Normalmente eu passaria longe desse tipo de discurso laudatório, totalmente artificial, e puramente hiperbólico, em que se tenta fazer de alguém uma personalidade maior do que realmente é. Ou seja, eu normalmente não transcreveria aqui esse tipo de panegírico, se ele não tivesse a ver, também, com ideias e conceitos sobre o Brasil e sua política, dois temas que são aqui privilegiados.
Acredito que o personagem em questão, FHC, realmente tem qualidades, de intelectual e de homem público, em todo caso, maiores e melhores qualidades do que as exibidas por líderes políticos e intelectuais algumas décadas antes dele e possivelmente algumas décadas à frente, também. Não acredito, por exemplo, que venhamos a ter algum outro presidente tão bem preparado quanto ele pelo futuro previsível, assim como não tivemos nenhum outro igual nos cem anos anteriores da República.
Isso não significa, porém, que ele esteja isento de julgamentos negativos, de avaliações objetivas (que indicariam seus erros também), ou que outros, em suas dimensões próprias, não tenham tido igual, ou maior, importância, para a vida republicana, ou simplesmente brasileira, desde a independência. O julgamento deveria ser deixado à história, com o necessário recuo que nos permitisse, por exemplo, comparar FHC a Pedro II, a Campos Salles, a Getúlio Vargas, a JK, a Castello Branco ou a Geisel, por exemplo, para mencionar alguns que me parecem dispor da postura de estadistas. Todos os demais são menores, para não dizer medíocres, quando não foram nefastos para o país ou a economia brasileira.
Mas estou em total desacordo com essa postura de incensar FHC, fazendo-o responsável pelo que não é responsável.
Assim, discordo frontalmente de Celso Lafer quando diz que:
"Fernando Henrique é um raro caso, no Brasil e no mundo, de um grande intelectual que foi bem-sucedido na política, alcançando a Presidência da República no primeiro turno, por voto majoritário, em duas sucessivas eleições."
FHC não foi eleito duas vezes turno no primeiro por ser intelectual, e sequer por ser político. Ele foi eleito porque resolveu o drama nacional da inflação e da erosão monetária, drama que abatia a sociedade brasileira nas décadas anteriores.
Mas, alto lá, quem fez isso foi sua equipe econômica, o punhado de economistas que soube conceber, implementar e adaptar o Plano Real, em suas diversas fases, desde 1993 até 1999.
O mérito de FHC foi o de saber reunir essa equipe e concordar com ela, mesmo não entendendo direito a essência do plano: ele confiou nos economistas e defendeu o plano junto ao presidente Itamar (que ainda assim atrapalhou sua consecução mais bem sucedida ao obstaculizar um necessário ajuste fiscal que deveria ter sido feito concomitantemente com a implantação do real, e não o fez porque, como todo político, detesta ser impedido de gastar).
Ou seja, quem elegeu FHC foi a equipe econômica.
Se ouso reconhecer algum mérito em FHC foi esse de compreender que o Brasil precisava terminar com as loucuras econômicas anteriores, mas como disse, a responsabilidade principal incumbe aos economistas, não a ele.
O que FHC fez de digno foi criar um mecanismo de transição entre governos, oferecendo as melhores condições a Lula para começar a governar.
Este, na sua esperteza política, preservou a íntegra da política econômica anterior, mesmo demonizando-a em seu discurso da "herança maldita", o que apenas revela seu caráter (que vocês podem classificar com o adjetivo que quiserem).
Ou seja, FHC passa para a história certamente como um presidente de grandes qualidades, mas seu principal mérito, e o que lhe fez ser eleito e reeleito, isso pertence à equipe econômica.
Nenhuma versão correta da história poderia eludir este fato.
Paulo Roberto de Almeida
FHC aos 80
Celso Lafer
O Estado de S.Paulo, 18 de junho de 2011
Fernando Henrique Cardoso chega aos 80 anos em grande forma e na plenitude das qualidades que dele fizeram um grande intelectual e um grande homem público. É o nosso elder statesman e a sua palavra tem prioridade na agenda de discussão nacional. Tem prioridade porque é dotada de autoridade, que se caracteriza por ser menos que um comando, mas mais do que um conselho, na definição de Mommsen. Essa autoridade é fruto do seu percurso e do seu legado, que aqui destaco celebrando o seu aniversário e, ao mesmo tempo, contrapondo-me à damnatio memoriae com a qual o presidente Lula, o PT e os seus simpatizantes, inclusive no mundo acadêmico, buscaram infligir à sua trajetória.
A damnatio memoriae é um instituto do Direito Romano por meio do qual um sucessor condenava a memória do seu antecessor, buscando apagar a sua imagem e eliminar o seu nome das inscrições, considerando-o um inimigo ou uma vergonha para o Estado romano. No Brasil, esse é o objetivo da retórica da "herança maldita", tal como persistentemente aplicada à qualificação da sua gestão presidencial por seu sucessor e acólitos. Ressalvo que dessa postura se afastou a presidente Dilma Rousseff, ao saudar com civilidade republicana os 80 anos de FHC e ao identificar os seus méritos.
Fernando Henrique é um raro caso, no Brasil e no mundo, de um grande intelectual que foi bem-sucedido na política, alcançando a Presidência da República no primeiro turno, por voto majoritário, em duas sucessivas eleições. Usualmente os intelectuais, na medida em que se interessam pela política, ou se dedicam à crítica do poder ou a assessorar o poder. FHC, além de ter desempenhado esses dois papéis, exerceu o poder no vértice do sistema político brasileiro. Logrou alcançar e exercer o poder em função de certas características de personalidade que merecem o elogio, e não a condenação de uma ressentida damnatio memoriae.
FHC foi afirmando a sua liderança desde os tempos da universidade, o que lhe valeu o reconhecimento dos seus pares. São componentes do modo de ser da sua liderança a agilidade e a rapidez da inteligência, que os gregos qualificam de anquinoia, e o dom de gentes, da prazerosa civilidade do seu trato com as pessoas..
A política requer coragem, que é uma "virtude forte" necessária para o ofício de governar e vai além das virtudes requeridas para lidar com as necessidades da vida e as exigências da profissão. É o sentimento de suas próprias forças, como a define Montesquieu. É saber manter a dignidade sob pressão, nas palavras de Hemingway, no confronto com o perigo e as dificuldades. Coragem, nos precisos termos das definições acima mencionadas, nunca faltou a FHC, como posso testemunhar ao tê-lo visto enfrentar seja a aposentadoria compulsória na USP por obra do arbítrio do regime militar e o bafo da repressão nos momentos iniciais do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), seja, em outro plano, no exercício da Presidência, a desestabilizadora crise do câmbio de 1999, que pôs em risco o Plano Real. Teve, para dar outro exemplo, a coragem de assumir o Ministério da Fazenda, no governo Itamar Franco, para enfrentar o imenso desafio de debelar anos de uma inflação desenfreada e corrosiva. A coragem também passa pela firmeza de lidar com temas controvertidos e se contrapor ao seu grupo político e à tendência majoritária da opinião pública. É a nota do seu empenho atual na discussão do problema das drogas, que mostra que os anos não enfraqueceram a sua vocação de combate.
O juízo político é a capacidade de perceber as características que singularizam um contexto. Beneficia-se da visão geral que o conhecimento oferece, mas requer a competência para identificar, numa dada realidade, as particularidades do que pode ou não resultar. FHC, na sua trajetória, foi capaz de olhar o distante e observar o perto, nas palavras de Goethe. Desse modo, como intelectual apto a se orientar na História, sempre teve visão global para entender o conjunto das coisas no Brasil e no mundo e, por obra da qualidade do seu juízo político, a sensibilidade para captar o espaço do potencial das conjunturas com que se confrontou. Pôde, assim, exercer, para falar com Albert Hirschman, a sua íntegra "paixão pelo possível".
Assegurou, na sua Presidência, republicanamente, a governabilidade democrática de um país complexo como o Brasil, por meio de uma liderança aparelhada por um superior juízo político que soube dosar harmonização com inovação e transformação. Logrou, desse modo, orientar o País a partir do Estado e mudar a sociedade brasileira, pois guiado pelo seu sentido de direção construiu um novo patamar de possibilidades para o nosso país.
FHC transformou a sociedade brasileira com o Plano Real, que, com a estabilidade da moeda, assegurou a previsibilidade social das expectativas e promoveu a redistribuição de renda. Impôs racionalidade administrativa com a legislação da responsabilidade fiscal e as privatizações. Garantiu a solidez do sistema bancário com o Proer. Inaugurou o novo alcance das redes de proteção social com o Bolsa-Escola. Empenhou-se na institucionalização da democracia, no fortalecimento da cidadania e na valorização dos direitos humanos. Deu destaque à agenda ambiental. Elevou, com as suas realizações e sua presença pessoal, o alcance do papel do Brasil no mundo. Em síntese, o seu legado é o de um grande homem público que promoveu a ampliação do poder de controle da sociedade brasileira sobre o seu destino, de que se vem beneficiando, de maneira duradoura, o nosso país.
Celebrar o seu aniversário é uma oportunidade de celebrar a sua obra e a sua pessoa e, no meu caso, de afirmar que é um privilégio fruir a sua convivência e, assim, saudar, com amizade e admiração, os seus jovens, sábios e democraticamente bem-humorados 80 anos.
PROFESSOR TITULAR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS E DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES NO GOVERNO FHC
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
domingo, 19 de junho de 2011
Segredo eterno? So na confissao (e para quem acredita...)
