terça-feira, 12 de maio de 2015

Intervencionismo economico: o fascismo nosso de cada dia - Antony P. Mueller

As raízes do estado intervencionista moderno

Ordem Livre, 11/05/2015

Antony_p._mueller_2014

Antony P. Mueller é doutor em economia pela Universidade de Erlangen-Nuremberg, na Alemanha, e atualmente atua como professor na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Ele é o fundador do Continental Economics Institute e mantém os blogs Economia Nova, Cash and Currencies e Sociologia econômica.

Desde o fim do padrão-ouro, que foi abandonado com o início da Primeira Guerra Mundial, a posição intervencionista teve a mão superior na política econômica. A tese que a economia e a sociedade precisem de correção tem sido a crença dominante durante o século passado até aos nossos tempos. Por sua própria natureza, o estado moderno de bem-estar e de guerra é um estado intervencionista. Como não consegue seu objetivo, e cada intervenção requer uma nova intervenção, este tipo de estado é expansionista e autodestrutivo no mesmo tempo.
Economia de guerra
O início da Primeira Guerra Mundial marcou o início da economia de guerra. Os governos começaram a intervir cada vez mais na economia e, antes que o comunismo soviético fosse lançado em 1917, os países beligerantes já tinham instalado sistemas de comunismo de guerra. De fato, para os revolucionários russos, a economia de guerra representou o ideal de uma economia planificada e um exemplo que deveria ser seguido também em tempos de paz.
O caos intervencionista na economia global continuou depois da Primeira Guerra Mundial ter terminado. O comunismo não gerou bem-estar geral como prometido, mas a coletivização na União Soviética provocou pobreza e fome em massa em dimensões de genocídio. Depois as destruições da guerra, a Alemanha foi devastada mais uma vez pela hiperinflação e as reparações. O grande império austro-húngaro tornou-se uma colcha de retalhos de países. Já nos anos 1920, a economia do Reino Unido se encontrou em estagnação antes mesmo de ter sido atingida pela Grande Depressão dos anos 30. Em muitos países as relações políticas domésticas foram marcadas pela desconfiança entre as classes sociais e guerras civis. Agressões profundas dominavam as relações internacionais. Dos combatentes, somente os Estados Unidos haviam atingido o seu objetivo de guerra. Com os rivais europeus desintegrados, os Estados Unidos tinham o caminho aberto para se tornar a grande superpotência do século 20 e além.
O surgimento da classe burocrática e militar
Já antes da Primeira Guerra Mundial as ideias intervencionistas começavam a florescer na classe intelectual. O imenso progresso econômico que chegou com a revolução industrial inspirou a fantasia dos intelectuais e incendeu os desejos das massas de criar um estado de bem-estar que não era de vir da economia de mercado e da laboriosidade e criatividade dos empresários e dos trabalhadores, mas do estado com seus políticos e burocratas. Muitos intelectuais escolheram o lado do estado porque foi o estado quem lhes ofereceu emprego. O estado moderno intervencionista se tornou operacional baseado na burocracia e na educação pública. Com a expansão da atividade estatal veio a criação de posições poderosas para os burocratas legalmente treinados como funcionários públicos. Com o estado moderno surgiu a existência da burocracia ao lado da antiga classe militar.
As raízes fascistas do estado moderno
Os pronunciamentos iniciais do fascismo refletem a sua ligação com o socialismo revolucionário e a sua pretensão de proporcionar bem-estar através de uma nova organização da sociedade e da economia. Controlar a economia, colocando-a sob a autoridade do estado enquanto no mesmo deixando a propriedade privada formalmente intacta é a característica específica do capitalismo de estado fascista.
Manifesto Fascista, proclamado em 1919 por Alceste De Abris e Filippo Tommaso Marienetti, exigia o sufrágio universal e a representação proporcional do eleitorado. Os autores chamaram para o estabelecimento de um sistema corporativista de "conselhos nacionais" formadas por especialistas que deveriam ser eleitos a partir das suas organizações profissionais. O Manifesto pedia uma jornada de oito horas de trabalho e um salário mínimo. Exigia também a representação dos trabalhadores na gestão industrial e a igualdade dos representantes dos sindicatos industriais com executivos empresariais e funcionários públicos. Os autores do Manifesto Fascista exigiam uma tributação progressiva, seguro de invalidez e aposentadoria antecipada.

