domingo, 9 de novembro de 2014

Politica economica companheira: pai do BRIC critica intervencionismo estatal

Não creio que o governo brasileiro tenha se tornado "chinês" demais, a despeito do fato que a China também seja um capitalismo dirigido. Os mecanismos de intervenção são muito diferentes, e a China é um país economicamente mais livre do que o Brasil, com um ambiente de negócios muito mais favorável do que o Brasil, que é quase socialista, comparado com a China.
No resto ele tem razão, quanto à incapacidade da política econômica companheira produzir crescimento saudável.
Paulo Roberto de Almeida

Criador dos Brics diz que governo brasileiro se tornou "chinês demais"

Folha de S.Paulo, 8/11/2014

Conhecido –e muitas vezes criticado– por suas previsões consideradas excessivamente positivas, o economista britânico Jim O'Neill, criador do acrônimo Bric, parece ter perdido seu entusiasmo com pelo menos um país: o Brasil.

Em 2012, quando as incertezas sobre a recuperação da economia global eram ainda maiores que as de hoje, o então economista-chefe do banco americano Goldman Sachs escreveu que se mantinha "extremamente otimista em relação ao Brasil" e que o país representava uma "grande esperança".

Dois anos e meio depois, O'Neill afirma que muita coisa deu errado desde então. E que um dos principais responsáveis pelo baixo crescimento registrado no país é o que define como política intervencionista do governo da presidente Dilma Rousseff.

"O governo brasileiro se tornou chinês demais", afirmou, em entrevista à Folha em Londres, onde vive. O papel desempenhado pelo BNDES na concessão de empréstimo ao setor privado nos últimos anos, a juros subsidiados, e a atuação do Banco Central que, segundo ele, precisa ser mais independente, são exemplos dessa política, diz o economista.

O'Neill, 57, porém, faz sua mea-culpa. Ele diz que errou ao acreditar que a redução da inflação na década passada iria inaugurar uma "nova era" para o país, em que não somente o consumo aumentaria, mas também os investimentos e a tomada de riscos por parte dos empresários. "Isso não aconteceu."

Apesar disso, o economista britânico continua confiante no resto de suas previsões.

Além da China, que mesmo crescendo em ritmo mais lento, "produz uma Índia a cada dois anos", segundo ele, outros emergentes como Nigéria e Indonésia, parte do novo acrônimo "Mint", deverão puxar a expansão mundial nas próximas décadas.

Os "Mint" foram tema de um programa de TV na emissora britânica BBC apresentado neste ano por O'Neill, que se aposentou do banco americano em 2013. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

*

Folha - Há uma grande discussão sobre o futuro dos mercados emergentes diante de uma menor expansão global e do fim da política estímulos do Fed (banco central americano), que trouxe muita liquidez aos mercados nos últimos anos. Qual a visão do sr. sobre isso?

Jim O'Neill - A natureza dessa questão presume uma estrutura antiga do mundo. Há duas décadas, se a economia mundial estivesse desacelerando e o Fed estivesse apertando sua política monetária, seria uma péssima notícia para os países emergentes. Mas hoje a segunda maior economia do mundo é um país emergente, a China. A China crescendo a 7,5%, o que se considera "mais devagar", equivale em dólares aos Estados Unidos crescendo a 4%.

A China é maior que Alemanha, França e Itália juntas. A China cria um Reino Unido a cada três anos, e uma Índia a cada dois. Por isso, se o mundo vai diminuir seu crescimento de forma persistente depende, em grande parte, do que a China vai fazer. Deveríamos estar nos preocupando com o que vai acontecer se o banco central chinês apertar a política monetária, e não o Fed. A forma com que a maioria das pessoas ainda pensa sobre essas questões é equivocada. O mundo mudou.

Qual sua perspectiva para o futuro da economia global?

Acho que a economia americana mostra sinais contínuos embora erráticos de aceleração. No momento acredito que isso deve levar o Fed a aumentar as taxas de juros em 2015, provavelmente no meio do ano, e isso deve trazer consequências adversas para alguns mercados.

Há uma incerteza genuína particularmente em relação à volta dos investimentos. O gasto com investimento tem sido muito fraco ao redor do mundo. Isso inclui, para os padrões chineses, a China, mas também Alemanha e EUA. Isso sugere que os negócios ainda não querem tomar muito risco no longo prazo e isso é um pouco preocupante. Achei que esse ano isso começaria a mudar. Mas até agora, não.

Em 2012 o sr. escreveu que estava extremamente positivo com o Brasil e que o país tinha um futuro promissor. Dois anos depois, o país deve crescer menos de 1% esse ano, a inflação voltou, os juros subiram. O que aconteceu?

Há uma pequena possibilidade de que nada deu errado e Brasil ainda viva uma grande volatilidade. Se você olhar para o período entre 2001 e 2003, o país tinha um crescimento tão fraco quanto o que está tendo nesta década. As pessoas se esquecem disso. Entre 2005 e 2009 o país teve um forte crescimento, em parte porque sua economia foi seriamente afetada pelo alto preço das commodities. Então, se por alguma razão o preço das commodities começarem a subir muito nos próximos anos, não seria tão surpreendente se o Brasil crescesse muito mais sem que nada efetivamente mudasse.

Porém, apesar do que eu acabei de dizer, eu acho sim que as coisas deram errado. E eu estive errado. Acho que errei porque imaginava que a inflação baixa iria desencadear uma nova era para as classes de renda baixa e média no Brasil, não apenas de maior consumo, mas também de mais investimentos, mais riscos, mais criatividade. E isso não aconteceu. O consumo foi criado por meio de empréstimos, e não apoiado por um crescimento sustentável da renda. Também não foram feitos investimentos suficientes.

Por que isso ocorreu, na sua opinião?