Eu já disse o que penso a respeito dessa tal sensibilidade de "documentos históricos", que justificaria segredo eterno para certos documentos: uma escapatória a guardar documentos que tem pouco a ver com a história, e sim com a reputação de certas pessoas, talvez até coisa menos elevada e nobre...
Nenhum país de respeito pode pretender esconder sua história: os que assim o fazem se tornam suspeitos de conivência com coisas pouco dignas do registro histórico, e talvez merecedoras de outro tipo de registro...
Paulo Roberto de Almeida
Fiquei desapontado com apoio de Dilma ao sigilo eterno de documentos, afirma historiador
FERNANDA ODILLA, BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 19/06/2011
Membro da ABL (Academia Brasileira de Letras), o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho afirma ter ficado "desapontado" com o recuo e apoio da presidente Dilma Rousseff ao sigilo eterno de determinados documentos oficiais.
"A política do sigilo, do segredo, da ocultação, inviabiliza uma escrita confiável da história. Perde o historiador, perde o cidadão, perde o país", afirma o pesquisador.
Ele garante não nenhum episódio da história brasileira que não possa ser divulgado, em especial sobre temas como a delimitação de fronteiras brasileiras e a Guerra do Paraguai (1864-1870) --citados pelos que são contrários ao projeto que tramita no Senado e prevê a divulgação de todos os papéis oficiais.
Para o pesquisador, o grande problema é a falta de pessoal especializado para catalogar e disponibilizar documentos. Leia, abaixo, a entrevista com José Murilo de Carvalho, que respondeu por escrito as perguntas da Folha.
Folha - O Sr. acredita haver alguma circunstância em que é preciso manter o sigilo eterno de documentos oficiais? Por que?
José Murilo de Carvalho - Não. Segredo perpétuo só o da confissão. A história é dinâmica, tudo muda, mudam os valores, a política interna, a política externa, os próprios estados nacionais surgem e desaparecem.
Na avaliação do sr. há um tempo ideal máximo para se manter um documento com acesso restrito?
Não há tempo máximo ideal. Depende do momento, da prática dos outros países, da conjuntura interna e internacional. O que era um prazo bom em certo momento já pode parecer inaceitável em uma sociedade mais democratizada. Os prazos estabelecidos no projeto aprovado pela Câmara são razoáveis e estão de acordo com as tendências atuais.
Quem deveria participar da classificação de documentos oficiais?
Primeiro, claro, deve haver uma lei classificando os documentos de acordo com seu grau de importância e das possíveis consequências. Feito isso, a liberação deve ser automática assim que decorra o prazo estabelecido. Caso possa haver prorrogação do sigilo, como no projeto aprovado pela Câmara, uma comissão avaliará se deve ser ele prolongado ou não. Essa comissão deve ser mista. Pode, por exemplo, incluir representante do Itamaraty (caso o documento tenha a ver com política externa), do Ministério da Justiça (no caso de política interna), do Congresso, do Judiciário, da OAB, das Universidades (historiadores).
Pela experiência do senhor, quais episódios relevantes da história brasileira podem ainda ser objeto de informações e documentos com conteúdo protegido por sigilo?
Episódio, nenhum. Há, naturalmente, negociações internacionais que podem exigir um prazo para liberação. O do projeto da Câmara (25 anos, renováveis uma vez) é mais do que suficiente. Há também documentos que podem atingir a honra de vítimas de tortura que devem ser tratados com cuidado.
Há risco de desconstruir mitos, personalidades e patronos com a divulgação de documentos hoje mantidos sob sigilo? Ou esses mitos já foram todos desconstruídos?
Se há riscos, é mais uma razão para abrir os arquivos. Mitos têm que ser destruídos em nome da maturidade democrática. Renan dizia que nações se criam à base de esquecimento, ocultação e mesmo mentira histórica. Mas hoje não se trata mais de construir a nação. Ela já existe. E para mantê-la, hoje, é necessário construir a sociedade democrática. Isso inclui o direito de informação sobre a própria história. A política do sigilo, do segredo, da ocultação, inviabiliza uma escrita confiável dessa história. Perde o historiador, perde o cidadão, perde o país.
Em relação à Guerra do Paraguai e à disputa pelo território hoje ocupado pelo Acre, o sr. tem conhecimento de papéis com conteúdo capaz de provocar ameaça ao Estado? Em relação a esses dois episódios, há alguma informação ainda não revelada ou hoje alvo de especulação?
Participei, no governo FHC, quando Celso Lafer era Ministro das RE [Relações Exteriores], de uma comissão do Itamaraty para examinar a liberação dos documentos. Sobre a Guerra, não encontramos nada que justificasse o segredo, muito menos o eterno. Mais ainda, a comissão convidou um diplomata aposentado, especialista em tratados internacionais de fronteiras e ele garantiu que a abertura não traria qualquer risco, pois são atos jurídicos perfeitos. Escondem o seu passado países inseguros, autoritários. Países maduros com sociedades democráticas não têm medo de enfrentar seu passado, seja ele qual for
O Itamaraty garante no arquivo do MRE não há mais nada protegido por sigilo em relação à Guerra do Paraguai. Acredita que absolutamente tudo sobre o episódio está aberto a consulta?
No Arquivo do Itamaraty, o grande problema é a falta de pessoal técnico para classificar, catalogar e disponibilizar os documentos. Como parece estar proibida a contratação desse pessoal, o país e os historiadores ficam privados de uma extraordinária fonte de pesquisa. Fora isso, é até tedioso ficar discutindo a abertura dos documentos da Guerra.
Na avaliação do sr., os defensores do sigilo eterno têm receio de que?
Há que perguntar a eles. E a posição da presidente Dilma? Fiquei desapontado com seu apoio ao segredo e ocultamento perpétuos. Esperava dela a mesma posição que adotou em relação à comissão da verdade. Os documentos da ditadura são muito mais delicados do que os de cem anos atrás. Nesse ponto, a posição do ex-presidente Lula, apoiando o projeto da Câmara, está mais de acordo com os novos tempos democráticos.
Nenhum país de respeito pode pretender esconder sua história: os que assim o fazem se tornam suspeitos de conivência com coisas pouco dignas do registro histórico, e talvez merecedoras de outro tipo de registro...
Paulo Roberto de Almeida
Fiquei desapontado com apoio de Dilma ao sigilo eterno de documentos, afirma historiador
FERNANDA ODILLA, BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 19/06/2011
Membro da ABL (Academia Brasileira de Letras), o cientista político e historiador José Murilo de Carvalho afirma ter ficado "desapontado" com o recuo e apoio da presidente Dilma Rousseff ao sigilo eterno de determinados documentos oficiais.
"A política do sigilo, do segredo, da ocultação, inviabiliza uma escrita confiável da história. Perde o historiador, perde o cidadão, perde o país", afirma o pesquisador.
Ele garante não nenhum episódio da história brasileira que não possa ser divulgado, em especial sobre temas como a delimitação de fronteiras brasileiras e a Guerra do Paraguai (1864-1870) --citados pelos que são contrários ao projeto que tramita no Senado e prevê a divulgação de todos os papéis oficiais.
Para o pesquisador, o grande problema é a falta de pessoal especializado para catalogar e disponibilizar documentos. Leia, abaixo, a entrevista com José Murilo de Carvalho, que respondeu por escrito as perguntas da Folha.
Folha - O Sr. acredita haver alguma circunstância em que é preciso manter o sigilo eterno de documentos oficiais? Por que?
José Murilo de Carvalho - Não. Segredo perpétuo só o da confissão. A história é dinâmica, tudo muda, mudam os valores, a política interna, a política externa, os próprios estados nacionais surgem e desaparecem.
Na avaliação do sr. há um tempo ideal máximo para se manter um documento com acesso restrito?
Não há tempo máximo ideal. Depende do momento, da prática dos outros países, da conjuntura interna e internacional. O que era um prazo bom em certo momento já pode parecer inaceitável em uma sociedade mais democratizada. Os prazos estabelecidos no projeto aprovado pela Câmara são razoáveis e estão de acordo com as tendências atuais.
Quem deveria participar da classificação de documentos oficiais?
Primeiro, claro, deve haver uma lei classificando os documentos de acordo com seu grau de importância e das possíveis consequências. Feito isso, a liberação deve ser automática assim que decorra o prazo estabelecido. Caso possa haver prorrogação do sigilo, como no projeto aprovado pela Câmara, uma comissão avaliará se deve ser ele prolongado ou não. Essa comissão deve ser mista. Pode, por exemplo, incluir representante do Itamaraty (caso o documento tenha a ver com política externa), do Ministério da Justiça (no caso de política interna), do Congresso, do Judiciário, da OAB, das Universidades (historiadores).
Pela experiência do senhor, quais episódios relevantes da história brasileira podem ainda ser objeto de informações e documentos com conteúdo protegido por sigilo?
Episódio, nenhum. Há, naturalmente, negociações internacionais que podem exigir um prazo para liberação. O do projeto da Câmara (25 anos, renováveis uma vez) é mais do que suficiente. Há também documentos que podem atingir a honra de vítimas de tortura que devem ser tratados com cuidado.
Há risco de desconstruir mitos, personalidades e patronos com a divulgação de documentos hoje mantidos sob sigilo? Ou esses mitos já foram todos desconstruídos?
