sábado, 6 de janeiro de 2024

O PT QUER FATURAR COM O 8 DE JANEIRO - Augusto de Franco

 O PT QUER FATURAR COM O 8 DE JANEIRO

Augusto de Franco

6/01/2024

O ato para explorar politicamente o 8 de janeiro de 2023 tem uma clara motivação partidária com objetivos eleitorais. O PT quer faturar com o 8 de janeiro dizendo que só ele pode defender a democracia e que, portanto, deve continuar no poder para evitar que aconteça um golpe semelhante no futuro.

1 - Criar uma narrativa de que houve alguma coisa tão grave como o holocausto em 8 de janeiro de 2023 não concorre para a pacificação da sociedade e a diminuição da polarização. Antes, investe na política como continuação da guerra por outros meios e acirra a polarização.

2 - O governo populista-autoritário de Jair Bolsonaro contribuiu para erodir a democracia brasileira (sem, entretanto, conseguir abolí-la), mas isso não aconteceu em 8 de janeiro e sim ao longo do seu infeliz mandato: ao deslegitimar as instituições mantendo uma retórica golpista, ao aparelhar o governo com militares, ao tentar aliciar as forças armadas e policiais para seus propósitos golpistas, ao se aproximar de milícias e protegê-las da lei, ao querer armar a população para resistir pela força ao Estado democrático de direito quando avaliasse que seus interesses seriam contrariados, ao violar diariamente as regras não-escritas da democracia transformando a política numa guerra contra um suposto inimigo interno (comunista) instalando uma guerra das pessoas de bem contra as pessoas do mal.

3 - O que houve realmente em 8 de janeiro? Houve uma horrível manifestação golpista de vândalos que depredaram propriedades públicas. Em termos simbólicos foi um ataque às instituições do Estado democrático de direito. Mas só em termos simbólicos, porque as instituições não são as suas sedes físicas, seus prédios, seus móveis, seus objetos, sua papelada. Mesmo que os manifestantes ocupassem as sedes dos três poderes e lá ficassem sem ser expulsos, as instituições executivas, judiciárias e parlamentares continuariam funcionando em outros lugares (inclusive virtualmente).

4 - Só teria havido uma ruptura com a ordem democrática se as instituições fossem impedidas de funcionar autonomamente, de qualquer lugar (inclusive no ciberespaço). Ou se suas decisões deixassem de ser acatadas - sobretudo pelas forças armadas e policiais e pelos demais órgãos de controle. Para isso seria preciso que a Constituição e as leis (não os papeis onde estão escritas) fossem rasgadas.

5 - Houve golpe de Estado? Não houve. Houve tentativa de golpe. Mas essa tentativa de golpe não era crível. E não era crível porque não havia, por parte dos manifestantes e de seus orientadores e instigadores, força político-militar para tanto. Se houvesse, teria havido um golpe (bem ou mal-sucedido).

6 - Houve insurreição popular generalizada contra os poderes democráticos? Não houve. A mobilização envolveu não mais do que 4 mil pessoas periféricas, das quais 1/4 acabaram presas sem oferecer resistência. Não houve caos nas cidades, nas zonas rurais, nas estradas, nos portos e aeroportos, nem pane na oferta de água, energia, alimentos e medicamentos.

7 - Por isso o 8 de janeiro foi um ato simbólico, demonstrativo de inconformidade de uma parcela do eleitorado com as instituições da democracia tal como estavam funcionando. Mas foi mais um cosplay do 6 de janeiro de 2021 no Capitólio. Porque em Brasília: os manifestantes estavam desarmados; invadiram sedes dos poderes vazias, num domingo; não agrediram fisicamente nenhuma autoridade; não houve feridos, nem mortos (ao contrário do que ocorreu no original americano); não havia gancho institucional para impedir o chefe de governo eleito de governar: ao contrário do ato americano, em que o presidente Biden ainda não havia sido certificado pelo parlamento, Lula já estava empossado e governando.

8 - Foi crime? Foi. Os responsáveis diretos e indiretos devem ser processados de acordo com a lei (como estão sendo, ao menos a ralé teleguiada).

9 - Foi terrorismo? Não foi. Por qualquer lei vigente em uma democracia, inclusive pela lei brasileira. E por isso as acusações contra os manifestantes nunca incluem terrorismo.