Um problema real é que o governo brasileiro se tornou muito chinês, ao tentar direcionar demais a economia. O famoso efeito crowding-out (queda do investimento privado diante de uma política fiscal expansionista do Estado) ocorre no Brasil. Uma consequência disso se vê na situação fiscal do país. Se o governo continuar tentando controlar tudo, gastar mais e mais, e não usar o dinheiro de forma eficiente, o déficit nas contas [como o registrado em setembro, o primeiro em nove anos] será o novo normal para o Brasil.

O intervencionismo é o principal problema?

Acho que Dilma não vem tendo sucesso na economia. Ela pode ter sido muito azarada com o "timing" na economia mundial.

Mas o intervencionismo é uma questão principal.

O papel do BNDES na concessão de empréstimos é algo muito chinês, e é também um grande problema. Junte-se a isso o fato de que ela não fez nada para tornar o Brasil mais competitivo globalmente, fora do negócio de commodities. O que o Brasil tem para oferecer ao mundo, além de matéria-primas? Qual seu diferencial? Não há apoio a um ambiente de tomada de risco, à inovação de alto impacto. Só commodities não é suficiente.

Que reformas estruturais são mais urgentes?

Um ponto crucial é que vocês têm quase 200 milhões de pessoas. Então, se o país fomentar reformas, permitindo mais dinamismo ao setor privado, apoiando uma maior tomada de risco e estimulando novos negócios, o Brasil ainda pode ser um lugar fantástico. Mas não vejo muitas evidências de que isso vá realmente acontecer.

E na política macroeconômica, que tipos de ajustes são necessários?

Acho que a presidente precisa tornar o Banco Central mais independente. Um dos problemas é que as decisões não são realmente feitas pelo BC nos últimos anos. A subida de juros que ocorreu dias após a eleição foi um desenvolvimento muito interessante nesse sentido.

O que a subida dos juros logo após a eleição demonstra, na sua visão?

Foi uma surpresa levemente positiva porque os mercados gostam de ver o que os políticos fazem, não apenas o que eles falam. [A subida de juros] pode demonstrar que Dilma será mais sensível às demandas do mercado, mas ainda é cedo para dizer.

A inflação acima da meta ameaça a credibilidade do país?

Sim. No que diz respeito ao sistema de meta de inflação, a credibilidade do sistema está definitivamente sob ameaça, e por isso que a alta dos juros é tão importante. Além disso, por causa dessa montanha russa, muitos investidores simplesmente não estão mais interessados no Brasil. De certa forma, isso pode ser bom, pois pode incentivar o governo a fazer as reformas.

Qual sua avaliação sobre a criação do banco dos Brics?

Foi uma surpresa positiva. Os países do grupo têm conversado sobre isso há dois anos, e muita gente começou a pensar: "eles não conseguem concordar em nada, é tão ruim quanto o FMI ou o G-20". O fato de que eles finalmente concordaram em algo substancial é um desenvolvimento positivo. O fato de que a sede da instituição será na China foi também interessante, mostrando a importância do "C" no Bric. Vejo também como um sinal de que os chineses veem o Bric como uma forma de "experimento" para um projeto de assumir maior responsabilidade global.

Qual deve ser o papel do banco dos Brics?

Os Brics já deveriam ter maior peso no FMI e no Banco Mundial, mas não conseguem por causa do Congresso americano. Por outro lado, não concordo que a criação do banco seja uma resposta a sub-representação nessas instituições, porque elas continuam pesadamente envolvidas em programas de empréstimos para esses países. Hoje, diria que o banco tem um papel puramente simbólico.

Os Brics possuem muitas diferenças entre si, e muitos consideram que, por isso, não deveriam ser considerados um grupo coeso. Como o sr. responde a isso?

É claro que eles possuem grandes diferenças, mas qual grupo político não possui? Tome o G-7, por exemplo. São todos países democráticos, é verdade, mas o que mais há em comum entre os EUA e a Itália? Os Brics têm muitas diferenças entre eles, mas têm também muito em comum em aspectos importantes, como população e tamanho da economia. E nessa análise, excluo a África do Sul, que é um país pequeno com população pequena. Eu particularmente questiono a sensibilidade de incluir a África do Sul no grupo. Acho que foi um erro estratégico.

A China passa por desaceleração e enfrenta um grande desafio demográfico. Você continua otimista em relação ao país?

Sim. Qualquer um que estudou China nos últimos 20 anos sabe que desafios demográficos começariam a surgir no começo desde década. Portanto, não há surpresa inclusive pra mim. Além disso, o governo chinês está tentando enfrentar a questão, se livrando da política de filho único, por exemplo. Sobre a desaceleração da economia, eu presumi muitos anos atrás que a China iria desacelerar nesta década. Até agora, a desaceleração foi menor do que previa tanto [sua previsão é de expansão média de 7,5% entre 2010 e 2020).

Qual sua análise sobre a Índia, sob o governo do primeiro ministro Narendra Modi?

Estou muito animado com a Índia sob o governo Modi. Um dos maiores problemas do país é a complexidade de sua democracia. Com a força da vitória de Modi, há uma chance para reduzir a complexidade da democracia da Índia pela primeira vez em 30 anos. É uma mudança grande e positiva, com impactos na economia. Acho que na segunda metade desta década é possível até que a Índia possa crescer mais que a China, em termos percentuais.

Você criou recentemente um novo acrônimo para um grupo de países, os Mint (México, Indonésia, Nigéria e Turquia). Que características os une e o que os diferencia dos Brics?

De novo, a principal característica que os une é a população. E, em contraste com China e Rússia, os quatro países do MINT têm população jovem, portanto não há um fardo demográfico. A população economicamente ativa nesses países vai crescer muito nos próximos 20 anos, o que é uma diferença importante em relação aos Brics. Além disso, são países com relações comerciais muito diversas. Já a Nigéria é uma exceção, com população muito grande, mas também desafios relacionados à elevada corrupção e à democracia.

Você afirmou recentemente que não concorda que a desigualdade tenha aumentado nas últimas décadas, argumento defendido pelo economista francês Thomas Piketty. Por quê?