Se há riscos, é mais uma razão para abrir os arquivos. Mitos têm que ser destruídos em nome da maturidade democrática. Renan dizia que nações se criam à base de esquecimento, ocultação e mesmo mentira histórica. Mas hoje não se trata mais de construir a nação. Ela já existe. E para mantê-la, hoje, é necessário construir a sociedade democrática. Isso inclui o direito de informação sobre a própria história. A política do sigilo, do segredo, da ocultação, inviabiliza uma escrita confiável dessa história. Perde o historiador, perde o cidadão, perde o país.
Em relação à Guerra do Paraguai e à disputa pelo território hoje ocupado pelo Acre, o sr. tem conhecimento de papéis com conteúdo capaz de provocar ameaça ao Estado? Em relação a esses dois episódios, há alguma informação ainda não revelada ou hoje alvo de especulação?
Participei, no governo FHC, quando Celso Lafer era Ministro das RE [Relações Exteriores], de uma comissão do Itamaraty para examinar a liberação dos documentos. Sobre a Guerra, não encontramos nada que justificasse o segredo, muito menos o eterno. Mais ainda, a comissão convidou um diplomata aposentado, especialista em tratados internacionais de fronteiras e ele garantiu que a abertura não traria qualquer risco, pois são atos jurídicos perfeitos. Escondem o seu passado países inseguros, autoritários. Países maduros com sociedades democráticas não têm medo de enfrentar seu passado, seja ele qual for
O Itamaraty garante no arquivo do MRE não há mais nada protegido por sigilo em relação à Guerra do Paraguai. Acredita que absolutamente tudo sobre o episódio está aberto a consulta?
No Arquivo do Itamaraty, o grande problema é a falta de pessoal técnico para classificar, catalogar e disponibilizar os documentos. Como parece estar proibida a contratação desse pessoal, o país e os historiadores ficam privados de uma extraordinária fonte de pesquisa. Fora isso, é até tedioso ficar discutindo a abertura dos documentos da Guerra.
Na avaliação do sr., os defensores do sigilo eterno têm receio de que?
Há que perguntar a eles. E a posição da presidente Dilma? Fiquei desapontado com seu apoio ao segredo e ocultamento perpétuos. Esperava dela a mesma posição que adotou em relação à comissão da verdade. Os documentos da ditadura são muito mais delicados do que os de cem anos atrás. Nesse ponto, a posição do ex-presidente Lula, apoiando o projeto da Câmara, está mais de acordo com os novos tempos democráticos.
A tragedia grega do euro: desafios epicos...- Kenneth Rogoff
O título é meu, mas a análise é de um dos economistas mais respeitados da atualidade.
A questão é simples: o euro tem futuro?
Parece que sim, mas vai ter de entrar em alguma academia de fisioterapia, ou estação de águas, para fazer um bom recondicionamento antes de se colocar novamente em marcha.
O problema, como sempre, não é tanto o euro, mas o que fazem deles governos irresponsáveis.
Velha questão, soluções clássicas: regime de emagrecimento, educação espartana, hábitos sóbrios, sem se perder na bebida ou em festinhas muito caras. Nem sempre se tem uma tia rica -- estilos EUA ou Alemanha -- para pagar a conta do seu cartão de crédito. Um dia isso acaba...
Paulo Roberto de Almeida
El euro, en la encrucijada
KENNETH ROGOFF
El País, 19/06/2011
Europa se encuentra en una crisis constitucional. Nadie parece tener el poder de imponer una resolución razonable a la crisis de la deuda de sus países periféricos. En lugar de reestructurar la carga de deuda manifiestamente insostenible de Portugal, Irlanda y Grecia (los llamados países PIG, por sus iniciales), los políticos y legisladores están presionando para que se adopten paquetes de rescate cada vez más grandes con condiciones de austeridad cada vez menos realistas. Por desgracia, no están solo "pateando" el problema para más adelante, sino empujando una bola de nieve montaña abajo.
Es cierto que, de momento, el problema sigue siendo económicamente manejable. El crecimiento de la eurozona es respetable, y los PIG representan solo el 6% de su PIB. Pero al argumentar obstinadamente que estos países se enfrentan a una crisis de liquidez, en lugar de un problema de solvencia, los funcionarios del euro están poniendo en riesgo todo el sistema. Importantes economías de la eurozona, como España e Italia, padecen grandes problemas de endeudamiento, especialmente si se tiene en cuenta su crecimiento anémico y una manifiesta falta de competitividad. Lo último que necesitan es que se haga creer a la gente que ya hay en marcha una unión implícita de transferencias y que las reformas y la reestructuración económica pueden esperar.
Los funcionarios de la Unión Europea sostienen que sería catastrófico reestructurar las deudas de cualquier miembro de forma proactiva. Es ciertamente el caso del contagio que ocurriría si se reestructura la deuda griega. Dejará de propagarse solo cuando Alemania erija un cortafuegos firme y creíble, probablemente en torno a la deuda de los gobiernos centrales español e italiano. Este es exactamente el tipo de solución realista que uno vería en una zona monetaria verdaderamente integrada. Así que, ¿por qué los líderes europeos encuentran tan inimaginable esta solución intermedia?
Tal vez es porque creen que no tienen en funcionamiento los mecanismos de gobernanza necesarios para tomar decisiones difíciles, para elegir ganadores y perdedores. Las instituciones fracturadas y débiles de la Unión Europea disponen de menos del 2% del PIB de la eurozona en ingresos fiscales. Cualquier tipo de decisión audaz esencialmente requiere unanimidad. Es un "todos para uno y uno para todos", independientemente de su tamaño, posición de deuda y capacidad de rendición de cuentas. No tiene sentido elaborar un plan B si no hay autoridad o capacidad para ejecutarlo.
¿Puede Europa tener suerte? ¿Hay alguna posibilidad de que la bola de nieve de deuda, disfuncionalidad y dudas se deshaga sin causar daño antes de que cobre más fuerza?
En medio de tanta incertidumbre, todo es posible. Si el crecimiento de la eurozona supera ampliamente las expectativas en los próximos años, los balances de los bancos se fortalecerían y los bolsillos de los contribuyentes alemanes se volverían más voluminosos. Los países periféricos podrían experimentar un crecimiento suficiente para ir cumpliendo sus ambiciosos compromisos de austeridad.
Sin embargo, es mucho más probable que la estrategia de hoy conduzca a un estallido y a una restructuración desordenada. ¿Por qué el pueblo griego (por no hablar de los irlandeses y los portugueses) tendrían que aceptar años de austeridad y lento crecimiento a fin de conseguir apuntalar los sistemas bancarios francés y alemán, a menos que reciban grandes sobornos para hacerlo? Como el profesor de Stanford Jeremy Bulow y yo mostramos en nuestro trabajo sobre la deuda soberana en la década de 1980, rara vez se puede exprimir a los países para que realicen pagos netos (pagos menos nuevos préstamos) a entidades extranjeras de más de unos cuantos puntos porcentuales y por algunos años. La actual estrategia de la UE y el Fondo Monetario Internacional pide que estos pagos se realicen a lo largo de una o dos décadas. Tiene que hacerlo, no sea que los contribuyentes alemanes se rebelen ante la perspectiva de tener que pagar por Europa a perpetuidad.
Quizás esta vez sea diferente. Tal vez el encanto de pertenecer a una creciente moneda de reserva haga que una recesión y austeridad sostenidas sean posibles de maneras rara vez vistas en la historia. Lo dudo.
Es cierto que, contra todos los pronósticos y la lógica histórica, parece que Europa va a mantener el liderazgo del FMI. Notablemente, en su resignación a la aparentemente inevitable elección del primer puesto, los líderes de los mercados emergentes no parecen darse cuenta de que todavía deben desafiar la prerrogativa de los Estados Unidos de nombrar al extremadamente poderoso número dos del Fondo. El FMI ya ha sido extraordinariamente generoso con los países PIG. Una vez que se enclave el nuevo equipo pro rescate, solo podemos esperar más generosidad, sin importar si estos países adhieren a sus programas.
Por desgracia, un FMI con gran permisividad es lo último que Europa necesita en estos momentos. Con su crisis constitucional, hemos llegado exactamente al momento en que el FMI debe ayudar a la eurozona a tomar decisiones difíciles que no puede adoptar por sí misma. El Fondo debe crear programas para Portugal, Irlanda y Grecia que restablezcan la competitividad y reduzcan la deuda, y les ofrezcan una esperanza realista de un retorno al crecimiento económico. El FMI debe impedir que los europeos permitan que su parálisis constitucional convierta la bola de nieve de la eurozona en una avalancha mundial.
En ausencia del FMI, la única institución con capacidad de actuar es el ferozmente independiente Banco Central Europeo. Pero si el BCE asume por completo el papel de "prestamista de último recurso", en última instancia, caerá en la insolvencia él mismo. No es manera de asegurar el futuro de la moneda única.
El final de cualquier crisis es difícil de predecir. Tal vez sea suficiente un colapso mayor de la tasa de cambio del euro, generando un auge de las exportaciones. Tal vez Europa entre en un auge de todos modos. Pero es difícil ver cómo la moneda única puede sobrevivir mucho tiempo más sin un paso decisivo hacia una unión fiscal más sólida.
Kenneth Rogoff es profesor de Economía y Políticas públicas en la Universidad de Harvard y fue economista en jefe del FMI.
A questão é simples: o euro tem futuro?
Parece que sim, mas vai ter de entrar em alguma academia de fisioterapia, ou estação de águas, para fazer um bom recondicionamento antes de se colocar novamente em marcha.
O problema, como sempre, não é tanto o euro, mas o que fazem deles governos irresponsáveis.