10 - Querer esticar o 8 de janeiro como uma ameaça permanente à democracia brasileira é um truque solerte para manter o PT no poder indefinidamente e evitar que surja uma oposição democrática no Brasil (que passará a ser acusada de golpismo, mesmo que nada tenha a ver com bolsonarismo). Bolsonaro não governa mais e está inelegível. Não há qualquer risco de golpe de Estado por parte dos bolsonaristas. Não há ameaças vindas das forças armadas e policiais. As ruas não estão conflagradas e assim permanecerão por muito tempo. Não há grupos significativos planejando ou executando ações ilegais contra o regime democrático; ou seja, não há ações subversivas da ordem democrática em curso.


O maldito legado econômico do governo Bolsonaro - Ricardo Bergamini

 O maldito legado econômico do governo Bolsonaro

Ricardo Bergamini

1 - Aumento criminoso do patrimônio líquido negativo da União

Sem considerar números, gráficos e tabelas divulgados pelo governo, a estupidez coletiva brasileira comemora um governo que, em apenas quatro anos, aumentou o nosso buraco (patrimônio líquido negativo, ou passivo a descoberto) em R$ 2,8 trilhões, ou seja: 116,67% maior do que o ano de 2018. 

Estudo completo clique abaixo:

 

https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:46468

 

2 - Aumento criminoso da renúncia fiscal para os amigos e aliados

Em 2018, a união teve um gasto tributário (renúncia fiscal) da ordem R$ 333,0 bilhões (4,75% do PIB). Em 2022 para alimentar as propinas para a eleição atinge R$ 581,5 bilhões (5,86% o PIB). Crescimento criminoso de 23,37% em termos reais em relação ao PIB.

Estudo completo clique abaixo

 

https://www.gov.br/planejamento/pt-br/assuntos/avaliacao-de-politicas-publicas-1/arquivos/orcamento-de-subsidios-da-uniao/orcamento-de-subsidios-da-uniao-7a-edicao.pdf

 

3 - Aumento criminoso da carga tributária 

 

A carga tributária de 2022 é a maior desde 2010, ou seja: 33,71% do PIB. 

Estudo completo clique abaixo:

 

https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:46589

 

4 – Movimentação de capitais estrangeiros do Brasil

 

De 1995 até 2002 (FHC) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 22,2 bilhões; de 2003 até 2010 (Lula) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 210,5 bilhões; de 2011 até 2018 (Dilma/Temer) o Brasil gerou uma entrada líquida (captação) de US$ 65,7 bilhões; de 2019 até 2022 (Bolsonaro) o Brasil gerou uma saída líquida (fuga) de US$ 71,4 bilhões. Até novembro de 2023 (Lula) houve entrada líquida (captação) de US$ 24,5 bilhões.

 

Estudo completo clique abaixo (Anexo 16)

 

https://www.bcb.gov.br/estatisticas/estatisticassetorexterno -  

 

 

Ricardo Bergamini

www.ricardobergamini.com.br


New Yorker: the enduring effects of the January 6th attack against democracy in America

 A New Yorker dedica seu número do dia 6 de janeiro aos 3 anos do ataque ao Capitólio em 2021:


Biblioteca Oliveira Lima de Washington comemora cem anos em fevereiro de 2024


100 anos da instalação da Biblioteca Oliveira Lima na Universidade Católica da América, em Washington, coletando todos os seus livros espalhados em quatro ou cinco cidades diferentes, entre Europa e Brasil.



On Tiranny : Twenty lessons from the Twentieth Century - Timothy Snyder

 On Tiranny: Twenty lessons from the Twentieth Century

Timothy Snyder

January, 6, 3024

https://open.substack.com/pub/snyder/p/on-tyranny?r=8ma92&utm_medium=ios&utm_campaign=post 

These are twenty lessons from the twentieth century I published seven years ago, first as a kind of online declaration, and then, with historical examples, in a pamphlet called On Tyranny.

They were written in advance of the first Trump presidency, and have been used since in the U.S. and around the world. 

For those who want democracy and the rule of law in the United States after 2024, I would only add: now is the time to organize, to prepare to win locally and nationally, and to talk not only about what is to be lost but what can be gained. 

