Alguns posts mais abaixo, reproduzi, pela segunda vez, a entrevista concedida pelo Embaixador Roberto Abdenur às Páginas Amarelas da revista Veja, em 2007 (Nem na Ditadura).
Agora reproduzo em claro a entrevista concedida mais recentemente.
Pode-se conferir os temas e os argumentos, comparando ambas...
Paulo Roberto de Almeida
Diplomacia de palanque
Entrevista: Roberto Abdenur
Diogo Schelp
Revista Veja, 06/09/2010
O ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos diz que o Itamaraty orientou mal o presidente e que seu sucessor precisa incorporar os valores ocidentais à diplomacia
Aceita um copo d"água, um café ou, quem sabe, um pouco do caviar que me envia sempre um cerro amigo iraniano?"", oferece Roberto Abdenur, de 68 anos, ao receber a reportagem de VEJA em seu agradável apartamento no Rio de Janeiro. No humor característico dos diplomatas, a referência ao caviar é apenas uma ironia sobre um dos temas que deixam estupefatos especialistas em política externa, a estreita relação do governo brasileiro com o regime do iraniano Mahmoud Ahmadinejad. As ambições nucleares e a violação assumida de direitos humanos, como o apedrejamento de mulheres por adultério, fizeram do Irã um pária internacional. Com seus 44 anos de carreira diplomática, três deles como embaixador em Washington durante o primeiro mandato do presidente Lula, Abdenur é uma das pessoas mais habilitadas para avaliar o Brasil no quadro diplomático mundial. Na entrevista a seguir, ele demonstra o seu assombro diante da maneira como os preconceitos ideológicos e o gosto de Lula por um palanque prejudicaram a imagem do Brasil no exterior.
Que balanço o senhor faz da política externa do governo Lula?
A diplomacia brasileira tem uma trajetória quase secular de buscar maior presença e mais influência nos foros internacionais. Nesse ponto, o governo Lula não inventou nada de novo. O problema é a maneira como isso vem sendo feito. A política externa brasileira, nos últimos oito anos, atuou com base na visão de que no mundo ainda há claramente uma contraposição entre ricos e pobres, norte e sul. Isso não faz mais sentido em um mundo globalizado, em que o poder internacional é difuso, a China está em ascensão e outros países dinâmicos e de grande porte, como o Brasil, ganham espaço. Apesar dessa nova realidade. a política externa de Lula tem procurado apresentar o Brasil como líder dos países pobres. É preciso abandonar essa visão.
O senhor escreveu que a diplomacia brasileira precisa recuperar o seu "lado ocidental". Por quê?
O Brasil, nos últimos anos, relegou a um plano de quase irrelevância o compromisso com dois valores fundamentais para a política externa: a democracia e os direitos humanos. Estes são valores ocidentais e, também. brasileiros. Não podemos esquecer que a cultura política do nosso país descende do Iluminismo, da Renascença, do Humanismo, da Revolução Americana, da Declaração dos Direitos Humanos e do multilateralismo. O Brasil precisa incorporar ao seu arsenal diplomático uma maior adesão a esses valores. Está nas mãos do próximo presidente fazer isso, seja ele quem for.
Como?
Eu não prego a adoção de atitudes ingênuas, em que o Brasil se sinta a palmatória do mundo e saia por aí batendo nos países que não se comportem bem. Tampouco precisamos nos privar de ter relações, dentro dos limites dos nosso interesses, com países autocráticos ou violadores dos direitos humanos. A diplomacia tem de ser pragmática e realista o suficiente para entender que, até certo ponto, você pode e deve levar adiante intercâmbios econômicos e até diálogo político com certos países. Incorporar os valores ocidentais também não significa ser submisso ao que dizem americanos ou europeus.
O chanceler Celso Amorim disse que "negócios são negócios" ao justificar a visita de Lula a uma ditadura africana. Esse é o pragmatismo de que o senhor fala?
Não. Há limites para a diplomacia presidencial. Quando o presidente entra em cena, atribui-se à relação com determinado país um peso político muito maior. O presidente é a instância mais elevada da diplomacia, e é preciso dosar a sua exposição. pois ela traz consigo o endosso e a imagem de todo o país. O problema é que o Itamaraty não sabe dizer "não" a Lula, e isso cria situações como as que envolveram recentemente o Brasil e o Irã. Há uma empatia clara entre Lula e o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, da mesma forma que, paradoxalmente, houve entre Lula e o seu colega americano George W. Bush. Como Brasil e Estados Unidos têm laços estabelecidos, a afinidade entre Lula e Bush podia ser usada para conseguir avanços nas relações bilaterais. Não há benefício algum, no entanto, em aproximar-se do Irã, muito menos em nível presidencial. Ahmadinejad é o líder de um regime teocrático, violento e isolado internacionalmente. Apesar disso, Lula diz que tem uma relação de carinho com o iraniano. O brasileiro entrou nisso movido por seu instinto positivo de projetar o país no cenário internacional. Faltou alguém dizer a ele: "Presidente, atenção. Veja as circunstâncias: o que está acontecendo no Irã é muito sério". O que explica essa atitude? Há um palanquismo na política externa, algo que reflete muito a natureza pessoal de Lula. A preocupação maior do Itamaraty tem sido armar palanques para o presidente. Essa diplomacia cenográfica tinha até pouco tempo atrás um bom público lá fora. Até a eleição de Barack Obama, nos Estados Unidos, em 2008, Lula era o governante mais respeitado e estimado no exterior. Ele acumulou um bom capital político, principalmente pela conjuntura econômica favorável. Por mais atuante e charmoso que Lula seja, ele não teria a mesma audiência nem o mesmo prestígio se tivesse posto a economia brasileira no chão.
Como Lula usou esse prestígio?
Lula, por sua sofreguidão em ser popular com todo o mundo e por ignorar as circunstâncias das situações em que se meteu, pôs a perder uma parte considerável do capital político adquirido para si e para o Brasil. Quando Ahmadinejad veio a Brasília e disse apoiar a candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança, nós perdemos muito voto. Todos os que se preocupam com o Irã - e na lista estão a maior parte dos vizinhos árabes, os europeus, os americanos, os canadenses, os australianos e os japoneses - veem com desconfiança esse tipo de apoio. O ocaso da diplomacia brasileira, portamo, acarreta uma perda não apenas para a persona do Lula, mas também para a imagem do Brasil. Dói imensamente ver as credenciais do Brasil para ocupar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU serem seriamente prejudicadas por todos esses erros de política externa. Não se trata de uma perda irreversível, mas não podemos ignorá-la.
Como o senhor avalia as relações do governo brasileiro com o presidente venezuelano Hugo Chávez?
É uma aberração diplomática. O Brasil é condescendente com Chávez, com Evo MoraIes, da Bolívia, e com Rafael Correa, do Equador, apenas por representarem regimes identificados com o de esquerda. Isso é um erro, porque não existe política externa de esquerda. A diplomacia tem de refletir os interesses do estado. não de um partido. O governo brasileiro é ativamente solidário e conivente com Chávez, um líder que está em etapa internas da Venezuela. que enfrenta uma crise de desabastecimento e não pode se dar ao luxo de cortar os laços comerciais com a Colômbia.
Há semelhanças entre a política externa lulista e a do presidente Ernesto Geisel (1974·1979), que também deu ênfase à aproximação com países do chamado Terceiro Mundo?
A diplomacia do governo Lula assemelha-se mais à dos primeiros anos da ditadura militar, porque ambas se deixaram guiar por preconceitos ideológicos. Os erros do atual governo nascem de uma orientação supostamente esquerdizante e da simpatia por regimes populistas e antiamericanos. Já a diplomacia da primeira década da ditadura militar era excessivamente pautada pela ideologia anticomunista. A submissão a essa agenda incluiu episódios lamentáveis, como a participação de tropas brasileiras na invasão americana da República Dominicana. em 1965. e o apoio a Portugal, na ONU. contra os movimentos de libertação nacional na África. O governo Geisel corrigiu erros como esses ao reconhecer o governo pós-independência em Angola, iniciar relações com a China e fechar um acordo nuclear com a Alemanha.
Há aspectos positivos na política externa de Lula?
Tenho muito respeito pelo presidente Lula, com quem tive uma relação muito amena e respeitosa durante o período em que fui embaixador sob sua gestão. Não desmereço, portanto, suas realizações, entre as quais está a participação no G-20, grupo que reúne os 5 países mais ricos do mundo e as principais potências emergentres, em que o Brasil exerce um papel relevante na prevenção de novas crises financeiras. Outra medida valiosa, adotada logo no início do primeiro mandato, foi aliar-se a Alemanha, Japão e Índia no chamado G-4, para levar adiante o debate para a ampliação do Conselho de Segurança. Essa iniciativa perdeu força com a decisão brasileira de envolver-se na questão nuclear iraniana. O Brasil, que antes passava uma imagem de campeão da não proliferação nuclear, agora parece aceitá-la com rabugice.
A política externa recebe a devida atenção na campanha eleitoral?
Esse nunca é um tema de destaque no debate político, mas alguns de seus componentes foram levantados quando os candidatos da oposição ralaram de direitos humanos no Irã e da produção de coca na Bolívia. Nesse ponto específico. as críticas não deveriam ter sido direcionadas contra o governo boliviano. mas contra o brasileiro. Evo Morales é um cocaleiro e, como tal, obviamente quer que seu país produza mais coca. Já o governo Lula, com seu desejo de ser bonzinho com os outros países. nunca usou os canais políticos para cobrar da Bolívia uma atitude mais severa para barrar a saída de cocaína para o Brasil. Esse fato foi confirmado para mim por uma fonte boliviana muito bem informada.
Como é a relação de Lula com Obama?
Lula começou a bater em Obama antes de eleito e não cansa de dar canelada no americano. Creio que há, aí, um elemento de ciúme, porque Obama tirou de Lula a posição privilegiada no palanque global.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Carta Tributaria Brasileira: simplesmente escorchante
Sim, já falei muito disso, e vou continuar a falar. Inclusive porque o Ministério da Fazendo publica dados sobre o nível da carga fiscal, que ficou abaixo do índice da OCDE, sem explicar que ocorreu, três anos atrás uma revisão metodológica das contas nacionais, que redundou no rebaixamento de uma carga fiscal que, provavelmente, já estaria três ou quatro pontos acima do que se pretendo hoje.
Mas, deixo a palavra hoje com quem entende melhor do assunto do que eu.
Paulo Roberto de Almeida
A carga tributária brasileira e os impostos sobre os mais pobres
Por Leandro Roque
Extraído do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil
[pelo meu colega blogueiro Kleber Pires, em Libertatum]
A imprensa vem alardeando com pompa e circunstância o fato de que a carga tributária brasileira em 2009 — em porcentagem do PIB — foi menor que a média dos países da OCDE (33,6% contra 35%).
Não sei muito bem qual a grande vantagem de termos uma carga tributária 1,4 ponto percentual menor que a de Portugal, mas, se a imprensa está eufórica, então deve ser coisa boa. (...)
Mas a questão a ser abordada aqui não é essa. Houve um detalhe embutido nessa notícia que fez a imprensa verter lágrimas, compensando sua euforia com a notícia principal: o Brasil, em média, tributa bem menos a renda e a propriedade, e sobrecarrega de impostos os bens de consumo e os serviços.
Aparentemente, o pessoal quer assistencialismo e bem-estar social, mas não quer saber dureza para financiá-los. Querem ir a um restaurante fino, empanturrar-se de escalopes, belugas e vinhos franceses, mas não querem fazer cara de espanto quando chega a conta.
Em primeiro lugar, vale notar que, não fosse o Banco Central e sua capacidade de expandir continuamente a oferta monetária, a carga tributária necessária para financiar todos os serviços e funcionários estatais seria muito maior. Estamos trocando mais impostos por inflação monetária. A consequência desse arranjo é inevitável: preços constantemente em ascensão ao invés de preços em queda, o que realmente seria bom para os mais pobres. Mas como são muito poucas as pessoas que realmente entendem a perversidade desse mecanismo fraudulento, todo mundo acha normal.
Porém, e finalmente entrando na questão principal, uma coisa precisa ser dita, sem qualquer juízo de valor: se os gastos do governo não caírem, se é para ter impostos para financiar um estado deste tamanho, e se é para permitir que haja um mínimo de crescimento econômico, então o único arranjo correto é de fato tributar o consumo, e não a renda e a propriedade. Mais ainda (só para deixar evidente a perversidade da coisa): é preferível que a carga tributária seja pequena sobre os ricos e mais alta sobre os mais pobres. E tudo isso para o bem destes.
Explico.
Poupança, produção e consumo
Para uma economia enriquecer e melhorar o padrão de vida de todos, ela precisa produzir bens e serviços de qualidade. Quanto maior a abundância desses bens e serviços de qualidade, menor o preço deles. O nível de riqueza de um país é proporcional à quantidade e à variedade de bens disponíveis em sua economia.
Porém, para que eles sejam produzidos, é necessário haver capital. Capital, no caso, refere-se não a dinheiro, mas a ativos físicos das empresas e indústrias. Capital são as instalações, os maquinários, as ferramentas, os estoques e os equipamentos de escritório de uma fábrica ou de uma empresa qualquer. Ou seja, capital é tudo aquilo que auxilia um modo de produção
Quanto maior a quantidade desse capital, maior será a intensidade, a abundância e a qualidade dos produtos criados. Portanto, para uma economia crescer e melhorar o padrão de vida das pessoas, ela precisa ser intensiva em capital.
