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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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domingo, 27 de janeiro de 2013

Contas externas em perigo - Editorial Estadao

Cenário incerto para o balanço de pagamentos
Editorial O Estado de S.Paulo
Domingo, 26 de Janeiro de 2013

Entre 2011 e 2012, o déficit em contas correntes passou de US$ 52,4 bilhões para US$ 54,2 bilhões (de 2,12% para 2,40% do PIB) e o resultado global do balanço de pagamentos caiu de US$ 58,6 bilhões para US$ 18,9 bilhões. Em dezembro, o déficit corrente alcançou US$ 8,4 bilhões, acima das projeções privadas, de US$ 6,3 bilhões. Apesar da deterioração, não há ameaças de curto prazo às contas cambiais, a menos que não se confirmem as projeções do Banco Central (BC) para o ano.

O Brasil depende em grau elevado do investimento estrangeiro direto (IED), que atingiu US$ 66,6 bilhões, em 2011, e US$ 65,2 bilhões, em 2012 - e o BC prevê a repetição desse montante neste ano (US$ 65 bilhões).

Ao mesmo tempo, está em queda o superávit da balança comercial (diferença entre as exportações e as importações), de US$ 29,7 bilhões, em 2011, para US$ 19,4 bilhões, em 2012, e é estimado em apenas US$ 17 bilhões neste ano. Como proporção do PIB, o superávit diminuiu de 1,2% para 0,9% e cairá mais. Falta conhecer o impacto das importações de petróleo e derivados, inclusive gás natural, que, segundo o noticiário, não foi totalmente contabilizado em 2012.

A piora da balança comercial deve-se apenas em parte à perda de dinamismo global, pois falta competitividade aos produtos brasileiros, em especial aos manufaturados. É incerto o efeito das desonerações fiscais sobre a folha de pagamentos e da redução do custo da energia sobre as exportações. Neste mês, até o dia 18, houve déficit comercial de US$ 2,7 bilhões - valor alarmante, embora ainda não caracterize uma tendência.

O BC acredita que a situação das contas externas pouco mudará neste ano, mas as importações devem crescer mais do que as exportações (US$ 28 bilhões e US$ 25,5 bilhões, respectivamente). O déficit recorde na conta de viagens internacionais, de US$ 15,6 bilhões, em 2012, é projetado em US$ 16,3 bilhões, neste ano. A desvalorização do real ante o dólar pouco influenciou a disposição dos brasileiros de viajar para o exterior.

Entre os aspectos positivos de 2012, houve diminuição da remessa de lucros e dividendos e o ingresso de recursos em Bolsa atingiu US$ 3,3 bilhões em dezembro. As reservas internacionais cresceram de US$ 26,6 bilhões, em relação a 2011, alcançando US$ 378,6 bilhões. E o BC prevê mais US$ 5 bilhões neste ano.

As contas cambiais serão beneficiadas se a economia mundial se recuperar, mas, para financiar o déficit crescente em contas correntes, nada substitui a confiança do investidor na condução da política econômica.

Uma pequena grande licao de economia

Para os que desejam aprender sobre a retorica oficial e sobre a realidade da economia Brasileira.
Paulo Roberto de Almeida

O fiasco econômico do realismo abstrato
Rolf Kuntz
O Estado de S.Paulo, Domingo 26/01/2013

Davos - A economia global continua um cenário ideal para quem curte as emoções da incerteza e do perigo iminente. Talvez por isso poucos empresários brasileiros e altos funcionários federais tenham aparecido em Davos, onde se reuniram meia centena de chefes de Estado e de governo e mais de 2 mil banqueiros, ministros, acadêmicos e figuras do mundo dos negócios. No Brasil, a maior parte do empresariado já tem emoções mais que suficientes. Quanto aos governantes, podem dispensar as discussões e conversas do Fórum Econômico Mundial. Para eles, o ambiente hostil do mercado internacional é mais que um dado indiscutível. É um pressuposto útil, porque serve para explicar os infortúnios, embora a economia seja muito fechada. Davos retribui a esnobação e concentra o foco nas economias avançadas ainda em apuros e naquelas emergentes governadas por equipes mais humildes e mais afeitas ao receituário prosaico. Curiosamente, esses países têm crescido muito mais que o Brasil, embora mais expostos à crise global, e exibem taxas de inflação menores.

A valorização cambial afetou vários desses países, em 2012, enquanto o real se depreciou. Apesar disso, muitos apresentaram contas correntes superavitárias ou com déficits proporcionalmente menores que o brasileiro - 2,8% do produto interno bruto (PIB). Seu crescimento econômico foi geralmente maior que o do Brasil ou, nos piores casos, muito parecido. Alguns exemplos: República Checa, Hungria, Rússia, Malásia, Cingapura, Coreia do Sul, Tailândia, México e Israel.

Governantes e empresários desses países poderiam ter feito um barulhão contra a guerra cambial denunciada pelos brasileiros e agora intensificada pelo Banco do Japão. As autoridades japonesas poderiam refutar a acusação, como têm feito as americanas e europeias. Poderiam justificar a expansão da moeda (um tsunami, segundo a presidente Dilma Rousseff) como um esforço para reanimar a economia. Mas a explicação seria inútil, porque os líderes brasilienses continuariam gritando. As autoridades daqueles outros emergentes talvez tenham julgado mais prático deixar de lado a retórica defensiva e cuidar de tarefas mais humildes e mais cansativas. Nesses países, a maior parte das taxas de inflação ficou entre 1,8% (Israel) e 5,1% (Rússia). O caso da Hungria (5,7%) seria provavelmente descritível como o famigerado "ponto fora da curva".

Déficits em contas correntes, ensinavam os velhos manuais, têm como contrapartida o ingresso de financiamentos necessários à aceleração da economia. Casos como o da China, com superávit igual a 2,7% do PIB e crescimento econômico estimado em 7,7%, eram em geral negligenciados, por serem muito raros ou facilmente explicáveis por um taxa de poupança muito alta. Muito mais interessante seria dedicar um capítulo à estranha combinação brasileira de conta corrente deficitária, investimento inferior a 20% do PIB (somados recursos internos e externos) e crescimento econômico de 2,7% em 2011 e cerca de 1% em 2012. Seria preciso, naturalmente, confrontar o tempo de construção de um estrada no Brasil e na maior parte dos outros emergentes, assim como os custos da obra e a eficiência da gestão pública.

Manuais de economia seriam mais interessantes, teoricamente instrutivos e praticamente úteis, se mais espaço fosse dedicado a assuntos típicos do noticiário policial e dos inquéritos sobre patologias administrativas. Autores estrangeiros são em geral pouco familiarizados com o caso brasileiro. Quanto aos nacionais, talvez considerem teoricamente irrelevantes os detalhes sórdidos da política e da administração. Com alguma caricatura e, certamente, com alguma injustiça, seria possível resumir o cenário em dois blocos:

1) Os herdeiros da tradição neoclássica tendem a escrever como se os mercados fossem altamente concorrenciais, a transmissão dos estímulos ocorresse como nas economias avançadas e com maior inclusão social, a captura das agências por interesses privados fosse exceção e o investimento, variável decisiva, fosse representável por uma taxa simples e límpida, sem a consideração de fatores como prazos, custo, qualidade e importância prática do projeto. O valor gasto numa ponte entre o nada e lugar nenhum, enxertado no Orçamento por um político malandro, é contado na taxa de investimento. É somado, portanto, à verba aplicada numa estrada essencial para o escoamento da soja do Centro-Oeste ou da produção industrial. O erro seria desimportante, se obras como a da ponte inútil e superfaturada fossem excepcionais. Não são.

2) Os "heterodoxos" declaram-se muito diferentes dos neoclássicos, mas são muito mais parecidos do que admitem. Raramente se preocupam com a qualidade, o custo e a produtividade do investimento, embora se apresentem como mais realistas. Esse realismo se traduz, com frequência, num compromisso vago com uma noção ainda mais vaga de "processo dialético". Como tendem a cuidar quase só das variáveis macroeconômicas (as microeconômicas foram inventadas para engenheiros, caminhoneiros e gerentes), supervalorizam os efeitos positivos do gasto público, da expansão monetária e da manipulação cambial. No Brasil, esses fatores têm produzido relaxamento fiscal, inflação, piora das contas externas e quase nenhum crescimento. Em seu estranho realismo, esses heterodoxos dão mais importância aos números do que aos fatos representados.

Sem uma história de sucesso para contar, autoridades e empresários brasileiros preferem ficar em casa e mandar a Davos uma representação minúscula. Outros, mesmo com resultados ruins, enfrentam a discussão e disputam as atenções. E outros, com desempenho invejável, continuam batendo ponto na cidade. Um pouco mais de promoção pode sempre ajudar, mesmo quando se trata de países altamente competitivos, como China, Coreia do Sul, Indonésia, Alemanha e Chile.

sábado, 26 de janeiro de 2013

Brasil: maquiagem a la Argentina das contas de comercio exterior

Parece que o Brasil sempre acaba imitando a Argentina, assim dizem, pelo menos. E nem sempre para o melhor; corrijo, sempre para pior...
Agora são as contas de comércio exterior, que recebem um "tratamento argentino", antes de serem liberadas ao distingo público.
Desse jeito vamos acabar acompanhando os argentinos em seu recuo para o protecionismo dos anos 1980 (já estamos lá), para o dirigismo dos anos 1970, para a confusão dos anos 1960 e vai por aí.
Não sei se vamos conseguir acompanhar os argentinos naquilo que fizeram de pior: o retorno aos controles de capitais e manipulações cambiais dos anos 1950, e quem sabe até, dos anos 1930?
Mais um esforço da equipe econômica e vamos continuar avançando rapidamente para trás...
Paulo Roberto de Almeida 

Contabilidade paralela

Instituo Teotonio Vilela, 25/01/2013
  Balança comercial é o alvo da vez nas maquiagens nas contas públicas promovidas pelo governo Dilma