I wrote On Tyranny in a defensive mode; but freedom is something not only to be defended but to be defined and to be celebrated. As for me, I believe that if we can get through the next year, things could get better. Much better.

For now, three years after Trump’s attempt to end democracy and the rule of law in the United States, a reminder of the lessons. I recall them now in then hope that I won’t have to do so again a year from now.

1. Do not obey in advance.  Most of the power of authoritarianism is freely given. In times like these, individuals think ahead about what a more repressive government will want, and then offer themselves without being asked.  A citizen who adapts in this way is teaching power what it can do. 

2.  Defend institutions.  It is institutions that help us to preserve decency.  They need our help as well.  Do not speak of "our institutions" unless you make them yours by acting on their behalf.  Institutions do not protect themselves.  They fall one after the other unless each is defended from the beginning.  So choose an institution you care about -- a court, a newspaper, a law, a labor union -- and take its side.

3. Beware the one-party state.  The parties that remade states and suppressed rivals were not omnipotent from the start.  They exploited a historic moment to make political life impossible for their opponents.  So support the multiple-party system and defend the rules of democratic elections.  Vote in local and state elections while you can.  Consider running for office.

4. Take responsibility for the face of the world.  The symbols of today enable the reality of tomorrow.  Notice the swastikas and the other signs of hate.  Do not look away, and do not get used to them.  Remove them yourself and set an example for others to do so.

5. Remember professional ethics.  When political leaders set a negative example, professional commitments to just practice become more important. It is hard to subvert a rule-of-law state without lawyers, or to hold show trials without judges.  Authoritarians need obedient civil servants, and concentration camp directors seek businessmen interested in cheap labor.

6. Be wary of paramilitaries.  When the men with guns who have always claimed to be against the system start wearing uniforms and marching with torches and pictures of a leader, the end is nigh.  When the pro-leader paramilitary and the official police and military intermingle, the end has come.

7. Be reflective if you must be armed.  If you carry a weapon in public service, may God bless you and keep you.  But know that evils of the past involved policemen and soldiers finding themselves, one day, doing irregular things.  Be ready to say no.

8. Stand out.  Someone has to.  It is easy to follow along.  It can feel strange to do or say something different.  But without that unease, there is no freedom.  Remember Rosa Parks.  The moment you set an example, the spell of the status quo is broken, and others will follow.

9. Be kind to our language.  Avoid pronouncing the phrases everyone else does.  Think up your own way of speaking, even if only to convey that thing you think everyone is saying.  Make an effort to separate yourself from the internet.  Read books.

10. Believe in truth.  To abandon facts is to abandon freedom.  If nothing is true, then no one can criticize power, because there is no basis upon which to do so.  If nothing is true, then all is spectacle.  The biggest wallet pays for the most blinding lights.

11. Investigate.  Figure things out for yourself.  Spend more time with long articles. Subsidize investigative journalism by subscribing to print media.  Realize that some of what is on the internet is there to harm you.  Learn about sites that investigate propaganda campaigns (some of which come from abroad).  Take responsibility for what you communicate with others.

12. Make eye contact and small talk.  This is not just polite.  It is part of being a citizen and a responsible member of society.  It is also a way to stay in touch with your surroundings, break down social barriers, and understand whom you should and should not trust.  If we enter a culture of denunciation, you will want to know the psychological landscape of your daily life.

13. Practice corporeal politics.  Power wants your body softening in your chair and your emotions dissipating on the screen.  Get outside.  Put your body in unfamiliar places with unfamiliar people.  Make new friends and march with them.

14. Establish a private life.  Nastier rulers will use what they know about you to push you around.  Scrub your computer of malware on a regular basis.  Remember that email is skywriting.  Consider using alternative forms of the internet, or simply using it less.  Have personal exchanges in person.  For the same reason, resolve any legal trouble.  Tyrants seek the hook on which to hang you.  Try not to have hooks.

15. Contribute to good causes.  Be active in organizations, political or not, that express your own view of life.  Pick a charity or two and set up autopay.  Then you will have made a free choice that supports civil society and helps others to do good.

16. Learn from peers in other countries.  Keep up your friendships abroad, or make new friends in other countries.  The present difficulties in the United States are an element of a larger trend.  And no country is going to find a solution by itself.  Make sure you and your family have passports.

