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sábado, 14 de maio de 2022

Política externa do Brasil: a posição "equilibrada" do Brasil - Rodolfo Costa (Gazeta do Povo)

 Estratégia eleitoral: como Bolsonaro planeja rebater as críticas sobre a relação Brasil-Rússia

Por Rodolfo Costa, Brasília
Gazeta do Povo, 13/05/2022

O presidente Jair Bolsonaro (PL) está confiante de que tem argumentos suficientes para rebater os críticos da política externa do Itamaraty antes e durante a corrida presidencial. Seus principais conselheiros para assuntos externos entendem que a reaproximação entre Brasil e Estados Unidos é um sinal de que mesmo a criticada posição brasileira sobre a Rússia em relação à guerra na Ucrânia está correta e ajuda a ampliar o capital político e diplomático do governo.

Diplomatas defendem que, com o passar do tempo, a posição em relação à Rússia — classificada pelo Itamaraty como de "equilíbrio", não neutralidade — se mostrou acertada. O Brasil condenou os ataques russos na Assembleia-Geral e no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), mas se absteve pela suspensão russa no Conselho de Direitos Humanos e na cooperação entre Moscou e a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

O entendimento no Itamaraty é de que o Brasil condenou a invasão russa nos fórunscabíveis a fim de defender a paz e o diálogo, mas que não poderia alijar a Rússia. "Não faz sentido 'eliminar' quem quer que seja", sustenta um diplomata brasileiro. A reaproximação com os Estados Unidos, agora, mesmo após críticas ao posicionamento brasileiro, reforça a leitura interna de que a política externa acertou no tom e na execução, e abre caminho para o governo explorar isso.

A leitura feita por diplomatas é respaldada por militares em funções no governo, que defendem um estratégico uso político e eleitoral da política externa ao longo do ano. Militares das Forças Armadas também endossam a visão. O comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, cumpriu uma agenda de viagens na Itália, Turquia e em Cabo Verde entre o fim de abril e o início de maio e, segundo afirmam interlocutores, a comitiva foi recebida com "tapete vermelho" nos países visitados.

Segundo apurou Gazeta do Povo com fontes da Marinha, o presidente da Turquia, Recep Erdogan, demonstrou, inclusive, o interesse em dialogar a inclusão do país no Brics, grupo de países que inclui o Brasil, a Rússia, Índia, China e África do Sul. O presidente turco, inclusive, tem adotado esforços para mediar um cessar-fogo e um acordo de paz no Leste Europeu.

Entre março e abril, Erdogan conversou com os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, e o secretário-geral da ONU, António Guterres. "Ao contrário do que uma parte da imprensa tenta colocar, a gente é recebido fora do país com tapete vermelho. O desejo do Erdogan em colocar um país com uma posição estratégica como a Turquia no Brics só reforça nossa posição [sobre a guerra], que está certa", destaca um oficial militar.

Militares e diplomatas estimulam Bolsonaro a ir à Cúpula das Américas
Diplomatas e militares entendem que o Brasil deve manifestar sua ambição de participar da governança mundial. Interlocutores do Itamaraty preveem que a situação geopolítica seguirá ditando a agenda internacional e sustentam que a pasta manterá seu posicionamento atual. Eles ponderam, porém, que o país já tinha e continua a ter mais condições de exercer um papel de relevância.

A fim de ampliar o capital político e diplomático brasileiro, militares e diplomatas mais próximos de Bolsonaro o estimulam a ir à 9ª edição da Cúpula das Américas, em junho, nos Estados Unidos, para consolidar a reaproximação com o governo norte-americano sob a presidência de Joe Biden. O ministro das Relações Exteriores, Carlos Alberto França, avalia que o discurso presidencial estará respaldado pela segurança que tem na valorização da política externa.

A análise do chanceler é apoiada por diplomatas brasileiros, ministros e assessores militares do Palácio do Planalto, como Braga Netto, ex-ministro da Defesa. A leitura feita é de que Bolsonaro pode usar a Cúpula das Américas como o pontapé que pode impulsionar a projeção internacional da política externa brasileira em sessões e reuniões nos demais fóruns internacionais ao longo do ano.

