sábado, 1 de maio de 2010

2110) Nosso Guia descobriu o Brasil...em 2003

Parece que só em em 2003 o Guia Genial dos Povos descobriu que o Brasil não foi feito por ele, e que o que tinha vindo antes -- como a estabilização do Plano Real, por exemplo -- era digno de ser mantido, preservado e até ampliado (o que ele não fez, pois que não empreendeu NENHUMA reforma digna desse nome).
Pessoas que se pretendem salvadoras do mundo, e iniciadoras de um ciclo completamente novo na história do País, estão enganando a si mesmas, e tentando enganar os outros. Como nem todos os brasileiros são idiotas, como certos propagandistas das ideias alheias, esse tipo de demagogia, na verdade mentira deslavada, não cola, embora muita gente desinformada acabe acreditando que, sim, o Nosso Guia salvou a pátria e praticou a bondade universal.
Pobres de espírito, ou gente de má fé, podem, eventualmete, acreditar nesse tipo de bobagem.
Pessoas inteligentes, como aquelas que lêem este blog, sabem separar a verdade da mentira.
Abaixo um artigo de Mailson da Nobrega sobre essa exata questão.
Paulo Roberto de Almeida

Quem descobriu o Brasil?: Lula ou Cabral?
Maílson da Nóbrega
Revista Veja, edição 2163 - 5 de maio de 2010

"A história reconhecerá Lula pelas corajosas decisões de preservar a política econômica – que condenava – e de não buscar o terceiro mandato"

Os menos avisados que escutam Lula podem pensar que fomos descobertos em 2003, e não em 1500. Seus discursos buscam deslustrar seus antecessores e propagandear o que entende como seus feitos. Não exagera a ponto de reivindicar a glória do descobrimento, mas chega perto. Diz que mudou o Brasil.

Lula se gaba de ser o autor das boas transformações do país. É o que disse na Bahia, em março passado: "Este país começou a mudar, e isso incomoda muita gente". Bajuladores não faltam, como o que lhe atribuiu o epíteto de "nosso guia".

No lançamento do PAC 2, Jaques Wagner, governador da Bahia, disse que "Lula está refundando o Brasil". Para a então ministra Dilma Rousseff, "este é o Brasil que o senhor, presidente Lula, recuperou para nós e que os brasileiros não deixarão escapar de suas mãos". Adulado e popular, Lula se imagina o marco zero.

Mudanças como essas não acontecem em curto prazo. A Europa começou a emergir no século XV – suplantando a China e o mundo islâmico, até então centros de inovação e poder –, mas o processo de sua ascensão se iniciara muito antes, com destaque para a Carta Magna inglesa (1215) e para o Renascimento, que começou no fim do século XIII.

Antes, mudanças ocorreram em áreas cruciais: cultura, sociedade, economia, política e religião. Copérnico, Vesálio e Galileu criaram a ciência moderna, abrindo caminho para o avanço tecnológico. Gutenberg revolucionou a imprensa. Depois, a reforma protestante de Lutero (século XVI) e a Revolução Gloriosa inglesa (1688) se tornaram fonte do moderno sistema capitalista e do predomínio econômico e militar do Ocidente.

Indivíduos à frente de seu tempo contribuíram para mudanças ciclópicas. Entre 1776 e 1787, os pais fundadores da nação americana – os que participaram da Declaração de Independência, da Revolução ou da elaboração da Constituição – moldaram os princípios formadores dos alicerces sobre os quais se erigiria seu grande futuro.

Felipe González, o governante socialista espanhol (1982-1996), abandonou velhas ideias e conduziu reformas estruturais, incluindo ampla privatização. Preparou seu país para a integração europeia e para longo ciclo de crescimento. Margaret Thatcher reverteu a trajetória de declínio da Inglaterra. Ronald Reagan renovou o capitalismo americano.

O Brasil tem seus líderes transformadores. Entre outros, José Bonifácio, Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. No período militar, sobressaem Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, este em grande parte responsável pelo fim pacífico do autoritarismo.

Ao proclamar-se o início de tudo, o presidente presta um mau serviço à história e aos brasileiros que gostam de ouvi-lo. Despreza o papel de Tancredo Neves na transição para a democracia, sem a qual não teria chegado ao poder. Obscurece a participação de Fernando Henrique Cardoso na construção da plataforma de lançamento da qual decolou.

Lula gostaria de ser lembrado como um Getúlio ou um Juscelino, mas creio que a história – a quem cabe apontar o lugar dos atores políticos – o reconhecerá pelas corajosas decisões de preservar a política econômica – que condenava – e de não buscar o terceiro mandato. Evitou, assim, o retorno da inflação e o abalo das instituições políticas, que precisam de tempo para se consolidar.

