EU SOU CONTRA a reforma política que os políticos querem fazer. Talvez até por princípio, pois sabia que boa coisa não iria sair daí. Mas não sabia que o mais podre poderia sair de projetos absolutamente pervertidos que políticos pervertidos podem apresentar.
SOU CONTRA, por várias razões, inclusive por algumas que vão discutidas neste texto de Reinaldo Azevedo.
Paulo Roberto de Almeida
O PT quer agora roubar também o seu direito ao voto. O resto, eles já levaram! Relator de reforma política quer ser um ladrão da cidadania! VOTO DISTRITAL NELES!!!
Reinaldo Azevedo, 26/08/2011
Eles roubam o nosso dinheiro.
Eles roubam as nossas crenças.
Eles roubam as nossas convicções.
Eles roubam a nossa paciência.
Eles roubam a nossa vontade.
Eles roubam a nossa disposição para a luta.
Não havendo mais nada a levar, tentam agora tirar o nosso direito de saber em quem estamos votando. Cassaram o nosso bolso. Cassaram a nossa esperança. Querem agora cassar o que sobrou da nossa cidadania. O anteprojeto apresentado pelo deputado petista Henrique Fontana (PT-RS) para a reforma política, apresentado à Comissão Especial, é uma das coisas mais asquerosas pensadas por aquelas bandas. Além de Fontana ter proposto o financiamento público de campanha — MAS MANTENDO O FINANCIAMENTO PRIVADO; JÁ EXPLICO —, inventou uma estrovenga que poderia ser chamada de “VOTO PROPORCIONAL MISTO”.
Se o voto fosse uma carteira, Fontana seria um punguista. Como o voto é uma evidência de cidadania, Fontana se apresenta como um ladrão de cidadania. Por quê?
Os sistemas
Há três sistemas para a composição da Câmara Federal (Assembléias e Câmaras de Vereadores). O vigente no Brasil é o proporcional. Grosso modo, somam-se todos os votos dados aos candidatos de um partido, vê-se a porcentagem obtida pela legenda ou coligação, e estão eleitos os candidatos mais votados de acordo com o número de cadeiras obtidas. Principal defeito: “puxadores” de voto, como os Tiriricas da vida, acabam elegendo os sem-voto. O sistema estimula a invasão da política pelas celebridades.
Existe o sistema que defendo - que é o distrital puro: os estados (e também as cidades nas eleições municipais) são divididos em distritos, e os partidos apresentam candidatos para essas áreas; entendo ser o melhor, embora não seja perfeito. Falarei mais a respeito daqui a pouco.
E existe o distrital-misto: o eleitor vota duas vezes; escolhe tanto o parlamentar do distrito (metade dos assentos é ocupada por eles) como vota num partido, que definiu previamente uma lista de nomes. São Paulo, por exemplo, elege 70 deputados federais. Haveria 35 distritais e 35 saídos do voto proporcional. Se o Partido X obteve 20% da cadeiras, elegerá sete parlamentares por esse critério (além, claro, dos distritais que eventualmente eleger): assumirão as vagas os sete primeiros da lista. O principal defeito é o voto em lista fechada, que só serve para fortalecer a burocracia partidária, não a vida partidária.
O que fez Santana? Há trechos do seu texto aqui. Nas eleições proporcionais (Câmara dos Deputados, Assembléias e Câmaras de Vereadores), o eleitor também teria de votar duas vezes: tanto votaria num nome como numa lista. Só que não existe distrito nenhum! Os dois votos servem ao critério proporcional. O Artigo 107 do anteprojeto é explícito:
“Art. 107. Determina-se para cada partido ou coligação o quociente partidário dividindo-se pelo quociente eleitoral a soma aritmética dos votos de legenda atribuídos à lista partidária preordenada e dos votos nominais dados aos candidatos inscritos na mesma lista, desprezada a fração.”
Vale dizer: A PROPOSTA DE FONTANA MANTÉM, E ATÉ EXACERBA O ELEMENTO MAIS NEFASTO DO VOTO PROPORCIONAL, QUE É O FENÔMENO DAS CELEBRIDADES QUADRÚPEDES PUXADORAS DE VOTO.
Como sabotagem pouca à cidadania do eleitor é bobagem, ele quer que metade das cadeiras obtidas por um partido saia daquela lista, que tem tudo para ser mantida fora do alcance do eleitor, já que os “puxadores de voto” se encarregariam de fazer o trabalho de propaganda partidária. E como distribuir as cadeiras entre os eleitos pelo critério nominal e os da lista? Fontana teve uma idéia, explicitada no Artigo 108
“III - a lista final será organizada por meio da alternância dos nomes dos candidatos, segundo as regras dispostas nos incisos I e II deste artigo, começando pela lista nominal;”
Entenderam? Entra um nominal, um da lista, um nominal, um da lista… Até o partido atingir o número. Candidatos com milhares de voto ficarão chupando o dedo, e os sem-voto acabarão “eleitos” — se é que a palavra é essa.
O voto puramente proporcional perverte a democracia.
O voto em lista perverte a democracia.
Fontana, o petista, teve uma idéia: juntar as duas perversões.
Afinal, ele é um petista. Por trás dessa proposta magnífica, está a mente divinal de Luiz Inácio Apedeuta da Silva.
Voto distrital puro
Sim, existe o risco de essa barbaridade ser aprovada. Existe o risco efetivo de metade da Câmara dos Deputados, Assembléias e Cãmaras de Vereadores ser ocupada por valentes que não se elegeriam chefes de quarteirão, síndicos de prédio. O sistema proporcional, na forma como se apresenta hoje, transformou a representação num amontoado de lobistas e porta-vozes de corporações de ofício. Estão lá como procuradores dos interesses de setores e grupos organizados. E ASSIM É MESMO A GENTE SABENDO A CARA QUE ELES TÊM. IMAGINEM QUANDO NEM ISSO SOUBERMOS!
O voto distrital é o caminho possível para que vereadores, deputados estaduais e deputados federais passem a representar, de fato, a população. Hoje, temos os parlamentares dos sindicatos, os parlamentares da indústria, os parlamentares dos bancos, os parlamentares dos sem-terra, os parlamentares das mulheres, os parlamentares da religião… Precisamos ter os parlamentares da… POPULAÇÃO!
Eu já os convidei algumas vezes e o faço de novo: entrem na campanha “EU VOTO DISTRITAL”. Há um movimento colhendo assinaturas (clique aqui) em favor da proposta. O ideal seria que já se realizassem eleições segundo esse modelo no ano que vem. Mas não creio que haja tempo. Que seja em 2014, 2016, 2018… O importante é não abandonar a proposta. HENRIQUE FONTANA É A PROVA DE QUE ELES SEMPRE PODEM PIORAR O QUE JÁ NÃO PRESTA.
Financiamento público
Fontana achou que ainda não havia barbarizado o bastante. Além de ter resolvido enfiar a mão na nossa cidadania, também se dispõe a enfiar a mão no nosso bolso. Esse valente tinha redigido uma primeira proposta que previa apenas o financiamento público de campanha, proibindo doações de pessoas físicas e privadas. Sou contra, como sabem, porque acho que isso não impede o caixa dois — na verdade, estimula. Mas qual era o argumento que “eles” tinham?
Candidamente, diziam que, se o financiamento fosse público, diminuiria a dependência dos parlamentares de seus financiadores; não se veriam obrigados, depois, a pagar a conta com propostas do interesse dos patrocinadores. Também seria um desestímulo aos “recursos não-contabilizados” (by Delúbio Soares”: quando o sujeito é canalha, não é o financiamento público que vai fazê-lo deixar de ser. Mas vá lá… Era um argumento. Era errado, mas poderia ser honesto.
Errado e honesto? Então não serve!
Fontana mudou de idéia. Vejam o que está em seu anteprojeto no que diz respeito ao financiamento das campanhas:
“Art. 17. As despesas da campanha eleitoral serão realizadas sob a responsabilidade dos partidos, e financiadas exclusivamente com recursos do Fundo de Financiamento das Campanhas Eleitorais.
Art. 17-A. O Fundo de Financiamento das Campanhas Eleitorais (FFCE) será constituído por recursos do orçamento da União e por doações de pessoas físicas e jurídicas, na forma especificada neste artigo.
É isso aí. Além do financiamento privado, como é hoje — de pessoas físicas e jurídicas —, haveria também o público. O relator, então, decidiu somar aos “malefícios” de um modelo aos do outro: a tunga à nossa carteira. Lembro que o dinheiro público já irriga fartamente os partidos (por meio do Fundo Partidário) e as eleições, arcando com o custo do horário político gratuito e do horário eleitoral gratuito. Os dois nomes são estúpidos porque as legendas nada pagam ao sistema de radiodifusão, mas a União sim — ou seja, nós!