O objetivo do governo é transmitir nos mais diferentes organismos multilaterais a imagem de um Brasil "forte", "sereno", "prudente" e que dialoga com o mundo buscando atuar ativamente em uma política externa que valorize os laços com o mundo sem "fechar portas". Para isso, além da Cúpula das Américas, o Itamaraty deve enviar representantes em pelo menos outros sete fóruns, além de reuniões na área do Brics.

Ainda em maio, o Brasil terá representantes em um evento organizado nacionalmente em parceria entre os ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores sobre o mercado de créditos de carbono, que deve reunir líderes internacionais para discutir como seria a implementação de um mercado global. Os ministérios da Economia e de Minas e Energia também participarão.

Entre o fim de maio e início de junho, o Brasil participa de uma Reunião Ministerial do Conselho da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No mesmo mês, também enviará representantes para a 12ª Reunião Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), em Genebra, Suíça.

Em julho, o Brasil assume a presidência rotativa mensal do Conselho de Segurança da ONU. No Itamaraty, é dito que o chanceler, Carlos França, participará de ao menos uma sessão. Entre agosto e setembro, o governo enviará representantes à Conferência da ONU de Biodiversidade (COP-15), onde defenderá um novo marco global sobre a biodiversidade. O evento está previsto para acontecer em Kunming, na China, mas devido ao novo surto de Covid-19 no país, é possível que seja transferido para o Canadá.

Em setembro, o governo comparecerá à Assembleia-Geral da ONU. É uma praxe diplomática o presidente da República sempre abrir oficialmente o evento com um discurso. Mesmo se tratando de um período eleitoral, é padrão o presidente comparecer. Em novembro, o governo também estará presente na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-27), em Sharm El-Sheikh, no Egito.

Como o governo planeja assumir protagonismo com sua política externa A expectativa no governo é de que, com sua postura de equilíbrio na política externa, o Brasil possa atingir algum nível de protagonismo no debate internacional e usar seu capital político e diplomático "acumulado", como sustentam alguns diplomatas, para defender diferentes demandas.

O principal pleito para este ano é a ascensão à OCDE. Em janeiro deste ano, o chamado "clube dos países ricos" aprovou o convite para o Brasil negociar sua entrada.

O governo tem adotado as medidas possíveis para avançar as tratativas. Em março, o ministro da Economia, Paulo Guedes, viajou a Paris para uma reunião com o secretário-geral da organização, Mathias Cormann, para tentar azeitar a aprovação de um "roteiro" que deve orientar a negociação de adesão, segundo informou o jornal Valor Econômico.

A expectativa do governo é de que esse roteiro possa ser aprovado em junho na Reunião Ministerial da OCDE. Uma vez feito isso, o país precisará se posicionar sobre todas as recomendações feitas pelo clube dos países ricos. Quanto mais rápido o Brasil responder as recomendações contidas no roteiro, mais rápidas as negociações tomam corpo.

O Brasil está em uma posição mais avançada em relação a outros candidatos para negociar sua ascensão à OCDE. Mesmo Argentina e Peru, na América Latina, como Romênia, Bulgária e Croácia, estão em posições menos privilegiadas na mesa de negociações. Um compromisso que o país precisa firmar é o de proteção do meio ambiente e de ações em favor do clima, incluindo para desacelerar o desmatamento.

Diplomatas brasileiros entendem que a pressão ambiental é exercida principalmente por países da União Europeia, com quem o Brasil e o Mercado Comum do Sul (Mercosul) tem tido dificuldades em selar o acordo de livre comércio entre os dois blocos. Entretanto, o Itamaraty tem explorado o apoio de diferentes países que compõem a OCDE, sejam do Ocidente, como os Estados Unidos e o Reino Unido, e do Oriente, especialmente os da Ásia.