A continuidade deu tempo para o amadurecimento de mudanças anteriores. Permitiu-nos colher frutos da expansão da economia mundial e da emergência da China, hoje forte demandante de nossas commodities. Crescemos acima da média dos últimos 25 anos. As exportações triplicaram. Com estabilidade, crescimento e baixa inflação, foi possível alargar políticas sociais e assim reduzir as desigualdades sociais e a pobreza.

Lula é um líder de massas sem paralelo na América Latina. Politicamente populista, não foi desastrado na economia, embora deixe más heranças, como o aparelhamento do estado, a piora da qualidade do regime fiscal e os efeitos da inconsequente política externa.

Lula não descobriu o Brasil nem foi um líder transformador, mas não fez o estrago que se temia. Não é pouco. Não precisava, todavia, desconstruir as realizações do passado para marcar seu lugar na história, que parece garantido.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

2109) Indulging myself with some narcisism...

Mensagem recebida de uma leitora:

On May 1, 2010, at 1:41 AM, Exxxx Xxxxxx wrote:

Mensagem enviada pelo formulário de Contato do SITE.

Nome: Exxxx Xxxxxx
Cidade: Xxxxxxxx
Estado: MG
Email: xxxxxxx@uol.com.br
Assunto: Opiniao

Mensagem: Professor,
fiquei feliz por \"passear e percorrer\" pelo seu site. Senti-me menos inadequada e incompetente.
Sua visão do mundo acadêmico é tudo que penso a respeito dele. Um mundo engessado, compressor que limita e impede a criatividade e o livre pensar por nós mesmos. A sensação é que o nosso olhar, o nosso observar o mundo em volta conta pouco na hora de produzir o tal \"artigo científico\" exigido pra formar. Pouco ou quase nada se aproveita da contribuição daqueles alunos que como eu, não aceitam \"uma camisa de força\".
Obrigada por existir e principalmente ter conseguido sair desse \"casulo\" como um doutor que de fato merece assim ser chamado.
Atenciosamente,
Exxxxx Xxxxxx

Minha resposta:

Muito grato por sua mensagem, Exxxx, suponho que em conexao com "minha" Falácia sobre o "Marco Teórico". Ela foi pensada justamente em defesa dos alunos, e contra professores incompetentes para pensar com sua propria cabeça, dependendo sempre de algum guru qualquer para organizar a sua falta de ideias e de argumentos racionais.
Cordialmente, desde Shanghai,
------------------------------
Paulo Roberto Almeida

PS: O trabalho referido é este aqui:
3) Falácias acadêmicas, 3: o mito do marco teórico
Buenos Aires-Brasília, 30 setembro 2008, 6 p. Da série programada, com algumas criticas a filósofos famosos.
Espaço Acadêmico (n. 89, outubro 2008; arquivo em pdf). Relação de Originais n. 1931

A série toda pode ser lida neste link:
http://www.pralmeida.org/05DocsPRA/FalaciasSerie.html

2108) Uma pausa refescante... mas na Bollivia???

Os viajantes, eventualmente desejosos de não pagar royalties ao imperialismo -- sempre tem gente assim motivada -- podem agora escolher entre a velha bebida conhecida de todos, a Coca-Cola, como todos sabem com origem nos Estados Unidos, e essa nova maravilha da tecnologia tradicional boliviana, a Coca-Colla, recém lançada pelo Governo da Bolívia (que portanto fica com todos os royalties, lucros, e eventuais prejuízos da operação (inclusive, possivelmente, o de ser derrotado nos tribunais do seu país, por contrafação, apropriação indébita de marca, tentativa de enganar o consumidor...).
Sempre tem quem goste...

2107) O papa nao está acima da lei - Christopher Hitchens

Bring the Pope to Justice
Christopher Hitchens
Newsweek, Apr 23, 2010

Popes and their problems through the centuries

Detain or subpoena the pope for questioning in the child-rape scandal? You must be joking! All right then, try the only alternative formulation: declare the pope to be above and beyond all local and international laws, and immune when it comes to his personal and institutional responsibility for sheltering criminals. The joke there would be on us.

The case for bringing the head of the Catholic hierarchy within the orbit of law is easily enough made. All it involves is the ability to look at a naked emperor and ask the question "Why?" Mentally remove his papal vestments and imagine him in a suit, and Joseph Ratzinger becomes just a Bavarian bureaucrat who has failed in the only task he was ever set-that of damage control. The question started small. In 2002, I happened to be on Hardball With Chris Matthews, discussing what the then attorney general of
Massachusetts, Thomas Reilly, had termed a massive cover-up by the church of crimes against children by more than a thousand priests. I asked, why is the man who is prima facie responsible, Cardinal Bernard Law, not being questioned by the forces of law and order? Why is the church allowed to be judge in its own case and enabled in effect to run private courts where gross and evil offenders end up being "forgiven"? This point must have hung in the air a bit, and perhaps lodged in Cardinal Law's own mind, because in December of that year he left Boston just hours before state troopers
arrived with a subpoena seeking his grand-jury testimony. Where did he go? To Rome, where he later voted in the election of Pope Benedict XVI and now presides over the beautiful church of Santa Maria Maggiore, as well as several Vatican subcommittees.

