Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
segunda-feira, 13 de junho de 2016
Thomas Skidmore: um gigante do brasilianismo academico - David V. Fleischer
Brazil
Focus – David Fleischer
Special Report June 12 2016
Prof. Thomas E. Skidmore was a
“giant” among American Brazilianists. He
was born in Troy, Ohio on July 22, 1932, but when he was six months old his
family moved to Cincinnati where he grew up and completed Wyoming High
School. In 1954, he completed his BA at
Denison University, majoring in Political Science and Philosophy. He received a Fulbright Scholarship to study
at Magdalen College, Oxford University where he completed a second BA in
Philosophy, Politics and Economics (1956) and his MA (1959). While at Oxford, Skidmore met his future
wife, Felicity – who was employed at The Urban Institute Press in Washington,
DC after they left Madison, Wisconsin in 1986.
He
received his Ph.D. from Harvard University (1960) with a dissertation on The
Chancellorship of Caprivi: A Constitutional Study. In the wake of the Cuban Revolution, Harvard
awarded Skidmore a three-year post-doctoral fellowship to study the Latin
American country of his choice and he chose Brazil. Tom quipped – “I am one of Castro’s
sons”. This three-year period ended with
the Brazilian military coup that toppled Pres. João Goulart on 31st
March 1964. The product of this research
was a seminal book on Brazil – Politics in Brazil (1930-64): An Experiment
in Democracy. (1967). The Brazilian translation was Brasil
- De Getúlio [Vargas] a Castelo [Branco]. This book became required reading for
students of Brazil and I read this work in my graduate courses at the
University of Florida (Latin American Politics and Brazilian Politics) in the
late 1960s.
In 1966,
Tom Skidmore joined the faculty at the University of Wisconsin in Madison with
a major role in its Latin American Studies Program and edited the Luso-Brazilian
Review. In the late 1960s and 1970s,
the university housed the Land Tenure Center that studied the problems of land
ownership in Latin America. Also, the
SDS-Students for a Democratic Society was born at UW-Madison.
I first
met Tom in June 1969 when I participated in a conference at the University of
Wisconsin. He graciously invited me to
his house and we chatted about Brazil for some two hours. I was on my way to Brazil to conduct field
research for my doctoral dissertation based at the DCP-UFMG (1969-1971). Since then, we met on many occasions and
maintained a long and productive relationship.
After 20
years in Madison, in 1986, he moved to Brown University in Providence, RI as
the Carlos Manuel de Céspedes Professor of Modern Latin American History and
Professor of Portuguese and Brazilian Studies.
He was Director of Brown’s Center for Latin American Studies until he
retired in 1999. After Fernando Henrique
Cardoso left the Presidency of Brazil in 2003, he spent five years at Brown as
a senior visiting scholar attached to the Watson Institute. In 1989, I visited Brown University at the
invitation of Tom Skidmore and prior to my presentation, he asked the audience
if I should speak in English or Portuguese.
Some 2 or 3 persons said “English” – so my talk was in that language.
Skidmore
became a very well known academic in Brazil.
In 1988, he published his “sequel” on Brazilian Politics – The
Politics of Military Rule in Brazil: 1964-1985 (Oxford University
Press) reviewing the 21-year military regime.
The Brazilian translation
was Brasil:
de Castelo a Tancredo, Paz e Terra.
Tom was a very active founding
member of LASA-Latin American Studies Assn. – a member of the LASA Executive
Board (1968-1973) and President (1972-1973).
He was also a founder of BRASA-Brazilian Studies Assn. in 1994. During
the 8th International BRASA Conference at Vanderbilt University in
October 2006, he received the BRASA Lifetime Contribution Award – complete with
a video of his life, his accomplishments, and contribution to Brazilian
Studies.
He was
very active in organizing academic opposition to Brazil’s military regime. In 1970 (anos de chumbo) along with three
other prominent brazilianists, he drafted an open letter condemning the
imprisonment of leading Marxist historian Caio Prado Junior. He also sponsored a LASA resolution
condemning the military regime’s systematic repression of Brazilian academics. As a result, the Brazilian government denied
him a research visa to teach a seminar at UNICAMP in the summer of 1970. In the late 1970s and early 1980s – the distensão/abertura
final stage of the military regime – Skidmore was granted visas to visit
Brazil. Several times he visited our
University of Brasília and lectured to students and faculty. In 1984, he participated in the Roda
Viva TV interview program where he criticized the military
government. As a result, when he reached
Salvador he was taken to the Federal Police HQ where officers read the
“Foreigners Law” to him and explained that any repetition of such comments
would result in his expulsion from Brazil.
These charges were later dropped after many academics, politicians and
journalists came to his defense.
Later Roda
Viva interviews can be viewed here:
While
visiting one of his three sons in Chicago, their car was hit broadside by
another car that ran a red light and Tom suffered serious injuries – broken
hip, leg and arm and spent several weeks in hospital. As a result, his mobility was impaired and he
was in a wheelchair and later used a cane.
