terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Maioria dos municipios gasta mais do que arrecada - UGT Press

Do boletim da União Geral dos Trabalhadores, de 4/02/2014:
UGTpress 0381: MAIORIA DOS MUNICÍPIOS GASTA MAIS DO QUE ARRECADA

MUNICÍPIOS: se você considerar o total das receitas municipais (dados de 2011), encontrará um montante de 612 bilhões de reais. Agora, se você considerar o total das despesas, encontrará 576 bilhões de reais (dados do IBGE). Aparentemente, seria motivo para comemorar, afinal os municípios brasileiros apresentam um superávit de quase 50 bilhões de reais. Nesse cálculo, segundo a metodologia do IBGE, estão todos os recursos das três esferas aplicados nos município, o que deforma um pouco a percepção e não informa a verdadeira capacidade dos municípios na administração dos recursos próprios. A preocupação salta aos olhos quando se verifica quais são os municípios que gastam mais do que arrecadam: nada menos do que mais de 90% (noventa por cento mesmo!) dos municípios estão em situação praticamente falimentar. Somente 7,8% dos municípios estão em situação regular. Esses cálculos e essas preocupações podem ser transferidos para os estados, onde a situação é semelhante e alguns sustentam a ineficiência de outros. Quando se fala em déficit público ou lei de responsabilidade fiscal, há que se olhar individual e coletivamente as instâncias de governo. No Brasil, não há fiscalização e nem punição para aqueles municípios que não cumprem a lei e o sistema político, paternalista, de todos conhecido por sua ineficácia, é um guarda-chuva a proteger as más administrações.

EUA: um modo inventivo de producao - Scientific American

In today's excerpt -- in the first half of the 1800s, the Industrial Revolution was in full swing, and America had become a nation of inventors. In 1845, a new publication -- Scientific American -- was founded to take advantage of this new fever to invent.  

"Alfred Ely Beach was born into a prestigious family on September 1, 1826, in Springfield, Massachusetts, an hour west of Boston. ... He dreamed of striking out on his own. In 1845, another young man from Massachusetts named Rufus Porter presented him with that chance. Porter had just published the very first issue of a weekly magazine he created called Scientific American. Four pages long, it sold for a subscription rate of two dollars a year. The first edition included a note from Porter explaining how useful he believed his publication could be. 'As a family newspaper,' Porter wrote, 'it will convey more useful intelligence to children and young people, than five times its cost in school instruction.'

"Scientific American was published every Thursday morning and filled with original engravings of new inventions, improvements, or ideas, along with scientific essays, poems, and even things completely unrelated to science, like moral and religious musings. But Porter ... quickly lost interest in a magazine devoted to science, and, barely ten months after, he founded Scientific American, [he] went looking for a buyer.

Click to read Scientific American Series 1, Volume 1, Issue 1
  
"Beach was twenty years old and ... [with friend] Orson Desaix Munn who moved to New York, in July 1846 the two of them paid $800 for the tiny, obscure technical magazine and its subscription list of two hundred names. ...

"Scientific American had only a few hundred subscribers under Rufus Porter. But as Alfred Beach and Orson Munn learned once they took it over, inventors of the day saw real value in the magazine. The inventors wanted help from like-minded dreamers who saw the potential in their ideas. Beach and Munn had barely settled into their offices in 1846 when they were besieged with letters from inventors, or sometimes with unannounced visits. The requests were always the same: Help me apply for a patent and secure it, and I'll pay whatever it takes. Beach and Munn realized that Scientific American was more than a magazine. It was a trusted brand. ...

"Beach and Munn were able to quickly resurrect the magazine by focusing its content less on the highly technical science stories and more on what they knew best: curious inventions and practical, interesting patents. Simply by printing a weekly list of patents given to them directly from the U.S. Patent Office, Beach and Munn increased the number of subscriptions to Scientific American, and it took off: by 1848, not even two years after they bought it, the circulation exceeded ten thousand readers." 