Em 1922, Benito Mussolini chegou ao poder na Itália e começou a realizar a maior parte do programa fascista. Hitler tomou o poder ditatorial na Alemanha em 1933 e instalou a radicalização da agenda fascista em forma do nacional-socialismo. Ao início dos anos 1930, o intervencionismo fascista junto com o planejamento central do comunismo se tornou um movimento global. No mundo em desenvolvimento, o presidente brasileiro Getúlio Vargas introduziu uma disposição vasta das leis trabalhistas de proteção, que lhe valeu o apoio dos sindicatos e da classe trabalhadora, e organizou o estado corporativista. Vargas criou a versão brasileira do fascismo como "integralismo" através da instalação do "Estado Novo". O legado de Vargas vive até hoje no Brasil. Depois várias tentativas nas décadas anteriores, foi a vez de Juan Domingo Perón estabelecer inteiramente um estado intervencionista na Argentina nos anos 50, e criar um sistema que continua bloquear o progresso econômico deste país até hoje, em um labirinto apertado de regulamentações e intervenções.

Intervencionismo macroeconômico
 Enquanto a depressão continuava nos Estados Unidos, o desemprego na Alemanha foi reduzido à metade já em 1935 e a economia aproximou-se do pleno emprego em 1936 -- o mesmo ano em que John Maynard Keynes publicou sua teoria sobre como superar depressões. No prefácio da edição alemã da “Teoria Geral”, Keynes elogiou o sucesso da ditadura em combater o desemprego com obras públicas.
 Os programas de governo para estimular a economia marcaram o regime de Hitler. Na verdade, ele apenas tinha que tirar os planos para obras públicas das gavetas da burocracia dos governos anteriores. Embora estes projetos tenham sido concebidos anos antes, não foram realizados por temor de uma nova hiperinflação. O regime ditatorial de Hitler conseguiu realizar as obras públicas por ter imposto um controle ditatorial sobre preços e salários. Desta forma as consequências inflacionárias e as profundas distorções microeconômicas desta política permaneceram escondidas e o mito do sucesso do combate ao desemprego com obras públicas nasceu.
 Hoje em dia, o estado intervencionista está presente em todos os lugares da sociedade, a compor um novo tipo de totalitarismo. Tornou-se comum esperar emprego, saúde, educação, segurança interna e externa e muito mais do estado. Mas esta expansão do intervencionismo acontece por causa da lógica perversa de que quanto maior o fracasso de uma medida intervencionista, maior o estímulo para se ampliar o intervencionismo. Nada se resolve com a nova medida, mas a presença da política cresce.
 Conclusão
 O nazismo e o comunismo desaparecerem pela sua própria natureza autodestrutiva. O estado intervencionista de hoje opera de maneira mais sutil, mas o estado intervencionista moderno nunca perdeu sua marca de nascença obtida na Primeira Guerra Mundial, com as características essenciais adquiridas no período da instalação do comunismo e do fascismo.
 Em sua versão moderna o estado não é muito menos totalitário do que era em suas raízes históricas. Em vez de vir de um único partido, o totalitarismo moderno se expressa intelectualmente em sua universalidade reclamada pelo politicamente correto e economicamente pelo sua onipresença.
Fonte: Instituto Ordem Livre

Reino Unido: uma eleicao que nao resolve os problemas fundamentais -Theodore Dalrymple

Eye on the News

THEODORE DALRYMPLE
Britain in Crisis
David Cameron’s troubles are just beginning.
The City Journal, May 11, 2015