Não sou crítico de Piketty, mas da popularidade dessa visão [sobre aumento da desigualdade]. Acho que existe uma enorme hipocrisia das pessoas do ocidente. O fato é que, em indicadores de pobreza mundialmente aceitos, vimos uma grande queda da desigualdade mundial na ultima década. Em boa parte por causa dos países emergentes. A meta da ONU de reduzir a pobreza à metade em 2015 foi atingida em 2010.

Minha segunda crítica é que é idioticamente simples pegar a diferença entre o cidadão mais bem pago e o menos pago e dizer isso que isso significa que a desigualdade está crescendo.

Por fim, há um subcontexto na discussão que envolve um protesto quanto às pessoas enriquecerem. Não queremos que nossas pessoas fiquem mais ricas? Venho de uma realidade dura em Manchester [cidade no norte da Inglaterra]. E lá as pessoas não reclamam por eu ser rico. Ao contrário, elas gostariam de ter enriquecido também, de uma vida melhor. Acredito na importância da desigualdade de oportunidade, não no debate simplista de desigualdade de renda.

RAIO-X - JIM O´NEILL

Origem: Manchester, Inglaterra

Idade: 57 anos

Formação: PhD em economia pela Universidade de Surrey (Inglaterra)

Carreira: Swiss Bank, Bank of America e Goldman Sachs (1995-2013), onde foi economista-chefe e presidente do banco de investimentos

Livro: "O Mapa do Crescimento" (2012)

Ocupação atual: professor honorário do departamento de economia da Universidade de Manchester; pesquisador visitante no think tank de economia internacional Bruegel; membro do conselho econômico do CFI, braço de investimento privado do Banco Mundial 

Muro de Berlim nao caiu, segundo PC de Portugal; foi tudo um complo do imperialismo

Primoroso este longo editorial do jornal Avante, que deve ter sido redigido pelo Comitê Central do Partido Comunista Português.
Acredito que nem na Rússia, saudosistas da finada URSS seriam capazes de escrever essas coisas. Talvez no Brasil, alguém do PCdoB seria capaz de tanta ousadia criativa.
Grato a meu amigo e colega, de carreira e de blogagens, Embaixador Francisco Seixas da Costa, que desenterrou essa peça primorosa do stalinismo mais ridículo e a colocou em seu blog Duas Ou Três Coisas...
Paulo Roberto de Almeida

A chamada «queda do muro de Berlim»
Editorial Jornal Avante, 8/11/2014

A pretexto da passagem de 25 anos sobre a chamada «queda do muro de Berlim» está a ser levada a cabo uma campanha anticomunista de intoxicação da opinião pública.

Image 17040

Perante a campanha anticomunista de intoxicação da opinião pública desencadeada a pretexto da passagem de 25 anos sobre a chamada «queda do muro de Berlim», o PCP considera necessário afirmar o seguinte:

1. Mais do que a «queda do muro de Berlim» o que as forças da reacção e da social-democracia celebram é o fim da República Democrática Alemã (RDA), é a anexação (a que chamam de «unificação») da RDA pela República Federal Alemã (RFA) com a formação de uma «grande Alemanha» imperialista, é a derrota do socialismo no primeiro Estado alemão antifascista e demais países do Leste da Europa e, posteriormente, a derrota do socialismo na URSS. 

2. A criação da RDA socialista, herdeira das heróicas tradições revolucionárias do movimento operário e comunista alemão (de que, na sequência de Marx e Engels, são símbolos Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e Ernest Thalmann) é inseparável da vitória sobre o nazi-fascismo na 2.ª Guerra Mundial e produto das aspirações do martirizado povo alemão à liberdade, à paz e ao progresso social.

A responsabilidade da divisão da Alemanha, a que desde o primeiro momento a URSS se opôs, cabe inteiramente às potências imperialistas (Estados Unidos, Grã-Bretanha e França) que nas respectivas zonas de ocupação, e ao contrário do que aconteceu na zona de ocupação soviética, não só não desmantelaram completamente as estruturas hitlerianas como protegeram os nazis e os monopólios alemães (Krupp, Siemens, e outros) responsáveis pela carnificina da guerra e criaram em 23 de Maio de 1949, contra os próprios Acordos de Ialta (Fevereiro de 1945) e de Potsdam (Julho/Agosto de 1945), uma RFA capitalista amarrada ao imperialismo norte-americano e à NATO, fundada aliás nesse mesmo ano, seis anos antes da resposta dos países socialistas do Leste da Europa com a criação do Tratado de Varsóvia em 1955, na sequência da entrada da RFA na NATO.

3. Hostilizada e caluniada pela reacção internacional, a RDA, pelas suas notáveis realizações nos planos económico, social e cultural e pela sua política antifascista e de paz, impôs-se e fez-se respeitar no concerto das nações como Estado independente e soberano e tornando-se depois de anos de duro combate membro de pleno direito da ONU (1973) em simultâneo com a RFA. Mas o imperialismo nunca desistiu das suas tentativas de liquidar a RDA socialista acabando em 1989 por alcançar a vitória, conseguindo que manifestações, nomeadamente em Leipzig, que na sua essência reclamavam o aperfeiçoamento do socialismo e não a sua destruição, ganhassem a dinâmica contra-revolucionária que conduziu à precipitação dos acontecimentos e à anexação forçada da RDA pelo governo de Helmut Kohl.

4. É necessário desmascarar a hipocrisia daqueles que, clamando contra o muro erguido em Berlim pelas autoridades da RDA, têm construido e continuam a construir barreiras do mais variado tipo (sociais, raciais, religiosas e outras) por esse mundo fora, incluindo muros físicos, intransponíveis de que o exemplo mais brutal é o muro erguido por Israel para cercar e aprisionar o povo palestiniano na sua própria pátria, a que se juntam os muros erguidos pela Coreia do Sul na Península da Coreia dividida, por Marrocos contra a luta libertadora do povo sahauri, pelos EUA na fronteira com o México e outros.

