segunda-feira, 15 de março de 2010

1883) Cuba: uma pedra no sapato de certas diplomacias...

Sempre se podem encontrar argumentos, de qualquer tipo, para justificar, e "explicar", qualquer política, menos dizer o que pensam, realmente, certos dirigentes...

Lula confunde, em Cuba, nos EUA, no Irã
Sergio Leo
Valor Econômico, 15/03/2010

Deve ser para evitar maior confronto com o governo dos Estados Unidos que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva evita dizer em público o que pensam muitos integrantes do governo sobre Cuba: o país, único experimento socialista sobrevivente da Guerra Fria nas Américas, foi, durante a história recente, alvo de todo tipo de sabotagem por parte dos governos americanos, de atentados contra Fidel Castro ao embargo econômico contra a ilha, condenado em todo o continente. Mas, quem sabe, Lula evita o argumento porque nem mesmo ele pode justificar os recentes - e indefensáveis - ataques que fez aos dissidentes cubanos.

Provocado a se manifestar sobre a morte de um dissidente em greve de fome e sobre as prisões de opositores ao regime, Lula pode ter pensado na dificuldade do regime cubano, em manter a estabilidade política de um país pobre com governo contrário aos interesses dos EUA. Se considerasse essa situação motivo suficiente para evitar ataques abertos ao governo de Raúl Castro, poderia esquivar-se da pergunta, mas não: criticou os presos. O fato concreto, como diria o próprio Lula, é que, com a repressão em Cuba, os irmãos Castro e o apoio de Lula sabotam não só o bom senso, mas até a tentativa do governo Barack Obama de distensão nas relações com a ilha.

Obama mostrou, desde o início do governo, disposição para relaxar os constrangimentos impostos a Cuba e aos cubanos. Quem conhece os mecanismos da política americana é capaz de imaginar a dificuldade do novo governo dos EUA, já às voltas com problemas sérios como as guerras herdadas dos republicanos e a necessidade de uma reforma de saúde, para ganhar no Congresso aprovação a medidas de aproximação com Cuba. É muito maior que no Brasil o poder do Congresso nos EUA, e é forte a influência da comunidade cubana exilada.

Uma Cuba menos policialesca contra a dissidência interna, disposta a soltar dissidentes presos por crime de opinião, daria bons argumentos a Obama, na discussão política americana, para, num gesto de reciprocidade, avançar na retirada do embargo econômico, que oprime a ilha e prejudica até interesses de empresas americanas dispostas a fazer negócios com o regime de Fidel e Raúl Castro. Lula poderia ajudar nesse esforço, mas o endosso cego e surdo à ação stalinista contra a oposição só reforça a linha dura na ilha e desmoraliza as credenciais democráticas do presidente brasileiro.

Curiosamente, as relações entre Brasil e Estados Unidos, até na contenciosa questão do programa nuclear iraniano, são bem mais amistosas do que parecem acreditar os comentaristas brasileiros que usam o fígado, não o cérebro, para analisar a política externa do Brasil. No Executivo americano, pelo menos, há respeito - ainda que acompanhado de incômodo - aos argumentos levantados pelo Brasil para negar o apoio às sanções contra o Irã defendidas pela Casa Branca.

Os EUA compreendem que o Brasil, ele próprio engajado em um programa nuclear com fins pacíficos, relute em condenar os programas dos outros. E, principalmente, o governo dos EUA reconhece que a posição brasileira é motivada não por antiamericanismo, mas pela avaliação de que sanções contra o Irã só isolariam o país e fortaleceriam os radicais, no país, deixando pouco espaço para os moderados. Se transpostos a Cuba, os argumentos levantados no Planalto para o Irã, mais motivos teria Lula para interceder pelos dissidentes, ou, pelo menos, não buscar justificativas para a repressão cubana. No entanto, o presidente brasileiro preferiu comparar os dissidentes a delinquentes comuns. Mas não é essa a questão levantada pelos EUA sobre o Irã.