As manobras levadas a cabo tanto pela equipe econômica comprometem a credibilidade das informações divulgadas pelo governo federal e corrompem a necessária prestação de contas à sociedade. Ilustram, também, o desprezo petista em relação à transparência e a lisura que devem nortear a administração pública. As críticas estão na Carta de Formulação e Mobilização Política desta terça-feira (22). "Tem maquiagem para todo lado nas contas da gestão de Dilma Rousseff; agora é a vez da balança comercial", alerta o documento editado pelo Instituto Teotonio Vilela. Leia a íntegra abaixo:
Está cada vez mais difícil confiar na contabilidade oficial. A gestão petista especializou-se em artifícios de toda sorte para maquiar seus maus resultados. Agora é a vez de a balança comercial ser manipulada. Não fosse isso, o país poderia até ter apresentado déficit no seu comércio exterior em 2012.
A maquiagem está ficando explícita aos pouquinhos, na divulgação dos resultados semanais da balança neste primeiro mês do ano. O que começou com um rombo de US$ 100 milhões na primeira semana de janeiro, chegou a US$ 1,7 bilhão na terceira. Trata-se de comportamento inédito em 18 anos de medições.
Na soma, as transações comerciais com o exterior acumulam até agora US$ 2,7 bilhões no vermelho, de acordo com informações divulgadas ontem pelo Ministério do Desenvolvimento. Mantida a tendência, a balança brasileira terá, neste janeiro, o pior resultado mensal verificado desde o início da série histórica da Secretaria de Comércio Exterior, iniciada em 1995.
Terão as condições piorado tanto, e de maneira tão repentina? A resposta é não.
A explicação para o que está acontecendo com as transações de comércio exterior neste início de 2013 deve ser buscada no último trimestre de 2012, quando a Petrobras deixou de registrar suas importações de petróleo e derivados no sistema. São estas operações que estão agora engordando as estatísticas da balança e inflando o déficit.
A postergação dos registros na contabilidade não tem nada de fortuito. Baseia-se numa decisão da Receita Federal, que passou a permitir, desde junho último, que a esta­tal registrasse suas operações de compra e venda de combustíveis até 50 dias após o desembaraço nas alfândegas.
Estima-se que a Petrobras tenha deixado de lançar algo como US$ 10 bilhões na conta das importações do país em 2012. As exportações, porém, foram todas computadas até o fim de dezembro. Com isso, o governo conseguiu manobrar para evitar que o saldo da balança comercial decaísse para terreno negativo no ano passado, como mostra O Globo em sua edição de hoje.
A maquiagem pode até ter impedido o déficit em 2012, mas não evitou que a balança comercial brasileira exibisse seu pior desempenho em dez anos: o superávit foi de apenas US$ 19,4 bilhões, com queda de 34,8% sobre o ano anterior.
Como se sabe, as ocorrências exotéricas nas estatísticas do comércio exterior brasileiro estão longe de ser caso isolado. As contas públicas foram objeto de manipulação muito mais grave na virada do ano, com objetivo de engordar o superávit fiscal e forjar a consecução da meta fixada para o ano.
Trata-se de lambança com a qual o PT conseguiu superar-se em criatividade e ousadia. O nefasto histórico inclui, ainda, as bilionárias transferências para o BNDES feitas ao longo dos últimos quatro anos e o encontro de contas feito com papéis da Petrobras – sempre ela – por ocasião da capitalização da empresa, em 2009.
As manobras levadas a cabo tanto pela equipe econômica – seja com as bênçãos de Lula, seja agora com as de Dilma Rousseff – comprometem a credibilidade das informações divulgadas pelo governo federal e corrompem a necessária prestação de contas à sociedade. Ilustram, também, o desprezo petista em relação à transparência e a lisura que devem nortear a administração pública. Se o partido que está no poder é capaz de todo tipo de maquiagem na contabilidade oficial para ludibriar os contribuintes, imagine o que não acontece de ainda pior por debaixo dos panos.
(Fonte: ITV/ Foto: Arquivo/Appa)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

O Estado como fator anticompetitivo no Brasil

Na verdade, todos esse apoios e subsídios são ilusórios, e os empresários não vão se tornar mais competitivos; estão apenas fechando o mercado para a competição externa.
Enquanto não se convencerem de que têm de lutar contra impostos e burocracia estatal, a indústria vai continuar desaparecendo lentamente no Brasil, por mais que se busquem "soluções" ilusórias desse tipo.
Paulo Roberto de Almeida

A margem preferencial dada à indústria nacional

22 de janeiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
A indústria brasileira produz a um preço elevado, em razão de diversos fatores sobejamente conhecidos, e exibe baixa produtividade. Foi por isso que o governo aceitou instituir, na compra de equipamentos, uma preferência que pode chegar a até 20% a mais do que o preço do produto importado.
Trata-se de uma margem importante, que mostra ser muito reduzida a competitividade de nossa indústria, mas o governo tomou essa medida com caráter provisório e fixando em R$ 15 bilhões, no máximo, os gastos nos leilões realizados para estimular a indústria nacional por meio das suas compras. A ideia dessa preferência ao produto nacional foi apresentada no governo Lula, mas se concretizou no de Dilma Rousseff. Até agora, foram gastos R$ 2,5 bilhões, sinal de que o sistema de preferências demora a deslanchar, o que, aliás, é uma característica das iniciativas do governo.
Mas interessa examinar quais foram os principais produtos comprados pelo governo com a margem de preferência, pois dão uma ideia de em quais ramos a indústria nacional ostenta uma produtividade melhor. São tratores, escavadeiras, caminhões, ambulâncias e uniformes escolares. São todos produtos para os quais a demanda interna é elevada, o que permite auferir as vantagens de uma produção de massa.
A maioria desses bens, no entanto, tem componentes importados, o que reduz o valor dos incentivos. Existem algumas dúvidas a respeito do efeito dessa margem preferencial no desenvolvimento de tecnologias inovadoras. As compras do governo, porém, estão possibilitando ganhos de produção efetivos, especialmente no caso dos tratores, que têm função importante no desenvolvimento da agricultura, assim como no caso das escavadeiras para a construção civil e obras de infraestrutura.
Porém, se consideramos que o gasto efetivo do governo foi até agora de apenas R$ 2,5 bilhões, não se pode considerar a preferência como fator de salvação da indústria.
Existe, ainda, o risco de que os setores favorecidos se acostumem a viver com a participação do governo e não se mobilizem para desenvolver inovações tecnológicas ou know-how que reduza o custo dos bens oferecidos.
Mas, já que isso tem caráter provisório, seria útil exigir que as empresas beneficiadas comprovem que a margem preferencial auferida permitiu investimentos que reduzem de maneira constante o preço e aumentem a qualidade dos produtos oferecidos, pois os 20% representam, de fato, um gasto da sociedade.

To Kindle or not to Kindle?: o futuro dos ebooks...

Parece que foi ontem: o livro começou a circular com mais facilidades fazem mais ou menos 500 anos. E eu já consegui acumular, creio, uns 5 mil livros, mas preciso ainda contar...
Agora, fica pesado carregar todos esses livros de um lado a outro, tanto é assim que deixei a maior parte dos meus livros no Brasil, e trouxe apenas o essencial para os EUA, ainda assim para facilitar uma consulta que não sei se virá, pois grande parte deles já se encontra diponível ou em formato eletrônico (os mais recentes e editados nos EUA) ou em bibliotecas universitárias dos EUA (os puramente brasileiros e antigos), que parecem ter tudo...
Quanto ao Kindle, não tenho ndada contra, muito pelo contrario...
Paulo Roberto de Almeida

Tempo de Kindle
MARCELO COELHO (coelhofsp@uol.com.br)
Folha de São Paulo, 23.01.2013 – pág. E12

É muito chato ler qualquer livro em que o texto tem a invariável aparência de um documento do Word

Ando meio cansado dos tradicionais elogios ao livro impresso. Aquela conversa de "adoro cheiro de livro" não me convence muito; de tão repetitiva, parece perder a sinceridade que possa ter tido, tornando-se talvez só um clichê.

Não sei se muita gente apreciava de fato o cheiro do livro antes de surgir a ameaça do Kindle e outros formatos eletrônicos.

São raros, aliás, os livros que têm cheiro de fato, a não ser que você afunde o nariz dentro deles, atividade dificilmente compatível com a da leitura propriamente dita. Tudo bem, alguns livros da infância trazem esse tipo de memória guardada nas páginas.

Mas a encadernação ou a cola podem até produzir um odor próximo do amargo e do enjoativo: algumas edições de arte, com papel brilhante e pesado, estão nessa categoria. Além de apresentarem o defeito de refletir a luz, se a lâmpada for forte demais.

Quanto ao contato da pele do dedo com o papel, não sei que prazer se tira disso. Já me cortei com as bordas de edições muito perfeitas. O papel mais macio, por sua vez, pode exigir uma lambida nos dedos de vez em quando, coisa que na minha opinião fere um pouco a etiqueta de qualquer escritório ou biblioteca. Um pouco mais e estaremos todos mexendo os lábios durante a leitura.

É que todo esse apelo à "fisicalidade" do livro tende a ser uma traição, acho, do que há de mais espiritual no ato de ler. Não é prazer que deva ser contaminado por apelos táteis, olfativos ou, pronunciemos a palavra, gastronômicos.

O livro impresso, quando se manifesta na conversa sobre tato e perfume, inscreve-se no mesmo capítulo que mobiliza os adeptos da "slow food", os especialistas em charutos, os que percebem notas de canela e mirtilo no vinho não sei das quantas. É vontade de refinamento, decorada e repetida num esforço de autoconvencimento.

Quanto à praticidade, tenho também minhas dúvidas. Não é fácil segurar nas mãos uma boa edição de "Guerra e Paz". A versão encadernada pesa muito. Em formato de bolso, é raramente resistente aos meses de investida. Em dois volumes? Aí não vale.

Tenho livros baratos que se despedaçaram antes de eu chegar ao final. Livros mais caros, de capa dura, resistem obtusamente à informalidade e ao conforto de um uso cotidiano. O papel antigo fica amarelo e ganha manchas. O papel de luxo, tipo bíblia, cria orelhinhas e se rasga facilmente. Um dicionário grande, editado em volume único (penso no "Houaiss") é objeto de alto risco. Em vários volumes? Sempre erro ao calcular a ordem alfabética.