5. A construção do muro de Berlim em 1961, com carácter defensivo, é um episódio histórico que se situa num tempo de agudíssima confrontação anticomunista, visando, de acordo aliás com a estratégia de «contenção do comunismo» proclamada pelo presidente dos EUA HarryTruman, a subversão dos países socialistas.

É um produto da «guerra fria» – desencadeada pelo imperialismo ainda em plena 2.ª Guerra Mundial com o criminoso lançamento da bomba atómica sobre Hiroshima e Nagazaqui – e da criação no Centro da Europa onde se confrontavam os dois poderosos blocos político-militares (a NATO e o Tratado de Varsóvia) um dos mais perigosos focos de tensão internacional.

É a resposta a constantes provocações na linha de demarcação entre a parte Leste e Ocidental da cidade e reiteradas violações de soberania da RDA, no coração de cujo território se encontrava Berlim, num incontestável acto de segurança e de soberania. 

Independentemente da opinião que se tenha sobre a construção do muro de Berlim, a verdade é que este, se não contribuiu, pelo menos não impediu que a RDA fosse internacionalmente reconhecida como Estado independente e soberano, o Acordo Quadripartido sobre Berlim, o reconhecimento mútuo e a normalização das relações entre a RFA e a RDA e todo o processo de coexistência pacífica e desanuviamento na Europa que conduziu em 1975 à Conferência de Helsínquia sobre a Segurança e a Cooperação na Europa.

6. É importante não esquecer que a competição entre os dois sistemas sociais opostos, o capitalismo e o socialismo, teve em solo alemão uma das suas mais importantes e perigosas expressões. O esforço do imperialismo para apresentar a RFA e Berlim Ocidental como «montra do capitalismo» foi colossal. Um tal contexto confere ainda mais significado às realizações e ao prestígio mundial da RDA socialista, e à sua activa política de paz e de solidariedade internacionalista. 

O PCP não esquece que o povo português encontrou sempre na RDA e no Partido Socialista Unificado da Alemanha (PSUA) solidariedade para com a sua luta contra o fascismo e para com a Revolução de Abril. 

7. Ao contrário do que então foi apregoado por um capitalismo triunfante, a «queda do muro de Berlim», a anexação da RDA, as derrotas do socialismo no Leste da Europa, não contribuíram para a segurança e a paz na Europa e no mundo. Pelo contrário. 

Aquilo a que assistimos no território da ex-RDA foi à destruição forçada das realizações económicas, sociais e culturais de mais de quarenta anos de poder dos trabalhadores e, no plano internacional, à tentativa de impor, tal como proclamado por Bush durante a Guerra do Golfo, «uma nova ordem mundial» contra os trabalhadores e contra os povos. A aliança agressiva da NATO, em lugar de dissolver-se como aconteceu com o Tratado de Varsóvia, reforça-se e estende a sua esfera de intervenção a todo o planeta e a CEE, transformada em União Europeia com o Tratado de Maastricht, afirma sem lugar para dúvidas a sua natureza de bloco imperialista dando um novo salto nas suas políticas neoliberais, federalistas e militaristas e na sua articulação com os EUA e a NATO. A Alemanha, manifestando as suas ambições de grande potência económica e militar, estende a sua esfera de influência para o Leste do continente europeu e lança-se na destruição da Jugoslávia tornando-se responsável pela primeira guerra na Europa depois da 2.ª Guerra Mundial. A situação que hoje se vive na Ucrânia, nomeadamente com a ascensão ao poder de forças fascistas, a perseguição anticomunista e a escalada de confrontação com a Rússia é o desenvolvimento lógico da «cavalgada» do imperialismo para Leste que se seguiu às derrotas do socialismo na RDA e noutros países socialistas. 

8. O sistema capitalista que na viragem dos anos oitenta/noventa do século passado se apresentava a si mesmo como o melhor dos mundos possível em matéria de democracia, direitos humanos, desenvolvimento económico e progresso social, não só se revela incapaz de resolver os problemas dos trabalhadores e dos povos como tende a agravá-los cada vez mais, ao ponto de pôr em causa a própria existência da Humanidade. As derrotas do socialismo não mudaram a essência do capitalismo, antes tornaram mais evidente a sua natureza injusta e desumana. A violenta ofensiva exploradora com que os trabalhadores hoje estão confrontados e que ameaça o mundo com uma regressão social de dimensão civilizacional, a desestabilização e destruição de países e regiões inteiras, o avanço do fascismo, o perigo de uma nova guerra de catastróficas proporções, tudo isso é consequência das tentativas do imperialismo de tirar partido da «queda do muro de Berlim», ou seja, da destruição da RDA e do campo socialista como sistema mundial, para recuperar as posições que lhe foram arrancadas ao longo do século XX pela luta libertadora dos trabalhadores e dos povos, luta em que o movimento operário e os comunistas alemães desempenharam um papel que nenhuma campanha de reescrita e falsificação da História conseguirá apagar.

9. A chamada «queda do muro de Berlim» foi transformada pelos seus apologistas num símbolo do triunfo definitivo do capitalismo sobre o socialismo. Mas a evolução da situação internacional nos últimos 25 anos não só desmente as teses delirantes sobre o «fim da luta de classes» e sobre a «morte do comunismo», como mostram que o socialismo é mais actual e necessário do que nunca e que os trabalhadores e os povos de todo o mundo resistem e lutam para se libertar das cadeias da exploração e opressão imperialista. 

Num processo acidentado, feito de avanços e recuos, de vitórias e derrotas, o futuro da Humanidade não é o capitalismo mas o socialismo e o comunismo.




Bolivarianos entram e saem do Brasil como querem, e fazem o que querem...