Skidmore
also published other important books on Brazil and Latin America è Black into White: Race and Nationality in
Brazilian Thought (1870-1930), Oxford, 1974; Brazil: Five Centuries of Change,
Oxford, 1999; O Brasil Visto de Fora, Paz e Terra, 2000, Television, Politics, and the
Transition to Democracy in Latin America, Johns Hopkins, 1993 (ed.); and Modern Latin America
(with Peter H. Smith & James Green), Oxford, 1984.
Because
he was suffering from Alzheimer’s disease, in 2009, Thomas Skidmore was
transferred to an assisted care facility in Westerly, RI where he died on 11th
June 2016 after suffering a heart attack on 9th June. He was 83.
domingo, 12 de junho de 2016
O marxismo vulgar e o atraso educacional brasileiro - Luiz Carlos Azedo
Nas entrelinhas: O bonde da Educação
Luiz Carlos Azedo
Publicado em 12/06/2016
Professores engajados num projeto de poder não respeitam a maioria dos colegas e a minoria das minorias (o jovem monarquista) não pode se expressar sem apanhar
Um jovem monarquista que protestava contra a convocação de uma greve geral na Universidade de Brasília foi agredido por colegas que desejam paralisar a universidade em protesto contra o impeachment e o governo Temer, na terça-feira passada, porque estendeu uma bandeira do Brasil Império. Debaixo de socos e pontapés, conseguiu recuperá-la. Essas cenas da agressão, do tipo todos contra um, ocorreram na ala norte do Instituto Central de Ciências (ICC), o famoso “Minhocão”, e foram expostas na internet; no dia seguinte, o jovem agredido voltou às redes sociais para dizer que não se deixaria intimidar. Ele acredita que a agressão foi um sinal de que a bandeira da monarquia, diante da crise ética, está incomodando.
Na quarta-feira, durante assembleia da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), que reuniu 148 professores, o pós-doutor em bioética Volnei Garrafa sugeriu que a delegação da ADUnB apresente, no congresso do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), em Roraima, uma proposta para que o segundo semestre das universidades federais não se inicie enquanto a presidente Dilma Rousseff não voltar ao comando do governo. A maioria apoiou a proposta. O presidente da associação, Virgílio Arraes, disse que a sugestão será encaminhada, mas ponderou que a instituição tem cerca de 2.500 professores.
A Associação dos Docentes da UnB fez uma pesquisa eletrônica para saber a opinião dos colegas sobre os temas abordados na assembleia. Apenas 478 professores responderam ao questionário, dos quais 225 (47,47%) concordam com a tese de que o impeachment é golpe e 249 (52,53%) discordam; 300 professores (63,29%) são a favor de debater o assunto e 174 (36,71%) são contra. Mais: 265 professores (55,91%) foram contra a realização da assembleia; e 209 (44,9 %), a favor. Ou seja, uma situação na qual professores engajados num projeto de poder não respeitam a maioria dos colegas e a minoria da minoria (o jovem monarquista) não pode sequer se expressar sem apanhar. Esse é o ambiente político numa das melhores universidades do país.
Aparatos ideológicos
Nos anos 1970, o livro Os aparatos ideológicos do Estado, do filósofo franco-argelino Louis Althusser, fez muito sucesso entre estudantes e professores que faziam oposição ao regime militar, ao lado do livro Os Conceitos elementares do materialismo histórico, da professora chilena Marta Harnecker Cerdá, que participou do governo socialista de Salvador Allende e foi assessora de Hugo Chávez, de 2002 e 2006. Discípula de Althusser e casada com Manuel Piñeiro, o lendário Barba Ruiva (líder do PC cubano encarregado da relação com a esquerda da América Latina), com seu livro, Marta fez a cabeça da esquerda brasileira nas universidades.
Em consequência, boa parte das lideranças das universidades públicas do país tem uma visão sobre suas instituições próxima das ideias de Althusser, ainda que seu livro tenha sido publicado há quase 50 anos. Grosso modo, atribui aos aparatos ideológicos do Estado o papel de reproduzir a ideologia dominante para garantir a reprodução ampliada do capital. Quais são esses aparatos? A família, as igrejas, os partidos, os meios de comunicação, a cultura (literatura, arte e esporte), os sindicatos e, principalmente, a escola. O sistema jurídico, teria duplo caráter: aparato ideológico e, ao mesmo tempo, repressivo. É uma visão meio “funcionalista” do conceito de hegemonia.
Althusser questiona o papel do professor que se esforça para construir um discurso moderno mas não tem uma prática, digamos, revolucionária. Ao cumprir seu papel como professor, simplesmente reproduziria as relações de poder dominantes. Essa concepção está por trás do ativismo político de boa parte dos integrantes dos conselhos universitários e até de alguns reitores, o que de certa forma explica o apoio incondicional que deram aos governos Lula e Dilma, muito embora a qualidade do ensino e a capacidade de produzir ciência e tecnologia de nossas universidades deixem muito a desejar.