Resultado: comprei um Kindle, numa viagem, há coisa de dois anos. O produto agora está disponível no Brasil.

Fica o testemunho: nunca uso a geringonça. A ausência de cheiro é o de menos. Os problemas são outros. Em primeiro lugar, é muito chato ler qualquer livro em que o texto tem a invariável aparência de um documento do Word. Será incompetência minha ou toda a arte da tipografia desaparece com o Kindle?

E as capas? Não existirão mais? Voltamos ao século 19 com essa novidade eletrônica. Além disso, não me conformo em pagar, digamos, quarenta reais apenas pelo direito abstrato de baixar um arquivo literário na máquina.

A abstração do Kindle tem outra consequência, mais grave do que a questão do cheiro do papel. É que, como em toda tecnologia contemporânea, o espaço entra em vias de desaparecimento, sendo substituído pelo tempo. Não ficam mais evidentes a página de trás, a página da frente, a página par, a página ímpar, a grossura do livro que estamos lendo, ou o seu lugar na prateleira.

Tudo passa a se situar numa névoa temporal, entre o "agora" e o "não ainda", sem o "para trás" ou o "mais adiante". Por isso se fala na "memória" do computador, e não no seu "armário" ou no seu "depósito". Última vitória do tempo, o sistema de arquivos em "nuvem" eliminou o problema do "espaço em disco".

Com o Kindle, você nem precisa de marcador de livro: ele liga sozinho na página em que você interrompeu a leitura. Só que, assim, você também deixa de folhear o livro e reler por acaso alguma passagem.

Claro que vão inventar, um dia desses, a "função folhear", e um comando de produção de odores, assim como os computadores imitam o barulho de páginas sendo viradas. Mas aí eu já não estarei, provavelmente, lendo mais coisa nenhuma. Mais uma vitória do tempo, aliás.

O governo de uma nota so' - Alexandre Schwartsman

Mas diferente do sambinha, que era chatinho de letra, mas tinha uma toada boa, o samba do governo doido não tem toada nem letra que preste, só tem zumbido, azucrinação, ranger de dentes, arrastar de cadeiras e cordas se rompendo ao menor movimento do compositor-intérprete, que só parece conhecer meia nota, nem uma nota inteira.
Tem também aquela do pato, e do ganso, com o andar desajeitada, e dizem que o pato é tiro certo: cada passo uma c....
Eta governo bisonho....
Paulo Roberto de Almeida

Para quem só tem martelo...



Tudo é prego. Se tivesse que resumir as várias tentativas fracassadas para reviver a economia, acho que nada descreveria melhor o insucesso do que a imagem de alguém tentando resolver um problema com instrumentos inadequados e, pior, sem perceber o desajuste.
Na verdade, da mesma forma que dizem que os generais sempre lutam a última guerra, o governo parece resolvido a lidar com as dificuldades de hoje recorrendo aos instrumentos que usou para superar a recessão de 2008-09.
Ocorre que, na época, a natureza do problema era outra. Naquele momento a crise financeira levou a uma recessão mundial sincronizada, traduzida, por exemplo, em quedas de dois dígitos na produção industrial em qualquer meridiano ou paralelo que se olhasse. Era um caso clássico de insuficiência de demanda, expressa na queda tanto do consumo quanto do investimento.
Por conta disso, o desemprego (já ajustado à sazonalidade e à fuga de parcela da população do mercado de trabalho, o chamado “desalento”) saltou de 7% para 9% da força de trabalho em poucos meses. Sob estas circunstâncias, políticas de incentivo ao consumo têm boa chance de recolocar a economia na rota de expansão, às vezes até demais, como os exageros de 2009 e 2010 demonstraram (mas, vocês sabem, havia eleição a ganhar).
Em contraste, a desaceleração do crescimento em 2011 e 2012 para níveis inferiores a 2% ao ano foi acompanhada de queda persistente do desemprego. Neste contexto, a tentativa de impulsionar a economia pelo aumento do consumo perde muito da sua eficácia.
Parte deste aumento se dirige ao consumo de serviços, que, em sua esmagadora maioria, têm que ser produzidos localmente (quase ninguém manda os filhos para a escola em Buenos Aires, ou vai se tratar com um médico nova-iorquino), exigindo maior emprego no setor. Isto não é um problema enquanto a mão de obra é abundante, mas, com desemprego reduzido, leva a aumentos salariais que superam em muito o crescimento acanhado da produtividade.
O setor de serviços convive com isso aumentando seus preços, o que nos ajuda a entender porque a inflação deste segmento tem rodado na casa dos 9% ao ano e segue acelerando. Já a indústria, pressionada pela competição externa, não consegue fazê-lo, o que se traduz em redução de margens e problemas de competitividade, e, portanto, dificuldades para aumentar a produção.
Assim, o aumento das importações (o “vazamento” da demanda para o exterior) é a forma pela qual a economia consegue compatibilizar a maior demanda por bens e a incapacidade industrial em competir, não apenas com o exterior, mas, principalmente, com os serviços pela mão-de-obra agora escassa. Por este motivo, políticas de incentivo à demanda acabam apresentando pouca tração em termos de crescimento. E, por não entender esta dinâmica, o governo insiste com o martelo, na esperança de achar, em algum lugar, um mísero prego.
É contra este pano de fundo que se entende o abandono do tripé macroeconômico. Seu arranjo impedia as marteladas, já que o limite para a taxa de juros era a meta de inflação, enquanto a meta fiscal restringia (ainda que de modo muito imperfeito) a expansão desmesurada do gasto.
Não se trata, portanto, de dizer que a desaceleração econômica resultou do abandono do tripé, mas, pelo contrário, que a conjugação de baixa expansão com a percepção errônea da natureza do problema levou à deterioração da política macroeconômica.
O Brasil cresce pouco por problemas do lado da oferta: expansão medíocre da produtividade, educação inadequada, e investimento insuficiente. Por falta deste entendimento o governo acredita que pode sacrificar a estabilidade em troca de mais crescimento, mas colhe apenas mais inflação sem ganho perceptível de produto. E, pelo andar da carruagem, prosseguirá com os sacrifícios, sem a devida atenção aos efeitos colaterais das suas marteladas.

A equipe econômica em ordem unida
(Publicado 23/Jan/2013)

Capes: Professor visitante em Harvard (30 de Janeiro!!!)

Apressem-se atrasadinhos...

Programa CÁTEDRA CAPES/ UNIVERSIDADE DE HARVARD – PROFESSOR VISITANTE SENIOR NOS EUA PDF Imprimir E-mail
A CAPES, por meio da Coordenação Geral de Programas, e a Universidade de Harvard, tornam pública a realização de seleção de bolsista para a Cátedra CAPES/ Universidade de Harvard – Professor Visitante Sênior nos EUA.

Objetivos:

  • Aprofundar a cooperação acadêmica entre instituições de ensino superior e centros de ciência e tecnologia brasileiros e americanos, a fim de promover o desenvolvimento da ciência e tecnologia em ambos os países;
  • Aprofundar a cooperação entre pesquisadores e educadores de instituições de pesquisa e ensino superior no Brasil e seus pares da Universidade de Harvard;
  • Aumentar o conhecimento na Universidade de Harvard sobre as contribuições de notáveis pesquisadores e educadores do Brasil, por meio da concessão de bolsa a notável pesquisador e professor sênior do Brasil, especialista em qualquer disciplina ou área acadêmica.

Benefícios:

  • Estipêndio mensal: US$ 10.400,00 (dez mil e quatrocentos dólares americanos), por até um ano acadêmico de Harvard;
  • Passagem aérea de ida e volta em classe econômica promocional;
  • Estipêndio no valor de US$ 8.000,00 (oito mil dólares americanos), custeado pelo Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos da Universidade de Harvard, desde que o professor visitante permaneça em Harvard por, no mínimo, quatro meses; e,
  • Acesso às instalações e serviços da Universidade de Harvard, normalmente fornecidos a acadêmicos visitantes, como espaço de escritório e conexão à internet, laboratórios e equipamentos apropriados, bibliotecas, e qualquer outra cortesia ou comodidade normalmente fornecida à comunidade acadêmica.

Data limite para inscrição:

Até 30 de janeiro de 2013.

Links disponíveis


Documentos para download

Publicação na WEB Nome do documento Formatos disponíveis
11/12/2012 Edital 54/2012 - Cátedra CAPES/Harvard DOC
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Petrobras: gestao companheira pode rebaixar classificacao de risco

Projeção de endividamento põe nota da Petrobrás sob risco de rebaixamento

Caso as agências rebaixem estatal, empréstimos vão ficar mais caros, ações serão vendidas e capacidade de investimento será limitada 