Qualquer outra maneira de melhorar o padrão de vida de um país que não seja por meio do aumento do capital acumulado será completamente insustentável. Essa, aliás, é a grande falácia do pensamento keynesiano, que diz que é o consumo que gera a riqueza. Porém, se não houver produção, como pode haver consumo? Como você pode consumir algo que não foi produzido? Antes do consumo, tem de vir a produção. E, para haver produção, é preciso acumular capital.
O problema é que o capital não surge do nada; ele não cai do céu. Para haver um acúmulo de capital que possibilite toda essa produção, é preciso antes haver poupança. E poupança nada mais é do que a abstenção do consumo. O sujeito que poupa é aquele que deixa de consumir. Ao se abster do consumo, esse indivíduo estará liberando bens de consumo para serem usados nos processos de produção que irão criar os bens de capital.
Funciona assim: se grande parte da população deixa de comprar computadores, laptops, carros, motos, celulares, iPhones, televisões, DVDs etc., isso fará com que haja uma maior abundância desses bens, reduzindo seus preços e liberando as indústrias da necessidade de produzir mais destes bens apenas para suprir a escassez deles. Tal atitude estará liberando os fatores de produção dessas indústrias, que agora poderão utilizá-los em outros processos de produção, resultando em uma abundância ainda maior de bens de consumo.
Mais ainda: os bens que já foram produzidos e não consumidos — isto é, os bens que foram poupados — poderão ser empregados em outros processos de produção cujos produtos finais, embora irão estar prontos somente daqui a algum tempo, trarão óbvias satisfações para os consumidores.
Como disse Mises,
Aqueles que poupam — isto é, que consomem menos que a sua parcela dos bens produzidos — inauguram o progresso em direção à prosperidade geral. As sementes que eles semearam enriquecem não apenas eles próprios, mas também todas as outras camadas da sociedade. Sua poupança beneficia os consumidores.
Portanto, a poupança dos indivíduos permite que haja uma maior quantidade de bens (recursos) a serem empregados na produção, ajudando na criação de bens de capital, os quais, por sua vez, irão produzir mais e ampliar a abundância de produtos na economia.
O capital advém da poupança. É a poupança que permite a formação de capital, o qual, por sua vez, irá produzir uma maior quantidade de bens de consumo.
Gastos do governo, tributação, pobres e ricos
O governo atrapalha esse processo de formação de capital de três maneiras: gastando, tributando e incorrendo em déficits orçamentários.
Quando o governo gasta — seja comprando recursos para fazer obras, seja comprando bens para políticos, seja dando salários para funcionários públicos, os quais irão consumi-los —, ele está impedindo diretamente a formação de capital. Afinal, os gastos do governo fazem com que haja uma menor quantidade de bens na economia, anulando a poupança dos indivíduos (eles se abstiveram do consumo mas não terão o benefício da abundância futura de produtos, pois o governo consumiu boa parte) e interrompendo o processo de formação de capital acima descrito.
Para financiar seus gastos, o governo utiliza em grande parte as receitas provenientes de impostos. Se a incidência de impostos for sobre a renda — e sobre a poupança advinda dessa renda —, então o governo estará impedindo que esses recursos sejam destinados a investimentos produtivos, levando aos mesmos efeitos acima.
Por fim, se o governo incorre em déficits orçamentários, ele terá de pegar empréstimos para cobrir esse rombo. Na maioria dos casos, ele venderá títulos em troca do dinheiro poupado por indivíduos e empresas, e utilizará esse dinheiro para cobrir seus gastos. Obviamente, essa apropriação de renda de indivíduos e empresas também surtirá os mesmos efeitos acima.
Portanto, se uma economia quiser aumentar a poupança e a formação de capital, o governo terá de ter um orçamento equilibrado, impostos baixos e gastos idem. E, principalmente, os impostos não devem recair sobre a produção e nem sobre a renda, pois isso seria um enorme obstáculo à poupança e à formação de capital.
Sendo assim, o artifício de reduzir impostos sem uma concomitante redução de gastos — uma medida que soa muito positiva para muitos liberais —, não ajuda no processo de formação de capital. Ao contrário, pode piorá-lo ainda mais, pois, os fundos que o governo agora deixou de confiscar via impostos, ele irá recolher via empréstimos. O governo está trocando um real de impostos por um real de endividamento. Cada real adquirido pelo governo desta forma significa um real a menos disponível para o resto do sistema econômico, e com um agravante: a pressão sobre os juros que tal medida pode criar. Afinal, como o governo está desviando poupança para si próprio, haverá menos fundos disponíveis para investimentos produtivos, aumentando o preço (juros) deles.
Portanto, cortes de impostos que causam um aumento no déficit do governo não promovem a poupança e nem a formação de capital. São, portanto, contrários a esse propósito. O mesmo é válido para os déficits que, ao invés de serem financiados por mais endividamento, sejam financiados pelo aumento da expansão monetária praticada pelo banco central. A inflação desestimula a poupança e estimula o consumo do capital numa velocidade ainda maior — afinal, poupar deixa de ser uma atividade benéfica, dado que seu dinheiro está perdendo poder de compra.
Da mesma forma, dado que a inflação provoca um aumento nominal da renda e dos lucros, isso faz com que as empresas tenham de pagar uma quantidade maior de impostos sobre a renda e sobre o lucro — a tabela do imposto de renda não é corrigida anualmente pela inflação —, reduzindo ainda mais sua capacidade de investimento.
Os críticos da alta carga tributária que recai sobre os bens de consumo — prejudicando, portanto, os mais pobres — querem que haja mais impostos sobre a renda e sobre a propriedade dos mais ricos, exatamente a medida mais destrutiva para a formação de capital, algo que seria ainda mais prejudicial para os mais pobres no longo prazo. É dos ricos e das grandes empresas que vem a poupança necessária para os investimentos produtivos.
Ironicamente — e essa é a parte chocante —, a única maneira de haver um estado assistencialista, provedor e gastador, sustentado por uma alta carga tributária, e que, ao mesmo tempo, permita uma relativa formação de capital, é fazendo com que a carga tributária se concentre majoritariamente sobre os mais pobres (tanto sobre sua renda quanto sobre os bens de consumo). Isso simplesmente porque os pobres poupam relativamente menos de sua renda do que os ricos, de modo que eles pouco contribuem para o processo de formação de capital.
Assim, a única forma de haver uma maior poupança e uma maior formação de capital em uma economia como a brasileira, cujo governo só faz aumentar seus gastos, é mantendo um orçamento equilibrado por meio de impostos que recaem maciçamente sobre os mais pobres. Mais ainda: para aumentar a poupança, e com isso acelerar o processo de formação de capital, os impostos sobre os ricos teriam de ser reduzidos, o que significa que os impostos sobre os pobres teriam de ser aumentados ainda mais — dado que o governo se recusa a cortar gastos.
Portanto, se uma pessoa se recusa a aceitar que o governo tem de reduzir gastos, e ao mesmo tempo ela quer que haja crescimento econômico, então ela está logicamente obrigada a defender aumentos de impostos sobre a renda dos mais pobres e sobre os bens de consumo, de modo a compensar a necessária redução de impostos sobre a renda dos mais ricos.
Como bem explicou George Reisman,
Ironicamente, um aspecto dessa abordagem existe — dentre todos os lugares — justamente na Suécia! O que permite que a Suécia tenha uma das mais altas cargas tributárias do mundo e, ao mesmo tempo, se mantenha como um país moderno, com avanços moderados, é o fato de que a carga tributária na Suécia recai mais pesadamente no assalariado sueco médio, e não nas empresas suecas, cuja carga tributária é na realidade menor do que a das empresas de muitos outros países ocidentais. (Por exemplo, quando consideramos o fato de que as empresas suecas podem deduzir 50 por cento de seus lucros para reinvesti-los no futuro, o que os torna uma reserva isenta de impostos, o imposto de renda de pessoa jurídica efetivo se torna menor na Suécia do que nos EUA: 26 por cento versus 35 por cento). Se as empresas suecas tivessem de arcar com a mesma carga tributária que incide nos assalariados suecos, a economia sueca há muito já estaria em ruínas.
Conclusão
Um estado inchado como o brasileiro não oferece almoço grátis. Ao contrário: ele cobra muito caro até pelo couvert.
Se os brasileiros querem manter um estado com esse mesmo nível de gastos, então não apenas a carga tributária não pode ser reduzida, como, pior ainda, ela tem de ser aumentada sobre os mais pobres e concomitantemente reduzida sobre os mais ricos, de modo que a arrecadação final se mantenha. Esse seria o único arranjo compatível com um crescimento econômico sustentável — embora muito abaixo do crescimento possível caso houvesse uma redução dos gastos do governo.
Portanto, um estado desse tamanho pode até permitir que haja crescimento econômico. Mas não será nada bondoso com os mais pobres, que só começarão a se beneficiar do capital acumulado em um futuro longínquo — e isso levando-se em conta um nível constante de gastos do governo. Quanto mais estes forem elevados, pior para eles.
Finalmente, uma vez compreendida a real natureza da poupança, torna-se compreensível por que a mera expansão monetária — isto é, criação de dinheiro pelo banco central — não pode gerar investimentos. Como Mises nunca se cansou de explicar, bens de capital não podem ser criados por meio de uma expansão monetária. Inundar uma economia de dinheiro não vai fazer com que os bens de capital necessários para os processos de produção surjam do nada. O que importa não é a quantidade de dinheiro em circulação, mas sim a quantidade de capital acumulado pela economia. E esse capital só pode crescer se houver poupança — isto é, abstenção do consumo.
Resta saber o que os intelectuais acham disso. Por que não defender a redução de gastos do governo? Não é nada impossível.
Mas, deixo a palavra hoje com quem entende melhor do assunto do que eu.
Paulo Roberto de Almeida
A carga tributária brasileira e os impostos sobre os mais pobres
Por Leandro Roque
Extraído do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil
[pelo meu colega blogueiro Kleber Pires, em Libertatum]
A imprensa vem alardeando com pompa e circunstância o fato de que a carga tributária brasileira em 2009 — em porcentagem do PIB — foi menor que a média dos países da OCDE (33,6% contra 35%).
Não sei muito bem qual a grande vantagem de termos uma carga tributária 1,4 ponto percentual menor que a de Portugal, mas, se a imprensa está eufórica, então deve ser coisa boa. (...)
Mas a questão a ser abordada aqui não é essa. Houve um detalhe embutido nessa notícia que fez a imprensa verter lágrimas, compensando sua euforia com a notícia principal: o Brasil, em média, tributa bem menos a renda e a propriedade, e sobrecarrega de impostos os bens de consumo e os serviços.
Aparentemente, o pessoal quer assistencialismo e bem-estar social, mas não quer saber dureza para financiá-los. Querem ir a um restaurante fino, empanturrar-se de escalopes, belugas e vinhos franceses, mas não querem fazer cara de espanto quando chega a conta.
Em primeiro lugar, vale notar que, não fosse o Banco Central e sua capacidade de expandir continuamente a oferta monetária, a carga tributária necessária para financiar todos os serviços e funcionários estatais seria muito maior. Estamos trocando mais impostos por inflação monetária. A consequência desse arranjo é inevitável: preços constantemente em ascensão ao invés de preços em queda, o que realmente seria bom para os mais pobres. Mas como são muito poucas as pessoas que realmente entendem a perversidade desse mecanismo fraudulento, todo mundo acha normal.
Porém, e finalmente entrando na questão principal, uma coisa precisa ser dita, sem qualquer juízo de valor: se os gastos do governo não caírem, se é para ter impostos para financiar um estado deste tamanho, e se é para permitir que haja um mínimo de crescimento econômico, então o único arranjo correto é de fato tributar o consumo, e não a renda e a propriedade. Mais ainda (só para deixar evidente a perversidade da coisa): é preferível que a carga tributária seja pequena sobre os ricos e mais alta sobre os mais pobres. E tudo isso para o bem destes.
Explico.
Poupança, produção e consumo
Para uma economia enriquecer e melhorar o padrão de vida de todos, ela precisa produzir bens e serviços de qualidade. Quanto maior a abundância desses bens e serviços de qualidade, menor o preço deles. O nível de riqueza de um país é proporcional à quantidade e à variedade de bens disponíveis em sua economia.
Porém, para que eles sejam produzidos, é necessário haver capital. Capital, no caso, refere-se não a dinheiro, mas a ativos físicos das empresas e indústrias. Capital são as instalações, os maquinários, as ferramentas, os estoques e os equipamentos de escritório de uma fábrica ou de uma empresa qualquer. Ou seja, capital é tudo aquilo que auxilia um modo de produção
Quanto maior a quantidade desse capital, maior será a intensidade, a abundância e a qualidade dos produtos criados. Portanto, para uma economia crescer e melhorar o padrão de vida das pessoas, ela precisa ser intensiva em capital.
Qualquer outra maneira de melhorar o padrão de vida de um país que não seja por meio do aumento do capital acumulado será completamente insustentável. Essa, aliás, é a grande falácia do pensamento keynesiano, que diz que é o consumo que gera a riqueza. Porém, se não houver produção, como pode haver consumo? Como você pode consumir algo que não foi produzido? Antes do consumo, tem de vir a produção. E, para haver produção, é preciso acumular capital.