In my submission, the current scandal passed the point of no return when the Vatican officially became a hideout for a man who was little better than a fugitive from justice. By sheltering such a salient offender at its very heart, the Vatican had invited the metastasis of the horror into its bosom and thence to its very head. It is obvious that Cardinal Law could not have made his escape or been given asylum without the approval of the then pontiff and of his most trusted deputy in the matter of child-rape damage control, then cardinal Joseph Ratzinger.

Developments since that time have appalled even the most diehard papal apologists by their rapidity and scale. Not only do we have the letter that Cardinal Ratzinger sent to all Catholic bishops, enjoining them sternly to refer rape and molestation cases exclusively to his office. That would be bad enough in itself, since any person having knowledge of such a crime is legally obliged to report it to the police. But now, from Munich and Madison, Wis., and Oakland, come reports of the protection or indulgence of
pederasts occurring on the pope's own watch, either during his period as bishop or his time as chief Vatican official for the defusing of the crisis.
His apologists have done their best, but their Holy Father seems consistently to have been lenient or negligent with the criminals while reserving his severity only for those who complained about them.

As this became horribly obvious, I telephoned a distinguished human-rights counsel in London, Geoffrey Robertson, and asked him if the law was powerless to intervene. Not at all, was his calm reply. If His Holiness tries to travel outside his own territory-as he proposes to travel to Britain in the fall-there is no more reason for him to feel safe than there was for the once magnificently uniformed General Pinochet, who had passed a Chilean law that he thought would guarantee his own immunity, but who was visited by British bobbies all the same. As I am writing this, plaintiffs are coming forward and strategies being readied (on both sides, since the Vatican itself scents the danger). In Kentucky, a suit is before the courts seeking the testimony of the pope himself. In Britain, it is being proposed that any one of the numberless possible plaintiffs might privately serve the pope with a writ if he shows his face. Also being considered are two international approaches, one to the European Court of Human Rights and another to the International Criminal Court. The ICC-which has already this year overruled immunity and indicted the gruesome president of Sudan-can be asked to rule on "crimes against humanity"; a legal definition that happens to include any consistent pattern of rape, or exploitation of children, that has been endorsed by any government.

In Kentucky, the pope's lawyers have already signaled their intention to contest any such initiative by invoking "sovereign immunity," since His Holiness is also an alleged head of state. One wonders if sincere Catholics really desire to take refuge in this formulation. The so-called Vatican City, a political nonentity covering about 0.17 square miles of Rome, was created by Benito Mussolini in 1929 as part of his sweetheart deal between fascism and the papacy. It is the last survival of the political architecture of the Axis powers. Its bogus claim to statehood is now being
used to give asylum to men like Cardinal Law.

In this instance the church damns itself both ways. It invites our challenge-this is where the appeal to the European Court of Human Rights becomes relevant-to its standing as a state. And it calls attention to the repellent origins of that same state. Currently the Holy See has it both ways. For example, it is exempt from the annual State Department Human Rights Report precisely because it is not considered a state. (It maintains only observer status at the United Nations.) So, if it now does want to claim full statehood, it follows that it should receive the full attention
of the State Department for its "lay" policies, and, for that matter, the full attention of the Justice Department as well. (First order of business-why on earth are we not demanding the extradition of Cardinal Law?
And why is this grave matter being left to private individuals to pursue?)

It is very difficult to resist the conclusion that this pope does not call for a serious investigation, or demand the removal of those responsible for a consistent pattern of child rape and its concealment, because to do so would be to imply the call for his own indictment. But meanwhile why are we expected to watch passively or wonder idly why the church does not clean its own filthy stable? A case in point: in 2001 Cardinal Castrillón of Colombia wrote from the Vatican to congratulate a French bishop who had risked jail rather than report an especially vicious rapist priest. Castrillón was invited this week to conduct a lavish Latin mass in Washington. The invitation was rightly withdrawn after a storm of outrage, but nobody asked why the cardinal could not be held as an accessory to an official Vatican policy that has exposed thousands of American children to rapists and sadists.

Only this past March did the church shamefacedly and reluctantly agree that all child rapists should now be handed over to the civil authorities. Thanks a lot. That was a clear admission that gross illegality, and of the nastiest kind, has been its practice up until now. Euphemisms about sin and repentance are useless. This is a question of crime-organized crime, by the way-and therefore of punishment. Or perhaps you would rather see the shade of Mussolini thrown protectively over the Vicar of Christ? The ancient Roman symbol of the fish is rotting-and rotting from the head.

