Um leitor deste blog, que tem sim posição política, mas é simplesmente democrático reformista, me faz a seguinte pergunta (abaixo transcrita), a propósito de uma "invenção" que também li na imprensa recentemente: o renascimento, o ressurgimento, ou a recriação, seja lá o que for, de um partido criado logo no início do regime militar no Brasil, mais especificamente em 1965, quando, para evitar uma candidatura de JK nas eleições presidenciais desse ano, os generais juristas extinguiram todos os partidos políticos, por meio do Ato Institucional n. 2, criando em seu lugar apenas dois partidos: a Arena (ou Aliança de Renovação Nacional), apoiando o regime, e a oposição oficial, o MDB (Movimento Democrático Brasileiro), que anda aí até hoje, mas há muito deixou de ser oposição, para ficar com qualquer governo que apareça. Enfim, vamos às perguntas:
O que você pensa do ressurgimento da Arena no Brasil? Acha que pode ser uma opção partidária interessante para a direita. Acha que vai impactar o PSDB em alguma medida?
Antes de responder, devo dizer que o leitor-perguntador talvez se confunda com minhas posições políticas, e pode achar que eu me alinho, de alguma forma, com partidos de "direita", seja lá o que isso queira dizer, sobretudo no Brasil, onde ninguém é de direita, no máximo de centro, ou social-democrata, ou progressista, ou então, como um debilóide oportunista declarou recentemente, "nem de esquerda, nem de direita, nem de centro" (sic, três vezes).
Vou ser claro: acho essas divisões, sobretudo esquerda ou direita, muito artificiais, embora elas tenham significado histórico-político que cabe registrar.
Direita seriam aqueles conservadores (embora conservador possa ser de esquerda, também, como o atual PT, que não apenas é conservador, como especialmente reacionário), que pretendem manter tudo como está, e favorecer os ricos e privilegiados, como rezam as imagens distorcidas e maldosas do que seja direita.
Pode ser que considerem liberais (ou neoliberais, como afirmam alguns), pessoas de direita, o que é igualmente enganoso, pois liberais são por essência reformistas, alguns até radicais, uma vez que acreditam que os países, as sociedades avançaram demasiadamente no intervencionismo governamental, e que cabe implementar políticas pró-mercado e de redução do tamanho e do papel do Estado na economia.
Esquerda seriam aqueles pretendidamente socialistas (embora, hoje em dia, nem o PCdoB pretenda "construir o socialismo", ele só quer desfrutar das benesses do capitalismo, via posse do Estado), ou todos aqueles que acham que os mercados devem ser controlados, que o Estado deve ter um papel preeminente na redistribuição social da riqueza, e que acham que os pobres, ou o povo, sempre tem razão, já que burgueses e proprietários de terras são sempre gananciosos e malvados.
Posso caricaturizar um pouco, mas acho que é isso.
Bem, eu não me classifico nem como direita, nem como esquerda, nem como conservador, nem como liberal.
Sou apenas um democrata reformista, como disse acima, e se, no passado, já fui bem mais socialista (quanto a reformas econômicas no sentido intervencionista, não em favor da "ditadura do proletariado"), como toda pessoa dotada de um mínimo de inteligência, cheguei à conclusão óbvia (não para todos, claro) de que o socialismo só conduz à regressão econômica, mais pobreza e muita injustiça, ao contrário do que pretendem seus promotores (todos eles, de todas as tendências).
Dito isto vamos às perguntas e minhas respostas:
Não, não acho que o "ressurgimento" da Arena no Brasil -- o que é apenas ridículo, se não for loucura total -- venha a ter qualquer efeito positivo sobre o sistema político-partidário no Brasil, ou sobre qualquer outro aspecto do espectro ideológico no Brasil, um país no qual as ideologias são como roupas de baixo, ou talvez fraldas que se devam jogar fora uma vez usadas. Claro, existem ingênuos que acreditam em certas ideias, mas não são estes que estão na direção dos partidos políticos, um aglomerado insosso de oportunistas que apenas disputam nacos dos recursos públicos.
Não existe nenhuma hipótese de que tal partido, se por acaso recriado (não acredito, em primeiro lugar, que tenha 500 mil apoios para seu registro no TSE), venha a exercer qualquer efeito, de qualquer tipo, sobre a política brasileira.
Quanto a ser "opção para a direita", desconheço o que seja isso, pelo menos no Brasil. Em alguns países são assim classificados os que se situam no espectro partidário-ideológico que se opõe aos socialistas, ou seja, que não comungam do estatismo-intervencionismo destes últimos, mas aí podem existir social-cristãos (que são por um pouquinho de controle social do mercado, e de redistribuição em favor dos pobres), liberais pró-mercado, conservadores anti-reformas distributivistas.
No Brasil simplesmente inexistem partidos com essas características, e o máximo que temos são alguns liberais isolados, sem qualquer chance no mercado político, ou na determinação das políticas públicas.
Claro, existem aqueles (por ignorância ou ingenuidade), que são saudosistas do regime militar (pelo lado da ordem, do crescimento, do Brasil potência, e outras bobagens), ou que são anticomunistas de carteirinha, e que acham que os nossos socialistas corruptos querem mesmo construir o socialismo no Brasil, quando a única coisa que esses oportunistas desejam, reafirmo, é extorquir os capitalistas para também viverem as benesses do capitalismo de mercado (na verdade, aqui bem mais cartelizado, monopolista, vivendo da promiscuidade com o Estado).
Desconheço, também, qual o impacto disso -- se por acaso vier a se concretizar, o que não acredito, repito -- no PSDB, um partido patético, que pretende ser social-democrata, mas que não consegue, como os outros, ser coerente, e sequer cumpre seu papel de "oposição" (não por que queira ser oposição, apenas por que o PT, sectário, raivoso, e psicologicamente doentio, não quer fazer uma aliança pró-reformas com o único partido que partilha suas convicções social-democratas, mas que prefere agora se aliar com bandidos políticos que outrora ele criticava).
Enfim, creio que fui bastante claro no que penso dos partidos e dos políticos.
Não tenho nenhuma ilusão de que o sistema melhore, no futuro previsível, ao contrário: acho que os políticos, e os partidos, vão continuar sua obra nefasta no sentido de agigantar ainda mais o Estado, de extorquir ainda mais os cidadãos, alimentando esse ogro famélico que lhes serve de conduto de extração dos recursos coletivos em seu benefício corporativo e pessoal.
Este é o panorama do Brasil atual: nenhum partido, existente ou a ser criado, vai mudar esse quadro, que necessitaria passar por uma severa crise, e conhecer algum estadista de visão, para que reformas sejam feitas. Isso vai demorar um pouco, talvez uma ou duas gerações mais.
Estou sendo pessimista?
Não creio que incorra em algum erro fundamental...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 16/11/2012