sábado, 4 de maio de 2024

Revista Crusoé: seis anos de sucesso. Viva a Crusoé! Viva o jornalismo de boa qualidade!

 

6 anos de Crusoé: vigilância sem descanso

A revista Crusoé completa neste sábado, 4 de maio, seis anos de existência.

Ao longo de 313 edições, a revista se manteve fiel à sua linha editorial, definida em um primeiro comunicado aos leitores de O Antagonista.


Em um email convidando as pessoas para assinarem seu conteúdo exclusivo, o tom cético contra o poder aparecia nas primeiras linhas: “Ninguém aguenta mais as patacoadas dos nossos políticos. Eles nos fazem de bobos“.


Em um universo dominado por uma imprensa dócil e por redes sociais repletas de desinformação, Crusoé seguia os passos de O Antagonista e prometia um jornalismo independente e vigilante.


“Nosso compromisso será deixar você muito bem informado e bem distante das mentiras disseminadas nas redes sociais. Você fará parte de um grupo exclusivo que vai saber sobre os acontecimentos mais importantes, como eles de fato ocorreram, sem interferência de versões enviesadas. Para atingir esse propósito, vamos manter nossos governantes sob vigilância dia após dia, sem descanso“, dizia a mensagem.


Ao praticar os seus princípios, Crusoé enfrentou diversos problemas.


A reportagem de capa “O amigo do amigo do meu pai“, revelando o codinome usado na empreiteira Odebrecht para se referir ao ministro do STF Dias Toffoli, foi uma das primeiras publicações usadas para vitaminar o “inquérito do fim do mundo”, comandado por Alexandre de Moraes, desde 2019. A revista foi censurada sob a alegação de que o documento com o codinome não existia, mas em poucos dias a acusação foi desmentida, e a reportagem voltou ao ar (neste link, o conteúdo está aberto para não assinantes).


Enquanto a maior parte da imprensa fica de joelhos, Crusoé tem mantido um olhar crítico ao Supremo Tribunal Federal, o STF, e a seus ministros.


Defensora do combate à corrupção, Crusoé é o veículo que mais tem denunciado as iniciativas de enterrar operações que mudaram radicalmente o clima de impunidade para os poderosos, sempre vigente no país.


Crusoé também tem sido implacável com os abusos e equívocos dos presidentes de turno, seja Jair Bolsonaro ou Lula, apontando os conchavos nos corredores da República e as ideologias retrógradas que acometem tanto a esquerda quanto a direita.


Por fim, Crusoé é o veículo que traz as melhores análises na área de internacional, denunciando a aproximação do governo brasileiro com ditaduras e mostrando o impacto que os fatos internacionais têm na vida dos brasileiros.


Agradecemos você leitor (assinante e não assinante) que faz com que o conteúdo produzido semanalmente pela Crusoé ganhe repercussão e vire pauta de discussões criticas sobre os caminhos da democracia.

Redação Crusoé

Crusoé - Uma ilha no jornalismo


O cabidão da República 

A edição 313 da revista Crusoé traz na capa a reportagem “O cabidão da República – Lula volta a contratar, mas mantém ineficiência e privilégios da elite do funcionalismo”.

O texto, assinado por Carlos Graieb e Duda Teixeira, fala sobre o Concurso Unificado do governo federal, o “Enem dos Concursos“, para preencher 6.690 vagas na administração pública.


A matéria fala da propensão petista em inchar a máquina pública e critica a falta de um estudo prévio de dimensionamento da administração federal, que deveria ser feito antes das contratações. Os jornalistas também ressaltam que outras opções de contratação poderiam estar sendo utilizadas. Além disso, a falta de um processo para avaliar as competências dos servidores faz com que eles sejam um peso muito grande no orçamento, pois se tornam um encargo que costuma durar 60 anos.


Outro ponto a destacar é a existência de uma “hiperelite” no funcionalismo, que ganha salários muito altos e gozam de muitos privilégios — e acabam se tornando referência para os demais servidores, que ganham bem menos.


Comunicação camarada 


O jornalista Wilson Lima, de Brasília, escreve uma reportagem sobre o seu próprio furo de reportagem, dado na semana passada. No dia 23 de abril, ele divulgou nas redes sociais o resultado antecipado de uma licitação da Secretaria de Comunicação da Presidência, Secom, comandada pelo petista Paulo Pimenta. Deputados e senadores pediram esclarecimentos e a Secom será obrigada a responder judicialmente sobre o caso. Pimenta reagiu dizendo que a divulgação antecipada da licitação era uma “fake news“.


