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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

So' com Portunhol, fica dificil fazer um curso decente...

Sem inglês, estudantes buscam países ibéricos
Correio Braziliense, 21 de Agosto de 2012
Dados do programa Ciência Sem Fronteiras mostram que a procura por instituições de ensino na Espanha e em Portugal é maior do que em nações de língua inglesa. Principal motivo é a falta do idioma. Para amenizar a deficiência, pasta estuda a criação de projeto de capacitação.
O programa de bolsas de estudos Ciência Sem Fronteiras, parceria do Ministério da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação, tem como principal barreira a falta de fluência, conversação e entendimento da língua inglesa pelos alunos brasileiros. Lançada oficialmente em dezembro do ano passado, a iniciativa concedeu até o momento 14.944 bolsas. Do total, somente 1.435 foram para o Reino Unido, os Estados Unidos e a Austrália. Em contrapartida, mais do que o dobro das vagas foram oferecidas em universidades espanholas e portuguesas. Os editais para esses países não cobram exame de proficiência.
 
Pesquisa realizada pela escola de inglês on-line Global English mostra a deficiência em números. O Brasil ficou em penúltimo lugar no ranking mundial dos países com melhor proficiência em inglês, na frente somente da Colômbia. O resultado é de um teste feito em 76 países, com foco na análise no nível de conhecimento da língua de Shakespeare. No Brasil, 13 mil pessoas fizeram a prova. Enquanto a média mundial foi de 4,15 pontos, a brasileira ficou em 2,95.
 
Maior entusiasta do Ciência Sem Fronteiras desde a época em que era ministro de Ciência e Tecnologia, o titular da pasta de Educação, Aloizio Mercadante, reconhece que muitos estudantes brasileiros optam por universidades da Espanha e de Portugal porque não têm a proficiência em inglês. O MEC identificou a baixa demanda de alunos inscritos para países anglófonos e deficiências na aplicação das avaliações de certificação TOEFL e IELTS no Brasil. "A gente poderia aumentar as vagas de Portugal e Espanha ou enfrentar o problema da proficiência em inglês. Eu prefiro enfrentar", afirmou. Como solução, o MEC elabora o projeto Inglês Sem Fronteiras, para auxiliar na integração dos estudantes brasileiros aos pré-requisitos do Ciência Sem Fronteiras.
 
"Vamos contratar professores por meio das universidades federais para dar cursos a esses alunos. Nós sabemos qual é a demanda e vamos atrás dela. Vamos ofertar aulas para garantir a proficiência em inglês e aumentar a procura nos próximos editais", adiantou Mercadante. Uma comissão com representantes da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e das autarquias do MEC, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi criada em maio deste ano para planejar, organizar e gerenciar as ações do Inglês Sem Fronteiras, ainda sem data para ser lançado.
 
Christina da Silva Freitas, 23 anos, está de malas prontas para estudar por mais de um ano na Universidade de Granada, na Espanha. Apesar de feliz com a oportunidade, ela admite que não tentou vaga em uma instituição norte-americana ou inglesa porque ficou com medo de não passar no exame de certificação do idioma. "Eu fiz um curso de inglês, mas era mais de gramática. Eu achei que não fosse passar na parte de conversação. Como o edital para universidade espanhola não cobra proficiência, eu preferi", justifica. A chamada pública do Ciência Sem Fronteiras para as instituições espanholas oferece um curso de três meses do idioma para os universitários admitidos.
 
A estudante do 5º semestre de licenciatura em matemática na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) vai para Espanha fazer um aprofundamento em álgebra. Christina, porém, vai estudar espanhol pela primeira vez, por meio do curso oferecido pelo governo federal. Ainda assim, ela disse não estar preocupada. "A dificuldade maior será falar. Sei das dificuldades que terei de enfrentar e estou disposta a encarar", analisa. Ela acredita que a falta de obrigatoriedade de língua justifica a maior concorrência nos editais para Portugal e Espanha. Na UEA, 10% dos estudantes admitidos no programa vão para Espanha.
 
Acordos - Em março deste ano, o MEC lançou duas chamadas públicas para convocar alunos brasileiros interessados em estudar em instituições de Portugal e da Espanha. Os acordos de cooperação foram assinados com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), que agrega 16 universidades de Portugal, e com o Ministério da Educação, Cultura e Esporte da Espanha e a Fundación Universidad.es, que contempla 34 instituições espanholas.
 
Apesar de a oferta de universidades espanholas e portuguesas reunir instituições de peso, como Universidade de Coimbra, do Porto, ou Universidade de Santiago de Compostela, as instituições mais conceituadas e mais bem colocadas em rankings mundiais, como o Times Higer Education (THE) ou Ranking Web of World Universities (Webometrics), são norte-americanas.
 
Ensino Médio - Após a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011, na semana passada, apontar estagnação no ensino médio, o MEC se reúne hoje (21) com representantes do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) para discutir a reformulação do antigo segundo grau. Na avaliação do ministro Aloizio Mercadante, os dados mostram que é preciso mudar. Além da reestruturação na etapa escolar, a pasta discute com a Andifes a adequação das universidades ao novo sistema de cotas sociais e raciais, que aguarda sanção presidencial.
 
No encontro com os representantes do Consed, Mercadante apresentará a sugestão de concentrar as disciplinas em quatro áreas do conhecimento, conforme o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). De acordo com o ministro, o currículo atual é muito fragmentado, com variações de 13 a 20 matérias. "Não vamos acabar com a química, a física, a biologia, mas organizá-las no campo da ciência da natureza. Com isso, os professores permanecem mais tempo nas mesmas escolas, não se dispersam em várias instituições, e ainda melhoram a relação com o aluno", aposta. A alteração, segundo Mercadante, abre espaço para que o Ideb seja aos poucos substituído pelo Enem. "O exame está se tornando um censo do ensino médio e, agora, com as cotas sociais, o interesse por ele vai crescer ainda mais", acredita.
 
Diante do cenário de estagnação dos últimos anos da educação básica e da instalação do novo sistema de reserva de vagas direcionado aos estudantes de escolas públicas, à população negra, parda e indígena, Mercadante levará aos reitores proposta para adaptação desses alunos. Uma das opções, segundo ele, é implementar curso de nivelamento capaz de corrigir as falhas, aliado ao acompanhamento pedagógico. "É melhor resolver o problema pela raiz do que acumular dependências", justifica. Antes de apostar na ideia, no entanto, ele ainda aguarda um levantamento com a quantidade de alunos provenientes de escolas públicas nas universidades federais e estaduais.
 