Além da ascensão à OCDE, diplomatas brasileiros também entendem que o Brasil pode explorar seu capital diplomático para provocar debates sobre reformas do Conselho de Segurança da ONU, da OMC e da Organização Mundial da Saúde (OMS). São pautas já defendidas pela chancelaria e a ideia é reforçar os pleitos.

Na Assembleia-Geral da ONU no ano passado, o ministro Carlos França se reuniu com os chanceleres de Alemanha, Índia e Japão, que, junto com o Brasil, compõem o chamado G4, grupo formado por países que defendem a urgência da reforma do Conselho de Segurança. Os quatro países têm como objetivo comum alcançar um assento permanente no organismo multilateral.

Diplomatas brasileiros entendem que o Conselho de Segurança tende a uma postura de inércia diplomática e que se move à base de "abalos sísmicos", mais externos do que internos. Há, portanto, o entendimento de que a guerra na Ucrânia propicia a discussão de uma reforma e que o Brasil possa assumir um protagonismo no debate.

A análise é de que a política externa adotada durante a guerra reforça as relações com membros permanentes do Conselho de Segurança, como Rússia e China, sem fechar as portas para Estados Unidos e Reino Unido. A França, porém, que reelegeu o presidente Emmanuel Macron, desafeto do governo, pode oferecer maior resistência.

Diplomatas analisam, no entanto, que essa discussão pode ficar para um segundo momento, quando "abaixar a poeira" no Leste Europeu.

Já as reformas da OMS e da OMC são vistas como mais tangíveis em um curto prazo por diplomatas. Na OMC, uma defesa é a de redução de subsídios para bens agrícolas.

O Brasil tem buscado protagonismo no debate sobre a crise alimentar e, inclusive, propôs a adoção de corredores alimentares e de insumos para fluir produtos agrícolas nos mercados globais, a despeito de sanções à Rússia. Na OMS, a defesa é por respostas mais ágeis para surtos de doenças e pela universalização das vacinas, deinsumos e equipamentos médico-hospitalares.

Quais as chances de o governo assumir o protagonismo almejado
O especialista em relações internacionais Ricardo Mendes, sócio-diretor da consultoria Prospectiva, entende que o governo queira mostrar os resultados de sua política externa durante a campanha eleitoral e tente obter um protagonismo internacional maior. Sobretudo após o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltar a ser reconhecido como importante líder mundial pela revista americana Time, ainda que a agenda exterior não tenha muito peso eleitoral.

Porém, o consultor avalia que falta um pouco de capital político para o Itamaraty conduzir a agenda com a robustez almejada. "Não é que esteja com o capital queimado, mas é um pouco de movimentação eleitoral para criar narrativa para a torcida interna, o Brasil não tem, nem agrupou capital político para ser visto como liderança e discutir grandes temas", analisa.

Sobretudo em se tratando de uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, Mendes entende que o Brasil não tenha "ressonância" para discutir como uma liderança internacional de destaque. "Vai tentar levar a discussão, mas falta um pouco de aderência dessa proposta no contexto internacional e o capital político, a distribuição de poder é outra", reforça.

O sócio-diretor da Prospectiva entende que, para as reformas da OMS e da OMC, o Brasil possa, sim, ser ouvido como um player importante no cenário internacional, mas não com um papel de protagonista. "Temos respeito de um grupo grande de países, talvez a maior parte dos países do mundo, mas liderar é complicado", analisa. Para ele, a ascensão à OCDE é uma missão mais factível, sobretudo com a possibilidade de Lula ganhar a eleição.

"Vejo bastante movimentação em torno disso. É um tema que ganha tração e mobiliza muitos grupos de interesse fora do Brasil, Washington, Europa, pois veem oportunidade de exigir mudanças em algumas regulamentações no Brasil não só para alinhar com a OCDE, mas usar como moeda de barganha uma demanda por mudanças na política ambiental, por exemplo", pondera Mendes.

Já o especialista em relações internacionais Welber Barral, sócio-fundador da BMJ Consultores Associados, concorda parcialmente com as defesas feitas por militares e diplomatas sobre a política externa do governo por entender que, de fato, há uma mudança no cenário internacional e o Brasil tem papel relevante. Porém, ele entende que o ritmo dessa mudança não é rápido.