The Race Underground: Boston, New York, and the Incredible Rivalry That Built America's First Subway
Author: Doug Most
Publisher: St. Martin's Press

From Delanceyplace, February 4, 2014

Um livro libertario, por Murray Rothbard

No site do Instituto Mises Brasil:

Por uma nova liberdade - O Manifesto Libertário
Murray N. Rothbard

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Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um decano da Escola Austríaca e o fundador do moderno libertarianismo. Também foi o vice-presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertarian Studies. 

O segredo e a (falta de) transparencia - Ricardo Noblat


A escapada de Dilma

Ricardo Noblat


No sábado 31 de março de 2012, depois de uma visita à Índia, Dilma Rousseff embarcou de volta sem a imprensa saber que o avião presidencial faria uma escala para reabastecimento no sul da Itália. Não tem autonomia para voar direto de tão longe.
Durante cinco horas, por decisão de Dilma, somente as cúpulas do governo, das Forças Armadas e dos órgãos de segurança sabiam onde ela estava, e o que fazia.
Um mês antes, o chefe do cerimonial da presidência da República telefonara para José Viegas, embaixador do Brasil em Roma, pedindo uma sugestão: de volta da Índia, onde o avião deveria abastecer?
Viegas respondeu na hora: em Palermo, capital da ilha da Sicília, parte da Itália. Ali existe um dos bens mais preciosos da humanidade – a Capela Palatina, recoberta de mosaicos do século XII.

Foto: Roberto Stuckert Filho / PR

Viegas foi avisado de que deveria recepcionar Dilma em Palermo no dia 31.
Os que cuidam da segurança da presidente haviam inspecionado os locais por onde ela passaria – o centro da cidade, a capela e o restaurante reservado para o jantar da comitiva de 18 pessoas, o quatro estrelas “Tratoria Piccolo Napoli” (telefone: +39 091 320431).
“Não quero seguranças ao meu lado”, ordenara Dilma. Que desembarcou em Palermo reclamando da companhia do fotógrafo da presidência. Ao seu lado, Helena Chagas, então ministra da Comunicação Social, nada disse. Ninguém ousaria.
Viegas consultou Dilma sobre o jantar. A “tratoria” fica em um bairro popular de Palermo. De varais com roupas estendida entre as casas. O lugar lembra o bairro do Brás, no centro de São Paulo.
Havia outra opção: um cinco estrelas à beira-mar posto de prontidão pelos agentes de segurança brasileiros.
“Vamos para o Brás”, respondeu Dilma.
O jantar custou cerca de mil dólares.
Dilma gosta de pizza. Em um domingo, há mais de ano, faltou pizza no Palácio do Alvorada. Seus assessores entraram em pânico. Foi aberta uma pizzaria para servi-la.
O que ela jantou em Palermo é “segredo de Estado”.
Fora os presidentes-generais da ditadura militar de 1964, presidente algum foi tão autoritário quanto Dilma é. Nem mesmo Fernando Collor de Melo, o primeiro a ser eleito pelo voto direto em 1989.
Ministros deixaram o governo Dilma por não suportá-lo (atenção: sem desmentidos, prefeito Fernando Haddad). Outros recusaram convites.
O cozinheiro de Palermo foi aplaudido de pé.
Certa vez, o encarregado dos bichos que vivem no Palácio da Alvorada foi chamado à presença de Dilma. Jamais esquecerá o que ela lhe disse por que um avestruz bicara um cão.
Palermo da Capela Palatina foi a primeira viagem de Dilma mantida em segredo. Salvo em ocasiões especiais, presidentes de países democráticos como o nosso nunca procederam assim.
Na semana passada, de volta da Suíça, sabia-se que Dilma iria à Cuba.
O jornal O Estado de S. Paulo descobriu o que fora omitido do público por ordem dela: o avião presidencial faria uma escala em Lisboa.
A informação parece irrelevante? De novo: em democracias não é.
O distinto público tem o direito de saber onde seu presidente está.
Omissão equivale a mentira.
O que você pensa a respeito?
Mensagens para a seção de cartas do jornal. Ou para o site Globo Online.

