quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Um darwinista avant la lettre: Alfred Russell Wallace - Felipe Costa (Observatorio da Imprensa)


ALFRED RUSSEL WALLACE (1823-1913)

Um lugar na história

Por Felipe A. P. L. Costa 
Observatório da Imprensa, edição 775,  03/12/2013
O último dia 7 de novembro marcou os 100 anos de falecimento do renomado naturalista britânico Alfred Russel Wallace (1823-1913). Excetuando-se, contudo, alguns estudiosos e admiradores (ver, por exemplo, os sítios [em inglês] “The Alfred Russel Wallace Page” , “The Alfred Russel Wallace Website” e “Wallace Online” ), a efeméride não parece ter sido lembrada por muita gente. No caso da imprensa brasileira, mais especificamente, o único registro que consegui localizar nas últimas semanas foi a matéria “O resgate de Alfred Wallace”, de Henrique Kugler, publicada na Ciência Hoje On-line (27/11).
O mesmo tom de “resgate”, aliás, marca outras matérias publicadas anteriormente (e.g., “À sombra de Darwin, Alfred Russel Wallace recebe o devido reconhecimento” , de Ian Sample, publicada na Folha de S.Paulo28/9/2012).
De Usk ao Pará
Alfred Russel Wallace nasceu em 8/1/1823, no vilarejo de Llanbadoc, perto da cidade de Usk, no sudeste do atual País de Gales. Filho de Thomas Vere e Mary Ann [Greenell] Wallace, ele foi o penúltimo em uma família de nove filhos: Elizabeth Martha (1808-1808), William Greenell (1809-1845), Elizabeth Greenell (1810-1832), Frances (1812-1893), Mary Anne (1814-1822), Emma (1816-1822), John (1818-1895), ARW e Herbert Edward (1829-1851). Até os seis anos de idade, morou em Kensington Cottage (ver aqui), a casa onde nasceu e em cujos arredores teve os primeiros contatos com o mundo natural.
Em 1828, a família mudou para Hertford, poucos quilômetros ao norte de Londres. Foi lá que ele começou a ter uma educação formal; aos 14 anos, porém, abandonou a escola. Em 1837, foi morar com seu irmão John, em Londres. No mesmo ano, porém, mudou-se para Neath, no País de Gales, onde passou a trabalhar com seu irmão William. Em 1844, conheceu e se tornou amigo do naturalista inglês Henry Walter Bates (1825-1892). Isso foi em Leicester, cidade natal de Bates, onde Wallace havia arranjado emprego como professor em uma escola para crianças (ver aqui).
Assim como outros naturalistas da época, Wallace e Bates jamais receberam uma educação formal em ciência. Eram, no entanto, autodidatas apaixonados e estudiosos. Tinham vários interesses em comum e, inspirados nos relatos de outros naturalistas, decidiram conhecer a América do Sul. Vieram ao Brasil. A viagem durou um mês: saíram da Inglaterra em abril de 1848, chegando a Belém (na época, Pará) no fim de maio. Eis o relato de Wallace (WALLACE 1979, p. 17; grafia original):
“Foi na manhã do dia 26 de maio de 1848 que, depois de uma rápida viagem de 29 dias, tendo partido de Liverpool, ancoramos defronte à barra meridional do Amazonas e tivemos nossa primeira visão das terras sul-americanas. À tarde, veio um piloto a bordo, e, na manhã seguinte, navegamos rio acima com o vento de feição. Por cerca de 50 milhas não se podia distinguir se aquelas águas tranquilas e descoloridas seriam do rio ou do oceano, pois não se enxergava a margem setentrional, enquanto que a meridional se achava a uma distância de 10 ou 12 milhas. Ancoramos novamente no dia 28, pela madrugada, e quando o sol nasceu num céu sem nuvens, divisamos a cidade do Pará [Belém], rodeada pela densa floresta. Destacavam-se, acima de todas, as copas das palmeiras e bananeiras. Nossos olhos alegravam-se duplamente com a bela visão dessas plantas em seu estado natural, elas que tantas vezes admiramos nas estufas de Kew e de Chatsworth. As canoas que passavam com sua variegada tripulação composta de negros e índios, os urubus que pairavam acima de nossa cabeças ou que caminhavam preguiçosamente pela praia, os bandos de andorinhas que pousavam sobre os telhados das igrejas e casas, tudo servia para ocupar nossa atenção. Por fim, vieram os funcionários da Alfândega e tivemos permissão de descer em terra.”
Biogeografia: a regionalização da vida
Eles permaneceram os primeiros meses em um lugarejo próximo a Belém; em seguida, decidiram explorar outras regiões e então se separaram. Wallace viveu na Amazônia até julho de 1852, quando então voltou para a Inglaterra; Bates permaneceu por mais sete anos, só indo embora em junho de 1859. Lamentavelmente, porém, o material colecionado e despachado por Wallace nunca chegou a Londres, pois na viagem de volta o navio pegou fogo e a carga foi perdida. Os relatos de ambos sobre suas experiências em terras brasileiras foram posteriormente publicados em português (e.g., BATES 1979, WALLACE 1979).
A viagem ao Brasil não foi a única grande experiência na vida de Wallace. Ele se converteu em um coletor profissional e, como tal, colecionar espécimes (insetos, aves, mamíferos etc.) foi, durante anos, o seu ganha-pão. Foi o que o levou a permanecer oito anos (1854-1862) no sudeste asiático (incluindo Malásia Peninsular, Cingapura, Sumatra, Java, Bornéu, Timor, Celebes, Molucas; esteve ainda em Nova Guiné e diversas ilhas menores da região australiana), de onde enviou para a Inglaterra não apenas uma impressionante coleção de espécimes (ver aqui), mas também manuscritos importantes (ver adiante).
Além de sustento financeiro, o trabalho de campo lhe propiciou uma visão ampla e detalhada a respeito da distribuição geográfica dos seres vivos. Passou a escrever sobre o assunto, a ponto de ser considerado hoje um dos fundadores da moderna biogeografia, a disciplina científica que estuda a distribuição geográfica das espécies. Em 1876 (WALLACE 1876), propôs um sistema de classificação de acordo com o qual a fauna terrestre poderia ser arranjada em seis grandes regiões (cada uma, por sua vez, subdividida em domínios), a saber: região Australiana (incluindo Austrália, Nova Guiné e ilhas próximas); Etiópica (África, exceto a borda norte); Neártica (América do Norte, incluindo boa parte do México); Neotropical (América Central e do Sul); Oriental (sul e sudeste da Ásia, incluindo Índia, Tailândia, Vietnã etc.) e Paleártica (Europa, borda mediterrânea da África e o restante da Ásia). Com alguns ajustes, o modelo que ele propôs continua sendo adotado atualmente (ver COX 2001; para comentários em português, ver COX & MOORE 2009).
O manuscrito que veio da Indonésia