Para Barral, mesmo a aproximação com os Estados Unidos não se consolida em um ano eleitoral. "Você tem uma mudança, mas o ritmo de implementação depende de fatores e falamos de uma mudança institucional. Muito provavelmente os EUA vão esperar para saber com que governo vão negociar no ano que vem", destaca.

O sócio-fundador da BMJ Consultores aponta, ainda, que a reaproximação com os Estados Unidos não é exclusiva do Brasil, e que há uma preocupação e mudança de postura da gestão Biden em relação à América Latina em geral, inclusive com a Venezuela.

"Para muitos países, inclusive os EUA, o Brasil não é visto como uma entidade sozinha, mas parte de uma política para a América Latina. Então, Washington provavelmente vai criar iniciativa de mais investimentos, mas para a região. O quanto o Brasil vai se aproveitar disso vai depender dos esforços da política externa", sustenta.

A lógica apontada por Barral também vale para as demandas do Brasil nos organismos multilaterais. Para o especialista, o Brasil seguirá sendo cobrado por mudanças na área ambiental, pelos EUA e Europa, e precisará honrar os compromissos acordados. Só assim, na opinião do especialista, poderá ampliar seu capital político e sua relevância no cenário internacional para pleitear suas demandas.

O conselheiro da BMJ aponta, porém, que mesmo pautas como reformas da OMC e OMS não são rápidas. "Uma reforma da OMC vai levar até 5 anos, estamos falando de algo a médio prazo. A do Conselho de Segurança talvez mais ainda", alerta. "Reformas institucionais são lentas, são longos processos de negociação. Vão ter cobranças, vai precisar de articulação não só do Itamaraty, mas do governo, da sociedade civil e do setor privado para que tenha postura internacional de melhorar a imagem internacional", acrescenta.

Lideranças do Congresso defendem política, mas pedem mais avanços
O deputado federal Cláudio Cajado (PP-BA), presidente nacional em exercício do partido e presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Ucrânia, elogia a política externa adotada pelo Brasil e acredita que há avanços que respaldam o otimismo do Itamaraty em relação à agenda internacional.

"Penso que a nossa posição, nossa dimensão e a nossa tradição são, sim, atrativos para que possamos estar cada vez mais envolvido em posições como a do convite da OCDE, que acho ser fundamental para o Brasil, importantíssimo para que consigamos cada vez mais aprimorar nossa governança em termos de gestão pública", analisa.

Membro titular da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN) da Câmara, Cajado entende que, tão logo surjam as oportunidades para avançar nas negociações por reformas dos organismos multilaterais, o Brasil irá discutir com um papel relevante. "E se forem medidas que aprimorem e melhorem o funcionamento [dos organismos], não tenho dúvidas de que poderemos, sim, nos aliar aos países que desejam fazê-lo", pondera.

O parlamentar defende, ainda, a política externa feita pelo chanceler e entende que a posição de equilíbrio e imparcialidade do Brasil permite a construção de relações políticas e comerciais de "boa vizinhança" com outros países no plano "mais elevado" possível. "O Itamaraty com o ministro Carlos França está indo muito bem, bem melhor do que antes", destaca.

O deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), presidente das frentes parlamentares Brasil-China e do Brics, classifica França como um "craque" da política externa. "De certa forma, ele vem tentando reparar alguns erros mortais que foram feitos pela linha 'terra plana' do ex-ministro das Relações Exteriores [Ernesto Araújo]", declara.

Embora entenda que os impactos, declarações e ações na gestão anterior estejam minimizadas, Pinato avalia, porém, a gestão de França ainda não fez acenos mais significativos à China. "Que gesto efetivo foi feito em relação à China depois de tantos ataques da gestão anterior? Inclusive, não vimos um gerenciamento para tentar, de certa forma, buscar a nomeação do novo embaixador da China", critica.