Velha questão, soluções clássicas: regime de emagrecimento, educação espartana, hábitos sóbrios, sem se perder na bebida ou em festinhas muito caras. Nem sempre se tem uma tia rica -- estilos EUA ou Alemanha -- para pagar a conta do seu cartão de crédito. Um dia isso acaba...
Paulo Roberto de Almeida
El euro, en la encrucijada
KENNETH ROGOFF
El País, 19/06/2011
Europa se encuentra en una crisis constitucional. Nadie parece tener el poder de imponer una resolución razonable a la crisis de la deuda de sus países periféricos. En lugar de reestructurar la carga de deuda manifiestamente insostenible de Portugal, Irlanda y Grecia (los llamados países PIG, por sus iniciales), los políticos y legisladores están presionando para que se adopten paquetes de rescate cada vez más grandes con condiciones de austeridad cada vez menos realistas. Por desgracia, no están solo "pateando" el problema para más adelante, sino empujando una bola de nieve montaña abajo.
Es cierto que, de momento, el problema sigue siendo económicamente manejable. El crecimiento de la eurozona es respetable, y los PIG representan solo el 6% de su PIB. Pero al argumentar obstinadamente que estos países se enfrentan a una crisis de liquidez, en lugar de un problema de solvencia, los funcionarios del euro están poniendo en riesgo todo el sistema. Importantes economías de la eurozona, como España e Italia, padecen grandes problemas de endeudamiento, especialmente si se tiene en cuenta su crecimiento anémico y una manifiesta falta de competitividad. Lo último que necesitan es que se haga creer a la gente que ya hay en marcha una unión implícita de transferencias y que las reformas y la reestructuración económica pueden esperar.
Los funcionarios de la Unión Europea sostienen que sería catastrófico reestructurar las deudas de cualquier miembro de forma proactiva. Es ciertamente el caso del contagio que ocurriría si se reestructura la deuda griega. Dejará de propagarse solo cuando Alemania erija un cortafuegos firme y creíble, probablemente en torno a la deuda de los gobiernos centrales español e italiano. Este es exactamente el tipo de solución realista que uno vería en una zona monetaria verdaderamente integrada. Así que, ¿por qué los líderes europeos encuentran tan inimaginable esta solución intermedia?
Tal vez es porque creen que no tienen en funcionamiento los mecanismos de gobernanza necesarios para tomar decisiones difíciles, para elegir ganadores y perdedores. Las instituciones fracturadas y débiles de la Unión Europea disponen de menos del 2% del PIB de la eurozona en ingresos fiscales. Cualquier tipo de decisión audaz esencialmente requiere unanimidad. Es un "todos para uno y uno para todos", independientemente de su tamaño, posición de deuda y capacidad de rendición de cuentas. No tiene sentido elaborar un plan B si no hay autoridad o capacidad para ejecutarlo.
¿Puede Europa tener suerte? ¿Hay alguna posibilidad de que la bola de nieve de deuda, disfuncionalidad y dudas se deshaga sin causar daño antes de que cobre más fuerza?
En medio de tanta incertidumbre, todo es posible. Si el crecimiento de la eurozona supera ampliamente las expectativas en los próximos años, los balances de los bancos se fortalecerían y los bolsillos de los contribuyentes alemanes se volverían más voluminosos. Los países periféricos podrían experimentar un crecimiento suficiente para ir cumpliendo sus ambiciosos compromisos de austeridad.
Sin embargo, es mucho más probable que la estrategia de hoy conduzca a un estallido y a una restructuración desordenada. ¿Por qué el pueblo griego (por no hablar de los irlandeses y los portugueses) tendrían que aceptar años de austeridad y lento crecimiento a fin de conseguir apuntalar los sistemas bancarios francés y alemán, a menos que reciban grandes sobornos para hacerlo? Como el profesor de Stanford Jeremy Bulow y yo mostramos en nuestro trabajo sobre la deuda soberana en la década de 1980, rara vez se puede exprimir a los países para que realicen pagos netos (pagos menos nuevos préstamos) a entidades extranjeras de más de unos cuantos puntos porcentuales y por algunos años. La actual estrategia de la UE y el Fondo Monetario Internacional pide que estos pagos se realicen a lo largo de una o dos décadas. Tiene que hacerlo, no sea que los contribuyentes alemanes se rebelen ante la perspectiva de tener que pagar por Europa a perpetuidad.
Quizás esta vez sea diferente. Tal vez el encanto de pertenecer a una creciente moneda de reserva haga que una recesión y austeridad sostenidas sean posibles de maneras rara vez vistas en la historia. Lo dudo.
Es cierto que, contra todos los pronósticos y la lógica histórica, parece que Europa va a mantener el liderazgo del FMI. Notablemente, en su resignación a la aparentemente inevitable elección del primer puesto, los líderes de los mercados emergentes no parecen darse cuenta de que todavía deben desafiar la prerrogativa de los Estados Unidos de nombrar al extremadamente poderoso número dos del Fondo. El FMI ya ha sido extraordinariamente generoso con los países PIG. Una vez que se enclave el nuevo equipo pro rescate, solo podemos esperar más generosidad, sin importar si estos países adhieren a sus programas.
Por desgracia, un FMI con gran permisividad es lo último que Europa necesita en estos momentos. Con su crisis constitucional, hemos llegado exactamente al momento en que el FMI debe ayudar a la eurozona a tomar decisiones difíciles que no puede adoptar por sí misma. El Fondo debe crear programas para Portugal, Irlanda y Grecia que restablezcan la competitividad y reduzcan la deuda, y les ofrezcan una esperanza realista de un retorno al crecimiento económico. El FMI debe impedir que los europeos permitan que su parálisis constitucional convierta la bola de nieve de la eurozona en una avalancha mundial.
En ausencia del FMI, la única institución con capacidad de actuar es el ferozmente independiente Banco Central Europeo. Pero si el BCE asume por completo el papel de "prestamista de último recurso", en última instancia, caerá en la insolvencia él mismo. No es manera de asegurar el futuro de la moneda única.
El final de cualquier crisis es difícil de predecir. Tal vez sea suficiente un colapso mayor de la tasa de cambio del euro, generando un auge de las exportaciones. Tal vez Europa entre en un auge de todos modos. Pero es difícil ver cómo la moneda única puede sobrevivir mucho tiempo más sin un paso decisivo hacia una unión fiscal más sólida.
Kenneth Rogoff es profesor de Economía y Políticas públicas en la Universidad de Harvard y fue economista en jefe del FMI.
Brasil-UE: a tal de relacao estrategica (tem muitas...)
Preocupaciones brasileñas
JOSÉ IGNACIOTORREBLANCA
El País, 17/06/2011
La cuestión no es si Brasil es socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es socio estratégico para Brasil
Escribo desde Brasilia, un festival de arquitectura y urbanismo que provoca sensaciones encontradas. Se celebra el XVIII Foro Brasil-Europa y he venido a encontrar la respuesta a una pregunta aparentemente sencilla. Brasil, dicen los documentos oficiales que se manejan en Bruselas, es un socio estratégico para la UE. Que la UE se fije en Brasil es fácil de entender: es ya la octava potencia económica del mundo, habiendo sobrepasado a miembros tradicionales del G-7 como Canadá e Italia, y va camino de convertirse en la quinta. Aquí, el efecto de la crisis ha sido tan leve como increíble el efecto rebote posterior: en 2010 el país creció a un 7.5%, así que lo que en realidad preocupa es un posible sobrecalentamiento de la economía. Brasil tiene algunas cosas de las que los europeos carecemos: una población joven, ingentes recursos naturales, una cesta energética en la que hasta el 40% de su consumo tiene su origen en energías renovables y un entorno geopolítico completamente favorable, pues carece de rivales o enemigos de peso. Para colmo de la envidia, tiene un superávit comercial con China, algo que en Europa cuesta siquiera imaginar. Estamos pues ante una potencia económica, energética y medioambiental de crucial importancia para la Unión Europea.
De todos los BRIC (Brasil, Rusia, India y China), Brasil es el más afín a Europa; además es una democracia y tiene una economía de mercado abierta, lo que no todos los BRIC pueden decir. Como dicen algunos aquí, Brasil es el "extremo Occidente", así que, al menos en teoría, deberíamos jugar en el mismo equipo. La cuestión no es entonces si Brasil es un socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es un socio estratégico para Brasil. Para responder a esta pregunta me ha parecido primero necesario averiguar qué quiere Brasil y qué le preocupa. Con las entrevistas que he hecho en el Ministerio de Exteriores brasileño y las ponencias de los participantes he elaborado una lista de preocupaciones.
Por un lado, les preocupa que la UE esté dejando pasar la oportunidad de cerrar las negociaciones comerciales con Mercosur. La presidencia española de la UE desbloqueó las negociaciones, pero los avances han sido escasos, cosa que atribuyen al proteccionismo agrícola de la UE y a los ciclos electorales europeos. También están preocupados por las no-admisiones de turistas brasileños a territorio Schengen y las condiciones, dicen que humillantes, en las que se gestionan estas repatriaciones. De igual forma, protestan por el bloqueo europeo a las exportaciones de etanol (Brasil es el primer exportador mundial), así como por la indiferencia de los europeos a la hora de calcular el impacto de sus regulaciones sobre la industria brasileña (se cita como ejemplo la directiva REACH sobre productos químicos, cuyas 273 páginas de normas obligan a las empresas brasileñas a invertir ingentes recursos en entender cómo aplicarla correctamente).