A despeito da importância de suas outras obras, Wallace é mais conhecido do grande público por conta de sua “parceria” com o naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882). Como é sabido, em meados do século 19, os dois formularam, de modo independente, uma versão própria daquela que viria a ser chamada de teoria da evolução por seleção natural – talvez a mais influente de todas as teorias científicas. Embora naquela época a ideia de evolução biológica (i.e., a noção de que as linhagens de seres vivos mudam ao longo do tempo) já não fosse mais uma novidade, as teorias científicas a respeito do assunto ainda eram incipientes.
A primeira exposição pública das ideias de Darwin e Wallace se deu por meio de uma nota, intitulada “Sobre a tendência de espécies formarem variedades; e sobre a perpetuação de variedades e espécies por meios naturais de seleção”, que foi lida em uma reunião científica ocorrida na noite de 1/7/1858, em Londres. (Para consultar a versão integral [em inglês], clique aqui, indo em seguida para o item “Special Issue 9: Survival of the Fittest”.) Nenhum dos dois estava presente e, diferentemente do que imaginam alguns, o episódio não ocorreu na The Royal Society (a mais tradicional sociedade científica britânica, fundada em 1660), mas sim naThe Linnean Society of London (uma sociedade mais modesta, fundada em 1788). Menos de 30 sócios estavam presentes. A reunião foi demorada, mas não houve qualquer alvoroço.
A leitura às pressas de uma nota conjunta funcionou como uma espécie de saída diplomática de emergência, uma solução que alguns amigos íntimos de Darwin encontraram diante de uma situação inusitada e um tanto quanto embaraçosa. Se o arranjo de última hora não funcionasse, o veterano naturalista inglês corria o sério risco de ser acusado de plágio. Para entendermos melhor a situação, precisamos recuar um pouco e examinar o que aconteceu alguns anos antes.
Na segunda metade da década de 1830, após regressar de uma viagem de quase cinco anos ao redor do mundo (1831-1836), Darwin começou a trabalhar em um manuscrito, intitulado provisoriamente Seleção natural, no qual pretendia expor em detalhes uma ampla teoria da evolução (para detalhes e comentários adicionais, ver DESMOND & MOORE 1995). Em 1858, transcorridas mais de duas décadas, ele ainda estava trabalhando no manuscrito, ora acrescentando, ora retirando material. O empreendimento parecia não ter fim. Então, em 18 de junho, em meio a graves contratempos familiares, ele recebeu uma carta de Wallace, que estava naquele momento nas ilhas Molucas (Indonésia). Os dois já haviam se correspondido antes. Dessa vez, o jovem naturalista de 35 anos pedia a Darwin, então com quase 50 anos, que lesse o manuscrito que seguia em anexo e, caso encontrasse nele alguma relevância, o encaminhasse a terceiros.
Darwin ficou impressionado com o que leu: o manuscrito de Wallace continha uma descrição bastante familiar de suas próprias ideias a respeito do processo de evolução por seleção natural. (A rigor, cada um deles chegou a uma mesma conclusão trilhando caminhos algo distintos.) Além de abalado, a coincidência o deixou profundamente preocupado – afinal, alguém que lesse o manuscrito de Wallace e, em seguida, lesse o seu livro em gestação poderia facilmente acusá-lo de plágio. Vendo o “trabalho de sua vida ruir”, ele imediatamente relatou o ocorrido a seus amigos mais íntimos, o geólogo Charles Lyell (1797-1875) e o botânico Joseph Dalton Hooker (1817-1911), na esperança de que o impasse pudesse ser equacionado.
Lyell e Hooker, que conheciam versões anteriores do manuscrito de Seleçãonatural, terminaram propondo a tal “solução” de emergência (a respeito da qual, aliás, Wallace não foi previamente consultado): promover a leitura de uma nota conjunta, contendo as linhas gerais da teoria formulada independentemente pelos dois. Além disso, alguns materiais suplementares, redigidos separadamente por cada um deles, também deveriam ser incluídos. E assim foi feito.
Darwinismo ou wallacismo?
Charles Darwin e Alfred Russel Wallace nunca chegaram a ser amigos íntimos, embora tenham mantido contato pelo resto de suas vidas. Ao longo de mais de duas décadas, eles trocaram cartas nas quais discutiam diversos assuntos, como seus diferentes pontos de vista a respeito da seleção sexual – processo algo distinto da seleção natural e cuja importância sempre foi motivo de discórdia entre os dois (para detalhes e comentários adicionais, ver CRONIN 1995).
O curso de suas vidas também tomou rumos diferentes. Darwin, que quase não saía de casa e jamais teve de enfrentar problemas financeiros, continuou escrevendo livros e artigos sobre vários assuntos até o fim da vida. Wallace ainda continuou viajando por mais algum tempo, antes de finalmente se fixar na Inglaterra; ao longo da vida, publicou centenas de artigos e vários livros. Um de seus livros, intitulado justamente Darwinismo(WALLACE 1889), ajudou a selar a vinculação que já naquela época se fazia entre o nome de Darwin (e não o seu) e a teoria da evolução que ambos formularam.
Depois da morte de Darwin, Wallace foi mais de uma vez criticado por outros darwinistas. O naturalista inglês de origem canadense George John Romanes (1848-1894), por exemplo, chegou a falar em “wallacismo”. Mas não havia nada de elogioso nisso; ao contrário: o termo estava sendo usado de modo depreciativo, para ressaltar o que, aos olhos daquele crítico, seriam divergências entre o ponto de vista de Wallace e o darwinismo original. Foi ele também quem cunhou o termo “neodarwinismo”, usado para designar de modo desdenhoso os adeptos das ideias de Wallace e August Weismann (1834-1914), naturalista e médico alemão, autor da chamada “teoria do plasma germinativo. De acordo com Romanes, que agia como se fosse herdeiro e protetor do “verdadeiro” darwinismo, ambos estariam defendendo ideias antidarwinistas. O primeiro, por causa de um suposto exagero na ênfase dada ao papel da seleção natural, uma posição combatida em vida pelo próprio Darwin. (Parte da polêmica que Darwin e Wallace mantiveram ao longo dos anos tinha a ver com a dicotomia seleção natural versus seleção sexual.) O segundo, por conta de suas atitudes críticas aos resquícios lamarckistas que ainda perduravam no darwinismo, o que também iria de encontro a posições lamarckistas defendidas por Darwin (e.g., a sua crença na transmissão de caracteres adquiridos).
O triunfo de Darwin