A embaixada da China está sem um representante oficial desde que o ex-embaixador, o diplomata Yang Wanming, deixou o cargo em 5 de março. Pinato defende que o Brasil tenha atenção com o governo chinês e dialogue com a representação chinesa um sucessor. "Falta racionalidade e pragmatismo para fazer negócios, melhorar a exportação e, consequentemente, gerar empregos e elevar a arrecadação", destaca.

Pinato pondera que a prioridade para o país é combater a inflação com medidas para diminuir o valor do combustível, do botijão de gás e dos alimentos, e e entende que a política externa do Itamaraty pode ter um papel preponderante para auxiliar os esforços do governo nessa missão. "Discutir política externa também é discutir combustível e insumos para o agronegócio", justifica.

https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/bolsonaro-politica-externa-eleicoes-guerra-ucrania/

Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil - Paulo Roberto de Almeida (Intervenção oral no evento do Mackenzie)

Abaixo, meu texto-guia, usado de maneira muito informal e seletiva (ou seja, não foi lido, assim como o texto maior preparado como base conceitual da palestra, a que eu refiro in fine), na sessão de encerramento da XX Semana de Ciências Sociais Aplicadas do Mackenzie.

O vídeo dessa sessão encontra-se disponível no seguinte link: 

Palestra 050 - Guerra da Ucrânia e as implicações no Brasil 20h30 13-05-2022: https://www.youtube.com/watch?v=7jQtR277iDc

A palestra do embaixador Rubens Barbosa começa ao 38:09 minutos (do total de mais de duas horas do evento); minha palestra começa aos 1:06:41 e vai até 1:28:08, seguida pela excelente explanação do Juliano Ferreira, um economista da mais alta qualidade, como vocês poderão assistir na sequência do vídeo.

Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

Notas para exposição oral no quadro do encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, em 13/05/2022, 20h30

 


O tema título desta sessão de encerramento é bastante amplo, embora instigante. Como se trata de um evento organizado pelo Centro de Liberdade Econômica do Mackenzie, pode-se tentar abordar o tema por meio do conceito de liberdade econômica, justamente. 

Não existe maior cerceamento à liberdade econômica do que a guerra, sobretudo uma guerra não justificada por qualquer preocupação real com ameaça à soberania e à segurança de um país, que seria a única justificativa inscrita na Carta das Nações Unidas para o recurso legítimo ao uso da força militar, ou seja, a defesa de um país ante um ataque iminente. Todas as demais hipóteses de apelo ou uso efetivo da força estão banidas pela Carta de San Francisco de 1945, como aliás já estavam antes, pelo Pacto Briand-Kellog de 1928, ao qual o Brasil aderiu em 1931. 

Mas, parece que esse tratado, banindo as guerras e prescrevendo o uso de meios pacíficos para a resolução de diferendos entre os Estados signatários, não funcionou a contento na década seguinte, tendo em vista sua derrogação prática desde a invasão da Manchúria pelo Japão em 1931 (depois ao resto da China em 1937), assim como pela invasão da Etiópia pelas forças fascistas da Itália em 1935, assim como as ameaças da Alemanha nazista contra a Áustria e a Tchecoslováquia em 1938-39, assim como a selvagem intervenção das duas potências fascistas na guerra civil espanhola de 1936-39.

O segundo maior fator de cerceamento à liberdade econômica são as sanções econômicas por quaisquer motivos, geralmente por desentendimentos políticos, territoriais, comerciais, ou ameaça à segurança nacional, justamente, mas, no registro histórico das sanções no decorrer do século XX, a maior parte delas foi, tem sido, de forma unilateral, uma vez que as sanções multilaterais foram extremamente raras. No âmbito da Liga das Nações, as sanções contra a Itália pela invasão de um outro membro da própria Liga foram muito débeis, para não dizer totalmente inócuas; elas nem existiram para o caso do Japão em 1931 ou para os casos mais graves da invasão e esquartejamento da Polônia, em ação conjunta da Alemanha hitlerista e da União Soviética stalinista em 1939, para não mencionar a invasão e a incorporação dos três países bálticos, independentes desde 1919, pela União Soviética em 1940, ou sua criminosa guerra contra a Finlândia no mesmo ano. Diga-se de passagem, que o Brasil do Estado Novo simpático ao fascismo nunca reconheceu esse sequestro violento pela URSS de três países independentes, com os quais o Brasil mantinha relações diplomáticas normais, ainda que pela via cumulativa. 