Hitchens, a NEWSWEEK contributor, is a columnist for Vanity Fair and the author of God Is Not Great.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

2106) Uma aluna indecisa: alguns conselhos genericos...

Não tenho pretensões a ser conselheiro vocacional, sequer psicólogo profissional, mas não posso escapar de algumas consultas didáticas ou de algum aconselhamento acadêmico. Sem muito tempo para grandes conversas bilaterais, mas consciente de que muitos outros estudantes podem alimentar as mesmas dúvidas, ou mesmo angústias, de vez em quando me atrevo a fazer o que não devo: aconselhar outros, o que é uma tremenda responsabilidade. Tento fazer da forma mais isenta possível, como se pode constatar abaixo.

Uma consulta "pedagógica"

On Apr 30, 2010, at 1:05 AM, c..... s........ wrote:

Olá! Eu sei que o senhor não me conhece, e talvez ache estranho eu estar lhe enviando este email, mas existem alguns momentos na vida em que nos sentimos bastante perdidos e nos agarramos a tudo que esteja a nosso alcance. Então vou tentar relatar o que está acontecendo comigo.
Eu tenho 17 anos, terminei o ensino médio em dezembro de 2009, já sabendo qual seria o rumo a seguir. Em fevereiro deste ano sai de casa, fui morar em Xxxxxxxx com minhas amigas para fazer um curso pré-vestibular, pois meu objetivo era cursar Relações Internacionais na UFxx. Como sou uma pessoa que sempre busca o melhor pesquisei sobre os melhores cursos de RI do Brasil e descobri que o da UFxx não estava entre os melhores. Então eu larguei o cursinho, voltei para casa e comecei a estudar para o vestibular de invernos da PUC de XXXXX, pois lá o curso é muito bom e o vestibular é mais fácil, portanto não precisaria mais fazer cursinho. Iria tentar entrar na UnB também, sem muitas expectativas, por ser o mais concorrido. A escolha deste curso já era uma certeza para mim, sabia que era isso que eu queria, mas agora parece que tudo mudou, eu não tenho mais certeza de nada. Essa mudança começou quando li uma reportagem sobre o melhor emprego do mundo no [jornal] e aquilo era exatamente o que eu queria para mim, entrei então em contato com o entrevistado e ele me disse que havia feito jornalismo na Xxxx, aqui em Xxxxxxx, pertinho de casa. Bom, ai eu quis fazer jornalismo, mas o problema é que eu não gosto muito de escrever, e na verdade, é isso que um jornalista faz. Mais uma vez fiquei perdida. Existem duas coisas que eu quero depois de formada e eu procuro um curso que me proporcione isso, que são viajar muito, conhecer vários países, várias culturas, ter contato com pessoas diferentes e também ajudar a humanidade, ajudar o meu país e tentar fazer alguma coisa para que esse mundo melhore. Procurei então, cursos que tivessem isso, então minha lista que tinha dois foi para seis. RI, jornalismo, ciências sociais, serviços sociais, geografia e turismo. Não sei mais o que fazer, eu que tinha certeza de tudo, agora não sei mais nada e também não tenho quem me ajude a ver melhor as coisas e saber o que é melhor. Meus pais são maravilhosos e eles vão me apoiar em qualquer decisão, mas ele não me ajudam, eles também não sabem o que dizer para mim. Preciso da ajuda de alguém que tenha uma visão mais ampla do mundo e da vida, porém não conheço nenhuma pessoa que possa me ajudar. Eu estava pesquisando sobre universidade, quando encontrei o teu blog e li algumas coisas, li sobre o senhor também e decidi lhe mandar este email. Sei que você deve ser uma pessoa muito ocupada e não tem tempo para problemas como o meu, já deve ter dor de cabeça suficiente com a suas coisas. Mas mesmo assim resolvi lhe mandar este email, pq não sei mais o que fazer e você foi uma luz para mim. Tenho esperanças que o senhor leia e tenha a bondade de responder. Desculpe o encomodo. Desde já agradeço. Espero que eu não tenha misturado demais e que você entenda o que eu preciso.

Obrigada,
C.... S.......