O que americanos, franceses, alemães dizem do Brasil, no caso iraniano é que os brasileiros chegaram um pouco tarde nessa negociação e podem atrapalhar. É considerada ingênua a ideia do governo em Brasília, de que gestões políticas e diplomáticas podem atrair o Irã a um acordo para tornar mais transparente seu programa e dar garantia de que não o usará para fins militares. Isso já foi tentado, pela França, sem resultado.

Nem Cuba nem Irã são, porém, um impedimento ao esforço (real) dos governos dos EUA e Brasil de fazer uma parceria no continente. Foi reconhecido em Washington o papel legítimo do Brasil como interlocutor do regime iraniano, a quem Lula transmitiu preocupações semelhantes às dos EUA e da Europa em relação à defesa dos direitos humanos e a condenação ao uso bélico da energia nuclear. O Brasil é um mercado atraente, em um momento em que Obama se empenha em um programa para dobrar as exportações americanas em cinco anos, e um aliado de peso num continente complicado como o sul-americano.

Há uma faceta importante da diplomacia - especialmente nos Estados Unidos: a diplomacia parlamentar. Fazer política externa mirando o público interno é quase inevitável, e Lula, com certas declarações unidimensionais de agrado a Cuba, Venezuela e Irã, parece cobiçar a aliança incondicional da esquerda brasileira para as próximas eleições. Deveria levar em conta, porém, que, assim, degrada a credibilidade alcançada por seu governo moderado no mundo político internacional, e, com isso, mina as condições políticas, nos EUA, para firmar o apoio da administração americana. Prejudica brigas parlamentares importantes que Obama se mostrou disposto a travar, como o fim da tarifa punitiva ao etanol brasileiro, só para dar um exemplo evidente.

Há cabeças nos EUA capazes de compreender as sutilezas do jogo diplomático que o maniqueísmo de certos analistas brasileiros não deixa transparecer no debate político brasileiro. Há uma disputa surda de influência na América do Sul e, mais recentemente, na América Central e Caribe, entre duas esquerdas, a pragmática e moderada de Lula, e a revolucionária e confrontacional de Hugo Chávez. Essa disputa se estende a Cuba, onde o endurecimento de Lula em relação aos Castro deixaria livre o espaço à radicalização de Chávez. A pressão discreta de Lula para uma transição gradual de Cuba às liberdades democráticas é reconhecida em Washington. Mas derrapadas como o ataque aos dissidentes cubanos são difíceis de entender. Ou de engolir.

Sergio Leo é repórter especial e escreve às segundas-feiras
E-mail: sergio.leo@valor.com.br

1882) O mapa monetario da America Latina...

Talvez se pudesse repensar os atuais mapas geográficos, ou até os mapas econômicos (PIB per capita, etc) e fazer uma nova geografia econômica da estabilidade monetária e da apreciação cambial.
Nesse sentido, teríamos países com moedas fortes, como o próprio Brasil, o Chile, a Colômbia, e outros, onde a moeda simplesmente degringola...

Las monedas fuertes de Latinoamérica
Andrés Oppenheimer
El Nuevo Herald (Miami), Domingo, 03.14.10

Justo cuando todos estábamos celebrando que Latinoamérica ha salido relativamente indemne de la crisis económica mundial, una nueva amenaza podría poner en peligro el crecimiento de la región: las monedas cada vez más fuertes.

A simple vista, la constante valorización de muchas monedas latinoamericanas es una buena noticia para muchos en la región. Una vez más, muchos latinoamericanos podrán importar con mayor facilidad productos de lujo, irse de vacaciones al extranjero, y tal vez hasta regresar a los buenos tiempos cuando los comerciantes de Miami o Madrid los conocían como ``los dame dos'', porque pedían dos pares de cada cosa que compraban.

Pero, por otro lado, la constante apreciación de las monedas podría perjudicar las exportaciones de la región.

Marcelo Giugale, director de la Oficina de Política Económica y Pobreza para América Latina del Banco Mundial, me hizo notar ese peligro en una conversación pocos días atrás. Subrayó que, irónicamente, las economías de mejor desempeño de la región serán las más afectadas por la fortaleza de sus monedas.

Los países latinoamericanos más exitosos tendrán que aprender a vivir con monedas fuertes, dijo Giugale. Eso los hará menos competitivos.