Educação integral - No programa semanal de rádio Café com a Presidenta, Dilma Rousseff defendeu ontem (20) a implementação de escolas em tempo integral e a reformulação na grade curricular, como soluções para o baixo desempenho do ensino médio. Segundo ela, os números do Ideb 2011 mostraram que o aprendizado no País melhorou em escolas que seguem este modelo. O programa Mais Educação do MEC já existe em 32 mil escolas públicas, sendo que em quase 18 mil delas a maioria dos alunos é beneficiária do Bolsa Família. "Nosso objetivo é ampliar o tempo na escola e, ao mesmo tempo, estamos assegurando acesso à alimentação de qualidade e ao esporte", disse.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Amaury de Souza: um mestre incomparavel - Octavio Amorim

Conheci Amaury de Souza, o acadêmico, muito tempo antes de conhecer Amaury de Souza, o homem.
Devo ter lido algum artigo dele ainda nos anos 1970, ao pesquisar sobre a política brasileira para meu "mémoire de licence", preparado na Bélgica. 
Quando o conheci, em algum seminário no Rio de Janeiro ou em Brasília, já bem entrados os anos 1990, desenvolvemos uma relação distante mas mutuamente respeitosa, e colaborativa, pois participei de várias pesquisas que ele conduziu (para o seu livro sobre a política externa brasileira, por exemplo, mas também sobre a Alca e o Mercosul).
Recebia seus e-mails com artigos e matérias de imprensa sobre temas internacionais, ainda poucos dias (talvez não mais que dois) antes de seu passamento, que ressinto como se ele tivesse sido meu professor.
Meus mais profundos sentimentos a sua família, a seus amigos, a todos os seus alunos, entre os quais eu posso me incluir.
Paulo Roberto de Almeida 

Amaury de Souza
Octavio Amorim Neto (EBAPE/FGV-Rio)

 Na madrugada de 17 de agosto de 2012, faleceu, no Rio de Janeiro, Amaury de Souza. Um dos líderes do “esquadrão de ouro” que fundou o IUPERJ e criou a moderna ciência política brasileira – em pleno regime militar –, Amaury deixou inúmeras contribuições à disciplina e à profissão. Fiel à marca da sua geração, nunca abandonou a militância política, vendo nesta o irmão siamês do labor acadêmico. Foi pioneiro em tudo que fez, seja no doutoramento em instituições de elite dos EUA (Amaury foi Ph.D. pelo MIT), na adoção de métodos quantitativos, na análise de pesquisas de opinião, no estudo do planejamento urbano, no uso da computação, como no estabelecimento da atividade de consultor político profissional.
O pioneirismo de Amaury é um produto nobre do pioneirismo da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, em que, apesar da precariedade dos meios, buscou-se consolidar o ensino das ciências sociais em nível universitário, algo incipiente no país à época. Entre seus colegas dos tempos de graduação que viriam a colaborar decisivamente no estabelecimento da ciência política acadêmica no Brasil estavam Antônio Octávio Cintra (Ph.D. pelo MIT), Bolívar Lamounier (Ph.D. pela UCLA), Fábio Wanderley Reis (Ph.D. por Harvard), José Murilo de Carvalho (Ph.D. por Stanford) e Simon Schwartzman (Ph.D. por Berkeley).
Amaury não foi apenas politólogo. Além de bacharel em sociologia política, obteve também o diploma de administração, ambos os títulos pela UFMG. Daí ter-se tornado também especialista em consultoria empresarial, atividade a que viria dedicar-se intensamente após desligar-se do IUPERJ em 1987.
Amaury era, pois, um homem polivalente e, como acadêmico, multitemático. Suas dezenas de artigos e livros versam sobre os mais variados assuntos: política local, sindicalismo, eleições, sistemas eleitorais, sistemas partidários, Congresso, elites, presidencialismo, cultura política, burocracias, consolidação democrática, desenvolvimento político, economia política, política urbana, demografia, reforma política, política externa, política comercial, e a nova classe média.
Esse rol impressionante de temas é, na verdade, a melhor expressão do que foi a grande vocação de Amaury: a atividade acadêmica. Apesar de ter deixado de ser professor em tempo integral relativamente cedo e passado a dedicar-se à consultoria política e empresarial, Amaury nunca deixou de ser um grande scholar, impecável no seu profissionalismo e na adesão ao estilo de trabalho universitário que aprendera no MIT. Prova disso eram sua insaciável sede por ler tudo de relevante sobre todo assunto que entrava em seu radar, seu interesse por obras clássicas e pelo que escreviam os mais verdes autores, pela atenção aguda a detalhes, pela análise isenta dos dados empíricos apesar das intensas paixões políticas que o animavam, e o fato de estar sempre atualizado com os debates acadêmicos. Não obstante sua pesada agenda de compromissos empresariais e políticos, Amaury sempre impressionava por dominar todas as vertentes que marcavam as áreas de pesquisa que porventura estudasse, como se ainda fosse um recém-doutor cheio de ardor pelo assunto da sua tese. Foi assim até o último dia de vida.
Evidência eloquente de que Amaury foi sempre um acadêmico é o fato de seus últimos dois livros terem sido publicados há pouquíssimo tempo: A Agenda Internacional do Brasil: A Política Externa de FHC a Lula (Campus, 2009) e A Classe Média Brasileira: Ambições, Valores e Novos Projetos de Sociedade(Campus, 2010), este escrito juntamente com Bolívar Lamounier. De maneira coerente com o que Amaury fez ao longo de sua carreira, essas duas obras já são referências obrigatórias para os principais debates sobre o novo Brasil que nasceu no começo do século XXI.
O que permitiu uma carreira tão polivalente, multitemática e produtiva? O fato de Amaury combinar uma grande inteligência com um trabalho obsessivo e incansável. Essa foi sua segunda grande marca. Todos aqueles que foram seus alunos ou assistentes aprenderam não apenas a substância do que ele ensinava ou pesquisava, mas também o amor ao trabalho, que transmitia com muito orgulho e carisma. Amaury podia ser também um mestre duro e abrasivo, mas sua generosidade sempre foi muito maior do que suas idiossincrasias. Há hoje uma legião de cientistas sociais que muito deve ao coração de Amaury, entre eles o autor destas linhas.
Amaury se dedicou de corpo e alma a várias causas. A sua defesa intelectual da democracia representativa, do parlamentarismo, do voto distrital, da economia de mercado e da redução de impostos ficará também como mais uma das suas contribuições à ciência política nacional e à vida política do país.
Infatigável em sua vocação acadêmica, Amaury deu o ponto final ao seu último artigo dois dias antes de partir. Aliás, só se permitiu partir depois de fazê-lo.
Valeu, Mestre!
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AMAURY DE SOUZA (1942-2012)
Pioneiro em consultorias políticas
DAMARIS GIULIANA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO, 21/08/2012