Na cartilha althusseriana, professores devem se posicionar contra o sistema e contra as práticas que os aprisionam e transmitir isso aos seus alunos. A Matemática, o Português, a História, a Geografia e as Ciências só têm sentido ao contestar a exploração e a dominação de classe. O devotamento à Educação contribui para alimentar a ideologia burguesa e faz da escola algo parecido com a Igreja medieval. Enquanto pensam assim, o Brasil perde o bonde da revolução do conhecimento.
https://www.youtube.com/watch?v=-pzPDQ7YWpI
Luiz Carlos Azedo
Publicado em 12/06/2016
Professores engajados num projeto de poder não respeitam a maioria dos colegas e a minoria das minorias (o jovem monarquista) não pode se expressar sem apanhar
Um jovem monarquista que protestava contra a convocação de uma greve geral na Universidade de Brasília foi agredido por colegas que desejam paralisar a universidade em protesto contra o impeachment e o governo Temer, na terça-feira passada, porque estendeu uma bandeira do Brasil Império. Debaixo de socos e pontapés, conseguiu recuperá-la. Essas cenas da agressão, do tipo todos contra um, ocorreram na ala norte do Instituto Central de Ciências (ICC), o famoso “Minhocão”, e foram expostas na internet; no dia seguinte, o jovem agredido voltou às redes sociais para dizer que não se deixaria intimidar. Ele acredita que a agressão foi um sinal de que a bandeira da monarquia, diante da crise ética, está incomodando.
Na quarta-feira, durante assembleia da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB), que reuniu 148 professores, o pós-doutor em bioética Volnei Garrafa sugeriu que a delegação da ADUnB apresente, no congresso do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), em Roraima, uma proposta para que o segundo semestre das universidades federais não se inicie enquanto a presidente Dilma Rousseff não voltar ao comando do governo. A maioria apoiou a proposta. O presidente da associação, Virgílio Arraes, disse que a sugestão será encaminhada, mas ponderou que a instituição tem cerca de 2.500 professores.
A Associação dos Docentes da UnB fez uma pesquisa eletrônica para saber a opinião dos colegas sobre os temas abordados na assembleia. Apenas 478 professores responderam ao questionário, dos quais 225 (47,47%) concordam com a tese de que o impeachment é golpe e 249 (52,53%) discordam; 300 professores (63,29%) são a favor de debater o assunto e 174 (36,71%) são contra. Mais: 265 professores (55,91%) foram contra a realização da assembleia; e 209 (44,9 %), a favor. Ou seja, uma situação na qual professores engajados num projeto de poder não respeitam a maioria dos colegas e a minoria da minoria (o jovem monarquista) não pode sequer se expressar sem apanhar. Esse é o ambiente político numa das melhores universidades do país.
Aparatos ideológicos
Nos anos 1970, o livro Os aparatos ideológicos do Estado, do filósofo franco-argelino Louis Althusser, fez muito sucesso entre estudantes e professores que faziam oposição ao regime militar, ao lado do livro Os Conceitos elementares do materialismo histórico, da professora chilena Marta Harnecker Cerdá, que participou do governo socialista de Salvador Allende e foi assessora de Hugo Chávez, de 2002 e 2006. Discípula de Althusser e casada com Manuel Piñeiro, o lendário Barba Ruiva (líder do PC cubano encarregado da relação com a esquerda da América Latina), com seu livro, Marta fez a cabeça da esquerda brasileira nas universidades.
Em consequência, boa parte das lideranças das universidades públicas do país tem uma visão sobre suas instituições próxima das ideias de Althusser, ainda que seu livro tenha sido publicado há quase 50 anos. Grosso modo, atribui aos aparatos ideológicos do Estado o papel de reproduzir a ideologia dominante para garantir a reprodução ampliada do capital. Quais são esses aparatos? A família, as igrejas, os partidos, os meios de comunicação, a cultura (literatura, arte e esporte), os sindicatos e, principalmente, a escola. O sistema jurídico, teria duplo caráter: aparato ideológico e, ao mesmo tempo, repressivo. É uma visão meio “funcionalista” do conceito de hegemonia.
Althusser questiona o papel do professor que se esforça para construir um discurso moderno mas não tem uma prática, digamos, revolucionária. Ao cumprir seu papel como professor, simplesmente reproduziria as relações de poder dominantes. Essa concepção está por trás do ativismo político de boa parte dos integrantes dos conselhos universitários e até de alguns reitores, o que de certa forma explica o apoio incondicional que deram aos governos Lula e Dilma, muito embora a qualidade do ensino e a capacidade de produzir ciência e tecnologia de nossas universidades deixem muito a desejar.
Na cartilha althusseriana, professores devem se posicionar contra o sistema e contra as práticas que os aprisionam e transmitir isso aos seus alunos. A Matemática, o Português, a História, a Geografia e as Ciências só têm sentido ao contestar a exploração e a dominação de classe. O devotamento à Educação contribui para alimentar a ideologia burguesa e faz da escola algo parecido com a Igreja medieval. Enquanto pensam assim, o Brasil perde o bonde da revolução do conhecimento.
https://www.youtube.com/watch?v=-pzPDQ7YWpI
Partidos políticos e política externa alcançou 80 acessos em 2 dias - Academia.edu
Thomas E. Skidmore: o brasilianista exemplar - James Green e Paulo Roberto de Almeida
Tive
a oportunidade, enquanto servi em Washington, de convidá-lo para
eventos acadêmicos que organizei na Embaixada e de criar o prêmio
Distinguished Brazilian Studies Scholar, do qual ele foi o primeiro
agraciado, junto com outros historiadores e estudiosos do Brasil, como Joseph Love, Jon Tolman, Wernr Baer, Robert Levine (a título póstumo). Vou postar as notas relativas aos trabalhos que elaborei abaixo.
