obrigações contidas na Carta da ONU (e não deveria, portanto, participar do processo decisório).

À vista da declaração dos chanceleres de 19 de maio e, a partir da nova declaração de cúpula dos líderes dos Brics adotada em seu 14º encontro, pode-se afirmar, sim, que o grupo BRICS tem a sua continuidade assegurada. Mas eu me pergunto como o mundo, ou pelo menos os países ocidentais defensores dos princípios consagrados naquela Carta, olharão o grupo BRICS a partir de agora. Não pretendo sequer desculpar o Brasil, que aparentemente ficou do lado do Direito, ao ratificar as resoluções da ONU condenando a Rússia pela invasão, mas que, ao cabo de uma leitura mais cuidadosa das suas declarações de votos, mostrou-se, como provavelmente queria o presidente, objetivamente leniente para com o agressor e subjetivamente solidário com o Estado perpetrador das violações à Carta da ONU e ao direito internacional, por razões até aqui muito mal explicadas. Aparentemente, o que motivou o chefe de Estado brasileiro a adotar essa atitude de leniência, e até de conivência, para com o agressor foram algumas toneladas de fertilizantes. Isso seria tudo?

Mas nem vou considerar aqui as muitas declarações confusas ou ambíguas do próprio presidente, pois o que ele mesmo diz não conta, absolutamente, para efeitos diplomáticos. O que ele disse ou diz, no cercadinho do Alvorada, ou até em encontros internacionais, não tem a mesma validade que declarações formais no âmbito da ONU e seus órgãos acessórios, que expressam, verdadeiramente, a posição do país no plano internacional. Deixemos, portanto, de lado esse personagem patético que nos representa e que nos envergonha aos olhos do mundo inteiro, para maior desgosto da nossa diplomacia profissional.

Retirando toda a roupagem textual, feito no diplomatês habitual, pelos delegados brasileiros nesses órgãos – CSNU, Assembleia Geral e Conselho de Direitos Humanos –, o que se extrai é o seguinte: o Brasil quer a “cessação de hostilidades”, como se elas fossem conduzidas reciprocamente, e não unilateralmente, por parte de uma grande nação bélica contra um vizinho menos poderoso; o Brasil quer a negociação para uma solução pacífica das controvérsias, levando em consideração “as preocupações de segurança das partes”, como se a Ucrânia representasse qualquer tipo de ameaça à segurança do agressor; o Brasil se opõe à imposição de sanções unilaterais, ou seja, não aprovadas pelo CSNU, como se este pudesse hipoteticamente aprovar o que quer que seja, sem que a Rússia exercesse o seu direito de veto e como se um agressor devesse sair impune dos crimes cometidos, ou como se ele pudesse ser contido apenas por palavras de boa vontade; finalmente, o Brasil também se opõe à entrega de armas à Ucrânia, como a dizer ao governo e ao povo ucraniano o seguinte: “desistam, não tentem resistir, pois vocês lutam contra um Estado mais poderoso, renunciem à resistência e entreguem-se à vontade do agressor”. 

 

Mas, voltando agora ao tema do futuro do grupo BRICS, é preciso, antes de qualquer prognóstico, voltar ao seu passado: como e por que ele apareceu no cenário dos muitos grupos já existentes no anárquico sistema de relações internacionais interestatais. Ele foi concebido, inicialmente, como todos sabem, por um economista de banco de investimentos pensando unicamente num portfólio capaz de trazer retornos generosos, em vista das perspectivas otimistas que então se desenhavam, naqueles idos, início do século, em termos de crescimento para os quatro primeiros – e mais legítimos – membros do acrônimo. Mas, o que era tão somente um exercício de projeção econômica, visando ganhos privados, encantou diplomatas relativamente descontentes com a ordem mundial prevalecente – a do G7, da OCDE, OMC, Bretton Woods e o que gira em volta – e motivou-os a transpor uma sigla dotada de irresistível apelo de mercado para o universo da diplomacia. O novo grupo deveria supostamente se ocupar daquela dimensão examinada no estudo original dedicado ao BRIC: crescimento econômico, participação no comércio internacional, inovação tecnológica e promoção do desenvolvimento econômico e social de seus respectivos povos. 

A agregação dos quatro países, quatro economias ditas emergentes e dinâmicas, pelo menos naquele momento, pode ter motivado o entusiasmo dos proponentes iniciais de um novo grupo, provavelmente já pensando, desde aquele primeiro momento, em rivalizar com o G7, ainda que a Rússia fizesse formalmente parte desse grupo exclusivo de grandes potências, que se converteu em G8, mas unicamente para assuntos políticos, uma vez que o velho G7 continuasse a se unir para tratar dos assuntos econômico-financeiros. Brasil e Rússia, desde 2006, tiveram a ideia do barco, no qual logo embarcariam dois gigantes demográficos, e como tal foi lançado ao “mar” em Ecaterimburgo, em 2009. A China logo tratou de complementar o grupo com um representante africano, uma vez que mantinha, desde vários anos, um portentoso programa de investimentos naquele continente. O que não ficou claro, até o presente momento, foi a elaboração de estudos técnicos e diplomáticos, feitos pelas respectivas chancelarias, sobre a rationale que presidiu à transformação de um simples acrônimo intangível – ou apenas materializado como carteira de investimentos para os portfólios de grandes fundos institucionais – em um bloco econômico-diplomático. Não se conhecem policy papers sustentando a ideia de um grupo estruturado a partir de três economias euroasiáticas e uma outra da América do Sul. Se existem, eles permanecem não disponíveis, desde que Sergei Lavrov e Celso Amorim se decidiram a esse respeito. 

Do ponto de vista dos interesses nacionais brasileiros, a rationale para a criação do então grupo BRIC, como grupo formal, deveria estar embasada numa definição clara de uma estratégia diplomática apontando sua funcionalidade sob a perspectiva desses interesses, que sempre deve ser o desenvolvimento econômico e social da nação, que é o único critério e o objetivo realmente meritório para tal iniciativa. Naquela conjuntura foram estabelecidos os objetivos nacionais brasileiros que deveriam ser alcançados por meio ou através do grupo? Foram alinhadas, finalmente, as diretrizes de políticas a serem seguidas, levando em conta nossa capacidade de articulação na própria região – que é, finalmente, onde o Brasil possui certo poder de atração e de iniciativa –, assim como no âmbito global, onde nossa influência é bem menos determinante? Mais importante do que isso, talvez seja a própria Grande Estratégia brasileira — se alguma vez isso existiu — para a projeção global do país e de sua diplomacia. Em outros termos: por aqueles três países como parceiros, e não outros? O que havia de estratégico, de exclusivo e de determinante nessa particular geografia política? Seria o fascínio criado em torno de um tal de Sul Global, mais referido, sobretudo no plano acadêmico, do que exatamente definido geograficamente, ou geopoliticamente? 