Ph.D em ciência política pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos EUA, Amaury de Souza foi um dos pioneiros da área no Brasil.
Deu aulas no Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), no Departamento de Economia da PUC-Rio e em diversas universidades americanas.
Também iniciou as consultorias políticas no Brasil, que manteve paralelamente às empresariais, sem jamais se afastar da militância.
"Foi um trabalhador obsessivo, incansável", diz o amigo e professor da FGV Octavio Amorim Neto. "Era de uma enorme generosidade, especialmente com os jovens acadêmicos. Tinha posições muito radicais, mas queria ouvir o outro lado. Era democrático no trato", descreve.
Estudioso multidisciplinar, deixou produções em diversas áreas, incluindo administração e sistemas políticos, dedicando-se ao parlamentarismo.
Suas duas últimas obras, ambas de 2009, são referência em política brasileira -"A Agenda Internacional do Brasil: A Política Externa Brasileira de FHC a Lula" e "A Classe Média Brasileira: Ambições, Valores e Projetos de Sociedade".
Desde 2000, atuava na MCM Consultores Associados. Em nota, a empresa diz que Amaury "tornou-se um dos mais brilhantes e lúcidos analistas políticos do país".
Há um ano, descobriu que tinha câncer de pâncreas. Após cirurgia, voltou a trabalhar. Em julho, porém, foi identificada metástase, e retomou a quimioterapia.
Morreu na quarta-feira (15), no Rio, após uma hemorragia. Tinha 69 anos. Deixa mulher, dois filhos e uma neta.

O custo da mafia sindical: portos parados

20 Aug 2012 08:40 AM PDT
A combinação de greves e operação-padrão de servidores federais nos portos brasileiros afeta o volume do comércio exterior e também traz prejuízo para as empresas que exportam ou importam mercadorias. Várias delas já correm o risco de terem cancelados os pedidos de encomendas que permanecem retidas nos terminais. Além disso, o custo de armazenagem sobe diariamente.
É o caso, por exemplo, da Brasil Máquinas de Construção (BMC), uma das principais distribuidoras de máquinas do país. A empresa já gastou cerca de R$ 1,5 milhão em custos de armazenagem de uma carga, com 154 máquinas, que está parada há quase um mês no porto do Rio, esperando liberação.
"A gente acaba pagando uma armazenagem absurda e deixando de entregar, deixando de vender", reclama o presidente da BMC, Felipe Cavalieri. Segundo ele, a encomenda vale R$ 46 milhões para a empresa, que distribui máquinas de marcas como Hyundai, XCMG e Zoomlion. Por enquanto, diz, os clientes não cancelaram encomendas, mas ele admite que o risco existe.
No porto de Santos (SP), o acúmulo de cargas paradas chegou ontem a 17 mil contêineres, quase 4,5 vezes mais que o volume verificado uma semana atrás. Mesmo com o retorno ao trabalho dos fiscais ligados ao Ministério da Agricultura, nesta semana, as operações devem levar dez dias para se normalizar, avalia o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo (Sopesp).
Segundo o presidente do Sopesp, Querginaldo Camargo, os terminais estão operando com taxas de ocupação entre 80% e 85%, muito acima do considerado ideal. O percentual ótimo é até 65%. "Só não travou de vez, porque estamos trabalhando com os Redex [terminais alfandegados localizados na retaguarda do cais] e conseguindo pulverizar a carga", disse. "Tudo o que podemos fazer é tentar agilizar o posicionamento da carga".
A situação é complicada também no complexo portuário de Itajaí, em Santa Catarina, que ontem tinha 14.801 contêineres parados nas áreas de armazenagem dos terminais. Desses, 7.441 eram de produtos importados, 5.640 para exportações e o restante estava em transbordo.
O diretor-executivo do Sindicato das Agências Marítimas do Estado de São Paulo (Sindamar), José Roque, afirmou que houve atrasos, mas nenhuma embarcação deixou de atracar em Santos devido à greve. Ontem, havia 74 navios na fila para atracação, sendo 54 de granéis sólidos. "Estamos em uma época sazonal, com safra de milho, açúcar, soja. E não há berços suficientes para toda a demanda", disse Roque.
Sem desfecho à vista para a greve dos servidores federais, cresce também a preocupação das indústrias farmacêuticas e de laboratórios de diagnósticos em relação ao abastecimento de medicamentos e principais insumos farmacêuticos. "Estamos em estado de alerta", afirmou Nelson Mussolini, diretor-executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma). A indústria farmacêutica é dependente de importação de insumos e medicamentos biológicos.
Mesmo com a liminar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) garantindo o retorno de 70% de seus funcionários ao trabalho, o setor não está seguro de que o abastecimento poderá ser garantido. De acordo com Mussolini, os pontos mais críticos continuam sendo o porto de Santos e o aeroporto do Galeão (RJ).
Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), informou que, das 400 empresas ligadas à entidade, 110 já foram afetadas, considerando que cerca de 50% do material usado pelo setor é importado. Em levantamento feito pela entidade, 87% dos associados declararam enfrentar problemas em aeroportos e 46% em portos. Se a greve fosse encerrada hoje, seriam necessárias de três a cinco semanas para o fornecimento ser normalizado, avalia a entidade.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Brazilian Journal of International Relations-BJIR (artigo PRA)

Brazilian Journal of International Relations


Brazilian Journal of International Relations - BJIR (ISSN: 2237-7743) é uma publicação quadrimestral da Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Filosofia e Ciências - Campus de Marília, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e do Instituto de Gestão Pública e Relações Internacionais (IGEPRI). A BJIR está indexada no International Political Science Abstracts (IPSA).

Brazilian Journal of International Relations  - BJIR (ISSN: 2237-7743) is published every four months by the Paulista State University - Faculty of Philosophy and Sciences, Campus Marília, in its postgraduate program of Social Science, also by the Institute of Public Administration and International Relations (IGEPRI). The BJIR is indexed in International Political Science Abstracts (IPSA).

Imagem de capa da revista

Vol. 1, No 2 (2012)

Sumário

Apresentação

Apresentação PDF
Marcelo Fernandes de Oliveira, Rafael Salatini

Colaboradores

Colaboradores PDF


Artigos

La Grande Marche en Arrière de l’Amérique Latine PDF
Paulo Roberto de Almeida 8-37
La reemergencia del discurso nacional-popular en la nueva izquierda latinoamericana. Para una discusión de los movimientos nacional-populares PDF
Hugo Cancino 38-59
Agricultural protectionism in developed countries as a State interest PDF
Thiago Lima 60-84
A política econômica e as estratégias de desenvolvimento do Governo Chávez: do capitalismo rentista ao socialismo rentista PDF
Ademil Lucio Lopes 85-115
Os herdeiros de todos os medos: a dissuasão nuclear para os EUA e a Rússia (2000-2005) PDF
Diego Santos Vieira de Jesus 116-146
Guerra PDF
Ralph Waldo Emerson 147-163

Resenhas

Appiah e o cosmopolitismo PDF
Rafael Salatini 164-169

Copyright 2012 | IGEPRI | Instituto de Gestão Pública e Relações Internacionais |  Os conceitos emitidos em artigos assinados pela BJIR são de absoluta e exclusiva responsabilidade de seus autores e não representam a opinião de seus idealizadores.

Mercosul: depois da lentidao, a pressa: da Venezuela ao Equador (e todos os demais)

O processo de acessão da Venezuela ao Mercosul se arrasta desde 2006 (ou mesmo antes, segundo declarações do próprio líder venezuelano, que expressou sua vontade de ingressar no bloco do Cone Sul desde 2000), e ainda não terminou: a novela, que deveria ter concluído a fase de liberalização em janeiro de 2012, promete arrastar-se pelo menos mais quatro anos à frente, senão mais (já que será difícil à Venezuela cumprir todos os requisitos).
O Equador, de sua parte, pretende acelerar o processo, desde que lhe sejam oferecidas condições facilitadas (como não cumprir as cláusulas aduaneiras, por exemplo).
O Mercosul é uma mãe, literalmente...
Paulo Roberto de Almeida 


Equador quer urgência na entrada no Mercosul


QUITO - Em meio a controvérsias sobre o asilo político concedido ao australiano Julian Assange, fundador do site Wikileaks, o presidente do Equador, Rafael Correa, determinou  empenho de seus embaixadores nas negociações para adesão do país ao Mercado Comum do Sul (Mercosul). A exemplo da Venezuela, que se integrou recentemente, o Equador quer fazer parte do bloco e busca enquadrar-se nas normas, mas apela para ter um tratamento diferenciado, que leve em consideração a economia e o tamanho do país. (Agências, 20/08/2012)

domingo, 19 de agosto de 2012

Banco chines autorizado a operar no Brasil

Fazem mais de dez anos que um banco estrangeiro não é autorizado a operar no Brasil: os últimos foram os espanhóis, me parece, em meados e no final da década de 90, para participar dos processos de privatização dos bancos estaduais falidos.
Que o processo tenha sido retomado agora, com um banco chinês, é emblemático do estado das relações bilaterais.
Mas, fica a pergunta: por que nenhum outro banco ocidental foi autorizado a funcionar no Brasil desde os último dez ou quinze anos?
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil autoriza al banco chino ICBC a operar en el país

banco chino
Infolatam Efe
El Industrial and Commercial Bank of China (ICBC), considerada la mayor institución financiera de ese país, podrá comenzar operar en Brasil, de acuerdo con una decisión del Gobierno brasileño publicada hoy en el Diario Oficial.
“Es de interés del Gobierno brasileño la participación extranjera de un cien por ciento en el capital social del banco múltiple a ser constituido por el Industrial and Commercial Bank of China Limited”, indica la publicación.
La necesaria autorización del Gobierno brasileño consta en un decreto firmado por la presidenta Dilma Rousseff, el ministro de Hacienda, Guido Mantega, y el titular del Banco Central, Alexandre Tombini, que fue publicado en el Diario Oficial.
El ICBC, que también se propone operar en Perú, anunció la semana pasada que comprará participaciones en la filial del Standard Bank Group en Argentina y en otras dos empresas de esa firma en el país, en el marco de una estrategia de expansión global que tiene a América Latina entre sus principales intereses.
La institución ha anunciado la apertura este mismo año de dos grandes centros de gestión en Europa y América del Norte, para atender a las empresas chinas que operan en esas regiones.
Según cálculos del mercado internacional, actualmente el ICBC es el mayor prestamista del mundo en términos de valor de activos. EFE

Human Rights Watch escreve a Dilma sobre Venezuela no Mercosul

Transcrevendo:

Washington, DC, August 3, 2012


Her Excellency Dilma Rousseff

President of Brazil
Brasilia, BRAZIL

Dear President Rousseff, 


I am writing you regarding the recent inclusion of Venezuela into the membership of MERCOSUR and the opportunity—and responsibility—it creates for your government and other MERCOSUR members to address the very serious human rights problems that exist in Venezuela today.  As you know, article 1 of the Asunción Protocol on Commitment with the Promotion and Protection of Human Rights of MERCOSUR states: "The full respect of democratic institutions and the respect of human rights and fundamental liberties are essential conditions for the existence and evolution of the process of integration among parties."

And article 2 establishes that: "The parties will cooperate for the effective promotion and protection of human rights and fundamental liberties through the institutional mechanisms established by MERCOSUR." With respect to article 1, the government of President Hugo Chávez has concentrated power in the executive branch, deliberately undermining the independence of other democratic institutions and eliminating essential checks on the arbitrary and abusive use of state power.

President Chávez and his supporters in Venezuela’s National Assembly  carried out a political takeover of the judiciary in 2004 by increasing the  number of seats on the Supreme Court from 20 to 32 and filling the 12 new seats with political allies.  After legislative elections in 2010 reduced the Chávez majority in Congress, they rushed to change the law governing the process for appointing justices and then re-packed the Supreme Court before the newly elected opposition legislators took their seats.  

The packed Supreme Court has ceased to function as a check on abusive state power or guarantee of fundamental rights. Its magistrates have openly rejected the principle of separation of powers and publicly pledged their commitment to advancing the political agenda of President Chávez. This political commitment has been reflected in the court’s rulings, which explicitly reject the principle that the judiciary should serve as a check on presidential power and have repeatedly validated the government’s disregard for international human rights norms.

One of the most disturbing examples of the lack of judicial independence in Venezuela has been the jailing of Judge María Lourdes Afiuni. Afiuni was imprisoned after she granted conditional freedom in December 2009 to a government critic who had spent nearly three years in prison awaiting trial on corruption charges. Although her decision complied with Venezuelan and international law, a day later President Chávez denounced her as a “bandit” and called for her to be given a 30-year prison sentence. She spent over a year in a violent women's prison in pretrial detention, and remains in arbitrary house arrest awaiting trial at this writing. 

In addition, President Chávez and his supporters in the National Assembly have undermined freedom of expression through a variety of laws and policies aimed at reshaping the content of and control over the media. They have passed legislation extending the scope of desacato provisions that criminalize “disrespect” of government officials, prohibiting the transmission of messages that “foment anxiety in the public,” and allowing the government to suspend or shut down TV channels and radio stations whenever it deems this to be “convenient for the interests of the nation.” The government has also abused its regulatory authority to target media outlets for sanction, including through prior censorship, for their critical reporting on the government’s response to issues of public interest.

Moreover, President Chávez and his supporters have aggressively sought to marginalize the country’s human rights defenders by making unfounded claims that they received support of the US government to undermine Venezuelan democracy. In July 2010, the Supreme Court ruled that individuals or organizations receiving foreign funding could be prosecuted for “treason” under a provision of the criminal code that establishes a prison sentence of up to 15 years. And in December 2010, the National Assembly enacted legislation that blocks organizations that “defend political rights” or “monitor the performance of public bodies” from receiving international funding and imposes stiff fines on organizations that invite foreigners who express opinions that “offend” government institutions. Several leading NGOs are currently facing criminal complaints filed by government supporters for having received foreign funding. 
The accumulation of power in the executive and erosion of human rights protections have given the Chávez government free rein to intimidate, censor, and prosecute Venezuelans who criticize the president or thwart his political agenda. President Chávez and his supporters have used these powers in a wide range of cases involving the judiciary, the media, and human rights defenders. 

These high-profile cases have had an impact not only on the individuals and groups directly involved, but also on many other Venezuelans who themselves have not been targeted.  For judges, journalists, broadcasters, and human rights defenders in particular, the government’s actions have sent a clear message: the president and his followers are willing and able to punish people who challenge or obstruct their political aims. While many Venezuelans continue to criticize the government, the prospect of facing similar reprisals—in the form of arbitrary or abusive state action—has undercut the ability of judges to adjudicate politically-sensitive cases, and forced journalists and rights defenders to weigh the consequences of publicizing information and opinions that are critical of the government.
Article 2 of the Asunción Protocol provides your government and the other MERCOSUR member states with both an important opportunity and a duty to seriously address with the government of Venezuela these serious human rights problems. If MERCOSUR member states ignore their commitment to protect and promote basic rights and respect democratic institutions, you will be sending an unfortunate message that international commitments provided for in the Asunción Protocol are merely empty promises.

Sincerely yours, 
Jose Miguel Vivanco
Human Rights Watch

Cc:  Antônio de Aguiar Patriota, Minister of Foreign Affairs 

Interpretacoes do Brasil: Paulo Prado, Sergio Buarque, Gilberto Freyre


Ensaios de interpretação do Brasil

A reedição de 'Retratos do Brasil', livro clássico de Paulo Prado, nos leva a indagar sobre a possível atualidade desse gênero. Será que ainda há espaço, hoje, para ensaios desse tipo? Os sociólogos Renan Springer de Freitas e Leopoldo Waizbort respondem a essa pergunta no 'sobreCultura 9', suplemento trimestral da CH.
Por: Renan Springer de Freitas e Leopoldo Waizbort
Ciência Hoje online, em 11/08/2012
Ensaios de interpretação do Brasil
Além de e 'Retratos do Brasil', 'Raízes do Brasil', de Sérgio Buarque de Holanda, e 'Casa-grande & senzala', de Gilberto Freyre, são exemplos de livros que no passado tentaram interpretar o país. (foto: Breno Peck/ Flickr – CC BY-NC-SA 2.0)