Guia politicamente incorreto da esquerda e do socialismo - Kevin D. Williamson

Blogs e Colunistas


03/02/2014
 às 21:51 \ HistóriaSocialismo

O livro politicamente incorreto da esquerda e do socialismo

O socialismo já apanhou tanto da história, que inventariar os seus podres pode parecer chute em cachorro morto. O problema é que o fantasma do cachorro está vivo. E morde.
O autor americano Kevin D. Williamson resolveu fazer a autópsia da utopia que mobilizou as melhores intenções no século XX – o sonho da igualdade que, para as almas boas e os corações solidários, representou praticamente o casamento da política com a poesia. Williamson mostra pacientemente com quantos pecados mortais se constrói uma utopia paradisíaca. 
O mais impressionante não é o proverbial fracasso do socialismo como experiência, mas o seu renitente sucesso como poesia para incautos e propaganda enganosa. A publicação deste livro no Brasil é mais uma chance – quantas outras haverá? – para a opinião pública despertar de longa letargia populista. E para entender de uma vez por todas os truques ideológicos da esquerda.
Se a impostura socialista continuar governando boa parte dos bem-intencionados no planeta, pelo menos este livro divertirá os que já entenderam o golpe. Margaret Thatcher dizia que o socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros. O economista Ludwig von Mises, um dos expoentes do liberalismo, completou: “O socialismo não é apenas um parasita econômico da propriedade capitalista, mas também um parasita intelectual do capitalismo.”
Se a doutrina lunática da esquerda ainda serve bem a políticos medíocres, entre os intelectuais ela é uma festa – como sintetizou Dwight Lee: “A existência de um enorme governo dá aos acadêmicos a possibilidade real de colocar em prática suas fantasias.”
Os lunáticos do bem vão muito além do campus de Harvard, esgrimindo por aí a sua bondade letal, como na defesa dos genocídios do Khmer Vermelho pelo novaiorquino Noam Chomsky, o “padroeiro da esquerda”. [...] o socialismo conseguiu se tornar a maior mentira da história: promete a felicidade estatal coletiva para obter vantagens privativas, comercializa a solidariedade, industrializa a boa fé. [...] a essência do socialismo não era a igualdade, mas o controle.
Ria com moderação e divirta-se se for capaz – porque o que dá para rir, dá para chorar.
Acima, trechos do excelente prefácio escrito pelo jornalista Guilherme Fiuza para O livro politicamente incorreto da esquerda e do socialismo, que recebi hoje de presente e, naturalmente, já estou louco para devorar!
Rodrigo Constantino