Pode-se duvidar da funcionalidade desse unicórnio do Sul Global para a consecução dos grandes objetivos diplomáticos do Brasil, mesmo incluindo no pacote das miopias atraentes a sempre mencionada cadeira permanente no Conselho de Segurança, na hipótese de uma reforma da Carta e de uma ampliação do seu órgão decisório por excelência. Qual o significado e a importância real, para o Brasil, de se unir especificamente a esses três parceiros, e não a outros, como também poderia ser o caso, talvez até com maior substância de propósitos e uniformidade de características sociopolíticas, por exemplo, do G4, constituído justamente para fins de reforma da Carta da ONU e a ampliação do seu Conselho de Segurança. O G4 constituído para tal finalidade, tinha a participação da Alemanha, do Japão e da Índia, ou seja, um grupo formado por quatro grandes democracias. O G4 “onusiano” não poderia, igualmente, ser a base de um grupo socioeconômico voltado para a causa da melhoria do sistema multilateral, com o objetivo básico do desenvolvimento econômico e social dos países mais pobres, em lugar de parecer uma alternativa ao G7, como parece ser o Brics? Tais países democráticos, assim como outros europeus e os próprios Estados Unidos, representariam algum obstáculo ao desenvolvimento econômico e social do Brasil, assim como a outras iniciativas de sua diplomacia tendentes aos mesmos objetivos em âmbito regional e para o conjunto dos países em desenvolvimento?

Todas essas questões colocadas acima poderiam ter animado um rico debate entre os diplomatas profissionais, constituiriam um grande tema para alguma área de policy planning de sua chancelaria, e deveriam, supostamente, estar no centro de um processo decisório seriamente estruturado em nível do governo como um todo, em lugar de resultar unicamente da decisão de dois chanceleres servindo a dois líderes desejosos de se contrapor ao G7.

 

Em última instância, o que está em causa, não apenas na questão do BRICS, não é, exatamente, a constituição de mais um grupo político-diplomático, mas a validade e a funcionalidade, para fins de desenvolvimento econômico e social, de concepções diferentes, até alternativas, sobre como deve ser organizado o sistema econômico mundial, atualmente realmente interdependente, até onde se pode ver, depois da implosão do socialismo de tipo soviético (aliás, precedido, no caso da China, por uma longa marcha em direção à economia de mercado, mas com “características chinesas”, ou seja, preservado o monopólio político do partido comunista). Para sintetizar a essência dessas concepções diferentes, eu chamaria uma delas de “ordem de Bretton Woods” e a outra de “ordem estatal-intervencionista”. 

A ordem de Bretton Woods trouxe prosperidade e bem-estar ao mundo, preservando democracia, liberdades e direitos humanos. A ordem alternativa, a do socialismo, ou seja, a das economias dirigidas centralmente, falhou miseravelmente, nunca criou prosperidade, ao contrário: apenas miséria, baseada na opressão e na violação dos direitos humanos. Isso é evidente e inquestionável, aferido em dados empíricos. Tanto é que os chineses, com “apenas” 30 anos de comunismo (até a emergência de Deng Xiaoping, após o falecimento de Mao) e que nunca tiveram a destruição de toda a base moral da sociedade, como conheceram os soviéticos, em seus 70 anos de comunismo, conseguiram retificar a sua trajetória econômico, justamente porque tinham líderes, como Deng, que conheceram o funcionamento capitalismo ocidental – ainda que desconhecendo os valores democráticos do Ocidente –, e enveredaram decisivamente pelo capitalismo com características chinesas, mas sempre preservando o monopólio do partido leninista, que nada mais é do que o mandarinato imperial tradicional, mas agora encarnado pelos quadros do PCC, também selecionados pelo mérito (como nos 800 anos de concursos imperiais).

No caso do Brasil, as principais diretrizes da ordem econômica sempre se guiaram mais pelo intervencionismo estatal do que pelo liberalismo de mercado, daí a razão de termos até experimentado uma espécie de “stalinismo industrial” durante os anos ascendentes do regime militar. Depois de alguns poucos anos de “neoliberalismo” – como reza a versão acadêmico-gramsciana dos partidários do social-estatismo –, voltamos decisivamente a uma alternativa ao capitalismo democrático de Bretton Woods, com mais estatismo, controle partidário das principais diretrizes no campo das políticas econômicas e, sobretudo, no âmbito da política externa. Foi o que tivemos nos anos gloriosos do lulopetismo econômico e diplomático. Resultou na maior crise recessiva de nossa história econômica e na exacerbação da corrupção política, como nunca vista em nossa trajetória republicana. De certa forma, a ordem alternativa do antiglobalismo bolsolavista – inspirada no nacionalismo tacanho de grupos da extrema direita americana – representa quase a mesma coisa com sinal inverso.

As evidências disponíveis nas últimas décadas confirmam amplamente que mercados globalizados, interdependência econômica, cooperação entre os países, liberdade de fluxos de investimentos e de capitais, movimentação de pessoas, de cérebros, tudo isso é muito melhor do que as alternativas do nacionalismo e do estatismo, como a própria experiência da China o demonstra, ainda que a globalização tenha seus custos temporários e setoriais. A ordem depreciativamente chamada de neoliberal, pelos opositores de direita e de esquerda, é nitidamente superior à sua contraparte mercantilista, do protecionismo nacionalista tacanho, como prometem certos “alternativos” ao mundo de Bretton Woods. O BRICS vem sendo levado, pela ação de duas grandes potências autocráticas, a uma alternativa anti-Bretton Woods, ou anti-OCDE, o que provavelmente não seria o mais adequado para o Brasil. Não sei se o grupo BRICS tem algum futuro se embarcar nessa canoa furada.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4189: 30 junho 2022, 10 p.


quarta-feira, 29 de junho de 2022

O Futuro do Grupo BRICS: webinar do IRICE, nesta quinta-feira, 30/06/2022, 17hs

O Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior-IRICE

e a Revista Interesse Nacional convidam para encontro sobre política externa, dia 30 de junho às 17 hs,  com foco no tema central:


 O Futuro do Grupo BRICS

 

Expositores

Embaixador Sarquis José Buainain Sarquis

Secretário de Comércio Exterior e Assuntos Econômicos , Itamaraty


Marcos Prado Troyjo, Presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB)


Paulo Roberto de Almeida,  Diplomata e professor; Diretor de Publicações do Instituto Histórico e Geográfico do DF


Moderador:  Rubens Barbosa,  Presidente do IRICE e Editor da Revista Interesse Nacional  

30 de junho às 17 hs

Transmssão pelo canal youtube:   https://www.youtube.com/watch?v=9Q9l8i4gyX4


XIV BRICS Summit Beijing Declaration: parece que estão promovendo a paz no mundo...

