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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Os Brasilianistas, versão 2010

Os comentários abaixo, sobre as características atuais dos pesquisadores e estudiosos do Brasil no exterior, foram elaborados para responder a questões de um jornalista.
Paulo Roberto de Almeida

Há uma crença, em diferentes meios, de que os brasilianistas andavam “desaparecidos” e que, não mais que de repente, com o governo Lula, eles voltaram à berlinda, ou novos brasilianistas vieram substituir os antigos, que já estavam aposentados há muito.
Nada mais equivocado. Os brasilianistas continuam onde sempre estavam: fazendo pesquisas sobre o Brasil em universidades americanas (com menor incidência em outras universidades, de países europeus, por exemplo), dando cursos de pós-graduação e orientando trabalhos de mestrado ou de doutoramento em temáticas brasileiras, viajando regularmente ao Brasil e mantendo programas de cooperação com departamentos, faculdades ou institutos de estudo e de pesquisa no Brasil.
A impressão equivocada de que eles tinham “saído de cena” se prende, na verdade, à própria situação política brasileira desde a redemocratização. Os brasilianistas foram relevantes, em certa medida, durante o regime militar e certa “repressão” – na verdade mais constrangimentos do que obstáculos absolutos – a estudos sobre os militares, por exemplo, ou sobre os movimentos de esquerda e outros temas considerados sensíveis durante aquele período. Os brasilianistas não tinham problemas, aparentemente, em manter contato com a imprensa e dar entrevistas sobre questões econômicas e políticas, às quais era dado o devido destaque nos meios de comunicação do Brasil, mais, aparentemente, do que pesquisas ou entrevistas de seus colegas brasileiros. Embora essa seja apenas uma impressão subjetiva, sem maior fundamentação na realidade, ela tinha alguma razão de ser, inclusive pelo acesso de alguns brasilianistas a personalidades do regime, aparentemente fora do alcance dos pesquisadores brasileiros (o que também não corresponde inteiramente à verdade).
Não existe uma “nova onda” de brasilianistas, embora a própria evolução do Brasil – social, política, econômica e internacional –, de um lado, e as novas tendências metodológicas e temáticas na academia americana, de outro lado, tenham levado os estudos brasileiros nas universidades americanas a novos focos de interesse.
É preciso considerar que os brasilianistas “clássicos”, se assim podemos chamá-los – correspondendo à geração conhecida como “filhos de Fidel”, ou seja, os que receberam ajuda governamental para aumentar o conhecimento americano sobre os países da região que poderiam conhecer evolução similar à de Cuba – trataram de realizar pesquisas de largo espectro, produzindo obras de síntese sobre o desenvolvimento econômico e político do Brasil que se tornaram incontornáveis na bibliografia especializada. Pode-se também dizer que eles participaram do processo de estabelecimento e consolidação dos programas de pós-graduacao no Brasl, naquela época (início dos anos 1960) ainda inexistentes ou iniciantes. Uma vez realizada a “substituição de importações” na área de pós-graduação, o Brasil se tornou menos dependente dessas vozes e opiniões. Na redemocratização, sua importância pareceu diminuir, mas eles continuaram onde sempre estiveram, fazendo seu trabalho metódico e bem fundamentado de pesquisa e elaboração de trabalhos sobre o Brasil.
Deve-se esclarecer que os brasilianistas “só existem” no Brasil, pois nos EUA eles são professores de suas especialidades respectivas, dando aulas de graduação de história, ciências políticas, antropologia, etc. Na pós-graduação, eles podem focar mais diretamente no Brasil, e alguns se tornam quase exclusivos nessa área, mas nunca totalmente.
Nas últimas décadas, as universidades americanas foram “assoladas” por novos campos e novos métodos de pesquisa, como micro-história, gênero, história cultural, etc, o que explica, também, que os novos brasilianistas tenham se dedicado a novas temáticas que seus orientadores da geração anterior. O termo brasilianista só deveria ser aplicado, de fato, se as novas gerações fizessem do Brasil seu foco principal de estudo, o que nem sempre é o caso. Não existe uma demanda específica por brasilianistas nas universidades americanas, sendo mais comum os estudos latino-americanistas (e quase todas as faculdades de humanidades mantêm programas interdisciplinares, geralmente historiadores, sociólogos e antropólogos, de estudos latino-americanos).
Surgem, assim, trabalhos específicos sobre a mulher, sobre os homossexuais, sobre aspectos de nossa história cultural e, crescentemente, sobre estudos de meio ambiente. Também se conservam as velhas especialidades, com trabalhos sobre movimentos sociais, história e sistema político, desenvolvimento econômico e outros na mesma linha tradicional. Samba e futebol podem ser, e são estudados, mas mais pelo enfoque cultural, ou antropológico, que não tem nenhuma conotação “exótica”, e sim com apoio em metodologias consagradas nesses campos de estudo.
Pode-se dizer que o campo de estudos brasileiros se caracteriza hoje por uma intensa troca de experiências e intercâmbio de estudos especializados entre brasileiros e “estrangeiros”, tanto que os encontros de especialistas de estudos brasileiros – seja na Latin American Studies Association, LASA, ou a própria BRASA – reúnem igual número de “estrangeiros” (ou americanos), e brasileiros.
Pode-se dizer que o interesse pelo Brasil cresceu muito nos últimos anos no plano jornalístico, e talvez isso tenha reflexos no meio acadêmico, mas seria preciso uma averiguação mais cuidadosa. Certamente a presença de Lula à frente do Brasil, sua forte projeção no exterior – bem mais no plano jornalístico, volta-se a sublinhar – pode ter sido responsável por esse aparente “renascimento” dos estudos brasileiros, inclusive em países não tradicionais no campo (como a China, por exemplo). Mas os programas acadêmicos seguem ritmo próprio, que não é direta ou imediatamente impactado pela realidade jornalística. Pode-se, provavelmente, detectar maior afluxo de estudiosos da língua portuguesa do Brasil nos programas de letras, mas a abertura ou consolidação de novos campos de estudo, com recrutamento adicional de novos pesquisadores e professores focados exclusivamente nos estudos brasileiros se faz em ritmo mais lento, correspondendo aos interesses dos próprios pesquisadores dentro do campo mais consagrado de estudos latino-americanos.
De novo mesmo na área brasilianista é a criação do Instituto de Estudos Brasileiros Jorge Paulo Lemann (Lemann Institute for Brazilian Studies), na Universidade do Illinois em Urbana-Champaign, dirigido pelo professor Joseph Love, um historiador consagrado da primeira geração. Mas, se trata de uma iniciativa do conhecido investidor brasileiro para estimular o intercâmbio acadêmico nos dois sentidos, e talvez até para formar quadros de qualidade nos problemas do Brasil dos dois países, sem a mesma conotação dos antigos programas “brasilianistas” da era da Guerra Fria. Acredito que esse Instituto, que deverá acolher o Secretariado da Brazilian Studies Association em 2011, e realizar o próximo congresso da Brasa naquela cidade em 2012, constituirá um importante fator de estímulo aos estudos brasileiros nos EUA, podendo acolher também pesquisadores de diversos outros países. Trata-se de excelente iniciativa capaz de moldar a próxima geração de estudiosos brasileiros nos EUA, quando a primeira – dos quais um dos principais representantes é o Professor Werner Baer, que é justamente, “Lemann Professor of Economics” da University of Illinois at Urbana-Champaign – já está praticamente se aposentando quando não chegando ao seu termo lógico.

Paulo Roberto de Almeida (Shanghai, 25 de agosto de 2010)

As FARC na Unasul - BBC Brasil

No que depender de certas pessoas, a proposta será acolhida como uma "boa proposta" e instada a ser acolhida. Não preciso dizer quem...

Farc propõem reunião com Unasul sobre conflito na Colômbia
BBC Brasil, 23 de agosto de 2010

O ex-presidente Uribe iniciou uma ofensiva que enfraqueceu as Farc

As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) divulgaram uma carta nesta segunda-feira em que propõe apresentar à Unasul (União de Nações Sul-Americanas) sua visão sobre o conflito na Colômbia.
"Presidentes, em qualquer data considerada por vocês apropriada, gostaríamos de apresentar nossa visão do conflito colombiano a uma assembleia da Unasul", disse a mensagem do maior grupo rebelde colombiano.
“O drama humano da Colômbia pede a mobilização e a solidariedade continentais.”

A proposta foi descartada pelo governo colombiano.

O vice-presidente do país, Angelino Garzón, rejeitou a ideia de intermediários para resolver o problema da guerrilha, que já dura quatro décadas, e disse que as Farc devem "dizer ao povo colombiano que a violência não tem sentido".

Segundo ele, os guerrilheiros devem liberar todos os reféns "incondicionalmente" e abandonar o terrorismo se quiserem iniciar negociações de paz com o novo governo, do presidente Juan Manuel Santos.

Proposta
As Farc vêm perdendo força nos últimos anos, quando o governo de Bogotá reforçou a presença militar em áreas da guerrilha, eliminando seus principais comandantes.

O grupo também vem sofrendo com deserções – embora, segundo analistas, ainda tenha força em áreas rurais, usando o tráfico de cocaína para financiar suas operações.

A última vez que o governo colombiano dialogou com as Farc foi entre 1999 e 2002, durante o governo do presidente Andrés Pastrana, quando o governo criou uma área desmilitarizada no sul do país, do tamanho da Suíça, para receber as negociações.

Mas elas fracassaram, e o sucessor de Pastrana, Álvaro Uribe, instituiu uma política de linha-dura, com o aval do governo americano.

Uribe encerrou neste ano seu período de oito anos na presidência colombiana com alta popularidade e viu Santos, seu candidato, sucedê-lo no cargo.

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Matéria no El Nuevo Herald (Miami):

Las FARC quieren la intervención de Unasur
Bogotá – AP – 24/08/2010

En un inusual mensaje regional, las FARC ratificaron su disposición al diálogo político y propusieron exponer su visión sobre el conflicto colombiano ante una cumbre de mandatarios de la Unión de Naciones Suramericanas (Unasur), según un mensaje de la guerrilla que se dio a conocer el lunes.

“Aunque el gobierno de Colombia mantiene cerrada la puerta del diálogo con la insurgencia, acicateado por el espejismo de una victoria militar y la injerencia de Washington, queremos reiterar a la Unión de Naciones del Sur, Unasur, nuestra irreductible voluntad de buscar una salida política al conflicto”, dijo la jefatura de las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC) en un comunicado.

“Señores presidentes: cuando lo estimen oportuno estamos dispuestos a exponer en una asamblea de Unasur nuestra visión sobre el conflicto colombiano”, agregó “el secretariado”, o jefatura de siete comandantes de las FARC en su pronunciamiento, difundido en el sitio de internet de la Agencia de Noticias Nueva Colombia (Anncol), que suele divulgar comunicados de laguerrilla.

Tradicionalmente, las FARC han manifestado su disposición al diálogo o conversaciones de paz con los sucesivos gobiernos colombianos, y en contadas ocasiones hacen tal manifestación a la comunidad internacional en cartas abiertas, como la conocida el lunes.

El gobierno del presidente Juan Manuel Santos, que asumió el cargo el 7 de agosto, ha dicho que su administración está abierto al diálogo con la insurgencia, pero sólo si ésta da señales concretas de paz como el cese de los ataques armados, detiene los secuestros y extorsiones, así como manifiesta su deseo de deponer las armas.

Consultado por reporteros en la casa de gobierno sobre la iniciativa de la guerrilla, el vicepresidente Angelino Garzón ratificó la postura oficial de que la insurgencia debe primero cesar sus actos violentos.

“Esa violencia no tiene sentido, no tiene justificación”, dijo el funcionario, al desestimar además una eventual participación de terceros países para un diálogo.

“El propio Presidente de la República ha dicho que él, para construir caminos de paz, no necesita intermediarios”, indicó Garzón.

Las FARC, surgida en 1964, es actualmente la guerrilla activa más antigua de la región.