Uma republica ordinaria - Tuma Jr e suas acusacoes (sem respostas) - Roda Viva

Carlos Newton

O programa Roda Viva começou morno, mas foi enquentando no decorrer do período, até começar a cozinhar o PT, Lula, Gilberto Carvalho, Dilma Rousseff e companhia limitada. No final, a panela de pressão estava realmente fervendo, e o ex-secretário nacional de Justiça e ex-delegado federal Romeu Tuma Jr. aproveitou para anunciar que está escrevendo o segundo livro da série “Assassinato de Reputações”.
Entre os entrevistadores, dois estavam a favor dele – o apresentador Augusto Nunes e o colunista Ricardo Setti, do site da Veja. Os demais estavam flagrantemente tentando demolir Tuma Jr., que pesa uns 120 quilos e é duro na queda. Os jornalistas Mário Cesar Carvalho, da Folha, Eugenio Bucci e Fernando Barros, ambos do Estadão, e a historiadora Cristine Prestes tentaram fustigar o entrevistado, mas ele absorveu bem os golpes e respondeu de forma irrefutável as perguntas, portando-se com muita firmeza.
No início, o programa foi uma chateação, porque o entrevistado só se preocupava em explicar a montagem das acusações contra ele no episódio da chamada máfia chinesa. E tanto fez que acabou demonstrando que realmente foi vítima de uma armação. No final, Tuma Jr. conseguiu fazer um estrago na reputação de muitos petistas, especialmente Gilberto Carvalho e Lula.
NINGUÉM PROCESSA…
O programa começou com o apresentador Augusto Nunes afirmando que Tuma Jr., no livro, faz pesadas acusações contra importantes autoridades brasileiras. E perguntou se o ex-delegado já está sendo processado por alguém que tenha sido alvo de suas denúncias.
Tuma Jr. respondeu que até agora ninguém o processou. “O que houve é que fizeram ameaças a mim e a minha família, mas processo mesmo ninguém abriu”, assinalou, explicando que nenhum dos acusados deve processá-lo porque isso daria margem à abertura de uma investigação judicial, na qual ele poderia apresentar provas da veracidade de suas denúncias.
Em seguida, Mário César Carvalho lembrou o caso da máfia chinesa, e Tuma Jr. passou a explicar esse episódio, que foi o grande motivo para a preparação do livro, destinado a reparar os danos à sua imagem de homem público.
O segundo entrevistador, Ricardo Setti, puxou o assunto do assassinato de Celso Daniel, mas Tuma Jr. continuou falando sobre a armação que fizeram contra ele, grampeando seus telefonemas durante dois anos e depois vazando para a imprensa seu suposto envolvimento com criminosos.
“No único grampo divulgado, eu apareço falando com o denunciante do caso, mas fizeram parecer na imprensa que eu estava me comunicando com algum integrante de uma quadrilha”, explicou, dizendo que não existia a tal máfia chinesa, nunca abriram inquérito contra ele e o depoimento que prestou à Polícia de São Paulo simplesmente sumiu.
ESTADO POLICIAL
O entrevistado seguinte, Eugenio Bucci, perguntou sobre as irregularidades na Polícia Federal denunciadas no livro. Tuma Jr. então confirmou as acusações, dizendo que o Brasil está vivendo num Estado policial, que não pode continuar. Disse que a Polícia Federal está “instrumentalizada” pelo governo e tem extrapolado suas obrigações, ao usar seus serviços de inteligência com objetivos partidários, para prejudicar adversários políticos.
Logo depois, Fernando Barros perguntou sobre o caixa 2 da prefeitura de Santo André e o envolvimento do ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República. Indagou se Tuma Jr. tem provas das acusações.
O ex-delegado confirmou rapidamente as denúncias, dizendo que Carvalho era mesmo o encarregado de recolher a propina. E voltou a se defender das acusações sobre a tal máfia chinesa.
A entrevistadora Cristine Prestes insistiu em indagar se Tuma Jr. tem provas, pois isso não ficara claro na resposta anterior dele a Fernando Barros. Para variar, o entrevistado continuou dando mais detalhes sobre a armação feita a propósito da máfia chinesa e disse que pediu para ser investigado na Comissão de Ética do Planalto, onde foi considerado inocente por unanimidade. Por fim, a respeito das provas, disse apenas que apresentará os documentos assim que alguém ousar processá-lo.