Elias Jaua: o escroque bolivariano amigo do MST.
Enviados do tirano Maduro entram e saem do país sem qualquer comunicado ao Itamaraty, que é sempre o último a saber. Tudo gente fina, resume editorial do Estadão:

Quem tem amigos do peito como a Venezuela não precisa de inimigos. Em circunstâncias nebulosas, sem o conhecimento de Brasília, o governo de Caracas firmou com o MST, na cidade paulista de Guararema, convênios pelos quais se compromete a ensinar o povo brasileiro a "seguir avançando na construção de uma sociedade socialista". Muitos dias depois, na última quarta-feira, o governo brasileiro finalmente protestou junto aos muy amigos. Não necessariamente pelo conteúdo dos tais convênios, mas porque o ex-chanceler e, desde setembro, ministro do Poder Popular para as Comunas e os Movimentos Sociais, Elías Jaua, veio ao Brasil para assiná-los sem informar o Itamaraty. E ainda andou se metendo em confusão policial. Uma típica trapalhada bolivariana.
É de imaginar que os petistas tenham ficado aborrecidos com a falta de consideração dos venezuelanos, que, se tivessem sido menos egoístas e mais solidários, teriam possibilitado a realização de um magnífico evento popular em Guararema, talvez até com a presença de Lula com o boné do MST e falando mal da elite.
Mas, diante de uma desfeita que não se pode ignorar nem quando se trata de amigos fraternos, o chanceler brasileiro, Luiz Alberto Figueiredo, depois de ouvir a presidente Dilma Rousseff, convocou o encarregado de negócios da Venezuela no Brasil, Reinaldo Segovia (o embaixador está viajando), para comunicar a "estranheza" do governo brasileiro com o comportamento de Jaua, reclamar que o lamentável episódio pode significar uma "interferência nos assuntos internos do País" e cobrar explicações do governo de Caracas. Para Figueiredo, "o fato não se coaduna com o excelente nível das relações entre os dois países".
Os convênios foram assinados no fim do mês passado, numa escola do MST onde são ministrados cursos de formação política para militantes de movimentos sociais. Segundo a organização, os tais convênios com os venezuelanos objetivam apenas "a troca de experiências na área da agroecologia". O governo venezuelano, porém, conta uma história diferente.
No dia 28, antes mesmo do regresso de Jaua a Caracas, o governo bolivariano anunciou aquilo que nem o Palácio do Planalto sabia: "No marco da visita ao Brasil do vice-presidente de Desenvolvimento do Socialismo Territorial, Elías Jaua, foram assinados (...) vários acordos nas áreas de formação e desenvolvimento da produtividade comunal entre o Governo Bolivariano" e o MST. E a nota acrescentava que, segundo Jaua, os convênios têm como objetivo incrementar o intercâmbio de experiências para "fortalecer o que é fundamental em uma revolução socialista, que é a formação, a consciência e a organização do povo para defender suas conquistas e seguir avançando na construção de uma sociedade socialista".
Não bastasse a desfeita ao Itamaraty, a estada de Jaua no Brasil envolveu um constrangedor episódio policial. O ministro viajou acompanhado da mulher, que foi submetida a uma cirurgia de emergência em São Paulo. Talvez com a agenda tomada por assuntos mais importantes, Jaua chamou, para fazerem companhia à paciente, a sogra, os filhos e a babá destes. Ao desembarcar em Guarulhos, a babá foi presa em flagrante pela PF e permaneceu detida por quatro dias pelo porte de uma arma que, depois ficou esclarecido, estava numa maleta com documentos que Jaua encomendara à funcionária.
Apurou-se em Brasília que o Itamaraty ficou sabendo da presença de Jaua no Brasil pela PF. E ninguém foi capaz de explicar o que estava acontecendo, até porque o governo brasileiro faz questão de manter "um excelente nível de relações entre os dois países", mas, de repente, viu-se surpreendido por um episódio que contraria os protocolos diplomáticos.
O fato de o Itamaraty ter demorado pelo menos uma semana para se manifestar sobre uma inadmissível interferência nos assuntos internos do País sugere que o governo petista estendeu até o limite a possibilidade de botar panos quentes na situação. Era só o que faltava para quem assistiu passivamente ao calote que o finado Hugo Chávez deu no contrato de parceria na construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Gente fina.

Museus em New Haven, livros na lista

Hoje foi um dia completo, ou seja, boa gastronomia, visita a museus e livrarias, como ambos gostamos.
A gastronomia ficou por conta de Carmen Lícia, que preparou para almoço (e ainda ficou para o jantar) uma excelente pasta (rigatone) com camarões, ainda complementada por nozes pecan, um bom pecorino, tudo acompanhado por vinho italiano. Perfeito: repeti no almoço e no jantar, quando abri uma nova garrafa de Chianti Riserva.
Depois, fomos a New Haven, para uma dupla visita a museus: o da Universidade de Yale, para uma exposição sobre as províncias do império romano, e uma outra, logo em frente, no British Art Center, onde estava tendo esta exposição sobre as esculturas na era vitoriana:

Depois, eu fui devolver livros que havia emprestado da biblioteca da universidade, todos eles sobre Bretton Woods, que usei para fazer um artigo sobre os 70 anos do FMI e as relações do Brasil com a instituição. Devo divulgar em breve.
Fizemos algumas compras, entre a loja de apetrechos da Universidade de Yale e a livraria Barnes and Noble. Antes passamos num sebo-bar, onde Carmen Lícia comprou um livro sobre a China.
Na Barnes, apenas fiquei examinando os livros que pretendo comprar mais barato dentro de poucos meses, assim que ficarem disponíveis na Abebooks ou na Amazon usados.
Aqui estão eles, apenas três, o que é bastante modesto como planejamento.



Na volta, ainda tinha pasta com camarão, nozes e pecorino, com mais um pouco de vinho italiano.
Para terminar, leitura de jornais, a Economist que acaba de chegar, um pouco de televisão e de computador.
Jornada perfeita. Amanhã tem New York, uma vez mais.
Paulo Roberto de Almeida

O processo de desenvolvimento segundo Peter Temin (resumido por Drunkeynesian)

Salários altos, Revolução Industrial e o Brasil de hoje 
The Drunkeynesian, quarta-feira, 2 de julho de 2014

 
"As coisas estão no mundo, só que eu preciso aprender" (Paulinho da Viola em Coisas do mundo, minha nêga)

Nessa pausa da Copa, aproveite o tempo para ler este paper de Peter Temin (professor emérito do MIT), uma revisão, em linguagem simples e acessível, da evolução da "Nova História Econômica" (que também atende pelo nome de cliometria.) A cliometria é produto tanto da quantificação da economia, cujo marco inicial foi a publicação do The Foundations of Economic Analysis, de Paul Samuelson, em 1947 (Samuelson tinha 32 anos, mortais—e é uma das celebridades que compartilham o dia de aniversário com este que vos escreve, como Raí e os gêmeos De Boer), quanto da evolução das técnicas econométricas, da disponibilidade de dados e do poder dos computadores para processá-los.

Temin destaca a pesquisa recente de Robert C. Allen, Hans-Joachim Voth e Nico Voigtländer (os dois últimos são coautores), que tenta responder a pergunta mais clássica de história econômica: por que a Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra no século XVIII? A narrativa que emerge desses trabalhos é fascinante. Vou tentar resumir em um parágrafo (já me perdoem pela heresia):

A Peste Negra, no século XIV, foi a mãe de todos os choques exógenos: surgiu inesperadamente e, em pouco tempo, reduziu drasticamente a oferta de mão de obra na Europa. Como consequências, para cultivar plantações cujo tamanho não mudou: i) salários subiram, ii) aumentaram os incentivos para adoção de novas tecnologias, iii) mulheres passaram a fazer parte da força de trabalho (tanto pela demanda por trabalhadores quanto pela adoção de tecnologias que diminuíram a necessidade de força física para o trabalho agrícola.) Com isso, mulheres passaram a se casar mais tarde e a ter menos filhos. A população passou a crescer mais lentamente, o que manteve a oferta de mão de obra restrita e os salários mais altos. Começava a se romper a "armadilha malthusiana": as famílias, menores, passaram a dispor de mais renda e puderam incrementar a alimentação (comer mais proteína animal), que, por sua vez, seguiu alterando o padrão da agricultura. A Revolução Industrial surge como uma tentativa de produtores reduzirem custos (já que empregar gente ficou permanentemente mais caro), alimentada pela criatividade de pequenos empreendedores que passaram a ter renda acima do nível de subsistência e tempo livre para experimentar (falta a peça do quebra-cabeça que explica o porquê da Inglaterra e não outro país europeu: energia barata, segundo Allen.)

Temin liga a história do desenvolvimento da Europa (depois replicada para outros continentes) aos problemas atuais de economia do desenvolvimento. A diferença entre a Europa pobre, pré-Revolução Industrial e a Europa rica que veio depois é similar à diferença corrente entre países pobres e países ricos: estes pagam salários maiores e usam tecnologia mais avançada. Ambos os fatores são, claro, interligados: salários mais altos justificam o investimento em tecnologia, e o aumento de produtividade sustenta níveis de renda maiores. A dificuldade está na transição: como fazê-la em (muito) menos que 400 anos e sem depender de um enorme choque exógeno. Se buscarmos respostas na história de sucesso da Europa, um bom começo passa por inclusão de mais mulheres na força de trabalho e redução da taxa de fertilidade.

Corta para o Brasil de hoje: um dos fatores mais importantes e menos alardeados da história econômica do país desde a redemocratização é uma profunda transição demográfica, que segue surpreendendo nós, pobres economistas. A taxa de fertilidade caiu muito rápido: lembro de um texto de Roberto Campos, acho que do início dos anos 1980 (estou sem o livro aqui, é um dos primeiros do Ensaios Imprudentes, salvo engano) que a listava como "o" principal problema do país. Tal problema desapareceu em pouco mais de uma geração: em 1980 esperava-se que cada mulher tivesse 4 filhos durante sua vida; hoje, menos de 2. Em mais uma geração, a população total do país deve começar a declinar, a partir de um pico de 220 milhões. A surpresa mais recente, e que ajuda a explicar porque o desemprego segue baixo mesmo após anos de atividade econômica fraca e salários subindo, é o baixo crescimento da população economicamente ativa (está bem explicado neste artigo do Marcelo Muinhos). Não só a população total cresce pouco como também, aparentemente, demora-se mais para entrar no mercado de trabalho, já que o aumento da renda das famílias permite financiar mais anos de educação e diminui a pressão para que jovens comecem a trabalhar o quanto antes.

A tragédia do Brasil recente é a produtividade, que é frequentemente ligada à adoção de tecnologia. Além dos dados, anedotas não faltam: os ônibus nas grandes cidades ainda empregam cobradores, o enorme contingente de empregadas domésticas, manobristas, garçons, frentistas, recepcionistas, porteiros... Claro que não se trata de simplesmente extinguir esse tipo de trabalho, mas criar condições para que os que se empregam nele consigam trabalhos melhores e sejam substituídos por tecnologia e processos mais avançados (exemplo: grandes prefeituras poderiam aproveitar o mercado de trabalho aquecido e criar projetos para acabar com cobradores de ônibus em poucos anos, oferecendo um pacote de alguns meses de salário e cursos de qualificação. Há, claro, uma briga necesária a ser comprada com sindicatos e afins.) É preciso criar um círculo virtuoso onde empregadores concluam que só conseguirão ser competitivos se diminuírem o uso de mão de obra, invistam em tecnologia e a mão de obra dispensada, suficientemente qualificada, consiga outros empregos, criados por novos investimentos visando um mercado consumidor maior e com mais poder aquisitivo. Mais fácil falar do que fazer, evidentemente, mas boa parte das condições de uma "revolução industrial contemporânea" estão dadas pela transição demográfica descrita acima. Essas condições precisam ser aproveitadas antes que prevaleça a história do "país que envelheceu antes de ficar rico."

A grande conquista dos governos no PT (muito ajudados por um grande choque de termos de troca entre 2002 e 2012, é sempre bom reconhecer), e que, na minha visão, é totalmente coerente com a história do partido, foi o aumento consistente dos salários reais. Como isso ocorreu com produtividade em queda, dependeu de uma grande redistribuição que está culminando, acredito, em taxas de lucro das empresas que não justificam novos investimentos (além da inflação persistentemente alta.) Se isso está correto, a política econômica dos próximos anos deve ser fortemente voltada para o lado da oferta, assumindo que, corretamente, as conquistas recentes em salários não podem retroceder e serão naturalmente defendidas pelos enormes grupos de interesse que se criaram em torno delas (a obviedade aparente do suicídio eleitoral que seria defender a desindexação do salário mínimo é um bom indicador da força dessa defesa.) Acho que, dentro da conjuntura, há pouco espaço para mais "trabalhismo" e muito para um "desenvolvimentismo" que tem pouco a ver com o significado que tem se dado à palavra. Criá-lo vai requerer muita criatividade e esforço de economistas e políticos que, por enquanto, ainda precisam gastar tempo e energia discutindo e pensando em questões como controle da inflação e disciplina fiscal.

Outros links:
—O paper de Voth e Voigtländer;
—Um resumo da pesquisa de Robert C. Allen;
—Se não conseguirem acessar o Temin no NBER, uma alternativa.

Economia brasileira: companheiros neoliberais provocam desemprego,inflaçao e juros altos, baixo crescimento, cortam subsidios, o diabo...

Mais de 700 economistas, antirecessivos, estão justamente alertando o governo para não fazer essas políticas de austeridade, de cortes de investimentos, não aumentar os juros, nem cortar programas de estímulo, mas não adianta: o governo é neoliberal e vai fazer todas essas maldades mesmo contra a opinião de economistas amigos, que todos apoiaram o governo, ficaram contentes que a oposição tenha sido derrotada, e estavam esperando um outro cenário, que não esse do neoliberalismo aplicado. Esse governo é traidor, eles devem estar pensando.
Paulo Roberto de Almeida

Até agosto, 31,5 mil vagas já foram cortadas no estado, o pior resultado em 5 anos
por João Sorima Neto
O Globo, 26/09/2014


SÃO PAULO - O próximo ano será marcado por “uma crise brava”, com novas interrupções na produção industrial e desemprego elevado, avalia o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Benjamin Steinbruch. Para o empresário, o assunto estará na pauta dos candidatos à Presidência no segundo turno. A entidade estima que, apenas neste ano, cem mil trabalhadores deverão ser dispensados na indústria paulista. Até agosto, 31,5 mil vagas já tinham sido cortadas no estado de São Paulo, no pior resultado dos últimos cinco anos.
Que cenário esperar em 2015 para a indústria, que já está patinando este ano? Depende de quem for eleito?
Acredito que 2015 não será um ano fácil. Vamos viver uma crise brava. Já estamos prestes a ver demissões em massa e mais paradas na produção, que já começaram. Não só na indústria, mas em todos os setores. É um período dos mais difíceis que vivi em termos profissionais. Mas acredito que 2015 também será uma oportunidade de ajustar o país para voltar à normalidade.
O que mais prejudica a indústria?
Precisamos de uma condição compatível com a que existe no mundo. O câmbio, por exemplo, tem que flutuar. Hoje, o real ainda está muito valorizado. Precisamos de um dólar a R$ 2,50 ou R$ 2,52 para que haja uma perspectiva de exportação e, ao mesmo tempo, se dificulte um pouco a importação. Se você começa a alterar artificialmente esses quesitos (o câmbio), você impede o desempenho normal da indústria e dos outros setores produtivos. Além disso, os juros altos asfixiaram a economia.
Mas o governo elevou os juros e vinha tentando manter o o câmbio em torno de R$ 2,25 para evitar mais inflação, cenário que também prejudica a indústria, não?
A preocupação do governo sempre foi a inflação, mas por causa da reeleição. Agora, essa preocupação é legítima. Mas acho que o desemprego é um risco maior ainda. Hoje, apesar de o governo estar segurando a inflação, o risco de demissões já está presente em todas as empresas. Além disso, os juros absurdos para o consumidor também trouxeram falta de confiança das pessoas para consumir, aliado ao medo do desemprego. Houve um desmonte do mercado interno, que sustentou o país nos últimos 12 anos.

O modelo de crescimento da economia via consumo se esgotou?
Eu acho que não. Acho que se tivéssemos uma gestão forte e o governo tivesse gastado menos poderia manter esse modelo de crescimento pelo consumo.
O que é necessário para retomar o investimento privado?
Se as reformas forem feitas no ano que vem, acredito que será preciso pelo menos dois anos para resgatar a confiança dos empresários e os investimentos voltarem. Há uma crise de confiança do capital privado com a falta de previsibilidade.
O intervencionismo do governo na economia atrapalhou a indústria?
Isso causou um mal-estar geral. Na nossa visão, o governo não tem que ser gestor. Tem que legislar e cobrar. A indústria, o sistema financeiro e o setor de serviços são maduros o suficiente para tocar as coisas.
É viável ter como interlocutor um ministro da Fazenda demissionário?
Publicidade