A publicação de artigos e matérias de divulgação a respeito de questões polêmicas de história da ciência é uma iniciativa saudável e muito bem-vinda. Cabe observar, no entanto, que a matéria da CH referida no início deste artigo reproduz alguns exageros e distorções. No terceiro parágrafo, por exemplo, encontramos o seguinte:
“A história deu os créditos apenas a Charles Darwin (1809-1882). Mas Wallace, de forma lúcida e independente, chegou às mesmas conclusões a que Darwin chegara, e na mesma época.”
Não é bem assim. A rigor, a literatura técnica (e.g., FUTUYMA 1992, FREEMAN & HERRON 2009; mas veja MOODY 1975) e mesmo a boa literatura de divulgação científica (e.g., HARDIN 1969) sempre tiveram o costume de tratar Darwin e Wallace como coautores da teoria da evolução por seleção natural.
No sexto parágrafo, lemos:
“Talvez por isso Darwin – um acadêmico tarimbado e de elevado prestígio na sociedade britânica de então – tenha levado vantagem em relação a Wallace – um sujeito meio ‘alternativo’, que, a duras penas, ganhava a vida vendendo espécimes exóticos para museus londrinos e coleções particulares.”
Um dos problemas aqui é que o termo “acadêmico” induz a erros e mal-entendidos. Afinal, dependendo do contexto, a qualificação pode se aplicar ora a um, ora a outro. É verdade, por exemplo, que Darwin frequentou a universidade, o que Wallace não fez. Poderíamos então descrever o primeiro como “um naturalista com formação acadêmica”. Em compensação, Darwin nunca lecionou, enquanto Wallace ministrou aulas ao longo de um ano. Nesse caso, poderíamos dizer que apenas este último teve um emprego “acadêmico”. Por fim, se o termo é aplicado em alusão a quem pertence a alguma sociedade científica, caberia dizer que ambos poderiam ser chamados de acadêmicos.
De resto, a matéria menciona ainda outros aspectos da vida de Wallace, incluindo suas posições políticas e filosóficas, sem perceber, no entanto, que uma parte do problema (i.e., o “esquecimento” a que ele foi condenado, resultando daí a suposta necessidade de um “resgate”) pode ter se originado justamente ali. A esse respeito, aliás, vale a pena reproduzir aqui o seguinte comentário (HARDIN 1969, p. 41-2; grafia original):
“Finalmente, o lugar de Wallace na galeria da fama, sem dúvida alguma, foi influenciado pela sua conduta em 1858. Publicou um grande número de boas obras de história natural e interessantes livros de viagens; mas, em compensação, vez por outra, defendia ardorosamente a socialização da terra, o espiritualismo e atacava violentamente a vacinação. O sucesso de um homem não se deve tanto à soma das pessoas que estão a seu favor, senão pela diferença deixada após subtrair todos aquêles que êle afrontou de uma forma ou outra. Subtraindo os nobres que antipatizavam com o socialismo de Wallace, os cientistas que zombavam do espiritualismo, os médicos que defendiam a vacinação e os religiosos conservadores chocados pela evolução – veremos que poucos restam para elogiar Wallace. Não é de se admirar que quase nos esquecemos de sua parte na tarefa.”
Outro aspecto a ser ressaltado, este mais no âmbito da sociologia da própria ciência, tem a ver com o modo como os dois naturalistas se relacionavam com outros integrantes da comunidade científica da época (para detalhes e comentários adicionais, ver WRIGHT 1996). Darwin contava com um grupo numeroso de aliados fervorosos, entre os quais figurava o próprio Wallace; este último, por sua vez, ocupava uma posição de coadjuvante mais ou menos solitário.
Embora algumas questões-chave sigam sendo pesquisadas e debatidas – e.g., a famosa carta de Wallace endereçada a Darwin teria chegada nas mãos deste em 18/6/1858, como em geral se diz, ou teria chegado alguns dias antes, como foi recentemente proposto? (ver DAVIES 2012) –, a opinião predominante hoje é a de que a primazia em torno da teoria da evolução por seleção natural caberia a Darwin. O qual, no fim das contas, nada teria feito para sabotar o papel e a importância do trabalho de Wallace (ver, por exemplo, o artigo “Darwin did not cheat Wallace out of his rightful place in history”, de John van Wyhe, publicado no The Guardian, em 12/8/2013).
Coda
Em 1866, Wallace se casou com Annie Mitten (1846-1914). Moraram em diversas cidades, incluindo Londres, Sussex e Dorset. O casal teve três filhos: Herbert Spencer (1867-1874), Violet Isabel (1869-1945) e William Greenell (1871-1951). Ele faleceu em Dorset, para onde o casal havia se mudado em 1889. Na ocasião, eles moravam em uma casa que havia sido idealizada e construída pelo próprio Wallace. Quando faleceu, aos 90 anos de idade, Alfred Russel Wallace – cuja reputação, na época, ia bem além de sua fama como um dos coautores da teoria da evolução por seleção natural – já tinha o seu lugar assegurado na história da ciência.
Referências citadas
** BATES, H. W. 1979 [1863]. Um naturalista no rio Amazonas. Belo Horizonte, Itatiaia e Edusp.
** COX, C. B. 2001. The biogeographic regions reconsidered. Journal of Biogeography 28: 511-23.
** ---------- & MOORE, P. D. 2009 [2005]. Biogeografia: uma abordagem ecológica e evolucionária, 7ª edição. Rio de Janeiro, LTC.
** CRONIN, H. 1995. A formiga e o pavão: Altruísmo e seleção sexual de Darwin até hoje. Campinas, Papirus.
** DAVIES, R. 2012. How Charles Darwin received Wallace’s Ternate paper 15 days earlier than he claimed: a comment on van Wyhe and Rookmaaker (2012). Biological Journal of the Linnean Society 105: 472-7.
** DESMOND, A. & MOORE, J. 1995. Darwin: A vida de um evolucionista atormentado. São Paulo, Geração Editorial.
** FREEMAN, S. & HERRON, J. C. 2009. Análise evolutiva, 4ª edição. Porte Alegre, Artmed.
** FUTUYMA, D. 1992. Biologia evolutiva, 2ª edição. Ribeirão Preto, Sociedade Brasileira de Genética e CNPq.
** HARDIN, G. 1969. A natureza e o destino do homem. São Paulo, Nacional.
** MOODY, P. A. 1975 [1970]. Introdução à evolução, 3ª edição. Rio de Janeiro, LTC e Editora da UnB.
** WALLACE, A. R. 1876. The geographic distribution of animals. Londres, Harper.
** ----------. 1979 [1889]. Viagens pelos rios Amazonas e Negro, 2ª edição. Belo Horizonte, Itatiaia e Edusp.
** ----------. 1889. Darwinism: An exposition of the theory of natural selection, with some of its applications. Londres, Macmillan.
** WRIGHT, R. 1996. O animal moral. Rio de Janeiro, Campus.
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Felipe A. P. L. Costa é biólogo e escritor, autor, entre outros, de Ecologia, evolução & o valor das pequenas coisas (2003)