A miopia da política externa brasileira - Rubens Ricupero

Devo dizer, de imediato, que não concordo com o título dado pelo autor. Miopia é uma condição não provocada: ela existe, ou surge, independentemente da vontade do portador. Neste caso, talvez se trate de cegueira voluntária, ou viseiras deliberadas, se não for perversão política e compulsão ideológica para estar ao lado de ditaduras abjetas...
Paulo Roberto de Almeida

Miopia moral
Rubens Ricupero
Gazeta do Povo, Domingo, 22 de agosto de 2010.

Quem faz elos estratégicos com regimes ditatoriais vende a própria alma e joga fora valores éticos

Cumplicidade interna com a corrupção sob pretexto de governabilidade e complacência externa com tiranos e violadores de direitos humanos em nome do realismo são as manchas principais da situação que se vive hoje no Brasil.

Nos dois casos, os valores morais e o aperfeiçoamento da democracia são sacrificados a ganhos imediatistas. É a miopia moral que se concentra nos lucros perto e não enxerga os prejuízos a maior distância.

Em artigo intitulado ‘A democracia precisa de confiança’, o ‘clarificador da cultura política’ italiana Norberto Bobbio explicava porque nenhum regime democrático sobrevive à corrupção sistêmica e institucionalizada.

A condição da possibilidade da democracia, ensinava, é a confiança recíproca entre os cidadãos e destes nas instituições. A corrupção generalizada aniquila a confiança e provoca a degeneração das instituições, incapazes de funcionar bem.

Cedo ou tarde o processo termina por destruir os governos. O suicídio de Vargas em 1954 resultou da ocasião oferecida pela corrupção ao moralismo lacerdista. Em 1992, sem interferência do moralismo, de novo a corrupção conduziu-nos a crise gravíssima.

Uma estratégia eleitoral baseada em aliança com partidos estruturalmente dependentes da corrupção pode até ganhar eleições no presente ao custo de semear desgraça e crise futuras.

Quem promove tais estratégias assume grave responsabilidade perante a história; quem vota por elas não ignora que contribui para pôr em risco todos os avanços recentes no país.

Não é moralismo cumprir quase o dever médico de alertar que o mesmo vírus de doença passada acabará por produzir efeito igual no organismo da nação.

No plano externo, chamar de estratégica relações com regimes ditatoriais que condenam mulheres ao apedrejamento pode também conquistar aplausos ideológicos ou lucros comerciais. Contudo, quem faz isso vende a própria alma, jogando fora os valores éticos e arruinando o prestígio nascido do exemplo.

Os americanos desmoralizaram os ideais de sua diplomacia com o apoio a ditadores militares na América Latina e os crimes no Iraque.

Para o Brasil, país que não é potência militar nem econômica, só dispondo do poder da persuasão e do exemplo, ainda é mais grave, pois nos empobrecemos do nosso único trunfo e riqueza.

No exterior já se multiplicam artigos afirmando que o Brasil é o melhor amigo dos tiranos e que nossa política errática e irresponsável ameaça a aspiração a membro permanente do Conselho de Segurança.

Argentina e México, também candidatos da América Latina, são exemplares na atuação no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, contrastando com o Brasil, aliado de Cuba, Paquistão e demais bloqueadores da investigação e luta contra as piores violações na Coreia do Norte, Irã, Congo, Sri Lanka, Darfur etc.

Alega o governo preferir agir em silêncio, mas, quando podia, nada fez para ajudar a liberar prisioneiros em Cuba. Pressionado pela opinião, teve de intervir de público em favor da condenada no Irã.

Essa incoerência revela calculismo oportunista e confusão de valores. O calculismo, porém, tem fôlego curto: no longo prazo liquidará a governabilidade e o prestígio externo.

Rubens Ricupero é diretor da Faculdade de Economia da Faap e do Instituto Fernand Braudel de São Paulo, foi secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e ministro da Fazenda no governo Itamar Franco.

Um sindicato de assaltantes dos recursos publicos: ela mesmo, a FIESP (2)

Desfaçatez em escala industrial
MARCELO DE PAIVA ABREU
O ESTADO DE SÃO PAULO, 23/08/10

Decididamente, há algo de podre no reino da Dinamarca. A farta lubrificação fiscal promovida pelo governo para eleger a sua candidata tem feito os agraciados com as suas benesses perder a compostura na defesa de seus interesses privados, quase sempre tentando confundi-los com os interesses do País.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) concedeu memorável entrevista (jornal Valor de 17/8), em que defende as políticas públicas que o Brasil deveria adotar. As importações deveriam ser "penalizadas", controladas quantitativa e qualitativamente, o Brasil teria que, "de alguma forma, se fechar". "O duro é aumentar salário para o cara consumir bem importado." "Importação benéfica para o país é aquela que complementa além do limite (que é possível) produzir. Se há demanda para 105 e produzimos 100, assim os 5 vêm de fora, para equilibrar a inflação." A taxa Selic deveria ser reduzida para permitir a desvalorização cambial. "A nossa taxa deveria ser um ou dois pontos porcentuais acima da inflação."
"Precisamos de três bancos como o BNDES para atender à demanda por investimentos." "Essa discussão sobre o BNDES é secundária e inoportuna."
Não há qualquer referência às raízes microeconômicas das dificuldades competitivas da indústria. Tudo é resultado da política macroeconômica indevidamente restritiva e do dumping praticado pelos nossos parceiros comerciais.

O primitivismo é estarrecedor. O modelo de crescimento advogado combina acesso a fontes de financiamento subsidiado do investimento, insumos baratos e reserva de mercado. Tudo apresentado como se fosse novidade e bom para todos nós. Em que isso se diferenciaria do que foi feito no passado? Muitas décadas de protecionismo redundaram em gordos lucros para os cartórios protecionistas e muito pouca inovação. Como é mesmo que essa tradição seria contrariada? O entendimento do presidente da Fiesp do que seja comércio internacional é uma completa sandice: os preços não têm função, o papel das
importações é meramente residual. Há clara tolerância quanto à aceleração inflacionária. O que se prega não tão veladamente é o abandono do regime de metas de inflação. Não interessa quem paga a conta da proteção ou da inflação. E o lamento vem de um empresário cujos negócios vêm sendo beneficiados por notável aumento de preços de commodities.

Em vista da pobreza da argumentação, a entrevista não é eficaz nem mesmo como defesa de interesses setoriais. Se a Fiesp desejasse seriamente abrir caminho para a redução de juros, deveria concentrar suas baterias na contenção de gastos públicos. E a agenda para reduzir o custo Brasil é longa: melhoria da infraestrutura, incentivos à inovação com o uso de subsídios seletivos. Não há objeção a gasto público efetivamente contracíclico - e não fantasiado de contracíclico - nem a defesa comercial sem viés protecionista.

A entrevista veio na esteira de um manifesto em defesa do BNDES, assinado por entidades que congregam empresas que se beneficiam dos empréstimos a taxas subsidiadas do próprio BNDES. Que valor efetivo pode ter manifestação que simplesmente afirma o seu apoio a um sistema que lhe permite acesso a benefícios que não são universalmente disponíveis. Tenho certeza de que 190 milhões de brasileiros assinariam um documento que expressasse a sua preferência por maior volume de recursos do que hoje dispõem. Tal documento, ao simplesmente expressar um axioma conhecido sobre o comportamento dos
agentes econômicos, seria tão trivial quanto o manifesto dos comensais da farra do BNDES.

O manifesto foi duramente criticado por analistas que questionaram a concessão de subsídios a projetos de duvidoso interesse público, a falta de transparência que cerca as operações do banco e as artimanhas que estão sendo utilizadas pelo governo para violar as suas próprias metas fiscais. E não é que surgem agora defensores ardorosos do manifesto e que pretendem inaugurar uma nova era no processo de mistificação da opinião pública? A história é assim. Funcionário de empresa multinacional é diretor de uma associação de classe signatária do manifesto pró-BNDES e também professor universitário. O manifesto, uma simples variante da frase trivial "prefiro mais dinheiro a menos", foi duramente criticado. A reação do diretor é vestir a pele de professor e, sem explicitar a sua condição de diretor da entidade signatária, defender o manifesto. Haja conflito de interesses...

Em tempo: os argumentos, sejam do professor, sejam do diretor, são péssimos. Os empréstimos do BNDES são subsidiados com base em qualquer análise econômica aceitável. A tentativa de ocultar o óbvio rentismo industrial com base na denúncia de rentismo financeiro é pífia. A taxa Selic poderia ser reduzida se os gastos públicos fossem disciplinados. Alternativamente, poderia ser abandonado o regime de metas de inflação, mas parece haver falta de coragem para usar este argumento publicamente.

É o país do "quero o meu", defendido com ares de que é bom para todos. Às favas com o interesse público. E danem-se os conflitos de interesses.

Marcelo de Paiva Abreu é DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE,
É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO.

Um sindicato de assaltantes dos recursos publicos: ela mesmo, a FIESP

Quando eu escrevi neste mesmo espaço, pouco tempo atrás, que a FIESP era um sindicato de ladrões, e que seu presidente era um idiota, um dos leitores me escreveu preocupado, para dizer que eu podia ser processado por calunia e difamação.
Bem, não sei por que alguém poderia ser processado apenas por dizer a verdade, talvez não da forma que escrevi, mas em termos outros, disfarçados, para dizer a mesma coisa.
Acho que posso voltar aos meus termos habituais para acompanhar a leitura desta entrevista do mesmo personagem, sobre os mesmos problemas. Não preciso acrescentar nada ao que já disse. O próprio personagem se encarrega de confirmar o que eu penso dele.
Paulo Roberto de Almeida

''É preciso restringir o investimento chinês no Brasil''
Marcelo Rehder e David Friedlander
O Estado de S.Paulo, 23.08.2010

Benjamin Steinbruch, dono da CSN e presidente da Fiesp, diz que chineses podem 'tirar os competidores do jogo' e defende restrições à compra de terras e reservas minerais

"Eu não apareço na mídia com frequência. Isso não quer dizer que não seja ativo"

O empresário Benjamin Steinbruch, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), defende restrições à onda de compra de terras e reservas minerais brasileiras por empresas da China. Dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), diz que, como os chineses já são os maiores compradores de minério de ferro do mundo, se também dominarem a produção, "poderão tirar os outros do jogo".
Para o empresário, os asiáticos fazem concorrência desleal, porque possuem apoio maciço do governo de seu país. "É o Estado, não é iniciativa privada."

Steinbruch tem interesse direto no tema, já que mineração é uma das prioridades da CSN, que tem planos ambiciosos para o setor. Mas suas críticas têm o peso da instituição que o coloca hoje como uma das principais lideranças do empresariado nacional. Nesta entrevista, ele também fala dos planos para a CSN e da experiência de presidir a Fiesp, cargo que assumiu com a licença do titular Paulo Skaf para concorrer ao governo de São Paulo.

Além de inundar o mercado com seus produtos, a China está comprando muitos ativos no Brasil. Isso incomoda os empresários?
A China investiu muito em títulos do Tesouro americano e agora busca desesperadamente trocar parte desses papéis por ativos. Começou pela África, onde comprou tudo que podia e agora está comprando na América Latina, inclusive no Brasil. O capital chinês de médio e longo prazos para investimento é muito bem-vindo. Mas é preciso cuidar de setores estratégicos.

Quais seriam esses setores?
Por exemplo, a China comprar reservas de minério no Brasil, sendo ela o principal cliente do País, precisa ser considerado de forma diferente. A China é uma força no mundo. A partir do momento que ela tenha o domínio sobre a matéria-prima, sendo a maior consumidora de minério, ela pode tirar os outros do jogo. Dependendo do preço de transferência que adote, quebra com todo mundo. Setores estratégicos têm de ter algum controle do governo. É preciso dizer aquilo que pode e aquilo que não pode ser comprado por capital estrangeiro.

O sr. está falando em restringir a compra de terras ou minas?
Eu restringiria. Se for uma coisa da iniciativa privada, é um direito indiscutível. Mas, a partir do momento que atrás de quem compra está o Estado, é uma coisa de governo contra governo. Não vejo com bons olhos nenhum país vindo aqui comprar ativos no Brasil.

