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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Relacoes EUA-Brasil: entrevista com Emb. Shannon

Brasil 'tem oportunidade' de passar da abstenção à ação, diz embaixador dos EUA

FÁBIO BRANDT - DE BRASÍLIA
Folha de S.Paulo, 27/10/2011

O embaixador do Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, disse nesta quarta-feira (26) que "o Brasil tem a oportunidade de tomar passos importantes e de passar de um país que se abstenha para um país que atua". Shannon se referiu às recentes abstenções brasileiras na ONU sobre conflitos na Líbia e na Síria.
O diplomata falou sobre o assunto no programa "Poder e Política - Entrevista" conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues no estúdio do Grupo Folha em Brasília. O projeto é uma parceria do UOL e da Folha.
Sobre a vontade do Brasil de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, Shannon disse que o país faz parte de um grupo de países que têm capacidade de "atuar no mundo". Mas ressalvou que "o processo de reformar o Conselho [de Segurança da ONU] e determinar os novos integrantes ou membros do Conselho não é tanto uma troca transacional, como [também] um processo de reconhecer poder, o poder no mundo".
O americano concedeu a entrevista em português. Entre outros assuntos, falou sobre as mortes de Muamar Gaddafi e Osama bin Laden. Também respondeu sobre a extinção do visto de entrada nos EUA para brasileiros e sobre as relações comerciais entre os dois países.
A transcrição está disponível em texto.
Thomas Shannon - 26/10/2011
Narração de abertura: Thomas Shannon Jr. é diplomata de carreira e assumiu como embaixador dos Estados Unidos no Brasil em fevereiro de 2010. Shannon tem 53 anos e fala português.
Antes de ser embaixador no Brasil, Thomas Shannon trabalhou no Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos. No governo de George W. Bush, foi assessor especial do presidente e diretor sênior para assuntos do Hemisfério Ocidental.
Em agosto de 2011, Shannon foi chamado de volta a Washington. Ocupou interinamente o importante cargo de subsecretário de Estado para Assuntos Políticos. Agora, em outubro de 2011, reassumiu o posto de embaixador no Brasil.
Folha/UOL: Olá internauta. Bem-vindo ao "Poder e Política Entrevista".
O programa é uma realização do jornal Folha de São Paulo, do portal UOL e da Folha.com. A gravação é realizada aqui no estúdio do Grupo Folha em Brasília.
O entrevistado desta edição do Poder e Política é o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon.
Folha/UOL: Embaixador, muito obrigado pela sua presença. E eu começo perguntando: como andam as relações entre Brasil e Estados Unidos? Melhoraram depois da posse de Dilma Rousseff?
Thomas Shannon: As relações são excelentes. Realmente estamos em um momento positivo nas relações. Positivo não somente bilateralmente, mas também no que o Brasil e os Estados Unidos estão fazendo globalmente. Então, para mim, este é o momento de ser o embaixador dos Estados Unidos no Brasil.
Folha/UOL: O presidente Barack Obama visitou o Brasil neste ano [2011], a presidente Dilma Rousseff tem uma visita pré-agendada aos Estados Unidos para o ano que vem [2012]. Qual é o saldo até agora da visita de Barack Obama ao Brasil?
Thomas Shannon: A visita do presidente Obama, especialmente a sua conversa com a presidente Rousseff, foi importante para definir uma agenda do século 21 entre o Brasil e os Estados Unidos. Uma agenda com enfoque na infraestrutura, na ciência e tecnologia, na educação, na inovação e na maneira como os Estados Unidos e o Brasil podem colaborar nessas quatro áreas entre eles, mas também no mundo.
Folha/UOL: Já há algum projeto mais específico que foi tratado e sobre o qual se avançou nessas áreas?
Thomas Shannon: Vários. Começando com os acordos que assinamos durante a visita, como o acordo de céus abertos, que vai permitir grande movimento de linhas aéreas brasileiras para os Estados Unidos e dos Estados Unidos para o Brasil. Vai melhorar o turismo, vai melhorar o intercambio comercial e de investimento.
Mas também estamos trabalhando em cooperação comercial na área espacial e nosso administrador da Nasa [a agência espacial dos EUA] está aqui no Brasil hoje. Amanhã eu vou para São Paulo para me reunir com ele. Mas também assinamos um acordo de cooperação econômica que vai promover as negociações especialmente em setores de nossas economias onde há complementaridade, que realmente abrem muito espaço para o Brasil e os Estados Unidos avançarem em nossas relações.
Folha/UOL: O caso desse acordo que o sr. mencionou, o "céu aberto", para companhias americanas operarem no Brasil e vice-versa. Quando se pode esperar algum acordo para que alguma companhia americana comece a operar novos voos no Brasil e vice-versa?
Thomas Shannon: Já estamos experimentando novos voos em diferentes cidades aqui no Brasil. Mas primeiro o Congresso tem que aprovar ou ratificar o tratado. Mas temos um memorando de entendimento que vai permitir uma abertura durante os próximos três anos, com a ideia de que, em 2015, o mercado, em termos de linhas aéreas, vai ser totalmente aberto.
Folha/UOL: Já há alguma data prevista, mais firme, para a visita da presidente Dilma Rousseff a Washington?
Thomas Shannon: Ainda estamos trabalhando com o Planalto para determinar a data. Mas eu acho que... a nossa ideia é que vá ocorrer em março [de 2012].
Folha/UOL: Em março de 2012. Os pontos da agenda que o sr. acha que poderão ser incluídos nessa visita seriam quais os mais importantes?
Thomas Shannon: Nossas relações são super amplas. Então vamos obviamente falar de muitas coisas. Mas os dois presidentes têm muito interesse em melhorar a relação comercial e também de investimento. Também têm muito interesse de avançar nos programas de intercâmbio educacional, especialmente o programa da presidente Rousseff, Ciência sem Fronteiras. Mas também o Brasil por ser um poder global hoje abre um espaço para um diálogo, uma conversação muito mais ampla sobre o mundo.
Folha/UOL: Há um tema que sempre interessa muito aos brasileiros, sobretudo os brasileiros que viajam aos Estados Unidos, que é a obtenção de visto de entrada nos Estados Unidos. Já houve alguma melhoria nos últimos tempos sobre a validade do visto. Mas há sempre a discussão possível de que, no futuro, Brasil e Estados Unidos poderiam abolir o visto de entrada mutuamente. O que o sr. acha disso e qual é essa possibilidade?
Thomas Shannon: Eu acho que isso vai ocorrer no futuro. Simplesmente pela relação entre o Brasil e os Estados Unidos e também pela economia do Brasil, a potencia que é o Brasil hoje e que vai ser o Brasil no futuro.
Folha/UOL: O que está faltando para isso acontecer?
Thomas Shannon: Nos Estados Unidos o Congresso determina os critérios para abolir a necessidade de um visto. Tem a ver com a quantidade de pessoas que viajam aos Estados Unidos e os que podem obter o visto. E também uma série de regras e acordos entre o Brasil e Estados Unidos sobre a integridade de documentos e a confiança que os dois países têm e na identidade de cada pessoas que está viajando. Estamos trabalhando em todas essas áreas. Agora mesmo temos um diálogo bilateral consular entre Itamaraty e Estados Unidos e também entre diferentes entidades do governo dos Estados Unidos e aqui do Brasil para abrir um espaço para progredir nessa área.
Folha/UOL: O sr., sendo realista, acredita que o horizonte para que isso evolua para um acordo seria um ano, cinco anos, dez anos? Ou é difícil dizer?
Thomas Shannon: É difícil dizer neste momento. Porque depende de cada passo desse processo. Mas no momento estamos fazendo todo o possível para facilitar as entrevistas em nossos consulados e também em nossa embaixada e facilitar a autorização dos vistos. Incluindo aumento do [número de] oficiais que estão aqui trabalhando nos assuntos de visto e também ampliando nossa capacidade física de receber mais brasileiros.
Folha/UOL: O Brasil hoje, entre os países que necessitam de visto ara entrar nos Estados Unidos, encontra-se em qual posição no ranking de países que mais pedem visto de entrada?
Thomas Shannon: É o terceiro país no mundo, depois de China e México.
Folha/UOL: Isso vem sendo assim já há algum tempo?
Thomas Shannon: Isso é coisa nova, durante os últimos anos. Reflete a economia do Brasil, especialmente a emergência de uma classe média aqui. Ou seja, neste ano vamos autorizar mais de 800 mil vistos no Brasil e no ano que vem estamos esperando mais de 1 milhão de vistos.
Folha/UOL: O Brasil tem ficado cada vez mais proeminente no cenário global, atuado em várias frentes diplomáticas e uma delas é o pleito, o desejo do Brasil, de integrar de maneira permanente o Conselho de Segurança da ONU. Os Estados Unidos já demonstraram simpatia a respeito disso, mas não há um comprometimento. É possível evoluir nessa área, o comprometimento dos Estados Unidos a respeito do desejo do Brasil?
Thomas Shannon: É parte de nosso diálogo bilateral com o Brasil. E o importante é que durante a visita do presidente Obama ele mostrou mais que simpatia. Ele mostrou respeito. E também reconhecimento do papel importante que o Brasil já está assumindo no mundo. Mas também é importante reconhecer e entender que não é simplesmente um compromisso entre países sobre quem vai estar no Conselho. Temos que construir um processo para chegar a esse ponto. Ou seja: como reformar o Conselho de Segurança? E nesse sentido o Brasil e os Estados Unidos andamos juntos porque reconhecemos a importância de reformar o Conselho.
Folha/UOL: O sr. acha que na visita da presidente Dilma o palavreado diplomático pode evoluir um pouquinho? Porque na última visita do presidente Obama ele realmente declarou respeito pela posição brasileira de querer uma reforma do Conselho e uma vaga. O sr. acha que vai evoluir um pouco mais ou vai ficar nesse estágio ainda?
Thomas Shannon: Temos trabalho a fazer. E por isso temos essa conversa, esse diálogo bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos. Então eu não vou antecipar os resultados, mas estamos trabalhando.
Folha/UOL: O sr. acha que tem sido mais positiva do que negativa a negociação nessa área entre os dois países? Ou neutra?
Thomas Shannon: Eu acho que, pelo papel do Brasil no mundo, a cada dia é mais positiva. Mas, outra vez, temos que reconhecer que o desafio mais importante é construir um processo de reformar o Conselho. Não somente identificar os países que podem integrar um novo Conselho.