CENTRAL DE DOSSIÊS
Depois do intervalo, Augusto Nunes indagou se a “central de dossiês” denunciada no livro continua funcionando.
“Bem, não estou mais lá, mas acredito que ainda estejam fazendo isso, porque continuam realizando investigações irregulares através do Serviço de Inteligência da Polícia Federal”, comentou. Disse que, na época em que constatou essas distorções, chegou a alertar o ministro da Justiça Tarso Genro, que lhe respondeu que isso era normal.
O ex-delegado disse então que Polícia federal está instrumentalizada pelo governo e tem usado poderes de polícia judiciária, fazendo inquéritos sigilosos, sem dar acesso aos advogados das pessoas investigadas e agindo movida por interesses político-partidários.
GRAMPO NO SUPREMO
Em seguida, Mário Cesar Carvalho tentou desmentir Tuma Jr. sobre o grampo no Supremo contra Gilmar Mendes e outros ministros. Disse ter entrevistado o agente da Polícia Federal citado no livro, que lhe negou ter ido a Brasília atuar no STF. A essa altura do programa, parecia que pela primeira vez algum dos entrevistadores enfim conseguira derrubar uma das acusações do ex-secretário nacional de Justiça.
Mas Tuma Jr. se saiu bem. Confirmou que houve mesmo os grampos no Supremo e disse que o agente da Polícia Federal mentiu ao ser entrevistado por Carvalho. Para provar, exibiu um documento de requisição de passagem para Brasília em nome do tal agente. Depois, assinalou que a Polícia Federal grampeou não somente os telefones fixos do Supremo, como também os celulares dos ministros.
CASO CELSO DANIEL
Aí o programa esquentou de vez, porque Tuma Jr. então se alongou sobre assassinato de Celso Daniel em 2002, quando era prefeito de Santo André e coordenava a campanha de Lula.
O ex-delegado disse ter feito fotos do cadáver de Celso Daniel, mostrando que ele sofrera tortura, porque havia marcas nas costas. Assinalou ter conseguido desvendar o crime e até fez um acordo de delação premiada com o suposto assassino, mas no dia seguinte ele foi morto na cadeia, antes de prestar depoimento.
“Depois disso, fui afastado do caso, sob alegação de que o inquérito seria conduzido por uma delegacia especializada”, ironizou.
E confirmou que o hoje ministro Gilberto Carvalho era o encarregado de receber a propina da Caixa 2 da Prefeitura de Santo André, dizendo que isso lhe foi revelado pessoalmente por Carvalho, em 2010, e o ministro chorou ao lhe fazer tal confissão.
ACUSAÇÕES A LULA          
No final vieram as acusações ao ex-presidente Lula, que eram aguardadas desde o início do programa. Tuma Jr. disse que foi nomeado para a Secretaria Nacional de Justiça na cota pessoal de Lula, a quem conhecera como líder sindical no regime militar, quando trabalhava no DOPS e Lula era informante e muito ligado ao seu pai, o então delegado Romeu Tuma, que depois entrou na política e virou senador.
Garantiu que Lula sempre foi próximo aos militares e citou um episódio ocorrido numa reunião, quando a advogada Terezinha Zerbini, fundadora do Movimento Social pela Anistia, defendia os direitos de militantes metalúrgicas perseguidas pelos militares e Lula cassou-lhe a palavra.
Disse que as fotos de Lula sendo preso mostram bem sua ligação com os militares e com o DOPS, porque registram que o então líder sindical foi conduzido no banco de trás da viatura policial, sentando junto à janela, com o vidro aberto e fumando, uma situação inadmissível se ele fosse um preso qualquer.
Assinalou que Lula passou muitas informações aos policiais e disse que tudo está bem documentado, porque os arquivos do DOPS foram preservados. “Lula tem muitas revelações a fazer”, ironizou Tuma Jr., desafiando: “Abram os arquivos do DOPS! Abram os arquivos!”.
Depois, falou também sobre o caso Rosegate, que envolve a namorada secreta de Lula, Rosemary Noronha, e comentou que a Polícia Federal ficou mal no episódio, que teria “capítulos hollywoodianos”. E por fim, disse que está escrevendo o segundo livro, dando a entender que os documentos serão publicados nesta próxima edição.