17. Listen for dangerous words.  Be alert to use of the words "extremism" and "terrorism."  Be alive to the fatal notions of "emergency" and "exception."  Be angry about the treacherous use of patriotic vocabulary.

18. Be calm when the unthinkable arrives.  Modern tyranny is terror management.  When the terrorist attack comes, remember that authoritarians exploit such events in order to consolidate power.  The sudden disaster that requires the end of checks and balances, the dissolution of opposition parties, the suspension of freedom of expression, the right to a fair trial, and so on, is the oldest trick in the Hitlerian book.  Do not fall for it.

19. Be a patriot.  Set a good example of what America means for the generations to come.  They will need it.

20. Be as courageous as you can.  If none of us is prepared to die for freedom, then all of us will die under tyranny.

These lessons are the openings of the twenty chapters of On Tyranny, which has been updated to account for the Big Lie, the coup attempt, the war in Ukraine, and the risks we face in 2024.  On Tyranny has also been published in a beautiful graphic edition, illustrated by Nora Krug.


Os desafios para o Brasil concretizar reaproximação da África em 2024 - Vinicius Assis (RFI Brasil )

BRASIL-ÁFRICA

Os desafios para o Brasil concretizar reaproximação da África em 2024

FRI, 

Vinicius Assis, do Cairo (Egito) para RFI Brasil 

https://www.rfi.fr/br/podcasts/brasil-%C3%A1frica/20240106-os-desafios-para-o-brasil-concretizar-reaproxima%C3%A7%C3%A3o-da-%C3%A1frica-em-2024

Moçambique, Etiópia e Egito devem estar no roteiro da primeira viagem internacional que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer fazer este ano. A visita está sendo organizada para a segunda quinzena de fevereiro. Mas além da retomada das viagens, outros desafios deverão ser superados para efetivar a reaproximação entre o Brasil e o continente africano, apontam especialistas.

A maior expectativa é sobre a passagem do presidente pela capital etíope, onde Lula deve participar da abertura da cúpula da União Africana. Ele fará um discurso não só como chefe de Estado, mas como líder do país que ocupa a presidência rotativa do G20.

A última parada da viagem deve ser no Cairo, mas tudo sobre esta visita ao continente africano ainda está em processo de confirmação, inclusive a logística e as agendas bilaterais. A RFI conversou nas últimas semanas com diversas pessoas que acompanham o assunto e são entusiastas da reaproximação do Brasil com a África, prometida pelo presidente Lula depois do distanciamento, diplomático e comercial, causado pelo governo de Jair Bolsonaro, que não fez sequer uma visita oficial a um país africano.

“O que se espera é que o Brasil possa apresentar uma agenda concreta de iniciativas e ações, não apenas do ponto de vista governamental, mas também como incentivar a participação do setor privado” disse João Bosco Monte, fundador e presidente do Instituto Brasil África (Ibraf).

O presidente global da Fairfax Africa Fund, LLC (U.S), Zemedeneh Negatu, recomenda que o presidente priorize o continente africano em seu governo, em particular grandes países que são geopolítica e economicamente influentes, para além das suas fronteiras – com destaque para os três membros africanos do novo Brics, África do Sul, Etiópia e Egito, e a Nigéria, apontada como “a futura membro” do bloco de emergentes.

O investidor etíope-estadunidense também ressaltou que o Brasil deveria fortalecer o seu relacionamento com instituições pan-africanas, como a União Africana e o Banco Africano de Desenvolvimento. “Recentemente conheci muitas empresas brasileiras que estão interessadas em fazer negócios na África, mas que precisarão do apoio financeiro e diplomático do governo brasileiro para investir com sucesso ou mesmo para exportar os seus produtos”, disse.

Falta de estratégia

Mas nem todos os diplomatas e embaixadores que atuam em países africanos com os quais a reportagem conversou estão muito otimistas. Fala-se em falta de planejamento no Itamaraty para a África e a necessidade de mudança do discurso do presidente sobre o continente. “Essa mensagem de que ‘temos uma dívida histórica’ é ultrapassada, com todo o meu respeito às vítimas dos fatos históricos e seus descendentes, mas a África do século 21 quer ser vista de outra forma, como a China, Índia e Turquia estão olhando para ela, por exemplo”, disse um diplomata sob condição de anonimato.