Ufa!: a Humanidade se salva: o socialismo chavista vem em seu socorro.

Pronto! A gente aqui preocupado com o futuro da Humanidade e tantos perigos que a rondam -- aquecimento global, Aids, falta d'água, pouca maconha, essas coisas essenciais -- e nem percebemos que um punhado de paladinos do socialismo do século XXI já tinha encontrado a solução para todos esses problemas.
Homens de pouca fé: vocês não conhecem a dupla dinâmica Maduro-Cabello, que se amam e amam ainda mais a Humanidade.
Por Chávez, estamos salvos!
Paulo Roberto de Almeida 

Venezuela: novo plano de governo ameaça criar Constituição paralela 

Plano delirante de campanha pretende acelerar construção do socialismo e “contribuir para a salvação da espécie humana”

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, recebe do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, o ‘Plano da Pátria’
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, recebe do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, o ‘Plano da Pátria’ (Miguel Gutierrez/EFE)
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, comemorou a aprovação do ‘Plano da Pátria’, que o governo apresenta como o documento que vai orientar o “desenvolvimento econômico e social do país entre 2013 e 2019”, mas que também está sendo apontado como uma Constituição paralela. O programa de governo foi formulado pelo coronel Hugo Chávez durante a campanha eleitoral de 2012, e acabou sendo incorporado por seu herdeiro político.
O ato de recebimento do plano das mãos do presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, foi transmitido em cadeia de rádio e televisão nesta quarta-feira, e seguiu-se a um discurso no qual Maduro ameaçou a oposição ao dizer que o projeto é pra valer. “Não é um plano feito por um grupo de assessores, analistas ou especialistas em marketing pra enganar o povo venezuelano com um conjunto de propostas vazias, falsas, muito atraente, mas que jamais será cumprido”.
O plano foi aprovado na terça pela maioria governista no Legislativo, que comemorou aos gritos de “Chavéz vive!”. O documento enumera cinco objetivos: defender, expandir e consolidar a independência nacional; continuar a construção do “socialismo do século XXI”; converter a Venezuela em potência econômica, social e política; contribuir para o desenvolvimento de uma nova geopolítica internacional multipolar; e – pasmem – preservar a vida no planeta e contribuir para a “salvação da espécie humana”.
Tal como o plano anterior, que valeu entre 2007 e 2013 e contribuiu para levar a Venezuela para o abismo, todos os objetivos são acompanhados de subitens que tentam detalhar os pontos, mas caem nas muitas vezes em generalidades. A tal da nova geopolítica, por exemplo, é explicada como o “desmonte do sistema imperial e colonial” e “ampliação do poderio militar”.
Assim como Maduro, Cabello também ressaltou que o plano não é mera peça de marketing. “Estamos cumprindo o mandato de Hugo Chávez, o mandato da pátria. Essa é a consolidação do socialismo. Todos os prefeitos e governadores terão que se tornear por esse plano. Essa é a palavra de Hugo Chavéz. É o documento mais importante depois da Constituição”, disse ele, segundo declarações reproduzidas pelo jornal argentino La Nación.
'Para-Constituição' - Antes mesmo da aprovação do plano, o advogado constitucionalista José Vicente Haro alertou, em entrevista a jornais venezuelanos, que o documento funciona como uma Constituição paralela, que fere a aprovada em 1999. “Tem um problema de constitucionalidade muito grave. De fato, viola a Constituição ao estabelecer uma estruturação diferente àquela prevista na Constituição. Através desse plano, pretende-se estabelecer um sistema social, econômico e político diferente do que praticamos”, disse ao El Universal.
Ressaltou ainda que um dos objetivos do governo é avançar na criação da economia das comunas para substituir o poder de estados e municípios e garantir o repasse de recursos direto para este poder paralelo regional controlado pelo presidente. “O regime vai pisar no acelerador para emitir decretos que permitam executar o Plano da Pátria e obrigará as demais estruturas legais a se ajustar a ele”, pontuou.
Para fazer valer os objetivos do plano, Maduro já conta com os dispositivos da Lei Habiltante, aprovada no mês passado, que lhe permite governar por decreto por até um ano. 
Pouco depois da aprovação do plano na Assembleia, a deputada de oposição Maria Corina Machado criticou o plano pelo Twitter chamando-o de "Plano para a destruição da Pátria 2013-2019". A aprovação do plano ocorre cinco dias antes das eleições municipais na Venezuela, que devem ser um teste para o governo de Maduro.

Venezuela: a herança maldita de Chávez 

Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela em fevereiro de 1999 e, ao longo de catorze anos, criou gigantescos desequilíbrios econômicos, acabou com a independência das instituições e deixou um legado problemático para seu sucessor, Nicolás Maduro. Confira:

1 de 7

PDVSA em ruínas

O petróleo, extraído quase inteiramente pela PDVSA, a Petrobras da Venezuela, é responsável por 50% das receitas do governo venezuelano. Além do prejuízo de uma economia não diversificada, Chávez demitiu em 2003 40% dos funcionários da companhia após uma greve geral e os substituiu por aliados. A partir daí, as metas de investimento não foram cumpridas e a produção estagnou.
O plano de investimentos da PDVSA divulgado em 2007 previa a produção de 6 milhões de barris por dia este ano, mas entrega menos da metade. A exploração de petróleo caiu de 3,2 milhões de barris diários (em 1998) para 2,4 milhões (dado de 2012). O caudilho foi beneficiado, no entanto, pelo aumento do preço do produto e usou a fortuna para financiar programas assistencialistas e comprar aliados na América Latina. 
O presidente Nicolás Maduro deu continuidade às 'misiones', como são conhecidos os programas assistencialistas. O desafio será mantê-los e ainda investir na petrolífera e aumentar a produção. 

Em 2023, o PT vai privatizar a Petrobras: a reflexao do dia (P.R Almeida)

Bem, é apenas uma aposta que eu espero se revele errada, num sentido ou noutro.

Não espero que os petralhas ainda estejam no poder dentro de dez anos -- mas é possível: como eles são intrinsecamente totalitários, vão tentar manter-se no poder o quanto puderem, mesmo fazendo c..... sobre c..... -- e também espero que a Petrobras deixe de ser esse monstro metafísico do nacionalismo rastaquera antes disso, mas certas burrices são longevas, inclusive a que liga a soberania e a prosperidade do país a uma mera companhia comercial que processa um óleo nauseabundo, e entorpecedor dos sentidos racionais.