Folha/UOL: Qual seria a ação ou a atitude que o governo brasileiro poderia empreender para ter realmente condições de integrar o Conselho de Segurança [da ONU]?
Thomas Shannon: O processo de reformar o Conselho e determinar os novos integrantes ou membros do Conselho não é tanto uma troca transacional, como [também] um processo de reconhecer poder, o poder no mundo, e os países que têm capacidade de atuar no mundo. E nesse sentido eu acho que o Brasil é obviamente parte deste grupo de países. Porque a reforma vai indicar países que vão ficar no Conselho por muitos anos. Então é bem difícil dizer que eu vou trocar ou intercambiar uma presença permanente para uma ação particular. Então não é transacional. É muito mais importante do que isso.
Folha/UOL: Vamos falar de relações comerciais Brasil-Estados Unidos. O Congresso do seu país deve em 2012 aprovar uma nova lei de subsídios agrícolas. A chamada "Farm Bill". Em tese haverá ali alguns elementos que serão contestados pelo governo brasileiro em termos de subsídios. Como o sr. acha que vai ser esse novo pacote de subsídios que o Congresso deve aprovar?
Thomas Shannon: Sempre é perigoso para um diplomata antecipar o que vai fazer o nosso Congresso, porque os fatores de poder lá são complicados. Mas eu acho que essa votação no Congresso em 2012 vai ser em suma positiva. Então eu acho que vão avançar as relações agrícolas entre o Brasil e os Estados Unidos.
Folha/UOL: Porque há sempre essa negociação a respeito de alguns produtos principais como etanol e algodão. Nessas duas áreas o sr. acha que pode haver algum avanço em relação ao que se tem hoje?
Thomas Shannon: Pois, outra vez, eu vou deixar essas coisas do Congresso. Mas eu acho que já estabelecemos um palco, uma área de negociação entre o Brasil e os Estados Unidos nessa área. Uma área de cooperação, que é positiva e que indica para o nosso Congresso os benefícios que podem existir com um Farm Bill adequado.
Folha/UOL: Mas o seu governo tem interagido para que, enfim, digamos no caso do etanol, que é um caso sempre mencionado. Que possa ser mais facilitada a compra do etanol brasileiro por americanos?
Thomas Shannon: Há um debate no Congresso e entre a administração e o Congresso sobre isso. E parte tem a ver com nossa política de energia, ou energética, e tem a ver com nosso orçamento público e os gastos de nosso orçamento público. Mas eu acho que o Brasil e os Estados Unidos somos parceiros em [fazer] avançar a ideia de energia renovável. E especialmente a capacidade de criar novos tipos de biocombustíveis.
Folha/UOL: O sr. está aqui desde 2010. Então conviveu um pouco com o governo Lula. Agora com o governo Dilma Rousseff. Com dois chanceleres, Celso Amorim e Antonio Patriota. Há alguma mudança no dia a dia, no tratamento, nas relações Brasil-Estados Unidos com essa troca de governo?
Thomas Shannon: O fantástico das relações entre o Brasil e os Estados Unidos é que não é status quo. Ou seja, cada dia é um dia novo. Porque tem que ver como é a transformações do Brasil domesticamente e internacionalmente. E tem que ver como são as transformações de que ocorrem no mundo, na área global. Então da maneira com que o Brasil e os Estados Unidos estabelecem relações e estabelecem diálogos dinâmicos que mudam a cada dia. Durante o tempo de Lula e de Celso Amorim havia avanços importantes na relação. Especialmente na estrutura da relação, essa estrutura de diálogo. Mas também com a presidente Rousseff e o ministro Patriota estamos avançando. Ou seja, há continuidade no sentido de uma trajetória positiva.
Folha/UOL: Surgiu algum tema novo, com a chegada de Patriota e Dilma Roussef ao governo, nas relações? Ou foi só uma continuidade.
Thomas Shannon: Como falou o ministro Patriota, a continuidade não quer dizer repetir. Ou seja, estamos construindo realmente a cada dia mais coisas importantes na relação. Eu acho que a troca de ideias e a conversa entre o Brasil e os Estados Unidos em assuntos de Oriente Médio já está a cada dia mais sofisticada e mais útil para os dois países e também na área social. Especialmente na área de educação. E essa iniciativa da presidente Rousseff, Ciência sem Fronteiras, estamos trabalhando para abrir um espaço para brasileiros nas universidades nos Estados Unidos. Então eu acho que na área de diplomacia tradicional e também na área da diplomacia nova, essa diplomacia social, que conecta nossas sociedades. Estamos avançando de uma maneira superinteligente.
Folha/UOL: O sr. mencionou que houve uma evolução, uma sofisticação nas conversas Brasil-Estados Unidos a respeito, por exemplo, de Oriente Médio. O sr. teria como dar um exemplo de como evoluiu essa discussão?
Thomas Shannon: Eu acho que pela crise na Líbia e, depois, na Síria. Havia uma intensificação nessas conversas entre o Brasil e os Estados Unidos. E também pelo fato de que o Brasil hoje é membro do Conselho de Segurança da ONU. E isso ajuda muito, para nós, a entender a posição do Brasil. E também acho que ajuda o Brasil a entender a posição dos Estados Unidos. Por exemplo: o papel do Brasil no Conselho de Direitos Humanos. Para nós é sumamente interessante, especialmente sua capacidade de falar abertamente sobre a importância de não reprimir civis durante manifestações e outras atividades na Líbia e na Síria e sua capacidade de falar diretamente da importância dos Direitos Humanos na Primavera Árabe.
Folha/UOL: Mas então como o sr. e seu governo interpretariam as abstenções do Brasil no Conselho de Segurança neste ano sobre ação militar na Líbia, sobre repressão a manifestantes pelo governo da Síria. O Brasil se absteve várias vezes, não votou com os Estados Unidos. Qual é a sua interpretação disso?
Thomas Shannon: Obviamente nosso desejo é que o Brasil vote conosco. Mas entendemos o papel do Brasil neste momento. Especialmente essa intenção de balancear sua relação nos Brics [grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul] e na Ibsa [Ibas, grupo formado por Índia, Brasil e África do Sul]. Mas o importante é reconhecer que, a cada instante, o Brasil falou publicamente da importância dos direitos humanos, falou publicamente da importância de o governo não usar violência contra seus próprios cidadãos e que com o processo dos eventos, especialmente na Líbia, o Brasil efetivamente mudou [sua posição] de abstenção a participação na reconstrução da Líbia. Ou seja, o Brasil mostrou capacidade de avançar com a comunidade internacional.
Folha/UOL: Mas o sr. não acha que o país, no caso o Brasil, poderia manter o discurso sobre direitos humanos e ainda assim ter uma posição mais assertiva no Conselho [de Segurança da ONU] ao invés de se abster?
Thomas Shannon: Eu acho que o Brasil, com seu papel a cada dia mais importante no mundo, está entendendo de uma forma nova o seu próprio poder e a sua própria influência no palco global. Eventualmente o Brasil vai entender que é uma coisa atuar dentro da formalidade das organizações internacionais e outra coisa é falar de seus princípios e valores. E eu acho que, nesse sentido, o Brasil tem a oportunidade de tomar passos importantes e de passar de um país que se abstenha para um país que atua.
Folha/UOL: O governo brasileiro nos últimos anos manteve relações amistosas com certos governos de países que não têm tradição democrática. O sr. acha que nesse caso também o Brasil vai evoluir para uma posição diferente?
Thomas Shannon: Esse é um pecado que todos nós temos, estabelecer relações com países que, às vezes, não são 100% democráticos. Mas é um pecado que podemos reconhecer e tentar pedir desculpas. Meu próprio país, nesta etapa, está tentando mostrar, no Oriente Médio, mostrar que reconhecemos a importância da Primavera Árabe e que é necessário trabalhar para abrir um espaço para a democracia no Oriente Médio. E eu acho que o Brasil está na mesma etapa.
Folha/UOL: O Brasil tem posições críticas sobre, por exemplo, a prisão de Guantánamo. O chanceler Patriota esteve aqui, deu uma entrevista. Disse que, enfim, vê com certo desconforto a manutenção da prisão de Guantánamo. Diz também que alguns procedimento da Guerra ao Terror nos Estados Unidos "revelaram suas limitações, estão sendo revistos". Essas críticas do governo brasileiro, Guantánamo, certos procedimentos que foram usados na Guerra ao Terror, são positivas na relação entre os dois países, que se faça esse tipo de crítica?
Thomas Shannon: Da maneira com que o Brasil fala de direitos humanos no mundo, vai falar sobre temas não somente sobre o Oriente Médio mas também sobre nós, de vez em quando. Da mesma maneira em que nós vamos falar de situações no Brasil. E são bem-vindos, porque são parte de um diálogo. Eu acho que esse comentário é um comentário dado com respeito.
Folha/UOL: Estamos falando de Oriente Médio. Agora, recentemente, foi morto Muammar Gaddafi. As circunstâncias em que ele morreu ou foi assassinado ainda não são conhecidas. E há uma suspeita de que as forças aliadas da Otan facilitaram para que os rebeldes capturassem e, eventualmente, matassem Muammar Gaddafi. O que seu governo tem a comentar sobre este episódio?
Thomas Shannon: O nosso governo expressou nosso interesse na investigação por parte do Conselho Nacional de Transição [órgão político do governo interino da Líbia] da Líbia sobre as circunstâncias da morte de Gaddafi. E nossa secretária de Estado [Hillary Clinton] falou da importância desta investigação. Mas é importante também reconhecer que o fim de uma ditadura sempre é complicado. Porque a ditadura destrói as instituições judiciais, destruí as instituições policiais e destrói as outras instituições que realmente podem facilitar uma transição de poder. Infelizmente no momento em que Gaddafi decidiu ir para Sirte e antecipar seu próprio fim dizendo que estava disposto a ser morto.
Folha/UOL: Mas não teria sido mais prudente que as forcas aliadas tivessem tentado evitar esse desfecho até como um certo esforço didático para a nova democracia que pode surgir?
Thomas Shannon: Claro. Sempre. Mas o mundo é complicado. E é importante nesse momento se concentrar no futuro da Líbia e no futuro de um país que realmente tem inspirações democráticas e que precisa de ajuda do mundo para realizar essas aspirações.
Folha/UOL: No caso de outro líder que também foi morto, Osama Bin Laden, há também muita dúvida sobre a forma como ele acabou sendo morto. Nesse caso o sr. acha que nós ainda temos dúvida sobre o que aconteceu? O sr. poderia compartilhar conosco qual é a versão, no momento, para a morte de Bin Laden naquele episódio?
Thomas Shannon: Não, eu acho que é óbvio. Ou seja, durante a tentativa de capturá-lo, ele foi morto. Assim fechou o capítulo.