Abaixo, minibiografia sobre Skidmore escrita por James Green, que o sucedeu na cátedra na Universidade de Brown.
Paulo Roberto de Almeida
Abaixo, minibiografia sobre Skidmore escrita por James Green, que o sucedeu na cátedra na Universidade de Brown.
Paulo Roberto de Almeida
James N Green
THOMAS E. SKIDMORE, FAMED BRAZILIANIST, DIES AT AGE 84.
Thomas E. Skidmore, the prominent historian of Brazil, passed away on June 11, 2016 in Westerly, Rhode Island. He left a rich intellectual legacy in his books and articles that analyze politics, society, and culture in twentieth-century Brazil.
Thomas E. Skidmore, the prominent historian of Brazil, passed away on June 11, 2016 in Westerly, Rhode Island. He left a rich intellectual legacy in his books and articles that analyze politics, society, and culture in twentieth-century Brazil.
After earning a doctorate in European history at Harvard University in
1960, Skidmore received a three-year research fellowship to study a
Latin American country. He chose Brazil. The end result was his seminal
work Politics in Brazil: 1930-1964, An Experiment in Democracy published
in 1967 by Oxford University Press. It became an immediate classic. The
Brazil edition, Brazil: De Getúlio Vargas a Castelo Branco was recently
reissued by Companhia das Letras.
In 1967, Skidmore moved with his family to Madison, Wisconsin where he led a large Latin American Studies program at the University of Wisconsin. He edited the Luso-Brazilian Review and trained many generations of scholars, while continuously maintaining a close relationship with Brazil. In 1972, he was elected President of the Latin American Studies Association. Two years later, Skidmore published Black into White: Race and Nationality in Brazilian Thought that was a pioneering contribution to Brazilian intellectual history. It was recently reissued in Brazil as Preto no Branco—Raça e nacionalidade no pensamento brasileiro (1970-1930) by Companhia das Letras.
After twenty years at the University Wisconsin, Skidmore was appointed the Carlos Manuel de Céspedes Professor of Latin American history at Brown University. He directed the Center for Latin American Studies for a decade and completed The Politics of Military Rule in Brazil, 1964-85, published in Portuguese under the title Brasil de Castelo a Tancredo. He retired from Brown University in 1999.
Among the most well known Brazilianists, on two occasions he made public statements about the political situation in Brazil that caused confrontations with the military dictatorship. In 1970, Skidmore and three other prominent scholars of Brazil in the United States signed an open letter condemning the imprisonment of the leading Marxist historian Caio Prado Júnior. At the time, Skidmore served as the Chair of the Government Relations Committee of the Latin American Studies Association. In that capacity, he sponsored a resolution condemning the military regime’s systematic repression of Brazilian academics and other oppositionists. In retaliation for his political stance, the Brazilian government denied him a research visa to teach a seminar at the State University of Campinas in the summer of 1970.
In 1984, on the eve of the return to democratic rule, while lecturing in Brazil, Professor Skidmore was summoned to appear before the Federal Police for commenting on the political situation and was threatened with expulsion from the country. Charges were later dropped. Many academics, politicians and journalists came to his defense, considering the actions of the Federal Police as unconstitutional and a violation of academic freedom.
Skidmore is survived by his wife Felicity and three sons.
=============
Paulo Roberto de Almeida:
Enquanto estive em Washington, convivemos em algumas ocasiões, sempre por minha iniciativa, pois que estimulei os estudos sobre o Brasil nos EUA através de diversas iniciativas todas acolhidas pelo Embaixador Rubens Barbosa.
Abaixo, e apenas relativo ao ano de 2003, quando já me preparava para sair de Washington, algumas notas de trabalhos que elaborei ou planejei, em relação aos Brasilianistas, em geral, a Tom Skidmore em particular.
1117. “O americano cordial: Thomas Skidmore e a história do Brasil”, Washington, 17 set. 2003, 1 p. Esquema de possível obra sobre a produção historiográfica do Prof. Thomas E. Skidmore, constando de introdução analítica, depoimento pessoal, seleção de textos, biobibliografia. Submetida a TS (Thomas_Skidmore@brown.edu).
In 1967, Skidmore moved with his family to Madison, Wisconsin where he led a large Latin American Studies program at the University of Wisconsin. He edited the Luso-Brazilian Review and trained many generations of scholars, while continuously maintaining a close relationship with Brazil. In 1972, he was elected President of the Latin American Studies Association. Two years later, Skidmore published Black into White: Race and Nationality in Brazilian Thought that was a pioneering contribution to Brazilian intellectual history. It was recently reissued in Brazil as Preto no Branco—Raça e nacionalidade no pensamento brasileiro (1970-1930) by Companhia das Letras.