Essa proposta de Henrique Fontana é uma das coisas mais vergonhosas que já passaram pelo Congresso! Mobilize-se! Proteste! Acione as redes sociais! Informe-se mais sobre o voto distrital. Se, hoje, a política já se confunde com um lupanar, Fontana quer que ela se torne o bordel dos aproveitadores sem rosto.
Voto Distrital neles! Precisamos de políticos que tenham cara! E uma cara só!
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
O "marxismo" de Nouriel Roubini: como o "islamismo" do Papa, ou seja, NADA
Vacas sagradas, ou seja, pessoas que ganharam uma fama exagerada -- por vezes indevida, involuntária, ou até imerecida -- ganham um bônus-extra para falar bobagens. Ou seja, passam a ter o direito de dizer besteiras algumas vezes, e ainda assim a imprensa repercutirá, em vários casos com admiração e até certa aura de conhecimento ou de sapiência.
Acontece aos melhores intelectuais, artistas, economistas e outras personalidades que vivem sob a atenção da mídia. Microfones, cameras estão sempre prontos a registrar suas palavras, e alguns chegam até a expressar admiração, não importa a bobagem manifesta...
Bem, Nouriel Roubini já teve seu momento de atenção ao decretar uma crise atrás da outra, e afinal acabou acertando uma ou duas.
Agora ele acha que Marx estava certo, ao falar das contradições do capitalismo.
Bem, eu também consigo falar das incertezas do tempo e terei 150% de chance de acertar. Ou se disser que vamos ter uma nova crise dentro de alguns anos.
Empatei com ele?
Não sei, mas vamos ler este artigo mais sensato...
Paulo Roberto de Almeida
A fama marxista em Wall Street
Samuel Brittan
Valor Econômico, 26 de Agosto de 2011
Em meio a quase todas crises periódicas que afetam as economias mercantis, erguem-se vozes dizendo que "No fim das contas, Marx estava certo". Alguns anos atrás, Nicolas Sarkozy foi visto empunhando uma cópia de "Das Capital", enquanto nas últimas semanas gurus financeiros, entre eles Nouriel Roubini e George Magnus, escreveram artigos com referências ao pensador comunista.
Quando a recuperação acontece, a grita se dissipa, apenas para ressurgir na vez seguinte em que ocorre uma contração brusca. A primeira coisa errada no slogan é que ele tem pouco a ver com Karl Marx. Lembro-me de uma senhora, sob outros aspectos uma profissional extremamente inteligente que, quando indagada sobre por que era marxista, respondeu: "Eu fiquei entediada com os amigos de meu pai".
Marx sofreu nas mãos não apenas dos que distorceram interesseiramente seu pensamento, mas de críticos que o identificaram com a ditadura de Stalin ou mesmo com o regime de Mao Tsetung. É, evidentemente, absurdo culpar Marx, que viveu de 1818 a 1883, pelos crimes cometidos décadas após sua morte. Na verdade, o grande homem disse certa vez: "Seja lá que outra coisa eu possa ser, não sou um marxista". Muitos analistas sérios têm escrito sobre o que Marx quis dizer ou deve ter desejado dizer. Não sou um deles e minha desculpa principal para dar minha própria opinião extremamente seletiva é que nunca demonizei nem adorei esse homem.
O aspecto de Marx que originalmente me intrigou foi sua divisão da história após o fim da Idade das Trevas: feudalismo, capitalismo, socialismo e comunismo. Por socialismo, Marx entendia algo semelhante a uma versão extrema da antiga quarta cláusula do Partido Trabalhista britânico, que contemplava a propriedade pública de todos os meios de produção, de distribuição e de trocas. Mas comunismo não implicava nada semelhante a seu significado posterior. Era uma utopia na qual um dia de trabalho curto proveria todas as necessidades da sociedade e as pessoas ficariam livres para "caçar de manhã, pescar à tarde e discutir filosofia à noite". A visão de uma sociedade assim reteve no campo marxista alguns idealistas que, do contrário, poderiam ter abandonado a causa.
O sistema produz um fluxo cada vez maior de bens e serviços que uma população empobrecida, proletarizada não tinha condições de adquirir. A recente explosão do crédito deve-se, em parte, à estagnação dos salários reais, o que estimulou as pessoas a tomar empréstimos.
Eu considerei essa visão mais interessante do que a abordagem típica de historiadores ingleses, segundo a qual o objeto de seu estudo era apenas uma coisa após outra.
Entretanto, há muitos problemas na versão marxista. Será que o capitalismo começou nas repúblicas da Itália no século XV ou ainda não tivera início em muitas regiões da Europa onde a Revolução Industrial não se firmou efetivamente até um momento bem avançado do século XIX? E o que dizer sobre a Rússia, que ainda não tivera uma revolução capitalista, mas onde Marx tinha um número surpreendente de discípulos? Isso começou a preocupá-lo no fim de sua vida, quando ponderou se a Rússia poderia passar diretamente ao socialismo.
A importância de Marx para muitos socialistas está no fato de que ele lhes disponibilizou, a um só tempo, uma análise moral devastadora sobre o capitalismo e a profecia de que o capitalismo estava fadado a perecer. Em sua análise, o trabalhador passava, digamos, 10 horas por dia produzindo para si e as outras duas horas para seu empregador. A diferença entre o custo do trabalho (inclusive o dispendido com insumos) e o preço final ficou conhecida como "mais-valia" e caracterizada como uma medida de "exploração". Isso é, de longe, excessivamente simplista. Em toda sociedade, o preço dos produtos deve exceder os custos do trabalho em diferentes montantes para assegurar uma margem para cobrir investimentos, impostos e muito mais. O verdadeiro argumento ético não é contra a existência de um retorno sobre o capital, mas de que a propriedade do capital seja tão altamente concentrada.
O que Marx quer dizer com "as contradições do capitalismo"? Basicamente, que o sistema produz um fluxo cada vez maior de bens e serviços que uma população empobrecida proletarizada não tinha condições de adquirir. Uns 20 anos atrás, após o desmoronamento do sistema soviético, isso teria soado fora de moda. Mas o argumento convida um outro olhar, na esteira do aumento da concentração de riqueza e de renda. Com efeito, um ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Raghuram Rajan, atribuiu a recente explosão do crédito, em parte, à estagnação dos salários reais, o que estimulou as pessoas a tomar empréstimos.
Mas, mesmo que a análise esteja correta, o remédio está errado. A justificativa para uma redistribuição é ética. Se a única coisa de errado no capitalismo é insuficiente poder generalizado de compra, então, com certeza, o remédio é lançar dinheiro de helicópteros, conforme Milton Friedman. Para isso, não necessitamos tanto uma revolução política, mas sim intelectual, ou seja, a derrubada do fetiche do orçamento equilibrado.
Como sugere A J P Taylor em sua introdução do "Manifesto Comunista" (editora Penguin), o marxismo foi uma peculiaridade do mundo de língua alemã. Sua elaboração mais interessante veio de Rudolf Hilferding, um social-democrata austríaco cuja contribuição duradoura foi formulada em seu livro "Das Finanzkapital". Nele, Hilferding chamou a atenção para uma nova faceta sinistra, a ascensão de banqueiros e financistas por trás da crescente cartelização do sistema produtivo. Ele não previu a importância bem maior da massa de dinheiro artificial cruzando fronteiras, o que certamente é extremamente relevante, num momento em que os banqueiros centrais estão quebrando a cabeça sobre como reanimar a economia mundial.
Samuel Brittan é articulista do FT
============
Addendum a propósito de um comentário:
Não partilho da opinião que intelectuais não são responsáveis pelo uso que fazem de suas ideias. São sim.
Tratei desta questão neste texto:
952. “Sobre a responsabilidade dos intelectuais: devemos cobrar-lhes os efeitos práticos de suas prescrições teóricas?”, Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 105, fevereiro 2010, p. 149-159; ISSN: 1519-6186; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/9275/5252). Relação de Originais n. 2103.
Acontece aos melhores intelectuais, artistas, economistas e outras personalidades que vivem sob a atenção da mídia. Microfones, cameras estão sempre prontos a registrar suas palavras, e alguns chegam até a expressar admiração, não importa a bobagem manifesta...
Bem, Nouriel Roubini já teve seu momento de atenção ao decretar uma crise atrás da outra, e afinal acabou acertando uma ou duas.