Folha/UOL: O sr. não acha que deveria ter havido também um esforço das forças americanas para capturá-lo e colocá-lo em julgamento?
Thomas Shannon: Olhe, nossas forças armadas não são policiais. E estamos em guerra com a Al Qaeda. Osama Bin Laden era o líder da Al Qaeda, o autor intelectual dos ataques contra os Estados Unidos em vários instantes e também ataques em outros países. Nossa intenção é atacar da maneira possível a hierarquia da Al Qaeda. E ele foi um alvo legítimo.
Folha/UOL: Há uma interpretação dos Estados Unidos sempre sobre a Tríplice Fronteira, Brasil, Paraguai e Argentina, de que ali seria um foco potencial ou verdadeiro de ativistas que praticam atos terroristas. O governo brasileiro não compartilha dessa avaliação. Por que há essa divergência de avaliação sobre a Tríplice Fronteira entre Brasil e Estados Unidos?
Thomas Shannon: É importante dizer que há uma cooperação excelente entre o Brasil, Argentina, Paraguai, os Estados Unidos e outros países na luta contra o terrorismo. Seja na América do Sul, seja em outras partes do mundo. E também do meu ponto de vista, a atuação da Polícia Federal, da Abin e outras entidades do Brasil muito responsáveis nessa área. Mas o Brasil como outros países na América do Sul tem uma concepção de terrorismo que está limitado ao ato de terrorismo, ou seja, está limitado ao ato de violência. Nosso entendimento é muito maior. Tem a ver com o financiamento, com as estruturas logísticas e também com a maneira com que grupos que não são diretamente terroristas se vinculam a grupos terroristas fora da área. E obviamente para nós há grupos e pessoas que usam seus negócios e outras atividades, especialmente atividades ilegítimas, para financiar outros grupos. Nisso temos uma conversa mais aberta e mais importante entre o Brasil e os Estados Unidos.
Folha/UOL: No caso da Tríplice Fronteira há uma convicção de que lá existem esses grupos?
Thomas Shannon: Indivíduos. São homens de negócios. Nosso Ministério do Tesouro já identificou algumas pessoas que, para nós, estão usando seus negócios para financiar grupos, especialmente no Líbano.
Folha/UOL: Recentemente o Brasil, o Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores no Brasil, abriu seus arquivos diplomáticos. A Folha de S.Paulo teve acesso a mais de 10 mil documentos, o que foi uma medida muito positiva para a transparência. E num dos telegramas analisados, vindos de Washington, o embaixador à época, Rubens Barbosa, identificou que havia um... ele tinha, ele escrevia, certeza de grampo. De que o telefone da Embaixada em Washington havia sido grampeado. E suspeitava do governo dos Estados Unidos. O sr. conhece esse episódio e sabe em que circunstância isso ocorreu?
Thomas Shannon: Não. Infelizmente eu não conheço esse episódio.
Folha/UOL: Quando a notícia foi divulgada, que foi agora que o sr. já era embaixador aqui em Brasília, o sr. fez algum relatório, recebeu alguma informação dos Estados Unidos sobre isso?
Thomas Shannon: Não. Não. Nossa ideia é enfocar no futuro.
Folha/UOL: O sr. acha possível que isso possa ter ocorrido?
Thomas Shannon: Eu realmente não posso fazer nenhum comentário. Tem que falar com o embaixador Barbosa.
Folha/UOL: Lixo hospitalar. Uma notícia recente nos jornais brasileiros dando conta de que lixo hospitalar de origem dos Estados Unidos chegou ao Brasil para ser vendido. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos [do PSB], que é onde chegaram esses materiais, disse que a fiscalização dos Estados Unidos foi deficiente e permitiu o embarque do lixo hospitalar para o Brasil. O sr. concorda?
Thomas Shannon: Eu falei com o governador Campos sobre isso. Depois de nossa conversa eu mandei a Pernambuco agentes do FBI e também de nossa agência de imigração e aduanas para trabalhar com a Polícia Federal e também com o secretário de Segurança do Estado de Pernambuco na investigação. Estamos fazendo um avanço importante. Parte desta investigação tem a ver com a companhia que exportou essas coisas e a maneira como foi fiscalizada nos Estados Unidos.
É importante reconhecer que esse lixo são lençóis já usados e que esse uso de lençóis não é nada que é estritamente dos Estados Unidos. Quer dizer, há lençóis também do Brasil que são usados nessa indústria de roupa. Mas eu acho que nossa conversa, entre eu e o governador, e nossa participação indicam que estamos preocupados por esses lençóis e pelo processo de fiscalização. Mas também pela relação entre a companhia nos Estados Unidos e a companhia aqui no Brasil.
Folha/UOL: Agora, houve de fato uma falha na fiscalização? E mais: é proibido exportar esse tipo de material nos Estados Unidos, ou não?
Thomas Shannon: A investigação vai determinar isso. Não é proibido exportar lençóis. É proibido exportar outro tipo de lixo hospitalar. Então temos que determinar exatamente que tipo de lixo entrou no país e que tipo de lixo foi autorizado a sair dos Estados Unidos.
Folha/UOL: Já há alguma informação preliminar a respeito do que aconteceu?
Thomas Shannon: Nessa etapa da investigação eu não posso falar do progresso da investigação. Mas eu acho que vai ajudar muito o governador Campos e o Estado de Pernambuco a enfrentar esse tipo de desafio.
Folha/UOL: Estamos chegando no final. Cuba: um país que tem relações problemáticas com os Estados Unidos. O sr. vê avanços no regime cubano recentes? E qual a perspectiva que o sr. imagina que exista para melhorar a relação com os Estados Unidos em breve?
Thomas Shannon: Há mudanças dentro de Cuba. Especialmente na área agrícola e a capacidade dos cubanos obterem, como donos, terra, imóveis etc. Esse é um passo importante. Mas infelizmente em nossa relação bilateral temos um problema bem difícil. A detenção de um cidadão norte-americano Alan Gross, que complica de uma maneira não muito feliz nossa capacidade de dialogar. E para nós é realmente muito importante que o governo de Cuba dê liberdade ao sr. Gross.
Folha/UOL: O sr. acha que, numa perspectiva temporal, quantos ainda vai durar tudo isso?
Thomas Shannon: É impossível dizer. Porque esse é um jogo que precisa de avanços reais, verdadeiros. Não é um jogo de tempo. É um jogo de acontecimento.
Folha/UOL: Passados alguns meses do episódio WikiLeaks, o sr. acha que o vazamento causou mais prejuízo ou há também alguns aspectos benéficos em todo esse episódio para que todo o mundo, os países, conheçam mais as opiniões dos Estados Unidos?
Thomas Shannon: Para mim WikiLeaks foi um ato contra não somente os Estados Unidos, mas também a diplomacia internacional. Porque a ideia é impor uma transparência que não permita um lugar de confidencialidade entre países para ter uma conversa. Então, nesse sentido, o vazamento prejudicou.
Mas a transparência geralmente é bom. As decisões do Congresso do Brasil, recentemente, em permitir acesso a documentos do governo é algo positivo e mostra a maneira com que democracias têm que fazer este tipo de coisa. Ou seja, usar suas instituições, seus representantes eleitos democraticamente para determinar qual é o direito do cidadão conhecer ou saber o que faz o seu governo mas também o direito do Estado de ter um espaço de confidencialidade para tomar decisões. Nesse balanço encontra-se a melhor estrada para chegar a uma transparência verdadeira.
Folha/UOL: No seu dia a dia, depois do episódio WikiLeaks, o que mudou em termos de segurança e cuidado na transmissão de informações reservadas? Houve mudanças?
Thomas Shannon: Nosso sistema tem a capacidade de proteger a si mesmo. WikiLeaks não foi um problema sistemático dentro dos Estados Unidos, foi o problema de uma pessoas que roubou essa informação. Mas no sentido mais comum, no sentido de nossas relações com as pessoas com que conversamos a cada dia não mudou muito. Ou seja, há reconhecimento de que as pessoas falam conosco porque querem influir nossa maneira de atuar e isso vai continuar.
Folha/UOL: O sr. é um diplomata de carreira. Recentemente esteve em Washington a chamado do presidente Obama, ocupou interinamente um cargo no Departamento de Estado. Como foi essa sua experiência recente em Washington, o que o sr. fez nesses cerca de dois meses?
Thomas Shannon: Eu estava lá atuando temporariamente como subsecretário de Assuntos Políticos. Ou seja, eu estava trabalhando em assuntos globais e preparando para a Assembleia Geral [da ONU]. Foi uma experiência excelente porque estava trabalhando diretamente com a secretaria de Estado, mas também com meus colegas lá na Casa Branca. Eu sai com uma excelente ideia de como é o mundo neste momento. Mas também voltar ao Brasil foi um momento feliz para mim porque comparado ao resto do mundo, o Brasil anda muito bem.
Folha/UOL: O sr. é diplomata de carreira e trabalhou já com presidentes republicanos e agora um democrata. Há uma diferença de trabalho no dia a dia de um para outro sensível no seu caso?
Thomas Shannon: Excelente pergunta. Eu não sei se eu tenho uma excelente resposta porque realmente os interesses dos Estados Unidos não mudam muito entre um governo democrata e um governo republicano, especialmente nas embaixadas os problemas que enfrentamos a cada dia, mais ou menos, são os mesmos problemas. Eu acho que até o mais importante desses assuntos, da diferença entre os partidos, é a diferença entre as pessoas. Principalmente entre presidentes e secretários de Estado. Porque eles impõem certos aspectos de suas personalidades no trabalho e sua visão de mundo no trabalho.
Folha/UOL: O sr. poderia citar um diferença entre o presidente Obama e o presidente George W. Bush?
Thomas Shannon: Olhe, há muitas diferenças. Da mesma maneira há muita semelhança. Eu realmente não quero comparar ou contrastar líderes americanos. Mas eu posso dizer que, para mim, durante a visita do presidente Obama aqui ao Brasil, algo que realmente me afetou foi a emoção exibida pelo povo brasileiro pelo presidente americano. Durante muitas presidências nos Estados Unidos essa foi a primeira vez que eu vi um bem-vindo tão...
Folha/UOL: Haverá eleições presidenciais nos Estados Unidos no ano que vem. Qual o peso do estado da economia para as chances de reeleição do presidente Obama na sua opinião?
Thomas Shannon: A economia é importante. É básica. Mas também o povo americano é mais sofisticado do que isso. Ou seja, o povo americano vai selecionar um presidente baseado não somente na economia mas também na capacidade de projetar nosso poder no mundo, de colaborar no mundo para nosso benefício.
Folha/UOL: Embaixador Thomas Shannon, muito obrigado por sua entrevista à Folha e ao UOL.
Thomas Shannon: Um grande prazer. Muito obrigado.