Mas como os petralhas demoraram dez anos para começar a privatizar de verdade -- ainda que, envergonhados sem razão, chamem isso de "concessões" -- pode ser que, em mais dez anos, eles se convençam realmente que é melhor privatizar esse trambolho, que é o último reduto da canalha que costuma se aproveitar do Estado para enriquecer, do que assistir à sua longa decadência em mãos ineptas (e pés também) como as deles..

Minha recomendação aos petralhas: privatizem antes que vocês passem para a história como o bando de idiotas que conseguiu desmantelar esse monstrengo nos seus sessenta anos de vida.

Paulo Roberto de Almeida 

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

A falencia inevitavel de todos os Estados de bem-estar social - RichardFulmer

Aliás, matematicamente previsível, como já está ocorrendo na Europa e nos Estados Unidos.
No Brasil, ele já faliu há muito tempo, mas o governo continua extorquindo dinheiro da classe média, de empresários e trabalhadores, para tapar os buracos, até o dia em que isso não for mais possível.
Por isso eu acho que o Brasil precisa de uma fronda empresarial.
Paulo Roberto de Almeida 

O paradoxo do estado de bem-estar social

Social
Os estados de bem-estar social enfrentam um paradoxo inevitável: o nível de produção necessário para sustentar um estado de bem-estar social não pode ser sustentado por um estado de bem-estar social. Esse paradoxo é criado por políticas que encorajam a redistribuição e consumo da riqueza enquanto desencorajam a sua criação. Diante de tão perversos incentivos, o padrão de vida obrigatoriamente deve cair, mesmo que, por algum tempo, possa se manter através de empréstimos. O paradoxo não é exclusivo da Grécia ou da Califórnia, nem é uma função de quem está no comando. Antes, é inerente às contradições internas do próprio estado de bem-estar social.
O termo “estado de bem-estar social" é definido aqui como um regime que assume a responsabilidade primária pelo cuidado de um bom número de seus cidadãos, provendo benefícios como habitação pública, assistência médica, educação, salário mínimo, seguro-desemprego e apoio financeiro aos pobres, idosos, deficientes, além de instituições, empresas e indústrias politicamente favorecidas.
O bem-estar material de qualquer sociedade depende da quantidade e qualidade dos bens e serviços que ela produz. Todos os bens e serviços consumidos pelos membros improdutivos da sociedade devem ser tirados dos — ou pagos pelos — produtivos. As políticas dos estados de bem-estar social garantem que as classes dos improdutivos crescerão e que as da população produtiva encolherão, e que a produtividade do número cada vez menor de produtores cairá ainda mais. Como resultado, a quantidade e qualidade dos bens e serviços disponíveis cairão e a pobreza aumentará. A mecânica desse declínio é tão simples quanto previsível.
Políticas do estado de bem-estar social desencorajam a poupança. Quando o governo ajuda a pagar pelos itens de luxo dos seus cidadãos, eles têm pouca necessidade de poupar para o futuro. Os bancos terão, então, menos dinheiro para emprestar, levando a um menor investimento de capital e menor crescimento econômico. Os impostos necessários para pagar pelos benefícios públicos reduzem a habilidade e incentivos das empresas para manter e expandir as instalações de produção. Na medida em que os impostos são pagos pelos consumidores, ou repassados a eles através de preços mais altos, eles terão menos dinheiro para poupar, reduzindo ainda mais o capital privado.
Perda de produtividade
Leis de salário mínimo, salário-desemprego, encargos trabalhistas e regulamentações que tornam difícil despedir trabalhadores aumentam o custo do emprego, resultando em redução deste. Altos impostos sobre pessoas jurídicas levam algumas empresas a saírem do país e outras à falência, aumentando ainda mais o nível de desemprego. Demandas por uma legislação protecionista se tornarão mais insistentes à medida que as taxas de desempregados aumentam. Se essas demandas são satisfeitas, ainda mais empregos serão perdidos à medida que o comércio exterior entra em colapso em meio a crescentes guerras comerciais.
À medida que benefícios e beneficiados se multiplicam, e o número de pagadores de impostos diminui, estes serão cada vez menos capazes de suportar a sempre crescente carga. Muitos dos mais produtivos e adaptáveis se mudarão para outros países que os permitam ficar com uma parte maior dos seus ganhos.
Enquanto aumentos de produtividade podem ajudar a compensar o declínio da produção devido à diminuição da força de trabalho, qualquer aumento desse tipo requer investimentos de capital ou melhoramentos do processo de inovação. Como explicado anteriormente, no entanto, estados de bem-estar social desencorajam a formação de capital por desencorajarem a poupança. A inovação é similarmente desencorajada pelos impostos que reduzem ou eliminam quaisquer lucros que tal inovação possa gerar.
Esvaziando as fileiras
À medida que a população de cidadãos improdutivos cresce, pela perda do emprego ou envelhecimento, as burocracias também crescerão para atender essa necessidade crescente. Além disso, à medida que mais impostos são cobrados para pagar pelas burocracias e pelos programas por elas administrados, as agências governamentais de coleta de impostos também terão de ser expandidas. Isso esvazia ainda mais as fileiras de trabalhadores produtivos, desviando-os da produção de riqueza para a mera redistribuição. Servidores públicos tipicamente são mais bem pagos do que os empregados do setor privado, e geralmente podem se aposentar mais cedo e com pensões mais generosas do que as dos empregados do setor privado, tornando ainda mais pesada a carga dos trabalhadores produtivos. Além disso, as crescentes fileiras de empregados públicos formam um poderoso bloco de votação, que favorece fortemente o aumento do gasto governamental e do controle do governo sobre a economia.
Instituições crescerão ao redor do estado de bem-estar social, aumentando o número de pessoas participando da sua continuação e crescimento (e diminuindo ainda mais o número de trabalhadores produtivos). Por exemplo, grupos de defesa e firmas de advocacia serão formados para auxiliar pessoas a obterem benefícios governamentais e a exigirem mais de tais benefícios. Prestadores de serviços, como contadores tributários, surgirão para ajudar as pessoas a lidarem com a crescente complexidade burocrática.