A politica externa brasileira: uma visao critica - Bernardo Sorj (IEA-USP)


O discurso diplomático brasileiro, "que enfatiza as relações Sul-Sul, apresenta excessos retóricos e o sobreinvestimento na busca de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU é questionável e deveria ser mais amplamente discutido". O diagnóstico é do sociólogo Bernardo Sorj, em entrevista ao site do IEA. Sorj desenvolve no IEA o projeto "O Conflito no Oriente Médio: Alcances e Limites da Política Exterior do Brasil".
Boletim do Instituto de Estudos Avançados, USP (3/02/2014)

A política externa brasileira sob o olhar crítico de Bernardo Sorj

por Mauro Bellesa 
Bernardo Sorj
Boletim do Instituto de Estudos Avançados da USP, publicado 10/01/2014 

Bernardo Sorj, professor visitante
Nascido no Uruguai e naturalizado brasileiro, o sociólogo Bernardo Sorj tem interesse particular por temas ligados à América Latina. Diretor do Centro Edelstein de Pesquisa Social, voltado para o fortalecimento das democracias latino-americanas, atualmente ele se dedica também ao estudo "O Conflito no Oriente Médio: Alcances e Limites da Política Exterior do Brasil", projeto que está desenvolvendo como professor visitante do IEA.
Além de abranger esse foco de investigação dos últimos anos, a pesquisa guarda relação com sua formação acadêmica inicial: Sorj é graduado em história e sociologia pela Universidade de Haifa, Israel, onde também cursou o mestrado. É doutor pela Manchester University, Inglaterra, e pós-doutor pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, França.
Na seguinte entrevista, concedida à jornalista Flávia Dourado, o sociólogo, que é professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), falou sobre o estudo que vem conduzindo no IEA, com foco na política externa brasileira durante o governo Lula. De acordo com ele, "o discurso que enfatiza as relações Sul-Sul apresenta excessos retóricos e o sobreinvestimento na busca de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU é questionável e deveria ser mais amplamente discutido".
Em seu projeto de pesquisa, o senhor diz que uma nova ordem internacional vem se estabelecendo, marcada pela multipolaridade, pelo aumento da autonomia de países em desenvolvimento e pela perda relativa da influência dos Estados Unidos no cenário global. Que fatores estão levando a essa mudança?
A nova ordem internacional, do ponto de vista geopolítico, se caracteriza pelo lugar central que os Estados Unidos ainda ocupam, único país com capacidade militar global. No entanto, esse poder militar não é infinito e os Estados Unidos precisam de aliados locais para assegurar sua hegemonia. Neste sentido, mais do que um mundo multipolar, trata-se de um mundo com hegemonia negociada, que exige uma maior flexibilidade na política exterior americana. No horizonte se perfila o surgimento de uma nova superpotência, a China, que no futuro poderá fazer frente aos Estados Unidos, embora ela enfrente uma situação muito complexa, rodeada de países com os quais tem problemas fronteiriços e rivalidades históricas. Um degrau atrás se encontram países que são centros de poder regional. Entre eles, vários países europeus e a Rússia — pelo seu poderio militar —, mas também a Índia, a Turquia e o Brasil. Do ponto de vista econômico, a multipolaridade é maior, e além dos polos representados pelos Estados Unidos e a Europa, a China passou a ocupar um lugar central, como principal parceiro comercial de um grande número de países.
Qual o lugar das "potências emergentes" como o Brasil nesse mundo multipolar?
O fim do comunismo aumentou a autonomia das elites locais, que deixaram de temer revoluções comunistas e não precisam mais do guarda-chuva dos Estados Unidos. Isso vale para todos os países latino-americanos. O Brasil, pelo seu peso territorial, demográfico e econômico, é o principal referente da política exterior na região, mas sua estratégia internacional ainda não chegou a se consolidar numa proposta coerente. Na América do Sul, o modelo econômico brasileiro, altamente protecionista, limita seu papel como atrator das economias vizinhas e sua capacidade de produzir cadeias industriais interligadas com a economia regional e global. O discurso que enfatiza as relações Sul-Sul apresenta excessos retóricos e o sobreinvestimento na busca de uma vaga no Conselho de Segurança da ONU é questionável e deveria ser mais amplamente discutido.
O senhor fala na configuração de uma hegemonia negociada. Quais as implicações disso para a regulação da nova ordem internacional?
Como mencionei anteriormente, a hegemonia negociada é uma exigência crescente de um sistema internacional que não possui a clareza do período da guerra fria e onde a principal potência, os Estados Unidos, perdeu peso relativo. Nesse contexto, países com poder médio procuram ampliar suas áreas de influência e seu papel nos fóruns e instituições internacionais.
Sua pesquisa concentra-se na política exterior brasileira durante o governo Lula. Como o senhor caracteriza essa política e em que medida ela representou uma ruptura com a política anterior?