Descobri isto quando comecei a trabalhar com o então conselheiro Rubens Barbosa na Divisão da Europa Oriental, em 1977, e encontrei, nos arquivos da DE-II, três maços, um pouco sonolentos, correspondendo a cada um dos três bálticos, Estônia, Letônia e Lituânia. Nunca me esqueci disso, mas só me inteirei dos detalhes mais tarde, quando, ao pesquisar sobre a gestão Oswaldo Aranha no Itamaraty – o segundo maior chanceler do Brasil no século XX, depois de Rio Branco –, fui ler os relatórios do Ministério das Relações Exteriores relativos aos anos de guerra e constatar que até o governo arbitrário do Estado Novo não reconhecia a anexação pela força de territórios de Estados independentes, o que se aplicava tanto ao governo da Polônia, em 1939, quanto aos dos três países bálticos, em 1940.

 

Guerras e sanções, unilaterais ou multilaterais, por causa de guerras ou quaisquer outras desavenças entre Estados, ou entre chefes de Estado, são, portanto, os maiores entraves à liberdade econômica que possam existir. Mas as sanções existem e são usadas justamente como armas econômicas, ainda mais terríveis, como aliás reconheceu seu propositor formal, o presidente Woodrow Wilson, ao estabelecer suas propostas para a conferência de paz de Paris em 1919. Transcrevi suas palavras, tal como relembradas pelo professor Nicholas Mulder em seu livro Economic Weapon (2022), do qual retirei largos trechos para inseri-los em meu trabalho “A guerra da Ucrânia e as sanções econômicas multilaterais”, já colocado à disposição de todos em minha página da plataforma Academia.edu. Como também registrado nesse trabalho e em todos os livros que consultei, o maior volume de sanções é sempre de natureza econômica e de iniciativa unilateral, contra algum parceiro recalcitrante de uma potência mais arrogante. O Brasil já entrou no grande clube dos recalcitrantes sancionáveis e não apenas por questões de comércio exterior (subsídios considerados ilegais, créditos fiscais muito generosos e contrários aos regimes do Gatt, contrafação de produtos ou pirataria de software e sistemas informáticos, suposto dumping de produtos siderúrgicos ou simplesmente reclamação de alguma indústria poderosa contra uma concorrência mais atraente, julgada, a torto ou a direito, como desleal). 

O Brasil também sofreu sanções econômicas, na verdade políticas, como, por exemplo, quando o governo Goulart parecia que se dava bem com os comunistas, e tínhamos vários governadores de esquerda, ou simplesmente progressistas: Leonel Brizola, por exemplo, governador do Rio Grande do Sul (1958-62), nacionalizou, ou estadualizou, em todo caso expropriou, duas empresas americanas e não queria pagar indenização; Miguel Arraes, de Pernambuco, e Mauro Borges, de Goiás, eram considerados nacionalistas antiamericanos; assim, os americanos cortaram assistência, empréstimos e financiamentos ao governo da União e passaram a ajudar apenas os governadores amigos dos Estados Unidos. Depois é que veio a promessa de ajuda aos militares golpistas, se por acaso ocorresse uma guerra civil. Outros países foram tratados de igual forma, os governos amigos a pão de ló, mesmo que fossem ditaduras, os recalcitrantes na base da ameaça do big stick, o porrete, como foi o caso da Guatemala de Jacobo Arbens, o Irã de Mossadegh, e outros. 