Mórbido exercício de ajustar contas com o passado

por Renan Springer de Freitas
Receio que o tempo dos ‘ensaios de interpretação do Brasil’ já tenha ficado para trás. Claro, ninguém pode ser impedido de se mover nessa direção, da mesma forma que ninguém pode ser impedido de escrever um poema épico, mas duvido muito que qualquer desses caminhos possa se revelar promissor. Na verdade, essa analogia não é muito feliz porque os poemas épicos têm uma grandeza que os ditos ‘ensaios de interpretação do Brasil’ jamais tiveram.
Receio que o tempo dos ‘ensaios de interpretação do Brasil’ já tenha ficado para trás
Tomemos o caso de Casa-grande & senzala – para muitos, o que de melhor já se produziu no gênero. Nesse livro, Gilberto Freyre se empenha em mostrar que o nosso passado colonial imprimiu sua marca sobre a ‘nossa’ maneira (especial) de ser. Como tantos estudiosos de sua geração, Freyre se deixou seduzir pela ideia de converter a ‘singularidade brasileira’ em objeto de reflexão sociológica e, na medida em que o fez, sua obra capital pode mesmo ser considerada um ‘ensaio de interpretação do Brasil’. 
No meu entendimento, entretanto, a grandeza do livro nada tem a ver com isso. Ela reside, antes, na prosa incomparável e no extraordinário talento etnográfico do autor. São os registros etnográficos, muito mais que as considerações a respeito das raízes socioculturais do ‘modo brasileiro de ser’ ou das características distintivas do ‘brasileiro’, que fazem de Casa-grande & senzala o monumento que é.
Em Sobrados e mocambos, publicado poucos anos depois, já não há vestígio daquela preocupação em interpretar o Brasil. O desafio, agora, está em reconstruir o processo de transformação pelo qual passou a sociedade brasileira entre os séculos 18 e 19. Limito-me a um exemplo: até o século 18, as mulheres dos sobrados eram confinadas à cozinha. Freyre mostra como isso vai gradativamente se alterando; como as mulheres vão pouco a pouco conquistando os novos cômodos dos sobrados, até ganharem as janelas. 
Uma etnografia dessa natureza, cuja riqueza chega ao ponto de incluir uma descrição do modo como o corpo das mulheres se altera com o tempo, nada tem de ‘ensaio interpretativo’: não se busca, aqui, especular sobre as raízes das características distintivas da sociedade brasileira. Talvez seja conveniente esclarecer que nada vejo de errado em discorrer sobre este ou aquele traço característico dos brasileiros. Crônicas inspiradas podem ser produzidas por meio desse exercício. Mas ‘crônica inspirada’ não se confunde com etnografia e muito menos com a erudita e laboriosa reconstrução de processos históricos feita por historiadores. 
Capa, Raízes do Brasil
O que acabo de dizer não é novidade para os leitores do historiador Evaldo Cabral de Mello. Para ele, Raízes do Brasil é o livro menos importante de Sérgio Buarque de Holanda (embora o mais conhecido) exatamente por reverberar o “vezo entre mórbido e narcísico de ajustar contas com o passado nacional” peculiar à literatura ensaística da década de 1930. 
A literatura sobre o Brasil que se produziu nessa época, esclarece Evaldo Cabral no posfácio aRaízes do Brasil, “constituiu uma moda intelectual que, da península Ibérica, transmitiu-se ao Brasil e América hispânica. Sintomaticamente, este gênero de ensaio não frutificou nem na Europa nem nos Estados Unidos, como se, através de uma cadeia de mediações complexas, ele cristalizasse a própria marginalização histórica a que Espanha e Portugal se viam relegados e, com eles, as suas ex-colônias americanas”. 
Posteriormente, em 1998, em entrevista à revista Veja, Evaldo acrescentou que esforços em produzir interpretações sobre o próprio país, como se vê, por exemplo, em Retrato do Brasil, de Paulo Prado, foram uma moda peculiar aos países europeus que, no século 19, padeciam (em razão de sua condição periférica) de uma “angústia de identidade”.
Não precisamos proceder como se vivêssemos com um furúnculo latejante a nos atormentar...
Curiosamente, há um sociólogo alemão cujos escritos conduzem à mesma conclusão. Refiro-me a Norbert Elias (1897-1990). Não tenho conhecimento de sociólogo americano que tenha se interessado em ‘interpretar’ os Estados Unidos, nem de sociólogo inglês em ‘interpretar’ a Inglaterra ou francês em ‘interpretar’ a França. Mas Elias escreveu Studienüber die Deutschen (Os alemães, na tradução brasileira). Há uma razão óbvia para isso: a ascensão do nazismo se deu na Alemanha e isso levantou a questão de saber o que havia de errado em relação aos alemães. O mórbido exercício de ajuste de contas com o passado tornou-se imperativo nesse caso. Como escreve Elias pouco antes de morrer: “Tem-se frequentemente a impressão de que o furúnculo Hitler ainda não estourou. Lateja, mas o pus ainda não saiu. Os estudos que se seguem estão primordialmente interessados em problemas do passado alemão”. 
Elias se pôs, então, a discutir o modo como o “passado alemão” imprimiu sua marca no modo de ser ou, como ele diz, no habitus alemão. Mas é ele próprio quem ressalva: “encontramo-nos hoje num ponto de mutação em que muitos dos problemas, incluindo os de habitus, estão perdendo sua pertinência, e novas tarefas para as quais não existem paralelos históricos estão surgindo de todos os lados”. Mais de 20 anos se passaram desde que Elias escreveu essas palavras. Muita coisa mudou. O furúnculo Hitler (assim quero crer!) já estourou; o mórbido exercício de prestação de contas em relação ao passado para descobrir “o que significa ser alemão” perdeu sua razão de ser. O “problema do habitus”, que então apenas “perdia sua pertinência”, já a perdeu (assim espero!) completamente. O mesmo vale para o Brasil. Não precisamos proceder como se vivêssemos com um furúnculo latejante a nos atormentar...

Renan Springer de Freitas é professor de sociologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais
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O voo grandioso da síntese