El razonamiento es simple: con las tasas de interés en Estados Unidos a casi cero, cada vez más inversores estadounidenses y europeos están comprando monedas locales de América Latina para aprovechar las tasas de interés más altas de la región, ganar más intereses, y luego convertir sus ahorros nuevamente a dólares.

Es cierto que muchos inversores extranjeros perdieron hasta la camisa con este juego en las últimas décadas, cuando varios países de la región sufrieron crisis financieras y devaluaron sus monedas repentinamente. Pero la mayoría de los economistas coinciden en que los países latinoamericanos financieramente responsables no caerán en crisis económicas en el futuro inmediato, y que la región en general crecerá más del 3 por ciento este año.

Ya sea por la caída del dólar o por la constante apreciación de las monedas latinoamericanas, lo cierto es que en los últimos doce meses la moneda de Brasil se apreció un 24 por ciento respecto del dólar, la de Colombia un 25 por ciento, la de Uruguay un 19 por ciento, la de México un 17 por ciento, la de Chile un 12 por ciento y la de Perú un 10 por ciento.

En casi todos estos países, un constante flujo de dólares del exterior está creando una gran demanda de moneda local, que hace apreciarse a sus monedas.

Entre las excepciones a la regla está Argentina, cuya moneda se depreció en un 7 por ciento durante los últimos doce meses, en gran medida porque el país no atrae capital extranjero.

``Exportar desde lugares como Bogotá, Lima, San Pablo o Santiago será más caro'', dijo Giugale, explicando que los costos laborales locales serán más altos en dólares estadounidenses. ``Les resultará más difícil vender sus productos en Estados Unidos y en cualquier otro país que mantenga su moneda atada al dólar estadounidense, incluyendo a China''.

Entonces, ¿qué deberían hacer los países de la región? Según Giugale y muchos otros otros economistas, firmar nuevos acuerdos de libre comercio para expandir sus mercados todavía será una buena opción, pero no será suficiente. Para crecer, la región tendrá que generar nuevos --y cada vez mejores- productos de exportación.

En otras palabras, para ser competitivos, los países latinoamericanos con monedas fuertes le tendrán que apostar a la innovación. Ese va a ser un reto enorme, porque la región apenas está recibiendo el 2 por ciento de la inversión mundial en investigación y desarrollo, mientras que los países asiáticos están recibiendo el 28 por ciento, según la Red de Indicadores de Ciencia y Tecnología Iberoamericana (RICYT).

Mientras que China invierte el 1.4 por ciento de su producto interno bruto en investigación y desarrollo, Brasil invierte el 1 por ciento, Argentina el 0.6 por ciento, México el 0.4 por ciento, y Colombia y Perú 0.1 por ciento cada uno, según RICYT.

Aun más preocupante, la mayor parte de la inversión latinoamericana en investigación y desarrollo son proyectos teóricos financiados por el Estado, sin ningún valor comercial. Por increíble que parezca, mientras Corea del Sur registró 80,000 patentes en todo el mundo el año pasado, Brasil registró apenas 580, México 320, y Argentina 80, según la Organización Mundial de la Propiedad Intelectual.

Mi opinión: Las monedas fuertes generalmente son señal de economías saludables, y deben ser el objetivo de cualquier país. Pero los países latinoamericanos deberían tratar de que la valorización de sus monedas sea gradual, y no especulativa, y asegurarse de que no perjudique a sus exportaciones. Para exportar con monedas fuertes, tendrán que vender productos cada vez más sofisticados, lo que requerirá más innovación, y más educación.

1881) Presos politicos: alguns tem, outros nao...

Los presos políticos no existen en las democracias
ÓSCAR ARIAS
El Pais, 13.03.2010

Quiero sumar mi voz a un coro de indignación que recorre buena parte de nuestra América y del mundo. El pasado 23 de febrero, mientras los líderes latinoamericanos nos encontrábamos reunidos en Cancún, hablando sobre democracia y libertad, murió en La Habana Orlando Zapata Tamayo, opositor del régimen castrista y preso político desde hacía siete años.