22 de janeiro de 2013
Sabrina Valle, de O Estado de S. Paulo
 
RIO - A luz amarela sobre o endividamento da Petrobrás foi acesa dentro da empresa, jogando mais pressão por um aumento de combustíveis antes da divulgação dos resultados do quarto trimestre. Segundo fontes da companhia, a estatal ultrapassou a barreira que é usada como referência por agências de classificação de risco - nível de alavancagem de 2,5 vezes a relação entre dívida líquida sobre a geração de caixa medida pelo Ebitda (sigla em inglês para lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização).
A partir desse patamar de 2,5 vezes, a petroleira passa a conviver com o risco de ter sua nota rebaixada pelas agências internacionais, o que deixaria empréstimos mais caros, forçaria a venda de ações e limitaria a capacidade de investimento da empresa, com reflexos negativos para toda a cadeia de fornecedores.
Projeções internas dão conta de que, em parte do quarto trimestre, esse limite teria ultrapassado a relação de 2,6 vezes. A luz vermelha acende ao redor do 3. No mês passado, a agência Moody’s já colocou a Petrobrás sob perspectiva de um possível rebaixamento da nota da dívida, o primeiro sinal negativo vindo do mercado.
A projeção interna acima de 2,6 vezes era parcial, pois o resultado do quarto trimestre não estava fechado - a apresentação dos resultados ocorrerá no próximo dia 4 de fevereiro. Espera-se que o reajuste do diesel e da gasolina saia até esta data.
Dessa forma, a empresa divulgaria ao mercado a má notícia (o rompimento do nível de 2,5 vezes) já com um alívio (o aumento) para o caixa.
"O rebaixamento não é automático, e ninguém o faria em véspera de reajuste. Mas é uma ameaça que ronda a Petrobrás", disse o analista de petróleo da BES Securities do Brasil, Oswaldo Telles Filho.
O possível reajuste, estimado em 7% para a gasolina e até 5% para o diesel, no entanto, não seria suficiente para deixar a companhia em níveis confortáveis, apenas amenizaria a piora na relação de endividamento. "Ajuda a não piorar, mas não resolve", diz uma fonte da companhia. Na área de captação há grande preocupação com o indicador.
A Petrobrás ganhou em 2007 grau de investimento, classificação que lhe permite melhores condições para se financiar no mercado internacional.
Em 2009, mudou o patamar da dívida, com alta de US$ 25 bilhões, e desde então há piora.
Relação. No terceiro trimestre, a relação dívida líquida/Ebitda ficou em 2,42 vezes, bem acima da 1,66 vez do quarto trimestre de 2011. Segundo cálculos do analista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), um aumento de 7% para a gasolina e 5% para o diesel reduziria a relação entre 0,05 e 0,07 ponto.
Ou seja, mesmo com o aumento nos combustíveis a Petrobrás ainda correria o risco de manter o indicador acima de 2,5 vezes. "Seria um descanso, mas estaria longe de resolver o problema da companhia", disse Pires. "Mas a inflação está crescendo a galope, estou descrente quanto a um reajuste neste mês."
O balanço mais recente (3.º trimestre de 2012) diz que o endividamento líquido em reais da Petrobrás aumentara 30% em relação ao ano anterior, para R$ 133,9 bilhões, em decorrência de captações de longo prazo e do impacto de uma depreciação cambial de 8,3%.
Outro analista que prefere o anonimato diz que a petroleira teria caixa próprio para sobreviver por apenas mais um ano: "A evolução da dívida é extremamente preocupante. O governo e o conselho de administração estão apostando em fartura no financiamento, mas isso pode acabar de uma hora para outra".
O mercado aposta em aumento de cerca de 7% para a gasolina e até 5% para o diesel, já que essa é a diferença que falta para que seja atendida a previsão do plano de negócios da companhia 2012-2016.
O documento previa alta de 15% de forma a viabilizar os US$ 236,4 bilhões em investimentos, e apenas parte foi concedida no ano passado.

India: nosso aliado no Bric, sem visao politica de largo prazo

Talvez o mesmo possa ser dito do Brasil...

The New York Times, January 22, 2013

India Undermined by Lack of Long-Term Vision

NEW DELHI — Six years ago, the official Indian delegation to the World Economic Forum put together “India Everywhere,” a blizzard of promotions designed to lure foreign investment to the country. Guests to Davos were given free iPods loaded with Indian music and pashmina shawls “from the Himalayas to keep you warm in the Alps.”
The Web site for India Everywhere is still online, but — perhaps symbolically — it is riddled with broken links. Only the home page remains, cheerleading for “the world’s fastest growing free market democracy” and its imminent arrival “centre stage in the global economy.”
In 2013, the world economy is still waiting for India to live up to its billing. Foreign investment in India has continued to rise, reaching a record $46.8 billion in the country’s most recent fiscal year. But economic growth has slowed significantly. After flirting with the 10 percent mark in 2006, it cooled to an annual rate of 5.3 percent in the third quarter of 2012, the most recent period for which data have been released.
Admittedly, the past few years have not exactly been warm and nourishing for many national economies. But beyond the effects of the global slowdown, India’s economic progress has been undermined by the country’s internal politics — politics not as a grand ideological tussle, but politics as the more basic, spit-and-sawdust business of winning elections and retaining power.
The symptoms of this political malaise can be seen in the ways in which policy making has gone awry in India. The government, for example, tends to place populist projects ahead of more fundamental economic overhauls. It enacts legislation to guarantee poor people 100 days of employment every year, at a daily wage of 130 rupees, or $2.38, for example, but it does not equip these beneficiaries with the skills to break out of the cycle of poverty.
It decides to start delivering pension and scholarship payments via bank tranfers, instead of through government intermediaries, but it does not address the problems of corruption and bribery that made the change necessary to begin with.
Parties in power, as well as in the opposition, seem mainly to strive to be seen as champion of the common man. Last year, when the minister in charge of the money-bleeding Indian Railways announced fare increases amounting at most to 0.30 rupees (less than one cent) per kilometer of travel, the opposition and even his own party decried the move as anti-poor. The government recanted and rolled back the increases, and the minister was forced to resign.
The central government, headed by the Indian National Congress party, has also been hobbled by levels of disclosed and alleged political corruption startling even by Indian standards. Officials managing the 2010 Commonwealth Games in New Delhi were formally charged with awarding inflated contracts to close associates; memorably, rolls of toilet paper were invoiced at $80 apiece.
A former telecommunications minister was briefly sent to prison, and his trial is still going on, for selling radio frequency for mobile telecommunications at below-market prices, costing the exchequer $38 billion, according to India’s national auditor. Another official audit estimated that the allocation of coal-mining rights without a transparent auction process set the government back by $33 billion.
At the forum in Davos last year, Montek Singh Ahluwalia, the deputy chairman of India’s Planning Commission, brushed off the thought that these scandals had soiled the country’s image as an investment destination. “People will judge us on how we react with the investigation into the corruption,” he told the BBC.
The judgment does not look favorable at the moment.
Moreover, the exposure of corruption has frozen policy making even further. No government that is trying to make over its image in time for elections in 2014 will initiate changes like cutting fuel subsidies or opening sectors like retailing to foreign investment — moves that, for all their merit, are still contested fiercely in India.
Finally, the debate over overhauls and policy is muddied by mainstream political parties that have no clear economic vision. Instead, every party prefers to take stances that are inconsistent but that are perceived to serve it well in the short term.
In 1991, the finance minister Manmohan Singh opened up the Indian economy by relaxing many import and foreign investment restrictions and simplifying a byzantine licensing regime. But as prime minister since 2004, he has been far more timid in pushing through a second major round of policy changes.
Meanwhile, the Bharatiya Janata Party, which headed India’s coalition government from 1999 to 2004, used to pitch strongly for economic liberalization, promising to, for example, allow greater foreign investment in India’s retailing sector. Now that it is in the opposition, however, the party has resisted the passage of that very same measure for retailing — resisted it so strongly, in fact, that it refused to let Parliament function for days on end, claiming that big-box retailing chains would hurt small shopkeepers.
“There may have been some rationale for it in 2004,” Arun Jaitley, a leader of the Bharatiya Janata Party, said vaguely by way of not quite clarifying his party’s reversal on the policy.
Such policy reversals have drawn sharp criticism from both foreign and domestic analysts and investors. In 2006, the Goldman Sachs economist Jim O’Neill ranked India a lowly 97th in the world by potential risks to growth, below Brazil and the Philippines. In his 2011 book “Growth Map,” Mr. O’Neill said that the country’s problems boiled down to a lack of leadership.
Last April the steel baron Lakshmi Mittal said that India was “low on the investment priority list of countries.”
Ratan Tata, who recently stepped down as chairman of the Tata Sons empire, told The Financial Times in an interview that even though he was “bullish about India’s potential,” Indian companies could not help but look overseas, where “you wouldn’t have an eight-year or seven-year wait to get all the clearances for a steel plant.”
Late last year, in a rare moment of plain speaking, Mr. Singh, the prime minister, acknowledged that his government needed “courage and some risks” to see India through the policy logjam.
Pashmina shawls and loaded iPods will not do the trick any more.
Samanth Subramanian is the India correspondent for The National. He is working on a book about the Sri Lankan civil war.

