sexta-feira, 14 de março de 2014

Venezuela: mais um caso de exagero midiatico, segundo o conselheiro totalitario

Repressão desse tipo só se explica de um jeito: ódio.
Essa gente tem ódio a quem não pensa como eles. Eles tem ódio à democracia.
Gostam mesmo é de ditaduras assassinas.
Paulo Roberto de Almeida 

Repressão de Maduro supera a de Chávez

Ativistas denunciam agressões, torturas e desaparecimentos sem precedentes

13 de março de 2014 | 23h 43

Oscar Medina, Caracas / Especial Para o Estado
CARACAS - O caso de Marvinia Jiménez é emblemático diante do que ocorre na Venezuela. É difícil esquecer as imagens que mostram quando uma robusta integrante uniformizada da Guarda do Povo - um componente militar subordinado à Guarda Nacional Bolivariana - a domina com violência, a arremessa no chão, monta nela e a golpeia seguidas vezes com o capacete.
Gravada, agressão a Marvinia Jiménez tornou-se exemplo de abusos do chavismo - Rafael Reyes/Notitarde
Rafael Reyes/Notitarde
Gravada, agressão a Marvinia Jiménez tornou-se exemplo de abusos do chavismo
Difícil esquecer seu rosto deformado. Difícil imaginar o terror das horas durante as quais ela permaneceu algemada, trancada em uma cela, incomunicável, sem poder falar com a família, muito menos com um advogado. Marvinia - que tem problemas motores em metade do corpo - mora em La Isabelica, uma região pobre da cidade de Valência, no Estado de Carabobo, no centro do país. Ali, no dia 24, enquanto gravava com seu celular a investida da guarda contra um grupo de manifestantes, entre disparos e gases lacrimogêneos, ela foi agredida.
Um trecho da sua declaração ao jornal local El Carabobeño descreve o momento: "Um dos guardas quis arrancar o celular da minha mão, mas eu joguei o aparelho bem longe e não sei se alguém o encontrou. Neste momento, uma mulher que parecia um gorila avançou em mim. Enquanto ela me espancava, puxaram meus braços para trás e me algemaram. A mulher enlouquecida continuava batendo em mim. Parece que quebrou uma unha ao me jogar no chão e isso a enfureceu. Ela tirou o capacete e começou a me espancar com ele. Não lembro quantas pancadas recebi, achei que fosse desmaiar, porque, de nascença, tenho o lado esquerdo adormecido e minha mão estava ficando imóvel. Gritei para ela: ‘Tenho deficiência física, tenha dó de mim’. Ela não escutou - me arranhou, cuspiu em mim, me chutou, torceu o meu pescoço, me mordeu e me puxou os cabelos. Só a ouvi quando ela disse: ‘Maldita, você quebrou minha unha que era tão linda’. E me bateu com o capacete do lado esquerdo do rosto e na testa. Tenho hematomas no rosto, inflamações por toda parte, galos na cabeça. O que lembro deste momento é de um guarda que gritava: ‘Morena, bate mesmo nessa magricela suja’. Outro ainda gritou: ‘Larguem ela, que estão gravando’."
Defensores dos direitos humanos ouvidos por jornalistas concordaram em ressaltar o esquema comum: prisões arbitrárias, aplicação excessiva e desproporcional da força, uso ilegal de armas de fogo, torturas, maus-tratos e humilhações, incomunicabilidade dos detidos, violações do devido processo e restrição da liberdade. Também reclamaram de forma veemente da falta de ação da Defensoria Pública. Gabriela Ramírez, que chefia o organismo, declarou que no seu escritório não chegaram as denúncias de torturas de que se fala nos veículos de comunicação e nas redes sociais.
O Foro Penal Venezuelano, cujos advogados assistiram gratuitamente os presos, resumiu o que vem sendo denunciado ao longo dessas semanas em cinco páginas. Desde o dia 9, até as 18 horas do dia 26, constavam nos registros, "609 detenções, prisões ou retenções ilegais em todo o país". Desse grupo de pessoas, 162 haviam sido apresentadas aos tribunais "e para todas foi aberto um processo penal por sua participação das manifestações, acusando-as de delitos que vão desde supostos danos à propriedade pública e privada a terrorismo".
Até hoje, já são mais de 1,6 mil processados segundo a própria Procuradoria-Geral da República, embora, no dia 7, houvesse 1,1 mil detidos da lista do tribunal. Finalmente, a corte apresentou à Defensoria Pública e à Promotoria 33 casos de tortura e "tratamento cruel, desumano e degradante" de presos.