=============

Minha resposta (improvisada e rapidamente escrita):

C....,
Duas primeiras observacoes sobre sua longa carta, abaixo, bastante explicativa de sua situacao e de suas duvidas de vida, de estudo e de trabalho.
1) "encomodo" se escreve incômodo. Mas isso você já deveria saber, com 17 ou 18 anos.
2) Se voce não gosta de escrever, isso é terrivel, e é um tremendo handicap para qualquer carreira, mas sobretudo para a diplomacia. Passamos metade do tempo, talvez dois tercos do tempo escrevendo: telegramas, oficios, memorandos, position papers, notas, até comunicados presidenciais e declaracoes oficiais de reunioes importantes, em portugues, espanhol, sobretudo ingles, eventualmente outras linguas tambem. Ou seja, se você nao gosta de escrever, e não consegue escrever bem, eu a desaconselho a tentar a diplomacia.

Voce precisa ser realista e traçar seu plano de vida, pois nao é possivel fazer tudo ao mesmo tempo: "viajar muito, conhecer vários países, várias culturas, ter contato com pessoas diferentes e também ajudar a humanidade, ajudar o meu país e tentar fazer alguma coisa para que esse mundo melhore".
Você poderá, eventual e hipoteticamente, fazer tudo isso, mas não ao mesmo tempo, e sobretudo não concentrado em curto espaço de tempo. Esse é um projeto de uma vida inteira, e como se diz, a caminhada começa com o primeiro passo.
Seu primeiro passo, aliás uma obrigação sua, se os seus pais estão lhe pagando os estudos, seria ter uma boa formação, e se quiser ter sucesso na vida, profissional e pessoal, uma excelente formação. Isso, NENHUMA faculdade, nenhum curso vai lhe dar, NENHUM. Todos são mediocres, professores relapsos e incompetentes, colegas desinteressados, aulas chatas, etc.
Ou seja, ou você se forma sozinha, de forma autodidata, ao lado da frequencia formal das aulas na Faculdade, para tirar um certificado e ter um minimo de orientacao de leituras, ou você NUNCA terá uma boa formação.
Eu não vou lhe indicar um curso, pois acho que isso depende de você mesma sondar sua consciência, se informar sobre os MELHORES cursos de Xxxxxxxx, e fazer um deles.
Eu só vou lhe dizer que você precisaria ler o tempo todo, bons livros, e escrever muito, o tempo todo.
Se você quiser ter sucesso, comece pelas coisas mais simples: seja uma grande leitora, uma grande estudiosa, seja em que profissao ou carreira for, e seja uma escritora plena, pois seu sucesso depende do dominio completo da lingua, lida, falada, escrita. Sim, tenha um excelente ingles, também, pois isso vai lhe ajudar bastante, qualquer que seja a profissao.
Tudo isso voce pode, voce deve fazer sozinha, por sua propria iniciativa, e comecando agora.
Abra o computador, selecione os melhores jornais e revistas do mundo para ler: New York Times, Economist, Washington Post, Financial Times, Le Monde, El Pais, e comece a ler. Cada materia interessante que voce ler. faça um resumo em portugues, de preferência num caderno, para você ir verificando aos poucos sua melhoria de escrita.
Faça um programa de leituras, sistematico, se preferir baseado no Guia de Estudos do Rio Branco: comece a ler TODOS os livros indicados, anotando cada um.
Depois de 4 anos de estudos intensos, você poderá ser uma boa diplomata, ou ter sucesso em qualquer outra profissão.
Estes são os meus conselhos...
Cordialmente,
------------------------------
Paulo Roberto Almeida
(Shanghai, 30.04.2010)

2105) Keynes vs Hayek (ou vice-versa): um rap economico

Já postei aqui, no passado, o link pertinente, mas creio que sem tradução, desta vez feita pelo pessoal do Instituto Mises do Brasil, que também traduziu este artigo resumindo o video, de autoria de Jeffrey A. Tucker, editor do site www.Mises.org.
Uma excelente aula de economia, se você prestar atenção nos conceitos (que deveriam ser objeto de várias visualizações, para melhor compreensão).

A genialidade do rap estrelando Keynes versus Hayek
por Jeffrey A. Tucker
Instituto Mises do Brasil, quarta-feira, 28 de abril de 2010

Rap Hayek Vs Keynes

Nota do IMB: uma alma caridosa e extremamente competente traduziu e legendou o rap da batalha Keynes x Hayek. Não é exagero algum dizer que a letra da música não só é fenomenal, como também apresenta uma descrição extremamente acurada da visão antagônica que ambos tinham da mecânica dos ciclos econômicos. É um vídeo para se ver e rever inúmeras vezes. Por mais que você já o tenha visto, sempre acabará descobrindo detalhes novos.

O debate entre J.M. Keynes e F.A. Hayek, ambos vivendo e lecionando na Grã-Bretanha nos anos 1930, foi um dos grandes debates do século. Desafortunadamente, o charme keynesiano acabou prevalecendo, e Keynes, um homem que estava em frequentes viagens pelo mundo, acabou conquistando o pódio da audiência — a ponto de influenciar a política de todo o mundo até os dias de hoje.