por Leopoldo Waizbort
Ainda há espaço para ensaios de interpretação do Brasil? Eis aí um problema. Aponto algumas de suas faces. Os ‘ensaios’ são tentativas de uma síntese acerca do que seria o Brasil – o ‘povo’, a ‘nação’, a ‘história’, a ‘raça’, ou ainda alguma característica sua peculiar e potencialmente definidora. Uma síntese que fosse capaz de dizer algo de substantivo acerca de um ser, de algo que é: precisamente o que ele é, e como é. Ocasionalmente, de seu devir. E não se trata somente de síntese, mas, em mesma medida, de afirmação. Exige que se descubram os elementos a sintetizar, que se descubra a fórmula mágica da síntese, que se descubra o sentido da afirmação, que se revele por meio de tudo isso o verdadeiro ser.
Hoje as humanidades, o terreno dos ‘ensaios de interpretação do Brasil’, são muito diferenciadas e diversas. Diferenciadas disciplinar e institucionalmente; diversificadas conceitual, analítica e metodologicamente. Um conjunto de diferenças que torna, cada vez mais, as sínteses inalcançáveis, pois falta um chão comum e uma perspectiva que vislumbre por inteiro seu objeto. O resultado já se antevê: fragmento na perspectiva de abordagem e especialização como campo de decolagem (e pouso?). Seria possível um ‘ensaio’ nessas condições? Creio que aqui a resposta ‘não’ encontra argumentos fortes.
As sínteses oferecidas no passado foram sempre marcadas por uma subjetividade forte, que dobrava a objetividade do conhecido
E onde se poderia encontrar argumentos para um ‘sim’? Antes de tudo, na vontade daqueles que não querem abrir mão dessa modalidade de expressão cognitiva acerca do Brasil. Eles laboram perscrutando a história do gênero, escrevendo-a, reescrevendo-a e ensinando-nos a respeito do assunto. Conhecendo mais e melhor, ganhamos uma outra perspectiva, que se não é a que permite a síntese, ao menos a situa histórica e socialmente. Ao fazer isso, começamos a criar um chão comum em meio à diversidade. Em virtude da diversidade, tentativas de síntese só podem brotar sob a sombra de campos disciplinares e especializações determinadas, sem potencial analítico e metodológico para alçar o voo grandioso da síntese. Guarnecida pelo avanço do conhecimento, a visada restrita precisa abarcar já tanto – em virtude do processo de acumulação infindo das humanidades – que nos faltam maratonistas de fôlego. 
Não há dúvida de que sínteses são importantes. Elas, contudo, nas condições atuais do conhecimento, mal atingem a altura de uma perspectiva globalizante dentro da especialidade. Os balanços disciplinares estão aí para mostrar o tamanho da encrenca.Talvez grupos de pesquisa, no molde das novas formas de organização e gestão do conhecimento, possam criar espaços de síntese, mas vai faltar sempre o coração pulsante e apaixonado que possibilitava e orientava os antigos mestres. As sínteses que ofereceram no passado foram sempre marcadas por uma subjetividade forte, que dobrava a objetividade do conhecido. 
Não há dúvida de que sínteses são importantes. Elas, contudo, nas condições atuais do conhecimento, mal atingem a altura de uma perspectiva globalizante dentro da especialidade
Hoje, essa dobra, além de mais complexa, corre o risco de não ser aceita pela comunidade leitora potencial, que se afina evidentemente com os padrões historicamente desenvolvidos de análise, método,  conceito e exposição. A isso se soma a velocidade acelerada do processo do conhecimento, que não quer saber do tempo de construção da síntese, de maturação lenta.
Após os surtos de formação da universidade moderna no século 19, de especialização da universidade pós-moderna no século 20 e em meio ao atual surto de diplomação da universidade de massas contemporânea, não há mais lugar social para a concepção e execução desses ‘ensaios’; mas eles continuam ao alcance das mãos, para leitura e reflexão.

Leopoldo Waizbort é professor de sociologia na Universidade de São Paulo e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

Educacao no Brasil: Entrevista J.Batista Oliveira (Veja)


"Não precisamos de escolas-modelo"
João Batista Araújo de Oliveira, especialista em educação
Entrevista por Nathalia Goulart
Páginas Amarelas de VEJA, 22 de agosto de 2012

Qualidade do professor:
“Desde a década de 60 há um rebaixamento do nível do pessoal, e a qualidade do ensino depende essencialmente do professor.”
Palavrório pedagógico
“As escolas têm um punhado de papéis reunidos sob o nome de ‘proposta político-pedagógica’, seja lá o que isso queira dizer: começa com uma frase do Paulo Freire e termina citando Rubem Alves.”
Programa de ensino
“É preciso ter um programa de ensino: afinal, se você não sabe o que ensinar, como vai saber o que avaliar?”
Premiar e punir
“É preciso premiar quem faz direito e punir quem não faz. Hoje, o único punido no sistema de ensino brasileiro é o aluno reprovado. Isso é covardia.”
Pedagogos demais, gestores de menos
“O problema é que as escolas e as secretarias de Educação estão povoadas de pedagogos, e não de gestores.”
Idiotia deslumbrada
“Porque no Brasil o que importa é acessório. O legal é colocar xadrez na escola, é ensinar teatro. O brasileiro vai à Finlândia e acha que o sucesso da educação daquele país se deve ao fato de que as paredes das escolas são pintadas de rosa.”
Enem
Ficamos com esse troço que ninguém sabe o que é. O Enem não tem a menor importância.”
Tablets nas escolas
Nenhum país conseguiu melhorar a educação a partir do uso da tecnologia. (…) Não adianta colocar ingredientes certos na receita errada.”
Verba para educação
“Desde 1995, o salário do professor quintuplicou no Brasil, mas não houve avanço no de­sempenho do ensino. Então, aumentar uma variável só não vai mexer no resul­tado.”
Educação em 2021
Estaremos no mesmo patamar. Não há nenhuma razão para pensar que será diferente.”