Agora ele acha que Marx estava certo, ao falar das contradições do capitalismo.
Bem, eu também consigo falar das incertezas do tempo e terei 150% de chance de acertar. Ou se disser que vamos ter uma nova crise dentro de alguns anos.
Empatei com ele?
Não sei, mas vamos ler este artigo mais sensato...
Paulo Roberto de Almeida
A fama marxista em Wall Street
Samuel Brittan
Valor Econômico, 26 de Agosto de 2011
Em meio a quase todas crises periódicas que afetam as economias mercantis, erguem-se vozes dizendo que "No fim das contas, Marx estava certo". Alguns anos atrás, Nicolas Sarkozy foi visto empunhando uma cópia de "Das Capital", enquanto nas últimas semanas gurus financeiros, entre eles Nouriel Roubini e George Magnus, escreveram artigos com referências ao pensador comunista.
Quando a recuperação acontece, a grita se dissipa, apenas para ressurgir na vez seguinte em que ocorre uma contração brusca. A primeira coisa errada no slogan é que ele tem pouco a ver com Karl Marx. Lembro-me de uma senhora, sob outros aspectos uma profissional extremamente inteligente que, quando indagada sobre por que era marxista, respondeu: "Eu fiquei entediada com os amigos de meu pai".
Marx sofreu nas mãos não apenas dos que distorceram interesseiramente seu pensamento, mas de críticos que o identificaram com a ditadura de Stalin ou mesmo com o regime de Mao Tsetung. É, evidentemente, absurdo culpar Marx, que viveu de 1818 a 1883, pelos crimes cometidos décadas após sua morte. Na verdade, o grande homem disse certa vez: "Seja lá que outra coisa eu possa ser, não sou um marxista". Muitos analistas sérios têm escrito sobre o que Marx quis dizer ou deve ter desejado dizer. Não sou um deles e minha desculpa principal para dar minha própria opinião extremamente seletiva é que nunca demonizei nem adorei esse homem.
O aspecto de Marx que originalmente me intrigou foi sua divisão da história após o fim da Idade das Trevas: feudalismo, capitalismo, socialismo e comunismo. Por socialismo, Marx entendia algo semelhante a uma versão extrema da antiga quarta cláusula do Partido Trabalhista britânico, que contemplava a propriedade pública de todos os meios de produção, de distribuição e de trocas. Mas comunismo não implicava nada semelhante a seu significado posterior. Era uma utopia na qual um dia de trabalho curto proveria todas as necessidades da sociedade e as pessoas ficariam livres para "caçar de manhã, pescar à tarde e discutir filosofia à noite". A visão de uma sociedade assim reteve no campo marxista alguns idealistas que, do contrário, poderiam ter abandonado a causa.
O sistema produz um fluxo cada vez maior de bens e serviços que uma população empobrecida, proletarizada não tinha condições de adquirir. A recente explosão do crédito deve-se, em parte, à estagnação dos salários reais, o que estimulou as pessoas a tomar empréstimos.
Eu considerei essa visão mais interessante do que a abordagem típica de historiadores ingleses, segundo a qual o objeto de seu estudo era apenas uma coisa após outra.
Entretanto, há muitos problemas na versão marxista. Será que o capitalismo começou nas repúblicas da Itália no século XV ou ainda não tivera início em muitas regiões da Europa onde a Revolução Industrial não se firmou efetivamente até um momento bem avançado do século XIX? E o que dizer sobre a Rússia, que ainda não tivera uma revolução capitalista, mas onde Marx tinha um número surpreendente de discípulos? Isso começou a preocupá-lo no fim de sua vida, quando ponderou se a Rússia poderia passar diretamente ao socialismo.
A importância de Marx para muitos socialistas está no fato de que ele lhes disponibilizou, a um só tempo, uma análise moral devastadora sobre o capitalismo e a profecia de que o capitalismo estava fadado a perecer. Em sua análise, o trabalhador passava, digamos, 10 horas por dia produzindo para si e as outras duas horas para seu empregador. A diferença entre o custo do trabalho (inclusive o dispendido com insumos) e o preço final ficou conhecida como "mais-valia" e caracterizada como uma medida de "exploração". Isso é, de longe, excessivamente simplista. Em toda sociedade, o preço dos produtos deve exceder os custos do trabalho em diferentes montantes para assegurar uma margem para cobrir investimentos, impostos e muito mais. O verdadeiro argumento ético não é contra a existência de um retorno sobre o capital, mas de que a propriedade do capital seja tão altamente concentrada.
O que Marx quer dizer com "as contradições do capitalismo"? Basicamente, que o sistema produz um fluxo cada vez maior de bens e serviços que uma população empobrecida proletarizada não tinha condições de adquirir. Uns 20 anos atrás, após o desmoronamento do sistema soviético, isso teria soado fora de moda. Mas o argumento convida um outro olhar, na esteira do aumento da concentração de riqueza e de renda. Com efeito, um ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, Raghuram Rajan, atribuiu a recente explosão do crédito, em parte, à estagnação dos salários reais, o que estimulou as pessoas a tomar empréstimos.
Mas, mesmo que a análise esteja correta, o remédio está errado. A justificativa para uma redistribuição é ética. Se a única coisa de errado no capitalismo é insuficiente poder generalizado de compra, então, com certeza, o remédio é lançar dinheiro de helicópteros, conforme Milton Friedman. Para isso, não necessitamos tanto uma revolução política, mas sim intelectual, ou seja, a derrubada do fetiche do orçamento equilibrado.
Como sugere A J P Taylor em sua introdução do "Manifesto Comunista" (editora Penguin), o marxismo foi uma peculiaridade do mundo de língua alemã. Sua elaboração mais interessante veio de Rudolf Hilferding, um social-democrata austríaco cuja contribuição duradoura foi formulada em seu livro "Das Finanzkapital". Nele, Hilferding chamou a atenção para uma nova faceta sinistra, a ascensão de banqueiros e financistas por trás da crescente cartelização do sistema produtivo. Ele não previu a importância bem maior da massa de dinheiro artificial cruzando fronteiras, o que certamente é extremamente relevante, num momento em que os banqueiros centrais estão quebrando a cabeça sobre como reanimar a economia mundial.
Samuel Brittan é articulista do FT
============
Addendum a propósito de um comentário:
Não partilho da opinião que intelectuais não são responsáveis pelo uso que fazem de suas ideias. São sim.
Tratei desta questão neste texto:
952. “Sobre a responsabilidade dos intelectuais: devemos cobrar-lhes os efeitos práticos de suas prescrições teóricas?”, Espaço Acadêmico (vol. 9, n. 105, fevereiro 2010, p. 149-159; ISSN: 1519-6186; link: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/9275/5252). Relação de Originais n. 2103.
MDIC muda norma de aplicação antidumping (para pior, suponho...)
MDIC muda norma de aplicação antidumping
DCI, 26/08/2011
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) irá alterar o decreto que regulamenta os procedimentos relativos à aplicação de medidas antidumping. A medida faz parte do esforço do governo para reforçar a área de defesa comercial. O MDIC publicará hoje, no Diário Oficial da União, portaria abrindo consulta pública para colher sugestões das entidades empresariais para a revisão da norma. O decreto tem mais de 15 anos e precisa ser adequado à realidade atual do comércio exterior.
Bem, digamos que a "realidade atual" do comércio exterior brasileiro seja de perda de competitividade dos produtos brasileiros e crescimento potencial, ainda que setorial (ou seja, não atingindo o agronegócio) da defasagem entre importações e exportações, com possível decréscimo do superávit na balança comercial e eventual surgimento de algum déficit no futuro mediato.
Vocês acham que isso se deve à tal de "concorrência predatória" de produtos importados (leia-se chineses) ou ao chamado "custo Brasil". O que os chineses (ou os americanos e europeus) têm a ver com a nossa absurda carga tributários, nossos juros elevadíssimos, com o peso da nossa burocracia infernal, com os enormes gastos públicos inúteis (quando não contaminados por desperdício e corrupção), com o déficit orçamentário, com as estrada esburacadas e o custo das comunicações, enfim por todas as mazelas made in Brazil?
Vocês acham que um antidumping reforçado, ou seja, protecionista, vai resolver algum desses problemas?
Ganha um livro quem me provar que sim...
Paulo Roberto de Almeida
DCI, 26/08/2011
O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) irá alterar o decreto que regulamenta os procedimentos relativos à aplicação de medidas antidumping. A medida faz parte do esforço do governo para reforçar a área de defesa comercial. O MDIC publicará hoje, no Diário Oficial da União, portaria abrindo consulta pública para colher sugestões das entidades empresariais para a revisão da norma. O decreto tem mais de 15 anos e precisa ser adequado à realidade atual do comércio exterior.