Brasil insiste no protecionismo, e na confusao juridica...

O ministro, que aumenta a proteção para os cartéis nacionais do setor automotivo, insiste em que não pratica protecionismo, mesmo elevando barreiras tarifárias e não-tarifárias contra a "concorrência predatória" do exterior.
Por outro lado, o governo insiste  em colocar medidas de contrabando em suas MPs específicas, aumentando a selva jurídica em que vive o Brasil.
Paulo Roberto de Almeida


Pimentel defende medidas de proteção contra triangulações
Gustavo Machado e Abnor Gondim
DCO, 28/10/2011

A Medida Provisória 540, sobre o Plano Brasil Maior, aprovada anteontem na Câmara dos Deputados, que traz incentivos à indústria e desonera setores, estabelece novas regras para determinar a real origem de um produto exportado para o Brasil e multas para importadores que não comprovarem a origem.

De acordo com projeto de lei de conversão do relator, deputado Renato Molling (PP-RS), que agora segue para a apreciação do Senado, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e a Receita Federal poderão investigar a origem dos produtos no processo de concessão de licença de importação e na aduana, respectivamente. Quando a origem não for comprovada, o importador deverá devolver os produtos e pagará multa diária de R$ 5 mil até a devolução. Ele também será multado em 30% sobre o valor aduaneiro da mercadoria.

Segundo Fernando Pimentel, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, a medida tem como objetivo principal afinar a atuação do Ministério em conjunto com a Receita Federal e a Câmara de Comércio Exterior (Camex). "Queremos diminuir falhas, cobrir brechas e melhorar a fiscalização sobre produtos que entram no Brasil com custo muito abaixo do normal".

Pimentel descarta que já existam países específicos sob essa vigilância especial, ou que algum tipo de produto específico motive a medida. "É apenas um passo na estratégia para fiscalizar as importações com maior eficiência. O Brasil se tornou alvo de subfaturamento e triangulações nos últimos anos, principalmente após as crises nos países desenvolvidos", afirma.

Na semana passada, o governo já havia publicado um decreto que diminui os prazos para análises de pedidos de antidumping, feitos por empresários brasileiros. Um dos grupos técnicos pelos quais passam os processos terá até 8 dias úteis para dar sua avaliação.

O texto ainda autoriza o uso de recursos do FGTS para financiar obras de infraestrutura da Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016 e fixa critérios para a redução de impostos do setor automotivo.

Com relação aos eventos esportivos internacionais, o texto exclui a possibilidade de financiamento de arenas esportivas e centros de treinamento. A oposição tentou barrar essa proposta, mas foi derrotada.

No caso do setor automotivo, a MP determina que os fabricantes instalados no Brasil terão de comprovar o atendimento a três requisitos para escaparem do aumento de 30 pontos percentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) determinado pelo Decreto 7.567/11, que regulamenta a MP.

O aumento tem como objetivo coibir a importação de veículos. Um dos requisitos para não pagar o novo imposto é o conteúdo regional médio de 65% para cada empresa. Peças importadas do Mercosul ou do México serão consideradas conteúdo regional.

Por fim, pelo menos seis de 11 atividades do processo produtivo terão de ser realizadas no País. Por exemplo, montagem, revisão final e ensaios compatíveis; estampagem; tratamento anticorrosivo e pintura; soldagem; fabricação de motores; e montagem de chassis e de carrocerias.

A medida provisória determina que a redução poderá ser usufruída até 31 de julho de 2016, mas o decreto fixa o aumento de IPI até 31 de dezembro de 2012.

A pedidos dos empresários, os setores têxtil e mobiliário foram excluídos da versão aprovada pelos deputados da experiência-piloto de desoneração da folha de pagamento, prevista pela MP, em troca de tributo sobre o faturamento das empresas, com alíquota que varia de 1,5% a 2,5%. Ficaram os dos setores de calçados, confecções, software, call centers, transporte coletivo urbano, couro, botões, ilhoses, colchetes e bolas infláveis.

De acordo com a proposta, o ensaio vai até 2014, dois anos a mais do que a proposta original do governo. O plano inicial do governo era desonerar têxteis, confecções, calçados, móveis e software. No caso de têxteis e confecções, empresários afirmaram que iriam pagar mais imposto no fim das contas. A Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel) citou que apenas duas empresas recolheriam R$ 5 milhões anuais a mais, caso o setor fosse incluído na experiência.


Protecionismo

O ministro Fernando Pimentel ressaltou que as medidas adotadas pelo Governo Federal não são de cunho protecionista. "Temos uma política de comércio exterior que defende nossos interesses e promove nossas exportações".

Durante a semana, Pimentel recebeu alguns executivos prejudicados pela medida que pretendem instalar fábricas no País. Questionado sobre exceções para empresas nesta situação, Pimentel foi taxativo. "Não haverá exceções. Ninguém reclamou do aumento do IPI", diz. "Estamos definindo o decreto com algumas coisas que foram demandadas, e isso não foi", complementa.

The Economist questiona o Banco Central: deixando a meta de lado?


Inflation in Brazil

Blurring the mandate

Is the Central Bank targeting growth?

FOR much of the last century inflation was as prominent a feature of Brazilian life as football. It was finally tamed, first by the Real Plan of 1994 involving a new currency and fiscal measures, and then from 1999 by requiring the Central Bank, which was granted operational independence, to set interest rates to meet an inflation target. Since 2005 that target has been 4.5%, plus or minus two percentage points. So the Central Bank surprised everyone in August when it cut its benchmark rate by half a point (to 12%) even though inflation was then at 6.9%. On October 19th, the bank did the same again. So is the government of President Dilma Rousseff, in office since January, giving priority to other goals, such as sustaining growth and preventing the overvaluation of the currency, rather than keeping inflation low? And has the Central Bank lost its independence?
No, say officials, who cite two sets of reasons for the rate cuts. First, having overheated last year, the economy stalled in the third quarter, partly as a result of earlier interest-rate rises and modest fiscal tightening. The consensus forecast is for GDP to expand by only 3.3% this year. Second, the bank argues that inflation was boosted by one-off factors, such as big rises in municipal bus fares and a shortage of ethanol (widely used as vehicle fuel in Brazil). In the minutes of its August meeting, the bank’s monetary-policy committee stated that the deteriorating outlook for the world economy and falling commodity prices would put downward pressure on prices in Brazil, allowing inflation to reach the 4.5% target in the course of next year.
There are indeed signs that inflation is starting to fall. But the government’s critics argue that by starting to cut so early and so aggressively, while inflation is still almost three points above the target, the bank has damaged its hard-won credibility. As a result, inflation expectations for the years ahead are rising. Marcelo Carvalho, an economist at BNP Paribas, reckons inflation will only fall to 5.5% by 2013 (and that assumes the bank hikes rates again). The minimum wage is due to rise by 14% or so in January and unemployment remains low. The biggest problem is that some prices and wages are indexed to last year’s inflation, a hangover from the past. “What worries me is that this is a slippery slope: the thinking seems to be that inflation of 5% or 6% is fine,” says Mr Carvalho.
The bank may yet be vindicated by outside events and turn out to have provided Brazil with a soft landing. As inflation falls, expectations will quickly follow, says Nelson Barbosa, the deputy finance minister. Certainly lower interest rates would help the country. Among the reasons why they are so high—including government borrowing, taxes on credit, and lack of competition in banking—the most powerful may be sheer inertia.
In a vicious circle, high rates depress investment, add to the government’s borrowing costs (which total some 5% of GDP) and thus its fiscal deficit (of over 2% of GDP). They also attract hot money from abroad, which has helped to make the real uncomfortably strong, hurting exporters. “We are in a bad equilibrium,” says Mr Barbosa. “We can live with this exchange rate with a lower interest rate, but not with this interest rate. One of them has to go.”
The government wants the real interest rate to fall to 2%-3%, but Mr Barbosa insists this is not a formal target. If inflation rises, the bank will hike rates again, he says. Some other central banks, including America’s Federal Reserve, have a mandate to pursue both growth and low inflation. But when it comes to inflation, Brazil is a recovering alcoholic. It needs its Central Bank to keep it on the straight and narrow.

Agronegocio brasileiro: uma irresistivel ascensao...