O inimputavel pode perder o in, ou o inim... - Marco Antonio Villa

Um cidadão acima de qualquer suspeita

  • São abundantes os indícios que ligam Lula a um conjunto de escândalos. O que está faltando é o passo inicial que tem de ser dado pelo Ministério Público: a investigação das denúncias
MARCO ANTONIO VILLA
O Globo,
Luís Inácio Lula da Silva se considera um cidadão acima de qualquer suspeita. Mais ainda: acha que paira sobre as leis e a Constituição. Presume que pode fazer qualquer ato, sem ter que responder por suas consequências. Simula ignorar as graves acusações que pesam sobre sua longa passagem pela Presidência da República. Não gosta de perguntas que considera incômodas. Conhecedor da política brasileira, sabe que os limites do poder são muito elásticos. E espera que logo tudo caia no esquecimento.
Como um moderno Pedro Malasartes vai se desviando dos escândalos. Finge ser vítima dos seus opositores e, como um sujeito safo, nas sábias palavras do ministro Marco Aurélio, ignora as gravíssimas acusações de corrupção que pesam sobre o seu governo e que teriam contado, algumas delas, com seu envolvimento direto. Exigindo impunidade para seus atos, o ex-presidente ainda ameaça aqueles que apontam seus desvios éticos e as improbidades administrativas. Não faltam acólitos para secundá-lo. Afinal, a burra governamental parece infinita e sem qualquer controle.
Indiferente às turbulências, como numa comédia pastelão, Lula continua representando o papel de guia genial dos povos. Recentemente, teve a desfaçatez de ditar publicamente ordens ao prefeito paulistano Fernando Haddad, que considerou a humilhação, por incrível que pareça, uma homenagem.
Contudo, um espectro passou a rondar os dias e noites de Luís Inácio Lula da Silva, o espectro da justiça. Quem confundiu impunidade com licença eterna para cometer atos ilícitos, está, agora, numa sinuca de bico. O vazamento do depoimento de Marcos Valério – sentenciado no processo do mensalão a 40 anos de prisão - e as denúncias que pesam sobre a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, deixam Lula contra a parede. O figurino de presidente que nada sabe, o Forrest Gump tupiniquim, está desgastado.
No processo do mensalão Lula representou o papel do traído, que desconhecia tratativas realizadas inclusive no Palácio do Planalto – o relator Joaquim Barbosa chamou de "reuniões clandestinas" -; do mesmo modo, nada viu de estranho quando, em 2002, o então Partido Liberal foi comprado por 10 milhões, em uma reunião que contou com sua presença. Não percebeu a relação entre o favorecimento na concessão para efetuar operações de crédito consignado ao BMG, a posterior venda da carteira para a Caixa Econômica Federal e o lucro milionário obtido pelo banco. Também pressionou de todas as formas, para que, em abril de 2006, não constasse do relatório final da CPMI dos Correios, as nebulosas relações do seu filho, Fábio Luís da Silva, conhecido como Lulinha, e uma empresa de telefonia.
No ano passado, ameaçou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Fez chantagem. Foi repelido. Temia o resultado do julgamento do mensalão, pois sabia de tudo. Tinha sido, não custa lembrar, o grande favorecido pelo esquema de assalto ao poder, verdadeira tentativa de golpe de Estado. A resposta dos ministros do STF foi efetuar um julgamento limpo, transparente, e a condenação do núcleo político do esquema do mensalão, inclusive do chefe da quadrilha – denominação dada pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel – sentenciado também por corrupção ativa, o ex-ministro (e todo poderoso) José Dirceu, a 10 anos e 10 meses de prisão. Para meio entendedor, meia palavra basta.
As últimas denúncias reforçam seu desprezo pelo respeito as leis. Uma delas demonstra como sempre agiu. Nomeou Rosemary Noronha para um cargo de responsabilidade. Como é sabido, não havia nenhum interesse público na designação. Segundo revelações divulgadas na imprensa, desde 1993 tinham um "relacionamento íntimo" (para os simples mortais a denominação é bem distinta). Levou-a a mais de duas dúzias de viagens internacionais – algumas vezes de forma clandestina - , sem que ela tenha tido qualquer atribuição administrativa. Nem vale a pena revelar os detalhes sórdidos descritos por aqueles que acompanharam estas viagens. Tudo foi pago pelo contribuinte. E a decoração stalinista do escritório da presidência em São Paulo? Também foi efetuada com recursos públicos. E, principalmente, as ações criminosas dos nomeados por Lula - para agradar Rosemary – que produziram prejuízos ao Erário, além de outros danos? Ele não é o principal responsável? Afinal, ao menos, não perguntou as razões para tais nomeações?
Se isto é motivo de júbilo, ele pode se orgulhar de ter sido o primeiro presidente que, sem nenhum pudor, misturou assuntos pessoais com os negócios de Estado em escala nunca vista no Brasil. E o mais grave é que ele está ofendido com as revelações (parte delas, registre-se: e os 120 telefonemas trocados entre ele e Rosemary?). Lula sequer veio a público para apresentar alguma justificativa. Como se nós, os cidadãos que pagamos com os impostos todas as mazelas realizadas pelo ex-presidente, fossemos uns intrusos e ingratos, por estarmos "invadindo a sua vida pessoal."
Hoje, são abundantes os indícios que ligam Lula a um conjunto de escândalos. O que está faltando é o passo inicial que tem de ser dado pelo Ministério Público Federal: a investigação das denúncias, cumprindo sua atribuição constitucional. Ex-presidente, é bom que se registre, não tem prerrogativa de estar acima da lei. Em um Estado Democrático de Direito ninguém tem este privilégio, obviamente. Portanto, a palavra agora está com o Ministério Público Federal.
Marco Antonio Villa é historiador e professor da Universidade Federal de São Carlos

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/opiniao/um-cidadao-acima-de-qualquer-suspeita-7357844#ixzz2IlRyYSDj
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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Existem banqueiros muito importantes para merecer cadeia? - American Banker

Boa pergunta da associação dos banqueiros americanos, em vista de recentes escândalos nessa indústria fabulosa e nebulosa...
Paulo Roberto de Almeida

From the Editors of American Banker

Deferred prosecution agreements involving HSBC's money laundering scandal and similar cases have practical advantages. But they also raise concerns that big banks are getting off easier than small ones.

Feijao capitalista (o MST nao gosta...) - Xico Graziano

Boa parte das imagens e representações que a comunidade acadêmica brasileira de ciências sociais mantém sobre a agricultura brasileira e sobre as chamadas "relações de producao" no campo é deformada pela abordagem simplista ou simplesmente falsa, derivada de concepções (marxistas ou não) equivocadas sobre o setor e seus principais atores sociais e agentes econômicos. 
Abaixo o artigo de um expecialista que também conhece a literatura a respeito. 
Paulo Roberto de Almeida

Feijão capitalista 
Xico Graziano (www.xicograziano.com.br)
O Estado de S. Paulo, terça-feira,  22 de janeiro de 2013

Boa parcela da opinião pública acredita que a comida do povo vem do agricultor familiar, enquanto o agronegócio capitalista serve ao comércio exterior. Ledo engano. O equívoco nasce de uma ideia antiga, superada. Hoje manda a integração produtiva no campo.

A começar do ciclo açucareiro colonial, no Nordeste, a historiografia consagrou distintas funções, e certa oposição, entre a grande propriedade rural, dominante, e a agricultura de subsistência, que vivia em suas beiradas. Existia, realmente, um dualismo. Escritores famosos, como Caio Prado Jr., sempre descreveram a grande lavoura - o latifúndio ou a plantation - como aquela destinada à exportação, de açúcar, cacau ou borracha. Produzir alimento básico era coisa de pobre.

Quando chegou o ciclo da mineração, no século 18, o deslocamento da população - a maioria escrava - rumo ao Sudeste, exigiu fortalecer a produção de alimentos. Desde os pampas gaúchos, dedicado à pecuária e ao seu valioso charque de carne, por todo o Centro-Sul surgiram novos agricultores, animados por atenderem o consumo interno criado nas atividades auríferas das Minas Gerais.

Mais tarde, na economia cafeeira de São Paulo, já livre da escravidão, o colonato favoreceu o cultivo de gêneros alimentícios, seja entre as ruas do cafezal novo, seja em áreas destacadas da fazenda. Caminhava a economia livre. Mas a crescente demanda nas cidades brasileiras trouxe à tona a questão do abastecimento urbano. Em 1901, relatava Alberto Passos Guimarães - A Crise Agrária, 1978 -, quase 43% das importações brasileiras, em valor, representavam produtos básicos, incluindo feijão, fava, milho, arroz, banha e manteiga. Com escassez os preços elevaram-se, estimulando os pequenos agricultores. Plantar comida passava a oferecer lucro.

A partir da grande crise mundial, dos anos 1930, a diversificação da economia brasileira, na cidade e no campo, aprofundou-se. Décadas depois, com o forte êxodo rural alargando as metrópoles, a necessidade do abastecimento nas periferias transformou definitivamente a agricultura de subsistência em próspero negócio. Além do tradicional arroz com feijão, os moradores do asfalto exigiam ovos, carnes, verduras e legumes, frutas, leite; aos roceiros bastava produzir e vender. Daí surgiram os Ceasas, sacolões, varejões e, claro, os supermercados. Mudou a distribuição no varejo dos alimentos.

Mudou também, e muito, o caráter da produção rural. Ela ganhou escala e tecnologia, cresceu em produtividade, integrou-se às agroindústrias, aprendeu a comercializar, buscou financiamento. O raciocínio guarda lógica: as cidades brasileiras jamais teriam sido abastecidas - e bem ou mal o foram - sem uma grande transformação ocorrida no campo. Que prossegue acelerada.

Nesse processo histórico, as análises dualistas sobre a agricultura perderam razão. Sim, existem ainda os tradicionais agricultores de subsistência, a maioria empobrecida no semiárido nordestino. Enfraqueceu-se, porém, com a modernização agrária a antiga oposição entre a grande e a pequena produção. Ambas, com tecnologia, passaram a ser regidas pela lucratividade do mercado, seja interno, seja externo. Assim, tornaram-se complementares, e muitas vezes se confundiram. Vejam alguns exemplos.

Típica da velha família rural, a banha de porco acabou substituída na cozinha pelos óleos vegetais. O mais barato, de consumo popular, origina-se do esmagamento do grão da soja. Pois bem, no Paraná e no Rio Grande do Sul, grandes plantadores da oleaginosa, 90% da produção advém de agricultores familiares, ligados às grandes cooperativas exportadoras. Ou seja, a mesma agricultura que gera divisas garante a fritura na mesa. Sem distinção.

No café, a maior parte da safra brota das lavouras mineiras, grandemente ligadas às cooperativas. A Cooxupé, a maior delas, aglutina 12 mil cafeicultores, sendo 80% pequenos produtores rurais. Do embarque total de grãos nos pátios da cooperativa (2011), perto de 15% se destinou às torrefadoras do mercado interno; a grande parte seguiu exportada. Pequenos, juntos, ficam grandes.

Em cada ramo da agropecuária nacional se pode verificar essa junção entre o agronegócio capitalista e a produção familiar, sendo difícil separar, no destino, o mercado interno do externo. Na cultura da cana, em que preponderam os grandes usineiros, cerca de 70% do açúcar se exporta, mas o etanol, que enche o tanque dos veículos, dos pobres principalmente, fica aqui dentro.

Quem produz frango, o agricultor familiar ou o agronegócio? Resposta fácil: ambos. As empresas frigoríficas representam grandes negócios, privados ou cooperativados; já os avicultores, a elas integrados, são familiares. 

E o feijão? A maioria da produção, é verdade, advém de pequenos produtores. Estes, entretanto, não se configuram mais como de subsistência, vendendo apenas o excedente. Que nada. Espelham agricultores altamente tecnificados.

Nos Estados Unidos, sabe-se, a mecanização da agricultura provocou, ao mesmo tempo, o aumento da escala de produção e o fortalecimento da gestão familiar, preponderante por lá. Tal processo se caracteriza, por aqui, especialmente em Mato Grosso, onde enormes fazendas produzem soja e milho, nas lavouras tocadas pelos próprios produtores e seus filhos. Negócios gigantes, familiares.