After twenty years at the University Wisconsin, Skidmore was appointed the Carlos Manuel de Céspedes Professor of Latin American history at Brown University. He directed the Center for Latin American Studies for a decade and completed The Politics of Military Rule in Brazil, 1964-85, published in Portuguese under the title Brasil de Castelo a Tancredo. He retired from Brown University in 1999.
Among the most well known Brazilianists, on two occasions he made public statements about the political situation in Brazil that caused confrontations with the military dictatorship. In 1970, Skidmore and three other prominent scholars of Brazil in the United States signed an open letter condemning the imprisonment of the leading Marxist historian Caio Prado Júnior. At the time, Skidmore served as the Chair of the Government Relations Committee of the Latin American Studies Association. In that capacity, he sponsored a resolution condemning the military regime’s systematic repression of Brazilian academics and other oppositionists. In retaliation for his political stance, the Brazilian government denied him a research visa to teach a seminar at the State University of Campinas in the summer of 1970.
In 1984, on the eve of the return to democratic rule, while lecturing in Brazil, Professor Skidmore was summoned to appear before the Federal Police for commenting on the political situation and was threatened with expulsion from the country. Charges were later dropped. Many academics, politicians and journalists came to his defense, considering the actions of the Federal Police as unconstitutional and a violation of academic freedom.
Skidmore is survived by his wife Felicity and three sons.
=============
Paulo Roberto de Almeida:
Enquanto estive em Washington, convivemos em algumas ocasiões, sempre por minha iniciativa, pois que estimulei os estudos sobre o Brasil nos EUA através de diversas iniciativas todas acolhidas pelo Embaixador Rubens Barbosa.
Abaixo, e apenas relativo ao ano de 2003, quando já me preparava para sair de Washington, algumas notas de trabalhos que elaborei ou planejei, em relação aos Brasilianistas, em geral, a Tom Skidmore em particular.
1117. “O americano cordial: Thomas Skidmore e a história do Brasil”, Washington, 17 set. 2003, 1 p. Esquema de possível obra sobre a produção historiográfica do Prof. Thomas E. Skidmore, constando de introdução analítica, depoimento pessoal, seleção de textos, biobibliografia. Submetida a TS (Thomas_Skidmore@brown.edu).
1121. “Os Brasis dos brasilianistas”, Washington, 23
set., 1 p. Projeto de coleção de livros-coletâneas com base na produção
brasilianista, com destaque para a obra do Prof. Thomas E. Skidmore (vide
trabalho n. 1117), Robert Levine, Fernand Braudel, Werner Baer, Joseph Love e
Kenneth Maxwell, entre outros. Para apresentação a editor do Brasil.
1122. “O historiador Robert Levine e a longa crise do
varguismo no Brasil”, Washington, 24 set. 2003, 1 p. Sumário de trabalho para o
congresso da Brasa 2004, a ser realizado no Rio de Janeiro, em junho.
1123. “Projetos Acadêmicos e Culturais”, Washington,
25 set. 2003, 13 p. Nova versão de livreto com informação sobre os diferentes
projetos acadêmicos desenvolvidos pela Embaixada em Washington (livro dos
brasilianistas, Projeto Resgate, Brasiliana, etc.). Incorporação de informações
mais recentes.
1037. “Robert M. Levine: um
brasilianista emérito, um brasileiro de coração: tributo da Embaixada do Brasil
em Washington”, Washington, 20 abr. 2003, 3 p. Leitura em homenagem ao
historiador falecido, para ser lida pelo historiador Joseph Love em sessão
memorial realizada em 28 de Abril em Miami, conjugada à atribuição, pela
Embaixada em Washington do certificado de Brasilianista Emérito (Distinguished Brazilian Studies Scholar).
sábado, 11 de junho de 2016
Mini-reflexao sobre sucessos e insucessos do gramscismo e doliberalismo - Paulo Roberto de Almeida
Mini-reflexão sobre o sucesso relativo do gramscismo e o insucesso (até aqui) do liberalismo:
Falta aos liberais um discurso tão convincente e atraente quanto o dos gramscianos, mas isto é praticamente impossível.
Como é que vc vai dizer a pessoas simples que o sonho de uma vida melhor trazida pelo Estado, como apregoado pelos socialistas, tem de ser substituído pela dura realidade de mais trabalho, concorrência nos mercados, acumulação individual, regime de capitalização na previdência, sem salário mínimo e garantias de emprego?
Sociedades só reformam o que não funciona em momentos de crise e ruptura. Nós nem chegamos perto do "ponto ótimo" da crise ainda, nem tivemos ruptura.
Como reformar?
Mas concordo em que os liberais (e eu não sou um) têm de elaborar mais respostas para questões concretas da vida cotidiana, em lugar de se ocuparem apenas de teorias acadêmicas, e estar mais presentes no debate público...
Complemento em resposta à pergunta sobre se eu me considero
ser um conservador:
Não, de forma alguma. A sociedade, a economia estão sempre
mudando. As reformas precisam ser contínuas, de preferência não induzidas pelo
Estado e sim feitas espontaneamente pela sociedade, dispondo das mais amplas
liberdades econômicas. Sou um revolucionário racionalista e não principista.