Os fazendeiros de Mato Grosso
Coluna Econômica Luis Nassif,   28/10/2011

O país comemorou a safra recorde de 160 milhões de toneladas de produtos agrícolas. Em um encontro em Santiago do Chile, lideranças do agronegócio de Mato Grosso desdenharam. Com um pouco de investimento em logística, diziam elas, seria possível ao Mato Grosso, sozinho, produzir essa quantidade.
Ali, na mesa do restaurante do hotel, quatro das lideranças me procuram pretendendo aprofundar o tema da palestra - falei sobre a maioridade do agronegócio e a importância de terem pensamento estratégico e compreensão sobre os novos valores do país.
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Um deles, sozinho produz 1,5 milhão/ano de toneladas de soja. O grupo do algodão produz, hoje em dia, um produto prime, classificado entre os três melhores do mundo. Recém-chegado dos Estados Unidos, o presidente da associação dos produtores de algodão contava a receptividade do produtor brasileiro, os elogios uníssonos das maiores tradings. Foi um fenômeno construído há menos de 15 anos, quando o então governador Dante de Oliveira criou um programa destinado a promover o marketing do algodão do estado.
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O grande desafio do setor é convencer as autoridades da importância de completar o ciclo logístico da região e a opinião pública do sudeste de que há um novo pensamento no setor, muito longe do ranço da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Há um conjunto de obras relevantes sendo tocadas. O asfaltamento da BR 163, por exemplo, está sendo feito com a construção simultânea de 160 pontes. Faltam apenas 300 km para completar o asfaltamento. A Transnordestina caminha a passos largos, assim como a ferrovia Norte-Sul. A hidrovia do rio Madeira tornou-se uma realidade, graças ao trabalho do produtor Blairo Maggi.
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Com a ligação para Santarém, deverá ocorrer uma enorme transformação no Mato Grosso. Não mais haverá a necessidade de descer para Santos ou Paranaguá. Em vez de 2.500 km para Santos, o trajeto cairá para 1.000 km, resultando em ganhos de 50 a 60 dólares a tonelada.
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Mato Grosso possui 90 milhões de hectares, dos quais 6,4 milhões plantados com soja. Há 30 milhões de hectares em aberto, pastagens ou áreas degradadas. Se se aumentar a área plantada em 15 milhões de ha, produzindo 10 toneladas por ha, em duas safras anuais, só essa expansão permitiria produzir o equivalente à produção total do país.
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Na opinião de especialistas do setor, a Transnordestina deveria ser dedicada exclusivamente ao agronegócio e a Norte-Sul ao transporte de minério. O fato da Vale ser a proprietária de ambas cria conflitos de interesse, que acaba atrapalhando o uso das ferrovias pelos produtores de grãos.
Com 400 km de ferrovia, chega-se à região do Araguaia. Só lá existem, 4,5 milhões de ha de terras degradadas que serão recuperadas. A soja sai do leste de Mato Grosso, entra na Norte-Sul, uma distância de 405 km planos, prontos para receber estrada. A Norte Sul permite chegar ao coração da produção agro, Lucas do Rio Verde. Estando pronta, vira um Estados Unidos, diz um deles.
O grande desafio das autoridades será definir regras para impedir uma concentração nociva de terra. Mas o novo Brasil está pronto para voar.

Pisando nos astros distraida...

Seria bom se fosse apenas uma canção popular, mas estamos falando do meu, do seu, do nosso dinheiro, que se esvai pelo ralo com a governança mafiosa em certas áreas...


"DILMA: A GERENTE DISTRAÍDA"!
    
(Clovis Rossi - El País, 28) No governo Lula, Dilma era uma espécie de primeiro-ministro, como chefe da Casa Civil, supervisora geral do governo. Ora, todos os escândalos que acabaram resultando na demissão de ministros referem-se a fatos ocorridos no governo do qual Dilma era a supervisora. Portanto, trata-se de uma gerente sumamente distraída, que não só não se deu conta do que ocorria às suas costas (ou à sua frente) como aceitou designar para o ministério pessoas que, se tivesse sido devidamente supervisionadas, jamais ocupariam outra vez cargos públicos. Pior: os demitidos foram substituídos por representantes das mesmas famílias políticas (ou "famiglias", ao gosto do leitor), que se tornaram donas de fatias do governo. É uma disfunção já clássica na política brasileira: o presidente nomeia um político para chefiar um ministério e este preenche todos os cargos de confiança, abaixo dele, com seus correligionários. Cada ministério acaba virando uma "caixa preta" - o que é um convite a negócios, legais ou irregulares, com seus amigos e partidários. Posto de outra forma, o ministério trabalha para o partido, não para o público.

A morte que vem dos ares: que tal na luta contra os carteis de drogas?

Matérias do Washington Post desta sexta-feira, 28/10/2011, confirmando a importância dos drones na luta antiterrorista no Oriente Médio e na África.
Talvez devessem pensar na mesma tática contra os barões mexicanos do tráfico de drogas...


The Air Force has been secretly flying armed Reaper drones on counterterrorism missions from a remote civilian airport in southern Ethi­o­pia as part of a rapidly expanding U.S.-led proxy war against an al-Qaeda affiliate in East Africa, U.S. military officials said.
The Air Force has invested millions of dollars to upgrade an airfield in Arba Minch, Ethi­o­pia, where it has built a small annex to house a fleet of drones that can be equipped with Hellfire missiles and satellite-guided bombs. The Reapers began flying missions earlier this year over neighboring Somalia, where the United States and its allies in the region have been targeting al-Shabab, a militant Islamist group connected to al-Qaeda.
(Craig Whitlock)

A pair of U.S. missiles killed two al-Qaeda operations planners in Pakistan’s northwestern tribal region this month, part of a 48-hour fusillade that also killed another al-Qaeda operative and a top deputy in the militant Haqqani network, U.S. officials confirmed Thursday.
The deaths were disclosed on the same day that a suspected CIA drone killed five leaders of a Pakistani Taliban unit linked to attacks on international forces in Afghanistan, according to local authorities in Pakistan. The Thursday strike brought to five the number of U.S. missile attacks in the lawless tribal area since Oct. 1.

SANTIAGO DE LOS CABALLEROS, Mexico — He was the barefoot son of a peasant who became one of the richest moguls in the world, a billionaire entrepreneur with a third-grade education. He controls a vast drug distribution empire that spans six continents, but he still carries his own AK-47. He is generous and feared, a mass murderer and a folk hero. He is a ghost who has become a legend.
(William Booth)

UnB em marcha (para tras): queriam chapa esquerdista representando alunos...

Parece que, por uma vez, estudantes votaram em quem gosta de estudar, não fazer politicagem barata.


Reinaldo Azevedo, 
28/10/2011 06:25:50

A chapa não-esquerdista Aliança Pela Liberdade venceu a disputa pelo DCE da Universidade de Brasília. Como demonstrei ontem, a Secretaria de Comunicação (Secom) da própria universidade resolveu escrever um texto lamentando o resultado, recorrendo a “fontes” anônimas. Recebo do professor José Carneiro da Cunha de Oliveira Neto a seguinte mensagem:
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Parabéns aos vencedores! O processo eleitoral foi justo e democrático. Os alunos mandaram seu recado: querem uma Universidade séria. O texto da Secom, veiculado no site da UnB, é vergonhoso! Especialista na academia se identifica para que suas ditas qualificações sejam devidamente avaliadas. Como a matéria não faz jornalismo investigativo ou denúncia, só posso crer que esse especialista é uma invenção, uma mentira!, e isso é inaceitável! Amanhã, vou cobrar explicações formais dos responsáveis por esse abuso absurdo!
José Carneiro da Cunha Oliveira Neto, Conselheiro Administrativo da UnB.  Representante da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade.


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E um comentário de uma estudante sobre o mesmo assunto:


Reinaldo Azevedo, 28/10/2011

Uma aluna da Universidade de Brasília comenta a vitória da chapa “Aliança Pela Liberdade”, na Universidade de Brasília:

Reinaldo, não sou da Aliança, mas tenho muito orgulho de dizer que sou próxima à chapa. Ela surgiu dentro da FA, prédio onde ficam o Direito, Ciência Política e Relações Internacionais. A chapa sofre preconceito de todos os lados, a ponto de professores falarem em sala de aula para não votarem nela. Fico feliz de o senhor ter tocado no assunto, pois sempre retrata a UnB como um reduto de comunistas panfletários, o que é uma minoria. Nós, da UnB, somos jovens, estudantes estudiosos e muito orgulhosos da universidade que temos. Por isso lutamos para que ela seja cada dia melhor. E que isso ecoe pelo país.

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Em contraste, na UFSC, onde vicejam ares bolivarianos...:

Reinaldo Azevedo, 28/10/2011

A Universidade Federal de Santa Catarina é uma das instituições em que o delírio da extrema esquerda chegou longe. Há lá até uma facção bolivariana, acreditem! Comentando a patrulha exercida pela extrema esquerda na UnB e na USP, escreve um aluno da UFSC:

Sou estudante da UFSC, e aqui impera o mesmo: os esquerdistas são os santos, são os democratas de verdade! Alunos no Centro Acadêmico da Faculdade de Direito fumam maconha e depois fazem debates pela segurança no campus. Um professor veio dar uma palestra e afirmou que a Venezuela é a melhor democracia da América. Juro! Isso é verdade! Vagabundos do DCE  ocupam a reitoria por qualquer motivo, sem contar as milhares de palestras de esquerdistas… Triste, muito triste, pois estes “senhores” comunas são arrogantes e contam com apoio da militância esquerdista dos professores!
Mas calma! O quadro pode mudar: nesta semana, houve um seminário sobre direito e neoliberalismo, promovido pelas esquerdas, e o evento foi esvaziado pelos estudantes. Foi magnífica a cena da professora que é filiada ao PT e que chama a “VEJA” e “Folha” de “mídia golpista” babando de raiva e chamando todos de alienados. É provável que a chapa de esquerda seja massacrada na próxima eleição do Centro Acadêmico de Direito.
Que logo, logo, o DCE possa eleger verdadeiros representantes da universidade, e não de ideologias malditas.
Um abraço
.


Terceirizando a politica externa (sort of...)


Temer representará a presidente
DCI, 28/10/2011

O vice-presidente Michel Temer vai representar a presidente Dilma na 5ª Cúpula da União de Nações Sul-Americanas, nos próximos dias 28 e 29, em Assunção. O tema será Transformação do Estado e Desenvolvimento, e discutidos os impactos da crise econômica.

Do Brics ao Bics: por um capitalismo menos mafioso...

Quem está dizendo não sou eu, mas um capitalista, que talvez gostaria de fazer negócios sem ter de ficar vendo o que passa por baixo da mesa...
Em todo caso, ele também destaca a nova dependência brasileira, uma sino-dependência.
Seria interessante ver o que teriam a dizer sobre isso os companheiros que tanto lutaram para acabar com a "dependência" brasileira do "imperialismo" americano, que tanto quiseram criar a tal de "nova geografia comercial", que tanto fizeram questão de estabelecer uma "parceria estratégica", o que eles comentariam sobre essa dependência pouco estratégica...
Paulo Roberto de Almeida

Rússia poderia ser retirada dos BRICS, diz executivo de banco
DCI, 28/10/2011

O presidente para Ásia do Morgan Stanley, Stephen Roach, disse ontem que a Rússia não merece ter o mesmo status que o Brasil como um dos BRICS (formado por Brasil, Rússia, Índia e China), durante debate sobre emergentes no fórum Buttonwood Gathering, em Nova York. A África do Sul, que foi adicionada ao grupo pelos países integrantes, não chegou a ser citada como parte dos BRICS. - "Tivemos nos últimos 30 anos 11 grandes crises financeiras, sendo as duas últimas a do subprime e agora a da dívida soberana europeia. E o Brasil tem se saído muito bem nessas duas últimas. O Brasil aprendeu por meio de lições muito dolorosas nos últimos 25 anos e temos que dar muito crédito ao Brasil por isso", avaliou Roach.