Trechos da entrevista:
Há décadas governos estaduais, municipais e federal se vangloriam de suas escolas-modelo, unidades que recebem toda a atenção da administração de plantão e que, por isso, se destacam dos demais colégios públicos pela excelência. Os governantes deveriam, na verdade, se envergonhar da situação, afirma o educador João Batista Araújo e Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, ONG dedicada à educação. O argumento do especialista é simples: “As escolas-modelo são exceções. A regra, como sabemos, são as demais escolas do Brasil”. Para incentivar governos a corrigir a distorção. Oliveira criou, em parceria com a Gávea Investimentos e a Fundação Lemann, o Prêmio Prefeito Nota 10, que vai dar 200 mil reais a administradores municipais cuja rede de ensino fundamental obtenha a melhor avaliação na Prova Brasil, exame federal que mede a qualidade do ensino público no ciclo básico. Escola-modelo, portanto, não conta. “Não adianta o prefeito falar que tem duas escolas excepcionais se as demais não acompanham esse nível. Queremos premiar o conjunto.” Confira a seguir a entrevista que ele concedeu a VEJA.
O MEC divulgou nesta semana os resultados da Prova Brasil, que mostra o nível de aprendizado das crianças no ciclo fundamental das escolas públicas. Como o senhor avalia os resultados?
Eles foram divulgados com grande fanfarra, mas não há nenhuma justificativa para isso. Se você analisa a questão no tempo, percebe que existe estagnação. Há um ponto fora da curva, os resultados divulgados em 2010. Mas eles não foram corroborados neste novo exame, e já esperávamos isso. Estamos onde estávamos em 1995. Há uma melhora bem pequena nos anos iniciais da escola, e pouquíssima variação nas séries finais e no ensino médio. Os gastos em educação aumentaram — e muito — e foram criados muitos programas, mas isso não tem consistência suficiente para melhorar a qualidade do ensino. Então, temos duas hipóteses para a estagnação: ou os programas criados são bons, mas não foram bem executados, ou são desnecessários e não trouxeram benefício algum.
Especialistas, entre os quais o senhor, pregam que uma reforma educacional eficaz se faz com receitas consagradas — ou seja, sem invencionices. Quais são os ingredientes para o avanço?
O primeiro é uma política para atrair pessoas de bom nível ao magistério. Desde a década de 60 há um rebaixamento do nível do pessoal, e a qualidade do ensino depende essencialmente do professor. O segundo ingrediente é a gestão do sistema. Uma boa gestão produz equidade: todas as escolas de uma mesma rede funcionam segundo o mesmo padrão. Hoje, unidades de uma mesma rede estadual ou municipal apresentam desempenhos díspares. O terceiro é a existência de um programa de ensino estruturado, que falta ao Brasil. As escolas têm um punhado de papéis reunidos sob o nome de “proposta político-pedagógica”, seja lá o que isso queira dizer: começa com uma frase do Paulo Freire e termina citando Rubem Alves. Os governos de todos os níveis abriram mão de manter uma proposta de ensino, detalhando o que os alunos devem aprender em cada série. O quarto ingrediente é um sistema de avaliação que possa medir a evolução do aprendizado. Para isso, porém, é preciso ter um programa de ensino: afinal, se você não sabe o que ensinar, como vai saber o que avaliar? De posse de bons profissionais, gestão, programa de ensino e métodos de avaliação, acrescenta-se o último ingrediente, um sistema de premiação e punição. Algumas redes começam a pensar em um sistema de premiação, mas não adianta só dar incentivo. É preciso premiar quem faz direito e punir quem não faz. Hoje, o único punido no sistema de ensino brasileiro é o aluno reprovado. Isso é covardia. Nada acontece com professor, diretor, secretário de Educação, prefeito ou governador quando eles falham.
(…)
Por que é tão difícil levar a qualidade das escolas-modelo para toda a rede de ensino?
Porque no Brasil o que importa é acessório. O legal é colocar xadrez na escola, é ensinar teatro. O brasileiro vai à Finlândia e acha que o sucesso da educação daquele país se deve ao fato de que as paredes das escolas são pintadas de rosa. Na volta ao Brasil, ele quer pintar todas as escolas daquela cor. Depois, ele vai à Franca, onde vê um livro que julga importante e decide introduzi-lo nas escolas daqui… Em vez de olharmos o que os sistemas de ensino daqueles países têm em comum, olhamos exatamente para o que há de diferente neles, como se isso fosse a bala de prata da educação. Por isso gestão é tão importante: é preciso focar o DNA da escola e deixar de lado o que é periférico. O problema é que as escolas e as secretarias de Educação estão povoadas de pedagogos, e não de gestores. Não conheço uma Secretaria de Educação no Brasil que tenha um especialista em demografia, que saiba quantas crianças vão nascer nos próximos anos e, portanto, quantas escolas precisam ser abertas ou fechadas.
Há alguns meses, o MEC anunciou a aquisição de milhares de tablets para professores. O senhor vê isso com bons olhos?
É mais confete. O bom professor vai se beneficiar; o mau, não. E nem o benefício ao bom professor justifica o custo. Quando a tecnologia está atrelada ao professor, ele, o ser humano, vai ser sempre o fator limitante. Nenhum país conseguiu melhorar a educação a partir do uso da tecnologia. Não estou dizendo que a tecnologia seja ruim. Ela tem potencial, desde que seja usada no contexto apropriado. Não adianta colocar ingredientes certos na receita errada.
A sensação generalizada é que o ensino público nacional é um desastre. É uma visão errada?
É uma visão correta. Sobretudo para as crianças pobres, que teriam na escola a única chance de ascensão social. A escola é um desastre quando analisada pela ótica das avaliações internacionais, e um desastre também do ponto de vista pessoal, individual. A única chance que um cidadão tem de melhorar de vida no Brasil é’ por meio da educação de qualidade. E ela não tem qualidade para a maioria das pessoas. O número de jovens que chegam ao ensino médio é baixíssimo, e, entre estes, a evasão é uma calamidade. E o governo é incapaz de entender que há um modelo errado ali, que penaliza jovens justamente quando eles atravessam uma fase de afirmação.
O Enem foi criado como ferramenta de avaliação e aprimoramento do ensino médio. Porém, vem sofrendo mudanças para atender a outro fim: a seleção de estudantes para universidades públicas. Qual a avaliação do senhor a respeito?
Ninguém consegue servir a dois senhores. O Enem nasceu com um formato, mas transformou-se em outra coisa. Ele nasceu para ser uma prova de avaliação das competências dos jovens, mas não deu certo. Em seguida, tentou-se vender a ideia de que é uma prova seletiva, um vestibular barato. E ficamos com esse troço que ninguém sabe o que é. O Enem não tem a menor importância. A ideia de ter uma forma simplificada de ingresso à universidade é bem-vinda, mas isso não serve para todos os estudantes do ensino médio.
(…)
Tramita no Congresso o Plano Nacional de Educação, que prevê aumentar o porcentual do PIB destinado à área de 5% para 10%. A falta de dinheiro é a razão de crianças não saberem ler ou operar conceitos fundamentais de matemática?
O país deve investir em educação, mas colocar dinheiro na equação atual é jo­gá-lo fora. O problema mais importante é a gestão. Não adianta pôr mais dinhei­ro no sistema atual porque ele vai ser malgasto. É como pagar dois professo­res que não sabem ensinar: melhor é pagar somente um bom mestre. Temos problemas estruturais muito graves: se eles não forem resolvidos, não haverá financiamento que baste. Desde 1995, o salário do professor quintuplicou no Brasil, mas não houve avanço no de­sempenho do ensino. Então, aumentar uma variável só não vai mexer no resul­tado. A equação é mais complexa. Além disso, 10% é uma cifra descabida do ponto de vista da macroeconomia.
O país estabeleceu metas para o ensino básico até 2021. Como estará o Brasil, do ponto de vista da educação, às véspe­ras do bicentenário da Independência?
Estaremos no mesmo patamar. Não há nenhuma razão para pensar que será diferente. Não se muda a educação, estabelecendo metas, mas a partir de ins­tituições. Não há milagre. Uma vez que não existe investimento nas políticas corretas, não há por que achar que tere­mos uma situação melhor no futuro.