Por exemplo, dada a pobreza e desigualdade na sociedade brasileira, o “meu”
Estado mínimo comportaria durante algum tempo escolas públicas de qualidade
para primeiro e segundo graus e técnico-profissional. Só isso. Terceiro ciclo?
Responsabilidade individual ou familiar, ponto.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 11 de junho de 2016
Publicado
no Facebook (link: https://www.facebook.com/paulobooks/posts/1172066566190125).
sexta-feira, 10 de junho de 2016
Lula e Rose... e os cartoes - Carlos Newton
Lula & Rose
Carlos
Newton
Tribuna da
Internet, 10/06/2016
Está chegando ao final
um dos maiores mistérios da República. Os autos do Mandado de Segurança 20895,
impetrado pelo repórter Thiago Herdy e por O Globo já estão conclusos desde 27
de março, na mesa do ministro Napoleão Nunes Maia Filho, do Superior Tribunal
de Justiça, para que mande cumprir o acórdão da 1ª Seção da corte, que
autorizou o acesso aos dados do cartão corporativo do governo federal usado
pela ex-chefe da representação da Presidência da República em São Paulo,
Rosemary Nóvoa de Noronha.
O tribunal acolheu
pedido feito pela rede de jornais Infoglobo e pelo jornalista Thiago Herdy Lana
para terem acesso aos gastos, com as discriminações de tipo, data, valor das
transações e CNPJ/razão social.
TÓRRIDA PAIXÃO.
Como se sabe, desde a
década de 1990, quando se conheceram no Sindicato dos Bancários de São
Paulo, numa reunião conduzida pelo dirigente sindical João Vaccari Neto,
Rosemary era concubina do então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva.
Em 2003, ao assumir o
poder, Lula trouxe a companheira para perto de si, nomeando-a para o importante
cargo de chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo. E o
romance prosseguiu, com o presidente usufruindo da companhia de Rose em 32
viagens internacionais que tiveram a ausência da primeira-dama.
Tudo continua bem, até
que novembro de 2012, já no governo Dilma Rousseff, Rose acabou envolvida na
Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, que investigou venda de pareceres
técnicos para liberação de obras favorecendo empresas privadas, foi imediatamente
demitida e está respondendo a processo.
DILMA USOU ROSE.
Desde 2013, já rolava na
Justiça o mandado de segurança apresentado pelo repórter Thiago Herdy e pelo O
Globo para quebrar o sigilo dos gastos do cartão de Rose, sob argumento de que
o acesso a documentos administrativos tem status de direito fundamental,
consagrado na Constituição Federal e em legislação infraconstitucional.
Em 2014, quando cresceu
no PT o movimento "Volta, Lula", para que o ex-presidente Lula fosse
candidato, Dilma Rousseff resistiu e não quis abrir mão da candidatura. Lula
insistiu e ela então lançou sobre a mesa a cartada decisiva, ameaçando divulgar
os absurdos gastos de Rose no cartão corporativo da Presidência, que se
tornariam um escândalo capaz de destruir a campanha eleitoral do PT, Lula foi
obrigado a recuar.
DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
Para o relator do caso
no STJ, ministro Napoleão Nunes Maia Filho, a recusa de fornecer os documentos
e as informações a respeito dos gastos efetuados com o cartão corporativo, com
o detalhamento solicitado, constitui violação ilegal do direito líquido e certo
da empresa e do jornalista de terem acesso à informação de interesse coletivo,
assegurado pela Constituição e regulamentado pela Lei 12.527/11 (Lei de Acesso
à Informação).
"Inexiste
justificativa para manter em sigilo as informações solicitadas, pois não se
evidencia que a publicidade de tais questões atente contra a segurança do
presidente e vice-presidente da República ou de suas famílias, e nem isso ficou
evidenciado nas informações da Secretaria de Comunicação", afirmou em seu
parecer.
"A divulgação
dessas informações seguramente contribui para evitar episódios lesivos e
prejudicantes; também nessa matéria tem aplicação a parêmia consagrada pela
secular sabedoria do povo, segundo a qual é melhor prevenir do que
remediar", concluiu o ministro, que vai mandar cumprir a sentença do STJ.
O PT VAI ÀS COMPRAS.
Segundo o jornalista
Cláudio Humberto, do site Diário do Poder, nos governos petistas de Lula e
Dilma, de 2003 a 2015, os gastos com cartões corporativos já somaram R$ 615
milhões, o que significa mais de R$ 51 milhões por ano, enquanto em 2002,
último ano do governo FHC, a conta dos cartões foi de R$ 3 milhões.
Cerca de 95% dessas despesas
são "secretas", por decisão do então presidente Lula, que alegou
"segurança do Estado", após o escândalo de ministros usando essa
forma de pagamento em gastos extravagantes, como pagar tapiocas, resorts de
luxo, jantares, cabelereira, aluguel de carro, etc...
Humberto diz que a
anarquia chegou ao ponto de um alto funcionário do Ministério das Comunicações
quitar duas mesas de sinuca usando o cartão, enquanto em São Bernardo,
seguranças da família do então presidente Lula pagavam equipamentos de musculação
com cartão corporativo e compraram R$ 55 mil em material de construção para a
filha dele, Lurian.