O problema é que o capital não surge do nada; ele não cai do céu. Para haver um acúmulo de capital que possibilite toda essa produção, é preciso antes haver poupança. E poupança nada mais é do que a abstenção do consumo. O sujeito que poupa é aquele que deixa de consumir. Ao se abster do consumo, esse indivíduo estará liberando bens de consumo para serem usados nos processos de produção que irão criar os bens de capital.
Funciona assim: se grande parte da população deixa de comprar computadores, laptops, carros, motos, celulares, iPhones, televisões, DVDs etc., isso fará com que haja uma maior abundância desses bens, reduzindo seus preços e liberando as indústrias da necessidade de produzir mais destes bens apenas para suprir a escassez deles. Tal atitude estará liberando os fatores de produção dessas indústrias, que agora poderão utilizá-los em outros processos de produção, resultando em uma abundância ainda maior de bens de consumo.
Mais ainda: os bens que já foram produzidos e não consumidos — isto é, os bens que foram poupados — poderão ser empregados em outros processos de produção cujos produtos finais, embora irão estar prontos somente daqui a algum tempo, trarão óbvias satisfações para os consumidores.
Como disse Mises,
Aqueles que poupam — isto é, que consomem menos que a sua parcela dos bens produzidos — inauguram o progresso em direção à prosperidade geral. As sementes que eles semearam enriquecem não apenas eles próprios, mas também todas as outras camadas da sociedade. Sua poupança beneficia os consumidores.
Portanto, a poupança dos indivíduos permite que haja uma maior quantidade de bens (recursos) a serem empregados na produção, ajudando na criação de bens de capital, os quais, por sua vez, irão produzir mais e ampliar a abundância de produtos na economia.
O capital advém da poupança. É a poupança que permite a formação de capital, o qual, por sua vez, irá produzir uma maior quantidade de bens de consumo.
Gastos do governo, tributação, pobres e ricos
O governo atrapalha esse processo de formação de capital de três maneiras: gastando, tributando e incorrendo em déficits orçamentários.
Quando o governo gasta — seja comprando recursos para fazer obras, seja comprando bens para políticos, seja dando salários para funcionários públicos, os quais irão consumi-los —, ele está impedindo diretamente a formação de capital. Afinal, os gastos do governo fazem com que haja uma menor quantidade de bens na economia, anulando a poupança dos indivíduos (eles se abstiveram do consumo mas não terão o benefício da abundância futura de produtos, pois o governo consumiu boa parte) e interrompendo o processo de formação de capital acima descrito.
Para financiar seus gastos, o governo utiliza em grande parte as receitas provenientes de impostos. Se a incidência de impostos for sobre a renda — e sobre a poupança advinda dessa renda —, então o governo estará impedindo que esses recursos sejam destinados a investimentos produtivos, levando aos mesmos efeitos acima.
Por fim, se o governo incorre em déficits orçamentários, ele terá de pegar empréstimos para cobrir esse rombo. Na maioria dos casos, ele venderá títulos em troca do dinheiro poupado por indivíduos e empresas, e utilizará esse dinheiro para cobrir seus gastos. Obviamente, essa apropriação de renda de indivíduos e empresas também surtirá os mesmos efeitos acima.
Portanto, se uma economia quiser aumentar a poupança e a formação de capital, o governo terá de ter um orçamento equilibrado, impostos baixos e gastos idem. E, principalmente, os impostos não devem recair sobre a produção e nem sobre a renda, pois isso seria um enorme obstáculo à poupança e à formação de capital.
Sendo assim, o artifício de reduzir impostos sem uma concomitante redução de gastos — uma medida que soa muito positiva para muitos liberais —, não ajuda no processo de formação de capital. Ao contrário, pode piorá-lo ainda mais, pois, os fundos que o governo agora deixou de confiscar via impostos, ele irá recolher via empréstimos. O governo está trocando um real de impostos por um real de endividamento. Cada real adquirido pelo governo desta forma significa um real a menos disponível para o resto do sistema econômico, e com um agravante: a pressão sobre os juros que tal medida pode criar. Afinal, como o governo está desviando poupança para si próprio, haverá menos fundos disponíveis para investimentos produtivos, aumentando o preço (juros) deles.
Portanto, cortes de impostos que causam um aumento no déficit do governo não promovem a poupança e nem a formação de capital. São, portanto, contrários a esse propósito. O mesmo é válido para os déficits que, ao invés de serem financiados por mais endividamento, sejam financiados pelo aumento da expansão monetária praticada pelo banco central. A inflação desestimula a poupança e estimula o consumo do capital numa velocidade ainda maior — afinal, poupar deixa de ser uma atividade benéfica, dado que seu dinheiro está perdendo poder de compra.
Da mesma forma, dado que a inflação provoca um aumento nominal da renda e dos lucros, isso faz com que as empresas tenham de pagar uma quantidade maior de impostos sobre a renda e sobre o lucro — a tabela do imposto de renda não é corrigida anualmente pela inflação —, reduzindo ainda mais sua capacidade de investimento.
Os críticos da alta carga tributária que recai sobre os bens de consumo — prejudicando, portanto, os mais pobres — querem que haja mais impostos sobre a renda e sobre a propriedade dos mais ricos, exatamente a medida mais destrutiva para a formação de capital, algo que seria ainda mais prejudicial para os mais pobres no longo prazo. É dos ricos e das grandes empresas que vem a poupança necessária para os investimentos produtivos.
Ironicamente — e essa é a parte chocante —, a única maneira de haver um estado assistencialista, provedor e gastador, sustentado por uma alta carga tributária, e que, ao mesmo tempo, permita uma relativa formação de capital, é fazendo com que a carga tributária se concentre majoritariamente sobre os mais pobres (tanto sobre sua renda quanto sobre os bens de consumo). Isso simplesmente porque os pobres poupam relativamente menos de sua renda do que os ricos, de modo que eles pouco contribuem para o processo de formação de capital.
Assim, a única forma de haver uma maior poupança e uma maior formação de capital em uma economia como a brasileira, cujo governo só faz aumentar seus gastos, é mantendo um orçamento equilibrado por meio de impostos que recaem maciçamente sobre os mais pobres. Mais ainda: para aumentar a poupança, e com isso acelerar o processo de formação de capital, os impostos sobre os ricos teriam de ser reduzidos, o que significa que os impostos sobre os pobres teriam de ser aumentados ainda mais — dado que o governo se recusa a cortar gastos.
Portanto, se uma pessoa se recusa a aceitar que o governo tem de reduzir gastos, e ao mesmo tempo ela quer que haja crescimento econômico, então ela está logicamente obrigada a defender aumentos de impostos sobre a renda dos mais pobres e sobre os bens de consumo, de modo a compensar a necessária redução de impostos sobre a renda dos mais ricos.
Como bem explicou George Reisman,
Ironicamente, um aspecto dessa abordagem existe — dentre todos os lugares — justamente na Suécia! O que permite que a Suécia tenha uma das mais altas cargas tributárias do mundo e, ao mesmo tempo, se mantenha como um país moderno, com avanços moderados, é o fato de que a carga tributária na Suécia recai mais pesadamente no assalariado sueco médio, e não nas empresas suecas, cuja carga tributária é na realidade menor do que a das empresas de muitos outros países ocidentais. (Por exemplo, quando consideramos o fato de que as empresas suecas podem deduzir 50 por cento de seus lucros para reinvesti-los no futuro, o que os torna uma reserva isenta de impostos, o imposto de renda de pessoa jurídica efetivo se torna menor na Suécia do que nos EUA: 26 por cento versus 35 por cento). Se as empresas suecas tivessem de arcar com a mesma carga tributária que incide nos assalariados suecos, a economia sueca há muito já estaria em ruínas.
Conclusão
Um estado inchado como o brasileiro não oferece almoço grátis. Ao contrário: ele cobra muito caro até pelo couvert.
Se os brasileiros querem manter um estado com esse mesmo nível de gastos, então não apenas a carga tributária não pode ser reduzida, como, pior ainda, ela tem de ser aumentada sobre os mais pobres e concomitantemente reduzida sobre os mais ricos, de modo que a arrecadação final se mantenha. Esse seria o único arranjo compatível com um crescimento econômico sustentável — embora muito abaixo do crescimento possível caso houvesse uma redução dos gastos do governo.
Portanto, um estado desse tamanho pode até permitir que haja crescimento econômico. Mas não será nada bondoso com os mais pobres, que só começarão a se beneficiar do capital acumulado em um futuro longínquo — e isso levando-se em conta um nível constante de gastos do governo. Quanto mais estes forem elevados, pior para eles.
Finalmente, uma vez compreendida a real natureza da poupança, torna-se compreensível por que a mera expansão monetária — isto é, criação de dinheiro pelo banco central — não pode gerar investimentos. Como Mises nunca se cansou de explicar, bens de capital não podem ser criados por meio de uma expansão monetária. Inundar uma economia de dinheiro não vai fazer com que os bens de capital necessários para os processos de produção surjam do nada. O que importa não é a quantidade de dinheiro em circulação, mas sim a quantidade de capital acumulado pela economia. E esse capital só pode crescer se houver poupança — isto é, abstenção do consumo.
Resta saber o que os intelectuais acham disso. Por que não defender a redução de gastos do governo? Não é nada impossível.
Estabilidade dos mestres: uma praga, ao que parece...
...mas não só aqui.
De fato, não estou falando da terrível -- sou contra -- estabilidade dos professores universitários. Aliás, sou contra estabilidade para qualquer funcionário público, mesmo para membros do Judiciário, sendo apenas favorável à estabilidade de juizes no exercício de suas funções por um período limitado de tempo, sujeito a confirmação por um conselho da magistratura, encarregado de verificar a produtividade do dito cujo, mais cujo do que dito...
Enfim, mas eu queria falar do engodo que é a estabilidade do professor, um convite à preguiça, se ouso dizer.
Mas, não se preocupem, não vou falar. Deixo vocês com uma leitura mais amena.
Paulo Roberto de Almeida
Essay
The End of Tenure?
By CHRISTOPHER SHEA
The New York Times, Sunday Book Review, September 5, 2010
Education Life: Essay Adapted From ‘Higher Education?’ (July 25, 2010)
Books of The Times: ‘Higher Education?’ by Andrew Hacker and Claudia Dreifus (August 19, 2010)
In tough economic times, it’s easy to gin up anger against elites. The bashing of bankers is already so robust that the economist William Easterly has compared it, with perhaps a touch of hyperbole, to genocidal racism. But in recent months, a more unlikely privileged group has found itself in the cross hairs: tenured professors.
At a time when nearly one in 10 American workers is unemployed, here’s a crew (the complaint goes) who are guaranteed jobs for life, teach only a few hours a week, routinely get entire years off, dump grading duties onto graduate students and produce “research” on subjects like “Rednecks, Queers and Country Music” or “The Whatness of Books.” Or maybe they stop doing research altogether (who’s going to stop them?), dropping their workweek to a manageable dozen hours or so, all while making $100,000 or more a year. Ready to grab that pitchfork yet?
That sketch — relayed on numerous blogs and op-ed pages — is exaggerated, but no one who has observed the academic world could call it entirely false. And it’s a vision that has caught on with an American public worried about how to foot the bill for it all. The cost of a college education has risen, in real dollars, by 250 to 300 percent over the past three decades, far above the rate of inflation. Elite private colleges can cost more than $200,000 over four years. Total student-loan debt, at nearly $830 billion, recently surpassed total national credit card debt. Meanwhile, university presidents, who can make upward of $1 million annually, gravely intone that the $50,000 price tag doesn’t even cover the full cost of a year’s education. (Consider the balance a gift!) Then your daughter reports that her history prof is a part-time adjunct, who might be making $1,500 for a semester’s work. There’s something wrong with this picture.
The debate over American higher education has been reignited recently, thanks to two feisty new books. Higher Education? How Colleges Are Wasting Our Money and Failing Our Kids — And What We Can Do About It (Times Books, $26), by Andrew Hacker, a professor emeritus of political science at Queens College, and Claudia C. Dreifus, a journalist (and contributor to the science section of The New York Times), is if anything even harsher and broader than the cartoonish sketch above. It is full of sarcastic asides like “Say goodbye to Mr. Chips with his tattered tweed jacket; today’s senior professors can afford Marc Jacobs.” But its arguments have been praised in The Wall Street Journal and given a respectful airing on The Atlantic’s Web site. They are also echoed in Mark C. Taylor’s Crisis on Campus: A Bold Plan for Reforming Our Colleges and Universities (Knopf, $24), which is more measured in tone but no less devastating in its assessment of our unsustainable “education bubble.”
The higher-ed jeremiads of the last generation came mainly from the right. But this time, it’s the tenured radicals — or at least the tenured liberals — who are leading the charge. Hacker is a longtime contributor to The New York Review of Books and the author of the acclaimed study “Two Nations: Black and White, Separate, Hostile, Unequal,” while Taylor, a religion scholar who recently moved to Columbia from Williams College, has taught courses that Allan Bloom would have gagged on (“Imagologies: Media Philosophy”). And these two books arrive at a time, unlike the early 1990s, when universities are, like many students, backed into a fiscal corner. Taylor writes of walking into a meeting one day and learning that Columbia’s endowment had dropped by “at least” 30 percent. Simply brushing off calls for reform, however strident and scattershot, may no longer be an option.