"Não dou à Rússia esse mesmo crédito. O país segue muito atrelado ao petróleo e merece notas baixas em termos de transparência e governança", disse.

Por outro lado, Roach também acha que a China se destaca desse grupo e não está na mesma posição que o Brasil. "Não colocaria Brasil na mesma liga que a China. O Brasil depende demais da China."

Questionado sobre que países estariam atualmente em sua bolsa de apostas para investimentos fora dos BRICS, Roach respondeu: "Provavelmente não seria a Grécia", brincou. "Mas há muitas oportunidades no mundo. O Japão vem fazendo um excelente trabalho em se recuperar do desastre (terremoto e tsunami de março deste ano) e em reerguer a economia", disse, citando ainda a Coreia do Sul como um país com muitas oportunidades.

Ocupem Wall Street! Mas tirem os idiotas, por favor...

Bem, se retirarem todos os idiotas que estão ocupando Wall Street sem nenhuma ideia na cabeça, só com frases idiotas daqueles grandes idiotas que são Zizek e Klein, sobram apenas 1% de pessoas, justamente aqueles que se dedicam a ganhar dinheiro e com isso criam riqueza e distribuem renda...
Tem gente que escreve para este blogueiro -- Anônimos Adesistas em sua maior parte -- para reclamar que estou me desviando de meus assuntos habituais, e contradizendo os dizeres acima, que falam de ideias inteligentes para pessoas inteligentes, ao colocar todas essas ideais idiotas de pessoas idiotas. Acham que estou com o "idiota" um pouco solto, quase obsessivo.
Mas confesso que tenho alergia à burrice, horror à idiotice  e asco da desonestidade intelectual. Não posso fazer nada se aqueles que se reunem para gritar frases sem sentido são realmente idiotas.
Mas pelo menos coloco coisas inteligentes para deleite dos mais chegados a argumentos de peso.