O sr. não está exagerando?
Vou contar um fato que me causou surpresa. No projeto da ferrovia Transnordestina tentamos comprar terras para induzir o desenvolvimento de plantio de grãos na região. Para nossa surpresa, encontramos grandes propriedades sendo tocadas por chineses. Eles já produzem grãos no interior do Piauí e de Pernambuco, coisa que nós, idealizadores do projeto, não sabíamos.

O sr. acha que os principais candidatos à Presidência aceitariam fazer esse tipo de intervenção?
Qualquer presidente tem de ter essa preocupação, porque é uma questão de soberania nacional. Independentemente de partido, estilo ou filosofia, é algo que tem de ser analisado e resolvido de maneira muito rápida, porque depois que comprarem não adianta fazer mais nada.

O sr. tem defendido o BNDES, mas a atuação do banco não está concentrada em poucas empresas?
Existe concentração porque não temos empresas globalizadas. É preciso fortalecer as empresas brasileiras para termos uma presença lá fora.

No caso dos frigoríficos, que é foco de críticas, o banco deu muito dinheiro para os grandes, enquanto os pequenos e médios se queixam de falta de acesso...
Não sei se é o que está acontecendo. Mas se a pequena e a média não estão sendo apoiadas, acho que está errado. Agora, essa posição do BNDES de fortalecer empresas brasileiras exportadoras de carne nos países importadores faz todo sentido estratégico. O nosso desafio é virar uma potência. Para isso, temos de fazer o que os outros países fizeram e deu certo. Não precisa melhorar, basta copiar.

O sr. quis internacionalizar a CSN. Tentou comprar a siderúrgica anglo-holandesa Corus e a cimenteira portuguesa Cimpor, mas não deu. Vai continuar tentando?
Temos de continuar, um dia vai dar certo. Mas é preciso ser racional. Se fosse pagar o que não vale, a gente teria levado. Sempre tive muita vontade de comprar a Corus. Fui até onde deu. Não deu para levar, o que posso fazer? Na Cimpor foi a mesma coisa. A gente vai continuar tentando.

Está olhando outros negócios?
Estou. Basicamente aquilo que completa o que a gente faz: aço, cimento e mineração. É claro que, se aparecer alguma coisa muito boa, vamos estudar.

Onde está procurando?
Num primeiro momento, nos Estados Unidos e na Europa.

O sr. vai mesmo desmembrar os ativos da CSN e abrir o capital das empresas resultantes?
A CSN, como as grandes empresas brasileiras, precisa se tornar um conglomerado mundial. A ideia é que a CSN tenha os seus cinco negócios abertos em bolsas: mineração, siderurgia, cimento, infraestrutura e logística, e energia. É claro que é um negócio trabalhoso desmembrar uma empresa grande e transformar em cinco.

Quando isso vai acontecer?
A gente vai fazer uma de cada vez. O que está mais maduro é a mineração, mesmo porque nós temos uma outra empresa de mineração em parceria com japoneses, coreanos e chineses, que é a Namisa. Temos 60% e eles, 40%. A ideia é juntar Namisa com Casa de Pedra e abrir o capital. É um projeto de 110 milhões de toneladas de minério de ferro, uma quantidade muito significativa.

O sr. já tinha anunciado isso para o primeiro semestre. Não deu certo?
A gente está trabalhando bastante nisso. A Namisa tem vários sócios, até conseguir convergir para fazer a unificação dos negócios demora mesmo. Está demorando mais do que a gente previa. Mas todos estão de acordo que vale a pena. Acho que sai agora no segundo semestre.

O sr. gostou da cadeira de presidente da Fiesp? Pensa em se candidatar na eleição do ano que vem?
A cadeira é igual, sabia? Mas a Fiesp é uma instituição muito forte. Engloba a indústria de todo o País, não só a paulista. Aqui passam presidentes, ministros, reis, príncipes, gente humilde... É uma experiência muito rica, não tem como não gostar. Agora, poder ficar é outra coisa. A Fiesp precisa de uma participação muito ativa, exige muito tempo. Minha prioridade é o grupo de empresas que a gente tem.

Como o sr. vê as críticas de que a Fiesp ficou acéfala depois da saída de Paulo Skaf?
Eu não me considero um cara acéfalo nem os diretores que estão aqui. É uma interpretação equivocada porque a maneira de ser de cada um é diferente. Eu não apareço na mídia com frequência. É meu estilo. Isso não quer dizer que a gente não seja ativo.

E o fato de não ter feito debates com os candidatos a presidente, como era tradição na casa?
A gente prefere uma abordagem direta. Estamos falando com os candidatos em separado. Eu acho que hoje é mais eficiente a gente ter essa postura de abordagem direta.

E o que vocês têm levado aos candidatos?
Aquilo em que a gente acredita. O modelo da produção e do emprego. Com todo respeito ao ministro da Fazenda, hoje o Brasil precisa de um ministro do Desenvolvimento mais forte que o da Fazenda. A parte financeira do País está resolvida. O que temos de desenvolver agora é a produção e o emprego. Isso é o que vai nos fazer diferentes.

Por que o sr. foi contra a filiação da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA, uma sociedade entre a Vale e a alemã ThyssenKrupp) ao Instituto Aço Brasil?
Anos atrás, fomos sócios da Thyssen Krupp num projeto aqui, mas houve divergências, compramos a parte deles e ficou por aí. Quando a Thyssen veio para o Brasil com a CSA, agora, tirou 200 pessoas da CSN de uma só vez. E tirou só da CSN. Eu fui no Instituto Brasileiro de Aço e coloquei a discussão. Disse na mesa: "Eu posso tirar 200 pessoas da Gerdau, posso tirar 200 pessoas da Usiminas, desde que pague mais."

Qual o problema, então?
Numa mesa em que nós sentamos para discutir estratégia, sermos amigos, não faz sentido um ficar agredindo o outro. Então, o instituto decidiu que a CSA só seria aceita quando começasse a produzir aço no País. Só que ela tentou entrar antes e outros membros quiseram aceitar. Daí eu falei: "Não foi isso o combinado lá atrás. Então, a gente sai e a CSA entra". Como pediram para ficar, a CSN se licenciou do instituto. Não fizemos isso por nós, mas por todos os brasileiros. Não pense que se formos para os Estados Unidos a gente chega lá fazendo estripulia no mercado deles. Não pode.

Ano passado o presidente Lula implicou com Roger Agnelli para forçar a Vale a investir em siderurgia. Esta semana ele pegou no seu pé numa cerimônia da ferrovia Transnordestina por causa do atraso nas obras...

Ele saiu satisfeito com o que viu. A Transnordestina é uma obra complicada. São 1.728 quilômetros de ferrovia, envolvendo três Estados. Houve dificuldades em várias etapas, como desapropriação, parte ambiental, projeto. Demorou mais do que ele esperava, mas agora estamos a plena carga.

Mas, no discurso, Lula foi bem irônico. Disse que homens como o sr. não são queridos pela população mais humilde porque têm privilégios nos governos. Ou que o sr. não fazia ideia de quanto era xingado...

O presidente é muito espontâneo. Tinha uma massa grande de trabalhadores e ele estava emocionado. Ele brinca muito, interage com o povo. Não fez nada por mal, acho que ele saiu de lá contente.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Humor unido, jamais dará boa coisa...

Estou de acordo com a campanha, mas o slogan é doloroso. Humor unido só pode dar porcaria. O melhor humor sempre é individual, personalíssimo...
Meu slogan seria este: "Colabore: ridicularize um político, ou mais de um..."
Paulo Roberto de Almeida

Río: los humoristas marcharon para que los dejen hacer chistes sobre los candidatos
Por Eleonora Gosman
San Pablo. Corresponsal
Clarín.com, Lunes 23 de agosto de 2010

Se concentraron en la capital carioca para repudiar una medida de la Justicia Electoral que impide burlarse de aspirantes o de partidos políticos. “El humor unido jamás será vencido”, corearon los manifestantes.

Detrás de carteles que exigían “Humor sin censura” medio centenar de cómicos y dibujantes marchó ayer por Copacabana en la capital carioca. Unos llevaban narices de payaso. Otros portaban máscaras con caricaturas de políticos brasileños que disputarán cargos electorales en los comicios generales del 3 de octubre próximo. La manifestación se originó en una polémica medida del Superior Tribunal Electoral brasileño que prohibió a radios, programas de TV y por extensión a contenidos de internet, “usar trucos, montajes o recursos de audio y vídeo que dejen en ridículo a candidatos , partidos o alianzas (electorales)”. Al mismo tiempo, veda “la producción de programas que tengan ese efecto”.

En estas presidenciales, el Tribunal se ha empeñado en imponer normas tan rígidas como imposibles de cumplir, con multas que afectaron a candidatos, partidos y al gobierno nacional. Lula, por ejemplo, fue penalizado en tres oportunidades. Pero esta vez enfrenta la revuelta de los humoristas, que debieron erradicar de sus programas televisivos y radiales todo lo que huela a chanza política so pena del castigo monetario.

La TV brasileña desarrolló varios programas de humor político en la última década. Al primero de ellos, llamado “Casseta y Planeta”, continuaron otras variantes como CQC (posterior al homónimo argentino del cuál extrajo el formato) y “Pánico en la TV”. La actriz Maria Clara Gueiros sintetizó por qué motivos esa medida del tribunal electoral es repudiable: “Es una línea de show que aproxima las personas a la política”. Si en la dictadura no fue posible, la comicidad en este terreno volvió con la democracia. “Que prohíban la vena del humor es un retroceso”, subrayó.

Dispuestos a imponer la devolución del “humor libre” los comediantes y dibujantes se encolumnaron seguidos de cientos de personas mientras coreaban: “El humor unido jamás será vencido” , en una paráfrasis de la consigna “el pueblo unido jamás será vencido” que se popularizó en los movimientos de protesta anti dictatoriales de fines de los `60 y comienzos de los `70. Como señalaban ayer medios periodísticos brasileños, el chiste político fue, en tiempos de dictadura, el medio ideal de expresión de resistencia. Con la vuelta de las democracias se convirtió en una suerte de polea de transmisión de la opinión pública hacia el poder.

La manifestación de Río de Janeiro ayer por la tarde tuvo la virtud de instalar en el público el debate por esa decisión de la justicia electoral. Cientos de cariocas se arremolinaron alrededor de los manifestantes, todos ellos conocidos personajes de TV, teatro y radio, lo que dio mucha más consistencia numérica a la marcha. “Es una ley insólita y antidemocrática. La democracia se reconquistó en Brasil con mucha lucha, mucha gente murió para que la sociedad viviese en un ambiente democrático”, sostuvo en un discurso el actor Lucio Mauro Filho. Otro colega, Bruno Mazzeo, agregó: “Es como si prohibieran hablar de fútbol en épocas de la Copa del Mundo”. Entre ellos, la presentadora Sabrina Sato del programa Pánico en la TV evaluó: “¿Quién vio un humorista que no pueda hacer chistes? Eso sí que parece una broma ¿no?”.

También indignado, Sérgio Malandro marcaba ayer: “El pueblo quiere reír y ¿quién tiene derecho a quitarle la diversión? La vida ya es muy dura y ¿cuál es el problema de hacer chistes con un diputado que ganó 100 veces la lotería?”.

Esta marcha, organizada por el grupo Comedia en Pie con la participación de los principales nombres del humor brasileño, puso de relieve la “inoperancia” del mundo político que no esbozó el más mínimo cuestionamiento. Desde el gobierno hubo mutis ante la decisión de la justicia electoral.

Pero tampoco los candidatos se sintieron obligados al menos a comentar que esa medida constituye un cerrojo. Los analistas que acompañaron los debates televisivos dijeron, justamente, que si algo caracterizó las presentaciones de los postulantes a la presidencia de Brasil fueron los medios tonos que impusieron los asesores en marketing. Hubo un esmero excesivo en preservar las imágenes de aquellos que pelean por suceder a Lula da Silva. En ese contexto, las empresas publicistas que montaron las campañas deben haber sentido alivio por la medida adoptada por el tribunal electoral.