The labor system, for one thing, is clearly unjust. Tenured and tenure-track professors earn most of the money and benefits, but they’re a minority at the top of a pyramid. Nearly two-thirds of all college teachers are non-tenure-track adjuncts like Matt Williams, who told Hacker and Dreifus he had taught a dozen courses at two colleges in the Akron area the previous year, earning the equivalent of about $8.50 an hour by his reckoning. It is foolish that graduate programs are pumping new Ph.D.’s into a world without decent jobs for them. If some programs were phased out, teaching loads might be raised for some on the tenure track, to the benefit of undergraduate education.
And if colleges are ever going to bend the cost curve, to borrow jargon from the health care debate, it might well be time to think about vetoing Olympic-quality athletic facilities and trimming the ranks of administrators. At Williams, a small liberal arts college renowned for teaching, 70 percent of employees do something other than teach.
But Hacker and Dreifus go much further, all but calling for an end to the role of universities in the production of knowledge. Spin off the med schools and research institutes, they say. University presidents “should be musing about education, not angling for another center on antiterrorist technologies.” As for the humanities, let professors do research after-hours, on top of much heavier teaching schedules. “In other occupations, when people feel there is something they want to write, they do it on their own time and at their own expense,” the authors declare. But it seems doubtful that, say, “Battle Cry of Freedom,” the acclaimed Civil War history by Princeton’s James McPherson, could have been written on the weekends, or without the advance spadework of countless obscure monographs. If it is false that research invariably leads to better teaching, it is equally false to say that it never does.
Hacker and Dreifus’s ideal bears more than a faint resemblance to Hacker’s home institution, the public Queens College, which has a spartan budget, commuter students and a three-or-four-course teaching load per semester. Taylor, by contrast, has spent his career on the elite end of higher education, but he is no less disillusioned. He shares Hacker and Dreifus’s concerns about overspecialized research and the unintended effects of tenure, which he believes blocks the way to fresh ideas. Taylor has backed away from some of the most incendiary proposals he made last year in a New York Times Op-Ed article, cheekily headlined “End the University as We Know It” — an article, he reports, that drew near-universal condemnation from academics and near-universal praise from everyone else. Back then, he called for the flat-out abolition of traditional departments, to be replaced by temporary, “problem-centered” programs focusing on issues like Mind, Space, Time, Life and Water. Now, he more realistically suggests the creation of cross-disciplinary “Emerging Zones.” He thinks professors need to get over their fear of corporate partnerships and embrace efficiency-enhancing technologies.
Taylor’s eyes also seem to have been opened to the world beyond Williams and Columbia. After his Op-Ed article appeared, a colleague from a cash-short California State University campus wrote to say that the “mind-pulping” teaching load left no room for research of any kind, even if it fell short of the five-courses-a-semester load at some community colleges. “This is an extremely unfortunate situation,” Taylor writes, “because the escalating cost of higher education is driving more students to these institutions.”
Here we have the frightening subtext of all the recent hand-wringing about higher education: the widening inequality among institutions of various types and the prospects of the students who attend them. While the financial crisis has demoted Ivy League institutions from super-rich to merely rich, public universities are being gutted. It is not news that America is a land of haves and have-nots. It is news that colleges are themselves dividing into haves and have-nots; they are becoming engines of inequality. And that — not whether some professors can afford to wear Marc Jacobs — is the real scandal.
Christopher Shea writes the Brainiac blog for the Ideas section of The Boston Globe.
De fato, não estou falando da terrível -- sou contra -- estabilidade dos professores universitários. Aliás, sou contra estabilidade para qualquer funcionário público, mesmo para membros do Judiciário, sendo apenas favorável à estabilidade de juizes no exercício de suas funções por um período limitado de tempo, sujeito a confirmação por um conselho da magistratura, encarregado de verificar a produtividade do dito cujo, mais cujo do que dito...
Enfim, mas eu queria falar do engodo que é a estabilidade do professor, um convite à preguiça, se ouso dizer.
Mas, não se preocupem, não vou falar. Deixo vocês com uma leitura mais amena.
Paulo Roberto de Almeida
Essay
The End of Tenure?
By CHRISTOPHER SHEA
The New York Times, Sunday Book Review, September 5, 2010
Education Life: Essay Adapted From ‘Higher Education?’ (July 25, 2010)
Books of The Times: ‘Higher Education?’ by Andrew Hacker and Claudia Dreifus (August 19, 2010)
In tough economic times, it’s easy to gin up anger against elites. The bashing of bankers is already so robust that the economist William Easterly has compared it, with perhaps a touch of hyperbole, to genocidal racism. But in recent months, a more unlikely privileged group has found itself in the cross hairs: tenured professors.
At a time when nearly one in 10 American workers is unemployed, here’s a crew (the complaint goes) who are guaranteed jobs for life, teach only a few hours a week, routinely get entire years off, dump grading duties onto graduate students and produce “research” on subjects like “Rednecks, Queers and Country Music” or “The Whatness of Books.” Or maybe they stop doing research altogether (who’s going to stop them?), dropping their workweek to a manageable dozen hours or so, all while making $100,000 or more a year. Ready to grab that pitchfork yet?
That sketch — relayed on numerous blogs and op-ed pages — is exaggerated, but no one who has observed the academic world could call it entirely false. And it’s a vision that has caught on with an American public worried about how to foot the bill for it all. The cost of a college education has risen, in real dollars, by 250 to 300 percent over the past three decades, far above the rate of inflation. Elite private colleges can cost more than $200,000 over four years. Total student-loan debt, at nearly $830 billion, recently surpassed total national credit card debt. Meanwhile, university presidents, who can make upward of $1 million annually, gravely intone that the $50,000 price tag doesn’t even cover the full cost of a year’s education. (Consider the balance a gift!) Then your daughter reports that her history prof is a part-time adjunct, who might be making $1,500 for a semester’s work. There’s something wrong with this picture.
The debate over American higher education has been reignited recently, thanks to two feisty new books. Higher Education? How Colleges Are Wasting Our Money and Failing Our Kids — And What We Can Do About It (Times Books, $26), by Andrew Hacker, a professor emeritus of political science at Queens College, and Claudia C. Dreifus, a journalist (and contributor to the science section of The New York Times), is if anything even harsher and broader than the cartoonish sketch above. It is full of sarcastic asides like “Say goodbye to Mr. Chips with his tattered tweed jacket; today’s senior professors can afford Marc Jacobs.” But its arguments have been praised in The Wall Street Journal and given a respectful airing on The Atlantic’s Web site. They are also echoed in Mark C. Taylor’s Crisis on Campus: A Bold Plan for Reforming Our Colleges and Universities (Knopf, $24), which is more measured in tone but no less devastating in its assessment of our unsustainable “education bubble.”
The higher-ed jeremiads of the last generation came mainly from the right. But this time, it’s the tenured radicals — or at least the tenured liberals — who are leading the charge. Hacker is a longtime contributor to The New York Review of Books and the author of the acclaimed study “Two Nations: Black and White, Separate, Hostile, Unequal,” while Taylor, a religion scholar who recently moved to Columbia from Williams College, has taught courses that Allan Bloom would have gagged on (“Imagologies: Media Philosophy”). And these two books arrive at a time, unlike the early 1990s, when universities are, like many students, backed into a fiscal corner. Taylor writes of walking into a meeting one day and learning that Columbia’s endowment had dropped by “at least” 30 percent. Simply brushing off calls for reform, however strident and scattershot, may no longer be an option.
The labor system, for one thing, is clearly unjust. Tenured and tenure-track professors earn most of the money and benefits, but they’re a minority at the top of a pyramid. Nearly two-thirds of all college teachers are non-tenure-track adjuncts like Matt Williams, who told Hacker and Dreifus he had taught a dozen courses at two colleges in the Akron area the previous year, earning the equivalent of about $8.50 an hour by his reckoning. It is foolish that graduate programs are pumping new Ph.D.’s into a world without decent jobs for them. If some programs were phased out, teaching loads might be raised for some on the tenure track, to the benefit of undergraduate education.
And if colleges are ever going to bend the cost curve, to borrow jargon from the health care debate, it might well be time to think about vetoing Olympic-quality athletic facilities and trimming the ranks of administrators. At Williams, a small liberal arts college renowned for teaching, 70 percent of employees do something other than teach.
But Hacker and Dreifus go much further, all but calling for an end to the role of universities in the production of knowledge. Spin off the med schools and research institutes, they say. University presidents “should be musing about education, not angling for another center on antiterrorist technologies.” As for the humanities, let professors do research after-hours, on top of much heavier teaching schedules. “In other occupations, when people feel there is something they want to write, they do it on their own time and at their own expense,” the authors declare. But it seems doubtful that, say, “Battle Cry of Freedom,” the acclaimed Civil War history by Princeton’s James McPherson, could have been written on the weekends, or without the advance spadework of countless obscure monographs. If it is false that research invariably leads to better teaching, it is equally false to say that it never does.
Hacker and Dreifus’s ideal bears more than a faint resemblance to Hacker’s home institution, the public Queens College, which has a spartan budget, commuter students and a three-or-four-course teaching load per semester. Taylor, by contrast, has spent his career on the elite end of higher education, but he is no less disillusioned. He shares Hacker and Dreifus’s concerns about overspecialized research and the unintended effects of tenure, which he believes blocks the way to fresh ideas. Taylor has backed away from some of the most incendiary proposals he made last year in a New York Times Op-Ed article, cheekily headlined “End the University as We Know It” — an article, he reports, that drew near-universal condemnation from academics and near-universal praise from everyone else. Back then, he called for the flat-out abolition of traditional departments, to be replaced by temporary, “problem-centered” programs focusing on issues like Mind, Space, Time, Life and Water. Now, he more realistically suggests the creation of cross-disciplinary “Emerging Zones.” He thinks professors need to get over their fear of corporate partnerships and embrace efficiency-enhancing technologies.
Taylor’s eyes also seem to have been opened to the world beyond Williams and Columbia. After his Op-Ed article appeared, a colleague from a cash-short California State University campus wrote to say that the “mind-pulping” teaching load left no room for research of any kind, even if it fell short of the five-courses-a-semester load at some community colleges. “This is an extremely unfortunate situation,” Taylor writes, “because the escalating cost of higher education is driving more students to these institutions.”
Here we have the frightening subtext of all the recent hand-wringing about higher education: the widening inequality among institutions of various types and the prospects of the students who attend them. While the financial crisis has demoted Ivy League institutions from super-rich to merely rich, public universities are being gutted. It is not news that America is a land of haves and have-nots. It is news that colleges are themselves dividing into haves and have-nots; they are becoming engines of inequality. And that — not whether some professors can afford to wear Marc Jacobs — is the real scandal.
Christopher Shea writes the Brainiac blog for the Ideas section of The Boston Globe.
Embaixador Roberto Abdenur e a diplomacia brasileira
Tendo já postado uma entrevista recente nas Páginas Amarelas, creio ser útil repostar (ugh, que palavra horrível!) a entrevista anterior do mesmo diplomata nas mesmas páginas, que continuam amarelas. Não sei se a política externa melhorou, desde então, e se foi para melhor...
Para a mais recente, veja no índice, ou faça um search aqui ao lado...
Paulo Roberto de Almeida
Entrevista: Roberto Abdenur
Nem na ditadura
Páginas Amarelas, Revista Veja, edição n. 1994 de 7 de fevereiro de 2007
O diplomata diz que a política externa do governo Lula é contaminada pelo antiamericanismo e pela orientação ideológica
"Há um sentimento generalizado de que hoje os diplomatas são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência"
Roberto Abdenur, 64 anos, era um dos mais experientes diplomatas do quadro do Itamaraty até a semana passada, quando se aposentou depois de 44 anos de carreira. Seu último posto foi o de embaixador brasileiro nos Estados Unidos. Amigo do chanceler Celso Amorim há décadas, nos últimos meses desencantou-se com ele e com sua política. As divergências começaram depois que Abdenur disse publicamente que era uma ilusão o fato de o Brasil considerar a China como parceiro comercial, isso depois da decisão do governo brasileiro de reconhecer aquele país como uma economia de mercado. Amorim exigiu uma retratação de Abdenur. Ela nunca veio. Em entrevista a VEJA, o ex-embaixador preferiu não falar sobre o embate entre ele e o chanceler, mas não economiza palavras para criticar a política externa e a doutrinação ideológica em curso no Itamaraty. As decisões hoje, segundo ele, são pautadas pela miopia de um grupo de esquerdistas. As promoções internas têm como critério a afinidade de pensamento, e não a competência. Os acordos de cooperação privilegiam países menos desenvolvidos. Diz ele: "Um processo de doutrinação assim no Itamaraty não aconteceu nem na ditadura".
Veja – O senhor está se aposentando depois de 44 anos de trabalho no Itamaraty e parece muito incomodado com a situação da diplomacia brasileira.