Todo o seu conforto você deve ao capitalismo e aos ricos
Instituto Von Mises Brasil. quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Os pacotes de socorro ao sistema financeiro mundial — o qual, após incorrer em práticas insensatas de expansão de crédito estimuladas pelos seus respectivos governos e bancos centrais, foi socorrido justamente por eles — em conjunto com um quadro de recessão aguda que vai se prolongando ao redor do mundo — recessão essa causada justamente por políticas governamentais — se combinaram para gerar um fenômeno semelhante ao colapso de uma enorme represa, desencadeando uma torrente não de água mas sim de ódio: ódio ao capitalismo e aos seus mais visíveis e valorosos representantes — as grandes empresas e os grandes empreendedores. 
Grandes empresas e sua "ganância epidêmica" por lucros estão sendo responsabilizadas pela causa do colapso.  Uma turba ignara de jornalistas e manifestantes doidivanas — que não sabem ao certo o que querem —, armados com câmeras, microfones e toda uma infinidade de guarnições da mais moderna tecnologia, em vez de se dedicarem ao tricô, estão salivando para ver grandes empresas e grandes empreendedores sendo capturados e demolidos em público, exatamente como faziam as multidões da Revolução Francesa que queriam ver os odiados aristocratas sendo levados para a guilhotina.
O que está ocorrendo atualmente ao redor do mundo não pode ser entendido sem se levar em conta a profunda ignorância que domina os intelectuais da atualidade no que diz respeito à natureza e ao funcionamento do capitalismo e da busca por lucros.  Não obstante o colapso mundial do socialismo e o inegável e visível sucesso do capitalismo, grande parte do mundo intelectual apresenta uma predisposição ao socialismo e uma oposição ao capitalismo como raramente já se viu.
A grande maioria dos intelectuais de hoje — desde comentaristas de jornais e televisão até professores universitários, incluindo-se aí a maioria dos professores de economia, para não mencionar políticos e seus apologistas — considera o fracasso do socialismo e o sucesso do capitalismo como meros "fatos brutos", isto é, fatos sem bases inteligíveis, fatos que desafiam e contradizem toda a compreensão.  Se quisessem realmente pensar de maneira racional, tais pessoas teriam de ler e estudar as obras de Ludwig von Mises e dos outros proeminentes teóricos da Escola Austríaca de pensamento econômico, bem como também da Escola Britânica clássica.  Mas isso eles não irão fazer. 
Como resultado dessa fundamental incapacidade intelectual e moral da parte deles, e de acordo com tudo em que eles ainda acreditam, o socialismo, com sua suposta preocupação para com o bem-estar de todos e sua suposta racionalidade de planejamento, deveria ter prosperado e prevalecido, ao passo que o capitalismo, com sua preocupação exclusiva com o lucro individual e sua suposta 'anarquia no sistema de produção', é quem deveria ter fracassado.  Na mente dos intelectuais da atualidade, o fato de ter ocorrido o resultado oposto no mundo real é algo que deve colocar em dúvida a confiabilidade da própria razão em si — postura essa que, creio eu, ajuda enormemente a explicar a ascensão de um ostensivamente declarado irracionalismo nas últimas décadas, cujo melhor exemplo são os ataques à ciência e à tecnologia oriundos do movimento ambientalista. 
Os intelectuais se agarram aos eventos da atualidade porque tais eventos parecem oferecer um alento para o desmoronamento do seu universo intelectual.  Eles acreditam, pelo menos por enquanto, estarem mais uma vez na posição de professar ao mundo que seus conceitos sobre o capitalismo foram confirmados pela realidade.
Não será o objetivo deste artigo explicar as reais causas do atual cenário econômico, como a criação de dinheiro fiduciário, a expansão artificial do crédito e a manipulação dos juros, tudo isso realizado integralmente pelos bancos centrais mundiais, que nada mais são do que órgãos estatais.  Tal tarefa já foi proficuamente apresentada em outros artigos deste site.  O objetivo aqui será o de apresentar uma contra-argumentação aos aspectos relevantes dessa ignorância anticapitalista dos intelectuais da atualidade, demonstrando como toda a população se beneficia justamente daquilo que os intelectuais mais atacam: o interesse próprio e a busca pelo lucro dos capitalistas.
A busca pelo lucro é a base de todas as melhorias econômicas
O que os intelectuais e sua hostilidade ao lucro ignoram é que a busca pelo lucro em um livre mercado é exatamente a fonte de virtualmente todas as melhorias econômicas de uma sociedade.
Em um livre mercado, todo e qualquer indivíduo tem a liberdade de empreender e consumir sem ser tolhido por decretos, regulamentações e burocracias.  Sua liberdade deve ser plena, desde que, em suas atividades, ele não agrida a propriedade, a vida e a liberdade de terceiros.  Ele é livre para não sofrer coerção e força física, mas também é proibido de adquirir a propriedade de terceiros por meios desonestos, inclusive por meio da fraude. Tudo que um indivíduo receber de outros deve ser por meio da escolha voluntária destes.
Se tais condições não são respeitadas, e alguns indivíduos conseguem ganhar à custa de todos os outros por meio de força, fraude, coerção, tributação ou regulamentações, então tal situação representa uma falha de governo, não do livre mercado.  O fracasso do governo está precisamente no fato de ter feito com que os indivíduos que participam do mercado fossem submetidos a tais tipos de agressão. 
Em um livre mercado, a maneira de um indivíduo obter dinheiro de terceiros é ofertando algo que eles julgam ser valioso e que desejam possuir.  Esses são os tipos de bens e serviços que um indivíduo busca produzir e vender em um livre mercado: bens e serviços valiosos para os consumidores.  Desta maneira, a busca pelo lucro é a base de um contínuo processo de inovação, no qual são constantemente introduzidos novos e melhores produtos e novos e menos custosos métodos de produção.  O desenvolvimento de novos e melhores produtos que as pessoas desejam comprar, e o aprimoramento de mais eficientes e menos custosos métodos de produção daqueles produtos que já existem e que as pessoas continuam querendo comprar, são as principais formas de um empreendedor obter lucros em um livre mercado.
Tão ignorado quanto isso pelos intelectuais de hoje é o fato de que a esmagadora maioria dos lucros obtidos em uma economia livre é poupada e reinvestida, e que a acumulação de qualquer fortuna em uma economia livre é o resultado da introdução de toda uma série de aprimoramentos nos bens e serviços adquiridos voluntariamente pelos consumidores.  E a maneira de se criar os meios para produzir esses aprimoramentos é reinvestindo justamente a quase totalidade dos lucros obtidos.  É por meio desse processo que o público geral se beneficia da riqueza dos capitalistas.
Assim, para utilizar um exemplo clássico, Henry Ford, que começou com um capital de aproximadamente US$ 25.000 em 1903 e terminou com um capital de aproximadamente US$ 1 bilhão à época de sua morte em 1946, foi responsável pela maior parte do tremendo progresso ocorrido nos automóveis produzidos ao longo desse período, bem como na eficiência com que eles passaram a ser produzidos.  Foi amplamente graças a ele que os automóveis de 1946 eram incrivelmente superiores àqueles produzidos em 1903.  Mais ainda: foi graças a ele — que reinvestiu quase todo o seu lucro para aprimorar o processo de produção — que os automóveis apresentaram uma espetacular redução real de custo, indo de um preço hoje comparável ao de um iate para um preço que praticamente qualquer pessoa podia bancar.  Ou seja, à medida que sua fortuna ia crescendo, Ford ia reinvestido-a exatamente na expansão da produção destes automóveis aprimorados.  Em outras palavras, o outro lado da moeda da crescente fortuna de Ford foi o crescente beneficiamento do público em geral.
Um exemplo mais recente e igualmente óbvio destes mesmos princípios é o caso da Intel.  No início da década de 1980, a Intel estava na vanguarda da produção daquilo que, à época, era o mais avançado chip para uso em computadores pessoais: o 8086.  No entanto, a concorrência entrou no mercado e não permitiu que os altos lucros obtidos pela Intel com a comercialização deste chip durassem muito tempo.  Para continuar à frente da concorrência e obtendo uma alta taxa de lucro na indústria de computadores, foi necessário que a Intel introduzisse o amplamente aprimorado chip 80286.  E então a mesma história se repetiu.  Para continuar obtendo uma alta taxa de lucro frente à concorrência, que estava sempre em seus calcanhares, a Intel teve de desenvolver e introduzir o 80386, e depois o 80486 e então sucessivas gerações do chamado chip Pentium.
A Intel foi capaz de fazer uma fortuna durante todo este processo.  Sua fortuna foi investida exatamente na produção dos radicalmente aprimorados chips que atualmente são produzidos a uma fração do custo dos chips de uma década ou duas atrás.  (Obviamente, os lucros obtidos com qualquer tipo de aprimoramento podem ser também investidos na expansão da produção de outros produtos completamente diferentes).
Tais exemplos não são isolados.  O princípio que eles ilustram funcionam universalmente, e mostram a importância de se ter um livre mercado, sem regulamentações e sem a tributação do lucro. 
As fortunas empresariais, em um livre mercado, são acumuladas por meio dos altos lucros gerados pela introdução de novos e aperfeiçoados produtos e também pela introdução de métodos de produção mais eficientes e menos custosos.  Estes altos lucros são seguidamente poupados e reinvestidos justamente para ampliar e melhorar a produção destes mesmos produtos ou até mesmo de produtos distintos.  Por exemplo, a fortuna de $6 bilhões do falecido Steve Jobs foi construída em decorrência de Jobs ter feito com que fosse possível que a Apple Computer introduzisse novos e aperfeiçoados produtos, como o iPod, o iPhone e o iPad, e então poupasse e reinvestisse uma expressiva fatia dos lucros que vieram pra ele.
Isso é algo que vale a pena ser repetido e enfatizado: as fortunas que são acumuladas desta forma são normalmente direcionadas à produção em larga escala justamente dos produtos que forneceram os lucros utilizados para acumular esta fortuna.  Assim, por exemplo, os bilhões de dólares de Jobs serviram em grande parte para aprimorar a invenção e a produção de produtos da Apple.  Similarmente, a grande fortuna pessoal do velho Henry Ford — adquirida em decorrência da introdução de grandes aprimoramentos na eficiência da produção automotiva, o que fez com que o preço de um automóvel novo caísse de US$ 10.000 no início do século XX para US$ 300 em meados da década de 1920 — foi utilizada para tornar possível a produção em larga escala de milhões de automóveis Ford.
Adicionalmente, as altas taxas de lucro adquiridas com produtos novos e aprimorados e com métodos de produção mais eficientes são meramente temporárias.  Assim que a produção de um novo produto ou o uso de um novo método de produção mais eficiente se torna padrão em uma indústria, ele deixa de gerar lucros excepcionais.  Com efeito, novos e contínuos aprimoramentos fazem com que os aprimoramentos anteriores tornem-se completamente não-rentáveis.  Por exemplo, a primeira geração do iPhone, que era altamente lucrativa há apenas alguns anos, já deixou de ser ou rapidamente deixará de ser lucrativa, pois novos avanços a deixaram obsoleta.
Como resultado, a acumulação de grandes fortunas empreendedoriais requer a introdução de uma série de aprimoramentos nos produtos criados ou nos métodos de produção utilizados.  Isto é um pré-requisito para se manter uma alta taxa de lucro frente à concorrência em um livre mercado.  A capacidade da Intel de manter sua alta taxa de lucro ao longo de vários anos dependia completamente de sua capacidade de introduzir melhorias sequenciais em seus chips de computador.  O efeito líquido desse processo foi o de fazer com que os usuários de computadores se beneficiassem de contínuas melhorias e avanços tecnológicos; e não apenas não houve nenhum custo adicional, como na verdade ocorreu um drástico declínio nos preços destes chips.  Enquanto os altos lucros se basearem na redução dos custos de produção, a concorrência fará com que os preços dos produtos sejam reduzidos correspondentemente à redução dos custos de produção, o que obrigará as empresas a descobrirem novos métodos de reduzir ainda mais seus custos para manter seus altos lucros.
O mesmo resultado, é claro, é válido não somente para a Intel e seus microprocessadores, mas também para o resto da indústria da computação, na qual gigabytes de memória e terabytes de capacidade de armazenamento de disco rígido hoje são vendidos a preços menores que os preços de megabytes de memória e de disco rígido há algumas décadas atrás.  Como efeito, se olharmos cuidadosamente, este princípio de produtos cada vez melhores e mais baratos a custos cada vez menores se aplica a todo o sistema econômico.  Está presente tanto na produção de comida, de roupas e de abrigos quanto nas indústrias de alta tecnologia, e em praticamente todas as indústrias entre estes dois extremos.
Está presente em todas estas indústrias não obstante a inflação da oferta monetária — totalmente gerenciada pelo governo — ter feito com que os preços dos produtos aumentassem acentuadamente ao longo dos anos.  Apesar disso, quando calculados em termos da quantidade de trabalho que o cidadão comum deve despender a fim de adquirir o salário necessário para comprar tais produtos, os preços de tais bens caíram fortemente.
A melhor ilustração deste raciocínio pode ser vista no aumento do padrão de vida que ocorreu ao longo dos últimos 100 anos.  Em 1911, o cidadão comum trabalhava 60 horas por semana.  O que ele recebia em troca da sua mão-de-obra era exatamente o padrão de vida de 1911 — um padrão de vida que não incluía bens como automóveis, ar condicionado, viagens aéreas, antibióticos, geladeiras, congeladores, filmes, televisão, videocassetes, aparelhos de DVD, Blu-ray, rádios, toca-discos, CD players, computadores, notebooks, celulares, moradias confortáveis, comidas e roupas abundantes e de qualidade, medicina e odontologia modernas, máquina de lavar e secar, forno de microondas e por aí vai.  Em 1911, telefones e energia elétrica eram raros.  Aparelhos elétricos eram praticamente desconhecidos.  Telefones celulares não eram nem objetos de ficção.
Os bens que podiam ser produzidos à época, como vários tipos de comida, roupas e moradias, eram de menor qualidade e muito mais caros em termos reais do que são hoje — isto é, em termos do tempo necessário para ganhar o dinheiro necessário para adquiri-los.  A alimentação, o vestuário e a moradia do cidadão comum eram muito mais modestos do que são hoje.  Todos esses bens só se tornaram mais acessíveis e aumentaram em qualidade e variedade porque a busca por lucros levou ao necessário processo de corte de custos e a outros aprimoramentos no processo de produção.  E todos aqueles bens que não existiam em 1911 só passaram a existir por causa da busca por lucros.