Chamar de ruptura seria um exagero, inclusive porque o governo Lula teve que lidar com novas realidades que inexistiam no período Fernando Henrique Cardoso, como a política exterior de Hugo Chávez e os Brics. No caso da política exterior bolivariana, o governo Lula soube navegar de forma adequada, freando suas iniciativas mais radicais e/ou canalizando-as no sentido de criação de instituições sem maiores poderes, como a Unasur ou o Conselho de Defesa Sul-Americano. A principal distinção do governo Lula foi a mudança no sentido de um discurso mais radical, denunciador do Norte, a explicitação de apoio a candidatos em eleições de países vizinhos — o que significou um rompimento com a tradição de respeito à soberania nacional de cada país —, a ênfase nas relações Sul-Sul e um distanciamento nos fóruns internacionais em relação à defesa dos direitos humanos, que foi revertida no governo Dilma.
Há continuidade dessa política externa no governo Dilma?
Em geral o governo Dilma manteve as linhas básicas da política externa do governo precedente, mas com um ativismo internacional pessoal muito menor e sem as declarações controversas que caracterizaram o presidente Lula.
A política externa do governo Lula foi marcada pela defesa da estratégia de cooperação Sul-Sul, ou seja, da aproximação com países em desenvolvimento, como os latino-americanos e os africanos. Quais foram as principais transformações nesse âmbito e que efeitos políticos e econômicos essa estratégia ocasionou?
As relações comerciais do Brasil com a América Latina não aumentaram durante o governo Lula e o Mercosul aprofundou sua crise, por causa das dificuldades da Argentina. Apesar da retórica integracionista, o principal fenômeno dos últimos anos foi a criação da Aliança para o Pacífico — da qual o Brasil não faz parte —, que  inclui o México, país que o Brasil marginalizou com sua ênfase na América do Sul. A suspensão do Paraguai quando da deposição do presidente Fernando Lugo ignorou os procedimentos definidos no tratado de Ushuaia. Parte dos investimentos do setor privado brasileiro na região, como o bancário, por exemplo, integram um processo natural de expansão de empresas na procura de novos mercados. A promoção de grandes empreiteiras em países vizinhos, como Bolívia e Equador, produziu duas crises quando os governos denunciaram as obras em construção. Os projetos de cooperação com a Venezuela na área energética não decolaram e ainda é cedo para avaliar a sensatez dos investimentos realizados por empresários brasileiros naquele país, que contaram com o apoio ativo do governo brasileiro. Na prática, o Brasil está enfrentando cada vez mais a concorrência de produtos chineses na região, e a elaboração de uma estratégia capaz de limitar os estragos ainda está por ser elaborada.
Durante o governo Lula, o Brasil reivindicou, sem sucesso, o ingresso no Conselho de Segurança da ONU. Como o senhor vê as perspectivas para que isso se concretize e quais seriam os principais benefícios para o país?
Durante muito tempo se argumentou que o principal empecilho para mudar a estrutura do Conselho de Segurança são os Estados Unidos, quando na prática o problema é mais complexo. A China não tem nenhum interesse nessa mudança, que levaria ao conselho países como o Japão e a Índia, com os quais mantém sérios contenciosos. Os gestos do Brasil para agradar a China na expectativa que ela apoiasse a demanda brasileira se mostraram infrutíferos. Pessoalmente, acredito que o Brasil não deveria investir tanto nesse tema, que ademais divide a América Latina, pois países como o México reivindicam que a vaga seja rotativa entre os países de região.
O objetivo central da sua pesquisa é analisar a atuação do Brasil na tentativa, com a Turquia, de negociação de um acordo em 2010 que resolvesse os impasses do programa nuclear iraniano. Como o senhor analisa aquela tentativa e o que ela representou para imagem do Brasil perante a opinião pública internacional?
Ainda não possuo os elementos para realizar uma avaliação ponderada. O quanto o passo em falso deveu-se a uma leitura errada dos sinais enviados pelos Estados Unidos e o quanto foi produto do açodamento da equipe que assessorou o presidente, isso ainda é uma questão em aberto. O resultado foi penoso para o Brasil, que entrou numa mesa para a qual não tinha cacife suficiente.
Qual sua opinião sobre o posicionamento do Brasil durante o governo Lula em relação à questão palestina?
A postura do governo Lula foi equilibrada, defendendo a criação de um Estado Palestino convivendo com o Estado de Israel.
E quanto às iniciativas comerciais brasileiras voltadas para os países árabes?
Com a Primavera Árabe, caíram vários governos com os quais o presidente Lula procurou se aproximar. O Brasil deverá reavaliar sua política em relação aos países árabes, procurando parceiros que apresentem maior estabilidade política, como o Marrocos, por exemplo.
Foto: Arquivo de Bernardo Sorj

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