Até sair, o ministro estará lutando para fazer o melhor pelo país. Nós também. Ele não tem interesse em sair e deixar o país numa situação perigosa.
Como analisar o uso do Fundo Soberano para fechar as contas?
Acho que isso é direito do governo. Mas mostra que a gente continua usando de artifícios para atingir os números desejados. Era melhor partir para uma redução do déficit e do gasto para buscar o equilíbrio. Se a gente arrecada menos tem que gastar menos. As coisas têm que ser bem administradas e de forma transparente, o que não está ocorrendo hoje.
==========
ECONOMIA
Segundo o documento, assinado por mais de 700 economistas, mercado está pressionando o governo a adotar austeridade fiscal e monetária, o que foi chamado de 'pragmatismo sob coação'
07.11.2014 | 18:15
·       inShare
·        
·        
·       Description: https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEgGgd_o2hnLrl2EaU17d6xp-f3UPOnUagwVa4pDcAGTiQNlLroSZExGeEbBjuWYPwG9DPJK6gN6E67V7VQDwO1aT5HBMYhYCRh_aFU1FaQ_kEx3LQa9FpQ2yTtSmPcpXHupFvL8CAgTE7Y1=
·        
Fernando Ladeira - O Estado de S. Paulo
Description: elluzzoLuiz Gonzaga Belluzzo é um dos economistas que assina o documento

Um grupo de mais de 700 economistas assinou um manifesto online criticando a ideia de que a austeridade fiscal e monetária seja o único meio para resolver os problemas brasileiros. "Esperamos contribuir para que os meios de comunicação não sejam o veículo da campanha pela austeridade sob coação e estejam, ao contrário, abertos para o pluralismo do debate econômico em nossa democracia", diz o texto. 
Sem citar nomes, o documento afirma que um dos vocalizadores do mantra pela austeridade chegou a afirmar que um segundo mandato de Dilma Rousseff só seria levado a caminhar em direção à austeridade sob pressão substancial do mercado, o que foi chamado de "pragmatismo sob coação".
O manifesto, que conta com a assinatura de nomes como Maria da Conceição Tavares, Luiz Gonzaga Belluzzo, Marcio Pochmann e João Sicsú, argumenta que durante a campanha presidencial foram colocados em votação dois projetos para o País, e o vencedor foi o projeto favorável ao desenvolvimento econômico com redistribuição de renda e inclusão social. O documento conta, até o fim da tarde desta sexta-feira, com 774 assinaturas.
Os economistas afirmaram que, na contramão deste projeto, desde o primeiro dia após a reeleição de Dilma "a difusão de ideias deu a impressão de que existe um pensamento único no diagnóstico e nas propostas para os graves problemas da sociedade e da economia brasileira".
A avaliação de representantes do mercado financeiro de que a desaceleração da economia teria que ser combatida com a credibilidade proveniente de uma austeridade fiscal e monetária, afirma o manifesto, "é inócuo para retomar o crescimento e para combater a inflação em uma economia que sofre a ameaça de recessão prolongada e não a expectativa de sobreaquecimento". Para eles, se essa proposta for adotada isso irá deprimir o consumo das famílias e os investimentos privados, levando a um círculo vicioso de desaceleração ou queda na arrecadação tributária, baixo crescimento econômico e aumento na carga da dívida pública líquida na renda nacional. 
O manifesto acrescenta que é fundamental a preservação da estabilidade da moeda e acrescenta que os signatários do documento também são favoráveis "à máxima eficiência e ao mínimo desperdício no trato de recursos tributários". "Rejeitamos, porém, o discurso dos porta-vozes do mercado financeiro que chama de 'inflacionário' o gasto social e o investimento público em qualquer fase do ciclo econômico." 
O texto ainda critica o argumento de que as desonerações aumentam os gastos públicos e a inflação. Os economistas também avaliam que a inflação manteve-se dentro do limite da meta inflacionária no governo Dilma Rousseff, "a despeito de notáveis choques de custos como a correção cambial, o encarecimento da energia elétrica e a inflação de commodities no mercado internacional".
Para estes economistas, "é essencial manter taxas de juros reais em níveis baixos e anunciar publicamente um regime fiscal comprometido com a retomada do crescimento, adiando iniciativas contracionistas, se necessárias, para quando voltar a crescer". Na semana passada, porém, em uma decisão surpreendente, o Copom decidiu elevar a taxa básica de juros Selic para 11,25% ao ano.
Eles argumentam que a proporção da dívida pública líquida na renda nacional não é preocupante, sob qualquer comparação internacional. A possibilidade de recessão e a carência de bens públicas e infraestrutura social foram citados no manifesto como questões que preocupam os economistas. 
Os países desenvolvidos que adotaram um programa de austeridade registraram um agravamento da recessão, do desemprego, da desigualdade e da situação fiscal, complementa o texto. 

sábado, 8 de novembro de 2014

Politica externa irritada. Politica externa? So irritacao... - Protesto no Itamaraty

Da coluna desse fofoqueiro irrecuperável, mas bem informado, que se chama Claudio Humberto (8/11/2014):
MINISTRO ADVERTE SERVIDOR: DILMA PODE SE IRRITAR…

MINISTRO FIGUEIREDO ADVERTE FUNCIONÁRIOS DO ITAMARATY CONTRA PROTESTO MARCADO: “DILMA PODE SE IRRITAR”

 8 de novembro de 2014 

Em reunião a portas fechadas com a direção do sindicato dos servidores (SindItamaraty), nesta sexta-feira, o ministro Luiz Alberto Figueiredo (Relações Exteriores) advertiu para o risco de “irritar Dilma” o protesto previsto para a próxima semana, contra o atraso na liberação do auxílio-residência para aqueles que trabalham no exterior. Segundo ele, uma vez irritada, Dilma pode cortar de vez o auxílio.

O chanceler Luiz Alberto Figueiredo tem motivos para preocupação: o auxílio-residência, de fato, não está previsto em lei.

O protesto será na segunda (10), enquanto Dilma vai almoçar com 32 embaixadores que esperam há meses para apresentar credenciais.

O chanceler usou a estratégia do medo contra jovens diplomatas que criticaram o engessamento da carreira e o sucateamento do Itamaraty. 

Leia na Coluna Cláudio Humberto.


Addendum: trata-se de novo critério para aferir a qualidade da política externa e a gestão no Itamaraty: o grau de irritabilidade presidencial. Só um pouquinho pode, muito não...

Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...