Bem, digamos que a "realidade atual" do comércio exterior brasileiro seja de perda de competitividade dos produtos brasileiros e crescimento potencial, ainda que setorial (ou seja, não atingindo o agronegócio) da defasagem entre importações e exportações, com possível decréscimo do superávit na balança comercial e eventual surgimento de algum déficit no futuro mediato.
Vocês acham que isso se deve à tal de "concorrência predatória" de produtos importados (leia-se chineses) ou ao chamado "custo Brasil". O que os chineses (ou os americanos e europeus) têm a ver com a nossa absurda carga tributários, nossos juros elevadíssimos, com o peso da nossa burocracia infernal, com os enormes gastos públicos inúteis (quando não contaminados por desperdício e corrupção), com o déficit orçamentário, com as estrada esburacadas e o custo das comunicações, enfim por todas as mazelas made in Brazil?
Vocês acham que um antidumping reforçado, ou seja, protecionista, vai resolver algum desses problemas?
Ganha um livro quem me provar que sim...
Paulo Roberto de Almeida
O galã brega do Magreb e a dama de ferro do Imperio: ligações desamorosas...
Leio a manchete:
Kadafi escondia fotografias de Condoleezza Rice
Vejo a foto:
Sergey Ponomarev/AP
Álbum de fotos foi encontrado por rebeldes líbios ao entrarem no palácio de Muammar Kadafi
E fico imaginando como o ditador brega, com ar de Cauby Peixoto do deserto, imaginava coisas, no recesso de um de seus redutos secretos, em torno de sua admirada dama de ferro do império, quem sabe até pensando em afinidades extra-políticas e em vínculos perigosos.
Também fico pensando onde estará aquela "blonde plantureuse", a tal enfermeira ucraniana, que deveria dar de mamar ao ditador maluco em vista de seus atributos, digamos, portentosos...
Poupem a loira, rebeldes. Ela não tinha nada a ver com política...
Suas artes eram outras...
Paulo Roberto de Almeida
Kadafi escondia álbum de fotos de Condoleezza Rice em seu palácio
Efe, 26 de agosto de 2011 | 1h 04
Fotografias foram descobertas por rebeldes líbios; em entrevista cedida em 2007, líder líbio confessa se sentir orgulhoso por ela 'ser uma mulher negra de origem africana'
WASHINGTON - O líder líbio Muammar Kadafi escondia em seu palácio um álbum de fotos da ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice.
A imprensa deu destaque na quinta-feira, 25, para as fotografias de um álbum descoberto pelos rebeldes líbios ao entrar no palácio que revela que a paixão de Kadafi por Condoleezza ia além das palavras que já havia dedicado a ela em público.
Em uma entrevista à rede de televisão Al Jazeera em 2007 - um ano antes da visita histórica que a chefe da diplomacia americana fez à Líbia-, Kadafi declarou sua admiração pela americana.
"Admiro a forma como se reclina e dá ordens aos líderes árabes... Leezza, Leezza, Leezza. Gosto muito dela. Me sinto orgulhoso porque ela é uma mulher negra de origem africana", disse o ditador na ocasião.
No álbum, que alguns meios de comunicação compararam aos que um adolescente guarda de seu ídolo musical, podem ser vistas fotografias oficiais de Rice em eventos públicos, algumas em primeiríssimo plano.
Perguntada sobre a coleção de fotos do líder líbio, a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, reconheceu que não as viu, mas acredita que também não necessita fazê-lo "para definir como excêntrico e repulsivo o comportamento de Kadafi".
Em setembro de 2008, Condoleezza Rice realizou uma viagem oficial a Trípoli, a primeira de um secretário de Estado em 55 anos, depois que em 1953 o então titular desse cargo, John Foster Dulles, se encontrou com o rei líbio Idris.
Durante a visita, Kadafi rompeu o jejum do Ramadã para jantar com Condoleezza e presenteou a convidada com lembranças avaliadas em até US$ 212 mil.
Entre os presentes havia um anel com um diamante, um alaúde acompanhado de um DVD, um cadeado com uma foto de Kadafi no interior e uma cópia do "Livro Verde da Revolução" com uma dedicatória na qual o ditador expressava seu "respeito e admiração" por ela.
Muito mais discreta, Condoleezza entregou a Kadafi um prato com o selo dos EUA. Além disso, devido à estrita política do Departamento de Estado, a então secretária não pôde aceitar os presentes.
Segundo o jornal Huffington Post, Kadafi não é o único que tinha uma queda por Condoleezza: o ex-ministro de Relações Exteriores do Canadá, Peter McKay; o ex- ministro de Exteriores britânico, Jack Straw; e o ex-ministro de Relações Exteriores italiano, Massimo D'Alema, também sentiram mais que admiração pela política americana.
Kadafi escondia fotografias de Condoleezza Rice
Vejo a foto:
Sergey Ponomarev/AP
Álbum de fotos foi encontrado por rebeldes líbios ao entrarem no palácio de Muammar Kadafi
E fico imaginando como o ditador brega, com ar de Cauby Peixoto do deserto, imaginava coisas, no recesso de um de seus redutos secretos, em torno de sua admirada dama de ferro do império, quem sabe até pensando em afinidades extra-políticas e em vínculos perigosos.
Também fico pensando onde estará aquela "blonde plantureuse", a tal enfermeira ucraniana, que deveria dar de mamar ao ditador maluco em vista de seus atributos, digamos, portentosos...
Poupem a loira, rebeldes. Ela não tinha nada a ver com política...
Suas artes eram outras...
Paulo Roberto de Almeida
Kadafi escondia álbum de fotos de Condoleezza Rice em seu palácio
Efe, 26 de agosto de 2011 | 1h 04
Fotografias foram descobertas por rebeldes líbios; em entrevista cedida em 2007, líder líbio confessa se sentir orgulhoso por ela 'ser uma mulher negra de origem africana'
WASHINGTON - O líder líbio Muammar Kadafi escondia em seu palácio um álbum de fotos da ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice.
A imprensa deu destaque na quinta-feira, 25, para as fotografias de um álbum descoberto pelos rebeldes líbios ao entrar no palácio que revela que a paixão de Kadafi por Condoleezza ia além das palavras que já havia dedicado a ela em público.
Em uma entrevista à rede de televisão Al Jazeera em 2007 - um ano antes da visita histórica que a chefe da diplomacia americana fez à Líbia-, Kadafi declarou sua admiração pela americana.
"Admiro a forma como se reclina e dá ordens aos líderes árabes... Leezza, Leezza, Leezza. Gosto muito dela. Me sinto orgulhoso porque ela é uma mulher negra de origem africana", disse o ditador na ocasião.
No álbum, que alguns meios de comunicação compararam aos que um adolescente guarda de seu ídolo musical, podem ser vistas fotografias oficiais de Rice em eventos públicos, algumas em primeiríssimo plano.
Perguntada sobre a coleção de fotos do líder líbio, a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, reconheceu que não as viu, mas acredita que também não necessita fazê-lo "para definir como excêntrico e repulsivo o comportamento de Kadafi".
Em setembro de 2008, Condoleezza Rice realizou uma viagem oficial a Trípoli, a primeira de um secretário de Estado em 55 anos, depois que em 1953 o então titular desse cargo, John Foster Dulles, se encontrou com o rei líbio Idris.
Durante a visita, Kadafi rompeu o jejum do Ramadã para jantar com Condoleezza e presenteou a convidada com lembranças avaliadas em até US$ 212 mil.
Entre os presentes havia um anel com um diamante, um alaúde acompanhado de um DVD, um cadeado com uma foto de Kadafi no interior e uma cópia do "Livro Verde da Revolução" com uma dedicatória na qual o ditador expressava seu "respeito e admiração" por ela.
Muito mais discreta, Condoleezza entregou a Kadafi um prato com o selo dos EUA. Além disso, devido à estrita política do Departamento de Estado, a então secretária não pôde aceitar os presentes.
Segundo o jornal Huffington Post, Kadafi não é o único que tinha uma queda por Condoleezza: o ex-ministro de Relações Exteriores do Canadá, Peter McKay; o ex- ministro de Exteriores britânico, Jack Straw; e o ex-ministro de Relações Exteriores italiano, Massimo D'Alema, também sentiram mais que admiração pela política americana.