Essas histórias mostram que ser familiar não necessariamente significa ser pequeno. E comprovam que pequeno agricultor pode, perfeitamente, participar do agronegócio, quer contribuindo para a exportação, quer alimentando o povo.

Pode acreditar: inexiste oposição entre agricultura familiar e agronegócio. O feijão virou capitalista.

* XICO GRAZIANO É AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DE AGRICULTURA E SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR

Conselhos de Advogado (sobre documentos)

Recebido de gente preocupada... com razão...

CONSELHOS DE ADVOGADO
Um advogado fez circular a seguinte informação para os empregados de seu escritório:

1. Não assine a parte de trás de seus cartões de crédito. Em vez disso, escreva 'SOLICITAR RG'.

2. Ponha seu número de telefone de trabalho em seus cheques em vez de seu telefone de casa..
Se você tiver uma Caixa Postal de Correio use esta em vez de seu endereço residencial. Se você não tiver uma Caixa Postal, use seu endereço de trabalho. Ponha seu telefone celular ao invés do residencial.

3. Tire Xerox do conteúdo de sua carteira. Tire cópia de ambos os lados de todos os documentos, cartão de crédito, etc.Você saberá o que você tinha em sua carteira e todos os números de conta e números de telefone para chamar e cancelar. Mantenha a fotocópia em um lugar seguro. Também leve uma fotocópia de seu passaporte quando for viajar para o estrangeiro. Sabe-se de muitas histórias de horror de fraudes com nomes, CPF, RG, cartão de créditos, etc... roubados.
Infelizmente, eu, um advogado, tenho conhecimento de primeira mão porque minha carteira foi roubada no último mês. Dentro de uma semana, os ladrões compraram um caro pacote de telefone celular, contrataram um cartão de crédito VISA, tiveram uma linha de crédito aprovada para comprar um computador, dirigiram com minha carteira....

E MAIS.....

4. Nós fomos informados que nós deveríamos cancelar nossos cartões de crédito imediatamente. Mas a chave é ter os números de telefone gratuitos e os números de cartões à mão, assim você sabe quem chamar.
Mantenha estes onde você os possa achar com facilidade.

5. Abra um Boletim Policial de Ocorrência (B.O.) imediatamente na jurisdição onde seus cartões de crédito, etc.,foram roubados. Isto prova aos credores que você tomou ações imediatas,e este é um primeiro passo para uma investigação (se houver uma)..

Mas aqui está o que é talvez mais importante que tudo:

6. Chame imediatamente o SPC (11-3244-3030) e SERASA (11-33737272) e outros órgãos de crédito (se houver) para pedir que seja colocado um alerta de fraude em seu nome e número de CPF.Eu nunca tinha ouvido falar disto até que fui avisado por um banco que me chamou para confirmar sobre uma aplicaçãopara empréstimo que havia sido feita pela Internet em meu nome.O alerta serve para que qualquer empresa que confira seu crédito saiba que sua informação foi roubada,e eles têm que contatar você por telefone antes que o crédito seja aprovado..

Até que eu fosse aconselhado a fazer isto (quase duas semanas depois do roubo), todo o dano já havia sido feito.Há registros de todos os cheques usados para compras pelos ladrões, nenhum dos quais - eu soube - depois que eu coloquei o alerta.Desde então, nenhum dano adicional foi feito, e os ladrões jogaram fora minha carteira.Este fim de semana alguém a devolveu para mim.Esta ação parece ter feito eles desistirem.

Passamos para frente muitas piadas pela Internet...Mas se você estiver disposto a passar esta informação, todo mundo sairá ganhando, inclusive você, pela satisfação de ter feito algo de bom pelo seu semelhante.

Albert Hirschman (1915-2012) - Homenagem de Roberto Macedo

Albert Hirschman (1915-2012)
Roberto Macedo
O Estado de S.Paulo, 17 de janeiro de 2013

Escrevo em homenagem a esse grande economista e professor, do qual tive o privilégio de ser aluno. Seu falecimento em 10 de dezembro de 2012 não recebeu da imprensa brasileira a atenção devida a alguém de tanto destaque internacional como ele. E atento ao Brasil, especialista que era em desenvolvimento econômico, e a vários brasileiros que teve como alunos ou a seu lado como pesquisadores.

O que me atraiu às suas aulas de Desenvolvimento Econômico em Harvard foi principalmente esse tema central do seu curso. Mas, informado previamente por colegas que já haviam passado por elas, tornei-me ainda mais atraído ao saber que traziam novas ideias e iam além de questões puramente econômicas. Vários outros cursos ficavam apenas nestas e no seu "estado das artes".

Hirschman correspondeu a essas expectativas. Em economia, uma ideia nova sua era a contestação que fazia da teoria do desenvolvimento equilibrado, o qual propõe investimentos simultâneos num amplo conjunto de atividades complementares entre si. Segundo ele, isso levaria apenas a um aumento do produto interno bruto (PIB), mas depois este se estabilizaria no novo nível, sem seguir avançando. Como alternativa propunha o desenvolvimento desequilibrado, começando por enfatizar uns poucos setores, também de grande complementaridade com outros. De início, o desenvolvimento mais forte daqueles levaria a um desequilíbrio, mas geraria demanda por bens e serviços de outros setores que em sequência também se desenvolveriam. E a economia cresceria continuamente mediante novos desequilíbrios estimulantes.

Mas não me lembro de que ele tenha identificado o que chamo de "desequilíbrio desequilibrado". Aqui, no Brasil, por exemplo, deu-se e continua sendo dado grande incentivo à indústria automobilística, que gera enorme demanda de autopeças e serviços complementares. E, também, de uma adequada infraestrutura viária nas cidades e fora delas. Contudo o governo não cuidou de bem provê-la e dentro de muitas o trânsito é próximo do caos, implicando altos custos. Estes também alcançam rodovias em más condições espalhadas por todo o País. Noutro passo errado, o transporte ferroviário de passageiros tornou-se quase inexistente e o de cargas ficou muito restrito, quando poderiam competir com o dos veículos automotores, aliviando males que estes trazem.

Também aprendi com ele sobre outras teorias, suas ou não, fora do contexto só econômico. Uma delas, a Teoria da Dissonância Cognitiva, atribuída a Leon Festinger. Ela argumenta que as pessoas procuram manter a coerência entre suas várias crenças e opiniões, bem como entre elas e seu comportamento. E quando este destoa daquelas pode acontecer que seja mudado. Mas também pode ocorrer que a permanência nele faça as pessoas mudarem suas convicções. Isso é comum no Brasil, onde, por exemplo, muitos chegam ao poder político defendendo uma postura ética no seu exercício. Neste, porém, suas convicções costumam sucumbir às tentações que vêm com ele. A partir daí esse comportamento dissonante leva à mudança das convicções anteriores, com as novas defendidas com base em absurdos, como o de que tais desvios são inerentes ao poder e que outros também os praticam.

Tenho aplicado essa teoria ao processo de escolha de carreiras profissionais. A teoria usual diz que uma pessoa escolhe uma profissão condizente com sua vocação e busca a formação educacional correspondente. Mas no mercado de trabalho poderá não encontrar uma ocupação típica da profissão escolhida, caindo numa atípica. Com isso poderá insistir em buscar uma típica, mas também poderá rever sua vocação, acomodando-a àquilo que faz.

Voltando às obras próprias de Hirschman, uma famosa é o livro Saída, Voz e Lealdade (São Paulo: Perspectiva, 1973), no qual aborda o declínio de empresas, organizações e Estados nacionais. Diante de conflitos que envolvem uma dessas instituições, a opção de saída guarda similaridade com a observada em decisões econômicas, como a de um consumidor insatisfeito que simplesmente deixa um produto ou serviço. Isso em lugar de protestar, recorrendo à segunda opção do título do livro, a voz. Esta é opção política, que juntamente com a da lealdade, a de ficar, está no plano das convicções. Entendo que a lealdade também ocorre no plano econômico, como a conferida às marcas de bens e serviços.

Na linha desse processo explorado por Hirschman, no momento tenho grande interesse pelo que acontecerá em Cuba diante das notícias de que serão facilitadas as viagens de seus cidadãos ao exterior. E se muita gente se mandasse definitivamente, como ficaria? Creio que a esperança dos líderes cubanos é de que seus cidadãos manterão sua lealdade ao país e a seu regime político, sem sair ou sem deixá-los em definitivo. E, assim, retornando de passeios a cidades como Miami, para onde se foram muitos que logo no início do regime optaram pela saída ou depois fugiram. Minha percepção atual é de que as saídas serão controladas e poderão até se tornar privilégios a recompensar a lealdade.

Depois de Harvard, Hirschman passou ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Princeton. Neste, voltado para pesquisas, em várias oportunidades recebeu acadêmicos que como tais e em outras atividades se destacaram no Brasil. Entre eles, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Antônio Barros de Castro e Pérsio Arida. Deles se esperavam pesquisas e palestras. E não era moleza, não, ante a qualidade acadêmica dos ouvintes e debatedores.

Em retrospecto, a carreira de Albert Hirschman lembra frase de outro economista famoso, Frederick Hayek, Prêmio Nobel de 1974: "Um economista que é só economista não é um bom economista". Por esse bom critério, Hirschman alcançou a excelência.