 O tamanho das declarações de cúpula costuma ser inversamente proporcional à sua real importância para o mundo, como já sabemos, há muito tempo, na América Latina, especialista em longas declarações gongóricas dos presidentes, cada vez que eles se reunem (o que vem se tornando mais raro nestes tempos de desintegração e de fragmentação do continente).

No caso da Declaração do BRICS a coisa é bizarra, uma vez que em plena guerra de agressão de um dos seus membros principais contra um vizinho, eles ainda têm a coragem de publicar uma coisa como essa, expressa em seu 5o. parágrafo: 

"5. We reiterate our commitment to multilateralism through upholding international law, including the purposes and principles enshrined in the Charter of the United Nations as its indispensable cornerstone, and to the central role of the United Nations in an international system in which sovereign states cooperate to maintain peace and security, advance sustainable development, ensure the promotion and protection of democracy, human rights and fundamental freedoms for all, and promoting cooperation based on the spirit of mutual respect, justice and equality.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 29/06/2022


XIV BRICS Summit Beijing Declaration

2022-06-23 23:20

Preamble

1. We, the Leaders of the Federative Republic of Brazil, the Russian Federation, the Republic of India, the People’s Republic of China and the Republic of South Africa held the XIV BRICS Summit under the theme “Foster High-quality BRICS Partnership, Usher in a New Era for Global Development” on 23-24 June 2022.

2. We recall that in the past 16 years, upholding the BRICS spirit featuring mutual respect and understanding, equality, solidarity, openness, inclusiveness, and consensus, BRICS countries have strengthened mutual trust, deepened intra-BRICS mutually beneficial cooperation, and closer people-to-people exchanges, which has led to a series of significant outcomes. We reiterate the importance of further enhancing BRICS solidarity and cooperation based on our common interests and key priorities, to further strengthen our strategic partnership.

3. We are glad to note that despite the COVID-19 pandemic and other challenges, BRICS countries in 2022 have jointly continued enhancing solidarity and deepening cooperation on, inter alia, economy, peace and security, people-to-people exchanges, public health, and sustainable development by holding a series of meetings and activities, and contributed to tangible outcomes of BRICS cooperation.

4. We welcome the High-level Dialogue on Global Development at this Summit as a testimony to the open and inclusive nature of BRICS Partnership including BRICS Outreach/BRICS Plus cooperation. We look forward to the Dialogue injecting new impetus to strengthen international cooperation and solidarity on implementing the 2030 Agenda for Sustainable Development.

Strengthening and Reforming Global Governance

5. We reiterate our commitment to multilateralism through upholding international law, including the purposes and principles enshrined in the Charter of the United Nations as its indispensable cornerstone, and to the central role of the United Nations in an international system in which sovereign states cooperate to maintain peace and security, advance sustainable development, ensure the promotion and protection of democracy, human rights and fundamental freedoms for all, and promoting cooperation based on the spirit of mutual respect, justice and equality.

6. Recalling the BRICS Joint Statement on Strengthening and Reforming the Multilateral System adopted by our Foreign Ministers in 2021 and the principles outlined therein, we agree that the task of strengthening and reforming multilateral system encompasses the following:

·Making instruments of global governance more inclusive, representative and participatory to facilitate greater and more meaningful participation of developing and least developed countries, especially in Africa, in global decision-making processes and structures and make it better attuned to contemporary realities;

·Being based on inclusive consultation and collaboration for the benefit of all, while respecting sovereign independence, equality, mutual legitimate interests and concerns to make the multilateral organizations more responsive, effective, transparent and credible;

·Making multilateral organizations more responsive, effective, transparent, democratic, objective, action-oriented, solution-oriented and credible, so as to promote cooperation in building international relations based on the norms and principles of international law, and the spirit of mutual respect, justice, equality, mutual beneficial cooperation and realities of the contemporary world;

·Using innovative and inclusive solutions, including digital and technological tools to promote sustainable development and facilitate affordable and equitable access to global public goods for all;

·Strengthening capacities of individual States and international organizations to better respond to new and emerging, traditional and non-traditional challenges, including those emanating from terrorism, money laundering, cyber-realm, infodemics and fake news;

·Promoting international and regional peace and security, social and economic development, and preserve nature’s balance with people-centered international cooperation at its core.

7. We recall the UNGA Resolution 75/1 and reiterate the call for reforms of the principal organs of the United Nations. We recommit to instill new life in the discussions on reform of the UN Security Council and continue the work to revitalize the General Assembly and strengthen the Economic and Social Council. We recall the 2005 World Summit Outcome document and reaffirm the need for a comprehensive reform of the UN, including its Security Council, with a view to making it more representative, effective and efficient, and to increase the representation of the developing countries so that it can adequately respond to global challenges. China and Russia reiterated the importance they attach to the status and role of Brazil, India and South Africa in international affairs and supported their aspiration to play a greater role in the UN. 

8. We appreciate the role of India and Brazil as members of the UN Security Council for 2021-2022 and 2022-2023 respectively. The presence of four BRICS countries in the UN Security Council provides an opportunity to further enhance the weight of our dialogue on issue of international peace and security and for continued cooperation in areas of mutual interest, including through regular exchanges amongst our permanent Mission to the United Nations and in other international fora.

9. We reiterate the need for all countries to cooperate in promoting and protecting human rights and fundamental freedoms under the principles of equality and mutual respect. We agree to continue to treat all human rights including the right to development in a fair and equal manner, on the same footing and with the same emphasis. We agree to strengthen cooperation on issues of common interests both within BRICS and in multilateral fora including the United Nations General Assembly and Human Rights Council, taking into account the necessity to promote, protect and fulfil human rights in a non-selective, non-politicised and constructive manner and without double standards. We call for the respect of democracy and human rights. In this regard, we underline that they should be implemented on the level of global governance as well as at national level. We reaffirm our commitment to ensuring the promotion and protection of democracy, human rights and fundamental freedoms for all with the aim to build a brighter shared future for the international community based on mutually beneficial cooperation.

10. We stress that global economic governance is of critical importance for countries to ensure sustainable development and recall further our support for broadening and strengthening the participation of emerging markets and developing countries (EMDCs) in the international economic decision-making and norm-setting processes. We reiterate our support for G20’s leading role in global economic governance and underline that G20 shall remain intact and respond to current global challenges. We call upon the international community to foster partnerships while underlining that it is imperative to strengthen macro-policy coordination in driving the world economy out of the crisis and shaping a strong, sustainable, balanced and inclusive post-pandemic economic recovery. We urge major developed countries to adopt responsible economic policies, while managing policy spillovers, to avoid severe impacts on developing countries.