Reaganomics vs Obamanomics: a recuperacao e a "afundacao" - Wall Street Journal
OK, concordo, o Wall Street Journal é suspeito para comparar dois presidentes e duas crises. Afinal de contas, se trata do jornal mais desavergonhadamente capitalista que existe, o mais eloquente defensor da economia de mercado e de políticas liberais, o maior inimigo das "bondades" social-democratas que políticos (de diversas afiliações, aliás) adoram promover em nome do povo (e com o dinheiro do próprio, claro), enfim, o jornal mais conservador (alguns diriam reacionário) que possa haver no coração do capitalismo financeiro do império.
E, no entanto, se trata do jornal mais favorável à competição, ao jogo limpo dos governos, que não hesita em denunciar um "inside job" quando vê isso ocorrer na "indústria" de Wall Street, que proclama as virtudes do liberalismo puro e duro, que exalta os valores do trabalho e da acumulação, em face do distributivismo improdutivo, enfim, o jornal que defende seus princípios, e estes são, simplesmente, o capitalismo e a economia de mercado.
Sendo tudo isso, o jornal também é escrupulosamente partidário da verdade informativa, pela maior competição possível entre os meios de comunicação, tem uma rede de correspondentes e free lancers all over the world -- não esqueçamos de Daniel Pearl, que investigava a Al Qaeda no Paquistão, e que foi covardemente assassinado por terroristas imbecis -- e que não tem medo de defender esses princípios mesmo contra Washingron e metade de Wall Street.
Enfim, tudo isso para introduzir esta comparação feita por umn de seus editorialistas entre os resultados das políticas econômicas respectivas do presidente Reagan (1980-1988) e do presidente Barak Obama (2009-2012), ambos navegando em águas turbulentas, na sequência de crises herdadas de seus antecessores. A comparação pode ser um pouco forçada, mas, libertando-se das peias mentais, que colocam um no "neoliberalismo" (um conceito desonesto, idiota, simplifcador e que designa simplesmente uma realidade que não existe) e o outro numa suposta "economia do bem-estar", vale a pena deter-se nos números e nos resultados efetivos.
Bem, qual a lição que se deve tirar desse debate, ou que pelo menos eu tiro dessa leitura? Para mim, se trata da "vingança" de Jean-Baptiste Say contra John Maynard Keynes, ou seja, a preeminência da chamada "Lei de Say" -- a oferta cria sua própria demanda" -- sobre a suposta "lei" de Keynes, a tal de "manutenção da demanda agregada", que nada mais é do que o meu, o seu, o nosso dinheiro mal gasto pelo poder público para criar uma suposta demanda que vai "alimentar" a economia. Mas se o governo tira dinheiro dos cidadãos, como é que ele espera depois que esses mesmos cidadãos passem a comprar ou a investir? Os keynesianos não se conformam com a "manutenção da propensão a poupar" dos cidadãos e com a falta de "espírito animal" nos capitalistas, mas se esquecem que os governos fazem tudo o contrário do que deveriam fazer...
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Não sei se o editorialista cometeu um erro de digitação no título, ou o próprio jornal, pois o título original era: "Obamanonics vs. Reaganomics"; corrigi "Obamanonics" para "Obamanomics", mas talvez a intenção do autor fosse mesmo de (des)caracterizar a economia política de Obama como uma "Obamanonics". Seja como for, o artigo é mais importante do que o título...
Obamanomics vs. Reaganomics
By STEPHEN MOORE
The Wall Street Journal, August 26, 2011
One program for recovery worked, and the other hasn't.
If you really want to light the fuse of a liberal Democrat, compare Barack Obama's economic performance after 30 months in office with that of Ronald Reagan. It's not at all flattering for Mr. Obama.
The two presidents have a lot in common. Both inherited an American economy in collapse. And both applied daring, expensive remedies. Mr. Reagan passed the biggest tax cut ever, combined with an agenda of deregulation, monetary restraint and spending controls. Mr. Obama, of course, has given us a $1 trillion spending stimulus.
By the end of the summer of Reagan's third year in office, the economy was soaring. The GDP growth rate was 5% and racing toward 7%, even 8% growth. In 1983 and '84 output was growing so fast the biggest worry was that the economy would "overheat." In the summer of 2011 we have an economy limping along at barely 1% growth and by some indications headed toward a "double-dip" recession. By the end of Reagan's first term, it was Morning in America. Today there is gloomy talk of America in its twilight.
My purpose here is not more Reagan idolatry, but to point out an incontrovertible truth: One program for recovery worked, and the other hasn't.
The Reagan philosophy was to incentivize production—i.e., the "supply side" of the economy—by lowering restraints on business expansion and investment. This was done by slashing marginal income tax rates, eliminating regulatory high hurdles, and reining in inflation with a tighter monetary policy.
Ronald Reagan talks taxes, 1981.
The Keynesians in the early 1980s assured us that the Reagan expansion would not and could not happen. Rapid growth with new jobs and falling rates of inflation (to 4% in 1983 from 13% in 1980) is an impossibility in Keynesian textbooks. If you increase demand, prices go up. If you increase supply—as Reagan did—prices go down.
The Godfather of the neo-Keynesians, Paul Samuelson, was the lead critic of the supposed follies of Reaganomics. He wrote in a 1980 Newsweek column that to slay the inflation monster would take "five to ten years of austerity," with unemployment of 8% or 9% and real output of "barely 1 or 2 percent." Reaganomics was routinely ridiculed in the media, especially in the 1982 recession. That was the year MIT economist Lester Thurow famously said, "The engines of economic growth have shut down here and across the globe, and they are likely to stay that way for years to come."
The economy would soon take flight for more than 80 consecutive months. Then the Reagan critics declared what they once thought couldn't work was actually a textbook Keynesian expansion fueled by budget deficits of $200 billion a year, or about 4%-5% of GDP.
Robert Reich, now at the University of California, Berkeley, explained that "The recession of 1981-82 was so severe that the bounce back has been vigorous." Paul Krugman wrote in 2004 that the Reagan boom was really nothing special because: "You see, rapid growth is normal when an economy is bouncing back from a deep slump."
Mr. Krugman was, for once, at least partly right. How could Reagan not look good after four years of Jimmy Carter's economic malpractice?
Fast-forward to today. Mr. Obama is running deficits of $1.3 trillion, or 8%-9% of GDP. If the Reagan deficits powered the '80s expansion, the Obama deficits—twice as large—should have the U.S. sprinting at Olympic speed.
The left has now embraced a new theory to explain why the Obama spending hasn't worked. The answer is contained in the book "This Time Is Different," by economists Carmen Reinhart and Kenneth Rogoff. Published in 2009, the book examines centuries of recessions and depressions world-wide. The authors conclude that it takes nations much longer—six years or more—to recover from financial crises and the popping of asset bubbles than from typical recessions.
In any case, what Reagan inherited was arguably a more severe financial crisis than what was dropped in Mr. Obama's lap. You don't believe it? From 1967 to 1982 stocks lost two-thirds of their value relative to inflation, according to a new report from Laffer Associates. That mass liquidation of wealth was a first-rate financial calamity. And tell me that 20% mortgage interest rates, as we saw in the 1970s, aren't indicative of a monetary-policy meltdown.
There is something that is genuinely different this time. It isn't the nature of the crisis Mr. Obama inherited, but the nature of his policy prescriptions. Reagan applied tax cuts and other policies that, yes, took the deficit to unchartered peacetime highs.
But that borrowing financed a remarkable and prolonged economic expansion and a victory against the Evil Empire in the Cold War. What exactly have Mr. Obama's deficits gotten us?
Mr. Moore is a member of the Journal's editorial board.
E, no entanto, se trata do jornal mais favorável à competição, ao jogo limpo dos governos, que não hesita em denunciar um "inside job" quando vê isso ocorrer na "indústria" de Wall Street, que proclama as virtudes do liberalismo puro e duro, que exalta os valores do trabalho e da acumulação, em face do distributivismo improdutivo, enfim, o jornal que defende seus princípios, e estes são, simplesmente, o capitalismo e a economia de mercado.
Sendo tudo isso, o jornal também é escrupulosamente partidário da verdade informativa, pela maior competição possível entre os meios de comunicação, tem uma rede de correspondentes e free lancers all over the world -- não esqueçamos de Daniel Pearl, que investigava a Al Qaeda no Paquistão, e que foi covardemente assassinado por terroristas imbecis -- e que não tem medo de defender esses princípios mesmo contra Washingron e metade de Wall Street.
