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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

So' com Portunhol, fica dificil fazer um curso decente...

Sem inglês, estudantes buscam países ibéricos
Correio Braziliense, 21 de Agosto de 2012
Dados do programa Ciência Sem Fronteiras mostram que a procura por instituições de ensino na Espanha e em Portugal é maior do que em nações de língua inglesa. Principal motivo é a falta do idioma. Para amenizar a deficiência, pasta estuda a criação de projeto de capacitação.
O programa de bolsas de estudos Ciência Sem Fronteiras, parceria do Ministério da Educação (MEC) e da Ciência, Tecnologia e Inovação, tem como principal barreira a falta de fluência, conversação e entendimento da língua inglesa pelos alunos brasileiros. Lançada oficialmente em dezembro do ano passado, a iniciativa concedeu até o momento 14.944 bolsas. Do total, somente 1.435 foram para o Reino Unido, os Estados Unidos e a Austrália. Em contrapartida, mais do que o dobro das vagas foram oferecidas em universidades espanholas e portuguesas. Os editais para esses países não cobram exame de proficiência.
 
Pesquisa realizada pela escola de inglês on-line Global English mostra a deficiência em números. O Brasil ficou em penúltimo lugar no ranking mundial dos países com melhor proficiência em inglês, na frente somente da Colômbia. O resultado é de um teste feito em 76 países, com foco na análise no nível de conhecimento da língua de Shakespeare. No Brasil, 13 mil pessoas fizeram a prova. Enquanto a média mundial foi de 4,15 pontos, a brasileira ficou em 2,95.
 
Maior entusiasta do Ciência Sem Fronteiras desde a época em que era ministro de Ciência e Tecnologia, o titular da pasta de Educação, Aloizio Mercadante, reconhece que muitos estudantes brasileiros optam por universidades da Espanha e de Portugal porque não têm a proficiência em inglês. O MEC identificou a baixa demanda de alunos inscritos para países anglófonos e deficiências na aplicação das avaliações de certificação TOEFL e IELTS no Brasil. "A gente poderia aumentar as vagas de Portugal e Espanha ou enfrentar o problema da proficiência em inglês. Eu prefiro enfrentar", afirmou. Como solução, o MEC elabora o projeto Inglês Sem Fronteiras, para auxiliar na integração dos estudantes brasileiros aos pré-requisitos do Ciência Sem Fronteiras.
 
"Vamos contratar professores por meio das universidades federais para dar cursos a esses alunos. Nós sabemos qual é a demanda e vamos atrás dela. Vamos ofertar aulas para garantir a proficiência em inglês e aumentar a procura nos próximos editais", adiantou Mercadante. Uma comissão com representantes da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e das autarquias do MEC, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi criada em maio deste ano para planejar, organizar e gerenciar as ações do Inglês Sem Fronteiras, ainda sem data para ser lançado.
 
Christina da Silva Freitas, 23 anos, está de malas prontas para estudar por mais de um ano na Universidade de Granada, na Espanha. Apesar de feliz com a oportunidade, ela admite que não tentou vaga em uma instituição norte-americana ou inglesa porque ficou com medo de não passar no exame de certificação do idioma. "Eu fiz um curso de inglês, mas era mais de gramática. Eu achei que não fosse passar na parte de conversação. Como o edital para universidade espanhola não cobra proficiência, eu preferi", justifica. A chamada pública do Ciência Sem Fronteiras para as instituições espanholas oferece um curso de três meses do idioma para os universitários admitidos.
 
A estudante do 5º semestre de licenciatura em matemática na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) vai para Espanha fazer um aprofundamento em álgebra. Christina, porém, vai estudar espanhol pela primeira vez, por meio do curso oferecido pelo governo federal. Ainda assim, ela disse não estar preocupada. "A dificuldade maior será falar. Sei das dificuldades que terei de enfrentar e estou disposta a encarar", analisa. Ela acredita que a falta de obrigatoriedade de língua justifica a maior concorrência nos editais para Portugal e Espanha. Na UEA, 10% dos estudantes admitidos no programa vão para Espanha.
 
Acordos - Em março deste ano, o MEC lançou duas chamadas públicas para convocar alunos brasileiros interessados em estudar em instituições de Portugal e da Espanha. Os acordos de cooperação foram assinados com o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), que agrega 16 universidades de Portugal, e com o Ministério da Educação, Cultura e Esporte da Espanha e a Fundación Universidad.es, que contempla 34 instituições espanholas.
 
Apesar de a oferta de universidades espanholas e portuguesas reunir instituições de peso, como Universidade de Coimbra, do Porto, ou Universidade de Santiago de Compostela, as instituições mais conceituadas e mais bem colocadas em rankings mundiais, como o Times Higer Education (THE) ou Ranking Web of World Universities (Webometrics), são norte-americanas.
 
Ensino Médio - Após a divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2011, na semana passada, apontar estagnação no ensino médio, o MEC se reúne hoje (21) com representantes do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) para discutir a reformulação do antigo segundo grau. Na avaliação do ministro Aloizio Mercadante, os dados mostram que é preciso mudar. Além da reestruturação na etapa escolar, a pasta discute com a Andifes a adequação das universidades ao novo sistema de cotas sociais e raciais, que aguarda sanção presidencial.
 
No encontro com os representantes do Consed, Mercadante apresentará a sugestão de concentrar as disciplinas em quatro áreas do conhecimento, conforme o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). De acordo com o ministro, o currículo atual é muito fragmentado, com variações de 13 a 20 matérias. "Não vamos acabar com a química, a física, a biologia, mas organizá-las no campo da ciência da natureza. Com isso, os professores permanecem mais tempo nas mesmas escolas, não se dispersam em várias instituições, e ainda melhoram a relação com o aluno", aposta. A alteração, segundo Mercadante, abre espaço para que o Ideb seja aos poucos substituído pelo Enem. "O exame está se tornando um censo do ensino médio e, agora, com as cotas sociais, o interesse por ele vai crescer ainda mais", acredita.
 
Diante do cenário de estagnação dos últimos anos da educação básica e da instalação do novo sistema de reserva de vagas direcionado aos estudantes de escolas públicas, à população negra, parda e indígena, Mercadante levará aos reitores proposta para adaptação desses alunos. Uma das opções, segundo ele, é implementar curso de nivelamento capaz de corrigir as falhas, aliado ao acompanhamento pedagógico. "É melhor resolver o problema pela raiz do que acumular dependências", justifica. Antes de apostar na ideia, no entanto, ele ainda aguarda um levantamento com a quantidade de alunos provenientes de escolas públicas nas universidades federais e estaduais.
 
Educação integral - No programa semanal de rádio Café com a Presidenta, Dilma Rousseff defendeu ontem (20) a implementação de escolas em tempo integral e a reformulação na grade curricular, como soluções para o baixo desempenho do ensino médio. Segundo ela, os números do Ideb 2011 mostraram que o aprendizado no País melhorou em escolas que seguem este modelo. O programa Mais Educação do MEC já existe em 32 mil escolas públicas, sendo que em quase 18 mil delas a maioria dos alunos é beneficiária do Bolsa Família. "Nosso objetivo é ampliar o tempo na escola e, ao mesmo tempo, estamos assegurando acesso à alimentação de qualidade e ao esporte", disse.

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