Enquanto isso, o sereno e estudioso Hayek nunca de fato teve uma grande plateia. Assim como seu colega e mentor Mises, Hayek escrevia para jornais acadêmicos e era ouvido apenas por aqueles que tinham uma mente mais cética, pessoas que duvidavam das políticas e teorias convencionais e tinham a vontade intelectual de pesquisar os assuntos mais a fundo.

De um lado, portanto, o debate entre esses dois foi um dos mais decisivos para a modelagem das ideias econômicas que dominariam o mundo ao longo dos 75 anos seguintes. De outro lado, entretanto, esse debate nunca de fato ocorreu, uma vez que o ponto de vista hayekiano foi e tem sido sistematicamente marginalizado e escondido pelo establishment político e acadêmico desde que Keynes foi prematuramente declarado o vencedor no final da década de 30.

A maravilha das novas tecnologias midiáticas é sua capacidade de nos mostrar coisas que de outra forma poderiam passar despercebidas. Fear the Boom and Bust [Tema a Expansão e a Recessão], um vídeo do YouTube feito pelo produtor John Papola e pelo economista Russ Roberts, e apoiado pelo Mercatus Center, que pertence à George Mason University, explora genialmente essa vantagem, contrapondo Keynes e Hayek em um rap que captura uma realidade que poucos haviam compreendido por completo até agora.

Até o momento, o vídeo [o original] já foi visto mais de um milhão e cem mil vezes e virou notícia internacional. Além de ser uma bela e elaborada produção, o que realmente impressiona é sua transparência e acuidade teórica. Ele tirou a teoria austríaca dos ciclos econômicos de um plano secundário e a trouxe para o primeiro plano do debate.

É verdade que em 1974 Hayek recebeu o Prêmio Nobel, o que trouxe atenção para a sua obra que havia há muito sido esquecida. O comitê do Nobel citou especificamente o trabalho de Hayek sobre a teoria dos ciclos econômicos. Mas o renascimento desfrutado por Hayek nos anos seguintes não se centrou nesse aspecto da sua obra. Ao invés disso, toda a atenção foi voltada para elaborações sobre sua evolucionária teoria social, suas concepções sobre a ordem do processo de mercado e seus estudos sobre lei.

Com efeito, seus livros e a maioria de seus artigos sobre ciclos econômicos sequer foram reeditados desde o lançamento de sua primeira edição — até o ano passado, quando o Mises Institute lançou um maciço compêndio de sua obra: Prices and Production and Other Essays (bem como o livro Tiger by the Tail). O vídeo, portanto, vem a público de uma maneira acessível e trazendo a grande contribuição que Hayek deu à literatura econômica, a qual é essencial para se entender os atuais eventos da economia mundial.

Permita-me agora explicar por que esse vídeo é sensacional.

O vídeo começa com Keynes e Hayek chegando à recepção de um hotel. Ambos estão ali para a "Conferência Econômica Mundial". A recepcionista é toda remelexos com Keynes, tratando-o como a estrela que ele é. Keynes arrogantemente anuncia que ele não precisa de uma pauta porque ele é a pauta. Enquanto isso, Hayek humildemente tenta se fazer notar. A recepcionista nunca ouviu falar dele. Isso captura muito bem o espírito que perdurou desde a década de 1930 até hoje: o mundialmente famoso Keynes versus os desconhecidos austríacos.

Algo totalmente fiel à realidade: vários estudantes estão dizendo que mandaram esse vídeo para seus professores de economia, os quais responderam que, antes de verem vídeo, nunca tinham ouvido falar de Hayek. Enfatizo: professores de economia.

Voltando ao vídeo, a caracterização dos personagens é fantástica. Keynes é popular e amado por todos, sempre promovendo um estilo de vida boêmio, com festas e farras intensas — o futuro que se dane. Já a personalidade de Hayek é mais intelectual, sóbria e até mesmo um pouco puritana, com um foco na realidade e no longo prazo.

Hayek chega ao quarto do hotel e, ao abrir a gaveta da mesa de cabeceira encontra, ao invés da Bíblia, a Teoria Geral. O telefone toca e é Keynes anunciando que as festividades no Banco Central já estão quase começando. Hayek fica espantado, pois achava que eles estavam ali para seminários e congressos.

Eles se encontram no lobby do hotel e saem — Hayek com um ticket de metrô na mão. Keynes, sem perder tempo, pede uma limusine, enquanto Hayek balança negativamente a cabeça, indignado.

O tema do 'festeiro vs. economista sóbrio' perpassa toda a história. Os termos da argumentação são expostos bem claramente. Hayek diz que os ciclos econômicos são causados por "juros baixos" resultantes de intervenções do governo, ao passo que Keynes culpa o "espírito animal" que opera livremente em um mercado que necessita urgentemente ser controlado.