11. We reaffirm our support for an open, transparent, inclusive, non-discriminatory and rules-based multilateral trading system, as embodied in the World Trade Organization(WTO). We will engage constructively to pursue the necessary WTO reform to build an open world economy that supports trade and development, preserve the pre-eminent role of the WTO for setting global trade rules and governance, supporting inclusive development and promoting the rights and interests of its members, including developing members and LDCs. We recognize that special and differential treatment as established in WTO rules is a tool to facilitate the achievement of WTO objectives with respect to economic growth and development. We call upon all WTO members to avoid unilateral and protectionist measures that run counter to the spirit and rules of the WTO. We emphasize the top priority and urgency of launching the selection process of the Appellate Body members to restore the binding two-tier multilateral dispute settlement mechanism. We agree that the Appellate Body crisis should be resolved without further delay and should not be linked with other issues. We endorse BRICS Statement on Strengthening the Multilateral Trading System and Reforming the WTO. We commend the successful conclusion of MC12 that underscores the value of multilateralism. We encourage WTO members to sustain momentum and achieve further meaningful outcomes by MC13.

12. We reaffirm our commitment to maintaining a strong and effective Global Financial Safety Net with a quota-based and adequately resourced IMF at its center. We call for the timely and successful completion of the 16th General Review of Quotas by 15 December 2023, to reduce the IMF’s reliance on temporary resources, to address under-representation of emerging markets and developing countries (EMDCs) for their meaningful engagement in the governance of IMF and protect the voice and quota shares of the poorest and smallest members. We welcome progress on voluntary channeling of Special Drawing Rights (SDRs) from countries with strong external positions to support countries most in need, as well as the IMF’s decision to establish the Resilience and Sustainability Trust (RST). We look forward to early operationalization of the RST.

13. We note that the COVID-19 pandemic has caused serious shock and hardship to humanity, unbalanced recovery is aggravating inequality across the world, the global growth momentum has weakened, and the economic prospects have declined. We are concerned that global development is suffering from severe disruption, including the widening North-South development gap, divergent recovery trajectories, pre-existing developmental fault-lines and a technological divide. This is posing huge challenges to the implementation of the 2030 Agenda for Sustainable Development as economic and health scarring, particularly for EMDCs, is projected to persist beyond the current pandemic. We urge major developed countries to adopt responsible economic policies, while managing policy spillovers, to avoid severe impacts on developing countries. We encourage multilateral financial institutions and international organizations to play a constructive role in building global consensus on economic policies and preventing systemic risks of economic disruption and financial fragmentation. We welcome the actions to accelerate the progress towards achieving the 2030 Agenda for Sustainable Development.

Working in Solidarity to Combat COVID-19

14. We reiterate that it was imperative to ensure the availability of safe, efficacious, accessible and affordable diagnostics, medicines, vaccines and essential medical products to people from different countries especially developing countries, and equitable distribution of vaccines and expeditious vaccination, to fill the immunization gap globally. We support the leading role of the WHO in combating the pandemic, as well as acknowledge initiatives such as the COVAX and the ACT-A. We recognize the importance of the discussions in the WTO on relevant IP waiver proposals, as well as capacity building and strengthening local production of vaccines and other health tools, especially in developing countries. We stress the need to continue to strengthen the cooperation on testing methods, therapeutic, research, production and recognition of vaccines, the research on their efficacy and safety in light of new variants of COVID-19 virus and recognition of national document of vaccination against COVID-19 and respective testing, especially for purpose of international travel. 

15. We reaffirm our commitment to multilateralism and continue to support World Health Organization (WHO) to play the leading role in the global health governance, while supporting other UN relevant agencies’ activities. The BRICS countries will strengthen technical multilateral cooperation aimed at enhancing capacities in the fields of responding to major public health emergencies, Universal Health Coverage (UHC), vaccine research and development, prevention & therapeutic health care and digital health systems. We agree to deepen existing cooperation through establishing closer cooperation ties among BRICS health institutions and exploring opportunities for joint collaborative projects in the health sector. 

16. We welcome the convening of the BRICS High-Level Forum on Traditional Medicine.

17. We stress that BRICS countries should be better prepared for COVID-19 and future public health emergencies, and enhance exchanges and cooperation on public health emergency alert, pandemic prevention preparedness and response, and best practices in medical treatment. We welcome the virtual launch of the BRICS Vaccine Research and Development Center and commend the “Initiative on Strengthening Vaccine Cooperation and Jointly Building a Defensive Line against Pandemic”. We welcome the participation of other countries, especially EMDCs, in the Center to upgrade capacity for controlling and preventing infectious diseases. We support and emphasize the urgent need for the establishment of the BRICS Integrated Early Warning System for preventing mass infectious diseases risks in accordance with the International Health Regulations (2005) and the WHO’s Global Outbreak Alert and Response Network, and emphasize that BRICS countries should jointly take proactive and effective measures to prevent and reduce the risk of cross-border transmission of infectious diseases and contribute to improving global health.

18. We support continuing to hold the BRICS TB Research Network Meetings, which will contribute to achieving the WHO goal of ending TB by 2030. We support the early signing of the Memorandum of Understanding on Cooperation in the Field of Regulation of Medical Products for Human Use among our drug regulatory authorities and welcome the holding of a BRICS Seminar of Officials and Experts in Population Development in the second half of 2022. 

19. We call on international agencies and philanthropists to procure vaccines and boosters from manufacturers in developing countries, including in Africa, to ensure that the manufacturing capabilities being developed are retained. This is critical to build health system resilience and preparedness for emerging variants and any future health emergencies including pandemics. In this context access to diagnostics and therapeutics is essential to adopt quality and affordable medical countermeasures and develop overall surveillance capabilities. 

Safeguarding Peace and Security

20. We welcome the BRICS Joint Statement on “Strengthen BRICS Solidarity and Cooperation, Respond to New Features and Challenges in International Situation” adopted by our Foreign Ministers on 19 May 2022, and the 12th Meeting of BRICS National Security Advisers and High Representatives on National Security, held on 15 June 2022, and commend their fruitful discussions on various strategic issues. 

21. We commit to respect the sovereignty and territorial integrity of all States, stress our commitment to the peaceful resolution of differences and disputes between countries through dialogue and consultation, support all efforts conducive to the peaceful settlement of crises.

22. We have discussed the situation in Ukraine and recall our national positions as expressed at the appropriate fora, namely the UNSC and UNGA. We support talks between Russia and Ukraine. We have also discussed our concerns over the humanitarian situation in and around Ukraine and expressed our support to efforts of the UN Secretary-General, UN Agencies and ICRC to provide humanitarian assistance in accordance with the basic principles of humanity, neutrality and impartiality established in UN General Assembly resolution 46/182.

23. We strongly support a peaceful, secure and stable Afghanistan while emphasizing the respect for its sovereignty, independence, territorial integrity, national unity and non-interference in its internal affairs. We emphasize the need for all sides to encourage the Afghanistan authorities to achieve national reconciliation through dialogue and negotiation, and to establish a broad-based and inclusive and representative political structure. We reaffirm the significance of relevant UNSC resolutions. We emphasize that the Afghan territory not to be used to threaten or attack any country or to shelter or train terrorists, or to plan to finance terrorist acts, and reiterate the importance of combating terrorism in Afghanistan. We call on the Afghanistan authorities to work towards combating drug-related crime to free Afghanistan from the scourge of drugs. We stress the need to provide urgent humanitarian assistance to the Afghan people and to safeguard the fundamental rights of all Afghans, including women, children, and different ethnic groups. 