Abdenur – Existe um elemento ideológico muito forte presente na política externa brasileira. A idéia do Sul–Sul como eixo preponderante revela um antiamericanismo atrasado. Isso tem se manifestado dentro do Itamaraty de diversas maneiras. Está havendo uma doutrinação. Diplomatas de categoria, não apenas jovens, são forçados a fazer certas leituras quando entram ou saem de Brasília. Livros que têm viés dessa postura ideológica. É uma coisa vexatória. O Itamaraty não é lugar para bedel.
Veja – De que outras maneiras a doutrinação ideológica se manifesta no Itamaraty?
Abdenur – Há um sentimento generalizado de que os diplomatas hoje são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência. Eu vi funcionários de competência indiscutível ser passados para trás porque não são alinhados. Há intolerância à pluralidade de opinião. O Itamaraty sempre teve um prestígio singular na diplomacia internacional pela continuidade da política externa, pelo equilíbrio, pela excelência de seus quadros e pelo apartidarismo. O Itamaraty precisa resgatar o profissionalismo a salvo de posturas ideológicas, de atitudes intolerantes e de identificação partidária com a força política dominante no momento.
Veja – Essa situação que o senhor descreve já aconteceu antes?
Abdenur – Nunca, nem na ditadura militar. De 1964 até o início do governo Ernesto Geisel, na primeira década do regime militar, adotou-se uma política externa simplória, baseada na ideologia anticomunista. Isso foi imposto à força pelos militares. Mas nunca houve tentativa de convencer os diplomatas dessa ideologia. O rumo foi imposto e se exigia o seu cumprimento, mas não se cobrava dos profissionais nenhuma afinidade com a ideologia que definia aquele rumo. Do governo Geisel até o fim do governo FHC, a pressão ideológica desapareceu. Agora, infelizmente, as decisões são permeadas por elementos ideológicos.
Veja – A difusão dessa política externa ideologizada é responsabilidade do ministro Celso Amorim ou do secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães?
Abdenur – Samuel, Celso e eu fomos grandes amigos, e eu tenho recordações muito gratas do tempo em que fomos amigos.
Veja – O senhor disse que foi amigo de Celso Amorim e de Samuel Guimarães. Com o verbo no passado.
Abdenur – Fica no passado. Fomos grandes amigos.
Veja – O senhor ficou magoado com a maneira como saiu da embaixada de Washington?
Abdenur – Acho que já falei demais.
Veja – Substantivamente, houve pontos positivos na política externa brasileira no primeiro mandato do presidente Lula?
Abdenur – Sim, sem dúvida. O Brasil engatou uma parceria com Índia, Japão e Alemanha para obter uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança da ONU. É luta válida, que vai trazer resultados. Acho muito bom o que o governo tem feito para abrir novas frentes de comércio com países árabes, com o Sudeste Asiático, com a Ásia Central, com a África. Acho muito positiva também a forma inovadora de trabalho com o Ibas (grupo que reúne Índia, Brasil e África do Sul). É a primeira vez que três países grandes, de três continentes diferentes, se unem para buscar iniciativas conjuntas. Acho que o Brasil tem conduzido com amplo equilíbrio e proficiência as negociações da Rodada de Doha. O Brasil é um jogador decisivo, tem uma atuação de liderança no G20 muito importante. Há ainda a questão do Haiti, onde lideramos pela primeira vez uma ação de países latino-americanos em favor da paz. Enfim, houve acertos...
Veja – E os erros substantivos?
Abdenur – A minha maior crítica à atuação do Itamaraty está na dimensão exagerada dada à cooperação entre os países menos desenvolvidos como eixo básico da nossa diplomacia. Com a queda do Muro de Berlim, desapareceu completamente o paralelo que dividia o mundo em Ocidente e Oriente. O meridiano Norte-Sul não desapareceu de todo, mas se desvaneceu. O diálogo Norte-Sul é uma realidade. A esta altura da vida, com o mundo em transformação vertiginosa, não vale mais valorizar tanto a dimensão Sul-Sul. Isso é um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado. A nossa relação com a China e com a Índia também apresenta equívocos. É preciso ter parceria com os dois países, mas eles não podem ser considerados nossos aliados.
Veja – Há uma tendência no Itamaraty de priorizar as relações com os países da América do Sul em detrimento dos Estados Unidos?
Abdenur – Não é positivo superestimar o valor das afinidades ideológicas. Tem prosperado no Itamaraty uma idéia de que uma maior afinidade ideológica entre os governos da América do Sul tornaria nossa vida mais fácil. Estamos vendo que não. Apesar das afinidades que existem entre o Brasil e outros países da região, estamos enfrentando problemas para consolidar o Mercosul.
Veja – É crescente a influência de Hugo Chávez em países como Bolívia e Equador. Como o senhor avalia essa mudança de poder na América Latina?
Abdenur – Fui embaixador no Equador de 1985 a 1988 e, durante aqueles anos, a população mais pobre, de origem indígena, não tinha poder nem influência na vida política. A ascensão dessas camadas indígenas da população, como ocorre no Equador, na Bolívia e no Peru, é positiva. Mas há uma diferença básica entre Evo Morales e Hugo Chávez. O Morales vem de baixo, é um líder camponês que virou presidente da República. Mal comparando, uma trajetória semelhante à do presidente Lula. Já Chávez caiu de pára-quedas, tentou um golpe, depois chegou ao poder pela via democrática. Infelizmente, ele está acabando com a democracia na Venezuela.
Veja – O que o senhor acha da defesa feita pelo governo brasileiro a favor da entrada da Venezuela no Mercosul?
Abdenur – Foi um erro ter incorporado de chofre a Venezuela ao Mercosul. Devíamos ter privilegiado o aperfeiçoamento do Mercosul sobre a expansão a qualquer custo. Foi vexatório ver Chávez na última reunião dizendo que o Mercosul era um corpo que precisava ser enterrado. Chávez tem idéias sobre economia que não se coadunam com os pressupostos do Mercosul. Ele tem idéia de regresso ao escambo, de troca de mercadorias. Isso obviamente é um passo para trás. O Mercosul tem um compromisso democrático. Democracia, é bom lembrar, não é só realização de eleições. Acho que o Brasil tem a responsabilidade de soltar a voz para tornar menos cômoda a vida de governos autoritários e ditatoriais na região. Não se pode ignorar o que está acontecendo na Venezuela. O Brasil deve expressar claramente seu compromisso democrático amplo, profundo e irrestrito e denunciar situações como a que Chávez criou na Venezuela.
Veja – Como o senhor avalia a relação do Brasil com os Estados Unidos nos três anos em que serviu como embaixador em Washington?
Abdenur – Pode parecer paradoxal, mas a relação do Brasil com os Estados Unidos prosperou significativamente nos últimos anos. Graças a uma pessoa que manda muito no governo brasileiro, uma pessoa de extremo pragmatismo e lucidez, que é o presidente Lula. Ele não esconde seu desagrado com algumas coisas que o governo Bush tem feito, particularmente no Iraque. Mas Lula sabe que uma relação melhor com os Estados Unidos é de interesse do Brasil. Quando fui assumir a embaixada, ele me disse: "Roberto, quero deixar como legado para o futuro bases ainda mais sólidas e mais amplas na relação entre os dois países". Como embaixador, tive algumas dificuldades, mas nada que fosse impeditivo.
Veja – O senhor não deixou o cargo de embaixador espontaneamente, correto?
Abdenur – Há no Brasil setores, embora minoritários, que têm aversão aos Estados Unidos, inclusive dentro do governo e do Itamaraty. Há esse ranço, mas isso não atrapalhou meu trabalho. A relação Brasil-Estados Unidos nunca esteve tão bem. Lula inclusive deve visitar o presidente Bush nos próximos meses.
Veja – Apesar dessa relação forte com os Estados Unidos, a Alca está em compasso de espera.
Abdenur – O Brasil está, na melhor das hipóteses, deixando de ganhar dinheiro. O mercado americano está se aproximando dos 2 trilhões de dólares. Seria vital para o Brasil ter vantagens preferenciais, de parceria, com os Estados Unidos. Não estou dizendo que deveríamos ter assinado a Alca de qualquer jeito, mas deveríamos ter seguido com a negociação. Os Estados Unidos têm assinado vários acordos de comércio bilaterais, e nós temos perdido competitividade no mercado americano. Nós estamos estacionados há dez anos em 1,4% do mercado americano. Há vinte anos, nossa participação era de 2,2%. Eu lamento que o único aspecto da relação Brasil-Estados Unidos em que não houve progresso tenha sido o comércio. Foram mínimos os recursos alocados para promoção comercial nos Estados Unidos pelo governo brasileiro.
Veja – Qual é a imagem do presidente Lula nos Estados Unidos? Ele ainda é um político respeitado ou sua imagem foi deteriorada pelos escândalos de corrupção?
Abdenur – É uma imagem positiva, os escândalos de corrupção não repercutiram muito por lá. Ele é o líder de uma democracia estável, um governante que tem uma biografia louvável. O governo Lula tem merecido respeito mundo afora por conciliar uma política econômica pragmática com políticas sociais efetivas e uma política externa séria. Isso começou com Fernando Henrique, mas o governo Lula avançou.
Veja – O senhor disse em um evento no ano passado em São Paulo que a China é nossa concorrente, não nossa parceira. O senhor mantém essa avaliação?
Abdenur – Fui nomeado embaixador na China no governo Sarney, trabalhei quatro anos e meio lá, tenho autoridade para falar desse país. Nós não podemos ter uma visão romântica daquela China do passado, pobre, atrasada, camponesa, isolada do mundo. A China deu um salto extraordinário e hoje é uma potência. Tem um comércio exterior de 1,8 trilhão de dólares, oito vezes o do Brasil. Nós temos de atualizar a visão da China e ver que, sem deixar de ser parceira valiosa, é cada vez mais nossa concorrente dentro do mercado brasileiro e no exterior. Isso não quer dizer que devamos construir uma muralha e nos fechar aos chineses. Pelo contrário. É preciso manter uma parceria estratégica com a China em novos termos e não ter ilusões. Quando criamos mitos e queremos dar a impressão de que a China é nossa aliada, que nós a lideramos, é uma bobagem. A China hoje busca o capitalismo, a globalização, o mercado.
Veja – O senhor acha que o Brasil errou ao reconhecer a China como economia de mercado?
Abdenur – Acho que foi precipitado. Embora o Estado chinês como produtor e empreendedor esteja diminuindo de tamanho, ele ainda interfere muitíssimo na economia, usa instrumentos arbitrários. Ao reconhecermos a economia de mercado, nós abrimos mão de usar mecanismos de defesa contra os produtos chineses. Isso tornou inevitável uma entrada cada vez maior de produtos chineses no Brasil. O prejuízo é inevitável.
Veja – A divulgação dessa posição do senhor sobre a China causou problemas dentro do Itamaraty?
Abdenur – Causou, sim.
Veja – É verdade que seu amigo antigo, o ministro Amorim, exigiu que o senhor se retratasse publicamente?
Abdenur – Não quero fulanizar essa discussão.
Para a mais recente, veja no índice, ou faça um search aqui ao lado...
Paulo Roberto de Almeida
Entrevista: Roberto Abdenur
Nem na ditadura
Páginas Amarelas, Revista Veja, edição n. 1994 de 7 de fevereiro de 2007
O diplomata diz que a política externa do governo Lula é contaminada pelo antiamericanismo e pela orientação ideológica
"Há um sentimento generalizado de que hoje os diplomatas são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência"
Roberto Abdenur, 64 anos, era um dos mais experientes diplomatas do quadro do Itamaraty até a semana passada, quando se aposentou depois de 44 anos de carreira. Seu último posto foi o de embaixador brasileiro nos Estados Unidos. Amigo do chanceler Celso Amorim há décadas, nos últimos meses desencantou-se com ele e com sua política. As divergências começaram depois que Abdenur disse publicamente que era uma ilusão o fato de o Brasil considerar a China como parceiro comercial, isso depois da decisão do governo brasileiro de reconhecer aquele país como uma economia de mercado. Amorim exigiu uma retratação de Abdenur. Ela nunca veio. Em entrevista a VEJA, o ex-embaixador preferiu não falar sobre o embate entre ele e o chanceler, mas não economiza palavras para criticar a política externa e a doutrinação ideológica em curso no Itamaraty. As decisões hoje, segundo ele, são pautadas pela miopia de um grupo de esquerdistas. As promoções internas têm como critério a afinidade de pensamento, e não a competência. Os acordos de cooperação privilegiam países menos desenvolvidos. Diz ele: "Um processo de doutrinação assim no Itamaraty não aconteceu nem na ditadura".
Veja – O senhor está se aposentando depois de 44 anos de trabalho no Itamaraty e parece muito incomodado com a situação da diplomacia brasileira.
Abdenur – Existe um elemento ideológico muito forte presente na política externa brasileira. A idéia do Sul–Sul como eixo preponderante revela um antiamericanismo atrasado. Isso tem se manifestado dentro do Itamaraty de diversas maneiras. Está havendo uma doutrinação. Diplomatas de categoria, não apenas jovens, são forçados a fazer certas leituras quando entram ou saem de Brasília. Livros que têm viés dessa postura ideológica. É uma coisa vexatória. O Itamaraty não é lugar para bedel.
Veja – De que outras maneiras a doutrinação ideológica se manifesta no Itamaraty?