Enfim, tudo isso para introduzir esta comparação feita por umn de seus editorialistas entre os resultados das políticas econômicas respectivas do presidente Reagan (1980-1988) e do presidente Barak Obama (2009-2012), ambos navegando em águas turbulentas, na sequência de crises herdadas de seus antecessores. A comparação pode ser um pouco forçada, mas, libertando-se das peias mentais, que colocam um no "neoliberalismo" (um conceito desonesto, idiota, simplifcador e que designa simplesmente uma realidade que não existe) e o outro numa suposta "economia do bem-estar", vale a pena deter-se nos números e nos resultados efetivos.
Bem, qual a lição que se deve tirar desse debate, ou que pelo menos eu tiro dessa leitura? Para mim, se trata da "vingança" de Jean-Baptiste Say contra John Maynard Keynes, ou seja, a preeminência da chamada "Lei de Say" -- a oferta cria sua própria demanda" -- sobre a suposta "lei" de Keynes, a tal de "manutenção da demanda agregada", que nada mais é do que o meu, o seu, o nosso dinheiro mal gasto pelo poder público para criar uma suposta demanda que vai "alimentar" a economia. Mas se o governo tira dinheiro dos cidadãos, como é que ele espera depois que esses mesmos cidadãos passem a comprar ou a investir? Os keynesianos não se conformam com a "manutenção da propensão a poupar" dos cidadãos e com a falta de "espírito animal" nos capitalistas, mas se esquecem que os governos fazem tudo o contrário do que deveriam fazer...
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Não sei se o editorialista cometeu um erro de digitação no título, ou o próprio jornal, pois o título original era: "Obamanonics vs. Reaganomics"; corrigi "Obamanonics" para "Obamanomics", mas talvez a intenção do autor fosse mesmo de (des)caracterizar a economia política de Obama como uma "Obamanonics". Seja como for, o artigo é mais importante do que o título...
Obamanomics vs. Reaganomics
By STEPHEN MOORE
The Wall Street Journal, August 26, 2011
One program for recovery worked, and the other hasn't.
If you really want to light the fuse of a liberal Democrat, compare Barack Obama's economic performance after 30 months in office with that of Ronald Reagan. It's not at all flattering for Mr. Obama.
The two presidents have a lot in common. Both inherited an American economy in collapse. And both applied daring, expensive remedies. Mr. Reagan passed the biggest tax cut ever, combined with an agenda of deregulation, monetary restraint and spending controls. Mr. Obama, of course, has given us a $1 trillion spending stimulus.
By the end of the summer of Reagan's third year in office, the economy was soaring. The GDP growth rate was 5% and racing toward 7%, even 8% growth. In 1983 and '84 output was growing so fast the biggest worry was that the economy would "overheat." In the summer of 2011 we have an economy limping along at barely 1% growth and by some indications headed toward a "double-dip" recession. By the end of Reagan's first term, it was Morning in America. Today there is gloomy talk of America in its twilight.
My purpose here is not more Reagan idolatry, but to point out an incontrovertible truth: One program for recovery worked, and the other hasn't.
The Reagan philosophy was to incentivize production—i.e., the "supply side" of the economy—by lowering restraints on business expansion and investment. This was done by slashing marginal income tax rates, eliminating regulatory high hurdles, and reining in inflation with a tighter monetary policy.
Ronald Reagan talks taxes, 1981.
The Keynesians in the early 1980s assured us that the Reagan expansion would not and could not happen. Rapid growth with new jobs and falling rates of inflation (to 4% in 1983 from 13% in 1980) is an impossibility in Keynesian textbooks. If you increase demand, prices go up. If you increase supply—as Reagan did—prices go down.
The Godfather of the neo-Keynesians, Paul Samuelson, was the lead critic of the supposed follies of Reaganomics. He wrote in a 1980 Newsweek column that to slay the inflation monster would take "five to ten years of austerity," with unemployment of 8% or 9% and real output of "barely 1 or 2 percent." Reaganomics was routinely ridiculed in the media, especially in the 1982 recession. That was the year MIT economist Lester Thurow famously said, "The engines of economic growth have shut down here and across the globe, and they are likely to stay that way for years to come."
The economy would soon take flight for more than 80 consecutive months. Then the Reagan critics declared what they once thought couldn't work was actually a textbook Keynesian expansion fueled by budget deficits of $200 billion a year, or about 4%-5% of GDP.
Robert Reich, now at the University of California, Berkeley, explained that "The recession of 1981-82 was so severe that the bounce back has been vigorous." Paul Krugman wrote in 2004 that the Reagan boom was really nothing special because: "You see, rapid growth is normal when an economy is bouncing back from a deep slump."
Mr. Krugman was, for once, at least partly right. How could Reagan not look good after four years of Jimmy Carter's economic malpractice?
Fast-forward to today. Mr. Obama is running deficits of $1.3 trillion, or 8%-9% of GDP. If the Reagan deficits powered the '80s expansion, the Obama deficits—twice as large—should have the U.S. sprinting at Olympic speed.
The left has now embraced a new theory to explain why the Obama spending hasn't worked. The answer is contained in the book "This Time Is Different," by economists Carmen Reinhart and Kenneth Rogoff. Published in 2009, the book examines centuries of recessions and depressions world-wide. The authors conclude that it takes nations much longer—six years or more—to recover from financial crises and the popping of asset bubbles than from typical recessions.
In any case, what Reagan inherited was arguably a more severe financial crisis than what was dropped in Mr. Obama's lap. You don't believe it? From 1967 to 1982 stocks lost two-thirds of their value relative to inflation, according to a new report from Laffer Associates. That mass liquidation of wealth was a first-rate financial calamity. And tell me that 20% mortgage interest rates, as we saw in the 1970s, aren't indicative of a monetary-policy meltdown.
There is something that is genuinely different this time. It isn't the nature of the crisis Mr. Obama inherited, but the nature of his policy prescriptions. Reagan applied tax cuts and other policies that, yes, took the deficit to unchartered peacetime highs.
But that borrowing financed a remarkable and prolonged economic expansion and a victory against the Evil Empire in the Cold War. What exactly have Mr. Obama's deficits gotten us?
Mr. Moore is a member of the Journal's editorial board.
EConomia e reformas no Brasil: entrevista com Rubens Antonio Barbosa
No Diário do Comércio e Indústria, neste link: http://www.scribd.com/doc/62619196/Especial-da-Semana-com-Rubens-Barbosa-Ex-embaixador-do-Brasil-nos-Estados-Unidos-e-Inglaterra
Entrevista com o Embaixador Rubens Antônio Barbosa
DCI, ESPECIAL DA SEMANA - Sexta-feira, 19 de agosto de 2011
ENTREVISTA
Para o ex-embaixador Rubens Barbosa, é hora de o País findar o ciclo de reformas
Roberto Müller Filho; Liliana Lavoratti
(aqui)
Entrevista com o Embaixador Rubens Antônio Barbosa
DCI, ESPECIAL DA SEMANA - Sexta-feira, 19 de agosto de 2011
ENTREVISTA
Para o ex-embaixador Rubens Barbosa, é hora de o País findar o ciclo de reformas
Roberto Müller Filho; Liliana Lavoratti
(aqui)
A tragedia educacional brasileira: nao existe nenhum risco de melhorar nos proximos 20 ou 30 anos...
Sou, como muita gente sabe, moderadamente pessimista quanto aos rumos da economia brasileira. Acredito -- não, tenho certeza -- que vamos continuar crescendo a taxas medíocres e acumulando desequilíbrios, desequilíbrios e desigualdades pelo futuro previsível, isso se não ocorrer um desastre maior, mas em princípio acho que vamos apenas continuar na mediocridade de crescimento.
Agora, quanto a educação eu sou ABSOLUTAMENTE pessimista, e continuo mais pessimista ainda, se ouso dizer, ou seja, sou crescentemente pessimista. Acredito que a coisa ainda vai piorar muito, e que não há NENHUM risco de melhorar no futuro previsível, e até onde a vista nem alcança...
Este é o resultado de uma das mais pavorosas deformações da sociedade brasileira, e a tragédia se completa pois praticamente ninguém, salvo meia dúzia de alucinados -- como eu e este jornalista abaixo, Reinaldo Azevedo -- percebe a tragédia em CONSOLIDAÇÃO.
Bem, vou parar de lamentar e simplesmente postar a matéria e o comentário.
Paulo Roberto de Almeida
A miséria da educação no Brasil. Ou: O país que não está nos discursos
Reinaldo Azevedo, 25/08/2011 16:13:21
Do Portal G1:
Uma avaliação feita com alunos que cursaram em 2010 o 3º ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas do país mostra que menos da metade (42,8%) das crianças aprendeu o mínimo do que era esperado no conteúdo de matemática para este nível do ensino.