Quando o sigilo for
quebrado, esta nação vai estremecer. Será divertido, podem esperar.
O anarco-capitalismo, os socialistas fabianos, e os fascistas e anti-fascistas - Mario Sabino (Antagonista)
Uma crônica extremamente saborosa que me permito reproduzir a partir da newsletter diária do Antagonista, de que Mario Sabino (ex-Veja) é um dos fundadores.
Eu adoraria chamar esse blog de Contrarianista (pois assim ele ele ficaria com o meu perfil, mas talves isso seja narcisismo demais, ou quem sabe autismo).
Nesta crônica, com base em suas lembranças de família, ele discute o papel do Estado, em geral, e o seu pobre e miserável papel aqui no Brasil.
Considerações familiares e filosóficas à parte, concordo inteiramente com sua caracterização do Estado brasileiro atual, capturado por patrimonialistas de direita e de esquerda (os primeiros desde sempre, os segundos desde 2003, e ainda não terminou), mas que eu preferiria traduzir por outros conceitos.
Eu diria, por exemplo, que nosso antigo patrimonialismo tradicional, aquele das elites latifundistas, dos coroneis do interior e dos magistrados da capital, foi transformado por Vargas num patrimonialismo urbano-industrial, das novas elites industriais (que antigamente eram chamadas de "classes produtoras"), foi igualmente modernizado pelos militares, que o converteram num patrimonialismo tecnocrático (e Brasília foi essencial nesse mudança perversa), até chegarmos no patrimonialismo operado pelos companheiros, que o converteram em um patrimonialismo de tipo gangster.
Essa palavra gangster pode parecer exagerada, mas é isso mesmo o que eles fizeram: são mafiosos, e o pior de tudo, como diria Mario Sabino, são uns fascistas (e sequer são de esquerda, pois são eminentemente reacionários).
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10/06/2016
Sobre o meu avô, o Estado e o “Estado brasileiro"
Por Mario Sabino
O Antagonista, 10 de Junho de 2016
Acho graça quando petistas me xingam de "fascista”. Sou fruto da oposição ao fascismo. Explico: o meu avô materno refugiou-se no Brasil ao receber um ultimato de Benito Mussolini para sair da Itália. Era cair fora ou morrer. Mussolini lhe deu essa oportunidade porque ambos trabalharam juntos no jornal socialista Avanti! e nutriam certa afeição recíproca quando eram colegas de redação.
É impossível que Mussolini tenha odiado o meu avô, no máximo uma minúscula nota de rodapé na sua biografia. Mas o meu avô odiava Mussolini, a ponto de a simples pronúncia do seu nome ser proibida diante dele. Até mesmo falar dos feitos dos antigos romanos -- que os fascistas pateticamente tentaram copiar -- era considerado ofensa grave. Nada podia lembrar Mussolini, o homem que o expulsara da Itália e havia assassinado muitos dos seus amigos.
Meu avô era melhor do que Mussolini? Digamos que não teve a chance de provar. O meu avô era, mais do que socialista, anarco-socialista, amigão de Errico Malatesta, prócer do movimento italiano (os que me chamam de “socialista fabiano” vão adorar saber). Uma vez no poder, talvez mandasse fuzilar Mussolini, sem lhe dar a chance de escapar para a América do Sul. Só estou sendo franco porque a minha mãe morreu e os dois tios maternos que me restam dificilmente lerão esta newsletter.
A minha existência, portanto, se deve ao fato de um anarco-socialista ter sido expelido da Itália por um socialista que se tornou o Duce fascista. Assim sendo, é natural que eu pense no meu avô quando leio a palavra “fascista” ou a expressão “socialista fabiano” associadas a mim. Mas eu também penso nele ao ouvir jovens adeptos do liberalismo em pregação pelo fim do Estado.
O meu avô anarco-socialista pregava o fim do Estado. Ele basicamente queria substituir essa grande conquista da civilização por sindicatos de trabalhadores em assembleia permanente que decidiriam tudo: do preço do leite ao fim das fronteiras nacionais. Troque-se os sindicatos dos trabalhadores em assembleia permanente pelas leis do mercado e a privatização de todas as atividades humanas e eis que temos a profissão de fé desses jovens adeptos do liberalismo que pregam o fim do Estado. O nome de tal profissão de fé é anarco-capitalismo.
A revolta mais do que justificada contra o "Estado brasileiro” deveria nos fazer refletir menos sobre o substantivo e mais sobre o adjetivo. Diminuir o nosso Estado é fácil, difícil é fazer com que ele não seja brasileiro.
O Estado é uma grande conquista da civilização porque, lá na sua origem, impediu que devorássemos uns aos outros. Depois, porque resultou na separação entre o público o privado, sem matar o privado. Mais tarde, porque propiciou a escola gratuita. Em seguida, porque possibilitou a construção de redes de saúde, saneamento básico, iluminação e transporte dignos desses nomes para as massas. Por último, viabilizou a criação de museus e bibliotecas fantásticos.
O Estado da civilização, como se pode ver, é o exato oposto do Estado brasileiro” -- um monstrengo surgido da colusão entre os patrimonialistas da direita e esquerda nacionais, lubrificados por um povo ignorante e abúlico.