PHOTO BY NUMBER 10
On Election Day, May 7, I went to see my doctor, a Polish immigrant. Because he was a legal resident he had the right to vote, and he lost no time (in a very un-English way) in telling me that he was voting Tory. I turned to his nursing assistant, who was also in the room.
“You’d better vote Tory too,” I said, “or you’ll be out of a job.”
“I’m voting Conservative,” she said.
“The Tories are the Conservatives,” said the doctor.
“I never knew that,” she said. “I always wondered who they were.”
I was immediately reminded of what Churchill once said: the best argument against democracy is a five-minute conversation with the average voter. How, I wondered, could someone born and bred in this country reach her early twenties and not know that the Tories were the Conservatives? How had she managed not to notice it? But then she said something that redeemed her a little: “I want to keep what we have, you never know with change, do you?”
In any case, she was not alone in her ignorance. It turned out that the pollsters, with nothing else to do but prognosticate, were completely wrong. They had predicted that Labour and the Conservatives would be neck and neck, but the Conservatives polled 6 percent more votes than Labour and won an unexpectedly outright majority in the House of Commons.
Why were the polls so wrong? One possible explanation is that people are reluctant to admit to third parties that they are going to vote Conservative, as if to do so were to admit a secret vice or to being actuated only by the most selfish motives. In other words, their reluctance is an indication of how far the Left has won the battle for the hearts and minds of at least a large section of the population, who do not believe that there can be any respectable arguments for conservatism. Not, of course, that the British Conservatives are genuinely conservative; they are merely less progressive than their opponents. The very term progressive causes a bias against conservatives, for who can be against progress? That real progress occurs largely by non-political means is not an idea that can be expressed in a slogan, while supposed progress by political means can easily be reduced to slogans. Moreover, since competitive politics is about the righting of wrongs and the addressing of complaint, any suggestion that some things should remain the same is easily portrayed as unfeeling complacency by the privileged. 
In fact, the reelection of David Cameron, which in the past would have been a manifestation of stability, solves nothing of the crisis of political legitimacy in Britain (constitutional legitimacy is something else). With voter turnout of 66 percent and the British party system Balkanized, Cameron won reelection with the suffrage of 24.7 percent of the adult population. Even more startling was the fact that a vote for the Scottish Nationalists weighed nearly 150 times more heavily as far as representation in Parliament was concerned as did a vote for UKIP. (It took 25,974 votes to elect an SNP Member of Parliament, but 3,881,129 to elect a UKIP one.) A vote for the SNP weighed about 25 times more than a vote for the Greens. The SNP won 50 percent of the votes in Scotland but 95 percent of the seats. Clearly, we now live in an unrepresentative democracy. 
For the SNP, it was a heads-I-win-tails-you-lose election. If Labour had won more seats than the Conservatives, but not an absolute majority (which was always very unlikely), the SNP would have been able to dictate policy or at least influence it strongly; if the Conservatives won, the SNP could claim that the U.K. government had no mandate or legitimacy in Scotland, and use the vote to emphasize the difference between England and Scotland, and perhaps as a further grievance.
Cameron’s problems are just beginning, and his triumph will be short-lived. He has promised a referendum on membership of the European Union, a promise that would be difficult even for Houdini to escape; and if it goes against membership, the Scots, who are Europhile but anti-English, might declare their independence and try to remain in the European Union (though it is by no means a foregone conclusion that the Union would have them). Nor would independence be without potential for creating deep divisions, bitterness, and conflict within Scotland itself, though the leadership of the SNP speaks the language of unanimity. The potential for chaos both north and south of the border is enormous. 
One of Britain’s prevailing assets has been its political stability. But that stability has evaporated, probably for good—with potentially disastrous results for its financial sector, upon which it so strongly (though foolishly) depends. Terrible political problems have been conjured out of nothing except the ambition of politicians, and the country’s deeper problems—its low productivity, its abysmal cultural and educational levels—remain not only unanswered, but unremarked. 

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Parabens companheiros: conseguiram criar a maior recessao em 25 anos - Epoca

Obra de Lula e Dilma: a maior recessão em 25 anos.
Segundo a revista Época, este é o resultado da inépcia de Lula e Dilma na condução da economia. De, fato, a conta chegou - e vai raspar os bolsos dos cidadãos para pagar a conta da roubalheira e da incompetência:

Os sinais de aprofundamento da crise econômica no país se multiplicam. Há duas semanas, o coquetel de más notícias foi especialmente indigesto para o governo, o PT e seus aliados. Depois de afetar as empresas e o governo, que gastou mais do que podia e agora tem de cortar gastos para equilibrar suas contas, a crise chegou ao emprego. Esse era o último pilar da gestão Dilma Roussef que resistia à desaceleração da economia. Segundo dados do IBGE, o desemprego voltou a subir em março, pelo quarto mês consecutivo, e atingiu o maior nível desde maio de 2011. Além do aumento do desemprego, a renda dos brasileiros teve em março a maior queda mensal desde 2003, quando Lula assumiu a Presidência. 