O presidente do Ibraf destaca a importância de se falar em reparação, mas lembra que o momento agora é de ir além do discurso. “Precisamos apresentar um projeto mais ousado, trazer uma agenda de ideias e ações. Como empresas africanas podem se aproximar de parceiros brasileiros? Diversas nações já se aproximaram da África e muitas vezes sem qualquer ligação, como o Brasil tem, só que eles trazem uma agenda bem pragmática e o Brasil precisa apresentar isso para se reaproximar da África”, completou.

Estima-se que até 2050, um quarto da população mundial seja africana. A região é rica em minerais como coltan, que é fundamental para a produção de baterias de celulares, carros elétricos e outros equipamentos eletrônicos. A África tem hoje a população mais jovem do planeta e possui, principalmente, duas agendas em comum com o Brasil: mineração e agricultura.

O investidor Zemedeneh Negatu reforçou que o governo Lula deveria ampliar o apoio às empresas brasileiras. “A China – um membro fundador do Brics, como o Brasil – tem apoiado com sucesso empresas chinesas ao investir e comercializar na África. As principais economias europeias, como o Reino Unido e a França, também apoiaram as suas empresas para se expandirem na África. E ainda assim, o Brasil, a nona maior economia do mundo, tem uma presença muito pequena na África”, comparou.

O leste do gigantesco continente africano tem sido o foco do empresário Paulo Pan, à frente do grupo Beyond Africa, em especial por conta da importância regional crescente de Adis Abeba. “Justamente para trazer o benefício que a Etiópia tem hoje de ter uma companhia aérea fazendo voo direto, com uma infraestrutura aeroportuária importante e que sirva de conexão para levar os passageiros para Quênia, Tanzânia, Uganda”, sinalizou.

Uma das áreas de interesse do empresário é o esporte. “O Brasil e o continente africano, quase que como um todo, desfrutam da mesma paixão, que é o futebol. É a primeira base de movimento diplomático para aproximar qualquer um dos países africanos”, afirmou Paulo Pan, que já conduz um projeto com a Unesco no Camarões e pretende levá-lo para outros países africanos, aumentando, também, o intercâmbio esportivo com o Brasil.

Qualidade x quantidade de embaixadas

No fim do ano passado, o Itamaraty anunciou que o Brasil abrirá mais duas embaixadas no continente, em Serra Leoa e Ruanda, além do novo consulado-geral em Luanda. A notícia não foi muito bem recebida por todos no Itamaraty, que sabem da precariedade de alguns postos no continente africano onde os respectivos embaixadores trabalham sozinhos, como em Burkina Faso, Camarões e Togo.

Para o embaixador aposentado Paulo Roberto de Almeida, que atualmente é diretor de Relações Internacionais do Instituto Histórico e Geográfico de Brasília, o Brasil realmente “voltou”, como prega Lula, e haverá novas iniciativas em diferentes países. Mas ele acredita que não é certo que isso passe pelo número de embaixadas na região.

“Lula está trocando a qualidade pela quantidade. Existem muitas embaixadas em diferentes países africanos que estão efetivamente sublotadas, sem condições, portanto, de desenvolver um trabalho diplomático de maior escopo e amplitude cultural, econômica e comercial”, ponderou.

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) usa as letras A, B, C e D para classificar a importância dos postos nos países com os quais o Brasil se relaciona. Quase todos na África recebem as letras C ou D, o que significa que ainda são consideradas menos importantes para a política externa brasileira.

Com base da Lei da Acesso à informação, a reportagem pediu ao MRE as comunicações telegráficas das representações diplomáticas do Brasil no exterior referentes a sublotação, falta de recursos humanos, pedidos de contratação e condições dos posts C e D em 2022 e 2023. Alegando se tratar de uma solicitação muito ampla, o ministério pediu que a demanda fosse detalhada para não sobrecarregar o setor, com 8 servidores, destinado a este atendimento. Em uma pesquisa preliminar, 742 correspondências que poderiam se enquadrar no pedido foram encontradas.

A reportagem não recorreu por entender que a resposta já era suficiente para se ter uma noção sobre um problema que tem sobrecarregado alguns diplomatas que atuam na África.