24. We reiterate the need to resolve the Iranian nuclear issue through peaceful and diplomatic means in accordance with the international law, and stress the importance of preserving the JCPOA and the UNSCR 2231 to international non-proliferation as well as wider peace and stability and hope for success of diplomatic efforts towards the resumption of the JCPOA.

25. We express our support for negotiations in bilateral and multilateral formats to resolve all issues pertaining to the Korean Peninsula, including its complete denuclearization, and maintaining peace and stability in Northeast Asia. We reaffirm the commitment to a comprehensive peaceful, diplomatic and political solution to the situation.

26. We reaffirm our commitment to a peaceful and prosperous Middle East and North Africa. We stress the importance of addressing development and security challenges in the region. We call on the international community to support efforts aimed at the stability and peace in the region.

27. We commend efforts of African countries, the African Union and sub-regional organizations to address regional challenges, including maintaining peace and security, post conflict reconstruction as well as development efforts, and call for continued support by the international community to them. We emphasize the collaboration of AU and UN in accordance with the UN Charter.

28. We call for continued efforts to strengthen the system of arms control, disarmament and non-proliferation treaties and agreements and to preserve its integrity for maintaining global stability and international peace and security, and stressed further the need to maintain the effectiveness and efficiency as well as the consensus-based nature of the relevant multilateral instruments in the field of disarmament, non-proliferation and arms control.

29. We call for strengthening the system of arms control, disarmament and non-proliferation, including the Convention on the Prohibition of the Development, Production and Stockpiling of Bacteriological (Biological) and Toxin Weapons and on their Destruction (BTWC) and the Convention on the Prohibition of the Development, Production, Stockpiling and Use of Chemical Weapons and on Their Destruction (CWC), and for preserving their integrity and effectiveness to maintain global stability and international peace and security. We underline the need to comply with and strengthen the BTWC, including by adopting a legally binding Protocol to the Convention that provides for, inter alia, an efficient verification mechanism. We reassert our support for ensuring the long-term sustainability of outer space activities and prevention of an arms race in outer space (PAROS) and of its weaponization, including through negotiations to adopt a relevant legally binding multilateral instrument. We recognize the value of the updated Draft Treaty on the Prevention of the Placement of Weapons in Outer Space, the Threat or Use of Force against Outer Space Objects (PPWT) submitted to the Conference on Disarmament in 2014. We stress that practical Transparency and Confidence-Building Measures (TCBMs), may also contribute to PAROS.

30. We reaffirm our commitment to a world free of nuclear weapons and stress our strong commitment to nuclear disarmament and our support to the work on this subject during the session of 2022 of the Conference on Disarmament. We note the Joint Statement of the Leaders of the People’s Republic of China, the French Republic, the Russian Federation, the United Kingdom of Great Britain and Northern Ireland, and the United States on Preventing Nuclear War and Avoiding Arms Races on 3 January 2022, in particular the affirmation that a nuclear war cannot be won and must never be fought. 

31. We reaffirm our commitment to the promotion of an open, secure, stable, accessible and peaceful ICT-environment, underscored the importance of enhancing common understandings and intensifying cooperation in the use of ICTs and Internet. We support the leading role of the United Nations in promoting constructive dialogue on ensuring ICT-security, including within the UN Open-Ended Working Group on security of and in the use of ICTs 2021-2025, and developing a universal legal framework in this realm. We call for a comprehensive, balanced, objective approach to the development and security of ICT products and systems. We underscore the importance of establishing legal frameworks of cooperation among BRICS countries on ensuring security in the use of ICTs. We also acknowledge the need to advance practical intra-BRICS cooperation through implementation of the BRICS Roadmap of Practical Cooperation on ensuring security in the use of ICTs and the activities of the BRICS Working Group on security in the use of ICTs.

32. We, while emphasizing the formidable potential of the ICTs for growth and development, recognize new associated possibilities they bring for criminal activities and threats, and expressed concern over the rising level and complexity of criminal misuse of ICTs. We welcome the ongoing work in the UN Open-Ended Ad Hoc Committee of Experts to elaborate a comprehensive international convention on countering the use of ICTs for criminal purposes and reaffirm our commitment to cooperating in the implementation of the mandate adopted by the UN General Assembly resolution 75/282.

33. We express strong condemnation of terrorism in all its forms and manifestations whenever, wherever and by whomsoever committed. We recognize the threat emanating from terrorism, extremism conducive to terrorism and radicalization. We are committed to combating terrorism in all its forms and manifestations, including the cross-border movement of terrorists, and terrorism financing networks and safe havens. We reiterate that terrorism should not be associated with any religion, nationality, civilization or ethnic group. We reaffirm our unwavering commitment to contribute further to the global efforts of preventing and countering the threat of terrorism on the basis of respect for international law, in particular the Charter of the United Nations, and human rights, emphasizing that States have the primary responsibility in combating terrorism with the United Nations continuing to play central and coordinating role in this area. We also stress the need for a comprehensive and balanced approach of the whole international community to effectively curb the terrorist activities, which pose a serious threat, including in the present-day pandemic environment. We reject double standards in countering terrorism and extremism conducive to terrorism. We call for an expeditious finalization and adoption of the Comprehensive Convention on International Terrorism within the UN framework and for launching multilateral negotiations on an international convention for the suppression of acts of chemical and biological terrorism, at the Conference of Disarmament. We welcome the outcomes of the Seventh BRICS Counter-Terrorism Working Group Plenary Meeting and its five Subgroup Meetings. We commend the Chair for hosting the Seminar on Targeted Financial Sanctions Related to Terrorism and Terrorist Financing, and look forward to organization of the Seminar on Strengthening Counter-Terrorism Capacity Building in Developing Countries, and the BRICS Police Training Program. We also look forward to further deepening counter-terrorism cooperation.

34. We look forward to further deepening counter-terrorism cooperation and reaffirm the sole authority of the UN Security Council for imposing sanctions and call for further consolidation and strengthening of the working methods of UN Security Council Sanctions Committees to ensure their effectiveness, responsiveness and transparency, while avoiding politicization of any of their proceedings including listing proposals objectively on evidence-based criteria.

35. We reaffirm our commitment to strengthening international cooperation against corruption. While respecting the legal systems of our respective countries, we are committed to strengthening experience sharing and practical cooperation on issues related to anti-corruption law enforcement, including on pursuit of economic and corruption offenders, on mutual legal assistance in civil and administrative matters, and on asset recovery. We welcome the BRICS Initiative on Denial of Safe Haven to Corruption. We will further strengthen anti-corruption capacity building through education and training programs and enhance anti-corruption exchanges and cooperation within multilateral frameworks. We welcome the first BRICS Anti-corruption Ministerial Meeting. 