ECONOMISTA (UFMG,  USP, HARVARD),  PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP,  É CONSULTOR ECONÔMICO, DE EMPRESAS

Yo, El Supremo (pero desaparecido) - Editorial Estado sobre o presidente fantasma

A literatura latino-americana já produziu algumas obras primas no gênero realismo mágico, mas poucas peças igualam a situação atual da Venezuela, governada por um presidente que simplesmente desapareceu do mapa, do cenário, do mundo físico, mas que permanece presente no noticiário e na vontade dos militantes da causa.
Vamos ver até onde vai a novela, ou a farsa...
Paulo Roberto de Almeida

O presidente fantasma
Editorial O Estado de S.Paulo, 17 de janeiro de 2013
Já se disse, mas é apropriado repetir: a situação criada com o autogolpe chavista, referendado por um Judiciário submisso ao regime, que prorrogou indefinidamente o mandato do caudilho venezuelano, que terminou no último dia 10, transpôs para o mundo dos fatos o realismo mágico que projetou a literatura latino-americana desde o lançamento, em 1967, de Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Em algum lugar na ilha de Cuba, o dirigente supremo de outro país também banhado pelo Mar do Caribe se recupera - ou não - da quarta cirurgia a que se submeteu ali para extirpar o câncer que o acometeu há um ano e meio em uma porção não revelada de sua anatomia pélvica. Hugo Chávez, o paciente, deixou Caracas em 8 de dezembro para se operar três dias depois. Ao se despedir, pediu aos venezuelanos que votassem no seu vice, Nicolás Maduro, "se se apresentar alguma circunstância inesperada que requeira novas eleições presidenciais".

Nos 40 dias que se seguiram, ele foi visto - e quem sabe ouvido - por muito poucos: além dos médicos, atendentes e familiares, apenas os hierarcas do chavismo e a cúpula castrista hão de ter tido esse peculiar privilégio. Ao mundo se informou, sucessivamente, que a cirurgia tinha sido bem-sucedida, que o enfermo teve uma hemorragia, depois uma infecção pulmonar, alegadamente superada, e problemas respiratórios dos quais estaria se recuperando. "Nosso comandante está subindo a montanha", rejubilou-se Maduro em seguida a mais um bate-volta entre Caracas e Havana. "Provas" disso seriam a minirreunião de gabinete que teria conduzido na terça-feira e o suposto ato de nomeação, no mesmo dia, do novo chanceler do país, o linha-dura Elías Jaua, seu vice até outubro passado, quando saiu para disputar (e perder) a eleição para o governo do Estado de Miranda. Na Venezuela, o vice-presidente no exercício da presidência, como é o caso de Maduro, tem apenas uma parte dos poderes do titular. Ele não pode, por exemplo, nomear e demitir ministros.

O substituto de Chávez fez o anúncio na Assembleia Nacional, sem exibir o documento da designação, com a imprescindível assinatura do Comandante. Devem se esperar novos capítulos dessa farsa que só acabará na improvável hipótese de sua alta médica, ou quando ele falecer - mais precisamente, quando os chavistas, em acordo com seus mentores cubanos, acharem oportuno dar a notícia. Em tese, o regime poderia esperar 180 dias a contar do início do mandato do qual o líder não tomou posse para declarar a sua "ausência absoluta", como prevê a Constituição (para presidentes efetivamente empossados), com a convocação de novas eleições. Mas a sobrevida do presidente fantasma, que promove reuniões de trabalho e nomeia ministros em circunstâncias igualmente fantasmagóricas, parece convir - por ora - ao aparato chavista. De outro modo não se explica por que, impedido o chefe de assumir, não se marcaram novas eleições no prazo constitucional de 30 dias. No país em transe, a oposição teria escassas chances contra Maduro, o herdeiro ungido.

Ungido, mas não necessariamente a salvo de rivalidades e conflitos de interesses nas entranhas do sistema. Por exemplo, entre nacionalistas próximos às Forças Armadas, como o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, e a ala "cubana" que detém amplo espaço no partido oficial, o PSUV. Num prognóstico otimista, a interinidade prolongada de Maduro criaria as condições para a afirmação de sua liderança - embora ele tenha de afirmar e reafirmar que o seu patrono é quem governa -, estabilizando o chavismo sem Chávez. Mas está para nascer a autocracia que não sofra fraturas, menos ou mais expostas, quando o autocrata se vai. A virtual certeza de que a Revolução Bolivariana seria legitimada pelo voto, na pessoa de Maduro, se a eleição fosse hoje, tem prazo incerto de validade. Os chavistas, se pudessem, aplicariam a fórmula cubana que permitiu a Raúl Castro suceder a Fidel mediante a formalidade de sua sagração pelo Parlamento de partido único. Devem estar se perguntando a que artes de realismo mágico poderiam recorrer para chegar ao mesmo resultado, exorcizando o "risco urna".
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Reflexões sobre a situação da Venezuela
Opinião - 20 de janeiro de 2013
Celso Lafer - O Estado de S.Paulo
O grave estado de saúde do presidente Hugo Chávez impossibilitou-o de tomar posse, no último dia 10, para o exercício de um terceiro mandato presidencial, para o qual havia sido eleito. Esse fato frustrou o cumprimento de uma posse expressamente prevista pela Constituição do país, elaborada na vigência do chavismo. Acabou levando a uma juridicamente discutível fórmula voltada para dar continuidade ao seu regime de mando. Essa fórmula, que teve o respaldo do Legislativo e do Judiciário, afastou a via constitucional contemplada para uma situação dessa natureza: a realização de nova eleição em 30 dias.

Na perspectiva das relações internacionais, a análise desta situação passa por uma avaliação sobre em que medida a fórmula acima mencionada, que conferiu poder a Nicolás Maduro, ungido como vice-presidente pelo presidente Chávez em dezembro, no exercício do seu anterior mandato, configura ou não uma ruptura de ordem democrática nos termos do Protocolo de Ushuaia de 1998, do Mercosul, com o qual a Venezuela está comprometida. Também cabe levar em conta a Carta Democrática Interamericana de 2001, à qual a Venezuela está ligada como Estado-membro da OEA, ainda mais que serviu de base para deslegitimar a tentativa de golpe de Estado contra o presidente Chávez em 2002.

A cláusula democrática consagrada nos dois textos citados tem como objetivo realçar a importância das afinidades que resultam da forma compartilhada de conceber a vida em sociedade, seja para o desenvolvimento dos processos de integração (no caso do Mercosul), seja para reconhecer que a democracia representativa é indispensável para a estabilidade, a paz e o desenvolvimento da região (no caso da OEA).

A cláusula democrática guarda relação com as características ora mais homogêneas, ora mais heterogêneas dos regimes políticos dos Estados que integram o sistema internacional. A distinção homogêneo/heterogêneo deve-se a Raymond Aron. Em Paz e Guerra entre as Nações realça que a conduta dos Estados não se circunscreve à mera afirmação de interesses nacionais e à luta pelas posições de poder no plano internacional. No plano externo é movida também pelas ideias e pelos valores que norteiam, no plano interno, os seus regimes políticos.

Na vigência dos regimes autoritário-militares na América Latina, as afinidades provenientes da concepção política dos governantes daquela época levaram ao conceito das fronteiras ideológicas. As transições democráticas na região trouxeram uma contestação a essa visão autoritária do papel das fronteiras. A cláusula democrática foi fruto dessa realidade política. Parte do potencial de convergência cooperativa no campo econômico e estratégico, proveniente da proximidade no campo dos valores, tutelado pela cláusula democrática. Com efeito, no campo dos valores, a democracia, porque postula no plano interno o reconhecimento do Outro, favorece, no plano internacional, a aceitação das normas jurídicas, a moderação das pretensões e a limitação da violência nas relações entre os Estados que a praticam.

Bobbio ilustra as consequências para a vida internacional de um regime antidemocrático na sua análise do fascismo. Aponta que o fascismo se contrapôs muito mais à democracia do que ao socialismo e ao marxismo; realça que a violência era a sua ideologia e, por isso, a exaltação da guerra foi uma de suas características mais constantes; anota o significado da afirmação do primado da ação sobre o pensamento, que substitui o "penso, logo existo" pelo "agitamos, logo somos", e assinala que Mussolini via na democracia representativa e no seu antibelicismo a mediocridade de uma vida cotidiana cerceadora de uma ação voltada para a criação de uma "nova ordem".

Na vida de um sistema internacional há modalidades e gradações diversas de homogeneidade e heterogeneidade, variáveis em função das estruturas sociais e da dinâmica dos regimes políticos dos Estados. Assim, por exemplo, no momento atual, o componente democrático do "governo das leis" é muito mais nítido no Brasil e no Uruguai do que na Argentina. São as gradações e os matizes que tornam complexa a avaliação da condição democrática de um país.

Nessa avaliação, no caso específico da Venezuela, cabe examinar o tema da degeneração do poder democrático, seja por falta de título para o seu exercício, seja como resultado do abuso no seu exercício. O título para o exercício do poder do vice-presidente Nicolás Maduro é juridicamente discutível, mas foi respaldado pelo Legislativo, pelo Judiciário e pelo Executivo do país. Daí a importância de se examinar se provém de uma degeneração do poder democrático que ocorre quando se configuram significativos desrespeitos aos direitos humanos, à independência e à separação dos Poderes, à liberdade de expressão e de imprensa e à vigência plena do Estado de Direito.

O regime do presidente Chávez vem se caracterizando pelo crescente fomento da hiperpersonalização da política, que visa ao fortalecimento do Executivo e ao enfraquecimento dos vínculos e controles que caracterizam a arquitetura constitucional democrática em matéria de aquisição e exercício do poder. É representativo do primado da ação do governo de um homem que, lastreado numa autocracia eletiva, promoveu a subordinação do Legislativo e do Judiciário para permitir o culto à política como espaço para o pleno desenvolvimento da vontade da potência.

É por obra da natureza monocrática do regime político da Venezuela que a fórmula encontrada para manter, no momento, ainda que indiretamente, o mando do presidente Chávez se fez per leges, ou seja, por meio da lei, mas não sob o império do governo das leis. É por isso que ela é democraticamente discutível e juridicamente frágil. A evolução da conjuntura dirá se a democracia vai ou não enfraquecer-se ainda mais na Venezuela e se vai ou não contribuir para aumentar a heterogeneidade não democrática da região.

PROFESSOR EMÉRITO DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

A crise americana, por um especialista do Fed - Book review (WSJ)

When the Rain Came Down

A masterful account of how the housing crisis and credit crunch nearly brought down the economy

By DAVID R. HENDERSON
Alan S. Blinder is one of America's leading economists. One of the few economists who write really well, he is also a master storyteller. In "After the Music Stopped," Mr. Blinder, previously a vice chairman of the Federal Reserve Board and, before that, a member of President Clinton's Council of Economic Advisers, gives his interpretation of the events leading to the U.S. financial crisis, the financial crisis itself, and the Bush and Obama administrations' response. It is one of the best books yet about the financial crisis.