Abdenur – Há um sentimento generalizado de que os diplomatas hoje são promovidos de acordo com sua afinidade política e ideológica, e não por competência. Eu vi funcionários de competência indiscutível ser passados para trás porque não são alinhados. Há intolerância à pluralidade de opinião. O Itamaraty sempre teve um prestígio singular na diplomacia internacional pela continuidade da política externa, pelo equilíbrio, pela excelência de seus quadros e pelo apartidarismo. O Itamaraty precisa resgatar o profissionalismo a salvo de posturas ideológicas, de atitudes intolerantes e de identificação partidária com a força política dominante no momento.
Veja – Essa situação que o senhor descreve já aconteceu antes?
Abdenur – Nunca, nem na ditadura militar. De 1964 até o início do governo Ernesto Geisel, na primeira década do regime militar, adotou-se uma política externa simplória, baseada na ideologia anticomunista. Isso foi imposto à força pelos militares. Mas nunca houve tentativa de convencer os diplomatas dessa ideologia. O rumo foi imposto e se exigia o seu cumprimento, mas não se cobrava dos profissionais nenhuma afinidade com a ideologia que definia aquele rumo. Do governo Geisel até o fim do governo FHC, a pressão ideológica desapareceu. Agora, infelizmente, as decisões são permeadas por elementos ideológicos.
Veja – A difusão dessa política externa ideologizada é responsabilidade do ministro Celso Amorim ou do secretário-geral Samuel Pinheiro Guimarães?
Abdenur – Samuel, Celso e eu fomos grandes amigos, e eu tenho recordações muito gratas do tempo em que fomos amigos.
Veja – O senhor disse que foi amigo de Celso Amorim e de Samuel Guimarães. Com o verbo no passado.
Abdenur – Fica no passado. Fomos grandes amigos.
Veja – O senhor ficou magoado com a maneira como saiu da embaixada de Washington?
Abdenur – Acho que já falei demais.
Veja – Substantivamente, houve pontos positivos na política externa brasileira no primeiro mandato do presidente Lula?
Abdenur – Sim, sem dúvida. O Brasil engatou uma parceria com Índia, Japão e Alemanha para obter uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança da ONU. É luta válida, que vai trazer resultados. Acho muito bom o que o governo tem feito para abrir novas frentes de comércio com países árabes, com o Sudeste Asiático, com a Ásia Central, com a África. Acho muito positiva também a forma inovadora de trabalho com o Ibas (grupo que reúne Índia, Brasil e África do Sul). É a primeira vez que três países grandes, de três continentes diferentes, se unem para buscar iniciativas conjuntas. Acho que o Brasil tem conduzido com amplo equilíbrio e proficiência as negociações da Rodada de Doha. O Brasil é um jogador decisivo, tem uma atuação de liderança no G20 muito importante. Há ainda a questão do Haiti, onde lideramos pela primeira vez uma ação de países latino-americanos em favor da paz. Enfim, houve acertos...
Veja – E os erros substantivos?
Abdenur – A minha maior crítica à atuação do Itamaraty está na dimensão exagerada dada à cooperação entre os países menos desenvolvidos como eixo básico da nossa diplomacia. Com a queda do Muro de Berlim, desapareceu completamente o paralelo que dividia o mundo em Ocidente e Oriente. O meridiano Norte-Sul não desapareceu de todo, mas se desvaneceu. O diálogo Norte-Sul é uma realidade. A esta altura da vida, com o mundo em transformação vertiginosa, não vale mais valorizar tanto a dimensão Sul-Sul. Isso é um substrato ideológico vagamente anticapitalista, antiglobalização, antiamericano, totalmente superado. A nossa relação com a China e com a Índia também apresenta equívocos. É preciso ter parceria com os dois países, mas eles não podem ser considerados nossos aliados.
Veja – Há uma tendência no Itamaraty de priorizar as relações com os países da América do Sul em detrimento dos Estados Unidos?
Abdenur – Não é positivo superestimar o valor das afinidades ideológicas. Tem prosperado no Itamaraty uma idéia de que uma maior afinidade ideológica entre os governos da América do Sul tornaria nossa vida mais fácil. Estamos vendo que não. Apesar das afinidades que existem entre o Brasil e outros países da região, estamos enfrentando problemas para consolidar o Mercosul.
Veja – É crescente a influência de Hugo Chávez em países como Bolívia e Equador. Como o senhor avalia essa mudança de poder na América Latina?
Abdenur – Fui embaixador no Equador de 1985 a 1988 e, durante aqueles anos, a população mais pobre, de origem indígena, não tinha poder nem influência na vida política. A ascensão dessas camadas indígenas da população, como ocorre no Equador, na Bolívia e no Peru, é positiva. Mas há uma diferença básica entre Evo Morales e Hugo Chávez. O Morales vem de baixo, é um líder camponês que virou presidente da República. Mal comparando, uma trajetória semelhante à do presidente Lula. Já Chávez caiu de pára-quedas, tentou um golpe, depois chegou ao poder pela via democrática. Infelizmente, ele está acabando com a democracia na Venezuela.
Veja – O que o senhor acha da defesa feita pelo governo brasileiro a favor da entrada da Venezuela no Mercosul?
Abdenur – Foi um erro ter incorporado de chofre a Venezuela ao Mercosul. Devíamos ter privilegiado o aperfeiçoamento do Mercosul sobre a expansão a qualquer custo. Foi vexatório ver Chávez na última reunião dizendo que o Mercosul era um corpo que precisava ser enterrado. Chávez tem idéias sobre economia que não se coadunam com os pressupostos do Mercosul. Ele tem idéia de regresso ao escambo, de troca de mercadorias. Isso obviamente é um passo para trás. O Mercosul tem um compromisso democrático. Democracia, é bom lembrar, não é só realização de eleições. Acho que o Brasil tem a responsabilidade de soltar a voz para tornar menos cômoda a vida de governos autoritários e ditatoriais na região. Não se pode ignorar o que está acontecendo na Venezuela. O Brasil deve expressar claramente seu compromisso democrático amplo, profundo e irrestrito e denunciar situações como a que Chávez criou na Venezuela.
Veja – Como o senhor avalia a relação do Brasil com os Estados Unidos nos três anos em que serviu como embaixador em Washington?
Abdenur – Pode parecer paradoxal, mas a relação do Brasil com os Estados Unidos prosperou significativamente nos últimos anos. Graças a uma pessoa que manda muito no governo brasileiro, uma pessoa de extremo pragmatismo e lucidez, que é o presidente Lula. Ele não esconde seu desagrado com algumas coisas que o governo Bush tem feito, particularmente no Iraque. Mas Lula sabe que uma relação melhor com os Estados Unidos é de interesse do Brasil. Quando fui assumir a embaixada, ele me disse: "Roberto, quero deixar como legado para o futuro bases ainda mais sólidas e mais amplas na relação entre os dois países". Como embaixador, tive algumas dificuldades, mas nada que fosse impeditivo.
Veja – O senhor não deixou o cargo de embaixador espontaneamente, correto?
Abdenur – Há no Brasil setores, embora minoritários, que têm aversão aos Estados Unidos, inclusive dentro do governo e do Itamaraty. Há esse ranço, mas isso não atrapalhou meu trabalho. A relação Brasil-Estados Unidos nunca esteve tão bem. Lula inclusive deve visitar o presidente Bush nos próximos meses.
Veja – Apesar dessa relação forte com os Estados Unidos, a Alca está em compasso de espera.
Abdenur – O Brasil está, na melhor das hipóteses, deixando de ganhar dinheiro. O mercado americano está se aproximando dos 2 trilhões de dólares. Seria vital para o Brasil ter vantagens preferenciais, de parceria, com os Estados Unidos. Não estou dizendo que deveríamos ter assinado a Alca de qualquer jeito, mas deveríamos ter seguido com a negociação. Os Estados Unidos têm assinado vários acordos de comércio bilaterais, e nós temos perdido competitividade no mercado americano. Nós estamos estacionados há dez anos em 1,4% do mercado americano. Há vinte anos, nossa participação era de 2,2%. Eu lamento que o único aspecto da relação Brasil-Estados Unidos em que não houve progresso tenha sido o comércio. Foram mínimos os recursos alocados para promoção comercial nos Estados Unidos pelo governo brasileiro.
Veja – Qual é a imagem do presidente Lula nos Estados Unidos? Ele ainda é um político respeitado ou sua imagem foi deteriorada pelos escândalos de corrupção?
Abdenur – É uma imagem positiva, os escândalos de corrupção não repercutiram muito por lá. Ele é o líder de uma democracia estável, um governante que tem uma biografia louvável. O governo Lula tem merecido respeito mundo afora por conciliar uma política econômica pragmática com políticas sociais efetivas e uma política externa séria. Isso começou com Fernando Henrique, mas o governo Lula avançou.
Veja – O senhor disse em um evento no ano passado em São Paulo que a China é nossa concorrente, não nossa parceira. O senhor mantém essa avaliação?
Abdenur – Fui nomeado embaixador na China no governo Sarney, trabalhei quatro anos e meio lá, tenho autoridade para falar desse país. Nós não podemos ter uma visão romântica daquela China do passado, pobre, atrasada, camponesa, isolada do mundo. A China deu um salto extraordinário e hoje é uma potência. Tem um comércio exterior de 1,8 trilhão de dólares, oito vezes o do Brasil. Nós temos de atualizar a visão da China e ver que, sem deixar de ser parceira valiosa, é cada vez mais nossa concorrente dentro do mercado brasileiro e no exterior. Isso não quer dizer que devamos construir uma muralha e nos fechar aos chineses. Pelo contrário. É preciso manter uma parceria estratégica com a China em novos termos e não ter ilusões. Quando criamos mitos e queremos dar a impressão de que a China é nossa aliada, que nós a lideramos, é uma bobagem. A China hoje busca o capitalismo, a globalização, o mercado.
Veja – O senhor acha que o Brasil errou ao reconhecer a China como economia de mercado?
Abdenur – Acho que foi precipitado. Embora o Estado chinês como produtor e empreendedor esteja diminuindo de tamanho, ele ainda interfere muitíssimo na economia, usa instrumentos arbitrários. Ao reconhecermos a economia de mercado, nós abrimos mão de usar mecanismos de defesa contra os produtos chineses. Isso tornou inevitável uma entrada cada vez maior de produtos chineses no Brasil. O prejuízo é inevitável.
Veja – A divulgação dessa posição do senhor sobre a China causou problemas dentro do Itamaraty?
Abdenur – Causou, sim.
Veja – É verdade que seu amigo antigo, o ministro Amorim, exigiu que o senhor se retratasse publicamente?
Abdenur – Não quero fulanizar essa discussão.
Como tornar-se um grande escritor...
...comece asfaltando estradas...
No, I was kidding...
Bem, também é uma forma de adquirir experiência.
Um escritor de best sellers, dos mais famosos, conta como começou. Justamente, asfaltando estradas...
Mas, você pode começar just writing...
Paulo Roberto de Almeida
Op-Ed Contributor
Boxers, Briefs and Books
By JOHN GRISHAM
The New York Times, September 6, 2010, page A19
I WASN’T always a lawyer or a novelist, and I’ve had my share of hard, dead-end jobs. I earned my first steady paycheck watering rose bushes at a nursery for a dollar an hour. I was in my early teens, but the man who owned the nursery saw potential, and he promoted me to his fence crew. For $1.50 an hour, I labored like a grown man as we laid mile after mile of chain-link fence. There was no future in this, and I shall never mention it again in writing.
Then, during the summer of my 16th year, I found a job with a plumbing contractor. I crawled under houses, into the cramped darkness, with a shovel, to somehow find the buried pipes, to dig until I found the problem, then crawl back out and report what I had found. I vowed to get a desk job. I’ve never drawn inspiration from that miserable work, and I shall never mention it again in writing, either.
But a desk wasn’t in my immediate future. My father worked with heavy construction equipment, and through a friend of a friend of his, I got a job the next summer on a highway asphalt crew. This was July, when Mississippi is like a sauna. Add another 100 degrees for the fresh asphalt. I got a break when the operator of a Caterpillar bulldozer was fired; shown the finer points of handling this rather large machine, I contemplated a future in the cab, tons of growling machinery at my command, with the power to plow over anything. Then the operator was back, sober, repentant. I returned to the asphalt crew.
I was 17 years old that summer, and I learned a lot, most of which cannot be repeated in polite company. One Friday night I accompanied my new friends on the asphalt crew to a honky-tonk to celebrate the end of a hard week. When a fight broke out and I heard gunfire, I ran to the restroom, locked the door and crawled out a window. I stayed in the woods for an hour while the police hauled away rednecks. As I hitchhiked home, I realized I was not cut out for construction and got serious about college.
My career sputtered along until retail caught my attention; it was indoors, clean and air-conditioned. I applied for a job at a Sears store in a mall. The only opening was in men’s underwear. It was humiliating. I tried to quit, but I was given a raise. Evidently, the position was difficult to fill. I asked to be transferred to toys, then to appliances. My bosses said no and gave me another raise.
I became abrupt with customers. Sears has the nicest customers in the world, but I didn’t care. I was rude and surly and I was occasionally watched by spies hired by the company to pose as shoppers. One asked to try on a pair of boxers. I said no, that it was obvious they were much too small for his rather ample rear end. I handed him an extra-large pair. I got written up. I asked for lawn care. They said no, but this time they didn’t offer me a raise. I finally quit.