O resultado da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) mostrou ainda que 56,1% dos alunos aprenderam o que era esperado em leitura, e 53,4% dos estudantes tiveram desempenho dentro do esperado em redação.
Os dados acima consideram a média entre alunos de escolas públicas e privadas. Entretanto, o levantamento registrou diferença significativa no desempenho entre estudantes dos dois grupos. (Veja tabela abaixo)
A avaliação foi feita com alunos do 3º ano do ensino fundamental; ele é o equivalente à 2ª série do antigo ensino primário. Nessa fase, os alunos têm, em média, oito anos.
A Prova ABC mostra ainda uma grande variação entre as regiões do país e as redes de ensino (pública e privada). Sul e Sudeste obtiveram os melhores desempenhos, enquanto Norte e Nordeste mostraram as piores avaliações.
A prova foi aplicada no primeiro semestre deste ano para cerca de 6 mil alunos de escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais do país para medir seu conhecimento do conteúdo até o 3º ano. A avaliação foi elaborada em uma parceria do Todos Pela Educação com o Instituto Paulo Montenegro /Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Cada criança respondeu a 20 itens (questões de múltipla escolha) de leitura ou de matemática (o aluno fez testes de apenas uma das duas áreas). Além disso, todas elas escreveram uma breve redação, a partir de um tema único. O objetivo foi avaliar o nível de conhecimento adquirido pelos alunos ao final do terceiro ano, que representa o fim do ciclo básico de alfabetização.
Matemática
Na prova de matemática, o objetivo era obter no mínimo 175 pontos para mostrar domínio da adição e subtração e conseguir resolver problemas envolvendo, por exemplo, notas e moedas. Estes 175 pontos correspondem ao conhecimento esperado dos alunos desta série segundo escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
No total, 42,8% do total das crianças tendo aprendido o que era esperado para esta etapa do ensino em matemática. A média nacional foi de 171,1 pontos, sendo que entre os alunos da rede privada foi de 211,2 pontos, a da rede pública ficou em 158,0 pontos.
“As pessoas acham que alfabetização é apenas saber ler e escrever. Tem que se pensar na alfabetização numérica também, precisamos desde cedo que nossas crianças saibam as operações básicas de matemática”, diz o professor Ruben Klein, da Cesgranrio. “Para que o país possa ter conhecimento tecnológico e formar engenheiros é preciso desde cedo ter uma boa formação em matemática.”
A média de 42 pontos percentuais entre os alunos da rede pública e os da rede privada chamou a atenção na pesquisa.
Os pesquisadores destacam a preocupação em se corrigir o problema ainda na educação básica. “A tendência é este desempenho piorar nas séries mais avançadas”, diz Klein. “Pesquisa com estudantes que estão terminando o ensino médio mostra que só 11% atingem o conhecimento mínimo em matemática.”
Leitura
Na prova de leitura, os alunos, entre outras tarefas, tinham que identificar temas de uma narrativa, localizar informações, identificar características de personagens e perceber relações de causa e efeito contidas nestas narrativas. A média foi de 185,8 pontos na escala, sendo 216,7 pontos entre alunos da rede privada e 175,8 pontos para estudantes da rede pública. A médica nacional (incluindo escolas públicas e privadas) foi de 56,1%
Escrita
Na prova avaliação de escrita, a média esperada do desempenho dos alunos na redação era de 75 pontos. A média nacional ficou em 68,1 pontos, sendo a média das escolas públicas de 62,3 pontos e a das privadas 86,2 pontos.
“Todas as crianças deveriam atingir 100% de aproveitamento. É um direito básico de educação”, afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação. “É preciso um investimento pesado na formação de professores e na educação infantil. Para reduzir a desigualdade social é também preciso reduzir esta desigualdade educacional.
============
A doença da educação brasileira é ideológica. E seu nome é “petismo”
Reinaldo Azevedo, 25/08/2011
No post das 16h13, há um retrato do ensino no Brasil, revelado pela Prova ABC. É uma vergonha! Digam o que disserem, acreditem: não chegamos a isso por falta de verba. Dada a realidade do país, o Brasil gasta bastante com a educação. Não dispomos é de mecanismos eficazes para avaliar a qualidade do trabalho feito nas escolas e intervir para corrigir as deficiências.
Sempre que o debate é colocado, tudo termina na ladainha sindical de sempre: se os professores fossem mais bem pagos, tudo seria diferente. Essa é uma das falácias mais influentes no setor. Seria estúpido afirmar que salários maiores fariam mal aos alunos — e, com efeito, há realidades dramáticas em certas áreas do país. A verdade insofismável, no entanto, é que o aumento da remuneração poderia fazer bem aos professores sem mudar uma vírgula na qualidade de ensino.
Há um coquetel de problemas que resulta nesse desastre. Embora tenham naturezas distintas, têm algo em comum: desprezam o aluno, que deixou de ser o centro da preocupação das escolas — em especial, dos educadores. Vamos ver. Os estados e municípios, pouco importa o salário que paguem, não dispõem de mecanismos para promover os competentes e punir os incompetentes.
O estado de São Paulo, na gestão Serra, instituiu um sistema de promoção salarial por mérito. A escola melhorou, provaram os exames. Os petista-cutistas da Apeoesp foram às ruas protestar. Chegaram a queimar livros didáticos em praça pública, os fascistas! Neste momento, a Apeoesp tenta negociar com a Secretaria da Educação o fim do modelo. Os valentes não querem saber de mérito. Eles gostam é do demérito que iguala todos por baixo. Os alunos que se danem! No Brasil inteiro, a educação é refém da militância política, especialmente a petista — quando não está entregue a radicais à esquerda do PT.
Embora as escolas privadas não sejam lá grande coisa, já demonstraram alguns outros indicadores, a Prova ABC evidencia que o desempenho dos estudantes dessas instituições é muito superior ao das escolas públicas. A razão é simples: a cobrança é maior.
O ensino — também em boa parte das escolas privadas, note-se — está corroído por uma doença ideológica. Boa parte dos “educadores” acredita que sua função não é ensinar português, matemática e ciências, mas princípios de cidadania, com o objetivo de formar “indivíduos conscientes”. Alunos seriam pessoas “oprimidas”, que precisam passar por um processo de “libertação”. O mal que a paulo-freirização fez à escola levará gerações para ser superado. Todos os mitos ideológicos que Paulo Freire criou com seu método de alfabetização de adultos foram transferidos para a educação de crianças e jovens. O resultado é devastador. Escrevo sobre esse assunto há anos. Era um dos temas recorrentes da revista e site Primeira Leitura.
À pedagogia “libertadora” de Paulo Freire se juntou, mais recentemente, a turma da “pedagogia do amor”, de que Gabriel Chalita é um dos formuladores. Em vez de educar, o professor liberta; em vez de educar, o professor ama. Se toda essa conversa mole der errado, há o risco até de a escola ensinar alguma coisa. O fato é que o cruzamento de Freire com Chalita resulta em ignorância propositiva e amorosa.
Enquanto objetivos claros não forem estabelecidos e enquanto as várias esferas do estado não dispuserem de instrumentos de intervenção para exigir qualidade, podem esquecer. A reação bucéfala às medidas modernizadoras implementadas pelo governo Serra, em São Paulo, demonstra que a raiz do problema é, sim, ideológica. O sindicato dos professores foi usado como mero instrumento da luta política. De dia, a presidente da entidade, a notória Bebel, fazia passeata; à noite, encontrava-se com Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, e era tratada como heroína.
E uma última questão por ora: deixem um pouco o sociologismo fora disso. Essa conversa de que é impossível ensinar alunos com fome, vindos de lares desestruturados etc. não cola mais. A fome é exceção no Brasil. A imensa maioria das famílias pobres é mais organizada e hierarquizada do que as de classe média e média-alta — o tal “povo” é bastante conservador nessas coisas. Desorganizado e desestruturado, no que concerne à educação, é o estado brasileiro.
Agora, quanto a educação eu sou ABSOLUTAMENTE pessimista, e continuo mais pessimista ainda, se ouso dizer, ou seja, sou crescentemente pessimista. Acredito que a coisa ainda vai piorar muito, e que não há NENHUM risco de melhorar no futuro previsível, e até onde a vista nem alcança...
Este é o resultado de uma das mais pavorosas deformações da sociedade brasileira, e a tragédia se completa pois praticamente ninguém, salvo meia dúzia de alucinados -- como eu e este jornalista abaixo, Reinaldo Azevedo -- percebe a tragédia em CONSOLIDAÇÃO.