O mensageiro da justiça 


O repórter Gui Mendes fala sobre a maior operação contra a corrução de Santa Catarina, que prendeu 6% dos prefeitos do estado.


O Temer argentino, pero no mucho


O correspondente em Buenos Aires, Caio Mattos, compara as medidas do presidente Javier Milei para flexibilizar o mercado de trabalho com a reforma trabalhista brasileira, aprovada durante o governo de Michel Temer, em 2017.


Sundfeld: “O Brasil dá dinheiro demais ao Judiciário e ao MP” 


Carlos Graieb entrevista o professor de Direito Público Carlos Ari Sundfeld, professor da FGV-SP, para falar sobre a “hiperelite” no funcionalismo, que prejudica a prestação de serviços à população.


COLUNISTAS DA SEMANA 


Redação Crusoé

O Antagonista - Jornalismo Vigilante


A fraude “decolonial” e o “ O ópio dos estudantes” - Demetrio Magnoli (FSP)

Sempre considerei essa febre “decolonial” que atingiu de forma avassaladora as academias dos países outrora colonizadores, e que de lá se espalhou pelas nossas universidades, uma FRAUDE INACREDITÁVEL, e me perguntava como pessoas aparentemente inteligentes se deixaram seduzir pelo besteirol completamente sem sentido, sobretudo num país “colonizado” como o nosso. O mimetismo idiota desses “decoloniais” é algo surpreendente para pessoas aparentemente educadas, alfabetizadas e diplomadas como os nossos universitários lobotomizados por essa mania imbecil.

Paulo Roberto de Almeida 

O ópio dos estudantes

Demétrio Magnoli

Folha de S. Paulo, 04/05/2024

Tese 'decolonial' espalhou-se entre professores universitários e salas de aula

"O Ópio dos Intelectuais", obra do filósofo Raymond Aron publicada em 1955, referia-se ao marxismo e brincava com a caracterização da religião, por Karl Marx, como o "ópio do povo". A religião laica dos intelectuais fez seu caminho até os estudantes e, bem diluída nos líquidos do pacifismo e do terceiro-mundismo, deixou uma marca nas manifestações contra a Guerra do Vietnã. De lá para cá, porém, foi substituída por outra doutrina dogmática: a tese "decolonial".

Assim como o marxismo, a nova doutrina espalhou-se entre professores universitários, gotejou para as salas de aula e, finalmente, emergiu no palco das manifestações contra a guerra em Gaza nos campi dos EUA. Sua síntese aparece num cartaz exposto no acampamento de protesto da Universidade George Washington: "Palestina livre. Os estudantes voltarão para casa quando os israelenses voltarem para a Europa, os EUA etc (seus lares verdadeiros)".

Aron apontava o fracasso moral dos intelectuais marxistas, que desprezavam a "democracia burguesa" enquanto condescendiam com os regimes totalitários do "socialismo real". O movimento "decolonial" segue rumo paralelo, eximindo governos autoritários e organizações antidemocráticas que se apresentam como rivais do Ocidente. Nos campi dos EUA, brados estudantis misturam a reivindicação de interrupção da guerra com lemas clássicos do Hamas.

As religiões invocam a palavra sagrada: razão transcedental. Os marxistas e os "decoloniais" invocam a História, com H maiúsculo: as "leis históricas", no primeiro caso, ou a justiça histórica reparatória, no segundo. Mas, como as religiões tradicionais, as religiões políticas almejam a redenção – e é isso que as torna sedutoras.

O triunfo do proletariado e o advento do socialismo assinalam a redenção marxista. A tese "decolonial", um estilhaço da política identitária, enxerga o mal absoluto na expansão global europeia (isto é, "branca"), fonte da opressão sobre os "povos originários" e a "diáspora africana". Para eles, a redenção não está no futuro, mas num passado mítico que precisaria ser restaurado.

O grupo dirigente dos protestos na Universidade Columbia declara os EUA e o Canadá nações ilegítimas, formadas por colonos europeus que oprimem os negros e ocupam terras indígenas. O cartaz do acampamento na George Washington exige que os "invasores" judeus saiam do Oriente Médio. Daí, os cânticos de "Palestina livre do rio até o mar" (e, ainda, "por qualquer meio necessário", uma senha costumeira destinada a legitimar o terror do 7 de outubro).

A derrapagem "decolonial" dos protestos limitou o alcance da mobilização estudantil. Sonhava-se reeditar o movimento contra a Guerra do Vietnã. Não por acaso, invadiu-se o Hamilton Hall, palco de uma célebre ocupação em 1968. Há 56 anos, o movimento dos estudantes gerou passeatas imensas e uma crise política nacional. Os acampamentos atuais, pelo contrário, reuniram apenas minorias significativas. A nódoa do antissemitismo afastou a maioria dos estudantes, mesmo diante da criminosa punição infligida por Israel aos civis de Gaza.