Otra preocupación es que los organismos internacionales estén llenos de europeos y que estos les presionen para secundar sus posiciones sin a cambio satisfacer los objetivos brasileños. Brasil ha hecho del logro de un asiento permanente en el Consejo de Seguridad de Naciones Unidas un elemento central de su política exterior, pero los europeos no apoyarán esa demanda mientras siga prefiriendo alinearse con Rusia y China antes que con ella en las votaciones. Brasil se abstuvo en la votación del Consejo de Seguridad de la ONU sobre Libia. Lejos de arrepentirse, los brasileños señalan que los bombardeos de la OTAN sobre Trípoli en busca de Gadafi exceden el mandato original de la Resolución 1.973 y confirman que hicieron lo adecuado.
Pero si algo preocupa de verdad aquí es la desindustrialización. Brasil lo ha apostado prácticamente todo a la exportación de materias primas: además de dos millones de barriles de petróleo, el país es el primero del mundo en exportaciones de café, azúcar, tabaco y vacuno, y segundo en exportaciones de soja. Aunque China compra una gran parte de esas materias, a cambio inunda su mercado de manufacturas baratas con un yuan artificialmente devaluado, lo que tiene el efecto de hundir la industria nacional y desplazar los productos brasileños de sus mercados naturales latinoamericanos, también por cierto de los africanos (nótese que en la última década Brasil ha quintuplicado su comercio con África y abierto 35 nuevas embajadas). Esta lista de preocupaciones, tan diferente de las nuestras, es la madeja que Europa tiene que desenredar si quiere ser escuchada por Brasil. Hacerlo no parece precisamente fácil, pero sí inevitable si se quiere ser estratégico para Brasil.
Twitter: @jitorreblanca
JOSÉ IGNACIOTORREBLANCA
El País, 17/06/2011
La cuestión no es si Brasil es socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es socio estratégico para Brasil
Escribo desde Brasilia, un festival de arquitectura y urbanismo que provoca sensaciones encontradas. Se celebra el XVIII Foro Brasil-Europa y he venido a encontrar la respuesta a una pregunta aparentemente sencilla. Brasil, dicen los documentos oficiales que se manejan en Bruselas, es un socio estratégico para la UE. Que la UE se fije en Brasil es fácil de entender: es ya la octava potencia económica del mundo, habiendo sobrepasado a miembros tradicionales del G-7 como Canadá e Italia, y va camino de convertirse en la quinta. Aquí, el efecto de la crisis ha sido tan leve como increíble el efecto rebote posterior: en 2010 el país creció a un 7.5%, así que lo que en realidad preocupa es un posible sobrecalentamiento de la economía. Brasil tiene algunas cosas de las que los europeos carecemos: una población joven, ingentes recursos naturales, una cesta energética en la que hasta el 40% de su consumo tiene su origen en energías renovables y un entorno geopolítico completamente favorable, pues carece de rivales o enemigos de peso. Para colmo de la envidia, tiene un superávit comercial con China, algo que en Europa cuesta siquiera imaginar. Estamos pues ante una potencia económica, energética y medioambiental de crucial importancia para la Unión Europea.
De todos los BRIC (Brasil, Rusia, India y China), Brasil es el más afín a Europa; además es una democracia y tiene una economía de mercado abierta, lo que no todos los BRIC pueden decir. Como dicen algunos aquí, Brasil es el "extremo Occidente", así que, al menos en teoría, deberíamos jugar en el mismo equipo. La cuestión no es entonces si Brasil es un socio estratégico para la UE, que lo es, sino si la UE es un socio estratégico para Brasil. Para responder a esta pregunta me ha parecido primero necesario averiguar qué quiere Brasil y qué le preocupa. Con las entrevistas que he hecho en el Ministerio de Exteriores brasileño y las ponencias de los participantes he elaborado una lista de preocupaciones.
Por un lado, les preocupa que la UE esté dejando pasar la oportunidad de cerrar las negociaciones comerciales con Mercosur. La presidencia española de la UE desbloqueó las negociaciones, pero los avances han sido escasos, cosa que atribuyen al proteccionismo agrícola de la UE y a los ciclos electorales europeos. También están preocupados por las no-admisiones de turistas brasileños a territorio Schengen y las condiciones, dicen que humillantes, en las que se gestionan estas repatriaciones. De igual forma, protestan por el bloqueo europeo a las exportaciones de etanol (Brasil es el primer exportador mundial), así como por la indiferencia de los europeos a la hora de calcular el impacto de sus regulaciones sobre la industria brasileña (se cita como ejemplo la directiva REACH sobre productos químicos, cuyas 273 páginas de normas obligan a las empresas brasileñas a invertir ingentes recursos en entender cómo aplicarla correctamente).
Otra preocupación es que los organismos internacionales estén llenos de europeos y que estos les presionen para secundar sus posiciones sin a cambio satisfacer los objetivos brasileños. Brasil ha hecho del logro de un asiento permanente en el Consejo de Seguridad de Naciones Unidas un elemento central de su política exterior, pero los europeos no apoyarán esa demanda mientras siga prefiriendo alinearse con Rusia y China antes que con ella en las votaciones. Brasil se abstuvo en la votación del Consejo de Seguridad de la ONU sobre Libia. Lejos de arrepentirse, los brasileños señalan que los bombardeos de la OTAN sobre Trípoli en busca de Gadafi exceden el mandato original de la Resolución 1.973 y confirman que hicieron lo adecuado.
Pero si algo preocupa de verdad aquí es la desindustrialización. Brasil lo ha apostado prácticamente todo a la exportación de materias primas: además de dos millones de barriles de petróleo, el país es el primero del mundo en exportaciones de café, azúcar, tabaco y vacuno, y segundo en exportaciones de soja. Aunque China compra una gran parte de esas materias, a cambio inunda su mercado de manufacturas baratas con un yuan artificialmente devaluado, lo que tiene el efecto de hundir la industria nacional y desplazar los productos brasileños de sus mercados naturales latinoamericanos, también por cierto de los africanos (nótese que en la última década Brasil ha quintuplicado su comercio con África y abierto 35 nuevas embajadas). Esta lista de preocupaciones, tan diferente de las nuestras, es la madeja que Europa tiene que desenredar si quiere ser escuchada por Brasil. Hacerlo no parece precisamente fácil, pero sí inevitable si se quiere ser estratégico para Brasil.
Twitter: @jitorreblanca
sábado, 18 de junho de 2011
O governo constroi agora a crise futura...
Existem pessoas que pretendem que tudo vai bem, no melhor dos mundos. São os otimistas, ou inconscientes...
Existem outras, entre as quais me incluo, que pretendem ver um pouco além do que nos oferecem políticos, economistas irresponsáveis e outros aventureiros.
Sempre se deve ver um pouco mais longe do que a conjuntura imediata...
É o que nos oferece este editorial:
Governo e política salarial estimulam a inadimplência
Editorial - O Estado de S.Paulo
18 de junho de 2011
Nas últimas semanas aumentou bastante a inadimplência, sinal de excesso de demanda, renda insuficiente e endividamento além da renda. O mais urgente desafio para o Brasil, hoje, é aumentar a poupança, tanto a do governo quanto a das famílias, isto é, reduzir o consumo que o governo de Lula estimulou por diversos meios, como o crédito em consignação, a expansão do crédito subsidiado e a redução da taxa de juros - embora ela ainda seja muito alta, em grande parte por causa da poupança insuficiente.
Apesar desse quadro, podemos considerar que a economia brasileira na realidade estimula a inadimplência, que está mais elevada em razão de uma política habitacional que criou um endividamento suplementar, que poderia ser positivo se fosse acompanhado por medidas que restringissem as vendas a prestações e o uso dos cartões de crédito.
O estímulo à inadimplência tem, no momento, duas fontes principais: a política de gastos do governo e a perspectiva de aumentos salariais generosos já neste ano - e, mais ainda, a perspectiva de um aumento maior no próximo ano sem nenhuma justificativa vinculada a um aumento paralelo da produtividade.
O governo federal está prevendo para este ano um aumento de 10% das suas receitas e considera que poderá aumentar seus gastos numa proporção ligeiramente inferior à elevação das receitas, porém muito acima do crescimento do PIB. Nessa situação, o País não eleva sua poupança interna e até recorre à poupança externa. Não aparece uma decisão firme de conter realmente os dispêndios para se obter poupança. Não há dúvida de que as famílias contam, inconscientemente, com o aumento dos gastos governamentais que têm um papel importante na liquidez da economia. Assim, mantêm seus gastos apostando numa melhora futura que lhes permitirá honrar seus atrasados.
A política salarial, num clima de quase pleno emprego, tem efeito ainda mais nocivo, pois leva as famílias a não se preocupar muito com as suas dívidas, que pretendem saldar por meio dos aumentos que receberão neste ano, fugindo a qualquer preocupação com o futuro e sem pensar muito nos efeitos inflacionários desses reajustes, que, na realidade, reduzem o poder aquisitivo. A perspectiva é agravada quando se leva em conta que, no próximo ano, o salário mínimo será aumentado em cerca de 14% justamente para as famílias mais endividadas, que sacam sobre o futuro sem levar em conta que o plano de ter casa própria justificaria, na verdade, um aumento da poupança.
Existem outras, entre as quais me incluo, que pretendem ver um pouco além do que nos oferecem políticos, economistas irresponsáveis e outros aventureiros.
Sempre se deve ver um pouco mais longe do que a conjuntura imediata...