Bem, vou parar de lamentar e simplesmente postar a matéria e o comentário.
Paulo Roberto de Almeida
A miséria da educação no Brasil. Ou: O país que não está nos discursos
Reinaldo Azevedo, 25/08/2011 16:13:21
Do Portal G1:
Uma avaliação feita com alunos que cursaram em 2010 o 3º ano do ensino fundamental de escolas públicas e privadas do país mostra que menos da metade (42,8%) das crianças aprendeu o mínimo do que era esperado no conteúdo de matemática para este nível do ensino.
O resultado da Prova ABC (Avaliação Brasileira do Final do Ciclo de Alfabetização) mostrou ainda que 56,1% dos alunos aprenderam o que era esperado em leitura, e 53,4% dos estudantes tiveram desempenho dentro do esperado em redação.
Os dados acima consideram a média entre alunos de escolas públicas e privadas. Entretanto, o levantamento registrou diferença significativa no desempenho entre estudantes dos dois grupos. (Veja tabela abaixo)
A avaliação foi feita com alunos do 3º ano do ensino fundamental; ele é o equivalente à 2ª série do antigo ensino primário. Nessa fase, os alunos têm, em média, oito anos.
A Prova ABC mostra ainda uma grande variação entre as regiões do país e as redes de ensino (pública e privada). Sul e Sudeste obtiveram os melhores desempenhos, enquanto Norte e Nordeste mostraram as piores avaliações.
A prova foi aplicada no primeiro semestre deste ano para cerca de 6 mil alunos de escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais do país para medir seu conhecimento do conteúdo até o 3º ano. A avaliação foi elaborada em uma parceria do Todos Pela Educação com o Instituto Paulo Montenegro /Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Cada criança respondeu a 20 itens (questões de múltipla escolha) de leitura ou de matemática (o aluno fez testes de apenas uma das duas áreas). Além disso, todas elas escreveram uma breve redação, a partir de um tema único. O objetivo foi avaliar o nível de conhecimento adquirido pelos alunos ao final do terceiro ano, que representa o fim do ciclo básico de alfabetização.
Matemática
Na prova de matemática, o objetivo era obter no mínimo 175 pontos para mostrar domínio da adição e subtração e conseguir resolver problemas envolvendo, por exemplo, notas e moedas. Estes 175 pontos correspondem ao conhecimento esperado dos alunos desta série segundo escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).
No total, 42,8% do total das crianças tendo aprendido o que era esperado para esta etapa do ensino em matemática. A média nacional foi de 171,1 pontos, sendo que entre os alunos da rede privada foi de 211,2 pontos, a da rede pública ficou em 158,0 pontos.
“As pessoas acham que alfabetização é apenas saber ler e escrever. Tem que se pensar na alfabetização numérica também, precisamos desde cedo que nossas crianças saibam as operações básicas de matemática”, diz o professor Ruben Klein, da Cesgranrio. “Para que o país possa ter conhecimento tecnológico e formar engenheiros é preciso desde cedo ter uma boa formação em matemática.”
A média de 42 pontos percentuais entre os alunos da rede pública e os da rede privada chamou a atenção na pesquisa.
Os pesquisadores destacam a preocupação em se corrigir o problema ainda na educação básica. “A tendência é este desempenho piorar nas séries mais avançadas”, diz Klein. “Pesquisa com estudantes que estão terminando o ensino médio mostra que só 11% atingem o conhecimento mínimo em matemática.”
Leitura
Na prova de leitura, os alunos, entre outras tarefas, tinham que identificar temas de uma narrativa, localizar informações, identificar características de personagens e perceber relações de causa e efeito contidas nestas narrativas. A média foi de 185,8 pontos na escala, sendo 216,7 pontos entre alunos da rede privada e 175,8 pontos para estudantes da rede pública. A médica nacional (incluindo escolas públicas e privadas) foi de 56,1%
Escrita
Na prova avaliação de escrita, a média esperada do desempenho dos alunos na redação era de 75 pontos. A média nacional ficou em 68,1 pontos, sendo a média das escolas públicas de 62,3 pontos e a das privadas 86,2 pontos.
“Todas as crianças deveriam atingir 100% de aproveitamento. É um direito básico de educação”, afirma Priscila Cruz, diretora executiva do Todos Pela Educação. “É preciso um investimento pesado na formação de professores e na educação infantil. Para reduzir a desigualdade social é também preciso reduzir esta desigualdade educacional.
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A doença da educação brasileira é ideológica. E seu nome é “petismo”
Reinaldo Azevedo, 25/08/2011
No post das 16h13, há um retrato do ensino no Brasil, revelado pela Prova ABC. É uma vergonha! Digam o que disserem, acreditem: não chegamos a isso por falta de verba. Dada a realidade do país, o Brasil gasta bastante com a educação. Não dispomos é de mecanismos eficazes para avaliar a qualidade do trabalho feito nas escolas e intervir para corrigir as deficiências.
Sempre que o debate é colocado, tudo termina na ladainha sindical de sempre: se os professores fossem mais bem pagos, tudo seria diferente. Essa é uma das falácias mais influentes no setor. Seria estúpido afirmar que salários maiores fariam mal aos alunos — e, com efeito, há realidades dramáticas em certas áreas do país. A verdade insofismável, no entanto, é que o aumento da remuneração poderia fazer bem aos professores sem mudar uma vírgula na qualidade de ensino.
Há um coquetel de problemas que resulta nesse desastre. Embora tenham naturezas distintas, têm algo em comum: desprezam o aluno, que deixou de ser o centro da preocupação das escolas — em especial, dos educadores. Vamos ver. Os estados e municípios, pouco importa o salário que paguem, não dispõem de mecanismos para promover os competentes e punir os incompetentes.
O estado de São Paulo, na gestão Serra, instituiu um sistema de promoção salarial por mérito. A escola melhorou, provaram os exames. Os petista-cutistas da Apeoesp foram às ruas protestar. Chegaram a queimar livros didáticos em praça pública, os fascistas! Neste momento, a Apeoesp tenta negociar com a Secretaria da Educação o fim do modelo. Os valentes não querem saber de mérito. Eles gostam é do demérito que iguala todos por baixo. Os alunos que se danem! No Brasil inteiro, a educação é refém da militância política, especialmente a petista — quando não está entregue a radicais à esquerda do PT.
Embora as escolas privadas não sejam lá grande coisa, já demonstraram alguns outros indicadores, a Prova ABC evidencia que o desempenho dos estudantes dessas instituições é muito superior ao das escolas públicas. A razão é simples: a cobrança é maior.
O ensino — também em boa parte das escolas privadas, note-se — está corroído por uma doença ideológica. Boa parte dos “educadores” acredita que sua função não é ensinar português, matemática e ciências, mas princípios de cidadania, com o objetivo de formar “indivíduos conscientes”. Alunos seriam pessoas “oprimidas”, que precisam passar por um processo de “libertação”. O mal que a paulo-freirização fez à escola levará gerações para ser superado. Todos os mitos ideológicos que Paulo Freire criou com seu método de alfabetização de adultos foram transferidos para a educação de crianças e jovens. O resultado é devastador. Escrevo sobre esse assunto há anos. Era um dos temas recorrentes da revista e site Primeira Leitura.
À pedagogia “libertadora” de Paulo Freire se juntou, mais recentemente, a turma da “pedagogia do amor”, de que Gabriel Chalita é um dos formuladores. Em vez de educar, o professor liberta; em vez de educar, o professor ama. Se toda essa conversa mole der errado, há o risco até de a escola ensinar alguma coisa. O fato é que o cruzamento de Freire com Chalita resulta em ignorância propositiva e amorosa.
Enquanto objetivos claros não forem estabelecidos e enquanto as várias esferas do estado não dispuserem de instrumentos de intervenção para exigir qualidade, podem esquecer. A reação bucéfala às medidas modernizadoras implementadas pelo governo Serra, em São Paulo, demonstra que a raiz do problema é, sim, ideológica. O sindicato dos professores foi usado como mero instrumento da luta política. De dia, a presidente da entidade, a notória Bebel, fazia passeata; à noite, encontrava-se com Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, e era tratada como heroína.
E uma última questão por ora: deixem um pouco o sociologismo fora disso. Essa conversa de que é impossível ensinar alunos com fome, vindos de lares desestruturados etc. não cola mais. A fome é exceção no Brasil. A imensa maioria das famílias pobres é mais organizada e hierarquizada do que as de classe média e média-alta — o tal “povo” é bastante conservador nessas coisas. Desorganizado e desestruturado, no que concerne à educação, é o estado brasileiro.
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