Keynes então começa a explicar sua teoria para a depressão. Ela é causada pela rigidez de salários e só pode ser curada se houver um estímulo à demanda agregada por meio do aumento dos gastos governamentais e impressão de dinheiro. Ele defende obras públicas, guerras e janelas quebradas — pois tudo isso estimularia a demanda —, alerta contra a armadilha da liquidez, defende déficits, vangloria-se de ter mudado o modo de se estudar economia, e conclui "Diga bem alto, com orgulho, somos todos keynesianos agora!". Enquanto isso, o espectador vai assistindo a cenas de pessoas embriagadas farreando freneticamente.

Sobra então para Hayek a missão de trazer realismo à discussão. Ele rejeita o argumento de Keynes pelo fato de este esconder muita agregação em suas equações, as quais ignoram toda a motivação e ação humana. Hayek compara estímulos governamentais ao ato de beber mais para tentar curar uma ressaca. Ele chama atenção para o fato de que não é possível haver prosperidade sem poupança e investimento — e em seguida começa a educar Keynes em sua perspectiva austríaca.

Ele começa sua exposição alterando o foco da análise: não é a recessão, mas sim a expansão que deve ser analisada. Pois é durante a expansão que são plantadas as sementes do desastre. A expansão econômica começa com uma expansão do crédito. Esse dinheiro recém-criado passa a ser erroneamente visto como sendo poupança real, que pode ser emprestada e investida em novos projetos, como imóveis e construção.

Porém, há uma escassez de recursos necessários para se finalizar esses projetos. Imprimir dinheiro não faz com que os recursos surjam do nada. Esses projetos, portanto, se transformam em investimentos errôneos. O "anseio por mais recursos revela que não há o bastante". É aí que a expansão se transforma em recessão. Quanto à armadilha da liquidez, ela é apenas uma evidência de um sistema bancário insolvente. A lição: "Você precisa poupar para investir, não use a maquina de imprimir."

Toda essa explicação ocorre enquanto Keynes tenta dormir para curar sua ressaca. Sem sucesso, ele corre para o banheiro para vomitar — os efeitos colaterais da farra da noite anterior.

O que Hayek discute no vídeo é sua própria teoria da estrutura de produção de uma economia. Mas vale notar que há uma estrutura de produção atuando no mundo das ideias também. Os primeiros pedaços da teoria austríaca dos ciclos econômicos foram juntados 100 anos atrás, quando Mises estava trabalhando em seu primeiro livro, que foi publicado em 1912.

Esse foi o primeiro tratado a juntar a teoria dos juros e da produção à teoria da moeda. O principal ponto de Mises era mostrar que os bancos centrais — que estavam sendo criados em sua maioria naquela época — iriam acabar causando mais ciclos econômicos, e não menos. Hayek deu sequência a esse trabalho nos anos 20 e 30, publicando uma série de estudos sobre o assunto. Mais tarde vieram aprimoramentos feitos pelo próprio Mises, que os publicou em sua obra magna de 1949, Ação Humana. Os estudos feitos por Roger Garrison na década de 1990 fornecem alguns dos termos que aparecem no vídeo. Ainda depois, surgiu o livro de Jesus Huerta de Soto sobre ciclos econômicos, o qual explica o papel do sistema bancário de reservas fracionárias na criação das expansões econômicas e das subsequentes recessões — um livro que se baseia em várias constatações feitas por Rothbard na década de 1960.

O que vemos nesse vídeo, portanto, é a culminação de várias sequências de ideias que começaram há um século. Trata-se de uma longa e complexa estrutura de produção de ideias. Mas foi exatamente essa estruturação que possibilitou que uma teoria dessa complexidade pudesse ser construída de modo tão coerente, que é perfeitamente possível apresentá-la em um vídeo de rap num formato que qualquer leigo pode ver e entender.

Sinceras e cordiais congratulações a Russ Roberts e John Papola por terem compilado tudo e apresentado um fantástico exemplo de como a ciência econômica pode ser explicada para qualquer indivíduo. Era justamente essa a visão de Mises: a ciência econômica não deve ser relegada às salas de aula; ela deve fazer parte dos estudos de cada cidadão. Roberts e Papola levaram essa prescrição muito a sério e, com isso, fizeram algo extraordinário para Hayek, para as ideias austríacas, para a ciência econômica em geral e para o progresso intelectual do mundo.

É por isso que o vídeo é fantástico.
Jeffrey A. Tucker
é o editor do Mises.org.

Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque

2104) Rota da Seda, um passeio pelo Oriente (e algo mais...)