Nem “fascista”, nem “socialista fabiano”, nem anarquista de qualquer tipo, sou muito pelo contrário.
Eu adoraria chamar esse blog de Contrarianista (pois assim ele ele ficaria com o meu perfil, mas talves isso seja narcisismo demais, ou quem sabe autismo).
Nesta crônica, com base em suas lembranças de família, ele discute o papel do Estado, em geral, e o seu pobre e miserável papel aqui no Brasil.
Considerações familiares e filosóficas à parte, concordo inteiramente com sua caracterização do Estado brasileiro atual, capturado por patrimonialistas de direita e de esquerda (os primeiros desde sempre, os segundos desde 2003, e ainda não terminou), mas que eu preferiria traduzir por outros conceitos.
Eu diria, por exemplo, que nosso antigo patrimonialismo tradicional, aquele das elites latifundistas, dos coroneis do interior e dos magistrados da capital, foi transformado por Vargas num patrimonialismo urbano-industrial, das novas elites industriais (que antigamente eram chamadas de "classes produtoras"), foi igualmente modernizado pelos militares, que o converteram num patrimonialismo tecnocrático (e Brasília foi essencial nesse mudança perversa), até chegarmos no patrimonialismo operado pelos companheiros, que o converteram em um patrimonialismo de tipo gangster.
Essa palavra gangster pode parecer exagerada, mas é isso mesmo o que eles fizeram: são mafiosos, e o pior de tudo, como diria Mario Sabino, são uns fascistas (e sequer são de esquerda, pois são eminentemente reacionários).
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 10/06/2016
Sobre o meu avô, o Estado e o “Estado brasileiro"
Por Mario Sabino
O Antagonista, 10 de Junho de 2016
Acho graça quando petistas me xingam de "fascista”. Sou fruto da oposição ao fascismo. Explico: o meu avô materno refugiou-se no Brasil ao receber um ultimato de Benito Mussolini para sair da Itália. Era cair fora ou morrer. Mussolini lhe deu essa oportunidade porque ambos trabalharam juntos no jornal socialista Avanti! e nutriam certa afeição recíproca quando eram colegas de redação.
É impossível que Mussolini tenha odiado o meu avô, no máximo uma minúscula nota de rodapé na sua biografia. Mas o meu avô odiava Mussolini, a ponto de a simples pronúncia do seu nome ser proibida diante dele. Até mesmo falar dos feitos dos antigos romanos -- que os fascistas pateticamente tentaram copiar -- era considerado ofensa grave. Nada podia lembrar Mussolini, o homem que o expulsara da Itália e havia assassinado muitos dos seus amigos.
Meu avô era melhor do que Mussolini? Digamos que não teve a chance de provar. O meu avô era, mais do que socialista, anarco-socialista, amigão de Errico Malatesta, prócer do movimento italiano (os que me chamam de “socialista fabiano” vão adorar saber). Uma vez no poder, talvez mandasse fuzilar Mussolini, sem lhe dar a chance de escapar para a América do Sul. Só estou sendo franco porque a minha mãe morreu e os dois tios maternos que me restam dificilmente lerão esta newsletter.
A minha existência, portanto, se deve ao fato de um anarco-socialista ter sido expelido da Itália por um socialista que se tornou o Duce fascista. Assim sendo, é natural que eu pense no meu avô quando leio a palavra “fascista” ou a expressão “socialista fabiano” associadas a mim. Mas eu também penso nele ao ouvir jovens adeptos do liberalismo em pregação pelo fim do Estado.
O meu avô anarco-socialista pregava o fim do Estado. Ele basicamente queria substituir essa grande conquista da civilização por sindicatos de trabalhadores em assembleia permanente que decidiriam tudo: do preço do leite ao fim das fronteiras nacionais. Troque-se os sindicatos dos trabalhadores em assembleia permanente pelas leis do mercado e a privatização de todas as atividades humanas e eis que temos a profissão de fé desses jovens adeptos do liberalismo que pregam o fim do Estado. O nome de tal profissão de fé é anarco-capitalismo.
A revolta mais do que justificada contra o "Estado brasileiro” deveria nos fazer refletir menos sobre o substantivo e mais sobre o adjetivo. Diminuir o nosso Estado é fácil, difícil é fazer com que ele não seja brasileiro.
O Estado é uma grande conquista da civilização porque, lá na sua origem, impediu que devorássemos uns aos outros. Depois, porque resultou na separação entre o público o privado, sem matar o privado. Mais tarde, porque propiciou a escola gratuita. Em seguida, porque possibilitou a construção de redes de saúde, saneamento básico, iluminação e transporte dignos desses nomes para as massas. Por último, viabilizou a criação de museus e bibliotecas fantásticos.
O Estado da civilização, como se pode ver, é o exato oposto do Estado brasileiro” -- um monstrengo surgido da colusão entre os patrimonialistas da direita e esquerda nacionais, lubrificados por um povo ignorante e abúlico.
Nem “fascista”, nem “socialista fabiano”, nem anarquista de qualquer tipo, sou muito pelo contrário.
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