Una huelga de hambre de 85 días no fue suficiente para convencer al Gobierno cubano de que era necesario preservar la vida de esta persona, por encima de cualquier diferencia ideológica. 85 días no fueron suficientes para mover a compasión a un régimen que se vanagloria de su solidaridad, pero que en la práctica aplica esa solidaridad únicamente a sus simpatizantes.

Nada podemos hacer ahora para salvar a este disidente, pero podemos aún alzar la voz en nombre de Guillermo Fariñas Hernández, que desde hace 17 días se encuentra en huelga de hambre en Santa Clara, pidiendo la liberación de otros presos políticos cubanos, en particular de aquellos en precario estado de salud.

Sin duda, la huelga de hambre es un arma delicada como herramienta de protesta. Sería riesgoso que cualquier Estado de derecho se viera en la obligación de liberar a sus privados de libertad, si deciden rechazar su alimentación. Pero estos presos no son como los demás, ni Cuba cumple las condiciones de un Estado de derecho. Se trata de presos políticos o de consciencia, que no han cometido otro delito más que oponerse a un régimen, que fueron juzgados por un sistema judicial de independencia cuestionable y que deben sufrir penas excesivas sin haber causado un daño a otras personas.

Los presos políticos no existen en las democracias. En ningún país verdaderamente libre, uno va a prisión por pensar distinto. Cuba puede hacer todos los esfuerzos de oratoria que desee para vender la idea de que es una "democracia especial", pero cada preso político niega en la práctica esa afirmación. Cada preso político es una prueba irrefutable de autoritarismo.

A esto se suma el hecho de que se trata de personas con una salud muy debilitada. Y aquí sí es cierto que no importan las razones por las cuales alguien haya entrado en prisión. Todo Gobierno que respete los derechos humanos, debe al menos mostrar compasión ante el estado de una persona débil, en lugar de llamarla "chantajista".

Siempre he luchado por una transición cubana hacia la democracia. Siempre he luchado porque ese régimen de partido único se convierta en un régimen pluralista, y deje de ser una excepción en el continente americano. Estoy convencido de que en una democracia, si uno no tiene oposición, debe crearla, no perseguirla, reprimirla y condenarla a un infierno carcelario, que es lo que hace el régimen de Raúl Castro.

El Gobierno cubano tiene ahora en sus manos la oportunidad de demostrarle al mundo los primeros signos de esa transición democrática, que desde hace mucho tiempo esperamos. Tiene la oportunidad de demostrar que puede aprender a respetar los derechos humanos, sobre todo los derechos de sus opositores, porque no tiene ningún mérito que respete sólo los derechos de sus partidarios. Si el Gobierno cubano liberara a sus presos políticos, tendría más autoridad para reclamar respeto a su sistema político y a su forma de hacer las cosas.

Estoy consciente de que al hacer estas afirmaciones me expongo a todo tipo de acusaciones de parte del régimen cubano. Me acusarán de inmiscuirme en asuntos internos, de irrespetar su soberanía y, casi con certeza, de ser un lacayo del imperio. Sin duda, soy un lacayo del imperio: del imperio de la razón, de la compasión y de la libertad. No voy a callarme cuando se vulneran los derechos humanos. No voy a callarme cuando la sola existencia de un régimen como el de Cuba es una afrenta a la democracia. No voy a callarme cuando se pone en jaque la vida de seres humanos, por defender a ultranza una causa ideológica que prescribió hace años. He vivido lo suficiente para saber que no hay nada peor que tener miedo a decir la verdad.

Óscar Arias es presidente de Costa Rica.

1880) Duas tumbas e duas medidas...

Existem tumbas que são mais "santas" do que outras, ou politicamente mais interessantes, ou politicamente corretas, whatever,...

Brazilian president won't visit Herzl's tomb
Jerusalem Post, 15/03/2010 13:03

“It is an insult to Israel’s citizens and to Zionist communities around the world,” Jewish Agency official Hagai Merom said Monday after Brazilian president Luiz Ignacio Lula da Silva said he would not visit the tomb of Binyamin Zeev Herzl during his first official visit to Israel.

“I hope and believe the president will change his mind… avoiding putting a wreath at Herzl’ grave is the same as refusing to visit the graves of Mustafa Kemal Ata Turk in Turkey or the tomb of Mahatma Ghandi in India.