36. We are concerned about the serious drug situation in the world and reiterate our commitment to the existing international drug control mechanism underpinned by the three United Nations Drug Control Conventions and the various political commitments. We appreciate BRICS Anti-Drug Working Group’s active role in combating transnational drug trafficking and promoting global drug governance and will further strengthen drug control cooperation.

Promoting Economic Recovery

37. We recognize the important role of BRICS countries working together to deal with risks and challenges to the world economy in achieving global recovery and sustainable development. We reaffirm our commitment to continuing to enhance macro-economic policy coordination, deepen economic practical cooperation, and work to realize strong, sustainable, balanced and inclusive post-COVID economic recovery. We emphasize the importance of continued implementation of the Strategy for BRICS Economic Partnership 2025 in all relevant ministerial tracks and working groups.

38. We recognize the dynamism of the digital economy in mitigating the impact of COVID-19 and enabling global economic recovery. We also recognize the positive role that trade and investment can play in promoting sustainable development, national and regional industrialization, the transition towards sustainable consumption and production patterns. We take note of China’s hosting the "Buy BRICS" online promotion event and endorse the BRICS Digital Economy Partnership Framework, BRICS Initiative on Trade and Investment for Sustainable Development and BRICS Initiative on Enhancing Cooperation on Supply Chains. We recognize the challenges facing trade and investment development in the digital era and acknowledge that BRICS members are at different levels of digital development, and thus recognize the need to address respective challenges including the digital divide. We welcome the establishment of the Digital Economy Working Group by upgrading the E-commerce Working Group. We also agree to promote consumer protection in e-commerce by advancing the implementation of BRICS Framework for Consumer Protection in E-commerce. We reaffirm that openness, efficiency, stability, transparency, reliability and resilience of the global, regional and national production and supply chains are crucial in combating the COVID-19 pandemic, tackling economic recovery challenges and boosting international trade and investment. We encourage cooperation among BRICS countries to enhance the interconnectivity of supply chains and promote trade and investment flows. We agree to strengthen exchanges and cooperation in trade in services and engagement of BRICS national focal points, as established in the BRICS Framework for Cooperation on Trade in Services, with the BRICS Business Council with the aim to promote implementation of BRICS Trade in Services Cooperation Roadmap and relevant documents including the BRICS Framework for cooperation in Trade in Professional Services. We take note of the proposal of the Chair to establish the BRICS Trade in Services Network (BTSN) and will continue discussions. 

39. We congratulate New Development Bank (NDB) on its relocation to its permanent headquarters building in Shanghai as well as the opening of NDB’s regional office in India. We welcome the decisions on admission of four new members to the NDB and look forward to further membership expansion in a gradual and balanced manner in terms of geographic representation and comprising of both developed and developing countries, to enhance the NDB’s international influence as well as the representation and voice of EMDCs in global governance. We support the NDB’s goals of attaining the highest possible credit rating and institutional development. We appreciate the vital role of the NDB in addressing the impact of the pandemic and assisting in the economic recovery in member countries. We note the second General Strategy approved by the Board of Governors at its annual meeting and look forward to its smooth implementation. We encourage the Bank to follow the member-led and demand-driven principle, mobilize financing from diversified sources, enhance innovation and knowledge exchange, assist member countries in achieving sustainable development goals and further improve efficiency and effectiveness to fulfill its mandate, aiming to be a premier multilateral development institution.

40. We welcome the decision to establish the BRICS Think Tank Network for Finance. We expect it to work independently and provide intellectual support, as and when tasked, for knowledge sharing, exchange of experiences and practices and cooperation on finance issues amongst BRICS countries, aiming at addressing global challenges and serving the interests of the EMDCs.

41. We recognize the key role that infrastructure investment can play in facilitating sustainable development. We reaffirm our understanding that PPPs are an effective approach to leveraging the private sector to address infrastructure gaps, and scaling up infrastructure assets. We endorse the Technical Report on Public Private Partnerships for Sustainable Development. We welcome the exchange and sharing of good practices and experiences, and encourage further cooperation on infrastructure investment and PPPs. We look forward to resuming technical engagements with the NDB and the BRICS Task Force on PPP and Infrastructure on the Integrated Digital Platform on infrastructure investment projects and call for intensification of work in this area.

42. We acknowledge the importance of strengthening the Contingent Reserve Arrangement (CRA) mechanism, which contributes to strengthening the global financial safety net and complements existing international monetary and financial arrangements. We support the amendments to the CRA Treaty, and welcome the progress in amending other relevant CRA documents. We look forward to the finalization of the amendments which would enhance the flexibility and responsiveness of the CRA mechanism. We look forward to the successful completion of the fifth CRA test run later in 2022. We support the work to improve the framework for coordination between the CRA and the IMF. We welcome the progress in developing the BRICS Economic Bulletin 2022 as part of our streamlined CRA research program.

43. We underscore the importance of continued work under the existing work streams, including information security in the financial sector, and the BRICS Payments Task Force (BPTF) as a platform for exchanging experience and knowledge, and welcome the central banks’ further cooperation on the payments track. 

44. We commit to strengthening intra-BRICS cooperation to intensify the BRICS Partnership on New Industrial Revolution (PartNIR) and collectively create new opportunities for development. We encourage intra-BRICS cooperation in human resource development through BRICS Centre for Industrial Competences, BRICS PartNIR Innovation Centre (BPIC), BRICS Start-up Events and collaboration with other relevant BRICS mechanisms, to carry out training programmes to address challenges of NIR for inclusive and sustainable industrialization. We support the BRICS PartNIR projects to explore cooperation mechanisms with New Development Bank (NDB) and other financial institutions based on market-driven principles. We recognize the importance of BRICS Startup Events including BRICS Innovation Launchpad and BRICS Startup Forum Meeting, aimed to promote networking, interaction, mentorship among Startups in BRICS countries. We welcome the events hosted by the BPIC including the 4th BRICS Forum on PartNIR, the BRICS Industrial Innovation Contest 2022, and the BPIC training programme, which are aimed at translating the vision of PartNIR into real actions and benefits for all BRICS members. We welcome the BRICS Forum on Development of Industrial Internet and Digital Manufacturing, during which representatives from BRICS governments, industry and academia participated and discussed the development of digital manufacturing. We also welcome the release of the BRICS Initiative for Cooperation on Digitalization of Manufacturing.

45. We acknowledge the progress of BRICS cooperation on STI, including outcomes of BRICS STI Steering Committee, inter alia, on advancement of flagship projects initiative aiming to find effective STI solutions to global challenges. We encourage further work on proposals regarding the polycentric BRICS Technology Transfer Center Network, iBRICS Network, joint research projects including flagship projects, BRICS Young Scientist Forum and Young Innovation Prize.