É o que nos oferece este editorial:
Governo e política salarial estimulam a inadimplência
Editorial - O Estado de S.Paulo
18 de junho de 2011
Nas últimas semanas aumentou bastante a inadimplência, sinal de excesso de demanda, renda insuficiente e endividamento além da renda. O mais urgente desafio para o Brasil, hoje, é aumentar a poupança, tanto a do governo quanto a das famílias, isto é, reduzir o consumo que o governo de Lula estimulou por diversos meios, como o crédito em consignação, a expansão do crédito subsidiado e a redução da taxa de juros - embora ela ainda seja muito alta, em grande parte por causa da poupança insuficiente.
Apesar desse quadro, podemos considerar que a economia brasileira na realidade estimula a inadimplência, que está mais elevada em razão de uma política habitacional que criou um endividamento suplementar, que poderia ser positivo se fosse acompanhado por medidas que restringissem as vendas a prestações e o uso dos cartões de crédito.
O estímulo à inadimplência tem, no momento, duas fontes principais: a política de gastos do governo e a perspectiva de aumentos salariais generosos já neste ano - e, mais ainda, a perspectiva de um aumento maior no próximo ano sem nenhuma justificativa vinculada a um aumento paralelo da produtividade.
O governo federal está prevendo para este ano um aumento de 10% das suas receitas e considera que poderá aumentar seus gastos numa proporção ligeiramente inferior à elevação das receitas, porém muito acima do crescimento do PIB. Nessa situação, o País não eleva sua poupança interna e até recorre à poupança externa. Não aparece uma decisão firme de conter realmente os dispêndios para se obter poupança. Não há dúvida de que as famílias contam, inconscientemente, com o aumento dos gastos governamentais que têm um papel importante na liquidez da economia. Assim, mantêm seus gastos apostando numa melhora futura que lhes permitirá honrar seus atrasados.
A política salarial, num clima de quase pleno emprego, tem efeito ainda mais nocivo, pois leva as famílias a não se preocupar muito com as suas dívidas, que pretendem saldar por meio dos aumentos que receberão neste ano, fugindo a qualquer preocupação com o futuro e sem pensar muito nos efeitos inflacionários desses reajustes, que, na realidade, reduzem o poder aquisitivo. A perspectiva é agravada quando se leva em conta que, no próximo ano, o salário mínimo será aumentado em cerca de 14% justamente para as famílias mais endividadas, que sacam sobre o futuro sem levar em conta que o plano de ter casa própria justificaria, na verdade, um aumento da poupança.
Celebrando o segredo e a impunidade: uma mania em certos circulos...
Não sei se outras pessoas admitem ser chanadas de idiotas. Eu não admito. Mas admito minha total falta de poder para mudar o que me parece ser uma agressão imbecil à minha inteligência.
O governo está dizendo que eu não sou capaz de controlar o que o governo faz, e que eu faria melhor ficando quieto enquanto ele gasta o meu dinheiro, aquele que eu ganho com o meu trabalho e que ele arrecada por impostos diretos, indiretos, contribuições, taxas e um sem número de outras fórmulas usadas para extorquir dinheiro dos brasileiros.
O governo está pedindo que eu seja um idiota calado, o que me recuso a ser.
Como disse, e repito, não tenho poderes para impedir isso. Acredito que a oposição, ou brasileiros dignos que trabalham nessa área, podem, devem, na verdade, impugnar essa legislação celerada do governo que lhe permite gastar dinheiro sem controle e sem prestar contas.
Não é possível fazer a toda uma nação de idiota, chamar-nos a todos de imbecis.
Não admito isso, mas a única coisa que posso fazer, no momento, é protestar por este modesto instrumento, e tornar outros leitores conscientes de que o governo pretende chamá-los de idiotas e usar como sabe o seu dinheiro, com a repetição de tudo aquilo que sabemos que acontece quando se trata de dinheiro público e hordas, enxames, ratazanas de sugadores contumazes dos recursos coletivos. A mim não me enganam...
Paulo Roberto de Almeida
Sigilo para a bandalheira
Editorial - O Estado de S.Paulo
17 de junho de 2011
Se fosse permitido brincar com coisa séria, poderia se dizer que o governo ganhou a final de um campeonato com um gol de mão, em impedimento, depois dos acréscimos. É a comparação que ocorre diante da aprovação, tarde da noite de anteontem, do texto básico da Medida Provisória (MP) 527, que institui regras especiais para a realização de obras e serviços relacionados com a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Ou, no jargão oficial, o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC). O texto afinal vitorioso foi apoiado por 272 deputados; outros 76 votaram contra e 3 se abstiveram.
Desde o ano passado, o Planalto vinha tentando driblar os dispositivos da Lei 8.666, que regulamenta as licitações oficiais, a pretexto de assegurar a modernização, a toque de caixa, da negligenciada infraestrutura nacional, para o País não passar vergonha nos dois maiores eventos esportivos do globo. Na quinta tentativa de legislar sobre a matéria no bojo de outras propostas, o governo terminou por alojá-la na MP que trata da criação da Secretaria de Aviação Civil. A oposição insistiu, com bons motivos, para que o assunto fosse objeto de um projeto específico. Mas, determinado a mostrar força e serviço depois da paralisia provocada pelo escândalo Palocci, o Planalto deu as costas à alternativa.
Já para a base aliada não faltaram concessões. É o caso da inclusão de aeroportos em capitais a 350 quilômetros de uma sede da Copa no novo regime de obras. Originalmente, o tratamento especial se restringia às cidades-sede. Além disso, esses municípios poderão tomar empréstimos até 2013 sem levar em conta seu limite de endividamento. Mas isso ainda é detalhe perto das facilidades que compõem o RDC. A principal delas desobriga as empresas interessadas de apresentar o projeto básico da empreitada antes da licitação. A MP chama isso de "contratação integrada". O nome mais adequado seria "contratação no escuro".
O governo alega que as contratadas não poderão fazer aditivos para aumentar o preço que pediram no momento da concorrência. Mas não parece excluída a hipótese de o governo aumentar até quanto bem entender o valor de um contrato. Na Lei de Licitações, o teto varia de 25% (no caso de obras novas) a 50% (quando se tratar de reformas). Se assim é, uma porta se fecha enquanto outra se escancara. Mas o gol de placa da MP - gol contra o dever elementar do setor público de dizer sem subterfúgios o que faz com o dinheiro do contribuinte - é a cláusula que livra o governo de informar à sociedade quanto pretendia gastar com determinada obra ou serviço. É a desfaçatez do orçamento secreto.
Assim como o contratado não precisou fazer um projeto para vencer a licitação, o contratante (União, Estado ou município) poderá ocultar o valor que estava disposto a desembolsar. No limite, o País ficará sem saber se a Copa custou menos ou mais do que o previsto - e por quê. Na primeira versão desse verdadeiro habeas corpus preventivo para a bandalheira, o governo ainda aceitava que os órgãos fiscalizadores, como os Tribunais de Contas, poderiam exigir informações sobre as importâncias em jogo a qualquer momento - antes ou depois da licitação. E poderiam também divulgar os dados recebidos. O Planalto deve ter concluído, delubianamente, que "transparência assim já é burrice".
E, na undécima hora, baixou as persianas por completo. Os órgãos de controle não só perderam a prerrogativa de se manter informados em qualquer etapa da obra - o governo é que decidirá o que lhes repassar e quando -, como ainda ficarão proibidos de tornar pública a documentação obtida. Atribui-se à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o argumento de que a Constituição admite o sigilo quando do interesse do Estado e da sociedade. É tratar os brasileiros como um ajuntamento de pascácios. O único interesse que essa obscenidade preservará será o da corrupção. O sigilo impedirá um Tribunal de Contas de instruir um processo em casos suspeitos.
A votação da MP não está concluída. A Câmara ficou de deliberar no próximo dia 28 sobre os destaques acrescidos ao texto. Quem sabe será possível então torná-lo um pouco menos acintoso.
O governo está dizendo que eu não sou capaz de controlar o que o governo faz, e que eu faria melhor ficando quieto enquanto ele gasta o meu dinheiro, aquele que eu ganho com o meu trabalho e que ele arrecada por impostos diretos, indiretos, contribuições, taxas e um sem número de outras fórmulas usadas para extorquir dinheiro dos brasileiros.
O governo está pedindo que eu seja um idiota calado, o que me recuso a ser.
Como disse, e repito, não tenho poderes para impedir isso. Acredito que a oposição, ou brasileiros dignos que trabalham nessa área, podem, devem, na verdade, impugnar essa legislação celerada do governo que lhe permite gastar dinheiro sem controle e sem prestar contas.
Não é possível fazer a toda uma nação de idiota, chamar-nos a todos de imbecis.
Não admito isso, mas a única coisa que posso fazer, no momento, é protestar por este modesto instrumento, e tornar outros leitores conscientes de que o governo pretende chamá-los de idiotas e usar como sabe o seu dinheiro, com a repetição de tudo aquilo que sabemos que acontece quando se trata de dinheiro público e hordas, enxames, ratazanas de sugadores contumazes dos recursos coletivos. A mim não me enganam...
Paulo Roberto de Almeida
Sigilo para a bandalheira
Editorial - O Estado de S.Paulo
17 de junho de 2011
Se fosse permitido brincar com coisa séria, poderia se dizer que o governo ganhou a final de um campeonato com um gol de mão, em impedimento, depois dos acréscimos. É a comparação que ocorre diante da aprovação, tarde da noite de anteontem, do texto básico da Medida Provisória (MP) 527, que institui regras especiais para a realização de obras e serviços relacionados com a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. Ou, no jargão oficial, o Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC). O texto afinal vitorioso foi apoiado por 272 deputados; outros 76 votaram contra e 3 se abstiveram.