The visit to Herzl’s grave has been added to the itinerary of visiting foreign officials in honor of the 150th anniversary of Herzl’s birth.

Last week, US Vice President Joe Biden was the first foreign official to visit Herzl’s grave. The tomb of the father of Zionism was part of the itinerary of foreign officials in the past but in recent years was replaced with a visit to the grave of slain prime minister Yitzhak Rabin.

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Em compensação, o presidente Lula vai depositar flores na tumba de Yasser Arafat, o "pai" do nacionalismo palestino.
Aparentemente, o "pai" do sionismo não é suficientemente merecedor das graças presidenciais...

sexta-feira, 12 de março de 2010

1879) Cotas racistas (eu disse bem, racistas) e espaço a um injustiçado - Senador Demostenes Torres

Creio que nem preciso comentar...

Escolha de Sofia
Demóstenes Torres (senador DEM-GO)
O Globo, 12.03.2010

Durante a audiência pública realizada no STF para discutir as cotas raciais tive a oportunidade de expor durante 40 minutos o meu entendimento sobre um assunto ao qual me dedico a estudar mais profundamente há três anos. Quem assistiu viu que defendi especialmente a adoção do tempo integral em todas as escolas públicas que ministrem ensino fundamental, para mim verdadeiro marco da transformação social no país. Mostrei que se tratava de uma escolha difícil entre propor uma ação afirmativa que socorreria todos os brasileiros em posição de inferioridade, independentemente da cor da pele, ou atender parcela minoritária, igualmente sofrida, classificada como afrodescendente. Verdadeira escolha de Sofia.

Muitos dos debatedores, inclusive do Movimento Negro, entenderam minhas ponderações sobre as cotas sociais como lógicas e acertadas. Logo depois se valeram da maledicência preparada para desfazer reputações, promover a fraude estatística, deturpar números e principalmente se utilizar de espertalhões, que recheiam os bolsos a serviço de ONGs ambientalistas e racialistas, para caluniar em nome de duvidosa historiografia.

Os jornalistas Elio Gaspari e Miriam Leitão, contaminados pelo narcótico da ira, decidiram por pincelar trechos do meu depoimento para me classificar de forma leviana como negacionista da escravidão. Não sou eu quem está na posição de julgar a história como se ela fosse objeto de especulação ideológica em favor das cotas raciais. Apenas utilizei argumentos de um dos maiores pesquisadores da escravidão africana, Paul. E. Lovejoy, para rebater o comentário de um estudante secundarista, numa audiência no Senado, para quem os brasileiros haviam praticamente sequestrado os negros na África. Afirmação que mereceu repulsa do historiador José Roberto Pinto de Goés, que entendeu o dito como retrato profundamente desregrado da qualidade educacional brasileira, o que estamparia o nível da história que se ensina nas nossas escolas públicas. Lovejoy mostra em números detalhados que a ignominiosa prática estava institucionalizada naquele continente pelo menos 850 anos antes de Vasco da Gama atravessar o Cabo da Boa Esperança.

Demonstra, ainda, que a escravidão ocorreu na região Transaariana entre os anos 650 e 1600, prosperou, paralelamente, em direção do Mar Vermelho por outros 800 anos, ganhou vigor a partir de meados de 1400 com o tráfico pelo Atlântico e se manteve fundamental para a economia do continente até o século passado. Seria consolo moral aceitar a tese de que foram africanos os escravizados, quando na verdade os africanos escravizavam os seus iguais por razões econômicas, de beligerância e de manipulação religiosa. Devemos condenar o Brasil escravagista, mas não temos direito de culpar as atuais gerações.