Grupos de interesse, como associações de aposentados, absorverão fundos de campanha e votos a candidatos flexíveis. Essas instituições privadas se unirão ao governo em alianças simbióticas e mutuamente fortalecedoras. Os funcionários eleitos podem colher votos agindo como defensores de constituintes forçados a lidarem com agências públicas indiferentes. Os departamentos governamentais, visando aumentar a sua “base de clientes”, trabalharão para tornar o apoio governamental mais fácil de ser obtido e disponibilizado a mais pessoas.
A perda de empregos, desagradável em uma economia de livre mercado, é suavizada pelo seguro-desemprego fornecido em um estado de bem-estar social. Alguns ficarão satisfeitos com o desemprego remunerado e atrasarão seu retorno ao trabalho, talvez indefinidamente. À medida que mais pais se tornam protegidos do estado, mais e mais filhos verão a situação como normal, e gerações de famílias vivendo no estado de bem-estar social se tornarão comuns.
Grupos de interesse e agências governamentais responsáveis pelo fornecimento de benefícios trabalharão para reduzir o estigma associado ao recebimento de ajuda pública e justificar por que tiram daqueles que trabalham para dar aos que não trabalham.
A pobreza, portanto, deve ser ser retratada não como uma consequência de ações autodestrutivas ou más escolhas — e certamente não de ação governamental — mas como resultado de má sorte e opressão. Já a riqueza deve ser vista não como resultado de trabalho árduo e perseverança, mas de sorte ou ganância e exploração. O conceito de virtude deve ser questionado e invertido, à medida que o décimo mandamento, “Não cobiçarás os bens do teu vizinho” vira “Não terás bens que o teu vizinho cobiça”.
Ciclo de feedback
Imagine quão perigoso o mundo seria para uma pessoa sem a capacidade de sentir dor (como acontece em algumas formas de lepra). Tal pessoa poderia se ferir terrivelmente ao continuar caminhando com um tornozelo torcido, ou ao colocar a sua mão em um forno quente sem perceber.
A liberalidade do governo pode criar um tipo de lepra moral ao enfraquecer ou até mesmo destruir circuitos de resposta que ligam causa e efeito. À medida que as consequências das ações autodestrutivas (como abandonar a escola, ter filhos fora do casamento ou abusar de drogas ou álcool) são cada vez mais transferidos para outros, a incidência de tais comportamentos aumentará. Ao mesmo tempo, à medida que os benefícios do trabalho árduo, perseverança e integridade diminuem, é de se esperar que tais virtudes sejam extintas.
A filosofia básica do estado de bem-estar social, “De cada um de acordo com a sua habilidade, a cada um de acordo com a sua necessidade”, leva as pessoas a demonstrarem mínima habilidade e necessidade máxima. Na medida em que essa filosofia é seguida — em geral, a riqueza flui dos politicamente fracos para os politicamente fortes — as pessoas se unirão em linhas étnicas, de gênero, religiosas e outras na competição para serem vistas como as mais necessitadas e, portanto, as mais dignas de uma fatia cada vez maior de um bolo cada vez menor. Esse espiral de autodestruição competitiva pode muito bem criar uma subclasse permanente que cuidadosamente evita o sucesso e adota o fracasso — ou seja, que age sensatamente diante dos incentivos perversos. Essa competição pelo dinheiro vindo de impostos pode criar fissuras profundas e irreparáveis entre grupos recipientes e pagadores de impostos.
À medida que o governo cresce, ele irá cada vez mais ser visto como a resposta para toda e qualquer dificuldade, e as pessoas demandarão soluções do governo cada vez mais para conveniências mínimas. Legislaturas responderão aprovando regulações cada vez mais rigorosas sobre indivíduos e indústria, reduzindo ainda mais a adaptabilidade, o pensamento independente e empreendedor, a disposição a enfrentar riscos e a produtividade. Normas centralizadas, burocráticas, corroerão a autoconfiança, a iniciativa e o senso de comunidade local dos cidadãos.
Quando o governo passa a prover bens e serviços que os indivíduos poderiam prover para si mesmos, ele lança uma tendência que se autoalimenta e eventualmente se torna insustentável. Uma vez que a prática de tirar de um cidadão para dar a outro estiver estabelecida, políticos serão incapazes de resistir ao impulso de subornar os eleitores, com o dinheiro que eles próprios pagaram em impostos. À medida que as recompensas dos legisladores por gastarem o dinheiro de outras pessoas crescerem, o gasto aumentará.
O tempo necessário para que um país chegue à falência depende da sua força econômica e cultural inicial. Mas, leve uma geração ou dez, a menos que a tendência seja revertida, a falência chegará. É possível ganhar tempo tomando dinheiro emprestado ou imprimindo dinheiro, mas outros países eventualmente não mais aceitarão a dívida da nação — seja na forma de títulos do governo ou na forma de moeda fiduciária.
No caso dos Estados Unidos, o país ainda não chegou à falência, mas ela logo estará à vista se as políticas atuais não mudarem. A previdência social ficará no vermelho este ano e o Medicare logo seguirá o mesmo caminho com déficits ainda maiores. Estimativas atuais da dívida dos Estados Unidos apontam algo em torno de US$13-14 trilhões, uma quantia equivalente ao produto interno bruto do país. Por mais monumental que esse número possa ser, ele se torna pequeno em comparação com o valor anual do passivo a descoberto da previdência social e Medicare, que totalizam US$107 trilhões.
De todas as mudanças trazidas pelo estado de bem-estar social, uma cultura degradada e dependente é a que terá o impacto mais mortal e será a mais difícil de reverter. No entanto, a cultura deve ser mudada. Isto só pode ocorrer se os incentivos criados pelo governo que encorajam as pessoas a viverem às custas de outros forem substituídos por incentivos criados pelo mercado, encorajando a produção de bens e serviços que as pessoas querem. A competição criativa no ambiente do mercado para produzir mais e melhores produtos deve suplantar a competição política por um conjunto de impostos cada vez menor extraído de um conjunto cada vez menor de trabalhadores produtivos.