46. We commend the progress of cooperation in the field of ICTs, including the adoption of the terms of reference of the Digital BRICS Task Force (DBTF) and the decision to hold the Digital BRICS Forum in 2022. We encourage the BRICS Institute of Future Networks and the DBTF to make suitable working plans at an early date, and carry out cooperation on R&D and application of new and emerging technologies. We look forward to a fruitful and productive meeting of BRICS Communication Ministers in July 2022. We support the coordination and interaction among the Digital Economy Working Group and the Working Group on ICT Cooperation, as well as the workstreams established within this track, namely the DBTF and the BIFN as practicable to avoid any duplication for advancing the BRICS digital economy in accordance with respective advantages, and within respective domestic legal frameworks.

47. We commend our Customs authorities for the Agreement Between the Governments of BRICS Countries on Cooperation and Mutual Administrative Assistance in Customs Matters, and the progress made in areas of mutual administrative assistance, capacity building and law enforcement cooperation. We recognize the importance of BRICS customs enforcement cooperation and will work together to further strengthen it. We support our Customs authorities in holding the BRICS Workshop on Customs Strategy and Capacity Building and the BRICS Workshop on Customs Enforcement Cooperation, for smart cooperation and smart practice sharing, as also for promoting partnership in customs under the theme of “Smart Cooperation for a High-quality Partnership among BRICS Customs”.

48. We emphasize the fundamental role of energy security in achieving sustainable development goals. While recognizing that the energy transition of each country is unique according to national circumstances, we underscore the prime importance of securing universal access to affordable, reliable, sustainable and modern energy in line with Sustainable Development Goal 7. We welcome the BRICS Energy Report 2022, support joint research and technical cooperation within the BRICS Energy Research Cooperation Platform, and commend the holding of the BRICS Youth Energy Summit and other related activities.

49. We encourage the BRICS Interbank Cooperation Mechanism to continue playing an important role in supporting BRICS economic and trade cooperation, and appreciate the renewal of the Memorandum of Understanding between the Member Development Banks of BRICS Interbank Cooperation Mechanism and the New Development Bank. We welcome the seventh edition of the BRICS Economic Research Award to encourage and stimulate advanced doctoral research by nationals of the BRICS countries on topics of relevance to the BRICS nations.

50. We reiterate the commitments to promote employment for sustainable development, including to develop skills to ensure resilient recovery, gender-responsive employment and social protection policies including workers’ rights. We welcome research by the BRICS Network of Labour Research Institutes on employment and income support in the context of COVID-19 crisis outlining impact of the pandemic, response measures and post-COVID-19 changes.

51. We recognize the crucial role that MSMEs play in the BRICS economies and reaffirm the importance of their participation in production networks and value chains. We agree to continue to deepen cooperation on competition amongst BRICS countries and create a fair competition market environment for international economic and trade cooperation. We agree to enhance exchanges and cooperation in the field of standardization and make full use of standards to advance sustainable development. We commit to strengthen cooperation and coordination in areas of tax information exchange, capacity building and innovation in tax administration, and create a signature knowledge product called ‘the Best Tax Practices from BRICS’ to serve as reference for other developing countries. We support deepening IPR cooperation and promoting exchanges and mutual learning on IPR protection system, and look forward to more practical outcomes in such fields as patent, trademark, and industrial design. We support enhancing BRICS statistical cooperation and continuing to release the BRICS Joint Statistical Publication 2022.

Expediting Implementation of the 2030 Agenda for Sustainable Development

52. We note with concern that the COVID-19 pandemic has disrupted efforts to achieve the 2030 Agenda for Sustainable Development and reversed years of progress on poverty, hunger, health care, education, climate change, access to clean water, and environmental protection. We reaffirm our commitment to the implementation of the 2030 Agenda in all its three dimensions - economic, social and environmental - in a balanced and integrated manner. We stress that the international community should attach more importance to development, revitalize global development partnerships and push for realization of all sustainable development goals by pooling the necessary resources to instill fresh momentum into implementing the 2030 Agenda. We urge donor countries to honour their Official Development Assistance (ODA) commitments and to facilitate capacity building and the transfer of technology along with additional development resources to developing countries, in line with the national policy objectives of recipients. We stress the importance of dialogue between the relevant development agencies from the BRICS countries.

53. We commemorate the 30th anniversary of the United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) and call on all parties to adhere to the principle of common but differentiated responsibilities and respective capabilities, in the light of different national circumstances and in accordance with the institutional arrangement of nationally determined contributions, and to implement the UNFCCC and its Paris Agreement in an accurate, balanced and comprehensive way, based on existing consensus. We recall relevant provisions of the Paris Agreement, emphasizing that the Paris Agreement aims to strengthen global response to the threat of climate change in the context of sustainable development and efforts to eradicate poverty, and that peaking of Green House Gas (GHG) emissions will take longer for developing countries. We underline that the developed countries have historical responsibilities for global climate change, and should take the lead in scaling up mitigation actions and scale up indispensable support to developing countries on finance, technology and capacity-building. We express our support to the incoming Egyptian Presidency of COP27, working towards the success of COP27, and promote COP27 to prioritize implementation and highlight the reinforcement of adaptation and delivery and enhancement of developed countries’ commitments to provide financial support and technology transfer to developing countries.

54. We oppose green trade barriers and reiterate our commitment to enhancing coordination on these issues. We underline that all measures taken to tackle climate change and bio-diversity loss must be designed, adopted and implemented in full conformity with the WTO agreements and must not constitute a means of arbitrary or unjustifiable discrimination or a disguised restriction on international trade and must not create unnecessary obstacles to international trade. We express our concern at any discriminatory measure that will distort international trade, risk new trade frictions and shift burden of addressing climate change to other trading partners, developing countries and BRICS members. 

55. We acknowledge the positive outcomes of the first phase of the 15th Meeting of the Conference of the Parties to the Convention on Biological Diversity (COP15) and its Kunming Declaration. We welcome and support China’s hosting of the second phase of COP15 and call on all parties to jointly adopt an ambitious, balanced and practical Post-2020 Global Biodiversity Framework.

56. As BRICS countries produce around 1/3 of the world’s food, we stress our commitment to furthering agricultural cooperation and driving sustainable agricultural and rural development of BRICS countries aimed at safeguarding food security of BRICS countries and the world. We emphasize the strategic importance of agriculture inputs, including, inter alia, fertilizers, on ensuring global food security. We reiterate the importance of implementing the Action Plan 2021-2024 for Agricultural Cooperation of BRICS Countries, and welcome the Strategy on Food Security Cooperation of the BRICS Countries.