Destino. Segundo ativistas, há um padrão de violações, embora com elementos que poderiam ser qualificados como "inovadores". "Não sei se podem ser chamados de ‘desaparecidos’, porque essa não é a categoria na definição de direitos humanos, mas temos uma grande quantidade de casos de pessoas incomunicáveis", explica Alfredo Romero, do Foro Penal Venezuelano. "Tornou-se algo normal."
"Em 2007, durante as manifestações pelo fechamento da Rádio Caracas Televisión (um canal privado ao qual Hugo Chávez negou a renovação da concessão), foram detidas 251 pessoas. Nós, advogados, fomos para os centros de reclusão e pudemos falar com os detidos. Hoje, não. E o pior é que alguns foram obrigados mediante espancamento a assinar documentos afirmando que tiveram acesso a um defensor", compara Romero.
Nizar Fakih, do Centro de Direitos Humanos da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), percorre os cárceres da cidade e confirma o relato de Romero: "A regra é não permitir que eles se comuniquem com gente de fora".
Falar com um advogado e com os parentes dos detidos não é uma concessão. O Artigo 44 da Constituição da República Bolivariana de Venezuela estabelece esse direito para todo detido. Ultimamente, ocorre o contrário: gente capturada pela Guarda Nacional ou algum corpo policial "some" durante horas. Em alguns casos, dias, sem que seus parentes tenham notícias além de um vago "eles o levaram". "Muitos passam de 4 a 6 horas sem ser localizados. E na região metropolitana de Caracas, tratamos de pelo menos dez casos em que tivemos contato com os detidos depois de 48 horas ou mais".
Advogados e defensores dos direitos humanos que descobriram o paradeiro de manifestantes detidos percorrendo delegacias de polícia, centros de reclusão e tribunais. "Nós nos mobilizamos e assim podemos encontrá-los", denuncia Fakih. "Os parentes ou os amigos nos dizem para onde eles foram levados e isso nos permite inferir o lugar de reclusão. Em muitos casos, não nos permitem vê-los nem na condição de advogados - e eu diria que em 98% dos casos o Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (CICPC), a Guarda Nacional e a Polícia Nacional não deixam que os parentes os vejam."
Marino Alvarado, da Provea, acrescenta um elemento: "Os advogados não só foram impedidos de visitar os detidos, como foram ameaçados por agentes policiais - e outros receberam ameaças até de juízes, por reclamar em tribunais pela violação dos direitos dessas pessoas".
Alvarado denuncia também a falta de informações exatas sobre os detidos: "É uma prática desumana. Muitas vezes obtemos os dados porque algum policial nos passa informalmente, por baixo do pano". E a falta de comunicação dificulta a ação da defesa: "Temos acesso aos detidos apenas cinco ou dez minutos antes que eles sejam apresentados aos tribunais", afirma Fakih. "E nesse breve espaço de tempo é que temos de preparar a defesa."
A Provea destaca um novo elemento na ação do Estado: "O que nos preocupa é a participação de grupos paramilitares na repressão", afirma Alvarado, sobre os grupos de motociclistas que agem durante as manifestações. "Esses grupos existem há muito tempo - e atuavam ocasionalmente - mas, desde o mês de fevereiro, sua ação se intensificou em coordenação com a Guarda Nacional, deixando pessoas assassinadas e feridas. Eles foram vistos até prendendo gente e destruindo casas."
Alvarado refere-se aos chamados "coletivos", bandos organizados de motociclistas ligados ao governo que agem como força de choque - até com o uso de armas - com a anuência dos corpos policiais e militares, que recebem respaldo do governo. No dia 7, a ministra da Defesa, Carmen Meléndez, condecorou 57 membros da Guarda Nacional que teriam sido feridos nos protestos.
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

quinta-feira, 13 de março de 2014

Argentina: inflacao se acelera e o povo se desespera - NYT






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Nunca antes na diplomacia... - Editorial Estadao