Publicado originalmente em <a href="http://www.thefreemanonline.org/featured/the-paradox-of-the-welfare-state/

Disseram que a Europa se americanizou, no trabalho, pelo menos...

ECONOMIC SCENE

Americanized Labor Policy Is Spreading in Europe


Francisco Seco/Associated Press
Union protesters in Lisbon last month hold signs reading “Government Out.”


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In 2008, 1.9 million Portuguese workers in the private sector werecovered by collective bargaining agreements. Last year, the number was down to 300,000.

Economic Scene

Eduardo Porter writes the Economic Scene column for the Wednesday Business section.
Kay Nietfeld/Deutsche Presse-Agentur, via Associated Press
Angela Merkel, center, was forced to approve Germany’s first minimum wage law to form a government.
Spain has eased restrictions on collective layoffs and unfair dismissal, and softened limits on extending temporary work, allowing workers to be kept on fixed-term contracts for up to four years. Ireland and Portugal have frozen the minimum wage, while Greece has cut it by nearly a fourth. This is what is known in Europe as “internal devaluation.”
Tethered to the euro and thus unable to devalue their currency to help make their goods less expensive in export markets, many European countries — especially those along the Continent’s southern rim that have been hammered by the financial crisis — have been furiously dismantling workplace protections in a bid to reduce the cost of labor.
The rationale — forcefully articulated by the German government of Angela Merkel, the European Commission and somewhat less enthusiastically by the International Monetary Fund — is that this is the only strategy available to restore competitiveness, increase employment and recover solvency.
These policy moves are radically changing the nature of Europe’s society.
“The speed of change has certainly been very fast,” said Raymond Torres, the chief economist of the International Labor Organization in Geneva. “As far as I can tell, these are the most significant changes since World War II.”
While most of the debate over Europe’s response to the financial crisis has focused on the budget austerity enveloping the Continent, the comparatively unheralded erosion of worker protection is likely to have at least as big and lasting an impact on Europe’s social contract.
“It has a disastrous effect on social cohesion and a tremendous effect on inequality,” argued Jean-Paul Fitoussi, an economics professor at the Institut d’Études Politiques de Paris. “Well-being has fallen all across Europe. One symptom is the rise of extremist political parties.”
Europe’s strategy offers a test of the role played by labor market institutions — from unions to the minimum wage — in moderating the soaring income inequality that has become one of the hallmarks of our era.
Inequality across much of Europe has widened, but it is still quite modest when compared with the vast income gap in the United States.
The question is whether relative equity can hold as workplace institutions that for decades protected European employees’ standard of living give way to a more lightly regulated, American-style approach, where the government hardly interferes in the job market and organized labor has little say.
The evidence so far suggests the answer is no. The drop in unionization in Portugal “is going to blow the wage distribution apart,” David Card, a labor economist at the University of California, Berkeley, said.
Perhaps the most compelling evidence that Europe’s tentative new path will lead to deepening inequality comes from the country that adopted the strategy earliest and came out at the other end a paragon of success: Germany.
The overhaul of the labor market started after German unification in the early 1990s, when factories in the less-productive Eastern part of the country found they could not compete at the pay scales provided in the West, and defected en masse from the sector agreements negotiated between industry associations and large unions. West German firms soon took up the strategy. The share of workers covered by collective labor agreements fell.
In the early 2000s — when a hobbled Germany won the moniker “sick man of Europe” — efforts to improve competitiveness and employment further eroded worker protections, fueling a boom in low-paid, short-term “mini-jobs” that today account for more than a fifth of German employment.
Today, Germany is seen as a shining example of the virtues of such reform efforts. It is an exporting powerhouse with an unemployment rate, according to the European statistical agency Eurostat, of 5.2 percent: the envy of the Western world. But on closer inspection it becomes apparent that not all Germans have benefited from Germany’s success.
In 1991, the richest 10 percent of Germans took in 26 percent of the nation’s income before taxes and transfers, according to a report by Kai Daniel Schmid and Ulrike Stein of the Macroeconomic Policy Institute in Düsseldorf, which is closely linked to the German Confederation of Trade Unions. By 2010 they took in 31 percent.
Over the same period, the slice of the nation’s income taken by the bottom half of the population fell to 17 percent, from 22 percent.
As Professor Card has noted, the widening of the wage gap among German men from 1996 through 2009 roughly matches that in the United States during the 1980s — one of the periods of fastest-growing income inequality since the Gilded Age.
And though inequality in Germany has abated somewhat over the last two years as the number of part-time, low-wage jobs has stabilized, it remains much higher than a decade ago.
Whether Germany’s strategy will be of any use to distressed European countries today ishotly debated. German exports did take off, but domestic demand sagged, a direct consequence, critics say, of lower pay. So it took a long time for the efforts to produce jobs.
What’s more, the German rebound relied on a fast-growing global economy that was hungry for its exports. The world is very different today. “Demand from Asia was much more important than mini-jobs,” Mr. Torres of the I.L.O. argues.
But there is another issue at play. Even if the strategy were to eventually increase employment, what else will it do to Europe?
Andrew Watt, an economist who heads the Macroeconomic Policy Institute in Germany, worries that the push for labor market deregulation will cascade from one weak country to the next, as all engage in a futile race to create jobs by gaining market share from one another in a world of insufficient demand. “Whichever country is weakest at the time is forced into major cutbacks. First Germany, now Spain, next France,” he said.
“I am concerned about the longer-run costs,” Mr. Watt added. “It is hard to rebuild collective bargaining and welfare-state structures once they have been destroyed.”
Lowell Turner, who heads the Worker Institute at Cornell University, argues that there has always been a tension between the European Union’s economic project — centered on creating a vast single market — and the Continent’s deep-rooted commitment to social equity. The crisis put a thumb on the scales. “For a year or two governments protected their workers,” he said. But “the balance has tipped away from social Europe.”
There are signs of change, though. German elections earlier this year forced the Christian Democratic Union of Chancellor Merkel into a governing coalition with the Social Democratic Party. Part of the deal to form a government included introducing Germany’s first minimum wage, at 8.5 euros an hour, or about $11.50.
Lifting German wages at the bottom end should help other European countries to some extent, expanding German demand for their products. It is perhaps overly optimistic, though, to assume Berlin would welcome similar policies among its poorer, weaker neighbors.
Rather, labor markets in Southern Europe seem destined to increasingly follow the American way. “This is a way to, indeed, make Europe very much more like the U.S.,” Mr. Watt said. “With respect, that is not what most Europeans want.”
Email: eporter@nytimes.com;
Twitter: @portereduardo

Vladimir Lenin Safatle: o professor mais caro do mundo, pela indigencia teorica de seus artigos...

Leiam o artigo abaixo, de um professor da USP que tem um certo ar leninista, com sua barbicha ruiva e sua careca frontal. Não creio que tenha escrito nada comparável ao Estado e a Revolução, ou mesmo ao Que Fazer?, mas certamente escreveu, continua escrevendo e ainda escreverá muitas outras bobagens, do tamanho ou maior desta que segue abaixo, e que vocês podem tentar entender (mas não se preocupem se não conseguirem: não tem nenhuma importância).
Para mim se trata do professor mais caro do mundo, no sentido em que existe uma enorme desproporção entre o que ele recebe, como professor da USP, ou até da Folha, por seus artigos mal escritos, e o que valem, de fato, suas aulas e artigos, que não valem nada, este abaixo, pelo menos, não vale o papel em que foi impresso.
O neoleninista pretende contradizer aqueles que acham que o Brasil está caro -- o que é um fato, relativa e absolutamente, e qualquer um que viaje ao exterior pode comprovar, até ele mesmo, que certamente já comprou eletrônicos no exterior, talvez o seu iPhone ou o seu iPad -- e por isso ele tenta descartar os fatores habituais: carga tributária, custo do trabalho, etc.
Como seu mestre Lênin -- que era um gênio em política, mas um idiota completo em economia -- Vladimir Safatle também é um idiota em economia, ou melhor, um ignorante crasso, sem obviamente ser um gênio em política; longe disso, pois ele demonstra cabalmente sequer conhecer que Lula nunca teve qualquer "engenharia econômica", mas roubou todo o software de política econômica do governo anterior, sem pagar direitos autorais, e ainda chamando aquela política, que ele aplicou sem pestanejar, de neoliberal. Vladimir Safatle deve exibir a mesma desonestidade fundamental e também achar que Lula era um neoliberal enrustido, e que o Brasil merece mesmo uma política econômica de esquerda, que obviamente não pode ser a NEP dos neoliberais petralhas e seus economistas keynesianos de botequim. O novo Lênin tropical passa por cima disso, demonstrando que é também, como o Lênin original, um total rústico em economia, para não dizer um ignaro completo.
Ele acha, por exemplo, que a razão dos preços altos no Brasil tem apenas duas explicações, e nenhuma delas tem a ver com os impostos, que ele acha moderados, comparados com outros países (de forma completamente estúpida, registre-se desde já).
As duas explicações dele são: oligopólios -- que de fato existem no Brasil, mas ele não diz quais são e onde estão -- e a desigualdade (não sabe bem como a desigualdade causaria preços altos, mas isso o nosso Lênin de cera de sebo também não explica).
Ele compara alhos com bugalhos, ou maçãs e bananas, ou ainda, pretende equiparar um rato a uma montanha.
Vejamos. Para ele, o brasileiro até paga pouco imposto, apenas 4 mil dólares, per capita, quando o americano paga 13.550. Parece uma diferença enorme, não é?
A matemática desse professor é de alienado mental, ou ele exibe um grau de indigência mental que arrisca ser transmitido para os seus alunos. Neste caso, se trata de simples aritmética, ou seja reportar esses valores a seus contextos de PIB per capita.
Talvez ele não saiba que a renda per capita de um brasileiro é de 10 mil dólares, o que faz com que a carga fiscal represente exatamente 40 por cento desse valor (na prática é maior, pois com 40% ou mais de carga fiscal, um sueco, ou francês ou alemão, recebem de volta serviços públicos compatíveis, enquanto um brasileiro precisa ainda gastar um pouco-bastante mais de sua renda para comprar esses serviços no mercado). Ou seja, o brasileiro deixa mais de dois quintos de tudo quanto produz, de toda a sua renda, para o novo ogro famélico da derrama nacional.
Já o americano que (segundo a informação do nosso gênio matemático) paga 13.550, tem uma renda per capita de mais de 50 mil dólares, o que faz com que sua carga fiscal seja quase duas vezes menor do que a do brasileiro, para um renda cinco vezes maior, mas não estou seguro que seja bem isso ( pois seria preciso separar taxação sobre os fluxos de renda pessoal e os impostos indiretos, como o sales tax); de toda forma, como sabe todo brasileiro que já viajou aos EUA (menos o nosso Lênin, que deve ter preconceito contra o império), os preços dos produtos vendidos nos EUA são bem mais em conta, por ser aquele mercado totalmente aberto e competitivo e ter um sales tax (na faixa  de 4 a 6%) inferior à TVA europeia (como sabe qualquer viajante ao velho continente, onde nosso Lênin já deve ter ido, pelo menos para visitar o seu êmulo embalsamado).
As outras considerações "econômicas" que ele faz em seu artigo são de chorar de rir, tamanho o grau de delírio que ele exibe ao falar de preços, rendas e salários. Eu recomendaria um simples manual elementar de economia, que os imperialistas chamam de Economics 101 (mas pode ser também o Economy for Dummies, ou o Idiot's Guide to Economics).
Concluindo.
Para mim, esse professor é o mais caro do mundo: jamais mereceria o salário que recebe, nem os honorários da Folha de S. Paulo tamanha a indigência "subintelequitual" de sua argumentação.
Chego a sentir pena dos seus alunos, e vergonha por aquela que foi a minha primeira faculdade, a "Fefelech", da USP, que já teve professores melhores, ou que, pelo menos, na época, não abrigava estupores desse quilate.
Esse professor não vale meio salário mínimo, ou, no máximo, vale meia Bolsa-Família, já que este seria o seu valor máximo de mercado... (se alguém se dispuser a pagar por baboseiras, claro...).
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 4 de dezembro de 2013

O mais caro do mundo
Vladimir Safatle
Folha de S.Paulo, 03/12/2013

Ao que parece, chegou a hora de saudar o Brasil como o novo país "do mais caro do mundo". Foram necessárias décadas para alcançar tamanha conquista e, ao que parece, desta vez ela veio para ficar. Afinal, anos de trabalho árduo permitiram aos brasileiros ter o prazer de pagar o dobro no mesmo carro que outros mortais compram sem tanto sacrifício.
Atualmente, ser brasileiro é ter a satisfação de levar para casa o console Xbox mais caro do mundo. É poder humilhar os estrangeiros ao dizer o preço que pagamos em passagens aéreas, escolas, aluguéis e imóveis arrebentados em lugares com fios elétricos na frente da janela.
Para chegar a este estágio, foi necessário não apenas um conjunto substantivo de equívocos econômicos. Foi preciso muita cegueira ideológica para engolir a ladainha de que nosso troféu de "o mais caro do mundo" foi conquistado exclusivamente através dos impostos mais elevados e dos altos custos trabalhistas.
Não, meus amigos. Só em um mundo (como esse em que alguns liberais vivem) sem países como França, Alemanha ou Suécia o Brasil teria os impostos mais altos. Se nos compararmos aos EUA, veremos que a contribuição fiscal per capita de um brasileiro (US$ 4.000) é bem menor do que a de um norte-americano (US$ 13.550).
Na verdade, depois que se inventa o inimigo, é mais fácil esconder o verdadeiro responsável. Nosso troféu de "o mais caro do mundo" deve ser dedicado a esses batalhadores silenciosos do desastre econômico, a esses companheiros de todos os governos brasileiros: o oligopólio e a desigualdade.
A desigualdade econômica, esta tudo mundo conhece. Ela fingiu por um momento que estava se deixando controlar, mas deu não mais que uma unha para permanecer com todos os gordos dedos. Sempre se combateu desigualdade com revolução fiscal que taxasse os ricos, punisse radicalmente a evasão fiscal e limitasse os grandes salários. Mas, no país "do mais caro do mundo", o tema é tabu. Assim, uma classe de milionários pode empurrar alegremente os preços para cima porque não tem problema algum em pagar pelo mesmo o seu dobro, desde que as lojas ofereçam manobrista VIP e água com gás na saída do estacionamento.
Já a nova onda de oligopólios é uma das grandes contribuições da engenharia econômica do lulismo: os únicos governos de esquerda da galáxia que contribuíram massivamente para a cartelização de todos os setores-chaves da economia. Com uma política de auxiliar a formação de oligopólios via empréstimos do BNDES, o governo conseguiu fazer uma economia para poucos empresários amigos. Nela, não há concorrência. Assim, os preços descobriram que, no Brasil, o céu é o limite.

Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Escreve às terças na Página A2 da versão impressa.

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