57. We take note that the breakthroughs in the applications of digital technologies, such as Big Data and Artificial Intelligence (AI) may play an important role towards sustainable development. We take note of the BRICS Forum on Big Data for Sustainable Development. We support information exchanges and technical cooperation on AI technology. We recall the declaration of the 7th BRICS Communications Ministers meeting recognizing the rapid developments and huge potential of Artificial Intelligence technologies and its value to economic growth. We acknowledge the need to cooperate with each other to build trust, confidence and security, as well as transparency and accountability in promoting trustworthy AI to maximize its potential for the benefit of society and humanity as whole with specific emphasis on marginalized and vulnerable groups of population. We express our concerns on the risk, and ethical dilemma related to Artificial Intelligence, such as privacy, manipulation, bias, human-robot interaction, employment, effects and singularity among others. We encourage BRICS members to work together to deal with such concerns, sharing best practices, conduct comparative study on the subject toward developing a common governance approach which would guide BRICS members on Ethical and responsible use of Artificial Intelligence while facilitating the development of AI. 

58. We welcome the establishment of the BRICS Joint Committee on Space Cooperation in line with the Agreement on Cooperation on BRICS Remote Sensing Satellite Constellation and the convening of the first joint committee meeting. We are satisfied with the formulation of working procedures for data exchange and joint observation of the BRICS Remote Sensing Satellite Constellation and appreciate the commissioning of data sharing and exchange of the constellation. We encourage BRICS space authorities to continue to effectively utilize the capacity of the Constellation, and to widely promote application with data of the Constellation, aimed at facilitating the sustainable development of BRICS countries.

59. We commend the proposal to organize the BRICS High-level Forum on Sustainable Development. Taking it as an opportunity, we look forward to deepening cooperation on, inter alia, the fight against COVID-19, digital transformation, resilience and stability of industrial and supply chains and low-carbon development.

60. We reiterate the importance of exchanges and dialogues among BRICS disaster management authorities. We encourage cooperation in key areas including comprehensive disaster reduction capacity, disaster resilient infrastructure and emergency rescue and response, with a view to improving the global and regional disaster management response.

61. We express our support to the African Union Agenda 2063 and to Africa´s efforts towards integration through the development of the African Continental Free Trade Area and other means. We stress the importance of issues including industrialization, infrastructure development, food security, health-care, and tackling climate change for the sustainable development of Africa. We support Africa in attaining economic recovery and sustainable development in the post pandemic era.

Deepening People-to-People Exchanges

62. We reaffirm the importance of BRICS people-to-people exchanges in enhancing mutual understanding, friendship and cooperation amongst our nations and people. We appreciate the progress made under China’s Chairship in 2022, including in the fields of governance, culture, education, sports, arts, films, media, youth and academic exchanges, and look forward to further exchanges and cooperation in these areas. 

63. We appreciate the signing of the Action Plan for the Implementation of the Agreement between the Governments of the BRICS States on cooperation in the Field of Culture (2022-2026), encourage the BRICS countries to promote the development of digitalization in the field of culture, continue to deepen cooperation in the fields of, inter alia, arts and culture, cultural heritage, cultural industry and cultural alliances under the framework of the action plan, and establish a cultural partnership featuring inclusiveness and mutual learning. 

64. We acknowledge the urgent need for tourism industry recovery and the importance of increasing mutual tourist flows and will work towards further strengthening the BRICS Alliance for Green Tourism to promote measures, which can shape a more resilient, sustainable and inclusive tourism sector. 

65. We appreciate the progress on education and Technical and Vocational Education and Training (TVET) cooperation, especially the establishment of the BRICS TVET Cooperation Alliance which focuses on strengthening communication and dialogue in TVET, promoting substantial cooperation in TVET, integrating TVET with industry, enhancing research collaboration and supporting recognition of TVET standards. Also, the launch of the BRICS Skills Competition will strengthen exchanges and cooperation among the nations. We support the digital transformation in education and TVET space, and commit to ensure education accessibility and equity, and promote the development of quality education. We reiterate the importance of digitalization in education and development of a sustainable education by strengthening the cooperation within BRICS Network University and BRICS University League.

66. We commend the successful holding of the BRICS Business Forum and welcome the Beijing Initiative of BRICS Business community. We encourage the BRICS Business Council to strengthen cooperation, including in the fields of agri-business, aviation, deregulation, digital economy, energy and green economy, financial services, infrastructure, manufacturing, and skills development. We appreciate contributions and activities of the BRICS Women’s Business Alliance (WBA) to deepening BRICS economic and trade cooperation. We welcome the holding of the second BRICS Women’s Innovation Contest by the BRICS Women’s Business Alliance towards empowering women’s innovation and entrepreneurship. 

67. We commend the progress in sports exchanges and the role it plays in the development of our athletes in a fair, inclusive and non-discriminatory fashion. We look forward to the successful holding of BRICS Sports Ministers Meeting in 2022.

68. We appreciate the holding of the fora pertaining to political parties, think tanks, and civil society organizations. We also acknowledge the proposal for institutionalization of the BRICS Civil Society Organizations Forum.

69. We support the convening of the fifth BRICS Media Forum and the continuation of the BRICS International Journalism Training Program within the framework of the Forum.

70. We look forward to the BRICS Youth Summit, support youth development as a priority and encourage strengthened exchanges among BRICS youth. We welcome the BRICS Film Festival in Shanghai and look forward to enhancing exchanges and cooperation in the field of film. We commend the progress made by BRICS countries in promoting urban development, and appreciate the contribution of mechanisms including BRICS Urbanization Forum, BRICS Friendship Cities and Local Governments Cooperation Forum and BRICS International Municipal Forum to facilitating the building of more friendship city relations among BRICS countries and promoting the implementation of the 2030 Agenda for Sustainable Development.

Institutional Development

71. We note with satisfaction the progress made in BRICS institutional development and stress that BRICS cooperation needs to embrace changes and keep abreast with the times. We shall continue to set clear priorities in our wide-ranging cooperation, on the basis of consensus, and make our strategic partnership more efficient, practical and results-oriented. 

72. We emphasize the BRICS efforts of extending its cooperation to other EMDCs and support further promoting the BRICS Outreach and BRICS Plus Cooperation in line with the updated Terms of Reference adopted by the BRICS Sherpas in 2021 through inclusive and equal-footed and flexible practices and initiatives. We commend China’s Chairship for hosting the Dialogue session under the theme ‘Increased Role of Emerging Markets and Developing Countries in Global Governance’ during the Meeting of BRICS Ministers of Foreign Affairs/International Relations on 19 May 2022. 

73. We support promoting discussions among BRICS members on BRICS expansion process. We stress the need to clarify the guiding principles, standards, criteria and procedures for this expansion process through Sherpas’ channel on the basis of full consultation and consensus.

74. South Africa, Brazil, Russia and India commend China’s BRICS Chairship in 2022 and express their gratitude to the government and people of China for holding the XIV BRICS Summit.

75. Brazil, Russia, India and China extend full support to South Africa for its BRICS Chairship in 2023 and the holding of the XV BRICS Summit.