O propósito foi de retrucar a falácia do sequestro e de sustentar que a escravidão não foi inventada no Brasil, e que as cotas raciais, além de não resolverem ou minimizarem o problema, não podem ser consideradas uma ordem de pagamento para quitação de uma suposta dívida que os brasileiros de hoje teriam de honrar com 87% de descendentes que têm acima de 10% da ancestralidade africana no seu DNA. O grande problema dos racialistas é o de abastardar a miscigenação, pois temos também mais de 90% de brasileiros com ancestralidade europeia e mais de 60% com ancestralidade indígena. Ao negar a mistura de raças e manter a ideia do estupro ancestral, criam a figura de um africano puro, sem o qual não podem sustentar o libelo dantesco. Como é que uma ancestralidade tão misturada pode ter se originado unicamente ou majoritariamente a partir da violência sexual? Por que não contestaram Ali Kamel, quando ele aqui (19/9/ 2006), fez a mesma afirmação?

Neste ponto vale o entendimento de Gilberto Freyre para quem somos uma “sociedade que se desenvolveria menos pela consciência de raça, quase nenhuma no português cosmopolita e plástico, do que pelo exclusivismo religioso desdobrado em sistema de profilaxia social e política”. Ou a opinião de Sérgio Buarque de Holanda, que ao tratar do negro na sociedade colonial escreveu que “sua influência penetrava sinuosamente o recesso doméstico, agindo como dissolvente de qualquer ideia de separação de castas ou raças, de qualquer disciplina fundada em tal separação”. Feliz do Brasil que tem um Joaquim Nabuco. Ele fez da sua vida e obra meios para desmontar a escravidão justamente por entender que a prática estava aberta a todos. E é isso o que defendo: cota temporária nas universidades públicas para negros, brancos, índios, pardos, cafuzos, caboclos ou quaisquer outras denominações que venham a ter os descendentes do que Kamel chama de beleza da miscigenação brasileira, desde que sejam pobres, estes sim os verdadeiros espoliados do Brasil.

1878) Royalties do petroleo: rentistas e interesses consolidados

Um artigo técnico, e bem embasado, sobre um problema econômico, que vem sendo politizado indevidamente por políticos mal intencionados...

A quem pertencem os royalties, afinal?
SÉRGIO GOBETTI, ECONOMISTA (IPEA)
Valor EConômico, Opinião - 12.03.2010

A aprovação da emenda do deputado Ibsen Pinheiro redistribuindo os royalties do petróleo por intermédio dos fundos de participação dos Estados e municípios abriu um importante debate: a quem pertencem esses recursos? De um lado, a maioria dos deputados expressou por meio do seu voto o sentimento de que o petróleo, sobretudo aquele extraído do alto-mar, é de todos os brasileiros e, por isso, sua renda deve ser repartida de forma "igualitária" entre todas as unidades da Federação. Por outro lado, o governador do Rio de Janeiro reagiu como se estivesse sendo roubado, já que hoje seu Estado (incluindo municípios) é beneficiário de 75% dos royalties descentralizados.

Alegam os governantes do Rio que os royalties devem servir para compensar os Estados produtores e que, portanto, nada mais justo que o governo fluminense receba a maior fatia. Esse argumento poderia ser considerado válido se o petróleo que gera os royalties estivesse sendo produzido nos limites territoriais do Estado do Rio. Mas não é. Mais de 95% do petróleo e do gás brasileiros são oriundos de plataformas localizadas a mais de 100 milhas da costa, de domínio da União.

Por uma peculiaridade da Constituição brasileira em comparação com outras federações, mesmo o petróleo extraído em terra é patrimônio da União, mas nesse caso ao menos podemos falar em Estado e município produtor e em direito a receber uma compensação financeira. Aliás, é interessante assinalar que a Agência Nacional de Petróleo não registra qualquer produção em terras fluminenses.

Como é que o Rio de Janeiro conquistou então o direito de receber a maior parcela dos royalties? A Constituição, a mesma que diz ser da União (e não do Rio) todas as jazidas de petróleo, concede o direito à compensação a Estados e municípios, delegando a leis ordinárias a definição da fatia e dos critérios a serem adotados na distribuição descentralizada.

Foram essas leis ordinárias que consolidaram um sistema de distribuição dos royalties de mar baseado principalmente no conceito de área de "confrontação" com campos de petróleo, segundo linhas traçadas pelo IBGE para dividir a plataforma continental entre Estados e municípios.

Esse critério de distribuição é um caso raro no mundo e causou espanto e preocupação entre especialistas reunidos em conferência do Banco Mundial, em Washington.