Pois é, parece que nunca antes fomos tão longe, não tão altos, ao contrário, para o outro lado, de forma tão completa, tão transparente, tão declarada.
Algum registro há de ficar, na história, sobre estes tempos não convencionais...
Paulo Roberto de Almeida 

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Dilma degrada a diplomacia

13 de março de 2014 | 2h 07

Editorial O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff definitivamente rebaixou o Brasil à condição de cúmplice de regimes autoritários na América Latina. Não bastasse a reverência (e o vasto financiamento) à ditadura cubana, Dilma agora manobra para que os atos criminosos do governo de Nicolás Maduro contra seus opositores na Venezuela ganhem verniz de legitimidade política.
Em vez de honrar as tradições do Itamaraty e cobrar do regime chavista respeito aos direitos humanos e às instituições democráticas, a presidente desidratou a única iniciativa capaz de denunciar, em um importante fórum internacional, a sangrenta repressão na Venezuela, que já matou duas dezenas de pessoas. Mandou o representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA) votar contra o envio de uma missão de observadores à Venezuela e impediu que a entidade reunisse seus chanceleres para discutir a crise.
Como todos os líderes populistas da região, Dilma considera que a OEA é quintal dos Estados Unidos. O falecido caudilho Hugo Chávez costumava referir-se à organização como "instrumento do imperialismo", entre outros nomes menos simpáticos. Para o governo petista, contaminado pelos ares bolivarianos, uma decisão da OEA sobre a Venezuela poderia ser considerada inoportuna e com potencial para acirrar as tensões. Assim, a título de não melindrar Maduro, premiam-se a brutalidade e a indisposição para o verdadeiro diálogo democrático.
Manietada pelo Brasil e por seus parceiros bolivarianos, a OEA limitou-se a emitir uma nota cuja anodinia mal disfarça a tentação de apoiar Maduro. O comunicado manifesta "solidariedade" ao presidente e dá "pleno respaldo (...) às iniciativas e aos esforços do governo democraticamente eleito da Venezuela" no "processo de diálogo nacional" - como se fosse autêntica a pantomima a que os chavistas chamam de "Conferência de Paz". Estados Unidos, Canadá e Panamá votaram contra essa nota, pela razão óbvia de ela não refletir os compromissos da OEA com a democracia e os direitos humanos.
O passo seguinte da manobra, este ainda mais escandaloso, foi convocar uma reunião de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para acertar o envio de um grupo de "mediadores" para a Venezuela. A Unasul, como se sabe, é instrumento dos governos bolivarianos - desimportante, ela hoje só existe para dar reconhecimento a governos claramente antidemocráticos, em nome de uma certa "integração latino-americana".
Assim, os tais "mediadores" da Unasul não farão nada além do que deles se espera, isto é, fazer vista grossa às ações violentas de Maduro. Ao anunciar a iniciativa, Dilma explicou, em seu linguajar peculiar, que a ideia é "fazer a interlocução pela construção de um ambiente de acordo, consenso, estabilidade, lá na Venezuela". Ora, que "diálogo" é possível quando não se pretende exercer a necessária pressão diplomática sobre Maduro, que reprime manifestantes usando gangues criminosas e encarcera dissidentes sem o devido processo legal?
Portanto, a constituição de uma comissão na Unasul para a Venezuela tem o único objetivo de deixar Maduro à vontade, sem ser constrangido a recuar e a ouvir as reivindicações da oposição - que basicamente protesta contra a destruição da Venezuela pelo "socialismo do século 21".
Percebendo o truque, os oposicionistas venezuelanos trataram de enviar uma carta à Unasul em que pedem aos países-membros que observem os acontecimentos no país "com objetividade" e que a entidade "não seja usada como um instrumento de propaganda". Mas é justamente disso que se trata: se tudo ocorrer conforme o script bolivariano, a Unasul vai respaldar o governo Maduro, revestindo-o de legitimidade - o que, por conseguinte, transforma a oposição em golpista.
Ao tratar de forma leviana este grave momento, em respeito a interesses que nada têm a ver com a preservação da ordem democrática na região, o Brasil torna-se corresponsável pela consolidação de um regime delinquente.