Blog-site de Carmen Lícia Palazzo, por acaso (bem, não foi por acaso) minha queridíssima esposa, companheira, guia de viagens, historiadora oficial, conhecedora dos segredos da Rota da Seda e muito mais:

Rota da Seda
http://www.carmenlicia.org/

Prato sassânida (entre séculos V e VII); influência grega na temática da decoração.
© carmen lícia palazzo

Rota da Seda
丝绸之路 - Cidades da Rota da Seda
Carmen Lícia Palazzo
Fri, 04/23/2010 - 22:36

Carmen Lícia descendo do "taxi" no deserto de Gobi:


Estamos chegando de uma viagem muito especial pelo interior da China pois fizemos uma pequena parte da Rota da Seda, visitando Dunhuang e as cavernas ou grutas de Mogao, Lanzhou e Xi'an.

Dunhuang é o ponto de partida para visitar Mogao, um oásis no deserto de Gobi onde se encontram centenas de cavernas com magníficas pinturas e estátuas budistas. As cavernas começaram a ser escavadas no século IV quando ali se instalaram as primeiras comunidades de monges budistas. Os monges transformaram o local em um centro de devoção importante e muito frequentado pelos viajantes que percorriam a Rota da Seda. No oásis de Mogao as caravanas encontravam um lugar para descanso e para reabastecimento, sendo frequente também a troca de animais para seguir longos percursos.

A visita às cavernas é bem organizada e é possível apreciar os diversos estilos que foram se sucedendo na arte budista, inclusive as diversas influências indiana, tibetana e mesmo greco-romana, como é o caso dos drapeados inspirados nas esculturas de Gandhara. São excepcionais as imensas estátuas de Buda. Como puderam ser esculpidas com tamanha habilidade ali dentro? As figuras voadoras, "devi" ou apsaras" são fascinates. Comprei um livro muito bom, "Dunhuang & Silk Road", cujos autores pertencem à Universidade de Lanzhou e à Academia Dunhuang, pretendo dar uma boa estudada na história deste lugar que há tanto tempo me fascina...

Em Xi'an, antiga Chang'an, capital da China em diversas dinastias e que teve seu apogeu na época dos Tang, visitamos o Museu de História de Shaanxi que justamente "conta" a história da Rota da Seda. Estivemos também no Grande Pagoda cuja construção se destinava principalmente a abrigar textos budistas que o monge Xuan Zhang trouxe da Índia. A peregrinação de Xuan Zhang, que partiu de Xi'an no ano de 628, é um dos episódios mais importantes do budismo chinês e foi no mosteiro ao lado do Pagoda que ele criou uma escola de tradutores que alcançou grande renome na Ásia. Ainda hoje o enorme mosteiro se encontra em atividade e é bastante prestigiado entre os budistas.

Mas voltando atrás no tempo visitamos, ainda em Xi'an, o que é considerado uma das mais importantes descobertas arqueológicas do século XX: o imenso conjunto de guerreiros em terracota que fazem parte do mausoléu do imperador Qinshihuang. Ele unificou a China em 221 a.C. e ainda muito jovem mandou construir o que viria a ser seu mausoléu. O famoso exército de terracota já é bastante conhecido pois suas imagens são constantemente divulgadas em livros, filmes e revistas. No entanto é inexplicável a sensação de vê-los de perto. Eles estão no próprio sítio arqueológico onde foram encontrados e há inclusive um grupo de arqueólogos trabalhando nas escavações. É possível acompanhar uma parte dos trabalhos. É imensa a extensão da necrópole e certamente outras descobertas importantes se seguirão.

Dunhuang/Mogao e Xi'an dão uma boa idéia do trabalho que a China vem desenvolvendo com apoio de vários outros países para trazer à tona partes importantes da sua história. O Projeto Dunhuang é especialmente interessante pois atualmente está sendo feita a digitalização de todo o acervo de obras de arte das cavernas e há uma equipe internacional com grande participação chinesa trabalhando também na conservação do local.

Estamos começando bem nossa temporada chinesa e esperamos ainda fazer muitas viagens até o início de novembro, quando encerra nosso período aqui.

Algumas fotos de Dunhuang, do deserto de Gobi e de Xi'an estão no item "Minhas fotos."


Atualizações recentes
Mosteiro em Xi’an
04/24/2010 - 03:24
Zhang Qian
04/24/2010 - 03:22
Entrada das cavernas de Mogao
04/24/2010 - 03:16
Cavernas de Mogao
04/24/2010 - 00:20
Deserto de Gobi
04/23/2010 - 23:21
Cidades da Rota da Seda
04/23/2010 - 22:36
Chegada em Shanghai
04/11/2010 - 00:26
Museu de Sharjah
04/07/2010 - 03:22
Museu de Sharjah
04/07/2010 - 03:18
Viagem aos Emirados Árabes
04/07/2010 - 02:52

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...