Mesmo em federações descentralizadas, como a canadense, os recursos do petróleo extraído a mais de 10 ou 12 milhas da costa são apenas do governo central. Além de raro, esse critério é irracional do ponto de vista socioeconômico, porque não compensa os Estados e municípios de acordo com os impactos que sofrem da atividade petrolífera, mas com base apenas na sorte geográfica de estar no litoral e possuir um formato de costa que lhe garanta uma área de confrontação generosa.

Talvez a aprovação da emenda Ibsen contribua para que o Senado faça uma discussão técnica mais séria e produza critérios de distribuição mais racionais, bem como regras de transição para viabilizar as mudanças, inclusive na partilha dos atuais royalties sob regime de concessão. O Rio de Janeiro pode até receber uma fatia especial dos recursos, mas não porque o petróleo lhe pertence e nem na proporção atual.

Por fim, é preciso considerar que a descentralização das receitas amplia os riscos econômicos, principalmente em contexto de alta volatilidade dos preços, já que a tendência dos governantes beneficiados por royalties é gastar muito nos anos de bonança e relaxar na arrecadação de impostos. Isso exige que se criem regras especiais que limitem os gastos e forcem a geração de poupança para os anos de queda nos preços de petróleo.

*Economista do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA)

1786) Voce quer saber mais sobre "linguas africanas" (sic)?

Recebo, da sempre estupenda Universidade de Brasília, que nunca nos deixa esquecer que as universidades públicas caminham rapidamente para a decadência, esta brilhante oferta:

From: decanato de extensao
Date: March 12, 2010 8:20:01 PM GMT-03:00
Subject: [InfoUnB] DEX ABRE INSCRIÇÕES PARA CURSO SOBRE LINGUAS AFRICANAS

ABERTAS INSCRIÇÕES PARA CURSO SOBRE LÍNGUAS AFRICANAS

O Decanato de Extensão (DEX) comunica que estão abertas até 19 de março inscrições gratuitas para o curso Considerações sobre as Línguas Africanas e estudos sobre suas participações na constituição do português brasileiro, proposto para o 1º/2010 pelo Núcleo de Promoção da Igualdade Racial (NPIR/DEX). (...)

O curso é aberto à comunidade universitária da UnB e ao público em geral e objetiva abordar aspectos das línguas africanas bem como apresentar considerações sobre contato de línguas e culturas africanas no Brasil. Além disso, com base em estudos etnolinguísticos, apresentará elementos que servirão como subsídios importantes ao debate acerca do cumprimento do § 1°do artigo 26 A da Lei de Diretrizes e Bases - LDB: o estudo do negro na formação da sociedade nacional.
O curso abrange em seu programa temas relacionados à Língua e Sociedade; inventário e classificação das línguas africanas; aspectos de estruturas fonológicas e morfossintáticas das línguas africanas e Línguas Africanas no Brasil.
(...)

Comento:

Eu me pergunto o que sao linguas africanas!!!
So what?!, diriam os ingleses.
Seria a mesma coisa que algum curso oferecer "linguas europeias", ou linguas "asiaticas".
Será que eu poderia saber que influência tiveram o galego, o basco, o provençal, os diversos dialetos alemães, o polonês, o italiano do Mezzogiorno, o húngaro, o ruteno, ou então, o árabe, o turco, o japonês, o chinês, sobre o nosso idioma falado no Brasil atualmente.
Por que apenas "línguas africanas" -- que não existem, estrito senso, existindo apenas diversas línguas faladas naquele continente, tão variadas quanto as europeias e as asiaticas -- devem ser explicadas a nós pobres brancos estudantes, ou então a negros brasileiros que são apenas descendentes longínquos de negros africanos e que não tem mais a mais remota ideia de qual língua era falada por seus ancestrais, aliás dispersons por dezenas de tribos e etnias de línguas diferentes?
Que raios de lingua voce quer aprender, exatamente?: swahili, ovimbundu, ashanti?
A Igualdade Racial vai ter de ser uma pouco mais precisa no que pretende ensinar (com dinheiro publico, obviamente...)
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Paulo Roberto Almeida

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...