Academia brasileira: descobrindo a polvora, mais uma vez: empresarios sao anticomunistas e amigos de outros capitalistas

Muito do que parece estar nessa tese já tinha sido objeto da tese de René Armand Dreyfus, duas décadas atrás, sobre o mesmo tema.
Me parece surpreendente que alguém se surpreenda que empresários, em geral e também no Brasil, sejam anticomunistas (pois parece que comunistas querem acabar com os empresários), e que eles procurem laços com outros empresários, inclusive americanos, vejam que coisa surpreendente...
Parece que estão descobrindo a pólvora na universidade brasileira...
Quem sabe, da próxima vez, os empresários brasileiros se sentem amigavelmente com os seus opositores e lhes digam: ?Camaradas, não sejam tão anti-capitalistas, nós só queremos trabalhar para o bem do Brasil; por que vocês não abandonam essas ideias socialistas que são nefastas para a sociedade?"
Os atuais companheiros são mais espertos: eles não querem destruir o capitalismo, eles só querem viver às custas dos capitalistas. Mais simples não é verdade?
Paulo Roberto de Almeida

Elite econômica que deu golpe no Brasil tinha braços internacionais, diz historiadora

A afirmação é da historiadora Martina Spohr, coordenadora da área de Documentação do CPDOC da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e estudiosa do regime ditatorial que vigorou no Brasil até 1985.

Além de atuar no movimento civil-militar que conspirou e depôs o presidente João Goulart em 1964, a elite empresarial brasileira também manteve, ao longo de todos os anos 1960, estreito vínculo com o capital estrangeiro, numa “relação íntima” com os interesses dos executivos norte-americanos. A afirmação é da historiadora Martina Spohr, coordenadora da área de Documentação do CPDOC da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e estudiosa do regime ditatorial que vigorou no Brasil até 1985.
Como muitos pesquisadores que se debruçam sobre o período, Martina concebe o 31 de março como um golpe classista e empresarial-militar. No mestrado, "Páginas golpistas: anticomunismo e democracia no projeto editorial do IPES (1961-1964)", concluído em 2010 pela UFF (Universidade Federal Fluminense), Martina esmiuçou o projeto editorial do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais, organização fundada com o objetivo público de defender a "livre iniciativa" e a "economia de mercado", mas que funcionou, na prática, como um ponto de encontro de acadêmicos conservadores, empresários e militares empenhados em desestabilizar o governo de João Goulart (1961-1964).
No doutorado, em andamento na UFRJ (com uma bolsa-sanduíche na Brown University, nos EUA), Martina aprofundou a pesquisa sobre os civis que fizeram o regime militar. Por conta de seu trabalho na chefia do setor de Documentação do CPDOC/FGV, começou a colecionar indícios de que muitos dos empresários brasileiros que atuaram com destaque na conspiração pré-64 também buscavam criar uma espécie de rede empresarial anticomunista com fortes laços em todo o continente.
Um desses homens de negócios era o paulista Paulo Ayres Filho, empresário da indústria farmacêutica. Seu acervo particular — que reúne cartas, recortes de jornal, papéis importantes e cópias de grande parte da documentação do extinto Ipês-SP — foi doado, pelos herdeiros, ao CPDOC/FGV, que tradicionalmente trabalha com a organização e a preservação de arquivos particulares da elite brasileira. Esse material, tratado por Martina, faz parte do rol de fontes primárias que compõem a pesquisa provisoriamente intitulada “Elite orgânica transnacional: a rede de relações político-empresarial anticomunista entre Brasil e Estados Unidos (1961-1968)”.
“Trabalho com a existência de uma elite orgânica transnacional, que não estava só no Brasil e tinha seus braços internacionais. Personagens importantes do empresariado latino-americano estavam de alguma maneira envolvidos com norte-americanos”, afirma Martina, explicando que foi a partir de Paulo Ayres Filho, anticomunista ferrenho e um dos fundadores do Ipês, que pôde começar a mapear essa rede.
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Venezuela: o que seria previsivel, previsivel se torna, ou ja era... - Unasul e sua comissao

Reinaldo Azevedo, 13/03/2014

Os ministros de Relações Exteriores da América do Sul se reuniram ontem, no Chile, para tratar da crise na Venezuela. Antevi aqui que seria um fracasso e que o encontro só serviria para reforçar a posição do ditador Nicolás Maduro. E o que temos?
Um fiasco! E a reunião só serviu para reforçar a posição do ditador Nicolás Maduro. Mais uma vez!