After the Music Stopped

By Alan S. Blinder
The Penguin Press, 476 pages, $29.95
EPA
pendant le delugeA display of stock market indexes, including the Dow Jones at top left, in Tokyo on Oct. 10, 2008—the end of a week in which the Dow fell 18%.
Mr. Blinder, a professor at Princeton and a regular contributor to the Journal's editorial page, tells the story in basically chronological order, gives citations for almost all the important facts he marshals and, refreshingly, tells the reader when he sees himself as making judgment calls in controversial cases. Unfortunately, he also makes judgments on controversial issues that he does not see as (or concede to be) controversial. He also minimizes the role of the government in creating the crisis, omitting important facts that contradict his argument. He describes the financial industry as an example of laissez-faire, though in reality it is highly regulated. The latter claim allows him to blame on the private sector what was really the joint responsibility of a regulated industry and its regulators. Finally, and most strikingly, Mr. Blinder has faith in government's power to make things better despite his own exposition of a series of government actions that he himself admits were mistakes.
Let's begin with the most important of the relatively uncontroversial points that Mr. Blinder makes about the financial crisis. It began with the housing price bubble between 1997 and 2006 and the subsequent collapse of housing prices over the next few years. A major cause of the bubble was that many mortgage lenders lent to people whom anyone with common sense would have seen to be really bad risks. In addition, mortgages had been sliced, diced and repackaged into securities, so that a given person's mortgage was not held by one individual or one firm, making it hard for borrower and lender to come to terms after the house's value fell. Finally, the credit-rating agencies failed spectacularly to do their job. Had the three major firms that rate bonds—Standard & Poor's, Moody's MCO +0.28% and Fitch—assessed various mortgage-backed securities accurately, many bond buyers would have been prepared for the risks they were taking and some would not have bought the bonds at all. These facts are all pretty much agreed on, and Mr. Blinder does an excellent job of laying them out in the first third of his book.
A somewhat more controversial claim Mr. Blinder makes (but one I agree with) is that the turning point in the financial crisis was the federal government's refusal, in September 2008, to bail out Lehman Brothers. "The Lehman decision," writes Mr. Blinder, "abruptly and surprisingly tore the perceived rulebook into pieces and tossed it out the window." Now market participants began to think that the federal government would let large financial firms fail. Mr. Blinder sees this as so important a turning point that he refers frequently to Sept. 15, the day Lehman filed for bankruptcy, as "Lehman Day." Had the feds bailed out Lehman, he argues, the panic that hit Wall Street would have been less extreme.
But Mr. Blinder omits a crucial fact about Lehman, one that, by itself, explains why the huge drop in value of Lehman's mortgage-backed securities led to its collapse: the effect of changes in federal bankruptcy law. Thanks to the 2005 Bankruptcy Abuse Prevention and Consumer Protection Act, when Lehman went bankrupt it could not simply, as in earlier days, pay holders of derivatives as much as possible with its assets. Instead, it had to give each derivative holder a new contract identical to the one it had signed with Lehman, but with a different counterparty. Lehman would also have to pay the transaction cost of the new contract. Such costs are typically about 0.15% of the contract's total value. That's small, right? No. When Lehman went bankrupt, the face value of Lehman's derivative contracts was $35 trillion—with a "t." The transaction costs alone were $52.5 billion. That is what sank Lehman.
Mr. Blinder also points out that Reserve Primary Fund, the "world's oldest money market mutual fund," had 1.2% of its assets invested in commercial paper—that is, short-term bonds—issued by Lehman. With the value of Lehman's bonds falling after it went bankrupt, Reserve Primary Fund had to "break the buck." Until then, most people thought that the value of each share in a money-market fund (MMF) would always be $1. Depositors thought that if they had, say, 1,000 shares in the fund, they could redeem them for $1,000. Yet the value could actually fall if the underlying assets lost enough value.
When depositors tried to withdraw their funds, Reserve started paying them 97 cents for shares that depositors expected to be worth $1—thus "breaking the buck." Investors in other money-market funds, fearing something similar, started redeeming their shares. In just one week in late September, depositors withdrew $350 billion from MMFs. As other MMFs sold commercial paper to generate the funds to redeem their customers' shares, the value of commercial paper fell further. One Federal Reserve economist quoted by Mr. Blinder recalled that "we were staring into the abyss" and "there wasn't a bottom to this." That led Treasury Secretary Henry Paulson to get President Bush's permission to set up insurance for MMF depositors. It worked, and the outflow from MMFs stopped.
This bailout, according to Mr. Blinder, was "sorely needed" to stem the fire sale of commercial paper. But that's highly debatable. Had the Treasury made clear that it would not bail out MMFs, then many of them would have also had to "break the buck." Once depositors knew there was no gain from getting their funds out early, the run on MMFs would have ended, thus stopping, or dramatically slowing, the plunge in value of commercial paper.
Mr. Blinder is a strong believer in the ability of government regulation to solve problems and even prevent them in the first place. He sees the private sector as mainly to blame for the housing and financial crises and criticizes "laissez-faire" economic policies adopted by the Clinton and Bush administrations that supposedly contributed. But I do not think that term means what he thinks it means. Laissez-faire has traditionally meant that the government keeps its hands off the economy and allows for economic freedom. But at times, Mr. Blinder applies the term to cases in which the government, once its hands were already all over the economy, didn't take the additional steps he favored.
At other times he does use the term in its traditional sense but fails to establish that it applies. Consider, for example, three major forms of government intervention that helped cause the housing bubble: (1) the Federal National Mortgage Association FNMA -0.72% (Fannie Mae) and the Federal Home Loan Mortgage Corp. FMCC -0.69% (Freddie Mac); (2) the 1977 Community Reinvestment Act, which requires banks to lend mortgage money to people who are bad risks; and (3) federal deposit insurance. During the years when the housing bubble developed, Fannie Mae and Freddie Mac contributed by relaxing their mortgage lending standards so that they were buying subprime mortgage-backed securities (MBS). Mr. Blinder himself notes that, by 2004, Fannie and Freddie owned a third of all subprime MBS. This figure was down to 17% by the summer of 2007, but, as Mr. Blinder admits, 17% is still a large number.
Part of the reason for the size of these holdings, Mr. Blinder notes, is that Fannie and Freddie were pressured by the "affordable housing goals" of the Department of Housing and Urban Development. Interestingly, although the Community Reinvestment Act, whose enforcement Mr. Blinder's previous boss, President Clinton, beefed up in 1995, was part of the "affordable housing goals," Mr. Blinder never names that legislation. In any case, this does not sound like laissez-faire.
Finally, consider the role of deposit insurance. By insuring 100% of bank deposits up to $100,000 (and, later, $250,000), the federal government substantially weakened depositors' incentives to monitor their banks' lending practices. Even Franklin D. Roosevelt, whose administration introduced deposit insurance in 1933, spoke eloquently of this downside. And the $250,000 limit, moreover, is not really a firm cap. Wealthy people can legally avoid it with the help of firms such as Promontory Interfinancial Network, which divide deposits held in one bank into smaller deposits in many banks. Mr. Blinder well knows this; as he reveals in a footnote, he is a part owner of Promontory. Again, this is not laissez-faire. Banking is one of the most heavily regulated industries in the United States.
None of this is to say that the financial crisis would not have happened without these three interventions. The private sector had a large role, and unjustified optimism is not limited to the government sector. It is to say, though, that the financial crisis would not have been as bad had the government been truly laissez-faire.
So once the financial crisis happened, what was to be done? Mr. Blinder devotes the bulk of his book to the immediate response to the crisis as well as to ways for avoiding a repeat. He praises the Troubled Asset Relief Program and points out that the net cost of TARP to taxpayers is not the $700 billion that was budgeted for but, rather, a much more modest $32 billion. But there was another way to go, the way Alan Greenspan handled the 1987 stock market crash, the Y2K episode in 1999 and 2000, and the post-9/11 economy. That way was to have the Fed purchase Treasury bills through open-market operations to make sure the economy had ample liquidity. In all three cases, it worked.
Many people think that that's exactly what Federal Reserve Chairman Ben Bernanke did when the crisis hit, but he did not. Mr. Blinder, to his credit, recognizes this, pointing out that, although the Fed changed its composition of assets, it had little effect on the money supply. He makes this point briefly, but in a 2011 article San Jose State University economist Jeffrey R. Hummel provides chapter and verse, noting that Mr. Bernanke took on extensive discretionary power to favor some financial assets over others. As Mr. Hummel puts it, under Mr. Bernanke "central banking has become the new central planning." Mr. Blinder seems to sense this but, unfortunately, does not pursue the point.
Mr. Blinder is a Keynesian, that is, someone who believes that the federal government should use fiscal policy—changing taxes and government spending—to stabilize the aggregate demand for goods and services. He therefore favored the stimulus policy that President Obama adopted his second month in office. Mr. Obama had the government increase spending in order to create more demand for goods. But Mr. Blinder is relatively unconcerned about whether the money was spent on valuable items. He has what I call the "GDP fetish"—the belief that increases in GDP are good whether or not they represent increased production of things that people actually value. If the government spends $100 billion digging holes and then filling them back up, then GDP can rise by $100 billion or more even if the $100 billion is totally wasted. Some stimulus projects, in fact, are little better than hole-digging. One example I noted on a recent visit to Detroit is the tearing up of sidewalk corners to make them wheelchair-friendly, even though the sidewalks themselves have so many craters that people in wheelchairs use the roads instead. With his faith in government intervention, Mr. Blinder sees the corners but not the craters.
—Mr. Henderson is a research fellow with the Hoover Institution and
an economics professor at the
Naval Postgraduate School in Monterey, Calif.
A version of this article appeared January 19, 2013, on page C5 in the U.S. edition of The Wall Street Journal, with the headline: When the Rain Came Down.