A tese "decolonial", como o marxismo, oferece uma explicação unívoca sobre as injustiças sociais. Intelectuais adoram o poder de reduzir tudo a uma equação totalizante bastante simples – e os jovens, mais ainda. Contudo, o vício no marxismo tinha uma porta de saída que inexiste no ópio "decolonial".

O que fazer quando fica claro que a promessa brilhante do socialismo conduzia, inexoravelmente, à cinzenta realidade do totalitarismo? Havia uma saída consistente com o núcleo moral das ideias socialistas: o reformismo social-democrata. Mas para onde podem ir os jovens ativistas "decoloniais" ao descobrirem a impossibilidade de reverter a seta do tempo e cancelar o mundo nascido da expansão europeia? Resta-lhes, somente, angústia, desespero e cinismo.

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Grato a Augusto de Franco pela transcrição.

sexta-feira, 3 de maio de 2024

Encyclopedia of South American History: contributions by Paulo Roberto de Almeida (para publicação em 2025)

 

Encyclopedia of South American History: contributions by Paulo R. Almeida

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com; pralmeida@me.com)

Relação e textos das contribuições preparadas para a Encyclopedia of South American History, com publicação prevista para 2024, Blomsbury Publisher.

 

 

Relação das contribuições preparadas em 2021 para o projeto coordenado pelo Prof. Micheal Tarver, para uma Enciclopédia de história da América do Sul, originalmente a cargo da editora ABC-CLIO, adquirida em 2021 pelo grupo Bloomsbury. 

 

Contribuições de Paulo Roberto de Almeida:

1)    3970. “Tordesillas, Treaty of (1494)”,

2)    3974. “Bandeiras”, Brasília, 12 Sept 2021, 3 p.; 1.074 words. 

3)    3976. “Bandeirantes”, Brasília, 12Sept 2021, 3 p., 1235 word. 

4)    3979. “Andrada e Silva, José Bonifácio de”, Brasília, 18 Sept 2021, 3 p.; 1.071 word.

        3980. "“Brazil, Independence Movement”, Brasília, 19 Sept 2021, 5 p. 


As eleições na Venezuela e o Brasil - Rubens Barbosa (Editorial revista Interesse Nacional)

Editorial revista Interesse Nacional

Rubens Barbosa

As eleições na Venezuela e o Brasil

Governo Lula diz ter a América do Sul como prioridade na política externa, mas está a reboque dos acontecimentos na região e teve sua liderança suplantada pela Colômbia na negociação por eleições limpas e paz política na Venezuela

Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, durante reunião em Bogotá (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

A política externa brasileira em relação à Venezuela pode ser classificada como de “ambiguidade estratégica”. Se de um lado mantém apoio ao presidente Maduro e a seu regime autocrático, por outro tenta intermediar a crise de Caracas com a Guiana e morde e assopra em relação às medidas restritivas colocadas em vigência por Maduro contra seus principais opositores e potenciais candidatos com chances nas próximas eleições presidenciais no final de junho. 

O Brasil talvez seja o país que tem o maior interesse na transição democrática e na volta ao crescimento com a redução da pobreza na Venezuela. Isso se dá  pela dívida em relação ao Brasil, pela redução significativa do comércio bilateral, pelo fluxo de refugiados venezuelanos no Brasil (operação acolhida que só em 2023 recebeu mais de 192 mil refugiados, mais de 18% em relação a 2022) e pelo combate ao crime transnacional na Amazônia (drogas, armas).

‘Enquanto a política brasileira procura não interferir na situação política interna da Venezuela, a Colômbia adotou uma postura muito mais proativa’

Enquanto a política brasileira procura não interferir na situação política interna (Lula disse que a Venezuela é um país democrático porque tem mais eleições do que no Brasil), a Colômbia, que pela primeira vez elegeu um presidente de esquerda, adotou uma postura muito mais proativa, procurando contribuir concretamente para o encaminhamento transparente da campanha eleitoral e dos resultados das urnas.

 Colômbia e Venezuela chegaram a romper relações diplomáticas por três anos após o então presidente colombiano (Ivan Duque) não reconhecer a eleição de Maduro em 2018, após denúncias de fraude. Quando o atual presidente Gustavo Petro foi eleito, Caracas e Bogotá retomaram as relações, mas Petro manteve sua posição de independência, com críticas `à condução do processo eleitoral venezuelano, especialmente da decisão da justiça eleitoral com o apoio de Maduro, de excluir Maria Corina Machado, escolhida como a única candidata oposicionista às eleições presidenciais. Apesar disso, manteve um canal aberto para outras áreas (comércio, conversações com grupos guerrilheiros, refugiados, crise com a Guiana e com Equador pela ocupação da embaixada do México).