Halfway through college, and still drifting, I decided to become a high-powered tax lawyer. The plan was sailing along until I took my first course in tax law. I was stunned by its complexity and lunacy, and I barely passed the course.
Around the same time, I was involved in mock-trial classes. I enjoyed the courtroom. A new plan was hatched. I would return to my hometown, hang out my shingle and become a hotshot trial lawyer. Tax law was discarded overnight.
This was 1981; at the time there was no public-defender system in my county. I volunteered for all the indigent work I could get. It was the fastest way to trial, and I learned quickly.
When my law office started to struggle for lack of well-paying work — indigent cases are far from lucrative — I decided to go into yet another low-paying career: in 1983, I was elected to a House seat in the Mississippi State Legislature. The salary was $8,000, which was more than I made during my first year as a lawyer. Each year from January through March I was at the State Capitol in Jackson, wasting serious time, but also listening to great storytellers. I took a lot of notes, not knowing why but feeling that, someday, those tales would come in handy.
Like most small-town lawyers, I dreamed of the big case, and in 1984 it finally arrived. But this time, the case wasn’t mine. As usual, I was loitering around the courtroom, pretending to be busy. But what I was really doing was watching a trial involving a young girl who had been beaten and raped. Her testimony was gut-wrenching, graphic, heartbreaking and riveting. Every juror was crying. I remember staring at the defendant and wishing I had a gun. And like that, a story was born.
Writing was not a childhood dream of mine. I do not recall longing to write as a student. I wasn’t sure how to start. Over the following weeks I refined my plot outline and fleshed out my characters. One night I wrote “Chapter One” at the top of the first page of a legal pad; the novel, “A Time to Kill,” was finished three years later.
The book didn’t sell, and I stuck with my day job, defending criminals, preparing wills and deeds and contracts. Still, something about writing made me spend large hours of my free time at my desk.
I had never worked so hard in my life, nor imagined that writing could be such an effort. It was more difficult than laying asphalt, and at times more frustrating than selling underwear. But it paid off. Eventually, I was able to leave the law and quit politics. Writing’s still the most difficult job I’ve ever had — but it’s worth it.
John Grisham is the author of the forthcoming novel “The Confession” and a contributor to the forthcoming collection “Don’t Quit Your Day Job: Acclaimed Authors and the Day Jobs They Quit.”
No, I was kidding...
Bem, também é uma forma de adquirir experiência.
Um escritor de best sellers, dos mais famosos, conta como começou. Justamente, asfaltando estradas...
Mas, você pode começar just writing...
Paulo Roberto de Almeida
Op-Ed Contributor
Boxers, Briefs and Books
By JOHN GRISHAM
The New York Times, September 6, 2010, page A19
I WASN’T always a lawyer or a novelist, and I’ve had my share of hard, dead-end jobs. I earned my first steady paycheck watering rose bushes at a nursery for a dollar an hour. I was in my early teens, but the man who owned the nursery saw potential, and he promoted me to his fence crew. For $1.50 an hour, I labored like a grown man as we laid mile after mile of chain-link fence. There was no future in this, and I shall never mention it again in writing.
Then, during the summer of my 16th year, I found a job with a plumbing contractor. I crawled under houses, into the cramped darkness, with a shovel, to somehow find the buried pipes, to dig until I found the problem, then crawl back out and report what I had found. I vowed to get a desk job. I’ve never drawn inspiration from that miserable work, and I shall never mention it again in writing, either.
But a desk wasn’t in my immediate future. My father worked with heavy construction equipment, and through a friend of a friend of his, I got a job the next summer on a highway asphalt crew. This was July, when Mississippi is like a sauna. Add another 100 degrees for the fresh asphalt. I got a break when the operator of a Caterpillar bulldozer was fired; shown the finer points of handling this rather large machine, I contemplated a future in the cab, tons of growling machinery at my command, with the power to plow over anything. Then the operator was back, sober, repentant. I returned to the asphalt crew.
I was 17 years old that summer, and I learned a lot, most of which cannot be repeated in polite company. One Friday night I accompanied my new friends on the asphalt crew to a honky-tonk to celebrate the end of a hard week. When a fight broke out and I heard gunfire, I ran to the restroom, locked the door and crawled out a window. I stayed in the woods for an hour while the police hauled away rednecks. As I hitchhiked home, I realized I was not cut out for construction and got serious about college.
My career sputtered along until retail caught my attention; it was indoors, clean and air-conditioned. I applied for a job at a Sears store in a mall. The only opening was in men’s underwear. It was humiliating. I tried to quit, but I was given a raise. Evidently, the position was difficult to fill. I asked to be transferred to toys, then to appliances. My bosses said no and gave me another raise.
I became abrupt with customers. Sears has the nicest customers in the world, but I didn’t care. I was rude and surly and I was occasionally watched by spies hired by the company to pose as shoppers. One asked to try on a pair of boxers. I said no, that it was obvious they were much too small for his rather ample rear end. I handed him an extra-large pair. I got written up. I asked for lawn care. They said no, but this time they didn’t offer me a raise. I finally quit.
Halfway through college, and still drifting, I decided to become a high-powered tax lawyer. The plan was sailing along until I took my first course in tax law. I was stunned by its complexity and lunacy, and I barely passed the course.
Around the same time, I was involved in mock-trial classes. I enjoyed the courtroom. A new plan was hatched. I would return to my hometown, hang out my shingle and become a hotshot trial lawyer. Tax law was discarded overnight.
This was 1981; at the time there was no public-defender system in my county. I volunteered for all the indigent work I could get. It was the fastest way to trial, and I learned quickly.
When my law office started to struggle for lack of well-paying work — indigent cases are far from lucrative — I decided to go into yet another low-paying career: in 1983, I was elected to a House seat in the Mississippi State Legislature. The salary was $8,000, which was more than I made during my first year as a lawyer. Each year from January through March I was at the State Capitol in Jackson, wasting serious time, but also listening to great storytellers. I took a lot of notes, not knowing why but feeling that, someday, those tales would come in handy.
Like most small-town lawyers, I dreamed of the big case, and in 1984 it finally arrived. But this time, the case wasn’t mine. As usual, I was loitering around the courtroom, pretending to be busy. But what I was really doing was watching a trial involving a young girl who had been beaten and raped. Her testimony was gut-wrenching, graphic, heartbreaking and riveting. Every juror was crying. I remember staring at the defendant and wishing I had a gun. And like that, a story was born.
Writing was not a childhood dream of mine. I do not recall longing to write as a student. I wasn’t sure how to start. Over the following weeks I refined my plot outline and fleshed out my characters. One night I wrote “Chapter One” at the top of the first page of a legal pad; the novel, “A Time to Kill,” was finished three years later.
The book didn’t sell, and I stuck with my day job, defending criminals, preparing wills and deeds and contracts. Still, something about writing made me spend large hours of my free time at my desk.
I had never worked so hard in my life, nor imagined that writing could be such an effort. It was more difficult than laying asphalt, and at times more frustrating than selling underwear. But it paid off. Eventually, I was able to leave the law and quit politics. Writing’s still the most difficult job I’ve ever had — but it’s worth it.
John Grisham is the author of the forthcoming novel “The Confession” and a contributor to the forthcoming collection “Don’t Quit Your Day Job: Acclaimed Authors and the Day Jobs They Quit.”
Grande Depressao: tudo o que voce sempre quis saber sobre ela...
...e nunca teve a quem perguntar.
Agora já tem, no site da Library of Congress, dos EUA, como abaixo.
Pois é, cada vez que eu preciso saber alguma coisa, qualquer coisa, sobre algum livro, ou algum autor, quando tenho dúvidas sobre quando foi a primeira edição de algum livro, que eu sei, mas ficou naquele neurônio meio fraquinho lá no canto do cérebro, não tenho dúvidas, vou direto para a:
Library of Congress: www.loc.gov
simplesmente o maior site de referências do mundo para qualquer coisas, talvez até para receitas de bolo (mas eu nunca tentei essa linha de pesquisas).
Quando eu morava em Washington, eu era um usuário compulsivo da LoC, lá encontrando livros brasileiros ou sobre o Brasil que eu não achava em nenhuma biblioteca de Brasília. Fui muito feliz, eu e a LOC, durante os quatro anos que morei em Washington, tanto que doei alguns livros meus para sua coleção.
Pois bem, eu estava tranquilo no meu canto quando foi a LoC que me contatou, não o contrário. Fui consultado por uma equipe da LoC que se ocupa de "memória virtual", em cooperação com a Biblioteca Nacional, para guardar alguma coisa sobre as eleições brasileiras. Eles me contataram nestes termos:
A Fundação Biblioteca Nacional e a Biblioteca do Congresso Americano selecionou o seu website para inclusão no acervo histórico das matérias relacionadas com a Internet para a eleição presidencial do Brasil em 2010. Em um projeto conjunto das duas bibliotecas nacionais, esta iniciativa permitirá que os estudiosos atuais e do futuro estudem o processo eleitoral em detalhe.
Trata-se de um blog meu sobre as eleições presidenciais de 2010 (eu já tinha feito um sobre as eleições de 2006). Enfim, isso não importa.
Aproveitando a deixa de autorizá-los a reproduzir material do meu blog, fui consultar novamente o site da LoC (o que quase nunca faço, pois sempre vou para o sistema de obras do catálogo).
Encontrei muita coisa boa e selecionei apenas uma, pois acho que pode interessar muitos dos leitores deste blog, ou de minhas listas, que se interessam pela atual crise financeira e seus fundamentos históricos.
Pois a LoC tem uma assemblagem enorme de materiais sobre a Grande Depressão, simplesmente a maior crise, e depressão, já conhecida na história do capitalismo.
Aproveitem (pelo menos alguns dos 371 itens):
You Searched For: the great depression
Results 1 - 20 of 371 Previous | 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ... | Next
Recommended Links:
* America From the Great Depression to World War II: Photographs from the FSA-OWI, 1935-1945
* New Deal Programs: Selected Library of Congress Resources
* Great Depression: Teacher Resources
Selecting a result will open a new browser window or tab.
1. The great depression
( p2005 ) ( Audio )
Source: Library of Congress Online Catalog
2. The great depression & the new deal
( 1996 ) ( Film, Video )
Source: Library of Congress Online Catalog
3. The Great Depression. Arsenal of democracy
( 1993 ) ( Film, Video )
Source: Library of Congress Online Catalog
4. The Great depression
( 1969] ) ( Book, Periodical, Manuscript )
Source: Library of Congress Online Catalog
5. The Great Depression. To be somebody
( 1993 ) ( Film, Video )
Source: Library of Congress Online Catalog
6. The Great Depression and the 1990s-Student Resources
( web page )
7. The Great Depression and the 1990s-Bibliography
( web page )
8. Introduction: The Great Depression and the New Deal
( web page )
"The Great Depression and the New Deal Page 1 of 16 Next Page [Tuskeegee, Alabama.] Photographer unknown. Photograph, 1936. Courtesy of the National Archives.
9. The Great Depression
( c2001 ) ( Book, Periodical, Manuscript )
10. Americans React to the Great Depression
( web page )
"The Library of Congress home Overview Documents "Hooverville,"Central Ohio, 1938. America from the Great Depression to World War II, 1935-1945 The Great Depression began in 1929 when, in a period of ten weeks, …"
11. Figuring Somepin 'Bout the Great Depression: Lesson One
( web page )
12. The great depression
Humphries, Charles ( [c1968] ) ( Book, Periodical, Manuscript )
13. Exhibitions and Presentations - The Great Depression - Themed Resources - For Teachers
( web page )
14. The great depression
Singer, Barnett ( [1974] ) ( Book, Periodical, Manuscript )
15. The great depression
D M X ( p2001 ) ( Audio )
16. Search Terms - The Great Depression - For Teachers (Library of Congress)
( web page )
17. The Great Depression and the 1990s-Lesson Two
( web page )
18. The Great Depression
Yass, Marion ( 1970 ) ( Book, Periodical, Manuscript )
Source: Library of Congress Online Catalog
19. For Students - The Great Depression - Themed Resources - For Teachers (Library of Congress)
( web page )
20. Lesson Plans - The Great Depression - Themed Resources - For Teachers (Library of Congress)
( web page )
"A compilation of Great Depression related lesson plans from across the Library's Web site"
Source: Library of Congress Web site
You Searched For: the great depression
Results 1 - 20 of 371 Previous | 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ... | Next
Bem, acho que vocês já têm divertimento pelo resto do dia (e toda a noite)...
Paulo Roberto de Almeida
Agora já tem, no site da Library of Congress, dos EUA, como abaixo.
Pois é, cada vez que eu preciso saber alguma coisa, qualquer coisa, sobre algum livro, ou algum autor, quando tenho dúvidas sobre quando foi a primeira edição de algum livro, que eu sei, mas ficou naquele neurônio meio fraquinho lá no canto do cérebro, não tenho dúvidas, vou direto para a:
Library of Congress: www.loc.gov
simplesmente o maior site de referências do mundo para qualquer coisas, talvez até para receitas de bolo (mas eu nunca tentei essa linha de pesquisas).
Quando eu morava em Washington, eu era um usuário compulsivo da LoC, lá encontrando livros brasileiros ou sobre o Brasil que eu não achava em nenhuma biblioteca de Brasília. Fui muito feliz, eu e a LOC, durante os quatro anos que morei em Washington, tanto que doei alguns livros meus para sua coleção.
Pois bem, eu estava tranquilo no meu canto quando foi a LoC que me contatou, não o contrário. Fui consultado por uma equipe da LoC que se ocupa de "memória virtual", em cooperação com a Biblioteca Nacional, para guardar alguma coisa sobre as eleições brasileiras. Eles me contataram nestes termos:
A Fundação Biblioteca Nacional e a Biblioteca do Congresso Americano selecionou o seu website para inclusão no acervo histórico das matérias relacionadas com a Internet para a eleição presidencial do Brasil em 2010. Em um projeto conjunto das duas bibliotecas nacionais, esta iniciativa permitirá que os estudiosos atuais e do futuro estudem o processo eleitoral em detalhe.
Trata-se de um blog meu sobre as eleições presidenciais de 2010 (eu já tinha feito um sobre as eleições de 2006). Enfim, isso não importa.
Aproveitando a deixa de autorizá-los a reproduzir material do meu blog, fui consultar novamente o site da LoC (o que quase nunca faço, pois sempre vou para o sistema de obras do catálogo).
Encontrei muita coisa boa e selecionei apenas uma, pois acho que pode interessar muitos dos leitores deste blog, ou de minhas listas, que se interessam pela atual crise financeira e seus fundamentos históricos.
Pois a LoC tem uma assemblagem enorme de materiais sobre a Grande Depressão, simplesmente a maior crise, e depressão, já conhecida na história do capitalismo.
Aproveitem (pelo menos alguns dos 371 itens):
You Searched For: the great depression
Results 1 - 20 of 371 Previous | 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ... | Next
Recommended Links:
* America From the Great Depression to World War II: Photographs from the FSA-OWI, 1935-1945
* New Deal Programs: Selected Library of Congress Resources
* Great Depression: Teacher Resources
Selecting a result will open a new browser window or tab.
1. The great depression
( p2005 ) ( Audio )
Source: Library of Congress Online Catalog
2. The great depression & the new deal
( 1996 ) ( Film, Video )
Source: Library of Congress Online Catalog
3. The Great Depression. Arsenal of democracy
( 1993 ) ( Film, Video )
Source: Library of Congress Online Catalog
4. The Great depression
( 1969] ) ( Book, Periodical, Manuscript )
Source: Library of Congress Online Catalog
5. The Great Depression. To be somebody
( 1993 ) ( Film, Video )
Source: Library of Congress Online Catalog
6. The Great Depression and the 1990s-Student Resources
( web page )
7. The Great Depression and the 1990s-Bibliography
( web page )
8. Introduction: The Great Depression and the New Deal
( web page )
"The Great Depression and the New Deal Page 1 of 16 Next Page [Tuskeegee, Alabama.] Photographer unknown. Photograph, 1936. Courtesy of the National Archives.
9. The Great Depression
( c2001 ) ( Book, Periodical, Manuscript )
10. Americans React to the Great Depression
( web page )
"The Library of Congress home Overview Documents "Hooverville,"Central Ohio, 1938. America from the Great Depression to World War II, 1935-1945 The Great Depression began in 1929 when, in a period of ten weeks, …"
11. Figuring Somepin 'Bout the Great Depression: Lesson One
( web page )
12. The great depression
Humphries, Charles ( [c1968] ) ( Book, Periodical, Manuscript )
13. Exhibitions and Presentations - The Great Depression - Themed Resources - For Teachers
( web page )
14. The great depression
Singer, Barnett ( [1974] ) ( Book, Periodical, Manuscript )
15. The great depression
D M X ( p2001 ) ( Audio )
16. Search Terms - The Great Depression - For Teachers (Library of Congress)
( web page )
17. The Great Depression and the 1990s-Lesson Two
( web page )
18. The Great Depression
Yass, Marion ( 1970 ) ( Book, Periodical, Manuscript )
Source: Library of Congress Online Catalog
19. For Students - The Great Depression - Themed Resources - For Teachers (Library of Congress)
( web page )
20. Lesson Plans - The Great Depression - Themed Resources - For Teachers (Library of Congress)
( web page )
"A compilation of Great Depression related lesson plans from across the Library's Web site"
Source: Library of Congress Web site
You Searched For: the great depression
Results 1 - 20 of 371 Previous | 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 ... | Next
Bem, acho que vocês já têm divertimento pelo resto do dia (e toda a noite)...
Paulo Roberto de Almeida
Ascensao e declinio do novo (agora quase velho) sindicalismo no Brasil: um livro a conferir
Não conheço o livro e não conheço o autor, mas considerando-se que o Brasil já virou, apenas ainda não formalmente (mas não deve tardar), uma "república sindical", caberia conhecer as origens do "fenômeno".
Mesmo sem conhecer o conteúdo exato, e os argumentos do autor, não sei se concordo com o título, pois NÃO acredito que o "novo sindicalismo" -- que já ficou velho desde os anos 1990 -- está em declínio, ao contrário.
Ele parece mais vitorioso do que nunca, tendo alcançado o poder, se instalado gostosamente e solidamente nele, e não parece querer dele sair, numa reprodução não semelhante, mas talvez similar, ao fenômeno peronista na Argentina.
Em todo caso, se as "mensagens" do "novo sindicalismo" já foram abandonadas -- e elas não são velhas, se julgarmos que se pedia liberdade sindical, fim do imposto e da subordinação dos sindicatos ao Estado, etc. -- esse sindicalismo que se deturpou, de prostituiu e virou praticamente um sindicalismo mafioso, ou quase isso, não se encontra perto do declínio, ao contrário; ele tem cada vez mais sucesso, a julgar pela "indústria dos sindicatos", uma das que mais proliferam no Brasil.
Eu até diria que temos ainda muito peronismo de araque pela frente, com um poder sindical cada vez mais disseminado, e talvez cada vez mais mafioso, como na Argentina.
Essa é a origem de um "pacto perverso" sobre o qual falarei em próxima oportunidade.
Paulo Roberto de Almeida
New Book: Rise and Decline of Brazil’s New Unionism
Jeffrey Sluyter- Beltrão
********************************
PETER LANG - International Academic Publishers
are pleased to announce a new book by Jeffrey Sluyter-Beltrão:
RISE AND DECLINE OF BRAZIL’S NEW UNIONISM: The Politics of the Central Única dos Trabalhadores
(Oxford, Bern, Berlin, Bruxelles, Frankfurt am Main, New York,
Wien, 2010; XVI, 465 pp., num. tables and graphs; Trade Unions Past, Present and Future. Vol. 6; Edited by Craig Phelan; ISBN 978-3-0343-0114-5 pb.; sFr. 85.00 / EUR* 58.20 / EUR** 59.80 / EUR 54.40 / £ 49.00 / US-$ 84.95)
This book explores the political trajectory of Latin America’s most important contemporary labor movement. The New Unionism played a central role in Brazil’s struggle for democracy in the 1980s and recast the country’s subsequent party politics through its creation of the innovative Workers’ Party (PT). The author breaks new ground by analyzing this celebrated prototype of «social movement unionism» as a heterogeneous alliance of component factions that evolves in relation to shifting economic, political, and ideological contexts. Through the prism of internal politics, he shows how Brazil’s transitions – from military–authoritarian to liberal–democratic rule, from statist to free-market economic policies, and from a Leninist to a post-Leninist left – undermined the independent labor movement’s commitments to internal democracy, political autonomy, and societal transformation. The book concludes with a comparative assessment of Brazilian, South African, and South Korean social movement unionisms’ shared dilemmas, arguing that an adequate understanding of their relative declines demands more rigorous attention to the dynamic nexus between internal movement politics and shifting external environments.
Contents:
Brazil’s New Unionism: Late Twentieth-Century Movement and Early
Twenty-First-Century Vestige
Movement Actors, Labor
Institutions, and the Dynamics of Distinction
Convergence
(1978-1984): Organizing Civil Society against the State
Turbulence (1985-1989): Between Civil and Political Society
Divergence (1990-1995): The Bid for Constructive Integration into Political Society
Dilemmas of Decline: The Politics of Brazil’s
Social Movement Unionism in Comparative Perspective.
Jeffrey Sluyter-Beltrão is an Assistant Professor of Political Science at Alfred University in New York State.
Mesmo sem conhecer o conteúdo exato, e os argumentos do autor, não sei se concordo com o título, pois NÃO acredito que o "novo sindicalismo" -- que já ficou velho desde os anos 1990 -- está em declínio, ao contrário.
Ele parece mais vitorioso do que nunca, tendo alcançado o poder, se instalado gostosamente e solidamente nele, e não parece querer dele sair, numa reprodução não semelhante, mas talvez similar, ao fenômeno peronista na Argentina.
Em todo caso, se as "mensagens" do "novo sindicalismo" já foram abandonadas -- e elas não são velhas, se julgarmos que se pedia liberdade sindical, fim do imposto e da subordinação dos sindicatos ao Estado, etc. -- esse sindicalismo que se deturpou, de prostituiu e virou praticamente um sindicalismo mafioso, ou quase isso, não se encontra perto do declínio, ao contrário; ele tem cada vez mais sucesso, a julgar pela "indústria dos sindicatos", uma das que mais proliferam no Brasil.
Eu até diria que temos ainda muito peronismo de araque pela frente, com um poder sindical cada vez mais disseminado, e talvez cada vez mais mafioso, como na Argentina.
Essa é a origem de um "pacto perverso" sobre o qual falarei em próxima oportunidade.
Paulo Roberto de Almeida
New Book: Rise and Decline of Brazil’s New Unionism
Jeffrey Sluyter- Beltrão
********************************
PETER LANG - International Academic Publishers
are pleased to announce a new book by Jeffrey Sluyter-Beltrão:
RISE AND DECLINE OF BRAZIL’S NEW UNIONISM: The Politics of the Central Única dos Trabalhadores
(Oxford, Bern, Berlin, Bruxelles, Frankfurt am Main, New York,
Wien, 2010; XVI, 465 pp., num. tables and graphs; Trade Unions Past, Present and Future. Vol. 6; Edited by Craig Phelan; ISBN 978-3-0343-0114-5 pb.; sFr. 85.00 / EUR* 58.20 / EUR** 59.80 / EUR 54.40 / £ 49.00 / US-$ 84.95)
This book explores the political trajectory of Latin America’s most important contemporary labor movement. The New Unionism played a central role in Brazil’s struggle for democracy in the 1980s and recast the country’s subsequent party politics through its creation of the innovative Workers’ Party (PT). The author breaks new ground by analyzing this celebrated prototype of «social movement unionism» as a heterogeneous alliance of component factions that evolves in relation to shifting economic, political, and ideological contexts. Through the prism of internal politics, he shows how Brazil’s transitions – from military–authoritarian to liberal–democratic rule, from statist to free-market economic policies, and from a Leninist to a post-Leninist left – undermined the independent labor movement’s commitments to internal democracy, political autonomy, and societal transformation. The book concludes with a comparative assessment of Brazilian, South African, and South Korean social movement unionisms’ shared dilemmas, arguing that an adequate understanding of their relative declines demands more rigorous attention to the dynamic nexus between internal movement politics and shifting external environments.
Contents:
Brazil’s New Unionism: Late Twentieth-Century Movement and Early
Twenty-First-Century Vestige
Movement Actors, Labor
Institutions, and the Dynamics of Distinction
Convergence
(1978-1984): Organizing Civil Society against the State
Turbulence (1985-1989): Between Civil and Political Society
Divergence (1990-1995): The Bid for Constructive Integration into Political Society
Dilemmas of Decline: The Politics of Brazil’s
Social Movement Unionism in Comparative Perspective.
Jeffrey Sluyter-Beltrão is an Assistant Professor of Political Science at Alfred University in New York State.
Assinar:
Comentários (Atom)
Postagem em destaque
Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida
Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...
-
Uma preparação de longo curso e uma vida nômade Paulo Roberto de Almeida A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em ...
-
FAQ do Candidato a Diplomata por Renato Domith Godinho TEMAS: Concurso do Instituto Rio Branco, Itamaraty, Carreira Diplomática, MRE, Diplom...
-
Liberando um artigo que passou um ano no limbo: Mercosul e União Europeia: a longa marcha da cooperação à associação Recebo, em 19/12/2025,...
-
Mercado Comum da Guerra? O Mercosul deveria ser, em princípio, uma zona de livre comércio e também uma zona de paz, entre seus próprios memb...
-
Países de Maior Acesso aos textos PRA em Academia.edu (apenas os superiores a 100 acessos) Compilação Paulo Roberto de Almeida (15/12/2025) ...
-
Reproduzo novamente uma postagem minha de 2020, quando foi publicado o livro de Dennys Xavier sobre Thomas Sowell quarta-feira, 4 de março...
-
O destino do Brasil? Uma tartarug a? Paulo Roberto de Almeida Nota sobre os desafios políticos ao desenvolvimento do Brasil Esse “destino” é...
-
Itamaraty 'Memórias', do embaixador Marcos Azambuja, é uma aula de diplomacia Embaixador foi um grande contador de histórias, ...
-
Quando a desgraça é bem-vinda… Leio, tardiamente, nas notícias do dia, que o segundo chanceler virtual do bolsolavismo diplomático (2019-202...