Venezuela: muertos, mortes, deads, deaths, you choose...

Venezuela, More Deadly Than Iraq, Wonders Why
By SIMON ROMERO
The New York Times, August 22, 2010

CARACAS, Venezuela — Some here joke that they might be safer if they lived in Baghdad. The numbers bear them out.

In Iraq, a country with about the same population as Venezuela, there were 4,644 civilian deaths from violence in 2009, according to Iraq Body Count; in Venezuela that year, the number of murders climbed above 16,000.

Even Mexico’s infamous drug war has claimed fewer lives.

Venezuelans have absorbed such grim statistics for years. Those with means have hidden their homes behind walls and hired foreign security experts to advise them on how to avoid kidnappings and killings. And rich and poor alike have resigned themselves to living with a murder rate that the opposition says remains low on the list of the government’s priorities.

Then a front-page photograph in a leading independent newspaper — and the government’s reaction — shocked the nation, and rekindled public debate over violent crime.

The photo in the paper, El Nacional, is unquestionably gory. It shows a dozen homicide victims strewn about the city’s largest morgue, just a sample of an unusually anarchic two-day stretch in this already perilous place.

While many Venezuelans saw the picture as a sober reminder of their vulnerability and a chance to effect change, the government took a different stand.

A court ordered the paper to stop publishing images of violence, as if that would quiet growing questions about why the government — despite proclaiming a revolution that heralds socialist values — has been unable to close the dangerous gap between rich and poor and make the country’s streets safer.

“Forget the hundreds of children who die from stray bullets, or the kids who go through the horror of seeing their parents or older siblings killed before their eyes,” said Teodoro Petkoff, the editor of another newspaper here, mocking the court’s decision in a front-page editorial. “Their problem is the photograph.”

Venezuela is struggling with a decade-long surge in homicides, with about 118,541 since President Hugo Chávez took office in 1999, according to the Venezuelan Violence Observatory, a group that compiles figures based on police files. (The government has stopped publicly releasing its own detailed homicide statistics, but has not disputed the group’s numbers, and news reports citing unreleased government figures suggest human rights groups may actually be undercounting murders).

There have been 43,792 homicides in Venezuela since 2007, according to the violence observatory, compared with about 28,000 deaths from drug-related violence in Mexico since that country’s assault on cartels began in late 2006.

Caracas itself is almost unrivaled among large cities in the Americas for its homicide rate, which currently stands at around 200 per 100,000 inhabitants, according to Roberto Briceño-León, the sociologist at the Central University of Venezuela who directs the violence observatory.

That compares with recent measures of 22.7 per 100,000 people in Bogotá, Colombia’s capital, and 14 per 100,000 in São Paulo, Brazil’s largest city. As Mr. Chávez’s government often points out, Venezuela’s crime problem did not emerge overnight, and the concern over murders preceded his rise to power.

But scholars here describe the climb in homicides in the past decade as unprecedented in Venezuelan history; the number of homicides last year was more than three times higher than when Mr. Chávez was elected in 1998.

Reasons for the surge are complex and varied, experts say. While many Latin American economies are growing fast, Venezuela’s has continued to shrink. The gap between rich and poor remains wide, despite spending on anti-poverty programs, fueling resentment. Adding to that, the nation is awash in millions of illegal firearms.

Police salaries remain low, sapping motivation. And in a country with the highest inflation rate in the hemisphere, more than 30 percent a year, some officers have turned to supplementing their incomes with crimes like kidnappings.

But some crime specialists say another factor has to be considered: Mr. Chávez’s government itself. The judicial system has grown increasingly politicized, losing independent judges and aligning itself more closely with Mr. Chávez’s political movement. Many experienced state employees have had to leave public service, or even the country.

More than 90 percent of murders go unsolved, without a single arrest, Mr. Briceño-León said. But cases against Mr. Chavez’s critics — including judges, dissident generals and media executives — are increasingly common.

Henrique Capriles, the governor of Miranda, a state encompassing parts of Caracas, told reporters last week that Mr. Chávez had worsened the homicide problem by cutting money for state and city governments led by political opponents and then removing thousands of guns from their police forces after losing regional elections.

But the government says it is trying to address the problem. It recently created a security force, the Bolivarian National Police, and a new Experimental Security University where police recruits get training from advisers from Cuba and Nicaragua, two allies that have historically maintained murder rates among Latin America’s lowest.

The national police’s overriding priority, said Víctor Díaz, a senior official on the force and an administrator at the new university, is “unrestricted respect for human rights.”

“I’m not saying we’ll be weak,” he said, “but the idea is to use dialogue and dissuasion as methods of verbal control when approaching problems.”

Senior officials in Mr. Chávez’s government say the deployment of the national police, whose ranks number fewer than 2,500, has succeeded in reducing homicides in at least one violent area of Caracas where they began patrolling this year.

Still, human rights groups suggest the new policing efforts have been far too timid. Incosec, a research group here that focuses on security issues, counted 5,962 homicides in just 10 of Venezuela’s 23 states in the first half of this year.

Meanwhile, the debate over the morgue photograph published by El Nacional is intensifying, evolving into a broader discussion over the government’s efforts to clamp down on the news outlets it does not control.

The government says the photograph was meant to undermine it, not to inform the public. The authorities are also threatening an inquiry into “Rotten Town,” a video by a Venezuelan reggae singer that shows an innocent child struck down by a stray bullet. For all the government’s protests, the video has spread rapidly across the Internet since its release here this month.

Given the government’s stance in these cases, many here worry it is focusing on the messenger, not the underlying message.

Hector Olivares, 47, waited outside the morgue early one morning this month to recover the body of his son, also named Hector, 21. He said his son was at a party in the slum of El Cercado, on the outskirts of Caracas, when a gunman opened fire.

Mr. Olivares said Hector was the second son he had lost in a senseless murder, after another son was killed four years ago at the age of 22. He said he did not blame Mr. Chávez for the killings, but he pleaded with the president to make combating crime a higher priority.

“We elected him to crack down on the problems we face,” he said. “But there’s no control of criminals on the street, no control of anything.”

María Eugenia Díaz contributed reporting.

domingo, 22 de agosto de 2010

Venezuela: dando a palavra ao proprio...

E para não dizer que sou parcial na informação, dou a palavra ao representante do processo: ele mesmo, o promotor do socialismo do século 21 (ainda estou tentando descobrir o que, exatamente, isso significa, pois mais me parece o fascismo do século 20, quanto aos métodos, pelo menos).
Sei que o blog se destina à veiculação de ideias, se possível inteligentes, como anunciado acima, mas por vezes é preciso expor o que pensam certas pessoas, o que se pensa em certos círculos (se o verbo se aplica), para que se possa exercer a crítica das ideias de forma competente.
Acredito que a síntese de todo o pensamento, se pensamento existe, encontra-se neste propósito do caudilho:
"Nosotros no pretendemos corregir los errores del capitalismo, rectificar sus asimetrías ni maquillar su rostro, nuestro deber ineludible es la transformación estructural de todo el sistema económico y social de la nación. Transformación estructural que comienza por cambiar parte del ordenamiento jurídico en los ámbitos que aún están dominados por el capitalismo más extremo. En este sentido, seguimos avanzando en la reelaboración de las leyes financieras como la Ley del Mercado de Valores, por ejemplo, y tantas otras que urge ponerlas en sintonía con los nuevos tiempos."
Deixo de lado, por enquanto, o aspecto fascista da mudança. Todo o sentido das transformações econômicas que a Venezuela atravessa atualmente está contido no parágrafo acima.
Na verdade, a única coisa que sabemos é que se pretende mudar tudo; como vai funcionar e se vai funcionar, são outras questões, ainda não respondidas. Talvez sim: já vimos esse filme antes. É o que rodou na extinta URSS, em todos os socialismos reais existentes, que ainda roda (se roda) em Cuba e na Coréia do Norte. De certa forma, já sabemos o destino do socialismo do século 21. Só podemos lamentar pelo povo venezuelano e desejar que o pesadelo acabe o mais cedo possível.
Paulo Roberto de Almeida

¡No pasarán!
Las líneas de Chávez # 86

I
Estamos enrumbados en marcha hacia el socialismo y nada ni nadie podrán apartar a nuestro pueblo del camino que ha elegido. Así lo demuestran los hechos y resultados positivos de todos estos días.

La podrida burguesía venezolana hizo todo lo posible para que llegáramos al mes de agosto en medio del caos. Desde el año pasado vienen montados en ese plan, pero ya transcurrida más de la mitad del mes de agosto, sus pretensiones están más que lejanas: la férrea voluntad de un gobierno y un pueblo, como un solo hombre y una sola mujer, han hecho trizas todos los planes que, siguiendo los dictados del imperio, la quinta columna venezolana ha pretendido ejecutar.

Sucede que soy y que sigo (…) Déjenme solo con el día. / Pido permiso para nacer, cantaba el gran Neruda. Esta revolución no pidió permiso a nadie para nacer: el permiso se lo impuso un Pueblo conciente que, desde hace once años, es dueño y señor de su destino.

Vuelvo, otra vez, a Neruda: Ahora como siempre es temprano / vuela la luz con sus abejas. Por supuesto que, para nosotros, nunca será tarde, siempre es temprano, acostumbrados como estamos a vivir de amanecer en amanecer: ésta es y será siempre nuestra principal defensa y la más contundente de nuestras ofensivas. En este sentido, se equivocan y se seguirán estrellando contra nosotros, los acostumbrados a vivir de horas postreras en horas postreras. Ellos, por sus perversos propósitos, no tienen otras armas y métodos que aquellos de la guerra sucia, conscientes como están de no tener la razón y, por supuesto, convencidos de su cada vez más escaso poder de convocatoria.

Y porque somos luz, hemos desbaratado todas las conjuras que se han venido montando, hasta hoy, en la oscuridad.

Primero, pretendieron encender la pradera con aquella pequeña “crisis” bancaria que quisieron llevar a mayores; luego, fue el lenguaje del Apocalipsis en ocasión de la grave sequía que padecimos y que nos obligó a declarar la emergencia eléctrica para contrarrestar el déficit como consecuencia del bajo nivel de agua que alcanzó el sistema Guri. A renglón seguido, trataron de pescar en río revuelto para dar al traste con Pdval, Mercal y todo nuestro sistema de seguridad y soberanía alimentaria. Y ahora, más recientemente, intentaron imponernos el terrorismo financiero, tras la intervención del Federal, las Casas de Bolsas y de Econoinvest; intervención necesaria por la podredumbre que caracterizaba a todos estos entes privados. Pues bien, la quinta columna vino estrellándose, de fracaso en fracaso: y la revolución salió airosa de cada una de estas coyunturas, quedando demostrada la fortaleza de la Venezuela Bolivariana.

Internacionalmente, la oposición venezolana y sus medios no dejaron de echar leña al fuego para tratar de llevarnos a una guerra fratricida con Colombia. Volvieron a fracasar, otra vez, como lo demuestra, fehacientemente, la visita que nos dispensara el presidente del Congreso de Colombia, Armando Benedetti, el lunes 16. En el mismo sentido, hay que destacar la presencia de una importante delegación colombiana, encabezada por la cancillera María Ángela Holguín, el viernes 20. Quiero felicitar a las comisiones binacionales que, en este día, instalaron las mesas de trabajo para diseñar el nuevo mapa que exprese el pleno restablecimiento de nuestras relaciones en todas las áreas. Cómo le duele a la contrarrevolución todo lo que ha acontecido desde la reunión presidencial en Santa Marta el pasado 10 de agosto, cómo le duele la voluntad política común que se está abriendo camino en clave de respeto y confianza.

