domingo, 6 de julho de 2014

De Frederic Bastiat para os socialistas - selecao de Joao Luiz Mauad

De Bastiat para os socialistas

Rodrigo Constantino nos lembra que hoje comemora-se o aniversário de nascimento do grande, do inigualável Frédéric Bastiat.  Como fã de carteirinha daquele imenso personagem histórico, não poderia deixar de prestar também a minha homenagem, na forma de uma mensagem aos esquerdistas, cujas passsagens e ideias, na sua maior parte, foram retiradas do ensaio “Justiça e Fraternidade”, publicado originalmente, em 1848, no Journal des Économistes.
Prezados camaradas socialistas:
Qualquer um que se atreva a defender os princípios do liberalismo nesta nossa sociedade virtualmente arrebatada pela cultura esquerdista, onde o discurso prevalece sobre as atitudes e as versões têm peso maior do que os fatos, é imediatamente tachado de egoísta, ganancioso, sem coração e outras alcunhas não menos ofensivas. As pechas sobre mim lançadas, carrego-as até com certa tranqüilidade, principalmente porque acredito naquilo que defendo. Ademais, não ganho absolutamente nada com essa, digamos, “ideologia política”, exceto, é claro, a satisfação do dever cumprido. Procuro manter, até onde a minha paciência frente à ignorância e a desonestidade intelectual permite, uma atitude tolerante com as opiniões contrárias.
Algumas críticas – talvez o mais correto fosse dizer censuras -, no entanto, ainda machucam um pouco. Não pelo teor das mesmas, já que os argumentos não fogem muito do habitual e praticamente já os conheço todos, mas porque partem de pessoas que me são caras; de gente cujas opiniões têm algum peso. É esses que dirijo estas linhas, na esperança de que possam entender um pouco melhor o meu pensamento.
Antes de mais nada, é necessário dizer que, malgrado não façamos uso dessas palavras rotineiramente, nós liberais também saudamos com emoção as virtudes da caridade, da solidariedade e da justiça. Conseqüentemente, desejamos ver os indivíduos, as famílias e as nações associarem-se e cada vez mais ajudarem-se mutuamente. Comovem-nos, tanto quanto a qualquer mortal de bom coração, os relatos de ações generosas e a sublime abnegação de algumas belas almas em prol dos mais necessitados.
Além disso, a maioria de nós quer muito acreditar nas boas intenções desses que pretendem extinguir dos corações humanos o sentimento de interesse, que se mostram tão impiedosos com aqueles que apelam ao individualismo e cujas bocas se enchem incessantemente das palavras abnegação, sacrifício, solidariedade e fraternidade. Queremos sinceramente admitir que eles obedecem exclusivamente a essas sublimes causas que aconselham aos outros; que eles dão exemplos tão bem quanto conselhos; que colocam as suas próprias condutas em harmonia com as doutrinas que defendem; queremos muito crer que suas palavras são plenas de desinteresse e isentas de hipocrisia, arrogância, inveja, mentira ou maldade.
Sim, pois cada um desses senhores tem um plano para realizar a felicidade humana, sempre apoiados na máxima de que é possível construir e planificar estruturas e relações sociais até alcançar o ideal da sociedade perfeita, da solidariedade, da caridade e da justiça social, ainda que para isso seja necessário o uso dos meios mais obscenos. Por conta desses ideais supostamente altruístas, se dão o direito de acusar aqueles que os combatem de egoístas, mesquinhos, interesseiros, etc. Essa, porém, é uma acusação injusta, pois se nos fosse demonstrado que é viável fazer descer para sempre a felicidade sobre a terra, através de uma organização social fictícia ou simplesmente decretando-se a fraternidade entre os homens, nós os acompanharíamos com imenso prazer.
Se os contestamos, entretanto, é porque temos suas idéias por falsas e seus projetos por tão pueris como desastrosos. Nunca nos foi demonstrado que a caridade se possa impor, pois onde quer que ela se manifeste só pode ser espontânea ou não é caridade. Decretá-la é o mesmo que aniquilá-la. Se a fraternidade suscita vivamente a nossa simpatia é justamente porque atua fora de toda coação legal. Se a lei raramente pode forçar o homem a ser justo, jamais conseguiria forçá-lo a ser abnegado.
Quando a caridade é livre, espontânea e voluntária, a concebemos e aplaudimos. Admiramos tanto mais o sacrifício que é mais completo. Mas quando se propõe a uma sociedade o princípio de que a fraternidade será imposta pela lei, vale dizer, que a repartição dos frutos do trabalho será feita legislativa e arbitrariamente, sem consideração pelos direitos inerentes ao próprio trabalho, quem pode dizer em que medida este princípio atuará? De que forma um mero capricho do legislador não poderá subvertê-lo?
Quando se admite, como regra geral, que o Estado estará encarregado de fazer a fraternidade em favor dos cidadãos, não é difícil antever que todos serão transformados em suplicantes. Que todos se agitarão para reclamar os favores do Estado. Todos terão boas razões para provar que a caridade legal deve ser entendida no seguinte sentido: “as vantagens para mim e as cargas para os outros”. O esforço de cada um será no sentido de arrancar do legislador um fragmento do privilégio “fraternal”. Por certo, as classes menos favorecidas, ainda que tenham os maiores títulos, não terão sempre os maiores êxitos.
Se fosse possível decretar a fraternidade universal; se, como querem muitos, conseguíssemos fazer desaparecer do mundo, por um mero estalar de dedos, o interesse pessoal; se fosse possível estabelecer que não haveria mais egoísmo; se pudéssemos operar o milagre de fazer com que o Estado desse tudo a todos, sem tomar nada de ninguém, que se fizesse, então. Quem não se regozijaria de que a humanidade chegasse à perfeição e à felicidade por um caminho tão curto e tão fácil?
Quem não gostaria de jogar sobre as costas do Estado a subsistência, o bem-estar e a educação de todos? De transformar o Estado nesse ser generoso, criativo, presente em tudo, abnegado em tudo, capaz de amamentar a infância, instruir a juventude, assegurar trabalho aos fortes, dar retiro aos débeis, que pudesse intervir diretamente para aliviar todos os sofrimentos, satisfazer e prevenir todas as necessidades, abastecer de capitais a todas as empresas, de luzes a todas as inteligências, de bálsamo a todas as feridas, de asilo a todos os infortunados?
Quem não gostaria de ver todos esses benefícios fluir da lei como uma fonte inesgotável? Quem não estaria feliz de ver o Estado assumir sobre si toda a pena, toda previsão, toda responsabilidade, todo dever, tudo isto que a providência, cujos desígnios são impenetráveis, colocou de laborioso e pesado a cargo da humanidade, e reservar aos indivíduos de que ela se compõe o lado atrativo e fácil; as satisfações, as certezas, a calma, o repouso; um presente sempre seguro, um futuro sempre sorridente, a fortuna sem cuidados, a família sem cargas, o crédito sem garantias, a existência sem esforços?
Certamente quereríamos tudo isso, se fosse possível. Mas, será possível? Eis a questão. Cremos que existe nesta personificação do Estado a mais estranha e a mais humilhante das mistificações. Que seria então este Ente que toma a seu cargo todas as virtudes, todos os deveres, todas as liberalidades? De onde sacaria seus recursos para derramá-los em benefícios sobre os indivíduos? Não seria dos próprios indivíduos? Como poderiam estes recursos multiplicarem-se passando pelas mãos de um intermediário parasitário e voraz? Não é claro que esse mecanismo é de natureza que absorve muito das forças úteis e reduz muito a parte dos trabalhadores?
A caridade implica sempre a idéia de abnegação, de sacrifício, e por isso não se manifesta sem arrancar lágrimas de admiração. Se transformarem a fraternidade numa prescrição legal, cujos atos sejam previstos e obrigatórios, que restará desta definição? Nada mais que uma coisa: o sacrifício, mas o sacrifício involuntário, forçado, determinado pelo medo do castigo. E, de boa fé, que seria um sacrifício desta natureza, imposto a uns em proveito de outros? Seria caridade? Não, seria injustiça, seria espoliação legal, a pior das espoliações, posto que sistemática, permanente e inevitável.
Eis então a síntese de toda a nossa controvérsia. Enquanto vocês buscam o ideal utópico da sociedade perfeita nos inúmeros planos e esquemas artificiais, nós, por outro lado, encontramos a harmonia na natureza do homem e das coisas. Simplesmente, não concordamos que se coloque a arbitrariedade, o imposto e a coação acima da liberdade individual. Não podemos admitir que se tire, de cada trabalhador, o direito universal e inalienável de utilizar os frutos do próprio trabalho da forma que melhor lhe convier.

Sobre o autor

João Luiz Mauad
Administrador de Empresas e Diretor do Instituto Liberal
João Luiz Mauad é administrador de empresas formado pela FGV-RJ, profissional liberal (consultor de empresas) e diretor do Instituto Liberal. Escreve para vários periódicos como os jornais O Globo, Zero Hora e Gazeta do Povo.
Número de entradas : 123

Deixe um comentário

Imagem de verificação
Reapresentar imagem
 *

1814 or 1914? The Fateful Choice in 2014 - Martin Sieff (The Globalist)

Não acredito em ciclos, seja econômicos, seja históricos, mas acredito na capacidade humana de cometer os mesmos erros, e dos homens políticos de perpetrar as mesmas bobagens que seus predecessores de maneira geral. Quanto aos militares, é conhecida sua proverbial tendência de estudar as guerras passadas para tirar lições sobre as que aparecem pelo caminho, e provavelmente de cometer outros tantos erros quantos seus congêneres da vida civil.
Enfim, como disse alguém, ninguém, em qualquer época, jamais perdeu dinheiro apostando na estupidez humana.
Ou como disse Einstein: existem duas coisas infinitas e incomensuráveis: o universo e a estupidez humana, e ele não tinha muita certeza quanto ao primeiro...
Paulo Roberto de Almeida

1814 or 1914? The Fateful Choice in 2014

The surprising way in which historical choices present themselves in cycles that are 100 years apart.


Is 2014 another 1914 or 1814? The fate — and even survival — of the world depends on the answer.
This summer, the world remembers the start of World War I. This catastrophe shattered the global civilization of Europe to a degree that in terms of prosperity, security, demography and basic optimism about life and the future took more than 40 years to recover from — and then only after even greater catastrophes.
But any which way one turns historic responsibilities, all the unprecedented and previously unimaginable cataclysms of the first half of the 20th century across Eurasia flowed from that one, fundamental cause — the start of full-scale international war between the Great Powers in the summer of 1914.
The Russian Revolution, the killer famines that swept the infant Soviet Union, the Ukrainian genocide of up to 10 million people,Stalin’s Great Terror, the rise to power of Adolf Hitler, the Nazi conquest of Europe, the Holocaust and the hecatombs of dead in World War II (80 million people, including 27 million Soviet citizens) all stemmed from that original catastrophe in 1914.

Craving full-scale European war

For generations thereafter, Germany in general and Kaiser Wilhelm II in particular were demonized across the Western world.
A slew of excellent new histories by Sean McMeekin (July 1914), Margaret MacMillan (The War That Ended Peace: The Road to 1914) and Christopher Clark (The Sleepwalkers: How Europe Went to War in 1914) make clear that the outbreak of these events was by no means Germany’s fault alone.
The Russian General Staff in St. Petersburg and the long-overlooked, truly sinister figure of Prime Minister Raymond Poincaré in Paris were the ones who actively plotted and craved full-scale European war. The Kaiser, while certainly hysterical and amazingly inept, did not. He actually wanted to avoid it.
Recent research also brings out the pivotal role of Winston Churchill, civilian head of Britain’s Royal Navy, as second only to the abysmal Foreign Secretary Edward Grey, as being the key movers to drag Britain into the conflict when the country could otherwise easily have stayed out.
Churchill’s shaping of events converted what otherwise would have been a six-month to one-year victory of Germany against Russia and France with high casualties and lasting changes into something infinitely worse — a four-year death struggle to the ultimate mutual destruction of all.
1914, therefore, set off a chain reaction succession of pathological conflagrations that reduced the civilization of Europe, both material and moral, to a smoking ruin by 1945.

What a difference a century makes

By contrast, precisely a century earlier, the years of 1814-15 ended a quarter century cycle of continent-spanning destruction that had started with the French Revolution in 1789. (Though even that event, properly understood, was set off by the 1786 Free Trade Treaty which France signed with England to its own ruin).
The leaders of the restored great monarchies of Europe started in 1814 their herculean task of restoring political and social stability. That was essential in a Europe that had been ravaged and ruined by a quarter century of war.
At first, this endeavor looked hopeless. When exiled French Emperor Napoleon Bonaparte returned to mainland France on March 20, 1815, the regime that had been set up to succeed him under the Bourbon dynasty of King Louis XVIII quickly collapsed.
Yet, 200 years ago the leaders of the great powers stayed cool. They gathered their military forces, worked in close cooperation and decisively defeated the resurgent Napoleon once and for all at the battle of Waterloo on June 18, 1815.
The crucial military partnership that saved Europe from the maelstrom of catastrophe was between the British Army commanded by Arthur Wellesley, Duke of Wellington, and the Prussian Army led by Field Marshal Gebhard von Blücher.

What a difference another century makes

That pivotal collaboration was all the more significant if one recalls that, a century later, it was the breakdown in trust and communication between Britain and Germany that led to the catastrophic mauling of both great nations and the eventual destruction of both their empires in the early 20th century.
Today, the omens for truly broad and bold international cooperation in Iraq are not good. They are fearful. Just as was the case with Napoleon quickly seizing the reins of France after his return from exile, so it is now in Iraq.
The army of supposedly democratic Iraq is now crumbling before a new wave of Islamist jihadis, who are vastly inferior to the U.S.-trained and equipped regular Iraqi army in number and equipment.
It does not help the overall situation that Europe is exhausted economically and the United States is exhausted militarily.

The importance of constructive compromise

Both Brussels and Washington are furious at Russia over its role in the continuing Ukraine crisis. Meanwhile, China is actively probing about advancing its interests in the South China Sea at the expense of its neighbors, much as Tsarist Russia and Austria-Hungary plotted in the Balkans before and during 1914.
To escape the truly terrible danger of another 1914, the leaders of the G-8 and China today should first heed and fear the dreadful lessons of 1914. Then they should reach back another century before that to learn the crucial lessons of Anglo-German collaboration to defeat Napoleon in 1814.
For this reason, the United States and the European Union need to make the effort to reach out in a new and serious partnership effort with China and Russia, paying attention for once to the grievances and interests of these great nations.
The great victory of Waterloo did not come easily — 100,000 men, about half divided between the British and the French — died there.
And it would still all have been in vain if the leaders of the great powers had not put aside their many differences of politics, ideology, religious faith and culture to meet at the Congress of Vienna starting in September 1814 where they forged a serious peace that lasted for a full century.
The future of the human race today hinges on whether the leaders of our 21st century world choose to follow the examples of the despised and discredited petty men of 1914, or whether they go back to the truly visionary and wise cooperative globalists of 1814-15.

About Martin Sieff

Martin Sieff is Chief Global Analyst at The Globalist Research Center and Editor-at-Large at The Globalist.

Takeaways

  • Is 2014 another 1914 or 1814? The fate — and even survival — of the world depends on the answer.
  • The future of our 21st century world depends on not following the example of the despised and petty men of 1914.
  • Our best hope in 2014 is for another wave of smart diplomats, like the visionary and cooperative globalists of 1814.
  • Superpowers that are traditional rivals need to compromise and work together against extremist threats to all.
  • Britain and Germany need to cooperate with Russia to ensure a European peace, as they did in 1814, but not in 1914.

sábado, 5 de julho de 2014

Herança maldita dos companheiros: o antimilagre economico - Rolf Kuntz

Os companheiros nunca aprenderam economia, a não ser rudimentos toscos de uma mistura de prebischianismo elementar com alguma leitura de orelha de livro qualquer de vulgarização do keynesianismo (jamais o original, que lhes seria incompreensível) e portanto não estão habilitados para nada.
Quem os dirige nunca aprendeu economia, nem conseguiria, por não ter as habilidades requeridas. 
Portanto, não esperem nada melhor do que essa salada insossa que nos é servida desde 2005, pelo menos. 
Abaixo um editorial econômico de Rolf Kuntz, por gentileza de meu amigo Orlando Tambosi. 
Paulo Roberto de Almeida 
O antimilagre econômico do governo Dilma
Artigo de Rolf Kuntz, no Estadão, sobre o desastroso governo petista:

Milagre econômico, no Brasil, na Alemanha ou no Japão, é só um exagero de linguagem, mas antimilagre é uma realidade inegável. Se alguém duvidar, examine os números da indústria, das contas externas, do investimento produtivo e do crescimento do produto interno bruto (PIB) nos últimos quatro anos. De janeiro a junho - só para citar um exemplo - a corrente de comércio foi 2,8% menor que a de um ano antes, com redução tanto das exportações quanto das importações. É um claro sintoma de graves desarranjos na economia. Na maior parte do mundo, governos comuns, sem talentos excepcionais e sem poderes mágicos, derrubam o crescimento para conter a inflação, fechar buracos nas contas externas ou controlar a dívida pública - muitas vezes para cuidar de todos esses problemas ao mesmo tempo. Essa política pode ser dolorosa, mas com frequência é inevitável. Numa exibição de virtudes extraordinárias, o governo da presidente Dilma Rousseff realizou a mágica oposta: reduziu o crescimento industrial, espalhou a insegurança entre empresários e consumidores e fez encolher o comércio exterior sem atacar um só desajuste fundamental. O desemprego medido pelo Pnad, 7,1% no primeiro trimestre, supera o de várias economias desenvolvidas. É como se o País sofresse os efeitos penosos de uma terapia severa - mas sem terapia.
Esse antimilagre se explica por uma combinação desastrosa de vários fatores - diagnóstico errado, confusão de objetivos, voluntarismo, populismo e sujeição das decisões econômicas a interesses pessoais e partidários. O problema do diagnóstico bastaria, sozinho, para causar boa parte dos estragos dos últimos anos. As primeiras ações a partir da crise global podem ter sido corretas, ou pelo menos justificáveis, mas as condições mudaram e a política, apesar disso, foi mantida.
Desde o fim de 2008 o governo tenta estimular a economia como se o País estivesse, em todo esse tempo, travado por problemas conjunturais. Problemas desse tipo justificariam os estímulos ao consumo, assim como justificaram, em 2009, o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), bancado com subsídios pelo Tesouro e operado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Lançado como ação provisória, em 2009, o programa foi prorrogado várias vezes e seu prazo atual terminará no fim do próximo ano. Há muito tempo deixou de ser uma ação contracíclica, assim como os estímulos fiscais e financeiros ao consumo. As autoridades, no entanto, nunca admitiram esse fato.
O impacto recessivo da crise de 2008 durou até 2009 para o Brasil e para a maior parte dos emergentes, mas o governo brasileiro continuou agindo como se o quadro nunca tivesse mudado. O diagnóstico de crise conjuntural pode ter sido correto em 2008 e 2009, mas o governo deveria tê-lo abandonado há muito tempo. Ao mantê-lo, manteve também uma estratégia esgotada, custosa, inflacionária e ineficaz - uma paródia de política keynesiana. Ao insistir em ações de efeito conjuntural, o governo tratou como desafios de curto prazo problemas estruturais. A percepção desses problemas parece ter sido sempre muito fragmentada e, além disso, prejudicada pela insistência em atribuir o baixo crescimento da economia nacional a causas externas.
A alardeada redescoberta do planejamento nunca foi além da retórica. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), inventado em 2007 e mantido a partir de 2011, nunca foi mais que uma costura malfeita de retalhos juntados sem efetiva articulação e sem prioridades bem definidas. Acabou servindo para um discurso mistificador, ao incorporar, por exemplo, o plano de investimentos da Petrobrás. Esse plano, atualizado regularmente, era parte da rotina da empresa e continuaria existindo sem o PAC. Mais que isso: seria executado com eficiência muito maior sem a interferência de interesses políticos, pessoais e partidários. Enfim, cada novo balanço confirma o peso desproporcional dos financiamentos imobiliários e das construções habitacionais no total das aplicações.
Sem surpresa, o PSI, o PAC, as desonerações e os estímulos fiscais e financeiros a setores e a grupos selecionados foram insuficientes para impulsionar a indústria e o investimento. O total investido em capital fixo - máquinas, equipamentos, construções e instalações particulares e obras de infraestrutura - continua na vizinhança de 18% do PIB. A meta de 24%, padrão encontrado facilmente em outros emergentes, continua como promessa para um futuro indefinido. O pífio desempenho da indústria - de janeiro a maio produção 1,6% inferior à de um ano antes - é apenas a continuação de três anos e meio muito ruins, segundo o IBGE.
Não se trata de problema conjuntural, mas de competitividade, disse na quinta-feira o gerente executivo de pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. A encrenca é reconhecida tanto no Brasil quanto no exterior. A distância entre a produtividade brasileira e o padrão médio das economias desenvolvidas continua muito grande, segundo estudo publicado na semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A advertência vale para a maior parte dos emergentes, mas é especialmente importante para o Brasil, estagnado e cada vez menos competitivo. O déficit comercial acumulado no ano só diminuiu de maio para junho (quando chegou a US$ 2,490 bilhões) porque as importações diminuíram. Em junho a receita das vendas foi 3,2% menor que a de um ano antes, mas a despesa foi 3,8% inferior à de junho de 2013 - mais um sinal de uma economia murcha.
Em pesquisa publicada em dezembro pela CNI, 64% dos consultados mencionaram ganhos de produtividade em suas empresas em cinco anos. Mas só 7% avaliaram suas companhias como mais produtivas que as estrangeiras. Doze por cento apontaram produtividade similar, 28% qualificaram suas empresas como menos produtivas e - mais notável - 53% nem sequer responderam. Terá alguma autoridade, em Brasília, lido essa pesquisa?

Millor Fernandes: estaria se divertindo tremendamente nos dias que correm...

Millor sempre foi um gozador, de todo e qualquer poder.
Pena que morreu, pois teria muita coisa a dizer, e a nos fazer rir, com os companheiros no poder. Eles são impagáveis, por eles mesmos, e por si sós, mas com Millor o cenário teria muito mais graça...
Paulo Roberto de Almeida

Homenageado da Flip, Millôr Fernandes ganha mais de 10 novas edições e tem legado revisto

 Ele gostava de se definir como “um escritor sem estilo”, mas deixou sua marca em tudo que fez: desenhos, crônicas, poemas, peças de teatro, traduções, aforismos e fábulas, publicados em livros, revistas e jornais ao longo de sete décadas de carreira. Humorista, intelectual, artista plástico e comentarista político, considerava-se acima de tudo jornalista. Seu nome e os muitos pseudônimos que adotou (Vão Gogo, Volksmillor, Milton à Milanesa, Adão Júnior) estão ligados a algumas das páginas mais marcantes da história da imprensa nacional, em “O Cruzeiro”, “Pif Paf”, “Pasquim” e vários outros veículos. Nascido em 1924, no bairro suburbano do Rio que lhe valeu o apelido de “guru do Meyer”, ajudou a criar um esporte carioca, o frescobol, e um mito carioca, Ipanema. Morto em 2012, aos 88 anos, poderia ser descrito de mil maneiras, menos uma: “Só peço que não me olhem como um pensador, ou pior, um erudito”, escreveu: “Pensem em mim para o/s prazer/es calmo/s da vida. Mas também pro que der e vier. Sobretudo o contrário”.
Nas próximas semanas, muito vai se pensar e falar sobre Millôr Fernandes, que completaria 90 anos em 2014. Homenageado na edição deste ano da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece de 30 de julho a 3 de agosto, ele será tema de mesas na tenda principal, reunindo nomes como Jaguar, Reinaldo, Hubert, Loredano, Sérgio Augusto e Claudius, e de exposições e debates na programação paralela. A ocasião será marcada por uma leva de reedições de algumas de suas obras mais importantes e compilações, somando mais de 10 lançamentos. E ainda há inéditos de Millôr espalhados pelas casas de amigos e parentes.
Na segunda-feira chegam às livrarias novas edições, pela Companhia das Letras, de quatro títulos, alguns esgotados há décadas: “Tempo e contratempo”, “Essa cara não me é estranha e outros poemas”, “The cow went to the swamp” e “Esta é a verdadeira história do Paraíso”. A L&PM acaba de reeditar “A Bíblia do Caos”, súmula de suas frases lapidares, e resgata peças como “O homem do princípio ao fim” e “Kaos”, entre outros volumes. A Nova Fronteira lançará a coletânea inédita “Guia politicamente correto Millôr da história do Brasil” e mais dois títulos. A Cosac Naify publica sua tradução de “A ovelha negra e outras fábulas”, do hondurenho Augusto Monterroso. E o Instituto Moreira Salles (IMS), que abriga o acervo gráfico do autor, hoje com cerca de 9 mil itens, lança dia 31, na Flip, “Millôr 100 + 100: desenhos e frases”, com cartuns escolhidos por Loredano e máximas selecionadas por Sérgio Augusto. A Casa do IMS, em Paraty, terá uma exposição inspirada no livro. E a instituição prepara para 2015 uma retrospectiva da obra visual de Millôr, com mais de 300 trabalhos.
— Ele detestava esse termo, “obra”. Dizia que quem faz obra é pedreiro — diverte-se o filho de Millôr, Ivan Fernandes, de 60 anos. — Ele vivia no presente, mais concentrado no trabalho diário de jornalista, não se preocupava tanto com os livros.

Eleicoes 2014: rachas na coalizao governista tem aliancas no plano estadual

Racha com PT colocou peemedebistas e tucanos lado a lado em cinco Estados
Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
Veja.com, 05/07/2014

DIVÓRCIO – A presidente Dilma Rousseff e o vice Michel Temer. Consórcio PT-PMDB foi mantido na disputa nacional, mas há divergências como nunca nos Estados (Lula Marques/Frame/Folhapress)
A presidente Dilma Rousseff e o PT enfrentam, a partir deste domingo, a eleição mais disputada desde que o partido chegou ao Palácio do Planalto, em 2003. Rebelado, o PMDB, pilar da governabilidade no Congresso, com tamanho e peso incomparáveis entre os aliados na esfera nacional, já havia sinalizado em sua convenção, dia 10 de junho, a dimensão de sua insatisfação: pouco mais da metade (54%, descontadas as abstenções) do partido disse “sim” para a renovação da aliança com os petistas, frustrando previsões da cúpula da sigla que estimava em cerca de 70% a aprovação da manutenção do "casamento" de doze anos.
As convenções realizadas desde então confirmaram o que Dilma e o PT tentaram a todo custo evitar: o PMDB terá, em 2014, o maior número de candidaturas próprias a governador desde a disputa de 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito – dezoito peemedebistas disputarão eleições para governos estaduais. Em 1998, foram lançadas 19 candidaturas próprias. Em 2010, o partido lançou 13 candidatos nos Estados.
Insatisfeitos, sentindo-se preteridos na indicação para cargos no Executivo e, sobretudo, sentindo-se traídos pelo descumprimento de acordos pré-estabelecidos nos Estados – o mais evidente deles no Rio de Janeiro, onde o senador petista Lindbergh Farias insistiu em lançar-se candidato, apesar do pacto com o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) e o atual, Luiz Fernando Pezão –, os peemedebistas mostraram sua força e abriram diálogo com rivais do petismo.
Na opinião do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que se lançou candidato ao governo da Paraíba mesmo sem apoio do PT, o quadro de candidaturas é resultado de rachas nos Estados da aliança com o PT. Em 17 unidades da federação, coligações apoiadas pelo PMDB vão enfrentar chapas do PT. Em dez Estados, repetirão a aliança nacional, mas em sete o PMDB estará na cabeça de chapa. "A aliança com o PT está rachando. O PMDB vai sair muito fortalecido dessa campanha, em qualquer resultado", afirma Rêgo.
O divórcio com os petistas colocou o PSDB na mesma chapa dos peemedebistas em pelo menos cinco Estados: Acre, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Não é pouca coisa. Somados, são mais de 31 milhões de eleitores. Já o PSB vai ser companheiro de coligação em pelo menos quatro unidades da federação: Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Rondônia e Sergipe. PSDB e PSB estão juntos no mesmo palanque que PMDB em Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Roraima.
A briga mais barulhenta de peemedebistas e petistas começou no Rio de Janeiro, quando o PT decidiu aproveitar a baixa popularidade do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), atingido por uma sucessão de escândalos e pelos protestos de junho de 2013, e lançar a candidatura do senador Lindbergh Farias (PT) neste ano. Esperavam convencer os peemedebistas a desistir da candidatura do vice de Cabral, Luiz Fernando Pezão (PMDB). A Direção Nacional do PT tentou sacrificar candidaturas próprias, ou com mais afinidades, em outros estados para compensar os peemedebistas. Não deu certo.
O PT abortou a candidatura do deputado federal Claudio Puty no Pará, para apoiar Helder Barbalho (PMDB). Também foi boicotada a candidatura de Paulo Mourão no Tocantins. Não foi o suficiente. "O PT nem existe no Tocantins", ironiza um peemedebista.
Em Goiás, o PT lançou candidato próprio, Antonio Gomide, contra Iris Rezende (PMDB), uma aliança que estava acertada teoricamente desde 2012. O Piauí também virou caso emblemático do racha, porque o PT oficializou a candidatura do senador Wellington Dias contra a reeleição do governador José Filho (PMDB), que vai dividir palanque para os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) no lançamento de sua candidatura.
Ceará – Outro divórcio hostil, embolado pela preocupação do PT em afagar os irmãos Cid e Ciro Gomes (Pros), ocorreu no Ceará. O PMDB argumenta que estava acertado apoio do PT no Estado, mas os petistas cogitaram lançar a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins e, ao fim, o deputado estadual Roberto Santana (PT) foi escolhido como nome à sucessão do governador Cid Gomes (PROS). Em retaliação, o senador Eunício Oliveira (PMDB), que lidera as últimas pesquisas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), abriu palanque para o PSDB com convite para que o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB) integre a chapa peemedebista.
“Tivemos consideração com a saída dos irmãos Gomes do PSB, em nome da manutenção da aliança com o PT. O Eunício colocou sua candidatura como estratégia central e não mediu consequências”, afirmou o presidente do PT no Ceará, Francisco de Assis Diniz.

São Paulo – No maior colégio eleitoral do Brasil – 32 milhões de votos –, a eleição estadual começará pela primeira vez desde 2002 sem a tradicional polarização entre petistas e tucanos. Governado há vinte anos pelo PSDB, São Paulo é, hoje, a maior dor de cabeça para o comando da campanha da presidente Dilma Rousseff. No Estado, o ex-presidente Lula lançou seu "terceiro poste" na disputa, o ex-ministro Alexandre Padilha, que patina no patamar de 3% das intenções de voto. Mais: a sigla perdeu na última hora o apoio do PP e não conseguiu atrair o PSD para a chapa, o que deixará Padilha em desvantagem na propaganda eleitoral no rádio e na TV. Sem votos no interior do Estado, historicamente refratário à sigla, e com um prefeito na capital mal avaliado, o PT ainda busca uma solução para tentar alavancar Dilma em terreno paulista.
Por outro lado, é em São Paulo que o PSDB aposta suas fichas para tentar fazer a candidatura de Aécio crescer. A intenção dos tucanos é colar o mineiro no governador Geraldo Alckmin (PSDB), que tentará a reeleição, e em José Serra (PSDB), que tentará uma vaga no Senado, para pregar a imagem de que o partido está unido – pela primeira vez desde 2002. A avaliação dos tucanos é que se Aécio conseguir uma boa vantagem em relação a Dilma em São Paulo, somada à esperada vitória com folga em Minas Gerais, sua terra natal, é possível reverter o capital eleitoral do PT no Nordeste.

PSB – Sem nomes fortes nos maiores colégios eleitorais, o PSB de Eduardo Campos lançou doze candidaturas ao governo, ante nove apresentadas em 2010. Nos demais Estados, o partido apoiará candidatos do PSDB (São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Pará), do PT (Rio de Janeiro e Acre) e do PMDB (Rio Grande do Norte, Piauí, Rio Grande do Sul, Sergipe e Mato Grosso do Sul). O melhor exemplo da heterodoxia dos palanques está justamente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Em solo paulista, o PSB indicou o vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin. No Rio, apoia o petista Lindbergh Farias. Nos dois casos, a estratégia nacional de Campos é tentar angariar votos de eleitores que não associam automaticamente as candidaturas de Alckmin e Lindbergh aos nomes de Aécio e Dilma.
Em Pernambuco, Estado de Campos, o candidato pessebista ao governo, Paulo Câmara, marca apenas 8% das intenções de voto em pesquisas recentes. Seu principal adversário, o senador Armando Monteiro Neto (PTB), apoiado pelo PT, lidera com 63% das intenções de voto.
Cobrança – Com disputas nos Estados entre petistas e peemedebistas e descontentamento de parlamentares da base aliada no Congresso, o cientista político Rubens Figueiredo, sócio-diretor da Cepac, avalia que vão aumentar as exigências do PMDB por cargos, verbas e ministérios em eventual novo governo de Dilma. ”O governo Dilma juntou a falta de carinho, com a falta de orçamento, e gerou um descontentamento na base aliada. O PMDB pratica a ‘realpolitik’ (o poder pela política, sem grandes considerações morais). Existe para galgar posições no Estado, ter cargos e controlar orçamentos. É certo que a fatura para recomposição em um eventual segundo governo Dilma vai ser maior”, afirma Figueiredo.
Herdeiro do antigo MDB, criado em 1965 pelo AI-2, que forjou um bipartidarismo no país na ditadura militar, o PMDB passou a controlar máquinas partidárias que remontam aos anos 60 nas principais regiões do país. Pelo tamanho da bancada parlamentar (segunda maior na Câmara dos Deputados, com 73 deputados, e a maior do Senado, com 20 representantes) e por possuir a maior quantidade de governadores hoje no poder (em sete estados), a legenda é, para o bem e para o mal, fiel da balança em qualquer coalizão de governo federal, destaca o cientista político Maurício Rebello, professor da Universidade Federal da Fronteira Sul. “Qualquer um dos presidenciáveis eleitos terá que dialogar com o PMDB. Sem ele, fica mais difícil compor uma coalizão, ou, pelo menos, com maiores custos de negociação”, afirmou Rebello.


Inflacao: keynesianos de botequim sempre foram tolerantes

Esses economistas companheiros, seguindo os pessimos ensinamentos furtadianos, sempre acharam que um pouquinho de inflação não faria mal, desde que se garantisse crescimento e emprego. Pois bem, o crescimento tem sido medíocre e o desemprego é maior do que o índice anunciado pelo governo, sem falar do subemprego e dos mecanismos perversos sobre o mercado de trabalho do Bolsa Familia.
Em qualquer pais sério, o presidente do BC teria sido demitido, pois em 4 anos NUNCA entregou a inflação na meta, com a desculpa de que NUNCA foi ajudado pelo governo; ao contrário, este só atrapalhou. 
Paulo Roberto de Almeida 
Mais lenha na fogueira da inflação
Os consumidores de baixa renda estão mais pessimistas que o mercado financeiro em relação ao proceso inflacionário, que Dilma não consegue debelar. Editorial do Estadão:

Mais um sinal de alerta para a inflação acaba de soar no mercado. Os consumidores, principalmente os de baixa renda, estão mais pessimistas que o pessoal do mercado financeiro e das consultorias quanto à evolução dos preços até o meio do próximo ano. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), os consumidores projetam uma inflação de 7,4% para os 12 meses até junho de 2015. Para o mesmo período, a mediana das projeções do mercado ficou em 5,91% na pesquisa Focus do Banco Central (BC) divulgada na última segunda-feira. Essa pesquisa é realizada semanalmente com cerca de 100 economistas do mercado financeiro e de consultorias independentes. Os cálculos do BC para os 12 meses até o meio do próximo ano apontam uma alta de 5,9% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a política monetária. Como a expectativa é considerada um fator inflacionário pelos especialistas, o ministro da Fazenda e os dirigentes do BC deveriam ficar de prontidão: os donos do julgamento final sobre a alta de preços estão prevendo dias muito ruins.
De fato, nem os dirigentes do BC, responsáveis principais pela política anti-inflacionária, se mostram muito otimistas quanto à evolução de preços e tarifas nos próximos dois anos. Segundo suas estimativas, o IPCA ainda subirá 5,7% em 2014 e 5,1% nos 12 meses até junho de 2016. O ritmo continuará, portanto, muito acima dos 4,5% fixados como meta oficial. Mas o esforço maior, por enquanto, é para impedir a superação, no ano gregoriano, do limite de tolerância, 6,5%. Esse limite, no entanto, será superado neste mês ou no próximo, segundo projeções de vários especialistas.
O risco se eleva com os novos aumentos da conta de luz. A Eletropaulo, responsável pelo abastecimento da capital paulista e de 24 municípios da região metropolitana, foi autorizada a cobrar 18,06% a mais dos consumidores residenciais e 19,93% das indústrias. Como os números de São Paulo têm grande peso na formação do IPCA, o estouro do limite de tolerância se torna quase certo.
Outras 14 distribuidoras foram também autorizadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a aumentar suas tarifas. O maior reajuste, 35,05%, foi atribuído à Copel, mas a empresa, atendendo o governo do Estado, pediu a suspensão do aumento. Sobraram três companhias com autorização para aumentos médios superiores ao da Eletropaulo: AES Sul (29,54%), RGE (22,77%) e Vale Paranapanema (19,66%).
Com esses ajustes, parte do impacto antes previsto para 2015 deve ocorrer neste ano. O efeito teria sido possivelmente menor - mais diluído no tempo - se os aumentos de tarifas tivessem ocorrido a partir do ano passado. Isso teria facilitado o repasse dos custos maiores da energia fornecida pelas centrais térmicas. Mas a presidente Dilma Rousseff preferiu congelar os preços, em mais um esforço para administrar os índices de inflação. Com esse mesmo objetivo o governo federal negociou com municípios e Estados o congelamento das tarifas de transporte público. O controle de preços de combustíveis, com grande custo financeiro para a Petrobrás, é parte da política oficial há mais tempo e foi mantido pelo atual governo.
Nenhum desses truques produz efeitos por muito tempo. Além disso, todos produzem danos importantes. Prejudicam o fluxo de caixa e a rentabilidade das companhias afetadas, derrubam o valor de suas ações, diminuem sua capacidade de investir e transmitem sinais distorcidos ao mercado - por exemplo, estimulando na hora errada o consumo de certos bens ou serviços. Além disso, a manobra resulta muitas vezes em custo para o Tesouro, como no caso das tarifas de eletricidade.
Não se combate a inflação com o controle de preços e a maquiagem dos índices. Políticas desse tipo apenas adiam as soluções necessárias e agravam os problemas. Governos sérios controlam a inflação com aumento de juros e outras medidas monetárias e também com austeridade fiscal e incentivos à produção e à expansão da oferta. Os erros cometidos pelo governo brasileiro nem sequer são originais. Nem todos aprendem com as lições da história.

Historia: entre o o fato e a versao, esta tende a prevalecer

A matéria se refere à imagem que ficará da presidência Obama -- passavelmente medíocre pelo seu desempenho efetivo, salvo na retórica do próprio - na História, mas ela também pode servir para o Brasil, onde temos a mesma propaganda maciça a favor dos companheiros, isto porque dois quintos dos jornalistas e dos acadêmicos são governistas, por razões que não têm nada a ver com a realidade e sim com a predisposição desses indivíduos que influenciam a opinião pública de modo decisivo.
Paulo Roberto de Almeida

Eye on the News

MATTHEW HENNESSEY
Obama and the Verdict of Posterity
Thanks to liberal historians, the 44th president will probably get much higher marks than he deserves.
The City Journal, 4 July 2014

Conservatives have a low opinion of President Obama. So low, in fact, that most are convinced his presidency will ultimately be viewed as a failure—and at least one recent poll gives them good reason to feel confident About that. They see a moribund economy and Obamacare’s many snafus and presume historians will call the Obama administration incompetent. They see chaos in Iraq, Syria, and Ukraine and think future generations will judge his foreign policy a disaster. They see the Bowe Bergdahl and IRS/Lois Lerner affairs—not to mention the Benghazi and V.A. administration episodes—and expect the Obama years to be remembered as scandal-plagued. Conservatives think history will be unkind to President Obama, but they’re wrong. History will more likely revere the first black president, ignoring his failures and amplifying his successes.
Journalism, it’s often said, serves as the rough draft of history, and American journalists, to an overwhelming degree, adore Obama. Their first drafts of the history of the Obama years will likely be laudatory. But more important, in the long term, than the opinion of today’s journalists is the attitude of historians—most of whom make their living in academia. It’s no secret that the American college campus is a bastion of leftism. A 2005 survey of faculty members at 183 four-year colleges found that 81 percent of politics professors and 77 percent of historians considered themselves liberals. The watchdog group Campus Reform examinedFederal Election Commission data and found that 96 percent of political donations by faculty and staff at Ivy League colleges went to Obama in 2012.
Some say history is written by the victors. That may have been true in antiquity, but in the modern world, history is written by left-wing journalists and professors. And the presidential historians of tomorrow will likely give Obama credit for attempting to reform the American health-care system, even if that reform proves costly, inadequate, or disastrous. They will praise him as the president who ended George W. Bush’s wars in Iraq and Afghanistan, even if those countries ultimately revert to authoritarianism (as they seem to be doing). They will hail him for trying to close the military prison at Guantanamo Bay and pass comprehensive immigration reform, even if those campaign promises go unfulfilled. When it comes to his failures, history will say that it wasn’t Obama’s fault. History will say that Obama tried. Don’t believe me? Check your history. History has done it before.
Franklin D. Roosevelt tried to pack the Supreme Court and subvert the checks and balances that our political system has always relied on to keep presidents from behaving like kings. Some say his economic policies prolonged the misery of the Great Depression. While FDR has been justly lauded for his military leadership during the Second World War, his administration hadprior warning about the possibility of a Japanese attack in the Pacific and perhaps could have prevented the deaths of 2,400 Americans on December 7, 1941. FDR also issued an executive order forcing more than 110,000 Japanese Americans into internment camps. Yet, FDR is routinely ranked by historians as one of our greatest presidents. Why? Because history is written by historians, and historians love the New Deal and the welfare state.
John F. Kennedy’s presidency was abbreviated by assassination; he didn’t live to complete three full years in office, during which his accomplishments were slim. Yet in 2012, he showed up in a Newsweek survey of historians selecting the 10 best modern presidents. (Also on that list? Barack Obama, of course.) Why should Kennedy rank among the twentieth-century’s best? Because JFK is the personification of compassionate, paternalistic liberalism, and American journalists are, for the most part, compassionate, paternalistic liberals.
Consider, too, how history has treated Lyndon B. Johnson. The architect of military escalation in Vietnam, Johnson left the presidency in disgrace. He was so despised by the Left that his own party hounded him into surrendering the nomination in 1968. But many on the Left have lately forgiven LBJ for the sins of Vietnam, because he gave us the Great Society and the War on Poverty. So LBJ gets a pass. Instead, Richard Nixon gets blamed for Vietnam, when he isn’t taking heat for everything from the Clinton impeachment to the obesity epidemic. History hates the Republican Nixon, who got us out of Vietnam. History loves the Democrat LBJ, who gave us the Gulf of Tonkin Resolution. Funny how that works.
Think I’m exaggerating or cherry-picking? Compare the recent media commemorations of the 50th anniversaries of the Civil Rights Actand the Great Society with those of the 50th anniversary of the start of the Vietnam War. Actually, you won’t find many articles commemorating the start of the Vietnam War—possibly because those articles would have to acknowledge how the Kennedy and Johnson administrations entangled us in that bloody and controversial conflict. Best to wait until the Nixon-era anniversaries start rolling around for a full-color spread on Vietnam and its tragic legacy. History likes to keep things tidy.
Conservatives expecting the light of history to illuminate Barack Obama’s missteps and expose his presidency as a failure should prepare to be disappointed. If history is any guide, history will love this guy.

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...