Sobre os cadáveres, a reunião da vergonha: chanceleres da Unasul e a conversa mole de sempre
A Unasul, que é a entidade que reúne os países da América do Sul, produziu um documento vergonhoso — que, não por acaso, foi aplaudido pelo governo venezuelano. No dia em que mais três pessoas foram assassinadas em protestos, o texto assinado pelos chanceleres é de uma pusilanimidade espantosa. E, claro!, lá está o nome do Brasil.
Não tenho mérito nenhum em ter adivinhado o que iria acontecer. É que essa gente é ruim e previsível demais!
A primeira indignidade do texto está em repudiar a onda de violência que toma conta da Venezuela. É patente que a crítica é dirigida aos oposicionistas e aos estudantes, como se a brutalidade essencial não partisse das forças de repressão e das milícias bolivarianas — sobre as quais não há uma miserável palavra. Num trecho asqueroso, o texto expressa condolências e solidariedade “às famílias das vítimas, ao povo e ao governo democraticamente eleito dessa nação irmã”. Até os termos são copiados da nota absurda do Mercosul, que foi redigida pela Venezuela.
Cinicamente, num país em que a oposição não tem acesso aos meios de comunicação; em que lideranças de oposição estão presas por crimes de opinião; em que o Judiciário usa a legislação criminal para perseguir adversários do regime, os chanceleres pregam o respeito aos direitos humanos e ao estado de direito, dando a entender ser esse um compromisso do governo.
A nota, imaginem vocês!, apoia o que chama “esforços do governo” para conversar com todas as forças políticas do país. Quais esforços? Maduro mandou prender opositores.
Os ministros decidiram criar uma comissão para, então, promover esse tal diálogo. O que isso significa na prática? Ninguém sabe. Nesta quarta-feira, com a demonstração de apoio dos chanceleres, Maduro aproveitou para fazer novas ameaças. Disse que vai endurecer o combate aos protestos.
A nota tem ainda a desfaçatez de expressar a sua preocupação diante de alguma ameaça à independência e à soberania da Venezuela. Trata-se, obviamente, de um recado oblíquo e delinquente aos EUA, que andaram manifestando, de forma muito modesta, sua preocupação com o que se passa no país tiranizado por Nicolás Maduro e suas milícias. Qual é, afinal de contas, a ameaça que paira sobre o país? Nenhuma!
Ah, sim: Lula mandou uma carta a Maduro em que exalta as conquistas do chavismo e recomenda ao presidente que dialogue com a oposição. De quais conquistas Lula fala? Vai ver se refere ao fato de que a economia do país está falida.
A Unasul reúne Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. Oito, desses 12, são governados por esquerdistas. Esperar o quê? Ao longo da história, em nome de sua causa, os socialistas mataram bem mais de 100 milhões de pessoas. É evidente que não estão dando a menor pelota para os 25 cadáveres produzidos por Nicolás Maduro. Isso, na conta dessa gente, é troco de pinga.

Leiam a íntegra da declaração

Conselho de Ministros de Relações Exteriores da Unasul, em sessão especial em Santiago de Chile:
Reiterando a Declaração da Unasul de 16 de fevereiro de 2014 sobre a situação na República Bolivariana da Venezuela, em que manifesta a sua forte oposição à recente onda de violência e expressa as suas condolências e solidariedade às famílias das vítimas, ao povo e ao governo democraticamente eleito dessa nação irmã.;
afirmando respeito ao Direitos Humanos e liberdades fundamentais — incluindo a liberdade de expressão, de reunião pacífica e de ir e vir, saúde e educação — como essencial para o processo de condições de integração sul-americana;
exortando todas as forças políticas e sociais do país a privilegiar o diálogo democrático e constitucional e a concórdia, reafirmando que qualquer demanda deve ser encaminhada de forma pacífica, pela via democrática, respeitando-se o Estado de Direito e as suas instituições,
Resolve:
1. Respaldar os esforços do governo da República Bolivariana da Venezuela para promover um diálogo entre o governo, todas as forças políticas e atores sociais com a finalidade de chegar a um acordo que contribua para o entendimento e a paz social;
2. Nomear, a pedido do governo da República Bolivariana da Venezuela, uma comissão, integrada por ministros da Relações Exteriores dos países da Unsaul, para que, em seu nome, acompanhe, apoie e assessore um diálogo político amplo e construtivo, orientado para a recuperar a convivência pacífica na Venezuela, considerando a Conferência Nacional de Paz;
3. instruir a presidência pro tempore da Unasul para organizar, em coordenação com os estados-membros, os trabalhos da Comissão de Ministros das Relações Exteriores, cujo primeiro encontro deverá ocorre, no máximo, até a primeira semana de abril;
4. Solicitar á Comissão de Ministros das Relações Exteriores que informe suas atividade ao Conselho de Ministros da Unasul,por intermédio da presidência pro tempore, o mais rapidamente possível;
5. Expressar nossa preocupação diante de qualquer ameaça à independência e á soberania da República Bolivariana da Venezuela.
Santiago de Chile, 12 de março de 2014
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru Suriname, Uruguai e Venezuela

Venezuela, Brasil e Unasul - Coisas Internacionais


Coisas Internacionais, 13 Mar 2014 07:06 AM PDT

Os observadores da Política Externa Brasileira costumam apontar para realidade que para alguns é incomoda de que o Itaramaty perdeu espaço na formulação de política externa para questões sul-americanas, que estariam sob atenção direta do Palácio do Planalto, mais precisamente sob coordenação de Marco Aurélio Garcia. E isso se faz sentir no modo como o Brasil atua nesse continente.
A Venezuela cresceu em importância econômica para o Brasil desde o governo Lula, investimentos brasileiros fluíram para o país de Bolívar, mas o modo errático de administração econômica dos bolivarianos exige dos exportadores brasileiros doses cavalares de paciência e de navegar os tortuosos caminhos palacianos para conseguirem liberar seus pagamentos. Não é difícil imaginar que um procedimento pouco ortodoxo como esse esteja aberto a arbitrariedades e as famosas “vendas de soluções”. Mas, quem faz negócios com a Venezuela e for diligente já estava sabendo que interagiria num sistema altamente personalista.
A crise é grave e contabiliza mortos e cenas dantescas de milicianos abrindo fogo contra estudantes universitários, mas ao que parece para o Assessor Especial da Presidência, Marco Aurélio esses acontecimentos são apenas “valorização midíatica”.
Em reportagem da BBC Brasil uma teoria adicional sobre o silêncio brasileiro, que seria fruto de pragmatismo comercial, ou seja, evitaríamos comentários ostensivos quanto a situação da Venezuela e assim garantiríamos que exportadores e, principalmente, empreiteiras recebessem seus pagamentos, que são vultosos.
Já escrevi aqui sobre essa crise alertando que ela escancara a ilusão que é a noção de liderança brasileira, que os acadêmicos de RI tanto gostam. Resgato agora um trecho:
Ora, se o governo brasileiro quer mesmo ter papel de liderança no continente não pode se omitir, não pode deixar de condenar a violência dos manifestantes e dos agentes do governo, deveria fazer gestões para que o opositor preso responda processo em liberdade, o que acalmaria um pouco as ruas e pediria comedimento por parte do regime na resposta as manifestações e mais articularia uma missão da UNASUL ou MERCOSUL até a Venezuela para avaliar melhor a situação e para ajudar na negociação do fim da crise. Ações práticas demonstram liderança.
Inevitável é o questionamento de quanto da ação vacilante do governo deriva da simpatia ideológica e o quanto deriva de um quadro de análise política sobre a mensagem que isso passaria aos manifestantes nacionais, que prometem infernizar o governo durante a Copa do Mundo FIFA Brasil 2014.
Pode um líder ser tão vacilante? Cabeças devem estar fervendo no belo palácio dos arcos atormentadas por essas questões, como diria o Barão do Rio Branco, Política Externa é projetar uma certa imagem de Brasil e nesse caso é uma parcial a favor de regimes de mesma matiz ideológica e vacilante quanto a própria capacidade de intermediar crises regionais. É esse um quadro acurado?
Adiciono uma pergunta as que fiz acima. Um verdadeiro líder regional se abstém de influir positivamente para a solução pacífica de uma crise que ceifa vidas humanas e com potencial de tornar ainda mais forte a marca Brasil na região por medo de ser alvo de calote ou de represálias?
A UNASUL parece que finalmente se convenceu da necessidade de alguma ação de mediação, e votou pela criação de um Conselho de Chanceleres para acompanhar a questão que para ser efetivo deve oferecer Bons Ofícios para que os lados alcancem algum tipo de solução que cesse a violência. Embora, a nota divulgada, com o diplomatiquês de sempre não seja auspiciosa nesse sentido.

Venezuela: segue o caminho da Argentina no maior calote da historia economica

O governo bolivariano prepara-se para aplicar um calote de proporções bilionárias, talvez não tão importante, em magnitude, ao que a Argentina aplicou aos seus credores em 2001 -- ou seja, aos detentores de bônus da dívida argentina, pagos à razão de apenas 30 centavos por cada dólar emitido -- mas igualmente relevante, e ainda mais significativo, por não incidir sobre "poupança" acumulada de privados e investidores institucionais (ou seja, estoque de recursos), mas sobre fluxos correspondentes a operações reais no mundo do comércio (bens e serviços efetivamente transacionados).
O que a Argentina fez, em 2001 -- e por isso ela paga um preço até hoje -- foi atuar no âmbito da sua balança de capitais, ou seja, transações puramente financeiras ou compensatórias.
O que a Venezuela está pretendendo fazer agora é atuar sobre a balança de transações correntes, ou seja, dar calote a pagamento de fatores, o que formalmente seria sancionado pelo FMI.
Acredito que se trata de sequestro econômico ainda mais grave, e deve atingir igualmente empresas brasileiras.
Vamos ver como reage o governo companheiro a esse novo atentado do governo bolivariano contra os interesses legítimos das empresas brasileiras.
Segundo um analista, "o governo venezuelano "ignora tratados internacionais e está tornando mais difícil para as companhias manterem seus compromissos naquele mercado".
No que se refere a empresas brasileiras, vejamos esta informação: 
"Em balanço relativo ao terceiro trimestre de 2013, a Latam, maior companhia aérea da América Latina e dona da brasileira TAM e da chilena LAN, afirma que seu caixa "sujeito a restrições" na Venezuela subiu de R$ 104,9 milhões no fim de 2012 para R$ 314 milhões (US$ 133 milhões no câmbio de ontem). O número é próximo ao fornecido por uma fonte do governo brasileiro ao Valor, que disse ter tomado conhecimento de que a Latam tem US$ 120 milhões em dividendos retidos no país e a Gol, outra aérea brasileira que opera ali, US$ 60 milhões. Os números também levam em conta o câmbio oficial."
Pois é. Chega um momento em que as empresas vão parar de operar na Venezuela ou para a Venezuela.
Paulo Roberto de Almeida 

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Múltis temem perdas bilionárias na Venezuela

As recentes mudanças no sistema cambial da Venezuela podem gerar perdas bilionárias para as multinacionais que operam no país e precisam remeter divisas às suas matrizes no exterior. Segundo estimativa da consultoria Ecoanalítica, de Caracas, há cerca de US$ 10,5 bilhões em dividendos represados no país, levando-se em conta a taxa oficial, controlada, de 6,30 bolívares. A Datanálisis, também venezuelana, estima que o volume retido chegue a US$ 12 bilhões.
Mas esse valor pode praticamente evaporar caso as empresas sejam obrigadas, conforme sinaliza o governo, a recorrer ao Sicad 2, um novo mercado de compra e venda de dólares que entrará em vigor nos próximos dias.
O Sicad 2 relaxa os controles do governo sobre o câmbio, permitindo a pessoas físicas e jurídicas trocarem dólares entre si - o que estava proibido desde 2010. Cria-se, assim, uma terceira faixa cambial no país. Além da oficial, utilizada sobretudo para compras de produtos essenciais pelo governo, há o Sicad 1, que distribui dólares em um sistema de leilões, a uma cotação de cerca de 11 bolívares.
Diferentes analistas estimam que a moeda americana deverá ser negociada no Sicad 2 numa faixa entre 20 e 60 bolívares. Como um dos objetivos do governo é combater o mercado negro - onde o dólar já chegou a rondar a faixa dos 90 bolívares -, acredita-se que ela seja negociada no Sicad 2 perto da banda mais alta das previsões.
É justamente esse o temor das companhias. "Enquanto as empresas multinacionais estão cheias de bolívares e querem comprar moeda estrangeira, se a taxa de referência não é de 6 [bolívares por dólar], mas 60, sua compra é diluída em dez", disse Luis Vicente León, da consultoria Datanálisis, em sua conta no Twitter. "Se o governo decide que as multinacionais devem comprar seus dividendos no Sicad 2 e a taxa é 60, a dívida baixa de US$ 12 bilhões para US 1,2 bilhão."
A consultoria venezuelana Hinterlaces afirma que a última aprovação dada pelo governo venezuelano para a repatriação de divisas por empresas estrangeiras ocorreu no ano de 2011, com um total de US$ 81,9 milhões liberados. Segundo a Hinterlaces, há casos de empresas que esperam há sete anos para fazer essas remessas.
Um dos setores mais afetados é o da aviação civil. Ontem, o diretor-geral da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata), Tony Taylor, disse em Genebra que os recursos bloqueados das empresas que operam no país chegam a US$ 3,7 bilhões. O cálculo considera o dólar oficial, de 6,30 bolívares.
Levando-se em conta os cálculos dos analistas, o montante cairá a US$ 1,16 bilhão, na melhor das hipóteses - um câmbio de 20 bolívares por dólar no Sicad 2. Se a moeda americana for negociada por 60 bolívares no novo mercado, o montante a ser repatriado será de apenas US$ 388 milhões.
Sem citar o novo tipo de câmbio, Taylor reclamou que o governo venezuelano "ignora tratados internacionais e está tornando mais difícil para as companhias manterem seus compromissos naquele mercado". Ele afirmou que algumas das 24 companhias que operam no país já limitaram a frequência de conexões e já deixaram de vender passagens internacionais na Venezuela. Taylor deu a entender, além disso, que pode haver uma paralisação de voos para o país, mas afirmou que essa é uma decisão individual das empresas.
"Negociações duram vários meses. E nossa preocupação é que, se a Venezuela mantém essa situação, será complicado, porque todos os países precisam de conexões na economia globalizada", afirmou. "Já fizemos intervenções diretas junto ao presidente [Nicolás] Maduro, para ele atuar pessoalmente para resolver esse problema, mas até agora não houve resultados."
Segundo a Iata, o impacto do dinheiro retido na Venezuela é enorme, considerando que toda a indústria aérea terá lucro de apenas US$ 18,7 bilhões globalmente.
Em balanço relativo ao terceiro trimestre de 2013, a Latam, maior companhia aérea da América Latina e dona da brasileira TAM e da chilena LAN, afirma que seu caixa "sujeito a restrições" na Venezuela subiu de R$ 104,9 milhões no fim de 2012 para R$ 314 milhões (US$ 133 milhões no câmbio de ontem). O número é próximo ao fornecido por uma fonte do governo brasileiro ao Valor, que disse ter tomado conhecimento de que a Latam tem US$ 120 milhões em dividendos retidos no país e a Gol, outra aérea brasileira que opera ali, US$ 60 milhões. Os números também levam em conta o câmbio oficial.
Pelos cálculos da Câmara de Indústria e Comércio Venezuelano-Brasileira (Cavenbra), há entre US$ 300 e US$ 400 milhões em dividendos de empresas brasileiras represados no país.
A migração para o Sicad 2 também pode multiplicar as perdas milionárias esperadas por empresas de consumo que atuam no país. A Colgate-Palmolive, que tem na América Latina seu principal mercado, responsável por 29% do faturamento, já estimava perdas após impostos de US$ 180 milhões a US$ 200 milhões com a Venezuela no primeiro trimestre, por conta da migração para o Sicad 1, no qual o bolívar é cotado a quase o dobro do valor oficial. Em 2013, a empresa deduziu US$ 172 milhões do balanço com o câmbio venezuelano. No Sicad 2, a perda pode chegar a US$ 1,02 bilhão, se for considerado o teto de 60 bolívares.
A Procter & Gamble (P&G), maior fabricante de bens de consumo do mundo, estimava em fevereiro perdas de US$ 230 milhões a US$ 280 milhões depois de impostos em 2014, por conta da nova taxa de 11 bolívares por dólar. No topo das expectativas do mercado para o Sicad 2, a empresa acumularia despesas de até US$ 1,47 bilhão.

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