Desde o ano passado, o Planalto vinha tentando driblar os dispositivos da Lei 8.666, que regulamenta as licitações oficiais, a pretexto de assegurar a modernização, a toque de caixa, da negligenciada infraestrutura nacional, para o País não passar vergonha nos dois maiores eventos esportivos do globo. Na quinta tentativa de legislar sobre a matéria no bojo de outras propostas, o governo terminou por alojá-la na MP que trata da criação da Secretaria de Aviação Civil. A oposição insistiu, com bons motivos, para que o assunto fosse objeto de um projeto específico. Mas, determinado a mostrar força e serviço depois da paralisia provocada pelo escândalo Palocci, o Planalto deu as costas à alternativa.
Já para a base aliada não faltaram concessões. É o caso da inclusão de aeroportos em capitais a 350 quilômetros de uma sede da Copa no novo regime de obras. Originalmente, o tratamento especial se restringia às cidades-sede. Além disso, esses municípios poderão tomar empréstimos até 2013 sem levar em conta seu limite de endividamento. Mas isso ainda é detalhe perto das facilidades que compõem o RDC. A principal delas desobriga as empresas interessadas de apresentar o projeto básico da empreitada antes da licitação. A MP chama isso de "contratação integrada". O nome mais adequado seria "contratação no escuro".
O governo alega que as contratadas não poderão fazer aditivos para aumentar o preço que pediram no momento da concorrência. Mas não parece excluída a hipótese de o governo aumentar até quanto bem entender o valor de um contrato. Na Lei de Licitações, o teto varia de 25% (no caso de obras novas) a 50% (quando se tratar de reformas). Se assim é, uma porta se fecha enquanto outra se escancara. Mas o gol de placa da MP - gol contra o dever elementar do setor público de dizer sem subterfúgios o que faz com o dinheiro do contribuinte - é a cláusula que livra o governo de informar à sociedade quanto pretendia gastar com determinada obra ou serviço. É a desfaçatez do orçamento secreto.
Assim como o contratado não precisou fazer um projeto para vencer a licitação, o contratante (União, Estado ou município) poderá ocultar o valor que estava disposto a desembolsar. No limite, o País ficará sem saber se a Copa custou menos ou mais do que o previsto - e por quê. Na primeira versão desse verdadeiro habeas corpus preventivo para a bandalheira, o governo ainda aceitava que os órgãos fiscalizadores, como os Tribunais de Contas, poderiam exigir informações sobre as importâncias em jogo a qualquer momento - antes ou depois da licitação. E poderiam também divulgar os dados recebidos. O Planalto deve ter concluído, delubianamente, que "transparência assim já é burrice".
E, na undécima hora, baixou as persianas por completo. Os órgãos de controle não só perderam a prerrogativa de se manter informados em qualquer etapa da obra - o governo é que decidirá o que lhes repassar e quando -, como ainda ficarão proibidos de tornar pública a documentação obtida. Atribui-se à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, o argumento de que a Constituição admite o sigilo quando do interesse do Estado e da sociedade. É tratar os brasileiros como um ajuntamento de pascácios. O único interesse que essa obscenidade preservará será o da corrupção. O sigilo impedirá um Tribunal de Contas de instruir um processo em casos suspeitos.
A votação da MP não está concluída. A Câmara ficou de deliberar no próximo dia 28 sobre os destaques acrescidos ao texto. Quem sabe será possível então torná-lo um pouco menos acintoso.
Contra a divisao politica do Brasil: uma simples homenagem
Certas pessoas, em especial certos políticos, só conseguem viver, e alguns até prosperar, semeando a cizânia, a divisão, a oposição, entre pessoas, entre as classes (ou o que lhes parecer ser uma sociedade dividida em classes), entre partidos, enfim, categorias inteiras de cidadãos divididos.
Já se viu muito disso aqui no Brasil e em certos países vizinhos: é aquela coisa do "nós e eles", do "povo e a elites", dos "pobres e ricos", sempre contra, sempre em contradições, sempre em posturas opostas dos "bonzinhos" e "malvados", dos "virtuosos" e dos "perversos", enfim, uma maneira de ganhar dividindo, fragmentando, esquartejando, denegrindo os outros para poder realçar suas "qualidades" (muitas vezes falt de).
Não sou especial admirador dos supostos "grandes homens": todos tem seus motivos, suas fraquezas, suas ambições. Muitos se lançam na vida política por vaidade, mais do que por desejo sincero de ajudar o país e a sociedade. Mas alguns acabam fazendo mais bem do que mal, por possuírem melhores
qualidades pessoais e algumas noções de administração. Outros pensam fazer o bem, e acabam provocando problemas que vão se refletir mais adiante, ainda que possam trazer benefícios no curto prazo. Se eles ainda tentam dividir a sociedade, para promover seus objetivos pessoais, então, o mal que fazem é incomensurável. Mas isso só se pode perceber depois...
Não creio que se deva ser reverencial a FHC, mas concordo em que ele foi um dos melhores presidentes que tivemos, talvez não o melhor (pois isso depende de um julgamento mais ponderado, e objetivo), mas certamente um dos melhores, mais responsáveis, em todo caso.
Quanto a seu sucessor, um julgamento objetivo ainda não foi feito. Mas ele será feito, inclusive por mim, quando a ocasião for conveniente.
Minha modesta homenagem, e minha advertência estão feitas...
Paulo Roberto de Almeida
FHC, o presidente mais importante da história do Brasil, faz 80 anos hoje
Reinaldo Azevedo, 18/06/2011
O Brasil teve dois presidentes da República realmente fundamentais para a sua história: Getúlio Vargas e Fernando Henrique Cardozo. O primeiro descobriu o poder do estado na definição dos rumos de um país; o segundo, o poder da sociedade. Essas coisas não são um campeonato, mas, se eu tivesse de escolher, é evidente que ficaria com FHC. Com ele, não só o Brasil criou os marcos fundamentais para ocupar um lugar de destaque entre as economias emergentes como viu avançar o controle democrático do poder e do estado.
Na sexta-feira, dia 10, estive na Sala São Paulo, na festa que comemorou os seus 80 anos. FHC está de bem com a vida, feliz, ciente do seu legado e atento aos desafios presentes, com a lucidez de sempre. Fez uma brevíssima saudação aos convidados, exaltando, uma vez mais, a tolerância, a civilidade e a alegria de viver. Tendo prestado um enorme serviço aos brasileiros e ao Brasil, ele nos lembra que podemos, sim, ter um bom futuro.
Curiosamente, ou até por isto, o mais importante presidente da nossa história sofreu um tentativa de desconstrução inédita, com uma virulência como jamais se viu. Nem mesmo a ditadura avançou contra a herança do regime deposto pela “revolução” com a violência retórica com que Luiz Inácio Lula da Silva atacou o seu antecessor — nada menos do que o líder que havia posto fim ao ciclo da superinflação, que havia estabelecido os fundamentos do equilíbrio macroeconômico, que havia vencido alguns entraves históricos ao desenvolvimento. Não só isso: criou e consolidou as bases dos programas sociais no país, que, bem…, o Lula de oposição, ele sim!, chamava de “esmola”, o que está documentado em vídeo. O Apedeuta referia-se aos programas reunidos no Bolsa Família.
Oito anos de ataques implacáveis, sustentados pela mais poderosa máquina de propaganda jamais montada no país! Lula contou, ainda, com o auxílio pressuroso de setores da imprensa e do colunismo adesista, que se referiam — e alguns o fazem até agora — à “privataria” da era tucana, à “ruína” do governo FHC, ao “neoliberalismo” e a fantasias várias para tentar minimizar o papel definidor que o “homem do Real” teve na história do país.
Até ontem à noite, que se soubesse, Lula ainda não havia dado os parabéns àquele que tem a pretensão de ter como rival. Talvez não o faça. O misto de arrogância e insegurança intelectual do petista o impede de reconhecer a obra alheia, a grandeza alheia e até a gentileza alheia. Só conhece a prepotência e a subserviência. Não podendo se impor ao antecessor sob qualquer critério que se queira, então se sente diminuído — e, por essa razão, ataca.
Lula e o PT precisavam criar a farsa da ruptura com o passado para que seu projeto ganhasse identidade. Em certa medida e por um bom tempo, foram bem-sucedidos, ficando para a história o papel de fazer justiça a FHC, o que, de certo modo, já começou a acontecer, mas não sem revelar, contraditoriamente, um traço de morbidez do processo político brasileiro. Explico daqui a pouquinho.
Qualquer reconstituição minimamente honesta da história do país dos últimos 16 anos há de distinguir o homem que quebrou paradigmas e fundou a novidade daquele que teve, sim, o mérito de não tentar surfar contra a onda; há de distinguir o reformador fundamental do estado daquele que o submeteu, em muitos aspectos, a uma involução; há de distinguir o que atuou de olho no futuro daquele que buscou reescrever o passado. FHC sabe que lugar há de lhe reservar a história. E Lula também. E só por isso o tucano é capaz de reconhecer méritos no governo do petista, mas o petista jamais será capaz de reconhecer méritos no governo do tucano.
Em entrevista ao Correio Braziliense, FHC especulou, com algum humor, que Lula talvez tenha algum “problema psicológico” com ele. Tem, sim!, e já escrevi a respeito. Uma história sentimental do petista vai revelar o homem que se construiu eliminando os que o antecederam.