Na quarta-feira, dia 29, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) anunciou uma nova alta de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros. Elevou-a para 13,25% ao ano, o maior nível desde 2008, no auge da crise global. Foi a quinta alta seguida nos juros desde setembro do ano passado. Diante da inflação de 8,2% ao ano, bem acima da meta, o Copom teve de recorrer mais uma vez ao remédio amargo dos juros, para tentar conter a escalada de preços. Ainda na quarta-feira, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá fechar 2015 com uma retração de 1%, a maior recessão em mais de duas décadas. A previsão do FMI reforça a percepção de que o Brasil está enfrentando uma estagflação, uma combinação perversa de estagnação econômica com inflação em alta.

Infelizmente, o atual quadro de desalento é o preço que os brasileiros terão de pagar pelos erros cometidos na política econômica por Dilma I e também por Lula, no final do segundo mandato. Ao contrário do que Dilma, Lula, o PT e seus aliados ainda insistem em dizer, a crise por que passa o país não se deve apenas a fatores externos. Suas raízes têm a ver essencialmente com  inépcia administrativa. A lista de equívocos, que só passaram a ser corrigidos depois da nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, é longa: a gastança irresponsável de recursos públicos, as pedaladas fiscais, destinadas a multiplicar os recursos à disposição do governo sem lastro no orçamento, a concessão de benefícios seletivos a certos setores e empresas, o aparelhamento do Estado. Que o custo a ser pago pelos brasileiros pelo menos sirva como uma lição para que esses erros não venham a se repetir.

domingo, 10 de maio de 2015

Ah, como era duro chegar na minha legacao: memorias diplomaticas - CHDD


Ah, como era duro chegar no meu primeiro posto...

Desde quando comecei a pesquisar nos arquivos históricos do Itamaraty, tendo antes começado pelos velhos e excelentes relatórios dos Negócios Estrangeiros do Império, costumava ler, e anotar, com enorme prazer trechos desses despachos e ofícios de que se valia a nossa chancelaria para manter um serviço diplomático de alta qualidade, a despeito dos meios exíguos com que sempre contou em toda a sua história. Atualmente, quase não precisamos mais buscar nos maços matérias para esse tipo de reflexão: elas chegam até nós, literalmente, graças ao trabalho dedicado do Arquivo Histórico e Diplomático, ou  mais exatamente do Centro de História e Documentação Diplomática, que vem editando material de alta qualidade e divulgando esse material editado nos Cadernos, regularmente publicados.
Vejam, por exemplo, este despacho de instruções ao encarregado de negócios em uma primeira missão brasileira numa das repúblicas americanas, durante o período regencial:

O regente em nome do Imperador, confiando no seu zelo, dignou-se nomeá-lo encarregado de negócios do Brasil junto a esse governo, como verá da competente carta de crença e da de chancelaria, que o regente escreve ao presidente daquela república.
 O governo brasileiro deseja conservar perfeitas relações de amizade com os Estados conterrâneos e é para as estreitar ainda mais que há nomeado agentes diplomáticos que neles residam. Cumprirá, pois, que, apenas V.Mce. chegar à capital e depois de ter feito a entrega das cartas sobreditas, procure por todos os meios adequados de capacitar esse governo das puras intenções dos brasileiros, fazendo desvanecer quaisquer impressões sinistras – que ocorrências imprevistas ou calúnias de mal intencionados tenham, por acaso, originado – e pedindo-me logo informações quando fatos sobrevenham, de que não tenha conhecimento.
Convirá, indispensavelmente, que V.Mce., por todos os meios, indague dos sucessos políticos que possam, direta ou indiretamente, interessar o Brasil e que hajam lugar em qualquer das repúblicas americanas... Na correspondência com esta Secretaria de Estado, me participará tudo circunstanciadamente e, bem assim, aos nossos agentes [nas demais presidentes...]
O Governo Imperial está informado do grande consumo que esse Estado já faz dos nossos gêneros coloniais e este ramo de comércio – que convém ser animado por V.Me., quanto estiver a seu alcance – há toda probabilidade que, para o futuro, se torne mui considerável, porque nenhuma nação que os possui está em circunstâncias de os fornecer a [esse país], com mais brevidade e por preço mais cômodo [do que o Brasil]. Estas razões não podem ser desconhecidas naquele país e, por isso, é de toda a probabilidade que o governo proponha a V.Mce. a confecção de um tratado de comércio, a que o Governo Imperial se não oporá... Não deverá, porém, V.Mce. tomar a iniciativa de semelhante negociação; mas a acolherá, quando lhe seja feita, sem repugnância, referindo-se ao Governo Imperial para pedir instruções, insinuando logo que, achando-nos ligados a ajustes com algumas nações europeias, os quais devem durar até o ano de 1842 – os de mais longo prazo –, não poderão conceder-se [a esse país] favores especiais antes daquela época, porque as outras nações os gozariam, seja qual for a posição especial em que nos achemos para com as nações americanas e o interesse comercial que disso derivasse. (...)
E como por esta repartição se oficiará seguidamente a V.Me., em tempo adequado se lhe marcará o que convier acrescentar a estas instruções, e a concluirei asseverando a V.Me. que espero ter muitas ocasiões de poder louvar os seus bons serviços e que, pela cópia do decreto respectivo, vai V.Me vencendo o ordenado anual de 2:400$000 réis.

Paço, em 22 de julho de 1836
Antonio Paulino Limpo de Abreu,
Ministro dos Negócios Estrangeiros
 (AHI 317/04/11; in: Cadernos do CHDD, 13/24, 2014, p. 17-19)

Dois contos e quatrocentos mil réis, foi quanto recebeu o encarregado de negócios, junto com as instruções para trasladar-se a uma das repúblicas americanas, nos primórdios dos nossos serviços na região. Parece que a quantia lhe pareceu pouca, pois ele escreveu logo em seguida ao ministro para dizer-lhe que:

Nomeado pelo governo de S.M.I. encarregado de negócios... tendo de me retirar para o lugar de meu destino e fazer prolongada viagem por terra (extensão de quatrocentas léguas para mais) com todas as dificuldades de péssimas estradas, em que se não acha nem mesmo o necessário para as primeiras exigências da vida; tendo de levar em minha companhia minha esposa e meus três filhos em tenra idade, obrigado portanto a carregar comigo tudo quanto me for preciso mesmo os mais pequenos arranjos; tenho reconhecido que nem que empregue a maior economia, é de absoluta impossibilidade dar conta dessa viagem com a exígua ajuda de custo que se me concede; atendendo ainda a mesquinhez do ordenado que vou perceber. Por esses motivos venho perante V.Exa. pedir que se digne aumentar-me essa ajuda de custo, elevando-a à quantia [de] dois contos e quatrocentos mil réis, sem a qual não se pode efetuar tão longínqua viagem.
(Ofício, 26/07/1836; AHI 230/03/15; in: Cadernos do CHDD, 13/24, 2014, p. 20)

Aparentemente, ele recebeu o que pedia, pois seguiu sua longa viagem em direção ao seu destino. Não precisou fazer greve...

Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 10 de maio de 2015.

Itamaraty em greve: inedito nos anais da Casa, mais uma realizacaocompanheira - SindItamaraty

Demorou, mas vai acontecer: a primeira greve organizada, preparada, anunciada, negociada e feita perfeitamente dentro da ordem das coisas. Meus parabéns, antes de mais nada, aos dirigentes do SindItamaraty pela boa condução do processo.
Os funcionários do Serviço Exterior, em face da deterioração sensível, evidente, notória das condições de trabalho e de remuneração, não encontraram nenhum outro recurso, senão a greve, para manifestar sua inconformidade com a situação atual. A direção do Itamaraty, ou seja, a chefia da Casa, não é em nada responsável por essa lamentável situação, herdada, descambada em cima de todos, por uma gestão partidária absolutamente catastrófica e inepta, onde a incompetência disputa com a corrupção o primeiro lugar das culpas pela decadência material e moral do país. A direção se esforça para conseguir recursos, mas eles simplesmente não existem. Seria preciso tirar de outros setores. E o governo, que deveria ser reduzido à metade de um ministério soviético, insiste em aumentar impostos e reduzir benefícios e transferências.
A greve não vai resolver nenhum problema, nem encaminhar soluções. Mas ela sinaliza a insatisfação de todos com um governo perdulário e inepto. Já é alguma coisa. 
A solução, sabemos todos, está na substituição dos ineptos e corruptos por estadistas capazes de corrigir todas as deformações acumuladas ao longo dos últimos treze anos. Vai ser difícil e vai ser ainda mais penoso. Mas é o único caminho que restou ao Brasil.
Pelo momento, meus votos de boa greve e que ela sirva para chamar a atenção de quem deve responder pelo estrago. Mas será que temos responsáveis pelo caos? Parece que tudo foi terceirizado no país: a economia, a política, o Judiciário, quem sabe até a política externa?
Paulo Roberto de Almeida 

Nota do SindItamaraty:
10/05/2015

Prezado (a) Colega, 
A respeito da greve votada em última assembléia, a Diretoria do SINDITAMARATY esclarece que segue.
O Ponto Paralelo é a única forma do Servidor provar que está exercendo um direito e não faltando injustificadamente ao serviço
A função do Ponto Paralelo é registrar, diariamente, a presença do Servidor na GREVE e demonstrar que ele não está faltando ao serviço, mas, sim, exercendo um direito que lhe é assegurado na Constituição da República: a GREVE.
Ele é INDISPENSÁVEL para afastar a hipótese da Justiça atribuir, à não assinatura diária do ponto oficial, abandono de serviço ou falta injustificada. Isto porque, se o Servidor não assinou o ponto oficial, não tem como o juiz saber se a falta se deu por adesão à greve ou por outro motivo. Todos já estão cientes de que, durante a greve, é possível que a Administração do MRE (até numa tentativa de enfraquecer o movimento), efetive o corte do ponto. Caso isto ocorra, caberá ao SINDITAMARATY tentar negociar junto aos MPOG a possibilidade de compensação dos dias parados (mediante reposição dos salários eventualmente descontados) e, se não alcançar êxito, resta à entidade tentar reverter tal situação por via Judicial. Entretanto, sem o envio desse registro (Ponto Paralelo), ANTES DA DATA DE FECHAMENTO DO PONTO OFICIAL PELO MRE, tais medidas, por parte do Sindicato, ficam inviabilizadas.
Diante disto, ALERTAMOS: os Servidores grevistas precisam enviar o ponto paralelo ao SINDITAMARATY (folhas de ponto paralelo desde o início da greve a começar em 12/05), se possível, diariamente. É importante PEDIR A CONFIRMAÇÃO DO RECEBIMENTO, mesmo por email. Nos dias que o Ponto Paralelo da greve for assinado, NÃO assine o ponto oficial do MRE, pois isso pode lhe provocar sérios problemas. Além de assinar diariamente o Ponto Paralelo e enviá-lo ao SINDITAMARATY, conforme acima solicitado, é importante que os Servidores solicitem, à chefia imediata (responsável pelo acompanhamento do ponto oficial do MRE), que seja registrado, na folha de frequência e/ou no relatório de anomalias, a expressão: “exercício do direito de greve” (em relação aos dias nos quais o Servidor participou da greve).
Esclarecemos ainda que o SINDITAMARATY ainda não possui um fundo de greve para arcar com o pagamento de pontos descontados. Tampouco cobra imposto sindical que tem como um dos fins precípuos arcar com esta despesa.
A listagem solicitada pela Secretaria de Estado aos postos ou às Chefias no Brasil dos casos de adesão à greve, NÃO SERVE para os fins acima especificados. Para tais finalidades (de defesa dos Servidores), o envio do Ponto Paralelo deve ser direcionado ao SINDITAMARATY (jurídico@sinditamaraty.org.br  com cópia para mobilizacao@sinditamaraty.org.br e contato@sinditamaraty.org.br).
A Diretoria Executiva do SINDITAMARATY orienta a seus afiliados e demais colegas a observarem as determinações da coordenação de mobilização que estarão sendo publicadas no site do sindicato.
A fim de garantir o sucesso do movimento, recomendamos a leitura e, no seu posto, missão, representação, divisão, etc., as providências elencadas nos documentos disponibilizados no http://www.sinditamaraty.org.br/post.php?x=6119 . 
A Diretoria do SINDITAMARATY ainda instrui os servidores no exterior a providenciarem instrumento de procuração para se fazer representar nas votações das assembleias gerais extraordinárias que ocorrerão durante a greve.
Dada a urgência nas deliberações, eleitas por maioria simples, não haverá possibilidade de estender o tempo de votação para além da vigência da assembleia presencial.
Lembramos que dia 12/05/2015 às 11hs haverá nova AGE para avaliar e deliberar os rumos de nossa greve. Veja o edital no nosso site. Participe!
A Diretoria do SINDITAMARATY
Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores
+55 (061) 3024-8872 - Sede - SRTVS - Ed. Palácio da Imprensa - 2º andar
+55 (061) 2030-5050 - Escritório de Apoio ao Afiliado no MRE (Anexo I -1º subsolo)

Brava Gente Brasileira: a Marcha do Impeachment chega a Guara, SP -rumo a Brasilia (RA)

Integrantes do Movimento Brasil Livre se aproximam de Guará. Eles chegarão a Brasília (Foto: Kim Kataguiri)
Integrantes do Movimento Brasil Livre se aproximam de Guará. Eles chegarão a Brasília (Foto: Kim Kataguiri)
A moçada do Movimento Brasil Livre chegou a Guará, no interior de São Paulo, a 405 quilômetros da capital, rumo já à divisa com Minas. A cidade, fundada em 1902, com 21 mil habitantes, tem um lema: “Quo non ascendam?”. É uma adaptação da inscrição do brasão de Nicolas Fouquet, ministro de Luís XIV, que tinha a imagem de um esquilo. Significa: “Até onde não subirá?”. Guará adaptou e pôs o verbo na primeira pessoa: “Até onde não subirei?”. E se toma, então, em sentido mais geral, como sinônimo de determinação: “Aonde não chegarei?”.
Eis aí: o MBL chegará a Brasília para uma manifestação em favor do impeachment, marcada para o dia 27 de maio. Abaixo, o depoimento de um dos caminhantes.
Marcha Guará

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Economia brasileira: a conta da incompetencia chegou - Rolf Kuntz

O jornalista do Estadão resume os números e advertiu: os danos ainda não se manifestaram plenamente e o pior ainda está por vir.
Paulo Roberto de Almeida 

Vai piorar, disso ninguém duvida, e os brasileiros já vão mal antes de começar o arrocho para valer. O desemprego chegou a 7,9% no primeiro trimestre, embora a austeridade nas contas públicas, nesta altura, seja pouco mais que uma promessa. Com a indústria em crise e o empresariado à beira do pânico, a economia nacional entra muito fraca na fase do aperto. O pacote inicial do ajuste continua no Congresso, foi amaciado e deverá render menos que os R$ 18 bilhões estimados inicialmente. Os primeiros cortes no Orçamento ainda serão anunciados. O governo terá de agir com mão pesada, nos próximos meses, se quiser mesmo entregar o resultado fiscal prometido - um superávit primário de R$ 66,3 bilhões para pagar juros da dívida pública. A crise do Tesouro é evidente e por enquanto se manifesta em sinais esparsos, como a limitação de verba para o financiamento a estudantes. Mas a terapia pesada está só no horizonte e tentar adiá-la jogaria o País num buraco muito mais fundo.
Quem garante, nesta altura, a execução do programa de ajuste? Os negociadores inicialmente escalados pela presidente, seus petistas de confiança, foram afastados por indisfarçável inépcia para a função. Passaram a negociar em nome do governo o vice-presidente, Michel Temer, e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Acuada e incapaz de se defender, a presidente Dilma Rousseff cumpre a rotina funcional de forma limitada e discreta. Não demonstra disposição para enfrentar os panelaços nem para cobrar apoio de seu partido. Petistas votaram a favor da Medida Provisória 665, na Câmara, porque foram enquadrados pela liderança do PMDB. Os principais temores e esperanças do governo são hoje representados por figuras peemedebistas, especialmente pelos presidentes do Senado e da Câmara, Renan Calheiros e Eduardo Cunha, e pelo vice-presidente da República.
O aliado mais importante converteu-se na verdadeira base do governo, porque os líderes do PT se negaram, até agora, a suportar o custo político da reparação dos danos causados na última fase da gestão petista.
Enquanto o ministro da Fazenda busca apoio ao seu programa e o vice-presidente se consolida como a imagem política do Executivo, a economia afunda no atoleiro. A inflação oficial diminuiu de 1,32% em março para 0,71% em abril, mas o cenário dos preços continua aterrador. A inflação chegou a 4,56% em quatro meses, superando a meta oficial para todo o ano, 4,5%. A alta de preços acumulada em 12 meses chegou a 8,17%. Se a taxa mensal de 0,71% se repetir até dezembro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subirá 10,65% neste ano.
A combinação de inflação elevada com desemprego imporá aos trabalhadores um sacrifício desconhecido há vários anos. O desemprego continuará a aumentar se a indústria permanecer em crise. A produção industrial diminuiu 0,8% de fevereiro para março. No primeiro trimestre foi 5,9% menor que a de um ano antes. Na comparação de dois períodos consecutivos de 12 meses a queda foi de 4,7%.
Não haverá recuperação segura sem maiores investimentos, mas isso parece, por enquanto, fora da agenda. Nos 12 meses até março a produção de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, foi 13,8% inferior à dos 12 meses anteriores. De janeiro a abril a importação de bens de capital foi 12,3% menor que a dos meses correspondentes de 2014. A redução de compras de máquinas e equipamentos ocorre há mais de um ano. Não se tem cuidado da ampliação nem da modernização da capacidade produtiva. Isso significa perda de eficiência e de poder de competição.
Com os erros acumulados nos últimos quatro ou cinco anos, o governo montou um conjunto de bombas interligadas. A gastança, os benefícios fiscais mal concebidos e a estagnação econômica - prova do fracasso de todos os truques - arrasaram as contas públicas. O déficit fiscal, incluído o gasto com juros, chegou a 7,8% do produto interno bruto (PIB), um dos piores resultados do mundo. A gastança, o populismo e o crescente descompasso entre a demanda interna e a capacidade produtiva provocaram uma inflação muito acima dos níveis observados nos países desenvolvidos e emergentes. O enfraquecimento da indústria derrubou a exportação de produtos manufaturados. O País tornou-se ainda mais dependente das vendas de bens primários e, portanto, do crescimento da China, hoje sujeito a uma política de ajustes internos.
Com a inflação disparada, o Banco Central tem sido forçado a elevar os juros básicos da economia. A taxa passou a 13,25% no fim do mês passado e provavelmente voltará a subir nos próximos meses. Isso aumentará os custos financeiros de um Tesouro muito endividado e ao mesmo tempo dificultará a reativação dos negócios, especialmente da atividade industrial. Com os negócios em marcha mais lenta, a receita tributária será prejudicada e o ajuste das contas públicas ficará mais difícil. O quadro poderá melhorar nos próximos meses se o governo retomar as concessões de infraestrutura e de exploração do petróleo com eficiência maior que a exibida nos últimos anos. Mas isso também dependerá de maior realismo quanto às condições de negociação. Obviamente a Petrobrás será incapaz de manter os padrões de participação observados nos últimos anos. Nada disso ocorrerá, é claro, sem aumento da confiança dos investidores no governo e nas possibilidades da economia brasileira.
Na sua fantasia, a presidente Dilma Rousseff continua incapaz de admitir ou, talvez, até de entender os próprios erros. Falando a sindicalistas antes da festa de 1.º de Maio, ela atribuiu os males do País à crise internacional e a “anos contínuos de seca no Brasil”. Houve seca em algumas áreas, mas desde 2004-2005 a produção de grãos e oleaginosas só diminuiu na safra 2008-2009. Em todos esses anos o agronegócio foi de longe o setor mais dinâmico. A indústria foi muito mais vulnerável às bobagens de um dos governos mais incompetentes da História nacional.

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