Últimamente, la contra ha optado por explotar morbosamente el problema crónico de la inseguridad que arrastra nuestro país desde hace décadas; problema que ningún gobierno del pasado había abordado, como ahora, para darle solución, yendo a las causas profundas del mismo, tal y como lo está haciendo la Revolución Bolivariana. Una vez más, los apátridas han acudido al expediente del “periodismo pornográfico”. El dueño de un medio de comunicación admitió, vía Twitter, que ése es el tipo de práctica que ellos ejercen; “la intención editorial de la foto era crear un shock para la gente, para que de alguna manera reaccionara ante la situación”, fue la declaración de este personajillo a un medio internacional. A confesión de parte, relevo de pruebas, dicen los juristas. Se trata de otro caso más de terrorismo mediático contra el cual la Venezuela decente ha reaccionado, poniendo de manifiesto su rechazo contra este tipo de prácticas perversas y rastreras, que ponen de manifiesto la pudrición que carcome la mentalidad de la oligarquía venezolana.

No se equivoquen, el caos no se decreta y, mucho menos, se le impone a un pueblo con niveles crecientes de conciencia. A un pueblo que se ha acostumbrado a estar uno, dos y hasta tres pasos delante del caos cuando es real y verdadero, no van a amedrentarlo con mentiras salidas de los laboratorios de la guerra sucia.

II
En el Consejo de Ministros Ampliado, celebrado este miércoles 18, lo dije: “estamos trabajando, sin reposo, en lo que considero es la médula del proyecto de transición al socialismo dentro de la lógica del desafío de lo humanamente gratificante”.

Nosotros no pretendemos corregir los errores del capitalismo, rectificar sus asimetrías ni maquillar su rostro, nuestro deber ineludible es la transformación estructural de todo el sistema económico y social de la nación. Transformación estructural que comienza por cambiar parte del ordenamiento jurídico en los ámbitos que aún están dominados por el capitalismo más extremo. En este sentido, seguimos avanzando en la reelaboración de las leyes financieras como la Ley del Mercado de Valores, por ejemplo, y tantas otras que urge ponerlas en sintonía con los nuevos tiempos.

La Revolución Bolivariana, quiero reiterarlo, sigue y seguirá combatiendo la corrupción y la podredumbre burguesas.

Este jueves 19 continuamos con nuestro deber ineludible de hacer justicia a los antiguos ahorristas del Banco Federal y a los afectados del conjunto residencial La Avileña. El caso de La Avileña es particularmente dramático: 211 familias fueron estafadas por el Federal, perdiendo no sólo sus ahorros sino todas las esperanzas de tener techo propio. Nuestro gran reto es devolverles la alegría perdida por culpa de un mafioso que nunca dio la cara por ellos y hoy disfruta del producto del trabajo de toda esta buena gente en algún lugar de Miami. Por todo ello, quiero saludar la decisión del Ministerio Público de pedir, ante el Gobierno de Estados Unidos, la extradición de este pillo para que rinda cuentas ante nuestra justicia.

III
Venezuela está en la ronda semifinal del IV Campeonato Mundial de Béisbol Femenino. El jueves 19 vencimos a la poderosa selección de Estados Unidos, viniendo de atrás: era la primera vez que un conjunto norteamericano sucumbía ante uno de Nuestra América en estos torneos.

El viernes 20 perdimos el invicto ante Japón pero éste fue un simple traspié. Este sábado 21 nuestro aguerrido equipo va con todo contra Australia, buscando el pase a la final que se celebrará hoy domingo 22. ¡Vamos, muchachas, que ustedes tienen calidad y corazón de sobra, no sólo para pasar a la final, sino para coronarse campeonas!

La Generación de Oro sigue cosechando triunfos. En los I Juegos Olímpicos Juveniles Singapur 2010, el nadador venezolano Cristian Quintero obtuvo este lunes una medalla de plata en los 200 metros estilo libre y una de bronce en los 400 metros libres. El nadador hizo historia al convertirse en el primer atleta venezolano en obtener dos medallas de diferente metal en unos Juegos Olímpicos. La pesista Génesis Rodríguez también se llevó una medalla de bronce.

Seguimos demostrando que una real y verdadera revolución deportiva está en marcha en Venezuela.

IV
Y finalmente, el sábado 21 estuvimos en la bella Barinas, epicentro de mis recuerdos, juramentando 4.273 Patrullas Bolívar 200, 854 Unidades de Batalla Bolívar 200, para un total de 213.650 patrulleros y patrulleras de todo ese inmenso llano de Juan Parao.

Es la gran maquinaria roja, ya en plena fase de despliegue, entrando a la batalla, que será memorable.

Todo aquel, toda aquella que ame de verdad a la Patria, tiene la obligación suprema de sumar todos sus esfuerzos en aras del objetivo patriota del 26 de septiembre: ¡Demoler a esa oprobiosa quinta columna que pretende adueñarse de la Asamblea Nacional para desestabilizar el país y acabar con la Revolución!

¡No pasarán!
¡Patria socialista o muerte!
¡Venceremos!

Hugo Chávez Frías 22-08-2010

Venezuela: proibido publicar estatisticas mortais (só as estatisticas...)

O governo do caudilho impos a lei do silêncio aos meios de comunicação do país quanto aos mortos da violência diária, especialmente a publicação de fotos "chocantes". Não pretendo publicar fotos, mas acredito que não se pode censurar a realidade.
Paulo Roberto de Almeida

Los muertos que esconde Chávez
La Razón (España), Agosto 22, 2010

“El conteo lo realizan los periodistas de sucesos que, como Rona, se apostan los viernes a las puertas de Bello Monte. Nada es oficial y menos ahora. Se ha impuesto la ley del silencio.”

Doña Cecilia Arévalo sabe por experiencia que la vida en Caracas vale muy poco. Lo que un reloj llamativo o unos zapatos lustrosos. Vive en el barrio de San Blas de Petare, uno de los cerros que aprisionan la capital venezolana donde «si dices algo te matan». «A mí me mataron a mi sobrino». Adel Miranda, su sobrino de 18 años, era latonero y trabajaba con su padre. Un buen día le dieron dos puñaladas que lo dejaron malherido. No lo denunció ni chivó un solo dato a la Policía. Una semana después le descerrajaban cuatro tiros. Su destino: la morgue de Bello Monte, el espejo que refleja la cruda realidad de Venezuela en pleno centro de Caracas. Una realidad que el régimen bolivariano pretende ocultar decretando la censura de imágenes violentas en los diarios durante 30 días, el periodo electoral que antecede a las legislativas del 26 de septiembre.

La colapsada morgue de Caracas se mantiene a duras penas en pie desde los años 70. Desvencijada y sin medios, por sus salas pasan a diario unos 20 cadáveres, víctimas anónimas de la violencia que asola el país en medio del silencio oficial. Los fines de semana la cifra se dispara a 50 muertos entre el viernes noche y el domingo, y se supera los días de paga (en Venezuela se cobra por quincenas). «Era la morgue que necesitaba Caracas en aquella época. Un tanatorio pequeño. Pero con la explosión de la criminalidad, Bello Monte se ha convertido en un espectáculo dantesco durante los fines de semana. Se acumulan los cadáveres por culpa del abandono del Gobierno a la política de seguridad», asegura a LA RAZÓN Elisio Guzmán, ex director de la Policía Científica y actual director de la Policía del Estado de Miranda. Con 40 años de servicio en la Científica, Guzmán conoce bien el deterioro en el que ha ido cayendo Bello Monte. «Hay menos profesionales que cuando se abrió, incluso menos que hace 10 años y los patólogos que aún quedan tienen un sueldo miserable», explica. A pesar de que la criminalidad ha crecido un 134% en los dos últimos lustros de gestión bolivariana [según cifras aproximadas, ya que el régimen de Chávez no cuenta los homicidios desde 2008], «no hay suficientes cámaras frigoríficas y los muertos se almacenan en cualquier esquina. No hay cómo conservar los cadáveres», añade. El denominado «Proyecto España», por el que nuestro país envió equipos destinados a las morgues venezolanas en 2000, no sirvió para mejorar la caótica situación. «Se adquirieron equipos, pero en algunos sitios aún están almacenados porque no se construyeron las morgues aprobadas o no se ampliaron las existentes», denuncia a este diario Rona Risquez, jefe de la sección de sucesos del diario opositor «El Nacional». Los equipos «Proyecto España» están abandonados.

Fin de semana del 12 al 15 de marzo: 59 asesinados; fin de semana del 2 al 4 de julio: 65 homicidios; fin de semana del 30 de julio al 1 de agosto: 54 muertes violentas… El rosario de cadáveres es constante como las turbias aguas del Guaire, que parte en dos Caracas. El conteo lo realizan los periodistas de sucesos que, como Rona, se apostan los viernes a las puertas de Bello Monte. Nada es oficial y menos ahora. Se ha impuesto la ley del silencio.

Antonieta de Dominicis ha pasado media vida entre muertos. Ex jefa del tanatorio central de Caracas hasta 2004, conoce Bello Monte mejor que su propia casa. «Mis compañeros están supersaturados. Cuando dejé Bello Monte éramos 13 patólogos y ahora quedan cinco. Hay seis mesas en la sala de autopsias, 60 nichos frigoríficos y una sala refrigerada donde hay que amontonar en camillas o donde se pueda el resto de los cuerpos. La morgue es el reflejo de Venezuela, de una ola de violencia que no se puede ocultar», remarca. Las condiciones son pésimas por el abandono gubernamental y muchos facultativos han preferido emigrar a España o Italia. «Hay un patólogo el sábado y otro el domingo. Eso da para 12 autopsias por día y hay días en que se acumulan más de 60 cadáveres y las familias quieren enterrar a su muerto el mismo día que lo traen. Nadie quiere trabajar en esas circunstancias y con un sistema que favorece a los médicos cubanos peor preparados».

Hoy, cuando caiga la noche, volverán a bajar los muertos de los cerros y la sala de espera de Bello Monte quedará atestada de nuevo. Una televisión de plasma con alguna cadena oficialista sintonizada detallará los logros del Gobierno para detener la violencia.

Caracas, más peligrosa que Bagdad
La capital venezolana es la segunda ciudad más peligrosa del planeta. Por delante de Bagdad y sólo superada por Ciudad Juárez. Pero en su conjunto, Venezuela supera a México en tasa de criminalidad. Según datos del propio Gobierno filtrados al diario «El Nacional», que no ha podido publicarlos por la censura impuesta, desde 2009 a mayo de 2010, el país caribeño acumula una media de más de 70 homicidios por 100.000 habitantes por los 10,8 que padece México. «La Venezuela joven está muriendo en las calles. La censura del régimen refleja que, después de 10 años, por fin están preocupados por el coste electoral de la violencia. Lo lamentable es la cantidad de muertos que han necesitado», declara Elisio Guzmán, ex director de la Policía Científica.

A falencia da ajuda ao desenvolvimento africano

O que esse jornalista alemão (com experiência no terreno) diz sobre a ajuda ao desenvolvimento africano se aplica, mutatis mutandis, a toda e qualquer experiência de ajuda ao desenvolvimento, com muito poucas exceções. Ela nem ajuda, só vicia, nem conduz ao desenvolvimento, mas à assistência continuada, quando não ao aprofundamento da dependência, à corrupção, à deformação das regras do jogo econômico nesses países.
Pena que o Brasil está seguindo atualmente o mesmo caminho já empreendido 50 anos atrás por todos os países desenvolvidos, que se lançam com essa espécie de consciência de culpa na ajuda humanitária e na assistência ao desenvolvimento (no caso do Brasil uma totalmente equivocada alegação de "dívida histórica" com o continente africano, o que é um absurdo completo).
Teria muito mais a dizer, mas vou deixar vocês lerem o trabalho do desiludido alemão.
Paulo Roberto de Almeida

Time for a Rethink
A commentary by Kurt Gerhardt
Der Spiegel online, 08/16/2010

Part 1: Why Development Aid for Africa Has Failed

Development aid to Africa has been flowing for decades, but the results have been paltry. Instead, recipients have merely become dependent and initiative has been snuffed out. It is time to reform the system.

Development aid to Africa is a blessing for all those directly involved -- both on the giving end and on the receiving end. Functionaries on the donor side, at least those abroad, earn good money. Many of those on the receiving end, for their part, know how to organize things in such a way that their own personal interests don't get short shrift.