Aberturas e fechamentos de representações diplomáticas

Entre 2002 e 2020, o Brasil abriu 18 embaixadas no continente africano, além do consulado-geral de Lagos, que sucedeu a embaixada brasileira na Nigéria quando esta foi transferida para Abuja. Jair Bolsonaro fechou três embaixadas na África (no Maláui, na Libéria e em Serra Leoa, que será reaberta pelo atual governo). Atualmente o Brasil tem 33 embaixadas e dois consulados-gerais em países africanos.

Ainda na opinião de Paulo Roberto de Almeida, é preciso pensar na relação custo-benefício e no quanto a abertura de novos postos custaria para o Itamaraty em termos de manutenção. “Uma embaixada não sai por menos de meio milhão de dólares por ano e o retorno às vezes não justifica”, disse.

No corpo diplomático há quem defenda que o MRE deveria designar um embaixador a mais para a Etiópia, trabalhando exclusivamente com a União Africana, função que hoje é acumulada pelo embaixador que também cuida da relação entre os governos brasileiro e etíope.

No ano passado, Lula esteve na África do Sul para a cúpula do Brics. Em seguida visitou Angola e São Tomé e Príncipe, onde participou da cúpula da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa).

Em Luanda, chegou a falar sobre empresas brasileiras voltarem a investir no continente africano, mas não apresentou qualquer projeto de incentivo.

“O Brasil, durante algum tempo, teve uma agenda de financiamento de projetos para empresas brasileiras em ambientes africanos. Eu me lembro da inauguração do escritório do BNDES em Joanesburgo, que foi muito bem recebido pela comunidade africana, pelos empresários do continente”, mencionou João Bosco Monte.

Este escritório, porém, foi fechado no governo de Michel Temer. “É importante que isso volte. Sem financiamento é muito difícil que empresas africanas e brasileiras possam dialogar”, ressaltou o presidente do Ibraf.

Este ano, Lula pretende fazer duas viagens para o continente africano. A segunda visita deve ser no segundo semestre, com Nigéria e Senegal provavelmente no roteiro. Ainda em 2024 o Brasil receberá representantes da União Africana e da África do Sul, membros do G20, no contexto da cúpula do bloco que este ano acontece no Brasil. Outros três países da África foram convidados pelo governo brasileiro para o evento: Angola, Nigéria e Egito.

Os primeiros concursos públicos para cargos na burocracia estatal - Gunter Axt Revista Estudos Institucionais

Ensaio seminal de Gunter Axt sobre a progressão da construção da burocracia racional-legal no Brasil, com destaque para o recrutamento via concursos públicos nas carreiras jurídicas do RS pré-moderno:

Estudos de Caso comparados sobre primeiros concursos para ingresso nas carreiras da Justiça e do Ministério Público no Brasil, entre a Primeira República e os anos 1950.

2024, Revista Estudos Institucionais, v. 10, n. 1, p. 87 - 116, jan./abr. 2024

O artigo procura comparar dados históricos sobre os primeiros concursos públicos para a magistratura no Rio Grande do Sul, ainda na Primeira República, ou seja, antes de 1930; para ingresso na carreira do Ministério Público do Rio Grande do Sul, realizado em 1941; do Ministério Público de Santa Catarina, realizados nos anos 1950, e do Ministério Público Militar, realizado entre 1956 e 1959. O texto baseia-se em um conjunto de fontes primárias, como entrevistas, matérias jornalísticas de época, correspondências e livros de registros dos primeiros concursos. Os eventos são analisados no contexto da inovação gerencial da modernidade, no sentido da construção burocrática racional-legal. O Brasil conheceu experiências pioneiras na realização de concursos públicos, os quais, inicialmente, ainda se viam expostos à clássica indistinção entre espaço público e privado, que caracterizou a formação social brasileira. 

Acesso:

https://www.academia.edu/113020252/Estudos_de_Caso_comparados_sobre_primeiros_concursos_para_ingresso_nas_carreiras_da_Justi%C3%A7a_e_do_Minist%C3%A9rio_P%C3%BAblico_no_Brasil_entre_a_Primeira_Rep%C3%BAblica_e_os_anos_1950 


Bibliografia primorosa; fontes primárias.

Recomendo enfaticamente aos que se interessam por estudos institucionais. (PRA)



Postagem em destaque

Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida

Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...