No sindicato, destruiu a velha-guarda na qual se ancorou para subir; no movimento sindical nacional, esmagou antigas lideranças para se tornar o grande líder; na esquerda, tratou com menosprezo ícones do pré-64, como Leonel Brizola (que o chamava de “sapo barbudo”) e Miguel Arraes; no próprio PT, desmoralizou todos aqueles que, ainda que minimamente, ousaram desafiá-lo. Não por acaso, no filme hagiográfico “O Filho do Brasil”, permitiu que o “pai” — refiro-me à entidade freudiana — fosse morto uma vez mais. Lula só sabe existir destruindo. Sua identidade estava, em sua cabeça ao menos, em ser um anti-FHC. De maneira escancarada, sempre fez questão de opor a sua ignorância à sabedoria do outro, destacando que ignorância é força. O esforço, no entanto, e já há sinais evidentes disso, vai se revelando inútil. À medida que o tempo passa, a obra de FHC se agiganta.
Estado mórbido
Aqui e ai já se começa a fazer justiça a FHC — de modo mais acentuado depois que a presidente Dilma Rousseff destacou o papel do tucano na estabilidade econômica e seu espírito democrático. Pois é… A mensagem da presidente parece ter, sei lá, destravado as consciências ou, ao menos, liberado setores da imprensa para reconhecer o óbvio. “Se até Dilma está dizendo, então deve ser mesmo verdade…” A “PeTite aguda” é uma doença do espírito que subordina a inteligência a comandos puramente ideológicos, a despeito dos fatos. É um estado mórbido — e o principal sintoma desse mal é a falta de independência.
Mas deixemos essa gente pra lá. FHC faz 80 anos. Vida longa àquele que nos libertou da condenação ao atraso e soube enxergar, contra a metafísica então influente da política brasileira, que a chave dessa libertação estava em pôr mais sociedade no estado, em vez de mais estado na sociedade.
Parabéns, presidente Fernando Henrique Cardoso!
Já se viu muito disso aqui no Brasil e em certos países vizinhos: é aquela coisa do "nós e eles", do "povo e a elites", dos "pobres e ricos", sempre contra, sempre em contradições, sempre em posturas opostas dos "bonzinhos" e "malvados", dos "virtuosos" e dos "perversos", enfim, uma maneira de ganhar dividindo, fragmentando, esquartejando, denegrindo os outros para poder realçar suas "qualidades" (muitas vezes falt de).
Não sou especial admirador dos supostos "grandes homens": todos tem seus motivos, suas fraquezas, suas ambições. Muitos se lançam na vida política por vaidade, mais do que por desejo sincero de ajudar o país e a sociedade. Mas alguns acabam fazendo mais bem do que mal, por possuírem melhores
qualidades pessoais e algumas noções de administração. Outros pensam fazer o bem, e acabam provocando problemas que vão se refletir mais adiante, ainda que possam trazer benefícios no curto prazo. Se eles ainda tentam dividir a sociedade, para promover seus objetivos pessoais, então, o mal que fazem é incomensurável. Mas isso só se pode perceber depois...
Não creio que se deva ser reverencial a FHC, mas concordo em que ele foi um dos melhores presidentes que tivemos, talvez não o melhor (pois isso depende de um julgamento mais ponderado, e objetivo), mas certamente um dos melhores, mais responsáveis, em todo caso.
Quanto a seu sucessor, um julgamento objetivo ainda não foi feito. Mas ele será feito, inclusive por mim, quando a ocasião for conveniente.
Minha modesta homenagem, e minha advertência estão feitas...
Paulo Roberto de Almeida
FHC, o presidente mais importante da história do Brasil, faz 80 anos hoje
Reinaldo Azevedo, 18/06/2011
O Brasil teve dois presidentes da República realmente fundamentais para a sua história: Getúlio Vargas e Fernando Henrique Cardozo. O primeiro descobriu o poder do estado na definição dos rumos de um país; o segundo, o poder da sociedade. Essas coisas não são um campeonato, mas, se eu tivesse de escolher, é evidente que ficaria com FHC. Com ele, não só o Brasil criou os marcos fundamentais para ocupar um lugar de destaque entre as economias emergentes como viu avançar o controle democrático do poder e do estado.
Na sexta-feira, dia 10, estive na Sala São Paulo, na festa que comemorou os seus 80 anos. FHC está de bem com a vida, feliz, ciente do seu legado e atento aos desafios presentes, com a lucidez de sempre. Fez uma brevíssima saudação aos convidados, exaltando, uma vez mais, a tolerância, a civilidade e a alegria de viver. Tendo prestado um enorme serviço aos brasileiros e ao Brasil, ele nos lembra que podemos, sim, ter um bom futuro.
Curiosamente, ou até por isto, o mais importante presidente da nossa história sofreu um tentativa de desconstrução inédita, com uma virulência como jamais se viu. Nem mesmo a ditadura avançou contra a herança do regime deposto pela “revolução” com a violência retórica com que Luiz Inácio Lula da Silva atacou o seu antecessor — nada menos do que o líder que havia posto fim ao ciclo da superinflação, que havia estabelecido os fundamentos do equilíbrio macroeconômico, que havia vencido alguns entraves históricos ao desenvolvimento. Não só isso: criou e consolidou as bases dos programas sociais no país, que, bem…, o Lula de oposição, ele sim!, chamava de “esmola”, o que está documentado em vídeo. O Apedeuta referia-se aos programas reunidos no Bolsa Família.
Oito anos de ataques implacáveis, sustentados pela mais poderosa máquina de propaganda jamais montada no país! Lula contou, ainda, com o auxílio pressuroso de setores da imprensa e do colunismo adesista, que se referiam — e alguns o fazem até agora — à “privataria” da era tucana, à “ruína” do governo FHC, ao “neoliberalismo” e a fantasias várias para tentar minimizar o papel definidor que o “homem do Real” teve na história do país.
Até ontem à noite, que se soubesse, Lula ainda não havia dado os parabéns àquele que tem a pretensão de ter como rival. Talvez não o faça. O misto de arrogância e insegurança intelectual do petista o impede de reconhecer a obra alheia, a grandeza alheia e até a gentileza alheia. Só conhece a prepotência e a subserviência. Não podendo se impor ao antecessor sob qualquer critério que se queira, então se sente diminuído — e, por essa razão, ataca.
Lula e o PT precisavam criar a farsa da ruptura com o passado para que seu projeto ganhasse identidade. Em certa medida e por um bom tempo, foram bem-sucedidos, ficando para a história o papel de fazer justiça a FHC, o que, de certo modo, já começou a acontecer, mas não sem revelar, contraditoriamente, um traço de morbidez do processo político brasileiro. Explico daqui a pouquinho.
Qualquer reconstituição minimamente honesta da história do país dos últimos 16 anos há de distinguir o homem que quebrou paradigmas e fundou a novidade daquele que teve, sim, o mérito de não tentar surfar contra a onda; há de distinguir o reformador fundamental do estado daquele que o submeteu, em muitos aspectos, a uma involução; há de distinguir o que atuou de olho no futuro daquele que buscou reescrever o passado. FHC sabe que lugar há de lhe reservar a história. E Lula também. E só por isso o tucano é capaz de reconhecer méritos no governo do petista, mas o petista jamais será capaz de reconhecer méritos no governo do tucano.
Em entrevista ao Correio Braziliense, FHC especulou, com algum humor, que Lula talvez tenha algum “problema psicológico” com ele. Tem, sim!, e já escrevi a respeito. Uma história sentimental do petista vai revelar o homem que se construiu eliminando os que o antecederam.
No sindicato, destruiu a velha-guarda na qual se ancorou para subir; no movimento sindical nacional, esmagou antigas lideranças para se tornar o grande líder; na esquerda, tratou com menosprezo ícones do pré-64, como Leonel Brizola (que o chamava de “sapo barbudo”) e Miguel Arraes; no próprio PT, desmoralizou todos aqueles que, ainda que minimamente, ousaram desafiá-lo. Não por acaso, no filme hagiográfico “O Filho do Brasil”, permitiu que o “pai” — refiro-me à entidade freudiana — fosse morto uma vez mais. Lula só sabe existir destruindo. Sua identidade estava, em sua cabeça ao menos, em ser um anti-FHC. De maneira escancarada, sempre fez questão de opor a sua ignorância à sabedoria do outro, destacando que ignorância é força. O esforço, no entanto, e já há sinais evidentes disso, vai se revelando inútil. À medida que o tempo passa, a obra de FHC se agiganta.
Estado mórbido
Aqui e ai já se começa a fazer justiça a FHC — de modo mais acentuado depois que a presidente Dilma Rousseff destacou o papel do tucano na estabilidade econômica e seu espírito democrático. Pois é… A mensagem da presidente parece ter, sei lá, destravado as consciências ou, ao menos, liberado setores da imprensa para reconhecer o óbvio. “Se até Dilma está dizendo, então deve ser mesmo verdade…” A “PeTite aguda” é uma doença do espírito que subordina a inteligência a comandos puramente ideológicos, a despeito dos fatos. É um estado mórbido — e o principal sintoma desse mal é a falta de independência.
Mas deixemos essa gente pra lá. FHC faz 80 anos. Vida longa àquele que nos libertou da condenação ao atraso e soube enxergar, contra a metafísica então influente da política brasileira, que a chave dessa libertação estava em pôr mais sociedade no estado, em vez de mais estado na sociedade.
Parabéns, presidente Fernando Henrique Cardoso!
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