Dado o ativismo colombiano nas questões venezuelanas, o presidente Lula visitou o presidente Petro, em Bogotá, e certamente esses temas foram tratados, além da relação bilateral com o Brasil e questões ambientais na Amazônia.

‘Petro visitou Maduro e a oposição venezuelana para apresentar proposta para conseguir concretizar a “paz política” na Venezuela, aspecto fundamental de sua política externa’

Depois do encontro com Lula, Petro, em 10 de abril passado, visitou oficialmente Maduro e, na ocasião, reuniu-se também com a oposição venezuelana para apresentar proposta para conseguir concretizar a “paz política” na Venezuela, o que Petro considera como um aspecto fundamental de sua política externa.

Tal proposta parte do princípio de que há uma divisão do país, como evidenciado pela unidade das oposições em torno de Maria Corina Machado, inabilitada pela Justiça Eleitoral, assim como Corina Yores, apontada por Maria Corina para substituí-la nas urnas. E para buscar superar a crise política e econômica que afetou profundamente a população, com a saída de pelo menos 7,5 milhões de pessoas, desde 2018, segundo o Alto Comissário da ONU para Refugiados.

‘O plano colombiano consistiria em um acordo entre os principais atores políticos do país, pelo qual governo e oposição respeitariam o resultado das eleições e se comprometeriam a não perseguir os grupos derrotados’

O plano colombiano consistiria em um acordo entre os principais atores políticos do país, pelo qual governo e oposição respeitariam o resultado das eleições e se comprometeriam a não perseguir os grupos derrotados na disputa eleitoral, e um plebiscito no qual a população será chamada a chancelar ou não o acordo. Essa proposta – que em outras palavras – representa a sugestão que a classe política venezuelana repita o que outros países latino-americanos já fizeram na transição de regimes autoritários, militares, para governos civis: negociar e aprovar uma lei de anistia.

Pouco tempo depois, a Plataforma Unitária Democrática, a oposição unida, decidiu retirar todos os candidatos que poderiam representá-la e inscrever como candidato o diplomata Edmundo González Urrutia, que foi embaixador da Venezuela na Argentina. A mensagem que ele traz é de diálogo com o governo e com as Forças armadas  e de reconciliação nacional.

A combinação dessa proposta com a decisão da oposição de inscrever o embaixador Urrutia como candidato único contra Maduro, coloca o atual governo da Venezuela em uma posição difícil. Se vetar, a candidatura de Urrutia, se colocará contra a opinião pública internacional, sobretudo os EUA e seus vizinhos, em especial, a Colômbia e o Brasil. Se aceitar, corre o risco de perder a eleição, que será fiscalizada por observadores independentes para assegurar a lisura e a transparência. Quanto à proposta colombiana, até aqui, não houve reação do governo de Maduro. Se for recusada, o governo Maduro perde uma última oportunidade de buscar com a oposição uma saída negociada para a crise política. 

A reeleição de Maduro, contra todos os esforços em busca de uma eleição transparente e democrática, resultará em novas sanções dos EUA contra Caracas e colocará mais um grande problema para a política externa de Lula. 

O governo Lula, que coloca entre suas prioridades a América do Sul, está a reboque dos acontecimentos na região. Se houvesse liderança, o Brasil deveria ter se antecipado à Colômbia e apresentado uma proposta, como a lei de anistia, a exemplo do que ocorreu aqui. Agora, vazou a informação de que a proposta colombiana pode ser apoiada por Lula, desde que ela seja aceita por todas as partes venezuelanas envolvidas, o que colocará novamente em cheque a política externa em relação à Venezuela. Caso Maduro rejeite a sugestão de Petro ou o candidato da oposição seja impedido, como reagirá Lula, que apoiou a escolha de Urrutia?

Rubens Barbosa: Presidente e fundador do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). É presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Trigo (Abitrigo), presidente do Centro de Defesa e Segurança Nacional (Cedesen) e fundador da Revista Interesse Nacional. Foi embaixador do Brasil em Londres (1994–99) e em Washington (1999–04). É autor de Dissenso de Washington (Agir), Panorama Visto de Londres (Aduaneiras), América Latina em Perspectiva (Aduaneiras) e O Brasil voltou? (Pioneira), entre outros.

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