Em outras palavras, o que aumentou tão radicalmente o padrão de vida de todos foi nada mais do que a busca por lucros e a liberdade de agir de acordo com esse objetivo.  A busca por lucros foi a força-motriz da produção e da atividade econômica.  Em todos os lugares, em cada indústria, em cada cidade, havia homens ávidos para lucrar aprimorando produtos e métodos de produção.  Eles tiveram a liberdade de fazer isso e foram bem sucedidos.  Essa "ganância", "epidêmica" a ponto de se tornar generalizada, foi o que aprimorou tão radicalmente o padrão de vida do cidadão comum.  É algo pelo qual todos nós devemos ser profundamente agradecidos.  Caso tal "ganância" fosse menos "epidêmica" e menos generalizada, o aprimoramento do nosso padrão de vida teria sido, sem a menor sombra de dúvida, muito menos intenso. 
O grau de aprimoramento do padrão de vida do cidadão médio pode ser mensurado utilizando-se o fato de que seu padrão de vida é hoje pelo menos 10 vezes maior do que era em 1911 (e essa é uma estimativa conservadora), e tal padrão é obtido trabalhando-se em média apenas dois terços do que se trabalhava em 1911 — 40 horas de trabalho por semana ao invés de 60.  Assim, dois terços do trabalho realizado em 1911 hoje consegue adquirir dinheiro suficiente para comprar 10 vezes a quantidade de bens.  Ou, colocando de outra forma, um simples décimo daqueles dois terços — ou 6,66% — é hoje suficiente para comprar bens equivalentes ao padrão de vida médio de 1911.  Isso significa que, na média, graças à ganância de empreendedores e capitalistas, houve, desde 1911, uma queda nos preços reais da ordem de 93,33%!
Apenas este fato já deveria servir para demonstrar que o capitalismo de livre mercado — o capitalismo laissez-faire — é o sistema econômico mais ético e moral que existe.  Ele é a materialização das liberdades individuais e da busca pelo interesse próprio.  Ele resulta no progressivo aumento no bem-estar material de todos, algo que se manifesta no aumento das expectativas de vida e no contínuo aprimoramento do padrão de vida das pessoas.
O papel dos ricos capitalistas na melhora do nosso bem-estar
Os atuais protestos contra os ricos, contra os lucros das grandes empresas e contra a ganância partem do velho princípio marxista de que uma pequena fatia de abastados vive à custa da exploração da esmagadora maioria da população mundial.  Tal raciocínio seria verdadeiro caso a revolta se direcionasse especificamente para aqueles indivíduos cuja riqueza foi adquirida por meios que atentam justamente contra o capitalismo, como subsídios governamentais, protecionismo e outras formas de governo que obstruem a livre concorrência.  Nesse caso, os protestos mereceriam o apoio de todos os pró-capitalistas. No entanto, a gritaria tem sido generalizada e o alvo comum tem sido os ricos, os lucros e a ganância de forma geral.
A óbvia solução apresentada é que a população explorada — a esmagadora maioria da população mundial — confisque a riqueza da ínfima minoria abastada e a utilize para seu beneficio próprio ao invés de permitir que ela continue sendo utilizada para o benefício dessa ínfima minoria, que é supostamente formada por indignos e gananciosos capitalistas exploradores.  Em outras palavras, o programa implícito por trás das atuais manifestações é o socialismo e a redistribuição de riqueza.
Deixando de lado as hipérboles utilizadas nos protestos, é verdade que uma relativamente pequena minoria da população de fato detém uma excepcionalmente grande fatia da riqueza da economia.  Mas o que os manifestantes não percebem é que a riqueza dessa ínfima minoria é exatamente o que fornece o padrão de vida da esmagadora maioria.
Os manifestantes não se dão conta disso porque veem o mundo através de uma lente intelectual totalmente inapropriada para a vida sob o capitalismo e sua economia de mercado.  Eles veem um mundo — que ainda existe em alguns lugares atrasados, e que era prevalecente há alguns séculos — povoado de famílias autossuficientes que vivem da agricultura de subsistência, cada uma produzindo para consumo próprio, sem nenhuma ligação com um mercado de compra e venda de bens e serviços.
Em tal mundo, quando alguém vê uma plantação, ou um celeiro, ou um arado, ou animais de carga, e pergunta a quem tais meios de produção servem, a resposta é "ao agricultor e sua família, e a ninguém mais".  Neste mundo, à exceção de algum ocasional gesto de caridade dos proprietários, aqueles que não possuem meios de produção não podem se beneficiar dos meios de produção existentes, a menos que eles próprios de alguma maneira também se tornem proprietários de meios de produção.  Eles não podem se beneficiar dos meios de produção de terceiros, a menos que herdem-nos ou confisquem-nos.
No mundo dos manifestantes, os meios de produção possuem essencialmente a mesma característica de bens de consumo, os quais, em regra, beneficiam apenas os seus proprietários.  Justamente por seguirem esta mesma visão de mundo, aqueles que compartilham da mesma mentalidade dos manifestantes tipicamente imaginam os capitalistas como homens obesos, cujos pratos estão repletos de comida enquanto as massas de assalariados têm de viver à beira da fome.  De acordo com essa mentalidade, a redistribuição de riqueza é simplesmente uma questão retirar a comida do prato transbordante dos capitalistas e redistribuí-la para os trabalhadores esfomeados.
Porém, ao contrário de tais crenças, no mundo moderno em que realmente vivemos, a riqueza dos capitalistas simplesmente não está na forma de bens de consumos, pelo menos não de maneira significativa.  Não apenas ela está predominantemente na forma de meios de produção, como também esses meios de produção estão empregados na produção de bens e serviços que são vendidos no mercado.  Em total antagonismo às condições das famílias agrárias autossuficientes, os beneficiários dos meios de produção dos capitalistas são todos os membros do público consumidor em geral, que compram os produtos dos capitalistas.
Por exemplo, sem ser dono de uma única ação de alguma grande montadora (GM, Daimler, Ford, BMW, Scania, VW, Toyota, Volvo) ou de alguma petrolífera (Exxon Mobil, BP, Shell, Chevron), qualquer pessoa em uma economia capitalista que compre os produtos destas empresas se beneficia de seus meios de produção: o comprador de um automóvel Volvo se beneficia da fábrica da Volvo que produziu aquele automóvel; o comprador da gasolina da Shell se beneficia de seus poços petrolíferos, oleodutos e caminhões-tanque.  Adicionalmente, também se beneficiam destes meios de produção todas aquelas pessoas que compram produtos de clientes da Volvo ou da Shell, desde que tais meios de produção indiretamente contribuam para os produtos destes seus clientes.  Por exemplo, os clientes dos supermercados cujos produtos foram entregues em caminhões feitos pela Volvo ou abastecidos com diesel produzido nas refinarias da Shell se beneficiam da existência da fábrica de caminhões da Volvo e das refinarias da Shell.  Mesmo aqueles que compram produtos dos concorrentes da Volvo e da Shell, ou dos clientes destes concorrentes, também se beneficiam da existência dos meios de produção da Volvo e da Shell.  Isso porque os meios de produção da Volvo e da Shell resultam em uma oferta mais abundante — e, logo, mais barata — dos bens que os concorrentes vendem.
Em outras palavras, todos nós, 100% de nós, nos beneficiamos da riqueza dos odiados capitalistas.  Nós nos beneficiamos sem que nós mesmos tenhamos de ser capitalistas.  Os críticos do capitalismo são literalmente mantidos vivos em decorrência da riqueza dos capitalistas que eles odeiam.  Como demonstrado, os campos de petróleo e os oleodutos das odiadas corporações petrolíferas fornecem o combustível que movimentam os tratores e os caminhões que são essenciais para a produção e a distribuição de comida que os críticos comem.  Os manifestantes atuais e todos os outros que têm ódio dos capitalistas simplesmente odeiam os alicerces de sua própria existência.
O benefício que os meios de produção dos capitalistas trazem aos não-proprietários dos meios de produção se estendem não apenas aos compradores dos produtos fabricados por esses meios de produção, mas também aos vendedores da mão-de-obra que é empregada para trabalhar com esses meios de produção.  A riqueza dos capitalistas, em outras palavras, é a fonte tanto da oferta de produtos que os não-proprietários dos meios de produção compram, como também da demanda pela mão-de-obra que os não-proprietários dos meios de produção vendem.  Donde se conclui que, quanto maior o número e quanto maior a riqueza dos capitalistas, maior será tanto a oferta de produtos quanto a demanda por mão-de-obra.  Consequentemente, menores serão os preços e maiores serão os salários — logo, maior será o padrão de vida de todos.  Nada pode ser mais benéfico para o interesse próprio do cidadão comum do que viver em uma sociedade repleta de capitalistas multibilionários e suas grandes empresas, todos ocupados utilizando sua vasta riqueza para produzir bens que este cidadão irá comprar e para disputar a mão-de-obra que ele irá vender.
Não obstante tudo isso, o críticos do capitalismo desejam um mundo no qual os capitalistas bilionários e suas grandes empresas foram completamente banidos e substituídos por pequenos e pobres produtores, que não seriam significativamente mais ricos do que eles próprios, os críticos — o que significa que todos seriam pobres.  Eles creem que em um mundo com tais produtores, produtores que não possuem o capital necessário para produzir quase nada, muito menos para conduzir a produção em massa dos produtos tecnologicamente avançados do capitalismo moderno, eles irão de alguma forma estar economicamente em melhor situação do que estão hoje.  Obviamente, tais críticos e manifestantes não poderiam estar mais iludidos.
Além de não perceberem que a riqueza dessa ínfima minoria é o pilar do padrão de vida da esmagadora maioria, o que os críticos e manifestantes também não percebem é que a "ganância" daqueles que se esforçam para fazer parte da ínfima minoria — ou que se esforçam para ampliar sua posição dentro dela — é o que faz com que o padrão de vida da esmagadora maioria seja progressivamente aumentado.
A ironia fatal que está destruindo os EUA
A estagnação e o declínio econômico, os problemas do desemprego em massa e a crescente pobreza observada nos EUA nos últimos anos são o resultado de violações da liberdade individual e da busca pelo interesse próprio.  O governo emaranhou o sistema econômico em uma crescente teia de regras e regulamentações paralisantes que proíbem a produção de bens e serviços que as pessoas querem consumir, e ao mesmo tempo obrigam a produção de bens e serviços que as pessoas não querem, fazendo com que a produção de praticamente tudo seja muito mais cara do que deveria ser.  Por exemplo, proibições na produção de energia atômica, petróleo, carvão e gás natural encarecem o custo da energia; e com menos energia disponível para ser empregada na produção, a mão-de-obra humana tem de ser utilizada mais intensamente para produzir uma dada quantidade de bens.  Isso resulta em menos bens disponíveis na economia, o que afeta a remuneração de todos os assalariados.
Gastos governamentais descontrolados e seus concomitantes déficits orçamentários, em conjunto com altos impostos sobre a renda, sobre a propriedade e sobre ganhos de capital, todos incidentes sobre fundos que caso contrário teriam sido amplamente poupados e investidos, destroem o capital do sistema econômico.  Desta forma, eles impedem o aumento tanto na oferta de bens quanto na demanda por mão-de-obra, algo que mais capital nas mãos das empresas teria gerado. 
E há as inúmeras e crescentes regulamentações que aumentam o custo da produção, reduzem sua eficiência e impedem novas acumulações da capital.  E houve também a formação e o estouro de duas bolhas, a do mercado de ações e a imobiliária, ambas geradas pela expansão de crédito orquestrada pelo Banco Central americano e que amplificaram o consumo de capital da economia.  Trilhões de dólares em capital foram destruídos.
Toda essa destruição de capital afeta a capacidade das empresas de produzir e empregar mão-de-obra.  É essa perda de capital que é responsável pelo atual problema do desemprego em massa.
No entanto, não obstante toda essa maciça destruição de capital, o problema do desemprego pode ser eliminado.  Porém, devido a essa perda de capital, para que tal problema seja resolvido seria necessária uma redução nos salários.  Essa redução, entretanto, foi praticamente tornada ilegal em decorrência da existência de leis de salário mínimo e legislações sindicais.  Tais leis impedem que os empregadores ofereçam salários menores, aos quais os desempregados estariam reempregados.
Consequentemente, por mais irônico que seja, o fato é que praticamente todos os problemas dos quais os intelectuais, os críticos do capitalismo e os manifestantes reclamam são resultado justamente da implementação de políticas que eles apóiam e nas quais eles fervorosamente acreditam.  É essa mentalidade, o marxismo incrustado nela, e as políticas governamentais resultantes, que são responsáveis por tudo aquilo de que estão reclamando.  Os críticos e os manifestantes estão, com efeito, na posição de autoflagelantes involuntários.  Eles estão se chicoteando e, como bálsamo para suas feridas, exigem ainda mais chicotadas e algemas.  Eles não veem isso porque não aprenderam a fazer a correlação entre fenômenos básicos.  Eles não entendem que, ao violarem a liberdade de empreendedores e capitalistas, e ao confiscarem e consumirem suas riquezas — isto é, ao utilizarem armas de constrangimento físico e mental contra esse pequeno e odiado grupo —, eles estão destruindo as bases de seu próprio bem-estar.
Por mais que os críticos do capitalismo mereçam sofrer em decorrência dos danos causados pela aplicação de suas próprias ideias, seria muito melhor se eles acordassem para o mundo moderno e passassem finalmente a entender a verdadeira natureza do capitalismo, e então direcionassem sua ira aos alvos que realmente merecem recebê-la.  Caso fizessem isso, eles poderiam, aí sim, trazer alguma contribuição real para o bem-estar econômico, inclusive o deles próprios.

George Reisman Ph.D. é o autor de Capitalism: A Treatise on Economics. (Uma réplica em PDF do livro completo pode ser baixada para o disco rígido do leitor se ele simplesmente clicar no título do livro e salvar o arquivo). Ele é professor emérito da economia da Pepperdine University. Seu website: http://www.capitalism.net/. Seu blogwww.georgereisman.com/blog/.

Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque