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sábado, 21 de julho de 2012

Historia do Brasil Nacao, vol. I - Alberto da Costa e Silva

Capa


Livro: Crise Colonial e Independência: 1808-1830
Autor(es): Alberto da Costa e Silva e outros
Editora: Editora Objetiva
Ano: 2011
N.º Páginas: 256

Primeiro volume da coleção História do Brasil Nação: 1808-2010, Crise Colonial e Independência: 1808-1830 reúne textos inéditos de Alberto da Costa e Silva, Lúcia Bastos Pereira das Neves, Rubens Ricupero, Jorge Caldeira e Lilia Moritz Schwarcz, sob a coordenação de Alberto da Costa e Silva.
A coleção História do Brasil Nação: 1808-2010 será composta de seis volumes. Dirigida pela antropóloga, historiadora, escritora e editora Lilia Moritz Schwarcz, a obra faz parte de um projeto de amplitude ibero-americana chamado América Latina na História Contemporânea. Idealizado em parceria com a FUNDACIÓN MAPFRE e o Grupo Santillana (presente no Brasil através da Editora Objetiva), o projeto já conta até o momento com a publicação de coleções em dez países. Todas apresentam uma reflexão, por meio de textos e imagens, sobre a trajetória dos países da América Latina nos últimos duzentos anos em diversos aspectos, que abrangem população e sociedade, política, economia, cultura e relações internacionais.
História do Brasil Nação: 1808-2010 propõe não só uma leitura sintética e reflexiva sobre a história do Brasil, como também proporciona as chaves para o estudo da história comparada da América Latina, na qual o papel do único país de língua portuguesa nas Américas é fundamental. A história do Brasil - cujo nascimento como nação independente se enquadra nos complexos processos de transformação política, conhecidos pela historiografia atual como "revoluções atlânticas" - percorreu uma trajetória paralela a de seus vizinhos na América do Sul, o que, entretanto, não se refletiu em uma interação profunda entre o Brasil e os demais países latino-americanos de língua espanhola.
Embora elaborada por especialistas qualificados, a coleção pretende transcender os círculos acadêmicos especializados, para alcançar um público mais amplo. Para tal, se prestou especial atenção tanto na estrutura, como na natureza do texto e no próprio conteúdo da obra.
Sobre a coleção brasileira
Uma das características mais distintivas do projeto internacional é o fato de cada país ter elaborado e conduzido de maneira autônoma a produção de sua coleção. Apesar de todos os envolvidos seguirem uma estrutura básica que privilegia a visão de conjunto e comparativa, no Brasil a coleção se distingue por oferecer uma visão sintética, mas ao mesmo tempo rigorosa, dos grandes acontecimentos e processos históricos que marcaram a trajetória do país a partir do início do século XIX.
Alberto da Costa e Silva, José Murilo de Carvalho, Lilia Moritz Schwarcz, Angela de Castro Gomes e Daniel Aarão Reis assinam a coordenação dos cinco volumes históricos. Boris Kossoy, Lilia Schwarcz e Vladimir Sachetta são responsáveis pelo volume de fotografia e pela exposição que será apresentada em São Paulo e no Rio de Janeiro. Lúcia Garcia está à frente da pesquisa iconográfica e secretaria do projeto.
Tal como nos demais países, a coleção conta com a supervisão de conselho editorial reunido sob a direção de Pablo Jiménez Burillo e coordenação de Javier J. Bravo García. Os livros brasileiros dispõem de projeto gráfico original, de autoria de Victor Burton, além de incluírem farta iconografia no miolo dos livros e caderno de imagens colorido, ao final.
O primeiro volume da coleção, lançado agora em setembro de 2011, tem coordenação de Alberto da Costa e Silva. O volume 2, sob coordenação de José Murilo de Carvalho, chega às livrarias em fevereiro de 2012; o volume 3, sob coordenação de Lilia Moritz Schwarcz, em julho de 2012, juntamente com o volume A História do Brasil através da fotografia (que contará com 350 documentos que recobrirão desde os anos 1850 até a primeira eleição de Lula) e conta com a coordenação de Boris Kossoy. Finalmente, os volumes 4 e 5, sob coordenação de Angela de Castro Gomes e Daniel Aarão Reis, respectivamente, sairão em outubro de 2012 e março de 2013. A coleção estará, assim, completa e à disposição do público brasileiro até o primeiro trimestre de 2013. Em seguida, será toda vertida para o espanhol, de maneira a facilitar sua circulação pela América Latina.

(Texto da Editora Objetiva, de agosto de 2011)

Fausto e a Liberdade de Espírito - Paulo Roberto de Almeida


Fausto e a Liberdade de Espírito

Paulo Roberto de Almeida

Interrompi a leitura que fazia, no voo que me trouxe de volta de Curitiba a Brasília, de um romance de Carlos Ruiz Zafón, O Jogo do Anjo (em uma versão francesa), para refletir sobre uma passagem, ao final do primeiro sexto do livro, quando o “herói” da história, David Martin, encontra aquele que eu identifiquei imediatamente como sendo um personagem faustiano. Não tenho certeza quanto a isso, pois justamente interrompi no ato a leitura, para tomar do meu Moleskine e escrever este pequeno texto; mas tudo leva a crer que o jovem escritor de Barcelona, do início do século XX, está no limiar de concluir um pacto faustiano, enredo bastante conhecido na literatura clássica, desde antes de Goethe, e bastante imitado no teatro e no cinema.
Retomarei o livro depois, mas a reflexão que quero fazer tem a ver com a liberdade de espírito, o contrário, portanto, do contrato mefistofélico que alguns fazem em busca da glória, do poder, do dinheiro, do amor, ou de qualquer outra coisa que possa ser valorizada além e acima da própria liberdade, inclusive a vida eterna. O pacto faustiano é suficientemente conhecido para que eu necessite explicá-lo neste pequeno texto, tanto porque a intenção, como dito, é tratar do outro lado da questão, ou seja, a preservação da plena liberdade de espírito e do total controle sobre si mesmo, a despeito e em face de tentações externas e de desejos internos para alcançar objetivos ou situações de conforto e prazer individual, desde que se proceda à cessão de direitos sobre o próprio destino.
Mas o que o pacto faustiano, uma imagem puramente literária, tem a ver com esta minha reflexão a partir da leitura incompleta de um romance, ou de apenas uma sugestão retirada do citado livro de Zafón? Acredito que existam muitos elementos para reflexão, sobretudo porque, no decurso de uma vida qualquer, sem que algum diabo apareça, somos todos levados, mais cedo ou mais tarde, a concluir pequenos (ou grandes, segundo os casos) pactos faustianos, quase todos os dias, e isso sem nenhuma glória literária. Estamos sempre entrando em compromissos duvidosos, no trabalho, na escola, em família ou até com nós mesmos. Parece exagerado dizer isso, mas existem muitas probabilidades de que isso ocorra, inclusive para pessoas que sonham ou creem ser livres.
Esses compromissos são pequenas concessões que fazemos para uma boa convivência social, gestos ou palavras anódinos, não necessariamente hipócritas, mas sempre acomodatícios; são também todas as mesuras e cuidados que tomamos para melhorar uma existência que já pode ser boa, mas que poderia ser “perfeita” se pudéssemos dispor do acordo de ocasião, ou a combinação permanente que parece aproximar essa vida do ideal sonhado por quase todos nós: a situação de equilíbrio estável entre o prazer e o conforto, que desejamos constante, a partir de algum “contrato” dessa espécie.
A liberdade de espírito se encontra, precisamente, na recusa dos compromissos que vão além dos pequenos gestos da vida cotidiana, de ces petits riens dos quais falava um chansonnier francês. Ela significa manter uma integridade moral, em face de apelos (ocasionais ou frequentes) em prol de alguma causa ou de objetivos que não são os nossos, mas os de algum capeta “virtual”; este (pode acontecer) somos nós mesmos e nosso eterno desejo de superar barreiras e dificuldades que se interpõem na busca da glória, poder e riqueza, e que encontramos, quase todos os dias, em nossa caminhada existencial.
O que pode tolher nossa liberdade de espírito? A lista é enorme: o se mostrar condescendente com as pequenas trapaças da vida; o concordar com uma opinião ou argumento manifestamente absurdo, mas com os quais assentimos em função de quem os expede; a leniência em face das mentiras dos poderosos e a complacência com as hipocrisias dos nossos iguais. A renúncia a ter um pensamento próprio, numa situação corporativa qualquer, também pode configurar um inaceitável cerceamento da liberdade de espírito, ou, se quiser, do livre arbítrio.
Mas, existe livre arbítrio em sociedade? É possível preservar sua total liberdade de espírito quando se é empregado, assalariado ou dependente, quando se assume uma relação contratual, enfim, quando não possuímos os atributos dos divinos e poderosos? De fato, é difícil falar em liberdade de espírito quando não se nasceu ungido pelo sopro da divindade e quando precisamos disputar nosso pão cotidiano numa situação qualquer de trabalho para outrem. E, aparentemente, mesmo os ricos e poderosos – um empresário de sucesso, por exemplo – não possuem total liberdade de espírito, pois muitas vezes precisam se dobrar à “ditadura dos consumidores” ou de sua clientela de serviços; ou quando temos de nos conformar a normas impositivas – uma Constituição intrusiva, por exemplo – que parecem totalmente ridículas ou singularmente inadequadas para assegurar o quantum de liberdade que nos achamos em direito de exigir, mesmo quando vivemos plenamente integrados a uma comunidade nacional.
Não é preciso referir-se, todavia, a essa renúncias à liberdade que todos temos de fazer para tornar mais suportável a vida em sociedade. A “minha” liberdade de espírito é aquela que deve ser exercida contra as renúncias voluntárias à nossa própria dignidade em troca de algum pacto sub-faustiano, qualquer que seja o seu objeto precípuo. Ela é, ou deveria ser, consubstancial à tranquilidade de espírito com a qual gostaríamos de viver, se não enfrentássemos compulsões internas e injunções externas.
Uma coisa é certa: todos temos de fazer escolhas na vida. Melhor, assim, que essas escolhas não contrariem muito nossa consciência.

Paulo Roberto de Almeida
Em voo Curitiba-Brasília, 19/07/2012.

Programa de Desaceleracao do Crescimento - Editorial Estadao

O governo, já disse alguém, é um Midas ao contrário. 
Calma lá, antes que alguém interprete mal o que eu disse, esclareço.
O crescimento no Brasil deveria se fazer à base de investimentos produtivos.
O governo prefere estimular o crédito para o consumo.
Os investimentos, por sua vez, deveriam se fazer com base na poupança privada e num bom ambiente de negócios, com regras estáveis, para estimular os tais "espíritos animais" que parecem caracterizar os empresários (não os de quatro patas, claro).
O governo prefere anunciar que vai investir, recolhe dinheiro da sociedade -- pois ele, não é preciso lembrar, não produz um centímetro quadrado de riqueza, um só grama de renda nova -- e depois não investe nada, pois é incompetente para fazê-lo.
A poupança privada deveria ser canalizada para investimentos produtivos, justamente, mas o governo prefere transformar em salários do funcionalismo (que já ganha cinco vezes mais do que no setor privado, para uma produtividade medíocre), e novas contratações de companheiros na máquina pública, além do repasto dos políticos.
Como querem que o Brasil cresça?
E os Brics? Fizeram chabu?
Paulo Roberto de Almeida 

Mobilidade emperrada
Editorial O Estado de S.Paulo, 20 de julho de 2012
O Brasil seria um animado canteiro de obras, se o governo da presidente Dilma Rousseff mostrasse tanta competência para executar programas e planos quanto para lançá-los. Dado esse retrospecto, pouco se pode esperar da nova promessa de obras de mobilidade para cidades com populações entre 250 mil e 700 mil pessoas. Estão previstos R$ 7 bilhões para aplicação nesses projetos, mas nada assegura a efetiva aplicação desses recursos. A presidente, no entanto, prometeu resultados com a maior rapidez possível, ao apresentar, ontem, o PAC Mobilidade Médias Cidades, a mais nova extensão do Programa de Aceleração do Crescimento. A execução desse programa, criado em 2007, tem sido muito lenta e continua tão ineficiente na atual gestão quanto foi no governo anterior.
Ao apresentar o novo ramo do PAC, a presidente mencionou a possibilidade de usar o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) para ganhar tempo na implementação dos projetos. O RDC foi criado como exceção à Lei de Licitações para facilitar a execução das obras da Copa. Foi um lance arriscado, porque aumentou o risco de mau uso de recursos públicos. O risco já era crescente, mesmo sem essa mudança, por causa do grande atraso na execução das obras.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esforçou-se para trazer para o Brasil a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. Cuidou de sua projeção internacional, mas negligenciou as providências para dotar o País de aeroportos, estradas, estruturas de transporte urbano e outras instalações necessárias a grandes eventos internacionais.
Atribuir o atraso das obras aos critérios da Lei de Licitações é distorcer a história, mascarando o desleixo e a incompetência administrativa do governo Lula. Mas essa distorção ocorreu e assim surgiu o RDC. O passo seguinte foi o esforço para estender as facilidades de contratação às obras do PAC, como se isso tornasse mais eficiente a elaboração e a execução dos projetos. Essa tentativa é mais uma mistificação, porque os atrasos do PAC se devem a outro fator - a má qualidade da gestão pública.
Antes do programa especial para cidades médias, o governo federal já dispunha de planos de obras de mobilidade urbana. Foram previstos para essas obras R$ 2,1 bilhões no Orçamento-Geral da União deste ano. De janeiro a junho, no entanto, só foram desembolsados pelo Ministério das Cidades R$ 64,8 milhões, correspondentes a 3% da verba autorizada para 2012. O total empenhado - R$ 324,9 milhões - equivaleu a apenas 15,5% dos recursos previstos. Os números, divulgados pela ONG Contas Abertas, apenas confirmaram a deficiente execução dos programas. Resposta do Ministério das Cidades: das 43 ações pesquisadas, somente 8 estavam vinculadas ao PAC e, além disso, as aplicações de recursos foram dificultadas pelo contingenciamento de verbas. Péssima resposta. Afinal, as obras de mobilidade urbana são ou não prioritárias? Se a resposta for afirmativa, por que o governo se mostra incapaz de preservá-las, quando congela parte das verbas orçamentárias?
Mas todo o PAC vai mal, como sempre foi, desde seu lançamento há cinco anos. Neste ano, até junho, foram pagos R$ 18,6 bilhões, ou 42,9%, da verba orçamentária prevista para os 12 meses (R$ 43,4 bilhões). Mas a maior parte dos desembolsos, no valor de R$ 14,6 bilhões, correspondeu a restos a pagar. Além disso, 52,6% do total pago foi composto de financiamentos a programas habitacionais. É muito menos complicado liberar esse dinheiro que cuidar da elaboração de projetos e da condução de obras.
Enfim, o próprio governo parece muito desconfiado da própria capacidade de avançar na execução dos projetos. Afinal, o valor previsto para o PAC de 2013, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do próximo ano, é pouco maior que o autorizado para este exercício fiscal. Mudar o regime de contratações poderá simplificar uma parte do processo, mas será preciso muito mais que isso para desemperrar o PAC. Para cuidar do problema realmente importante - a incompetência do governo - a presidente pouco tem feito. Para isso, seria preciso abandonar a concepção de governo implantada por seu antecessor, padrinho e mentor político.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Amigos, pero no mucho: Evo Morales - Editorial Estadao


A arrogância de Evo

Editorial O Estado de S.Paulo, 20 de julho de 2012

A se confirmar a informação divulgada ontem pelo jornal Valor de que a Bolívia negou salvo-conduto ao senador oposicionista Roger Pinto Molina, que se refugiou na embaixada brasileira em La Paz há 53 dias e depois recebeu asilo político, a presidente Dilma Rousseff terá pela frente um problema diplomático não menos espinhoso, no plano bilateral, do que o provocado por sua decisão de considerar "ruptura da ordem democrática" o impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo e de promover a suspensão do país do Mercosul.
A diferença é que, no caso boliviano, a posição do Brasil é inatacável. De um lado, porque é apenas coerente com a antiga tradição do Itamaraty, compartilhada amplamente na América Latina, de dar abrigo a figuras públicas em situação de risco nos respectivos países, quaisquer que sejam as suas posições políticas ou ideológicas e sem entrar no mérito das acusações de que são alvo. De outro lado, porque as imputações feitas ao asilado - detentor de cargo eletivo, no exercício do seu mandato - configuram um caso patente de perseguição política.
É prática recorrente dos regimes alinhados com o autocrata venezuelano Hugo Chávez, como o de Evo Morales na Bolívia e o de Rafael Correa no Equador, fabricar contra os seus desafetos denúncias de crimes comuns para dar um verniz de legalidade à retaliação por suas atitudes politicamente inconvenientes.
A intimidação do senador Molina se traduziu em mais de 20 ações judiciais, instauradas, não por acaso, depois de ele ter apontado o dedo para membros do governo de La Paz por presumível corrupção e envolvimento com o narcotráfico. Na sequência, o senador resolveu bater às portas da representação brasileira.
O que enfureceu especialmente Morales foi a iniciativa de Molina de encaminhar ao governo cópia de um relatório policial que implica o auxiliar mais próximo do presidente, Juan Ramón Quintana. Ele exerce no Palácio Quemado cargo equivalente ao de ministro-chefe da Casa Civil do Planalto. Segundo documentos citados pela revista Veja, em novembro de 2010, quando dirigia a agência boliviana de desenvolvimento regional, Quintana foi flagrado entrando na casa do brasileiro Maximiliano Dorado Munhoz Filho, em Santa Cruz de la Sierra. Acompanhava-o a ex-miss Bolívia Jéssica Jordan, também ela ocupante de cargo público.
Maximiliano, ou Max, como é chamado, havia fugido anos antes da cadeia em Rondônia onde cumpria pena por tráfico de cocaína. Instalou-se - apropriadamente, talvez seja o caso de dizer - na Bolívia do líder cocalero Evo Morales. Vinte minutos depois de Max abrir-lhe as portas, Quintana e Jéssica saíram carregando duas pastas 007. Passados dois meses, o anfitrião foi recapturado e transferido para uma prisão de segurança máxima no Paraná. Não se sabe o que as maletas continham. Tampouco se sabe se Morales, pessoalmente, tem parte com o narcotráfico. Mas a sanha com que investiu contra Molina autoriza toda sorte de hipóteses.
Agora, a recusa do bolivariano de permitir que o senador deixe em segurança a embaixada brasileira para vir para o Brasil representa uma provocação nascida da arrogância. Morales foi mal-acostumado pela passividade do então presidente Lula diante da ocupação de uma refinaria da Petrobrás por forças do exército boliviano, em maio de 2006, pouco depois da nacionalização do setor de petróleo e gás na Bolívia. Morales pode achar que Dilma Rousseff aceitará com a mesma mansidão do antecessor o novo ato inamistoso ao Brasil. Se aceitar, será uma surpresa - e não só por uma questão de estilo, temperamento ou senso de agravo.
Descartada, por impensável, a cassação do asilo a Molina, seria vexaminoso para o governo brasileiro, neste começo de século 21, tolerar que se reproduza a situação humilhante vivida pela Colômbia entre 1949 e 1954. Durante esses cinco anos permaneceu asilado na sua embaixada em Lima o legendário pensador e político peruano Victor Raúl Haya de la Torre (1895-1979), perseguido pelo então ditador Manuel Odría. Só depois de pressões internacionais, de que participou ninguém menos do que o físico Albert Einstein, Odría autorizou Haya a sair do país.

Desvantagens comparativas da indústria - Sandra Polónia Rios e José Tavares de Araujo Jr


O CINDES tem a satisfação de encaminhar o artigo Desvantagens comparativas da indústria", escrito por Sandra Polónia Rios e José Tavares de Araujo Jr, diretores do Cindes, para o jornal O Estado de São Paulo, de 19 de julho de 2012. O artigo pode ser acessado clicando no link abaixo.


Atenciosamente,
CINDES




SANDRA RIOS , E JOSÉ T. DE ARAÚJO, DIRETORES DO CENTRO DE ESTUDOS DE INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, SANDRA RIOS , E JOSÉ T. DE ARAÚJO, DIRETORES DO CENTRO DE ESTUDOS DE 
INTEGRAÇÃO, DESENVOLVIMENTO
Nos últimos meses, cada novo anúncio de indicadores de desempenho do setor industrial desencadeia previsões sombrias sobre o futuro da indústria brasileira e interpretações diversas e divergentes sobre a natureza da crise por ela enfrentada. A perplexidade aumenta ante os nada desprezíveis custos para a sociedade brasileira dos sucessivos pacotes de estímulo à produção doméstica - que incorporam crédito subsidiado, incentivos fiscais, gastos públicos adicionais com compras governamentais que privilegiam fornecedores locais, ainda que com custos mais altos para o contribuinte, entre outros instrumentos de apoio e proteção ao setor.  
Em artigo do Valor Econômico, o economista David Kupfer sugere que há uma clivagem entre os economistas que veem o fenômeno como resultado da predominância dos componentes cíclicos - associados à contração da demanda internacional e aos efeitos sobre a taxa de câmbio e pressão de importações - e aqueles que o vinculam à natureza tendencial da perda de dinamismo da indústria associada a um quadro de rigidez estrutural. Tal quadro estaria relacionado à pauta de produção muito commoditizada, que vem se consolidando no País. As evidências mostram que, quando as condições de concorrência geram oportunidades e incentivos adequados, as firmas brasileiras estão aptas a lidar com os dois desafios, como ilustram os casos de aviões, alimentos, papel e celulose e cosméticos. E vice-versa: quando as empresas se revelam incapazes de adotar determinadas inovações, esta deficiência resulta em boa medida do padrão de competição vigente no País. Por exemplo, nas últimas décadas, o avanço nas tecnologias de informação promoveu uma redução drástica nos custos de transação e estimulou a 
fragmentação das cadeias produtivas de vestuário, calçados e outras. Nestas indústrias, as estratégias empresariais dominantes passaram a ser baseadas na subcontratação de bens e serviços e na formação de parcerias estáveis entre fornecedores e compradores de insumos e componentes industriais. Entretanto, o impacto positivo das tecnologias sobre os custos de transação foi prejudicado pela precariedade da infraestrutura de transportes e pelas tarifas de importação de bens intermediários e equipamentos. Em consequência, as firmas brasileiras continuam operando com graus de integração vertical típicos de meados do século 20 e com reduzida integração às cadeias globais de valor.  
Se o problema da indústria é rigidez estrutural, algumas opções de política no Brasil parecem desenhadas para reforçar essa tendência. Como na regulação dos portos, por exemplo. Apesar dos esforços realizados na década de 90 para modernizar a estrutura portuária, as restrições impostas pelo Decreto 6.620, de 2008, implicam que um 
terminal privativo de uso misto só poderá movimentar cargas de terceiros em caráter eventual e subsidiário. Sua operação apenas será autorizada quando a movimentação da empresa autorizada justificar, por si só, a implantação e a operação da instalação portuária. Ora, o decreto representa uma clara barreira à instalação de novos terminais privativos e afeta a oferta para a circulação de contêineres - usados no transporte de 
produtos manufaturados. 
As empresas produtoras de commodities - com escala de produção suficiente - vêm investindo para resolver seus problemas de logística e transporte e também na construção de terminais privativos de granéis. Como as normas impedem a circulação de contêineres nesses terminais e as empresas produtoras de manufaturados não têm, em geral, escala suficiente para justificar economicamente a construção de terminais 
privativos para a movimentação de carga própria, continuam na dependência da evolução dos serviços dos terminais de uso público. Esse é apenas um exemplo de como as políticas públicas podem ser incoerentes. Enquanto bilhões de reais são gastos para estimular a indústria e promover as exportações, a legislação brasileira impede que o 
investimento privado contribua para baratear o custo e estimular a inserção internacional da indústria de manufaturados. 

Vai um leite de soja ai? E que tal um McSoja?

Enfim, vc pode não gostar, mas os plantadores de soja ficariam tão contentes...
Eles já estão nadando em dinheiro, literalmente, e vão ainda se refestelar mais ainda...
Se eu quisesse ficar rico, começaria a plantar soja na minha sacada, mas acho que não conseguiria economia de escala...
Em todo caso, vou experimentar um bife de soja, se os carnívoros aqui em casa concordarem...
Paulo Roberto de Almeida 




A maior cotação da soja em todos os tempos foi alcançada nesta quarta-feira na Bolsa de Chicago, quando o bushel chegou ao patamar de US$ 16,85, ou US$ 600 a tonelada, o que significa preço de US$ 37 a saca, valor pago também no interior do RS.
Isto nunca ocorreu na história da Bolsa de Chicago, fundada em 1848. 
Nesta quinta o mercado registrou altas ainda maiores.
A alta espetacular pode ser atribuída a tres razões principais:
1) Quebra enorme da safra de soja no Brasil e na Argentina.
2) Seca formidável nos EUA, pouco meses antes da colheita de setembro.
3) Baixíssimos estoques mundiais do grão.
Os preços são para entrega imediata. (...) A tendência dos preços da soja - das commodities agrícolas em geral - é de alta firme daqui para a frente.

Venezuela: dormindo com... o novo aliado... (Editoriais O Globo, Estadao)

Sempre é bom conhecer a pessoa com quem partilhamos nossos melhores momentos.
Grandes emoções no Mercosul...



Editorial O Globlo, 19/07/2012

Hugo Chávez continua popular na Venezuela. Não é para menos. Conta com o apoio de seis canais públicos de TV, uma agência estatal de notícias, três jornais, quatro emissoras de rádio, além de 244 rádios e 36 canais de TV comunitários. Este é apenas um exemplo da falta de liberdade de expressão apontada no último relatório da Human Rights Watch (HRW), importante organização não governamental de direitos humanos. O documento denuncia o aumento do autoritarismo e a atrofia democrática no país de Chávez. Em virtude do relatório anterior, quatro anos atrás, os dirigentes da HRW foram declarados "persona non grata". A Venezuela é uma das dez nações que a ONG não visita por falta de segurança.
É sabido que Chávez, há 13 anos no poder, teve grande habilidade para usar as instituições democráticas de forma a reduzir as liberdades e ampliar os poderes do Executivo. Um paradoxo. Contou, em parte, com a ingenuidade da oposição, que boicotou uma eleição e entregou o Congresso, de bandeja, ao líder bolivariano.
O relatório chama a atenção para o amplo domínio exercido por Chávez sobre o Judiciário. Uma das táticas foi elevar o número de juízes da Suprema Corte de 20 para 32, garantindo sentenças favoráveis ao governo. No fim de 2010, a bancada chavista renovou o mandato de nove integrantes da Corte, mantendo a hegemonia do Palácio Miraflores no tribunal. Para José Miguel Vivanco, diretor da HRW, "a Suprema Corte é hoje uma peça central do chavismo; ela se identifica com alegria e entusiasmo com o governo e, voluntariamente, é usada para convalidar e legitimar a agenda oficial".
Os espaços de oposição estão cada vez menores; opositores sofrem retaliações e até prisão. Foi o que sucedeu à juíza María Lourdes Afiuni, presa em dezembro de 2009, mesmo dia em que concedeu liberdade condicional ao banqueiro Eligio Cedeño, suspeito de evasão de divisas. Acusada pelos governistas de aceitar suborno, a juíza está presa até hoje, sem julgamento.
A mídia e os jornalistas têm sido outro alvo preferencial de Chávez. Redes de TV são cassadas, como a RCTV, e acossadas, como a Globovisión, com quatro processos administrativos. Veículos de comunicação (críticos do governo, claro) são tirados do ar ou de circulação devido a tecnicalidades, jornalistas são perseguidos, assim como os próprios donos de empresas do setor.
A empresa privada, de maneira geral, tem cada vez menos espaço na Venezuela, já que o regime é decididamente estatizante. O país, como esperado, enfrenta problemas em muitas áreas devido ao fracasso das companhias estatizadas.
O assistencialismo maciço sedimenta a popularidade do caudilho. Se sua doença permitir, ele deverá ganhar as eleições de outubro para um terceiro mandato de seis anos. Poucos acreditam que as "autoridades eleitorais" permitam a vitória do opositor Henrique Capriles. Mesmo assim, o Brasil, por meio de seu chanceler, Antonio Patriota, considera a Venezuela chavista uma democracia, a ponto de ser admitida no Mercosul. Chega a ser hilariante.

Editorial O Estado de S. Paulo, 19/07/2012

Em dezembro de 2009, a juíza venezuelana María Lourdes Afiuni concedeu liberdade condicional a um opositor do regime do caudilho Hugo Chávez, o banqueiro Eligio Cedeño, acusado de evasão de divisas e à espera de julgamento durante quase três anos. No mesmo dia, Chávez chamou a juíza de "bandida", acusou-a de ter aceito suborno do réu e exigiu que fosse condenada a 30 anos de prisão. Ainda no mesmo dia, a sua prisão preventiva foi decretada e cumprida. María Lourdes foi colocada na mesma cadeia onde cumpriam pena criminosos que ela havia condenado e que passaram a ameaçá-la de morte seguidas vezes. Depois de 14 meses do seu encarceramento, protestos internacionais, aos quais se juntou até o linguista Noam Chomsky, o porta-bandeira de Chávez nos meios acadêmicos nos Estados Unidos, obrigaram o autocrata a colocá-la em prisão domiciliar, onde permanece até agora, sem saber quando será julgada.
O caso de María Lourdes é exemplar. Até então, os juízes venezuelanos que ainda procuravam conservar a independência diante do Estado bolivariano sofriam pressões, eram ameaçados de ter suas carreiras travadas ou mesmo de perder o emprego. Depois do que se fez com a juíza - um nítido divisor de águas na crônica da demolição da ordem democrática no país -, muitos de seus colegas passaram a temer também a perda da liberdade. Ao longo do processo de asfixia das instituições, Chávez alternou o chicote e o afago para sujeitar o Judiciário à sua vontade incontrastável. A contar do primeiro mandato, o protoditador de Caracas aumentou de 20 para 32 o número de integrantes das 6 instâncias que compõem a Suprema Corte venezuelana, preencheu os cargos com gente de sua confiança e, por meio do Congresso em que detém a maioria, renovou o mandato prestes a terminar de 9 deles.
O resultado é que todos os membros do tribunal, responsável por decisões nas esferas constitucional, político-administrativa, eleitoral, penal, social e civil, rejeitam deslavadamente o princípio da separação dos poderes, comprometem-se com o avanço da agenda oficial e defendem a punição dos "inimigos" do Estado. Era o que diziam, a seu tempo, os juízes da Rússia de Stalin, da Alemanha de Hitler, da Itália de Mussolini - e de tantos outros regimes totalitários que infestaram o mundo no século passado. Esses ditadores, em vez de fechar o Judiciário, o povoaram de aliados não menos ferozes do que eles. Com isso, criaram a sua própria e hedionda "legalidade", acoplando-a ao controle absoluto dos meios de comunicação, das instâncias administrativas e da estrutura das Forças Armadas.
O esmagamento do Judiciário para assegurar a supremacia do Executivo é o aspecto mais crucial do drama venezuelano, exposto no recém-divulgado relatório sobre o país pela ONG americana Human Rights Watch. O documento Apertando o cerco: concentração e abuso de poder na Venezuela de Chávez tem 133 páginas e é o segundo produzido pela organização sobre o país. O anterior, de quatro anos atrás, fazia um balanço sobre uma década de chavismo - o que custou aos seus autores, José Miguel Vivanco e Daniel Wilkinson, a detenção, seguida de expulsão sumária do país. A pouco menos de três meses do pleito em que o caudilho desponta uma vez mais como favorito, o relatório é justificadamente mais pessimista que o anterior. A Venezuela de Chávez se parece cada vez mais com o Peru de Alberto Fujimori, entre 1990 e 2000, como sistema que conserva um semblante de aparato institucional democrático para servir, porém, à autocracia.
Ao mesmo tempo, o venezuelano garroteia a mídia de massa, mas, entre uma violência e outra - sempre respaldadas pelas togas serviçais - deixa circular um punhado de diários críticos ao regime, cujas tiragens, somadas, não chegam a 300 mil exemplares. O governo conta com seis canais nacionais de TV, 4 estações de rádio, 3 jornais e 280 rádios comunitárias. "As ações do governo enviam uma clara mensagem", resume o documento. "O presidente e seus seguidores estão prontos a punir quem desafiar ou obstruir os seus objetivos políticos."

Venezuela: economia esquizofrênica! E agora no Mercosul tambem???!!!

Vejam bem o que Chávez anunciou: 
"...a criação de um fundo de 'várias centenas de milhões de dólares' para ajudar empresários locais a exportar aos sócios do bloco."
Ou seja, como seus empresários, por razões de ambiente deletério de negócios, não conseguem ser competitivos, Chávez, na sua inefável candura e generosidade, se propõe ajudá-los para que eles se tornem competitivos à golpes de petrodólares chavistas.
O grande economista, por acaso presidente dessa vaca petrolífera que atende pelo nome de Venezuela (com perdão da expressão, mas o "vaca" deve ser tomado no sentido metafórico, claro; mas se trata exatamente disso: a Venezuela, ou melhor Chávez, pois nada naquele país acontece sem que Chávez ordene, ordenha a sua vaca petrolífera, literalmente assim, embora o úbere esteja secando por falta de cuidados), mas como eu dizia, esse grande economista, inventor do "socialismo do século XXI", do qual só ele detém o copyright, decidiu que os empresários do seu país (sim, dele, e os empresários são os que sobraram, claro), por generosidade dele, e só dele, poderão dispor de um fundo de "centenas de milhões de dólares" para exportar ao Mercosul.
Não precisa de orçamento, aprovação do Congresso, nada: Chávez decide, Chávez faz, Chávez a tudo vela, tudo ouve, tudo sabe...
Nosso "economista do século XIX" certamente não ouviu falar que tal tipo de medida é estritamente proibida desde 1947 pelo Gatt (não sei se ele ouviu falar), e portanto não pode existir nem no Mercosul, nem em qualquer outro lugar. Enfim, ele pode consultar o texto do Gatt, livremente disponível, ou algum de seus conselheiros lembrá-lo disso, ou será que lá ninguém sabe dessas coisas?
Acho que os líderes do Mercosul terão de lembrá-lo desse pequeno detalhe, a não ser que pretendam, em detrimento de seus próprios empresários, admitirem comércio desleal no bloco, além de serem coniventes com uma transgressão às regras do livre comércio, algo próximo de ser cúmplices de um crime, se me permitem a expressão. Será que eles vão fazer isso, ou só estavam esperando que alguém os lembrasse disso, assim como já se anunciou que Chávez (sim, Chávez) não havia ratificado nenhum dos instrumentos mais relevantes do Mercosul, aliás sequer o seu próprio protocolo de acesso.
Alguém precisa lembrar essas coisas elementares (de nada).
Paulo Roberto de Almeida 
PS.: Se o ingresso no Mercosul é uma "benção", o que seria uma desgraça, para ele e para nós?

Folha de S. Paulo, 19/07/2012

Venezuelano anuncia que quer comprar novos caças da Rússia

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, chamou de "bênção" a entrada de seu país no Mercosul e anunciou a criação de um fundo de "várias centenas de milhões de dólares" para ajudar empresários locais a exportar aos sócios do bloco.
"Compreendo a preocupação de alguns setores", disse Chávez, anteontem, na TV.
O venezuelano se referia a associações de empresários que temem que a adesão ao Mercosul prejudique o já combalido setor industrial.
Ele disse que o fundo estratégico ajudará "com créditos e facilidades as empresas que tenham perfil exportador".
A Venezuela tem saldo comercial negativo com todos os sócios do Mercosul.
Chávez repetiu que deve ir ao Rio no dia 31 para a cerimônia de entrada da Venezuela no Mercosul.

NOVOS SUKHOI
Ontem, Chávez disse ter comunicado à Rússia que quer comprar caças Sukhoi-35, uma versão mais avançada dos 24 caças Sukhoi-30, os mais poderosos do continente, que o país já possui. A Venezuela disse em junho que Moscou pôs à disposição crédito de US$ 4 bilhões.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Brasil: uma economia (ainda nao) em frangalhos - Rolf Kuntz


Sem fôlego para correr
Rolf Kuntz
O Estado de S. Paulo, 18/07/2012

Ninguém se iluda: o Fundo Monetário Internacional (FMI) é muito menos otimista em relação ao Brasil e a outros emergentes do que parece indicar, à primeira vista, seu novo estudo sobre as perspectivas globais. O relatório destaca a desaceleração das economias brasileira, indiana e chinesa e atribui esse efeito, em parte, à crise internacional e às políticas de ajuste. Mas o recado importante vem depois. Emergentes cresceram acima da tendência histórica na última década, em parte graças à expansão do crédito e ao desenvolvimento financeiro. Mas seu crescimento potencial pode ser menor que o esperado. Nesse caso, seu desempenho será mais fraco no médio prazo. O documento ressalta, ainda, os perigos para a estabilidade financeira, num ambiente de baixo crescimento global e muita aversão ao risco. É uma herança deixada por vários anos de rápido aumento do crédito.
O alerta sobre o risco financeiro parece valer para todos os grandes emergentes, incluída a China, onde houve sinais de formação de uma bolha de crédito nos últimos anos. Mas a observação sobre o crescimento potencial parece aplicar-se principalmente ao Brasil, país com uma taxa de poupança em torno de 16% do Produto Interno Bruto (PIB), investimento inferior a 20% e baixo padrão educacional. A última novidade sobre as aventuras do país mal-educado surgiu nesta segunda-feira: 38% dos estudantes do ensino superior têm dificuldades graves de leitura e de escrita, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro em parceria com a ONG Ação Educativa. Desde 2001 as duas entidades têm produzido um Indicador de Analfabetismo Funcional.
A referência ao crescimento potencial é muito mais relevante, no caso do Brasil, do que as projeções de expansão econômica de 2,5% neste ano e 4,6% no próximo. A estimativa do FMI para 2012 é igual à do Banco Central e superior à mediana das previsões coletadas pelo próprio BC na última pesquisa Focus, 1,9%. Essas projeções caíram por 10 semanas consecutivas, até agora, e têm acompanhado a piora de vários indicadores produzidos pelo governo e por entidades do setor privado.
O governo promete resultados melhores neste semestre e um crescimento superior a 4% em 2013. Mas qual será o desempenho econômico possível nos anos seguintes? A resposta depende do alcance da política econômica, por enquanto voltada principalmente para objetivos limitados.
A Fundação Getúlio Vargas divulgou em fevereiro, na revista Conjuntura Econômica, um artigo sobre o produto potencial da economia brasileira. O cálculo pode ser complicado e inseguro, mas ninguém pode simplesmente menosprezar o problema. Nenhuma política voluntarista será sustentável por muito tempo, nem isenta de custos muito altos. Isso é comprovado amplamente pela experiência brasileira. Mais cedo ou mais tarde - frequentemente mais cedo - acaba-se batendo num limite. A consequência pode ser inflação ou crise no balanço de pagamentos ou uma combinação devastadora dos dois efeitos.
A análise resumida no artigo da Conjuntura Econômica indicou um crescimento potencial na faixa de 3,5% a 4% ao ano. Pode-se avançar com maior velocidade durante algum tempo, mas algum desajuste logo tornará necessária uma freada. Em anos recentes, períodos de rápida expansão foram interrompidos por fortes pressões inflacionárias e pela ação corretiva do BC. Fases de intenso crescimento da demanda interna resultaram também na deterioração do saldo comercial. As compras de produtos estrangeiros tendem a crescer em fase de prosperidade econômica, mas, no caso brasileiro, o descompasso entre importações e exportações tem sido muito sensível. Isso ocorreu antes da crise de 2008 e voltou a ocorrer nos últimos dois anos.
Desta vez, a causa principal do descompasso ficou mais evidente: a indústria brasileira tem sido incapaz de competir tanto no exterior quanto no mercado interno. A valorização do dólar, mais de 20% desde o último trimestre do ano passado, foi insuficiente para mudar o quadro. O problema ultrapassa amplamente a questão cambial. Também vai muito além das carências de produtividade, qualidade e inovação das empresas. As principais ineficiências estão fora dos muros das fábricas e das cercas das fazendas. Se esse é o quadro, é um erro insistir numa terapia de estímulos ao consumo e benefícios fiscais de alcance limitado.
Crescimento potencial e capacidade competitiva são denominações do mesmo problema. Além dos economistas do FMI, muitos outros analistas já perceberam os entraves da economia brasileira. Daí o falatório, recorrente nos últimos tempos, sobre a redução das expectativas, no exterior, em relação ao B dos Brics. Mas isso é conversa de quem ainda se preocupa com o PIB. A presidente Dilma Rousseff parece haver superado essa fase.

Argentina: uma economia em frangalhos - Alexandre Schwartsman


O milagre argentino
Alexandre Schwartsman
Folha de S. Paulo, 18/07/2012

Antes, o governo argentino tentava impedir a entrada de dólares; agora, tenta impedir a fuga de capitais
A ARGENTINA, para quem não se lembra, é um país ao sul do Brasil, em cuja seleção joga (e muito) o Messi. Bons vinhos, carne de primeira, Astor Piazzola, Quino e (acima de tudo) Jorge Luis Borges são outros motivos para não nos esquecermos dos vizinhos, já que, economicamente falando, poucas sociedades foram mais cuidadosas no sentido de engendrar sua própria irrelevância.
Para quem não se lembra, a Argentina foi também apontada como uma alternativa à política econômica brasileira (não a de hoje, é bom que se diga, mas a adotada até uns anos atrás), em particular suas tentativas de manipulação da taxa de câmbio.
Certas correntes de pensamento local, para quem tudo se resume ao câmbio (não, não é um exagero meu), apontavam para o Sul como o modelo a ser seguido. Hoje, o silêncio acerca da Argentina ribomba.
Ao contrário do que fazia há tempos, quando tomava medidas para impedir o ingresso de dólares, o governo argentino agora tenta impedir a fuga de capitais, que, pelos números oficiais (sempre um risco), já drenaram US$ 5,5 bilhões das reservas nos últimos 12 meses, uma queda pouco superior a 10%.
No contexto brasileiro isso seria equivalente a uma perda da ordem de US$ 35 bilhões, o que, não tenho dúvida, já teria colocado boa parte dos nossos keynesianos de quermesse em pé de guerra.
Já a inflação, pouco inferior a 9,5% nos 12 meses até junho, segundo os dados oficiais, é estimada pelo sítio Inflación Verdadera na casa de 40%. Apesar disso, nossos agora emudecidos desenvolvimentistas, quando lembrados dos problemas inflacionários platinos, não hesitavam em apontar o forte crescimento argentino como prova definitiva da superioridade da abordagem heterodoxa.
Afinal, a valerem os números do Indec (o IBGE portenho), de 2002 para cá, quando a Argentina superou sua crise, o crescimento médio ficou em 7,7% ao ano, apesar da crise internacional de 2009, um desempenho que, se não é chinês, não seria páreo para a maioria dos países no mundo.
Parece, portanto, que um "poucão" a mais de inflação conseguiria, ao final das contas, comprar um "tantão" a mais de crescimento... Ou não?
Para me certificar sobre a robustez dos números do crescimento argentino, resolvi cruzar os dados relativos ao PIB com os associados à geração de energia. Tenho de confessar certo prazer mórbido nessa investigação, mas os resultados foram mais do que interessantes.
Tomados literalmente, os dados mostram que, em 2004, cada GWh na Argentina correspondia a pouco mais de 12,6 milhões de pesos (a preços de 1993), valor não muito diferente do observado em 2002 e em 2003. Ao final de 2011, porém, cada GWh correspondia a 14,9 milhões de pesos, uma melhora de eficiência energética da ordem de 18%!
Nesse mesmo período, estima-se que a eficiência energética global (PIB/GWh) teria melhorado em torno de 9,5%, pouco mais da metade da evolução argentina.
Obviamente, nada impede que o país tenha conseguido uma evolução superior à global; só cá rumino por qual motivo se preocupariam com isso, dado que as tarifas por lá, por conta de controles de preços, não constituem exatamente em incentivo à economia de energia.
De qualquer forma, meu respeito por crenças e crendices não me permite a palavra final sobre o crescimento argentino. Pode resultar da eficiência platina, mas pode também ser apenas mais em efeito colateral da subestimação persistente da inflação. A decisão final é, como sempre, do leitor.
Só noto (resisto a tudo, exceto à tentação) que o silêncio heterodoxo sobre a Argentina é o veredito derradeiro sobre a tal alternativa de política econômica.
Caso o desempenho argentino pudesse, ainda que remotamente, ser qualificado como um sucesso, pais não faltariam. A orfandade diz muito sobre o que nossos desenvolvimentistas de fato pensam sobre o que por lá ocorreu nos últimos anos.

ALEXANDRE SCHWARTSMAN, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil, sócio-diretor da Schwartsman & Associados Consultoria Econômica e professor do Insper.
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Valor do dólar paralelo dispara na Argentina
O Globo, 18/07/2012

Limitação do governo à venda da moeda faz seu valor saltar 10,23% no mercado informal este mês
Do La Nación*

BUENOS AIRES . A política do governo de Cristina Kirchner de limitar a venda de dólares no mercado oficial está fazendo com que o dólar paralelo seja comercializado a valores que equivalem a quase o dobro do oficial. A moeda paralela subiu ontem 3,8% em um dia, para 6,55 pesos na venda. O valor atual é 43% mais alto do que o oferecido em bancos ou casas de câmbio da capital do país, 4,58 pesos.
A velocidade da depreciação do peso no mercado informal contrasta com a trajetória da divisa nos segmentos oficiais: na venda para empresas, o dólar subiu ontem cinco milésimos, a 4,552 pesos, enquanto o valor aplicado para negociações com pessoas físicas teve correção de apenas um centavo, a 4,58 pesos na venda.
O dólar paralelo, que ontem tocou o máximo de 6,6 pesos durante o dia e já avançou 10,23% no mês de julho em relação ao oferecido em entidades financeiras e casas de câmbio, por sua vez, valorizou-se 0,88%, ou quatro centavos, no mesmo período.
Em novembro de 2011, o governo criou uma série de restrições à compra de dólares, que se aprofundaram até o último dia 5 de julho, quando o Banco Central argentino proibiu a aquisição de moeda estrangeira para fins de poupança, o que resultou em uma escalada do preço do dólar no mercado informal.
A avidez pela moeda americana também causou uma fuga de dólares, com investidores realizando operações em bolsas de valores para acumular divisa no exterior. Para conseguir a moeda fora do país, grandes investidores compraram títulos a 6,80 pesos.
Os títulos em dólares continuam sendo uma das alternativas dos investidores para acumular divisas. Depois de passar por vários processos de hiperinflação, os argentinos perderam a confiança no peso.

Venezuela: uma economia em frangalhos (Valor)


Chávez não investe na PDVSA e torna-se mais dependente do petróleo
 Benedict Mander - Financial Times, de Caracas
Valor Econômico, 18/07/2012

Há poucas coisas que o prolixo presidente da Venezuela Hugo Chávez fala mais do que como sua "revolução bolivariana" reconquistou a independência do país ante ao "império ianque". "Precisamos reconhecer que somos os novos libertadores e construtores da nova pátria", disse o ex-comandante de tanque a soldados em uma parada militar neste mês.
Mas o país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) continua mais do que nunca dependente de algo menos fácil de ser demonizado pelo exaltado líder socialista - o petróleo. Faltando menos de 100 dias para a eleição presidencial de 7 de outubro, o problema da crescente dependência do petróleo e o histórico de má administração econômica do governo passaram a ser o centro das atenções. "Não há dúvidas. A Venezuela não só está mais dependente do petróleo, como também está mais dependente dos preços do petróleo, uma vez que a produção não aumentou", afirma Jorge Piñon, pesquisador visitante da Universidade do Texas.
A alta dos preços do petróleo desde que Chávez assumiu, em 1999, tem sido uma bênção. Permitiu-lhe aumentar a popularidade com gastos excessivos em programas sociais, para os quais a estatal de petróleo PDVSA canalizou US$ 53 bilhões entre 2006 e 2010.
O problema é que a PDVSA menosprezou os investimentos em seus principais negócios, levando a uma queda da produção - ela aplicou apenas US$ 1 bilhão em atividades de exploração no mesmo período. A Venezuela produziu 2,72 milhões de barris de petróleo por dia em 2011, segundo análise estatística anual da BP, contra 3,48 milhões de barris/dia em 1998. Isso tornou a economia mais dependente da permanência dos preços em alta. "Os preços do petróleo são o calcanhar de Aquiles da economia venezuelana", disse Piñon.
Os preços do petróleo venezuelano atingiram o patamar de baixa de US$ 86,17 o barril no mês passado, após o pico de US$ 116,85 em março. Apesar da fantasiosa previsão feita recentemente por Chávez, de que os preços vão se estabilizar em torno de US$ 100, temores de que novas quedas despertam preocupações com a economia de US$ 340 bilhões da Venezuela, cujo petróleo responde por 95% das receitas de exportações.
A consultoria Capital Economics de Londres calcula que, se os preços do petróleo do tipo Brent caírem a US$ 85 o barril, como esperado, a queda nas receitas da Venezuela com o petróleo será equivalente a 2,5% do PIB.
Isso não deverá afetar a farra nos gastos que Chávez vem empreendendo antes das eleições. Analistas estão cada vez mais preocupados com sua atitude de varrer o problema para debaixo do tapete. "A Venezuela vai precisar de um ajuste significativo no ano que vem, que vai envolver em primeiro lugar a desvalorização da moeda", diz Boris Segura, analista da Nomura Securities. Os gastos também terão que ser significativamente cortados, com menos dólares designados para as importações, o que possivelmente vai agravar a falta de bens básicos, acrescenta.
Paradoxalmente, uma importação que poderá ser pressionada é a de derivados de petróleo. A falta de investimentos pela PDVSA levou a uma queda na atividade de refino e a Venezuela está importando 40.000 barris por dia de produtos petrolíferos dos Estados Unidos, incluindo gasolina, contra 32.000 barris/dia em 2011, segundo dados do governo americano.
Como a gasolina é vendida no varejo a 9 centavos de dólar o galão na Venezuela, ou US$ 5 o barril, mas custa cerca de US$ 200 pelos preços internacionais. A Venezuela está perdendo US$ 2,5 bilhões por ano com esta política, afirma Juan Cristóbal Nagel, um economista venezuelano. Ainda assim, se o governo quiser impedir um agravamento da falta do produto, ele sempre pode recorrer a tomar dinheiro emprestado de países como a China, em troca do fornecimento futuro de petróleo, além de emitir mais dívida.
José Guerra, um consultor econômico da oposição, alerta que o governo está mal preparado para uma queda nos preços do petróleo, e a economia estaria mais bem administrada pela oposição, que entende melhor os mercados.
"Este governo conhece apenas uma maneira de resolver o problema: imprimir dinheiro e se endividar", disse ele. "A Venezuela está extremamente vulnerável."
Guerra calcula que para cada dólar que o preço do petróleo cai, o governo deixa de ganhar US$ 800 milhões em receitas por ano.
Essas preocupações pode pesar sobre as chances de Chávez nas eleições. Uma pesquisa feita pela Consultores 21 entre 15 e 26 de junho mostra que ele tinha um apoio de 45,9% do eleitorado, contra 45,8% para Capriles, embora outras deem ao presidente uma vantagem de dois dígitos.
Chávez não é o primeiro presidente a não conseguir reduzir a pesada dependência que a Venezuela tem do "excremento do diabo", conforme disse em declaração que ficou famosa Juan Pablo Pérez Alfonso, um ex-ministro do Petróleo da Venezuela e membro fundador da OPEP. Ele usou a frase ao prever que o petróleo seria a ruína de sua nação.