Fitch eleva ratings do Brasil para "BBB"
Monitor Mercantil Digital, 04/04/2011
A Fitch Ratings elevou os seguintes IDRs (Issuer Default Ratings - Ratings de Probabilidade de Inadimplência do Emissor) e o teto país do Brasil: IDR em Moeda Estrangeira elevado para "BBB" de "BBB-" (BBB menos); IDR em Moeda Local elevado para "BBB" de "BBB-" (BBB menos); Teto país elevado para "BBB+"(BBB mais) de "BBB"; e IDR de Curto Prazo elevado para "F2" de "F3".
A Perspectiva dos Ratings foi alterada para Estável, de Positiva.
A elevação dos ratings reflete a avaliação da Fitch de que a taxa de crescimento potencial sustentável da economia brasileira aumentou para 4% a 5%, o que melhora a perspectiva fiscal a médio prazo e endossa o contínuo fortalecimento da sua posição de liquidez externa, aumentando a capacidade do país de absorver choques. A transição de governo para a administração de Dilma Rousseff foi suave, e o consenso sobre políticas macroeconômicas responsáveis continua bem fundamentado. Além disso, a administração Dilma vem demonstrando sinais de maior contenção fiscal, que, aliada às perspectivas de crescimento saudáveis, deve permitir a redução da pesada carga da dívida pública do Brasil.
A economia brasileira registrou expansão a taxas historicamente altas no ano passado, quando o crescimento do PIB atingiu 7,5%. O cenário base da Fitch assume que o aperto nas políticas macroeconômicas que se encontram atualmente em curso deverá permitir uma "aterrissagem suave" da economia brasileira, com o crescimento econômico alcançando aproximadamente 4% em 2011.
- A trajetória de crescimento do Brasil, a médio prazo, deverá continuar relativamente robusta, devido à dinâmica da sua demanda doméstica, que é sustentada pela diversidade econômica do país, por uma ampla classe média ainda em expansão e por um ciclo positivo de investimentos - afirmou Shelly Shetty, diretora sênior e chefe de ratings soberanos para América Latina. O crescimento do PIB do Brasil nos últimos cinco anos atingiu a média de 4,4%, acima da mediana dos ratings na categoria "BBB". A renda per capita do país à taxa de câmbio de mercado também está acima da mediana da categoria "BBB".
A posição de liquidez externa do Brasil se fortaleceu ainda mais após a crise de crédito global, com as reservas internacionais excedendo USD300 bilhões atualmente. O Brasil continua sendo entre os soberanos um dos credores externos líquidos mais fortes na categoria "BBB". A Fitch observa que, embora os déficits em conta corrente do Brasil devam permanecer mais elevados do que no passado recente, a deterioração nos indicadores de endividamento externo líquido pode ser contida pelos fortes fluxos de investimentos estrangeiros diretos esperados.
O anúncio pelo novo governo de cortes nos gastos em 2011 e de um modesto aumento no salário mínimo, assim como a contínua redução nos empréstimos do Tesouro Nacional ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) servem de apoio à gradativa melhora fiscal. A Fitch também observa que a administração pró-ativa pelo Tesouro de seu passivo levou a novas melhoras na estrutura da dívida pública doméstica. Além disso, o Tesouro já garantiu consideráveis recursos para amortizações da dívida externa para os próximos anos, o que reduz a vulnerabilidade do país à volatilidade nos mercados internacionais de capitais.
- Os desafios macroeconômicos do Brasil a curto prazo incluem o combate à inflação, trazendo-a de volta ao centro da meta e moderando o ritmo da expansão do crédito - acrescentou ela. Um aperto mais rápido da política fiscal melhoraria o mix global da política fiscal e monetária e aliviaria a valorização da moeda e a pressão sobre as taxas de juros, embora outras medidas possam ser necessárias com o objetivo de retardar o ritmo da expansão do crédito privado para um nível mais sustentável. Potenciais deslizes nas políticas e uma "aterrissagem forçada" da economia continuam sendo riscos para o Brasil. Estes riscos, no entanto, devem ser contidos e moderados, à medida que a economia gradualmente retome seu equilíbrio e a expansão do crédito diminua.
A Fitch acredita que apesar da administração Dilma ganhar força no Congresso, o progresso das reformas econômicas deverá ser gradual. As reformas tributária e previdenciária ainda são importantes para a melhora das finanças públicas. Maiores taxas de poupanças e novos progressos nas reformas microeconômicas, de modo a melhorar o ambiente dos negócios e desenvolver a infra-estrutura, abrandariam as dificuldades para atingir uma trajetória de maior crescimento. Embora as medidas anunciadas para atrair capital de longo prazo sejam positivas e indiquem um maior pragmatismo em direção ao investimento privado, o desenvolvimento do mercado de crédito levará tempo.
Para o futuro, a melhora sustentável das contas fiscais e externas do Brasil, da dinâmica de expansão econômica e a contínua consolidação da estabilidade macroeconômica serão vistas como positivas. Reformas econômicas que melhorassem a competitividade do Brasil e combatessem os pontos fracos estruturais das finanças públicas seriam positivas para o crédito. Por outro lado, uma acentuada elevação da carga da dívida pública ou o aparecimento de significativos passivos contingentes no setor financeiro também poderiam minar a situação do crédito.
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
terça-feira, 5 de abril de 2011
segunda-feira, 4 de abril de 2011
Brazilian Foreign Policy: away from some folies...
Rousseff Tweaks Brazil's Foreign Policy at the UN
Roque Planas
Americas Society, March 29, 2011
Brazil hopes to gain a permanent UN Security Council seat.
Two recent UN votes indicate President Dilma Rousseff’s foreign policy may differ from that of her predecessor, Luiz Inácio “Lula” da Silva. Lula generally opposed sanctions, avoided criticizing authoritarian governments’ human rights violations, and famously attempted to broker a deal (along with Turkey) to allow Iran to enrich uranium for peaceful purposes. The Rousseff administration, on the other hand, voted Thursday for a resolution to send a special human rights investigator to Iran. Last month, Brazil voted to sanction Libyan head of state Moamar Gadaffi. But while those votes mark a departure from Lula’s foreign policy at the UN, Rousseff’s abstention from the Libya no-fly zone resolution indicate that she will not entirely abandon Lula’s policy of nonintervention.
Rousseff anticipated last week’s Iran vote in an interview with The Washington Post before her inauguration. After criticizing what she referred to as the failure of a “war policy” toward the Middle East led by the United States, Rousseff broached the theme of human rights in Iran that Lula avoided. “I would feel uncomfortable as a woman president-elect not to say anything against the stoning,” Rousseff said, referring to the pending sentence for Sakineh Mohammadi Ashtiani, who was convicted of adultery and murder in May 2006. “My position will not change when I take office. I do not agree with the way Brazil voted. It’s not my position.” Brazil’s envoy to the UN, Maria Nazareth Farani Azevedo, expressed her country’s support of the resolution in similar terms. “This is not a vote against Iran. It’s a vote in favor of the strengthening of the system of human rights,” she said.
Rousseff's departure from Lula’s position on Iran sparked some criticism. When asked if he would support the resolution to send a special human rights investigator to Iran, former foreign minister Celso Amorim told A Folha de São Paulo that he probably would not, explaining that for such a policy to be coherent “we would have to send a special investigator to Iran, another to Guantanamo, another to look at the situation of immigrants in Europe.” Amorim, who served in the Lula administration and helped negotiate the failed nuclear agreement with Tehran, added, “If you get involved in the politics of condemnation, you can forget dialogue.”
But Rousseff’s position on Iran does not constitute a 180-degree turnaround from the Lula days. Israeli officials cited by The Jerusalem Post viewed the Iran vote as a small sign of change that would not affect Brazil’s relationship with the Ahmadinejad administration. Instead, Israeli officials viewed Brazil’s vote against Iran as a gesture to Obama, who visited the country this month. And while Brazil supported sanctioning Libya, the Rousseff administration’s abstention from the no-fly zone vote in the Security Council—along with China, Russia, India, and Germany—marked continuity with her predecessor’s opposition to sanctions and foreign military intervention. The Brazilian Mission to the UN released a statement saying it was not convinced the use of force would “lead to the realization of our common objective—the immediate end to violence and the protection of civilians.” The statement criticized foreign military action while also condemning the Gadaffi regime’s violence. Lula lauded the Rousseff administration’s position on Libya in comments to the press and criticized foreign intervention in harsher terms than Brazil’s diplomats. “These invasions only happen because the United Nations is weak,” Lula said. “If we had twenty-first-century representation [in the Security Council], instead of sending a plane to drop bombs, the UN would send its secretary-general to negotiate.”
Lula’s comments hinted at another issue weighing on Rousseff’s mind: some analysts speculate that Brazil is tweaking its votes at the UN to garner support for a permanent seat at the Security Council (UNSC). Brazil has served as an elected, nonpermanent member of the UN Security Council ten times and holds its current seat until December. As the largest country in Latin America and a participant in 33 peacekeeping missions, Brazil hopes to gain a permanent seat if the Council is expanded and is courting the current permanent members, including the United States, for support.
Brazilian daily O Globo reported that President Barack Obama asked Rousseff to support the Iran human rights investigator resolution during his visit from March 19 to March 21, citing an unnamed government official. According to the report, Rousseff did not commit to supporting the resolution until the time of the vote. If Obama succeeded in convincing Rousseff to join the United States on the Iran resolution, Rousseff had less luck getting Obama to support Brazil in its bid for permanent Security Council membership. Instead of an endorsement, Rousseff came away with a lukewarm statement acknowledging that “Brazil aspires to a seat on the Security Council” and saying the United States would “keep working with Brazil and other nations on reforms that make the Security Council more effective, more efficient, more representative.” The statement fell short of Obama’s wholehearted support of India’s bid for permanent membership last year, but it still amounted to support. “It is weaker in comparison with what he said last November in New Delhi about India’s aspirations, but it is the first public demonstration of sympathy by the U.S. to Brazil’s quest to a permanent seat in the Security Council,” said Paulo Sotero, of the Wilson Center in Washington. If it was any consolation, on Saturday former President Bill Clinton said he supported a permanent seat on the Security Council for Brazil, during a talk at the World Forum on Sustainability in the Amazonian city of Manaus.
Learn More:
Read the transcript of Obama and Rousseff’s comments following their March 19 meeting.
Read an AS/COA Online analysis of the Obama-Rousseff meeting on March 19 in Brasilia.
Read an interview with former Brazilian Foreign Minister Celso Amorim.
The Washington Post interviews President-elect Dilma Rousseff.
The Brazilian Mission to the United Nations explains its opposition to sanctions on Iran in June 2010 and its abstention from the Libya no-fly zone resolution this month.
Send questions and comments for the editor to: ascoa.online@as-coa.org.
Roque Planas
Americas Society, March 29, 2011
Brazil hopes to gain a permanent UN Security Council seat.
Two recent UN votes indicate President Dilma Rousseff’s foreign policy may differ from that of her predecessor, Luiz Inácio “Lula” da Silva. Lula generally opposed sanctions, avoided criticizing authoritarian governments’ human rights violations, and famously attempted to broker a deal (along with Turkey) to allow Iran to enrich uranium for peaceful purposes. The Rousseff administration, on the other hand, voted Thursday for a resolution to send a special human rights investigator to Iran. Last month, Brazil voted to sanction Libyan head of state Moamar Gadaffi. But while those votes mark a departure from Lula’s foreign policy at the UN, Rousseff’s abstention from the Libya no-fly zone resolution indicate that she will not entirely abandon Lula’s policy of nonintervention.
Rousseff anticipated last week’s Iran vote in an interview with The Washington Post before her inauguration. After criticizing what she referred to as the failure of a “war policy” toward the Middle East led by the United States, Rousseff broached the theme of human rights in Iran that Lula avoided. “I would feel uncomfortable as a woman president-elect not to say anything against the stoning,” Rousseff said, referring to the pending sentence for Sakineh Mohammadi Ashtiani, who was convicted of adultery and murder in May 2006. “My position will not change when I take office. I do not agree with the way Brazil voted. It’s not my position.” Brazil’s envoy to the UN, Maria Nazareth Farani Azevedo, expressed her country’s support of the resolution in similar terms. “This is not a vote against Iran. It’s a vote in favor of the strengthening of the system of human rights,” she said.
Rousseff's departure from Lula’s position on Iran sparked some criticism. When asked if he would support the resolution to send a special human rights investigator to Iran, former foreign minister Celso Amorim told A Folha de São Paulo that he probably would not, explaining that for such a policy to be coherent “we would have to send a special investigator to Iran, another to Guantanamo, another to look at the situation of immigrants in Europe.” Amorim, who served in the Lula administration and helped negotiate the failed nuclear agreement with Tehran, added, “If you get involved in the politics of condemnation, you can forget dialogue.”
But Rousseff’s position on Iran does not constitute a 180-degree turnaround from the Lula days. Israeli officials cited by The Jerusalem Post viewed the Iran vote as a small sign of change that would not affect Brazil’s relationship with the Ahmadinejad administration. Instead, Israeli officials viewed Brazil’s vote against Iran as a gesture to Obama, who visited the country this month. And while Brazil supported sanctioning Libya, the Rousseff administration’s abstention from the no-fly zone vote in the Security Council—along with China, Russia, India, and Germany—marked continuity with her predecessor’s opposition to sanctions and foreign military intervention. The Brazilian Mission to the UN released a statement saying it was not convinced the use of force would “lead to the realization of our common objective—the immediate end to violence and the protection of civilians.” The statement criticized foreign military action while also condemning the Gadaffi regime’s violence. Lula lauded the Rousseff administration’s position on Libya in comments to the press and criticized foreign intervention in harsher terms than Brazil’s diplomats. “These invasions only happen because the United Nations is weak,” Lula said. “If we had twenty-first-century representation [in the Security Council], instead of sending a plane to drop bombs, the UN would send its secretary-general to negotiate.”
Lula’s comments hinted at another issue weighing on Rousseff’s mind: some analysts speculate that Brazil is tweaking its votes at the UN to garner support for a permanent seat at the Security Council (UNSC). Brazil has served as an elected, nonpermanent member of the UN Security Council ten times and holds its current seat until December. As the largest country in Latin America and a participant in 33 peacekeeping missions, Brazil hopes to gain a permanent seat if the Council is expanded and is courting the current permanent members, including the United States, for support.
Brazilian daily O Globo reported that President Barack Obama asked Rousseff to support the Iran human rights investigator resolution during his visit from March 19 to March 21, citing an unnamed government official. According to the report, Rousseff did not commit to supporting the resolution until the time of the vote. If Obama succeeded in convincing Rousseff to join the United States on the Iran resolution, Rousseff had less luck getting Obama to support Brazil in its bid for permanent Security Council membership. Instead of an endorsement, Rousseff came away with a lukewarm statement acknowledging that “Brazil aspires to a seat on the Security Council” and saying the United States would “keep working with Brazil and other nations on reforms that make the Security Council more effective, more efficient, more representative.” The statement fell short of Obama’s wholehearted support of India’s bid for permanent membership last year, but it still amounted to support. “It is weaker in comparison with what he said last November in New Delhi about India’s aspirations, but it is the first public demonstration of sympathy by the U.S. to Brazil’s quest to a permanent seat in the Security Council,” said Paulo Sotero, of the Wilson Center in Washington. If it was any consolation, on Saturday former President Bill Clinton said he supported a permanent seat on the Security Council for Brazil, during a talk at the World Forum on Sustainability in the Amazonian city of Manaus.
Learn More:
Read the transcript of Obama and Rousseff’s comments following their March 19 meeting.
Read an AS/COA Online analysis of the Obama-Rousseff meeting on March 19 in Brasilia.
Read an interview with former Brazilian Foreign Minister Celso Amorim.
The Washington Post interviews President-elect Dilma Rousseff.
The Brazilian Mission to the United Nations explains its opposition to sanctions on Iran in June 2010 and its abstention from the Libya no-fly zone resolution this month.
Send questions and comments for the editor to: ascoa.online@as-coa.org.
Curso: "The Politics of Regional Integration in Latin America", Pofessor Olivier Dabène - FGV-Rio
O curso internacional "The Politics of Regional Integration in Latin America" será ministrado pelo professor Olivier Dabène, do Instituto de Estudos Politicos de Paris (Sciences Po), entre os dias 2 a 6 de maio, na FGV Direito Rio.
Maiores informações constam do folder abaixo e do programa anexado (vide "mais informações"). é necessario realizar inscrição no site da FGV (http://direitorio.fgv.br/internacional/cursos-internacionais).
Maiores informações constam do folder abaixo e do programa anexado (vide "mais informações"). é necessario realizar inscrição no site da FGV (http://direitorio.fgv.br/internacional/cursos-internacionais).
domingo, 3 de abril de 2011
Como o governo constroi a bomba-relogio fiscal
Leitores deste blog, brasileiros em geral: o governo prepara não uma surpresa, mas uma notícia desagradável para todos vocês.
Vocês não podem fazer nada contra isso, mas podem pelo menos ficar sabendo, e já ficar com raiva, pois a conta vai ser paga por vocês, por todos nós, aliás...
Paulo Roberto de Almeida
Apesar de promessa de Dilma, governo corta investimentos e eleva gastos
Marta Salomon
O Estado de São Paulo, 3/04/2011
Encerrado o primeiro trimestre do mandato da presidente Dilma Rousseff, o retrato das contas públicas contraria o discurso feito por ela desde a época da campanha eleitoral. Os gastos com investimentos, que deveriam ser preservados dos cortes, caíram. Já as despesas com salários, custeio da máquina pública e da rotina do governo subiram. É justo o oposto do pregado no discurso oficial.
Com pessoal e custeio, o governo gastou R$ 10 bilhões a mais no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado. Se forem incluídos os gastos com juros, o aumento chega a R$ 13,2 bilhões. É praticamente um quarto do corte de R$ 50 bilhões feito no Orçamento deste ano e é dinheiro suficiente para bancar quase um ano do programa Bolsa Família. No fim do mês passado, o Estado mostrou que haviam aumentado até gastos com diárias e passagens, supostos alvos de cortes.
Já em investimentos, os gastos caíram pouco mais de R$ 300 milhões na comparação com 2010. Os dados foram lançados no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), que registra gastos federais, e foram pesquisados pela ONG Contas Abertas.
O governo diz que está fazendo outra coisa. “Estamos cortando o custeio administrativo, não os investimentos”, disse Dilma Rousseff em março, na Bahia, ao inaugurar uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Dos R$ 8,2 bilhões despendidos em investimentos nos primeiros três meses deste ano, R$ 7,9 bilhões se referem a pagamentos de contas herdadas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Os programas incluídos no Orçamento de 2011 propriamente dito, aquele que seria preservado de cortes, praticamente não saíram do lugar.
Nos primeiros 90 dias de governo, apenas R$ 306 milhões foram pagos até o momento, o que significa que o projeto foi realizado e o governo quitou a conta. O volume de investimentos previstos para este ano, porém, chega a R$ 63,7 bilhões. Desse montante, apenas 6,19% passaram pela primeira etapa burocrática do gasto público, o chamado “empenho”, que é feito quando o governo compromete o dinheiro com o pagamento de alguma obra ou serviço ainda em execução.
Vocês não podem fazer nada contra isso, mas podem pelo menos ficar sabendo, e já ficar com raiva, pois a conta vai ser paga por vocês, por todos nós, aliás...
Paulo Roberto de Almeida
Apesar de promessa de Dilma, governo corta investimentos e eleva gastos
Marta Salomon
O Estado de São Paulo, 3/04/2011
Encerrado o primeiro trimestre do mandato da presidente Dilma Rousseff, o retrato das contas públicas contraria o discurso feito por ela desde a época da campanha eleitoral. Os gastos com investimentos, que deveriam ser preservados dos cortes, caíram. Já as despesas com salários, custeio da máquina pública e da rotina do governo subiram. É justo o oposto do pregado no discurso oficial.
Com pessoal e custeio, o governo gastou R$ 10 bilhões a mais no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado. Se forem incluídos os gastos com juros, o aumento chega a R$ 13,2 bilhões. É praticamente um quarto do corte de R$ 50 bilhões feito no Orçamento deste ano e é dinheiro suficiente para bancar quase um ano do programa Bolsa Família. No fim do mês passado, o Estado mostrou que haviam aumentado até gastos com diárias e passagens, supostos alvos de cortes.
Já em investimentos, os gastos caíram pouco mais de R$ 300 milhões na comparação com 2010. Os dados foram lançados no Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), que registra gastos federais, e foram pesquisados pela ONG Contas Abertas.
O governo diz que está fazendo outra coisa. “Estamos cortando o custeio administrativo, não os investimentos”, disse Dilma Rousseff em março, na Bahia, ao inaugurar uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Dos R$ 8,2 bilhões despendidos em investimentos nos primeiros três meses deste ano, R$ 7,9 bilhões se referem a pagamentos de contas herdadas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Os programas incluídos no Orçamento de 2011 propriamente dito, aquele que seria preservado de cortes, praticamente não saíram do lugar.
Nos primeiros 90 dias de governo, apenas R$ 306 milhões foram pagos até o momento, o que significa que o projeto foi realizado e o governo quitou a conta. O volume de investimentos previstos para este ano, porém, chega a R$ 63,7 bilhões. Desse montante, apenas 6,19% passaram pela primeira etapa burocrática do gasto público, o chamado “empenho”, que é feito quando o governo compromete o dinheiro com o pagamento de alguma obra ou serviço ainda em execução.
Frase da semana - Winston Churchill sobre a verdade
Men occasionally stumble over the truth, but most of them pick themselves up and hurry off as if nothing happened.
Winston Churchill
Winston Churchill
Retratos do pensamento militar - Paulo Roberto de Almeida
O pensamento militar brasileiro e a conjuntura econômica
Paulo Roberto de Almeida
Tendo recebido um artigo, reproduzido abaixo, de um general de reserva (cujo nome prefiro resguardar), procedo, como é meu hábito, após leitura cuidadosa de uma matéria relevante: anotações à margem do texto, nos trechos que me pareceram merecer ressalvas, observações, comentários, ou até correções, no caso encapsulados entre colchetes, com tipos em itálico, para o devido destaque de meu texto, desta forma: [PRA: Comentário.].
Brasília, março de 2011
O DESCASO PELAS FORÇAS ARMADAS
General da Reserva Xxxx Xxxxxx Xxxxxxx
A onda dos movimentos por liberdade nos países do Norte da África e do Oriente Médio deve ser analisada em seus reflexos na disputa entre as potências por espaços e poder, cenário permanente nas relações internacionais, que também abrange outras importantes questões conflituosas.
[PRA: O que menos se deve destacar, na onda de movimentos libertários naquelas regiões é justamente o aspecto geopolítico, uma vez que todos os movimentos, ainda que inspirados em mesma matriz e eventualmente guiados por considerações de ordem externa, obedecem, basicamente, ao mesmo padrão: revoltas de jovens humildes a propósito de sua condição social e de jovens universitários conectados ao mundo, mas neste caso usando apenas as ferramentas da globalização; se pudéssemos enfeixar esses movimentos numa rubrica geral, seria a de “emprego e liberdade”, não a de troca de hegemonias externas, o que reflete apenas a fixação do autor do artigo pelos equilíbrios de poder mundial.]
Os estudos de temas dessa natureza realizados no Brasil refletem ideias de renomados estrategistas europeus, norte-americanos e asiáticos quanto aos impactos no jogo entre as grandes potências, mas não apontam possíveis consequências no campo militar, para o Brasil, restringindo-se aos reflexos nas expressões política e econômica. O desfecho dos movimentos no mundo islâmico terá consequências, cujo significado para a defesa nacional dependerá do saldo ou do déficit de poder dos EUA naquela região.
[PRA: Fixação indevida nos temas de segurança e de poder, em detrimento das causas internas, econômicas e políticas, dessa onda de revoltas.]
O quadro atual dos conflitos no mundo revela a volta da onda, que emergiu da II Guerra Mundial e levou os EUA à hegemonia global.
[PRA: Quais conflitos? Certamente não os atuais do mundo árabe, que não têm absolutamente nada a ver com a hegemonia, ou perda dela, pelos EUA.]
Ela começa a recuar pressionada por novos atores poderosos, alguns deles velada ou ostensivamente antagônicos aos EUA e com os quais este último terá de compartilhar espaços e poder.
[PRA: O autor quer provavelmente referir-se à China, enquadrando-a no mesmo cenário de conflitos geopolíticos de meados do século XX; por isso se costuma dizer que os generais estão sempre combatendo a última batalha, não as que vêm pela frente.]
Ao final da primeira década do século XXI, ficou evidente que os EUA já não podiam impor a um custo suportável, isolada e rapidamente seus interesses em todo mundo, condição que desfrutaram por duas décadas após a queda da União Soviética. Os EUA também encontram dificuldade crescente para empregar a OTAN em ações globais, seja pela falta de consenso quanto às ameaças seja pela impossibilidade econômica de seus aliados sustentarem operações militares distantes e de grande envergadura.
[PRA: Nenhuma dessas questões está em causa na onda de revoltas árabes, que não tem maiores conotações geopolíticas e sim de política doméstica.]
Há, ainda, a ascensão da China e sua projeção em todos os continentes, limitando progressivamente a liberdade de ação da outrora potência hegemônica.
[PRA: Salvo avanço sobre matérias primas em várias partes do mundo, não se vê a China confrontando diretamente os EUA ou limitando o poder deste.]
Portanto, a capacidade político-militar norte-americana de assegurar o acesso a regiões com relevante posição geoestratégica e detentoras de recursos vitais, situadas “do lado de lá do mundo”, como o Oriente Médio, a África e a Ásia Central, vai sendo reduzida.
[PRA: O avanço chinês assume características basicamente econômicas, sendo sua projeção militar reduzida, até aqui, ao cenário regional.]
Assim, aumentará a necessidade dos EUA garantirem o acesso a regiões “do lado de cá do mundo” com aqueles atrativos, leia-se América do Sul e Atlântico Sul, para o que empregarão seu poder militar se for preciso.
[PRA: Manifesta-se novamente aqui a velha paranoia militar brasileira, segundo a qual os EUA pretendem dominar o continente e o Brasil, para melhor explorá-los. Não que isso não seja relevante, mas não é o vetor principal da ação externa dos EUA.]
Ao mesmo tempo, interessa-lhes limitar a projeção e influência de potências extra-regionais que possam tolher sua liberdade de ação nas áreas mencionadas. Hoje, espaços dessas regiões de tradicional influência norte-americana já estão sendo disputados pela China e, em sua esteira, virão á Rússia e a Índia.
[PRA: Cenários à la Mackinder grandemente exagerados.]
Como reagirão os EUA, altamente dependentes de recursos naturais, ante a presença de poderosos rivais cada vez mais próximos de seu território, experiência vivida apenas em 1962 na crise dos mísseis da então URSS em Cuba?
[PRA: Obsessão securitária: quais “poderosos rivais” estão cercando os EUA?]
O mundo não é o mesmo e as estratégias não serão as mesmas, mas os EUA não ficarão de braços cruzados. Em sua expansão, a China ocupa espaços também cobiçados pelo Brasil, inclusive em áreas da cooperação militar, pois nossa indigência bélica, fruto do descaso de sucessivos governos, não nos deixa muito a oferecer. Perdem-se excelentes oportunidades para gerar empregos, receita comercial e desenvolvimento industrial e científico-tecnológico e consolidar vínculos com a América do Sul e a África.
[PRA: Ou seja, a grandeza econômica deveria vir como consequência do poderio militar? Mas isso é o inverso da realidade. O poderio americano não vem do Pentágono, e sim da professorinha de aldeia, desde o século XVII, que forjou uma nação essencialmente produtiva e inovadora. Os EUA são poderosos A DESPEITO do Pentágono, não por causa dele.]
Entre a águia e o dragão está o Brasil com sua aspiração pela liderança regional e seus interesses no Atlântico Sul.
[PRA: ??!! Essa polaridade não tem nenhum fundamento na realidade; apenas um jogo de palavras.]
A disputa de poder no entorno estratégico brasileiro deveria ter motivado providências, há muito tempo, antes de o cenário de risco estar delineado de maneira tão clara.
[PRA: Visão distorcida do jogo estratégico na América do Sul.]
Política exterior engloba diplomacia e defesa e estes setores do Estado não podem esperar uma ameaça passar de possível a provável para então buscar os meios de neutralizá-la. Defesa não se improvisa! Um forte poder militar confere maior robustez à política exterior, atrai alianças, dissuade ameaças e desagrava afrontas. Para alcançar tal status o governo deveria ter vontade política de queimar etapas, priorizando e fixando o investimento em defesa, e coragem para enfrentar desafios. O Brasil amargará a perda de oportunidades e patrimônio, no campo material, e de auto-estima e dignidade, no imaterial, pois será incapaz de reagir a pressões político-militares alienígenas, se não estiver no nível das maiores potências militares no lapso de uma década. A globalização, o desenvolvimento nacional e a projeção internacional colocaram o País, outrora periférico, no eixo dos conflitos entre as potências.
[PRA: Compreende-se que um general defenda recursos para as FFAA, dentro da lógica da maior capacitação possível. O cálculo do estadista, contudo, deve focar não apenas a maior defesa possível, mas a melhor defesa comensurável com os meios disponíveis e as ameaças percebidas, reais e potenciais. Se dependesse dos militares, o orçamento militar seria compreensivelmente várias vezes maior: restaria saber para o quê, exatamente.]
As Forças Armadas (FA) procuraram, em vão, sensibilizar a liderança nacional sobre a importância de fortalecer o poder militar.
[PRA: A sociedade, que é maior que as FA, também poderiam sensibilizar a liderança nacional para a importância de fortalecer o poder educacional, que vem antes do poder militar, ao que parece...]
A resposta foi o descaso hoje camuflado por um discurso inconsequente, pois de prático pouco se faz, e tardio, pela incerteza quanto à possibilidade de recuperar o tempo perdido. Em 2011, mais uma vez, postergou-se a aquisição de aviões de caça para a Força Aérea, que se arrasta há mais de uma década, e houve um forte contingenciamento no orçamento de defesa, com prejuízo do desenvolvimento do submarino nuclear e de projetos do Exército. A relevância das FA para a liderança nacional resume-se a missões de paz, apoio às obras do PAC e participação na segurança pública e defesa civil, ou seja, no que é marketing para o governo.
[PRA: Nisso inteiramente de acordo: o governo petista vive de marketing, de mistificações e de engano.]
Há um descaso com o equipamento e o preparo para a defesa da Pátria, prioridade, razão de ser e identidade de qualquer força armada. Mas o descaso é também com a profissão e o militar como mostra a crescente defasagem salarial que rebaixa a carreira das armas em relação a outras de Estado e do serviço público.
[PRA: Os salários do setor público são uma anarquia indescritível, com abusos notórios nos poderes Judiciário e Legislativo, abusos tópicos no Executivo, mas uma evidente injustiça com os militares, que estão no piso subterrâneo dessa escala salarial altamente deformada.]
O chefe militar manifesta essas preocupações pela cadeia de comando, como é sua obrigação. À presidente da República, comandante supremo das FA, cabe preservar a relevância dessas Instituições, obrigação moral e funcional de quem sabe que elas não abrem mão do compromisso com a Nação, o dever e a disciplina e que os instrumentos de pressão de outros segmentos da sociedade são inadmissíveis nas Forças Armadas.
[PRA: o General tem razão quanto ao rebaixamento, não apenas orçamentário, que as FFAA vêm sofrendo desde a redemocratização, duplicado pelas perversões políticas dos petistas no poder, alguns notórios inimigos da democracia, amigos de ditaduras como a cubana, e no limite traidores da pátria, pelos seus objetivos não confessados. Mas, numa época de descontrole fiscal, de extensão indevida dos gastos públicos, os militares não podem se julgar isentos de participação no esforço de contenção de gastos. O que deve ser discutido são os critérios, obviamente, dos gastos públicos e não tomar as missões constitucionais das FFAA como isoladas do contexto nacional. O fato é que o governo gasta muito e gasta mal, com excesso de auto-publicidade, gastos demagógicos com o curral eleitoral do Bolsa-Família, e subsídios para todos os amigos do poder, enquanto extrai recursos dos cidadãos e das empresas compulsoriamente e abusivamente. Cabe em todo caso defender o orçamento das FFAA, mas tudo deve ser colocado em perspectiva: quanto se gasta por habitante, como correlacionar isso à renda per capita, ao PIB, e aos requerimentos específicos da defesa, sem exageros “defensistas” que todas as FFAAs exibem pelo mundo. A END é notoriamente irrealista quanto aos gastos de defesa, como se o Brasil fosse uma grande potencia estratégica com responsabilidades inclusive na estratosfera...
O mais relevante, porém, no artigo acima, é a tentativa de traçar um paralelo entre acontecimentos políticos nos países árabes, que a rigor não afetam a paz e a segurança internacionais, só trazendo problemas para os seus próprios povos, e a situação geopolítica mundial, e daí com o orçamento militar brasileiro; isso é exagerado, equivocado e contraproducente.]
Paulo Roberto de Almeida - Brasília, 7 de março de 2011
Paulo Roberto de Almeida
Tendo recebido um artigo, reproduzido abaixo, de um general de reserva (cujo nome prefiro resguardar), procedo, como é meu hábito, após leitura cuidadosa de uma matéria relevante: anotações à margem do texto, nos trechos que me pareceram merecer ressalvas, observações, comentários, ou até correções, no caso encapsulados entre colchetes, com tipos em itálico, para o devido destaque de meu texto, desta forma: [PRA: Comentário.].
Brasília, março de 2011
O DESCASO PELAS FORÇAS ARMADAS
General da Reserva Xxxx Xxxxxx Xxxxxxx
A onda dos movimentos por liberdade nos países do Norte da África e do Oriente Médio deve ser analisada em seus reflexos na disputa entre as potências por espaços e poder, cenário permanente nas relações internacionais, que também abrange outras importantes questões conflituosas.
[PRA: O que menos se deve destacar, na onda de movimentos libertários naquelas regiões é justamente o aspecto geopolítico, uma vez que todos os movimentos, ainda que inspirados em mesma matriz e eventualmente guiados por considerações de ordem externa, obedecem, basicamente, ao mesmo padrão: revoltas de jovens humildes a propósito de sua condição social e de jovens universitários conectados ao mundo, mas neste caso usando apenas as ferramentas da globalização; se pudéssemos enfeixar esses movimentos numa rubrica geral, seria a de “emprego e liberdade”, não a de troca de hegemonias externas, o que reflete apenas a fixação do autor do artigo pelos equilíbrios de poder mundial.]
Os estudos de temas dessa natureza realizados no Brasil refletem ideias de renomados estrategistas europeus, norte-americanos e asiáticos quanto aos impactos no jogo entre as grandes potências, mas não apontam possíveis consequências no campo militar, para o Brasil, restringindo-se aos reflexos nas expressões política e econômica. O desfecho dos movimentos no mundo islâmico terá consequências, cujo significado para a defesa nacional dependerá do saldo ou do déficit de poder dos EUA naquela região.
[PRA: Fixação indevida nos temas de segurança e de poder, em detrimento das causas internas, econômicas e políticas, dessa onda de revoltas.]
O quadro atual dos conflitos no mundo revela a volta da onda, que emergiu da II Guerra Mundial e levou os EUA à hegemonia global.
[PRA: Quais conflitos? Certamente não os atuais do mundo árabe, que não têm absolutamente nada a ver com a hegemonia, ou perda dela, pelos EUA.]
Ela começa a recuar pressionada por novos atores poderosos, alguns deles velada ou ostensivamente antagônicos aos EUA e com os quais este último terá de compartilhar espaços e poder.
[PRA: O autor quer provavelmente referir-se à China, enquadrando-a no mesmo cenário de conflitos geopolíticos de meados do século XX; por isso se costuma dizer que os generais estão sempre combatendo a última batalha, não as que vêm pela frente.]
Ao final da primeira década do século XXI, ficou evidente que os EUA já não podiam impor a um custo suportável, isolada e rapidamente seus interesses em todo mundo, condição que desfrutaram por duas décadas após a queda da União Soviética. Os EUA também encontram dificuldade crescente para empregar a OTAN em ações globais, seja pela falta de consenso quanto às ameaças seja pela impossibilidade econômica de seus aliados sustentarem operações militares distantes e de grande envergadura.
[PRA: Nenhuma dessas questões está em causa na onda de revoltas árabes, que não tem maiores conotações geopolíticas e sim de política doméstica.]
Há, ainda, a ascensão da China e sua projeção em todos os continentes, limitando progressivamente a liberdade de ação da outrora potência hegemônica.
[PRA: Salvo avanço sobre matérias primas em várias partes do mundo, não se vê a China confrontando diretamente os EUA ou limitando o poder deste.]
Portanto, a capacidade político-militar norte-americana de assegurar o acesso a regiões com relevante posição geoestratégica e detentoras de recursos vitais, situadas “do lado de lá do mundo”, como o Oriente Médio, a África e a Ásia Central, vai sendo reduzida.
[PRA: O avanço chinês assume características basicamente econômicas, sendo sua projeção militar reduzida, até aqui, ao cenário regional.]
Assim, aumentará a necessidade dos EUA garantirem o acesso a regiões “do lado de cá do mundo” com aqueles atrativos, leia-se América do Sul e Atlântico Sul, para o que empregarão seu poder militar se for preciso.
[PRA: Manifesta-se novamente aqui a velha paranoia militar brasileira, segundo a qual os EUA pretendem dominar o continente e o Brasil, para melhor explorá-los. Não que isso não seja relevante, mas não é o vetor principal da ação externa dos EUA.]
Ao mesmo tempo, interessa-lhes limitar a projeção e influência de potências extra-regionais que possam tolher sua liberdade de ação nas áreas mencionadas. Hoje, espaços dessas regiões de tradicional influência norte-americana já estão sendo disputados pela China e, em sua esteira, virão á Rússia e a Índia.
[PRA: Cenários à la Mackinder grandemente exagerados.]
Como reagirão os EUA, altamente dependentes de recursos naturais, ante a presença de poderosos rivais cada vez mais próximos de seu território, experiência vivida apenas em 1962 na crise dos mísseis da então URSS em Cuba?
[PRA: Obsessão securitária: quais “poderosos rivais” estão cercando os EUA?]
O mundo não é o mesmo e as estratégias não serão as mesmas, mas os EUA não ficarão de braços cruzados. Em sua expansão, a China ocupa espaços também cobiçados pelo Brasil, inclusive em áreas da cooperação militar, pois nossa indigência bélica, fruto do descaso de sucessivos governos, não nos deixa muito a oferecer. Perdem-se excelentes oportunidades para gerar empregos, receita comercial e desenvolvimento industrial e científico-tecnológico e consolidar vínculos com a América do Sul e a África.
[PRA: Ou seja, a grandeza econômica deveria vir como consequência do poderio militar? Mas isso é o inverso da realidade. O poderio americano não vem do Pentágono, e sim da professorinha de aldeia, desde o século XVII, que forjou uma nação essencialmente produtiva e inovadora. Os EUA são poderosos A DESPEITO do Pentágono, não por causa dele.]
Entre a águia e o dragão está o Brasil com sua aspiração pela liderança regional e seus interesses no Atlântico Sul.
[PRA: ??!! Essa polaridade não tem nenhum fundamento na realidade; apenas um jogo de palavras.]
A disputa de poder no entorno estratégico brasileiro deveria ter motivado providências, há muito tempo, antes de o cenário de risco estar delineado de maneira tão clara.
[PRA: Visão distorcida do jogo estratégico na América do Sul.]
Política exterior engloba diplomacia e defesa e estes setores do Estado não podem esperar uma ameaça passar de possível a provável para então buscar os meios de neutralizá-la. Defesa não se improvisa! Um forte poder militar confere maior robustez à política exterior, atrai alianças, dissuade ameaças e desagrava afrontas. Para alcançar tal status o governo deveria ter vontade política de queimar etapas, priorizando e fixando o investimento em defesa, e coragem para enfrentar desafios. O Brasil amargará a perda de oportunidades e patrimônio, no campo material, e de auto-estima e dignidade, no imaterial, pois será incapaz de reagir a pressões político-militares alienígenas, se não estiver no nível das maiores potências militares no lapso de uma década. A globalização, o desenvolvimento nacional e a projeção internacional colocaram o País, outrora periférico, no eixo dos conflitos entre as potências.
[PRA: Compreende-se que um general defenda recursos para as FFAA, dentro da lógica da maior capacitação possível. O cálculo do estadista, contudo, deve focar não apenas a maior defesa possível, mas a melhor defesa comensurável com os meios disponíveis e as ameaças percebidas, reais e potenciais. Se dependesse dos militares, o orçamento militar seria compreensivelmente várias vezes maior: restaria saber para o quê, exatamente.]
As Forças Armadas (FA) procuraram, em vão, sensibilizar a liderança nacional sobre a importância de fortalecer o poder militar.
[PRA: A sociedade, que é maior que as FA, também poderiam sensibilizar a liderança nacional para a importância de fortalecer o poder educacional, que vem antes do poder militar, ao que parece...]
A resposta foi o descaso hoje camuflado por um discurso inconsequente, pois de prático pouco se faz, e tardio, pela incerteza quanto à possibilidade de recuperar o tempo perdido. Em 2011, mais uma vez, postergou-se a aquisição de aviões de caça para a Força Aérea, que se arrasta há mais de uma década, e houve um forte contingenciamento no orçamento de defesa, com prejuízo do desenvolvimento do submarino nuclear e de projetos do Exército. A relevância das FA para a liderança nacional resume-se a missões de paz, apoio às obras do PAC e participação na segurança pública e defesa civil, ou seja, no que é marketing para o governo.
[PRA: Nisso inteiramente de acordo: o governo petista vive de marketing, de mistificações e de engano.]
Há um descaso com o equipamento e o preparo para a defesa da Pátria, prioridade, razão de ser e identidade de qualquer força armada. Mas o descaso é também com a profissão e o militar como mostra a crescente defasagem salarial que rebaixa a carreira das armas em relação a outras de Estado e do serviço público.
[PRA: Os salários do setor público são uma anarquia indescritível, com abusos notórios nos poderes Judiciário e Legislativo, abusos tópicos no Executivo, mas uma evidente injustiça com os militares, que estão no piso subterrâneo dessa escala salarial altamente deformada.]
O chefe militar manifesta essas preocupações pela cadeia de comando, como é sua obrigação. À presidente da República, comandante supremo das FA, cabe preservar a relevância dessas Instituições, obrigação moral e funcional de quem sabe que elas não abrem mão do compromisso com a Nação, o dever e a disciplina e que os instrumentos de pressão de outros segmentos da sociedade são inadmissíveis nas Forças Armadas.
[PRA: o General tem razão quanto ao rebaixamento, não apenas orçamentário, que as FFAA vêm sofrendo desde a redemocratização, duplicado pelas perversões políticas dos petistas no poder, alguns notórios inimigos da democracia, amigos de ditaduras como a cubana, e no limite traidores da pátria, pelos seus objetivos não confessados. Mas, numa época de descontrole fiscal, de extensão indevida dos gastos públicos, os militares não podem se julgar isentos de participação no esforço de contenção de gastos. O que deve ser discutido são os critérios, obviamente, dos gastos públicos e não tomar as missões constitucionais das FFAA como isoladas do contexto nacional. O fato é que o governo gasta muito e gasta mal, com excesso de auto-publicidade, gastos demagógicos com o curral eleitoral do Bolsa-Família, e subsídios para todos os amigos do poder, enquanto extrai recursos dos cidadãos e das empresas compulsoriamente e abusivamente. Cabe em todo caso defender o orçamento das FFAA, mas tudo deve ser colocado em perspectiva: quanto se gasta por habitante, como correlacionar isso à renda per capita, ao PIB, e aos requerimentos específicos da defesa, sem exageros “defensistas” que todas as FFAAs exibem pelo mundo. A END é notoriamente irrealista quanto aos gastos de defesa, como se o Brasil fosse uma grande potencia estratégica com responsabilidades inclusive na estratosfera...
O mais relevante, porém, no artigo acima, é a tentativa de traçar um paralelo entre acontecimentos políticos nos países árabes, que a rigor não afetam a paz e a segurança internacionais, só trazendo problemas para os seus próprios povos, e a situação geopolítica mundial, e daí com o orçamento militar brasileiro; isso é exagerado, equivocado e contraproducente.]
Paulo Roberto de Almeida - Brasília, 7 de março de 2011
Como destruir a economia do pais, pensando fazer o bem
O primitivismo da economia política do PT é de espantar.
Não seria assim de espantar se o Brasil recuasse economicamente.
Mentalmente atrasado ele já está.
Teremos mais alguns anos de mediocridade econômica e de decadência progressiva.
Alguns países (como a China, por exemplo) decaíram durante séculos; outros (Inglaterra, é outro exemplo), decaíram durante décadas; alguns conseguem até reincidir nas bobagens e continuam, contra todas as evidências histórica, a decair, como a Argentina, para sermos mais precisos.
Está na hora do Brasil decair um pouco...
Paulo Roberto de Almeida
Governo estuda taxar venda de minério
Por Christiane Samarco e Renato Andrade
Estado de S.Paulo, 01/04/2011
O Palácio do Planalto determinou ao Ministério da Fazenda estudar uma forma de taxar fortemente a exportação de minério de ferro e desonerar o aço. A ideia é reduzir a venda da commodity e aumentar a comercialização de produtos siderúrgicos brasileiros no exterior. O objetivo por trás da medida é forçar a Vale a investir mais na produção de produtos de maior valor.
A equipe do ministro Guido Mantega está encarregada de fazer as contas, para ver se é viável calibrar os tributos incidentes sobre os produtos. A decisão final só sairá depois que os cálculos forem feitos, mas a presidente Dilma Rousseff gostou da ideia, segundo relato de um interlocutor do Planalto.
Embora a proposta afete todo o setor de mineração, a iniciativa em gestação tem endereço certo e objetivo imediato: forçar a Vale a acelerar a construção da siderúrgica que será instalada no Pará. A medida nasce no momento em que o governo conclui o novo marco regulatório da mineração e tem como pano de fundo a disputa entre a mineradora e o Departamento Nacional de Produção Mineral, em torno do valor que a Vale deve pagar pela exploração de minério.
Antes mesmo de ganhar os holofotes, a encomenda do Planalto foi duramente criticada por representantes da mineração ouvidos pelo Estado. “Isso é uma loucura. O Brasil é um país estranho. Os produtores de aço estão investindo em mineração e o governo quer forçar as mineradoras a investir em siderurgia. Não tem o menor sentido”, disse uma importante fonte do setor.
Nem mesmo representantes da siderurgia brasileira acreditam que a taxação do minério possa trazer os resultados esperados pelo governo. “Tem um ruído nessa história de onerar o minério e desonerar o aço. Quando a gente fala em desonerar, tem de ser para a cadeia como um todo”, disse o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.
===========
Complemento do que vai acima:
Desatinos contra a Vale
Editorial - O Estado de S.Paulo
03 de abril de 2011
Derrubado o presidente da Vale, o governo estuda o próximo passo para impor seus interesses e suas concepções econômicas à maior empresa privada do Brasil, segunda maior mineradora do mundo e líder mundial na extração de minério de ferro. O Palácio do Planalto mandou o Ministério da Fazenda examinar uma forma de tributar a exportação do minério, para reduzir os embarques de matéria-prima e aumentar as vendas externas de aço, produto de maior valor agregado. Para isso a empresa teria de ampliar seu investimento em siderurgia. A decisão só será tomada depois dos estudos, informou ao Estado uma fonte ligada ao poder central. Segundo a mesma fonte, a presidente se mostraria sensível ao que era uma das obsessões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Durante mais de metade de seu segundo mandato, o presidente Lula se esforçou para mandar na Vale e, diante da resistência do presidente da empresa, passou a manobrar para derrubá-lo. Esta parte da tarefa já foi cumprida pela presidente Dilma Rousseff. O afastamento de Roger Agnelli foi anunciado oficialmente pela companhia na sexta-feira. Uma agência foi contratada para buscar e sugerir nomes para a substituição, mas alguns possíveis sucessores já têm sido mencionados por pessoas envolvidas no processo.
O novo presidente da Vale terá um mau começo, se aceitar previamente a interferência do governo. Se estiver disposto a receber ordens do Palácio do Planalto ou de qualquer Ministério, o governo nem precisará tributar o minério para forçar a empresa a investir mais em siderurgia. Ao mostrar submissão, esse presidente iniciará sua nova carreira já enfraquecido e enviará uma péssima informação ao mercado e aos acionistas particulares.
As manobras do governo para comandar a Vale têm sido motivadas por uma combinação de ideias estapafúrdias e de impulsos perigosos. É estapafúrdia, em primeiro lugar, a ideia de forçar maiores investimentos em siderurgia, quando o setor está com uma enorme capacidade ociosa - no País e no exterior. A presidente Dilma Rousseff saberia disso, se tivesse o trabalho de consultar os profissionais do setor. A Vale já investe na produção de aço, mas em ritmo compatível com uma estratégia racional.
Em segundo lugar, é um desatino a ideia de tributar a matéria-prima para forçar a exportação de produto de maior valor agregado. Essa tolice reaparece, de tempos em tempos, sob nova roupagem - estimulada, às vezes, por interesses privados. Há anos, empresas do setor calçadista convenceram o governo a tributar a exportação de um tipo de couro. O governo cedeu à esperteza de alguns e cometeu a bobagem. Um dos efeitos foi o desvio das exportações de couro brasileiro pelo Uruguai. O resultado poderia ter sido pior - a perda de mercados para os concorrentes.
Tributar a exportação de minério concederá uma vantagem aos concorrentes estrangeiros da Vale. Ninguém forçará uma grande potência importadora, como a China, a pagar mais pelo minério ou a comprar mais aço do Brasil por causa dessa manobra ridícula. Depois, a mera ideia de tributar matéria-prima para aumentar a exportação de bens de maior valor agregado é uma infantilidade. No máximo, a medida poderia ter algum efeito se o país tivesse o monopólio da matéria-prima. Não é o caso e, mesmo que fosse, o expediente seria discutível.
Se houvesse alguma inteligência nessa proposta, valeria a pena aplicá-la de forma radical. Por que não tributar também a exportação de aço, para favorecer a venda de automóveis, tratores e outros produtos fabricados com esse tipo de insumo? Por que não taxar o milho, a soja e a ração, para ampliar as vendas de carnes? Ou, ainda, por que não dificultar os embarques de café em grão - o Brasil é o maior exportador do mundo -, para multiplicar as vendas do produto instantâneo e do torrado? O desatino seria o mesmo em todos esses casos.
Mas o governo pode ter outros motivos, também, para mandar numa empresa como a Vale. Orientar seus investimentos para este ou aquele Estado ou município pode ser uma forma de distribuir enormes favores. E, se a ordem é conceder benefícios à custa de uma grande companhia, por que privar os aliados de mais alguns bons empregos?
Não seria assim de espantar se o Brasil recuasse economicamente.
Mentalmente atrasado ele já está.
Teremos mais alguns anos de mediocridade econômica e de decadência progressiva.
Alguns países (como a China, por exemplo) decaíram durante séculos; outros (Inglaterra, é outro exemplo), decaíram durante décadas; alguns conseguem até reincidir nas bobagens e continuam, contra todas as evidências histórica, a decair, como a Argentina, para sermos mais precisos.
Está na hora do Brasil decair um pouco...
Paulo Roberto de Almeida
Governo estuda taxar venda de minério
Por Christiane Samarco e Renato Andrade
Estado de S.Paulo, 01/04/2011
O Palácio do Planalto determinou ao Ministério da Fazenda estudar uma forma de taxar fortemente a exportação de minério de ferro e desonerar o aço. A ideia é reduzir a venda da commodity e aumentar a comercialização de produtos siderúrgicos brasileiros no exterior. O objetivo por trás da medida é forçar a Vale a investir mais na produção de produtos de maior valor.
A equipe do ministro Guido Mantega está encarregada de fazer as contas, para ver se é viável calibrar os tributos incidentes sobre os produtos. A decisão final só sairá depois que os cálculos forem feitos, mas a presidente Dilma Rousseff gostou da ideia, segundo relato de um interlocutor do Planalto.
Embora a proposta afete todo o setor de mineração, a iniciativa em gestação tem endereço certo e objetivo imediato: forçar a Vale a acelerar a construção da siderúrgica que será instalada no Pará. A medida nasce no momento em que o governo conclui o novo marco regulatório da mineração e tem como pano de fundo a disputa entre a mineradora e o Departamento Nacional de Produção Mineral, em torno do valor que a Vale deve pagar pela exploração de minério.
Antes mesmo de ganhar os holofotes, a encomenda do Planalto foi duramente criticada por representantes da mineração ouvidos pelo Estado. “Isso é uma loucura. O Brasil é um país estranho. Os produtores de aço estão investindo em mineração e o governo quer forçar as mineradoras a investir em siderurgia. Não tem o menor sentido”, disse uma importante fonte do setor.
Nem mesmo representantes da siderurgia brasileira acreditam que a taxação do minério possa trazer os resultados esperados pelo governo. “Tem um ruído nessa história de onerar o minério e desonerar o aço. Quando a gente fala em desonerar, tem de ser para a cadeia como um todo”, disse o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.
===========
Complemento do que vai acima:
Desatinos contra a Vale
Editorial - O Estado de S.Paulo
03 de abril de 2011
Derrubado o presidente da Vale, o governo estuda o próximo passo para impor seus interesses e suas concepções econômicas à maior empresa privada do Brasil, segunda maior mineradora do mundo e líder mundial na extração de minério de ferro. O Palácio do Planalto mandou o Ministério da Fazenda examinar uma forma de tributar a exportação do minério, para reduzir os embarques de matéria-prima e aumentar as vendas externas de aço, produto de maior valor agregado. Para isso a empresa teria de ampliar seu investimento em siderurgia. A decisão só será tomada depois dos estudos, informou ao Estado uma fonte ligada ao poder central. Segundo a mesma fonte, a presidente se mostraria sensível ao que era uma das obsessões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Durante mais de metade de seu segundo mandato, o presidente Lula se esforçou para mandar na Vale e, diante da resistência do presidente da empresa, passou a manobrar para derrubá-lo. Esta parte da tarefa já foi cumprida pela presidente Dilma Rousseff. O afastamento de Roger Agnelli foi anunciado oficialmente pela companhia na sexta-feira. Uma agência foi contratada para buscar e sugerir nomes para a substituição, mas alguns possíveis sucessores já têm sido mencionados por pessoas envolvidas no processo.
O novo presidente da Vale terá um mau começo, se aceitar previamente a interferência do governo. Se estiver disposto a receber ordens do Palácio do Planalto ou de qualquer Ministério, o governo nem precisará tributar o minério para forçar a empresa a investir mais em siderurgia. Ao mostrar submissão, esse presidente iniciará sua nova carreira já enfraquecido e enviará uma péssima informação ao mercado e aos acionistas particulares.
As manobras do governo para comandar a Vale têm sido motivadas por uma combinação de ideias estapafúrdias e de impulsos perigosos. É estapafúrdia, em primeiro lugar, a ideia de forçar maiores investimentos em siderurgia, quando o setor está com uma enorme capacidade ociosa - no País e no exterior. A presidente Dilma Rousseff saberia disso, se tivesse o trabalho de consultar os profissionais do setor. A Vale já investe na produção de aço, mas em ritmo compatível com uma estratégia racional.
Em segundo lugar, é um desatino a ideia de tributar a matéria-prima para forçar a exportação de produto de maior valor agregado. Essa tolice reaparece, de tempos em tempos, sob nova roupagem - estimulada, às vezes, por interesses privados. Há anos, empresas do setor calçadista convenceram o governo a tributar a exportação de um tipo de couro. O governo cedeu à esperteza de alguns e cometeu a bobagem. Um dos efeitos foi o desvio das exportações de couro brasileiro pelo Uruguai. O resultado poderia ter sido pior - a perda de mercados para os concorrentes.
Tributar a exportação de minério concederá uma vantagem aos concorrentes estrangeiros da Vale. Ninguém forçará uma grande potência importadora, como a China, a pagar mais pelo minério ou a comprar mais aço do Brasil por causa dessa manobra ridícula. Depois, a mera ideia de tributar matéria-prima para aumentar a exportação de bens de maior valor agregado é uma infantilidade. No máximo, a medida poderia ter algum efeito se o país tivesse o monopólio da matéria-prima. Não é o caso e, mesmo que fosse, o expediente seria discutível.
Se houvesse alguma inteligência nessa proposta, valeria a pena aplicá-la de forma radical. Por que não tributar também a exportação de aço, para favorecer a venda de automóveis, tratores e outros produtos fabricados com esse tipo de insumo? Por que não taxar o milho, a soja e a ração, para ampliar as vendas de carnes? Ou, ainda, por que não dificultar os embarques de café em grão - o Brasil é o maior exportador do mundo -, para multiplicar as vendas do produto instantâneo e do torrado? O desatino seria o mesmo em todos esses casos.
Mas o governo pode ter outros motivos, também, para mandar numa empresa como a Vale. Orientar seus investimentos para este ou aquele Estado ou município pode ser uma forma de distribuir enormes favores. E, se a ordem é conceder benefícios à custa de uma grande companhia, por que privar os aliados de mais alguns bons empregos?
Assinar:
Comentários (Atom)
Postagem em destaque
Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida
Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...
-
Uma preparação de longo curso e uma vida nômade Paulo Roberto de Almeida A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em ...
-
FAQ do Candidato a Diplomata por Renato Domith Godinho TEMAS: Concurso do Instituto Rio Branco, Itamaraty, Carreira Diplomática, MRE, Diplom...
-
Liberando um artigo que passou um ano no limbo: Mercosul e União Europeia: a longa marcha da cooperação à associação Recebo, em 19/12/2025,...
-
Mercado Comum da Guerra? O Mercosul deveria ser, em princípio, uma zona de livre comércio e também uma zona de paz, entre seus próprios memb...
-
Homeric Epithets: Famous Titles From 'The Iliad' & 'The Odyssey' Word Genius, Tuesday, November 16, 2021 https://www.w...
-
O destino do Brasil? Uma tartarug a? Paulo Roberto de Almeida Nota sobre os desafios políticos ao desenvolvimento do Brasil Esse “destino” é...
-
ÚLTIMO ENCONTRO DO CICLO DE HUMANIDADES 2025- 🕊️ A Paz como Projeto e Potência! 🌎 Acadêmicos, pesquisadores e todos os curiosos por um ...
-
Desde el post de José Antonio Sanahuja Persles (Linkedin) Con Camilo López Burian, de la Universidad de la República, estudiamos el ascens...
-
Quando a desgraça é bem-vinda… Leio, tardiamente, nas notícias do dia, que o segundo chanceler virtual do bolsolavismo diplomático (2019-202...