There is no reason for these two groups to be interested in changing the status quo. Yet even so, some within their ranks are starting to suggest the situation as it stands cannot continue. The development aid of the past 50 years, they say, is hardly justifiable given the disappointing results. Even individual donors, who know little about how development aid works in practice, increasingly sense that something might be amiss.

They're right. The aid has failed to a large extent.

We have taken on too much responsibility for solving African problems. We have essentially educated them to, when problems arise, call for foreign aid first rather than trying to find solutions themselves.

This attitude has become deeply rooted in Africa. This self-incapacitation is one of the most regrettable results of development cooperation thus far. Poorly designed development aid has made people dependent and accustomed them to a situation of perpetual assistance, preventing them from taking the initiative themselves. It is this situation which represents the greatest damage done, far worse than the enormous material losses engendered by failed aid projects. And there are many. Africa is strewn with idle tractors, ruined equipment and run-down buildings.

Deeply Rooted Misconceptions
On our side, the view has taken hold that we are primarily responsible for developing Africa. At the 2nd Bonn Conference on International Development Policy in August 2009, then-German President Horst Köhler, an experienced and dedicated African development activist, spoke about an energy partnership established between Germany and Nigeria two years previously. His conclusion:

"I cannot discern that the amount of electricity in Nigeria has increased since then. And I find it shameful for the industrialized countries, as well as for those responsible in Nigeria, that this large country, rich as it is in resources essentially, can't advance its socio-economic development because it hasn't yet managed to bring electricity to its rural areas. I find this shameful for the entire development cooperation that has existed for decades."

Here, the fact that Köhler mentions the industrialized countries before Nigeria when discussing responsibility for the failure is notable. More notable, however, is that he mentions the industrialized countries at all. Are we really the ones who should feel ashamed that one of the world's largest oil exporters isn't capable of providing its rural areas with electricity? Simply asking the question is enough to show how absurd the thought is -- and how deeply rooted the misconception.

This mothering mindset, widespread in industrialized countries for decades, is in direct violation of the subsidiarity principle. This principle states that providers of aid, whether private or governmental, should not assume any duties that could be carried out by the receiver country itself. Furthermore, it mandates that aid be given such that those providing it can cease giving as soon as possible.

Plenty of Lip Service
The subsidiarity principle should have been key to designing this cooperation from the beginning. In reality, it has played far too small a role.

The donor side is certainly not lacking in theories, clever strategies or concepts -- international development agencies have cabinets bursting with them. What's lacking is a basic understanding and clarity when applying principles. The realization that northern countries cannot develop the South -- that people and societies can only do so themselves -- is given plenty of lip service. In practice, however, the idea hardly plays a role at all.

Development experts sent to Africa come from societies that tend to value efficiency and speed to a greater degree than is generally found in Africa. Furthermore, foreign aid workers, as a rule, only spend a few years in a target country. Their desire to "achieve something" often leads them to do more than they should according to the subsidiarity principle. But by doing so, they inhibit Africa's own momentum and prevent it from growing stronger.

A further breach of the subsidiarity principle is found in the existence not only of the immense national and international development agencies, from the German Society for Technical Cooperation (GTZ) to the World Bank, but also of myriad private organizations both small and large that cover the continent with their network of charitable works.

Occupying Powers
These are the de facto occupying powers of the post-colonial period.

The second tenet of the subsidiarity principle holds that aid should become dispensable as quickly as possible. In Germany alone, the livelihoods of up to 100,000 people are dependent on the development aid industry. One can imagine the outrage that would result should someone seek to dismantle these agencies. But exactly that should ultimately be the raison d'etre of these agencies. After decades of providing aid, their continued existence is proof of their failure.

It is contrary to the logic of subsidiarity to give a person something that he or she could acquire or produce on their own. Yet in the hopes of doing good, we have done exactly that far too often in recent decades, whether it be a grain mill in a village or a council of GTZ experts for a government ministry. A considerable portion of Germany's bilateral aid, amounting to more than €1.5 billion ($2 billion) per year, is given as grants -- in other words, as a gift. Indeed, all of the least developed countries tend to receive foreign aid in the form of grants. Two thirds of the countries in sub-Saharan Africa belong to this category.

These perpetual gifts have made partners into beggars, ones who no longer value the things they have been given and consequently have not maintained them well. Apart from a few exceptions, emergency aid being one example, free aid was and remains fundamentally wrong.

Part 2: The Question of Money

Aid given with no strings attached robs the recipient of competence. The method has resulted in a divorce from reality in Africa, at all levels of society. It's time to accustom our partners to normalcy -- those who want to initiate a project but lack the necessary funds to do so, must take out a loan and pay it back. Indeed, this is where aid from abroad can make a significant contribution: by seeing to it that everyone committed to development has access to loans, and particularly by supporting microcredit programs.

The urge of foreign aid workers to quickly produce results promotes quantitative thinking and gives short shrift to efforts aimed at helping locals learn how to develop themselves. One example of this erroneous notion is the goal among donor companies, adopted 40 years ago, to donate 0.7 percent of GDP in the form of development aid.

It makes no sense to establish amounts before discussing the projects that should be funded with that money. The worst thing about this discussion is that it, once again, is purely quantitative. It feeds the disastrous attitude that more money necessarily means more development. In this way, lessons learned over the past decades are completely ignored.

Instead, people like Bono and Bob Geldof are allowed open access to our governments, where they propagate the "more money" idea -- and where they become stumbling blocks to African development.

Nothing to Do with Development Aid
It is easier to evaluate numbers than the qualitative effects of development aid. We cannot develop others. Only endogenous development -- what people and societies achieve themselves with the power of their own minds and hands -- deserves the name. No one can be developed from the outside.

Many would argue that when development aid brings water pipes and roads to Africa, it stimulates and strengthens local efforts. But perhaps the opposite is true, and the more we do, the more likely it is that our partners will sit back, because foreign aid is taking care of things to their satisfaction. Although the latter has proven to be true a thousand times over, development aid functionaries still overlook it with astonishing consistency.

Pouring further billions into funds for the climate, AIDS and other issues may, in fact, be necessary. But it has nothing to do with development aid. These payments will not cause political leaders in the Sahel countries, for example, to make more of an effort to combat soil erosion on their own. These countries could long ago have begun doing something on this issue -- they could even have used their masses of unemployed youth for the job. But so far, in cases where something has been done, it generally was the product of foreign initiative and not endogenous.

Our development aid has not lent enough support to the efforts of people in Africa themselves. Often it has even been an impediment, because our aid was focused too much on the object and too little on the subject. Too often the project or program, not the people, was the focus. The aid passed the people by.

The result has placed Africa in an undignified position -- and no amount of money from the enormous, globally organized network of aid organizations will free them. Only Africans themselves can accomplish that.

Kurt Gerhardt worked as a journalist for German public radio station WDR from 1968 to 2007. As a former country director for the German Development Service (DED) in Niger in West Africa, he has firsthand experience with the issues involved in providing aid to Africa. He is a co-founder of the political initiative "Primary Education in the Third World" and the Makaranta Association, both of which support primary education in Africa. He is also a co-initiator of the "Bonn Appeal" for alternative development policies.
Translated from the German by Ella Ornstein

Economistas tambem tem o direito de ficar bebados...

Eles só não têm (ou pelo menos não deveriam ter) o direito de escrever bêbados.
Esse economista, que eu até reputava sério, responsável, liberal e mais próximo da mainstream economics do que do surrealismo de certas correntes muito disseminadas pelo continente, acaba de dar uma escorregada muito séria no artigo abaixo.
Só pode ter sido por efeito da bebida, ou de algum remédio que o tenha deixado eufórico, não sei exatamente o que pode ter sido.
O que ele escreve, da primeira até a última linha, não só não faz nenhum sentido econômico, nas circunstâncias atuais (e no futuro próximo) da América do Sul, como não guarda a mínima conexão com a realidade das coisas, no plano político, social, das simples constatações de base do que seja a América do Sul atualmente.
Ele começa por onde a Europa levou 40 anos para atingir: a moeda única. E acha que ela vai operar maravilhas nas políticas macroeconômicas e setoriais dos países da região.
Ele só pode estar delirando.
Vou perdoá-lo desta vez e nem vou traçar um quadro mais realista demonstrando como o que ele propõe não tem o menor embasamento na realidade, e tampouco faz qualquer sentido econômico. Vou aguardar seu próximo artigo, para depois chegar a uma conclusão.
Paulo Roberto de Almeida

A popularidade de Lula a serviço da modernização
Paulo Guedes
Revista Época, Sábado, 21 de agosto de 2010

Um economista tem, por vício deformação, a mania de buscar a eficiência no uso de recursos. É, portanto, normal pensar no uso de um recurso humano de extraordinária importância como o presidente Lula. O que fazer com ele após a eleição? Lula goza de extraordinária popularidade no Brasil, tem reconhecimento global e é, possivelmente, uma unanimidade na América Latina. Depois de deixar a Presidência, como ele poderia melhor servir ao país?

Volto a um tema que me parece extremamente importante para o futuro desempenho econômico da América Latina: a integração econômica da região sob a égide de uma moeda comum. Apesar dos frequentes tropeços da diplomacia externa brasileira, e de sua visível parcialidade, apoiando governos retrógrados que não respeitam direitos humanos aqui e acolá, Lula tem cacife político pessoal para a empreitada. Com a bandeira da integração econômica, ele pode desencadear uma avalanche de modernização no continente.

A ideia central é a integração econômica continental em direção ao peso-real num prazo de até oito anos. Por que oito anos? Pelo inegável gigantismo da tarefa e também para que o próprio Lula possa entregar o resultado. O mais importante são os desdobramentos da busca pela moeda única regional.

A Venezuela e a Argentina, por exemplo, estão sem moeda confiável. A criação da moeda regional seria uma âncora de estabilidade para os países que se perderam no turbilhão demagógico de Hugo Chávez e do casal Kirchner. Seria uma boia lançada a venezuelanos e argentinos, uma garantia de estabilidade futura.

O que temos nós, brasileiros, a ganhar com isso? Tudo. Pois, entre os desdobramentos da busca da moeda única, está a convergência de regimes fiscais, previdenciários e trabalhistas, problemas que a social-democracia brasileira nunca ousou enfrentar. Penduramos o combate à inflação apenas sobre o Banco Central. Praticamos uma perversa combinação de juros explosivos e dólar barato, duas lâminas decepando a produção e o emprego. Falta ao Brasil um regime fiscal compatível com o crescimento sustentável.

O Chile e o Peru já fizeram profundas reformas em seus regimes trabalhista e previdenciário. Lucram agora com o crescimento acelerado. Enquanto isso, nossos elevados encargos sociais e trabalhistas deixam mais de 50 milhões de brasileiros excluídos do mercado formal e, consequentemente, sem contribuir para a Previdência Social.
Temos muito a ganhar com a integração regional. Haveria convergência para práticas mais eficientes

A livre mobilidade de trabalhadores através das fronteiras, uma exigência da moeda única, requer a convergência das práticas previdenciárias e trabalhistas em direção às mais eficientes, ampliando a criação de empregos e o ritmo de investimentos. Imagine um Tratado de Mar del Plata, a exemplo do Tratado de Maastricht, que consagrou a União Europeia. Imagine também um ex-presidente Lula defendendo a modernização da legislação trabalhista e do regime de previdência em nome do crescimento.

Os eurocéticos indicam a crise da Grécia como uma condenação à moeda única continental. Mas os críticos esquecem que, nas devidas proporções, o Brasil teria o papel da Alemanha nessa configuração continental. Como estaria a Venezuela no papel da Grécia. Os alemães podem se aborrecer com a ideia de ter de ajudar os gregos, mas se beneficiam com sua economia voando, ao exibir seu papel de alicerce de toda a integração continental.

Como estaria o Brasil se, após as reformas modernizantes, Chávez continuar fazendo barulho? Podemos imaginar a economia brasileira com encargos sociais cortados a 20% sobre a folha de pagamentos, taxa de juros reduzida a 5% ao ano, taxa de poupança ampliada para 25% do PIB, inflação comportada por volta de 2% ao ano e o preço do dólar em torno de R$ 3 ou R$ 4, tanto mais alto quanto mais barulho fizesse Chávez. No saldo final, teríamos motivos para dar vivas a nossa Grécia latino-americana.

PAULO GUEDES é economista e escreve quinzenalmente em ÉPOCA

Direitos humanos: apontando o dedo... para tras...

Direitos humanos às escuras
Sergio Fausto
21 de agosto de 2010

Em artigo na Folha de S.Paulo no domingo passado, o chanceler Celso Amorim criticou a diplomacia do "dedo em riste" na área dos direitos humanos. Afirmou que esta agrada à plateia, mas não protege de fato as vítimas de violações daqueles direitos. Mais eficazes seriam as negociações de bastidores com os Estados violadores, conforme proposta apresentada pelo Brasil ao grupo de 19 países incumbido de refletir sobre o fortalecimento do Conselho de Direitos Humanos da ONU.

A manifestação de Amorim - que parece ter-se esquecido da importância das pressões internacionais para o fim do apartheid na África do Sul e das ditaduras militares na América do Sul - indica que continuamos a distanciar-nos da política externa seguida pelo País nessa área, desde o retorno à democracia até o governo Lula.

Nesse período não praticamos a diplomacia do "dedo em riste" nem deixamos de reconhecer com realismo os limites da ação externa para proteção dos direitos humanos, muito menos de ponderar pragmaticamente os nossos interesses econômicos e políticos. No entanto, marcamos com clareza o compromisso com o valor universal dos direitos humanos. Subscrevemos um conjunto de convenções internacionais (a começar pela Convenção Contra a Tortura) que nos havíamos recusado a assinar sob a ditadura militar. E inscrevemos na Constituição a determinação legal que dá prevalência aos direitos humanos na condução da política externa.

No atual governo acumulam-se sinais de mudança. Discretos, mas significativos, na atuação do Brasil no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Visíveis nas ações e nas palavras dos principais formuladores da política externa, a começar pelo presidente da República.

A nova orientação da política externa obedece a um diagnóstico segundo o qual o tema dos direitos humanos é manipulado pelas grandes potências ocidentais. Ninguém o exprime melhor do que Samuel Pinheiro Guimarães. Para o ex-segundo homem do Itamaraty e hoje ministro de Assuntos Estratégicos, a defesa dos direitos humanos "dissimula, com sua linguagem humanitária e altruísta, as ações táticas das grandes potências em defesa de seus interesses estratégicos". O alvo da crítica são, principalmente, os Estados Unidos, cuja hegemonia no sistema internacional representaria um dos principais obstáculos, se não ameaça, à projeção do Brasil na cena global, como se lê em seu livro Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes. Ou seja, a defesa dos direitos humanos, assim como a defesa da não-proliferação nuclear, presta-se, na prática, ao congelamento do poder mundial tal como hoje se distribui. O resto seria retórica, mal ou bem-intencionada.

Se queremos e podemos tornar-nos um dos gigantes do mundo, e se a defesa dos direitos humanos não é senão a forma como os interesses das "potências ocidentais" se travestem em preocupações humanitárias, o objetivo do Brasil deve ser o de remover a maquiagem ideológica que recobre o tema nos fóruns multilaterais. Não para afirmar o valor em si, e nossas credenciais diferenciadas em relação a ele, mas para relegá-lo a um plano secundário. Quem sabe, com o propósito de livrar-nos dos constrangimentos que a deliberação à luz do dia sobre eventuais casos de violação dos direitos humanos pode impor à nossa movimentação internacional, agora que, acredita-se, nos estamos tornando um dos gigantes do planeta.

Fazer alianças pontuais para questionar a distribuição de poder atual no mundo é objetivo legítimo e oportuno. Ele vem sendo, porém, perseguido ao preço da leniência com violadores contumazes dos direitos humanos. Fica a impressão, certa ou errada, de que a proposta defendida por Amorim tem entre suas motivações a de reduzir o dano moral que a política externa do atual governo na área dos direitos humanos provoca na imagem internacional do Brasil. Figurativamente, em vez de repensar nossa atuação em cena, preferimos apagar a luz do palco.

Para ser efetiva, a proteção internacional dos direitos humanos precisa do olhar vigilante, da ação ruidosa, às vezes equivocada, mas sempre indispensável, de ONGs ligadas ao tema. Não é preciso idealizar o que seja esse embrião de uma sociedade civil internacional para reconhecer sua importância, tanto mais agora que países com regimes autoritários e repressivos ganham peso na balança de poder global. Estaríamos querendo nos proteger desse olhar para mais livremente manejar nossos interesses econômicos e nossa projeção de poder na nova ordem multipolar?

A visão de mundo expressa por Samuel Pinheiro Guimarães é compartilhada por grande parte das forças políticas de sustentação do atual governo. Comunga o PT o diagnóstico de que a defesa dos direitos humanos é parte da hegemonia norte-americana. O antiamericanismo é um elemento de coesão no campo das esquerdas menos ou não-democráticas, sobretudo na América Latina, onde o partido construiu uma ampla rede de alianças. Serve para defender as violações dos direitos humanos em Cuba e para justificar Chávez e o chavismo. Explica também certa simpatia por grupos como o Hezbollah e o Hamas e a complacência com Ahmadinejad.

Tem razão quem diz que os Estados Unidos não nos devem servir de modelo. Em muitas ocasiões, desde que se tornou uma potência econômica e militar, a atuação externa desse país conflitou com os valores democráticos que professa. A questão, porém, não se resume a questionar as credenciais dos Estados Unidos. O fato de tais credenciais serem questionáveis não nos libera de responder à pergunta e prestar contas sobre o lugar que valores fundamentais como a defesa dos direitos humanos terão em nossa política externa, agora que projetamos nossos interesses e nossas aspirações de poder em escala global.

Será que para sermos gigantes precisamos apequenar-nos na sustentação de valores que devem marcar a nossa identidade internacional?

DIRETOR EXECUTIVO DO iFHC, É MEMBRO DO GACINT-USP.

A tragedia educacional brasileira: os mitos africanos e indigenas

Todo mundo sabe que o Brasil possui um ensino público manifestamente ruim. Ruim é pouco. Eu diria pavoroso, em todo caso muito pior do que possamos imaginar.
Pois o governo se empenha em deixá-lo ainda pior, introduzindo suas fraudes históricas que correspondem a ideologia esclerosada dos povos africanos e indígenas como formadores do povo brasileiro. Eu diria que sim, por uma proporção mínima, marginal, insignificante, em relação a nossas origens europeias e toda a cultura europeia que nos permitiu construir um país relativamente moderno, em todo caso bem mais moderno que certos vizinhoso que tiveram, eles sim, uma carga indígena bem maior e mais forte, etnicamente, demograficamente, socialmente. No caso deles, a situação pode ser agravada com a promoção de uma falsa cultura "indigenista", que nada mais é do que uma mitologia dos povos originários que não tem mais nenhuma função na sociedade moderna, a não ser para estudos antropológicos.
Pois no caso brasileiro, o governo promove a falsidade da tradição africana (ninguém sabe o que é isso) e indígena (onde?, além dos nomes de lugares?) em lugar de cuidar do que é relevante: língua pátria, ciências e matemáticas elementares.
Vamos continuar caminhando para o brejo, seco e pantanoso, pestilento e idiota...
Paulo Roberto de Almeida

O inchaço do currículo escolar
Editorial - O Estado de S.Paulo
20 de agosto de 2010

Introduzidas no currículo do ensino médio para afirmar teses "politicamente corretas" ou em resposta a pressões ideológicas e corporativas, disciplinas como cultura indígena e cultura afro-brasileira estão agravando as distorções do sistema educacional brasileiro.

Não bastasse a dificuldade que já enfrentam para ensinar aos alunos as disciplinas básicas, como português, matemática e ciências, ao serem obrigados a lecionar disciplinas criadas com o objetivo de resgatar a "dívida histórica com a escravidão" e a "dívida social com os povos da floresta", muitos professores acabam perdendo o controle dos seus cursos, transformando-os em verdadeiros pastiches de informações ideologicamente enviesadas.

Só nos últimos três anos, emendas aprovadas pelo Congresso incluíram seis novas disciplinas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Além de cultura afro-brasileira e cultura indígena, a rede escolar de ensino básico também tem de oferecer as disciplinas filosofia, sociologia, meio ambiente, regras de trânsito e direitos das crianças e dos idosos.

Tramitam ainda no Congresso centenas de projetos propondo a criação de mais "conteúdos" como esses. No levantamento que fez para sua tese de doutorado, a professora Fátima Oliveira, da Universidade Federal de Minas Gerais, constatou que só a Câmara dos Deputados recebeu 545 propostas desse tipo, entre 1995 e 2003.

O inchaço do currículo acarreta graves problemas. Compromete a adoção de novos projetos pedagógicos, obriga os professores a reduzir a carga horária das disciplinas básicas, para lecionar as novas matérias, e acarreta desperdício de recursos, pois as escolas têm de produzir material didático. Esses problemas tendem a perpetuar a má qualidade da educação básica, como deixa claro o desempenho dos estudantes brasileiros nas provas e testes internacionais de avaliação de conhecimento. Com uma alfabetização e uma formação deficientes, eles estão sempre nas últimas colocações.

Políticos, movimentos sociais e entidades engajadas defendem a introdução das novas disciplinas alegando que elas promovem a inclusão social. Segundo eles, a "escolarização" de temas sociais abriria caminho para a justiça social. Os especialistas discordam. "A escola tem de dar os fundamentos para que o aluno faça sua leitura do mundo. Não é a oferta de disciplina sobre drogas que vai garantir que o jovem se afaste do vício", diz a presidente do Conselho Nacional de Secretários da Educação, Yvelise Arcoverde.

No mesmo sentido, não são disciplinas como cultura afro-brasileira e cultura indígena que vão reduzir as disparidades de renda. Como tem sido evidenciado pelas recentes e bem-sucedidas experiências de países como a Coreia do Sul e a Índia, só a formação básica de qualidade garante a redução da pobreza e assegura o capital humano necessário a uma economia capaz de ocupar espaços cada vez maiores no mercado mundial. "Cada vez mais se está entulhando coisas nos currículos, por meio de emendas na LDB", afirma a pesquisadora Paula Lozano, da Fundação Lemann. "São tantas emendas que se torna impossível montar um currículo", argumenta Mauro Aguiar, do Colégio Bandeirantes.

Em vez de ser objeto de decisão legislativa, a organização do currículo escolar deveria ficar a cargo de órgãos técnicos e as redes escolares deveriam ter autonomia para definir os conteúdos pedagógicos que consideram necessários à formação de seus alunos. Defendendo essa tese e se empenhando para evitar o desfiguramento do ensino básico, alguns colégios particulares decidiram fazer lobby para desbastar os currículos. A ideia é que as novas disciplinas sejam lecionadas como parte das disciplinas básicas, sem necessidade de aulas exclusivas para os chamados temas sociais.

A iniciativa parece estar dando certo. Em São Paulo, por exemplo, o Conselho Estadual de Educação acaba de emitir um parecer permitindo que os conteúdos de filosofia e sociologia sejam dados dentro de outras disciplinas - como história. É um exemplo a ser seguido pelos outros Estados.

sábado, 21 de agosto de 2010

Os embromadores de sempre, em busca de eleitores inocentes...

Infantilismo e controle
MERVAL PEREIRA
O GLOBO, 21/08/10

A infantilização do eleitorado brasileiro denunciada pela candidata do Partido Verde, Marina Silva, é um dos sustentáculos da alta popularidade do presidente Lula. E a campanha eleitoral vai se desenrolando de acordo com os planos desenhados por ele à imagem e semelhança do seu governo, praticando o que talvez seja o maior mal que esteja fazendo ao país: a esterilização da política.

O controle dos partidos através da distribuição de cargos e de métodos mais radicais como o mensalão neutraliza a ação congressual, permitindo a formação de uma aliança política tão heterogênea quanto amorfa, com partidos que em comum têm apenas o apetite pelos benefícios que possam obter apoiando o governo da ocasião.

A quase unanimidade a favor se deve também ao assistencialismo e à cooptação dos “movimentos sociais”, de um lado, e de outro a uma política econômica que aumenta os gastos com juros, Previdência e programas assistenciais.

Uma frente que tem, num extremo, o setor financeiro e, no outro, os mais pobres, numa estranha aliança dos rentistas do Bolsa Família com os rentistas financeiros.

O pragmatismo que rege essa maneira de fazer política fez com que o PT engolisse a candidata oficial, tirada da cartola do ilusionista Lula e literalmente maquiada pela equipe de marqueteiros, que vende ao eleitorado uma persona política tão falsa quanto a favela cenográfica do programa de estreia do candidato do PSDB.

A ex-guerrilheira, durona e de trato difícil, transformouse em tempo real numa senhora simpática que quer se tornar “a mãe” do Brasil.

O governo Lula vem acelerando sua transformação, neste segundo mandato, na direção de um Estado nacionalista, populista e patrimonialista, dependente cada vez mais da vontade do líder carismático, que não aceita os limites da lei, muito menos críticas. E se considera “o pai” do “seu” povo.

A autoestima exagerada provoca sentimento de onipotência que faz o seu possuidor acreditar estar acima das regras que o constrangem.

Na política, pode produzir ditadores ou, no nosso caso, uma versão pós-moderna do caudilhismo latino-americano, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso definiu como um “subperonismo lulista”.

Essa geleia geral que hoje apoia a candidatura oficial pode ter o mesmo destino do peronismo argentino na era pós-Lula que se avizinha, com diversos grupos disputando o espólio político do lulismo.

E Lula, fora do governo, querendo controlar os cordéis de seu fantoche.

Ao mesmo tempo em que aprofunda suas críticas aos órgãos fiscalizadores do Estado, como o Ibama, o Tribunal de Contas da União (TCU) ou até mesmo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tentando constrangê-los, o presidente Lula insiste na tentativa de neutralizar os veículos da grande imprensa, no pressuposto de que, com sua imensa popularidade, pode controlar a opinião pública.

Não é suficiente uma nota oficial para garantir a liberdade de expressão, quando há tentativas concretas, desde o início do governo, de “democratizar” os meios de informação, uma ideia recorrente que vem sendo derrotada desde que primeiramente foi oferecida a debate, com a proposta de criação de um Conselho Nacional de Jornalismo, que fiscalizaria os jornalistas para evitar “desvios éticos”.

Ela ressuscitou com a aprovação, na Conferência Nacional da Comunicação (Confecon), de um Observatório Nacional de Mídia e Direitos Humanos para monitorar a “mídia” e é similar à proposta contida no Programa Nacional de Direitos Humanos de punir os órgãos de comunicação que transgredirem normas a serem ditadas por um conselho governamental.

A questão é que, quando o governo fala em democracia, não está se referindo aos regimes em vigor no mundo ocidental, mas aos regimes bolivarianos gerados a partir do autoritarismo chavista na Venezuela, onde Lula acha que há “democracia até demais”.

Não é simples coincidência que tanto lá quanto na Argentina dos Kirchner os meios de comunicação são perseguidos ou coagidos com base em legislações nascidas de poderes cada vez menos democráticos.

E também não é mera coincidência que esses regimes esquerdistas da América do Sul tenham sua gênese no Foro de São Paulo, uma reunião da esquerda da América Latina que Lula e Fidel Castro organizaram em 1990 para o estabelecimento de uma estratégia comum, na definição do próprio Lula em discurso.

O problema é que o Foro de São Paulo abrigava na sua fundação não apenas partidos políticos de vários matizes da esquerda, mas também organizações guerrilheiras como as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farcs) ou a Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca (UNRG), consideradas terroristas, acusadas de tráfico de drogas e outras atividades criminosas.

Negar a relação do PT com as Farcs é imaginar que não existam registros confirmando, como uma entrevista de Raul Reys, o número dois das Farcs que morreu recentemente em confronto com o exército da Colômbia, contando como conheceu Lula num desses encontros.

As Farcs classificaram certa vez em nota oficial o Foro de São Paulo como “uma trincheira onde podemos encontrar os revolucionários de diferentes tendências, e diferentes manifestações de luta e de partidos (...)”.

A continuidade dessa política de aparelhamento do Estado é o que está em jogo nestas eleições, e é por isso que o presidente Lula está tão empenhado em vencêlas, e não apenas elegendo sua candidata à Presidência da República.

A estratégia de tentar influenciar a eleição do Congresso, sobretudo a do Senado, tem por trás o desejo de abrir caminho para aprovar legislação que aumente o controle do governo sobre o Estado brasileiro e, eventualmente, sobre a sociedade, através da “democracia direta”, à base de plebiscitos.

Telecomunicações: como o governo rouba a sociedade...

Quem diz não sou eu, mas um respeitado colunista e especialista em telecomunicações. Acho que não preciso acrescentar uma linha sequer ao que ele disse, apenas confirmar que o governo nos faz de idiotas, de idiotas, de ingênuos inúteis, pois sequer sabemos defender o nosso patrimônio, contra esse assalto declarado e aberto do Estado.
Paulo Roberto de Almeida

Um confisco de R$ 362 bilhões
Ethevaldo Siqueira
Estado de São Paulo, 08/08/2010)

Os adversários do modelo privatizado das telecomunicações inventaram a palavra privataria, uma mistura de privatização e pirataria, para desqualificar o processo de desestatização do setor, levantando suspeitas sobre sua lisura. Pura mentira e desespero, por falta de argumentos. Mesmo diante de uma expansão de quase 900% da infraestrutura setorial, em 12 anos, os defensores do velho monopólio estatal ainda falam em privataria.

Mostro neste artigo a incrível ganância estatal, em relação às telecomunicações do País. E começo com uma pergunta: “Você sabia, leitor, que nós, assinantes e usuários de telefonia fixa e móvel – cidadãos como eu e você – já recolhemos R$ 330 bilhões de impostos aos cofres do governo, ao longo dos últimos 10 anos (2001-2010)”?

Pois bem, mesmo depois de ter vendido suas ações nas empresas de telecomunicações, o maior sócio de todo o setor continuou a ser o Estado brasileiro, pois arrecada anualmente nesse setor o correspondente a 10 vezes o lucro líquido de todas as operadoras de telefonia fixa e celular juntas.

As distorções crescem e se agravam ano a ano, com a elevação das alíquotas de tributação sobre serviços de telefonia fixa e móvel, e que hoje são as maiores do mundo (43% sobre o valor dos serviços). Só a Turquia comete equívoco semelhante, ao tributar suas telecomunicações em 42%.

É claro que, com menos impostos, o preço dos serviços poderia ser bem menor e as tarifas telefônicas brasileiras não seriam consideradas as mais caras do mundo.

E pior do que isso: em lugar de investir nesse setor vital, o Estado brasileiro prefere usar as telecomunicações como uma vaca leiteira, uma mina de ouro, da qual retira e confisca o máximo. Nessas condições, não poderia haver melhor negócio no mundo para o governo do que a privatização do velho Sistema Telebrás.

Assalto
Além dos R$ 330 bilhões de impostos arrecadados nesta década, o Estado retira muitos outros bilhões da telefonia. Acompanhe, leitor, a demonstração, passo a passo, dos números referentes a tudo que tem sido retirado e arrecadado de nossos bolsos e do setor pelo Estado brasileiro, desde os leilões, vendas de licenças, impostos e fundos setoriais não aplicados.

Ao privatizar, o governo brasileiro vendeu o controle da antiga Telebrás por R$ 22,2 bilhões e ainda faturou mais R$ 20,1 bilhões com os leilões de licenças de celulares e faixas de frequências. Em seguida, reformulou os tributos (em especial o ICMS) para ampliar a arrecadação e chegar aos R$ 330,4 bilhões recolhidos nesta década. Esse enorme confisco tem ocorrido ao longo dos últimos 10 anos, sendo dois anos do governo FHC, de 2001 a 2002, e oito anos no governo Lula, de 2003 a 2010.

Mas a sangria do setor não termina aí. Além desse montante, o governo federal ainda embolsou no mesmo período mais R$ 32 bilhões que pertenciam a três fundos setoriais, assim distribuídos: a) R$ 22 bilhões do excesso de arrecadação do Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), b) R$ 8 bilhões correspondentes à totalidade da arrecadação do Fundo de Universalização das Telecomunicações (Fust,) e c) R$ 2 bilhões dos recursos excedentes do Fundo de Tecnologia de Telecomunicações (Funttel).

Ilegalidade total
Esse confisco de R$ 32 bilhões dos fundos setoriais é um exemplo de ilegalidade flagrante, pois esses recursos são carimbados, com destinação legal certa e obrigatória. Deveriam, portanto, ter sido aplicados integralmente em fiscalização, universalização dos serviços e pesquisa tecnológica. Mas não foram. Na linguagem vulgar, esses R$ 32 bilhões foram para o ralo. Ou seja, para a vala comum do superávit fiscal.

Imagine, agora, o que teríamos hoje de modernização setorial se, por hipótese, o governo tivesse investido os R$ 32 bilhões e a fatia de apenas 10% dos R$ 330 bilhões de impostos arrecadados (R$ 33 bilhões), num grande projeto de banda larga e inclusão digital.

Seriam R$ 65 bilhões (o equivalente a US$ 37 bilhões), quantia suficiente para implantar uma das infraestruturas de banda larga mais avançadas do mundo, tão moderna quanto a do Japão ou da Coreia do Sul.

Por outras palavras, com esse investimento, poderíamos ter assegurado ao País uma penetração de banda larga da ordem de 80 ou 90% de seus domicílios, bem próxima da que têm os países mais desenvolvidos.

Balanço final.

Agora, caro leitor, some os R$ 330 bilhões de tributos escorchantes ao confisco de R$ 32 bilhões dos fundos e terá o total de R$ 362 bilhões. Eis aí o grande mal que o governo federal tem feito contra as telecomunicações, segundo dados oficiais da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Tesouro Nacional (Siafi), Confaz, revelados em estudo do Sindicato das Empresas Operadoras de Telecomunicações (Sinditelebrasil).

Faça um teste, leitor. Pergunte ao cidadão comum se ele sabe quanto paga de impostos em sua conta de energia elétrica, gasolina, alimentos essenciais, água, transportes ou na conta de telefone fixo ou celular.

“Impostos? Sei, não” – responderá o pobre cidadão alienado. Como tanta gente neste País, ele não sabe nada.

É dessa inconsciência que se aproveitam todos os governos perdulários e populistas, ao longo da história.

The END is not the end... (com perdão pelo trocadilho...)

Sim, um trocadilho infame com a grandiosa Estratégia Nacional de Defesa, publicada no final de 2008, e que não é absolutamente uma estratégia, é muito pouco de defesa e que apenas é, prosaicamente, nacional (talvez exageradamente).
Enfim, apenas para chamar a atenção -- já que acabo de receber o aviso -- para a publicação deste meu trabalho:

A Arte de NÃO Fazer a Guerra: novos comentários à Estratégia Nacional de Defesa
Meridiano 47 (vol. 11, n. 119, junho 2010, p. 21-31; ISBN: 1518-1219)
link para o boletim: http://meridiano47.files.wordpress.com/2010/08/v11n119.pdf;
link para o artigo: http://seer.bce.unb.br/index.php/MED/article/view/638/407.
Originais n. 2066; Publicados n. 972

Uma sugestao: fechar a porta aos anônimos...

Leio num blog português, que talvez tenha inteiramente razão:

Anónimos ficam à porta
Este blog não aceita comentários anónimos, de qualquer tipo.


Vou pensar nisso; acho que vou ter menos material a processar (de qualquer tipo de qualidade, do bom, do mau e do feio...)

Refletindo...