 

No caso da Ucrânia ou de outros países anteriormente fazendo parte da União Soviética, ou daqueles inseridos na chamada Cortina de Ferro nos tempos da Guerra Fria, não foram poucos os que incorrerão em retaliações de Moscou, mesmo deixando de lado as incursões armadas, como a Hungria de 1956, a Tchecoslováquia de 1968, ou ameaças de visitas de tanques soviéticos por discordâncias políticas, como a Polônia do Solidarnosc, a Romênia julgada muito independente, na primeira fase de Ceausescu, ou ainda a Albânia, que se bandeou para o lado da China maoísta, quando a União Soviética foi acusada de ser “revisionista”. Todos eles sofreram sanções ou ameaças de intervenção, quando não atuação direta do KGB junto aos membros fiéis dos partidos comunistas amigos de Moscou. Já na fase putinesca, a partir dos anos 2000, os países independentes das antigas repúblicas federadas soviéticas – bálticos e Europa central e oriental –, assim como os “associados” à Rússia, Belarus, Ucrânia e as antigas satrapias da Ásia central passaram por diversos constrangimentos derivados do desejo do novo czar de todas as Rússia de recompor as fronteiras do antigo império, cuja dissolução, disse ele, foi “a maior tragédia geopolítica do século XX”. Creio que foi realmente, ao cabo dos “dez anos que abalaram o mundo”, não exatamente o “fim da história”, mas o cumprimento de um vaticínio que já tinha sido antecipado muitos anos antes por mentes lúcidas como Hélène Carrère d’Encausse e Emmanuel Todd, por diferentes razões – periferia islâmica ou declínio demográfico –, mas todas elas convergentes com outro vaticínio, o de Jean-Baptiste Duroselle, segundo quem “todo império perecerá”. Aliás, o mesmo Emmanuel Todd escreveu um outro livro, Après l’Empire, prevendo a decomposição do império americano. 

Voltando à questão dos impactos econômicos da guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia e seus efeitos sobre o Brasil, creio que muito já foi dito nas reportagens dos grandes jornais ocidentais e nos artigos analíticos e de opinião de famosos jornalistas e de economistas: podemos estar às vésperas de uma nova Grande Recessão, pelos efeitos combinados da guerra diretamente – interrupção de fluxos comerciais, ruptura de abastecimento, destruição dos canais logísticos do lado da oferta –, como pelos que derivam das fortes sanções unilaterais, mas convergentes, dos grandes atores da economia global, com exceção da China, que provocam consequências igualmente devastadoras para o alvo designado e para os autores das sanção. A China também não deixará de sentir os efeitos do novo regime de exclusão e de isolamento da Rússia, uma vez que seus grandes mercados estão praticamente todos nos países aplicadores de sanções. O Brasil, como a própria Rússia, sentiu os efeitos “benéficos” da guerra – subida das commodities de exportação, sobretudo na energia e nos alimentos –, mas também sofre os efeitos maléficos: inflação importada, ruptura de insumos cruciais para a economia brasileira, impactos difusos em quase todos os setores produtivos, no comércio exterior e no câmbio. 

Os economistas saberão explicar melhor do que eu a importância e a magnitude desses choques para a vida econômica e financeira do Brasil. O que eu poderia tentar argumentar, e com isso terminarei, seria a questão de saber se estamos entrando, como afirmou há pouco a velha raposa Henry Kissinger, numa nova era das relações internacionais. Creio que não é o caso, pelo menos não totalmente ou radicalmente, apenas parcialmente, uma vez que a Rússia é, sim, um grande ator das relações internacionais. Mas é preciso bem mais do que o isolamento de um grande ator para precipitar o surgimento de um mundo inteiramente diverso deste que temos atualmente, com a ordem econômica nascida em Bretton Woods, e ainda resiliente, e a ordem política inaugurada em San Francisco, e que ainda se mantém, a despeito de fissuras em seu edifício mais do que septuagenário. 

A questão central me parece ser o direito de veto, o mesmo que impede a imposição de sanções multilaterais contra a Rússia – da mesma forma como foi feito contra a África do Sul do Apartheid, contra a Rodésia do Sul de minoria branca, contra a Coreia do Norte, o Iraque de Saddam Hussein, o Afeganistão dos talibãs dos anos 2000. Creio que será preciso uma longa caminhada da comunidade internacional para que a Assembleia Geral, em talvez mais vinte ou trinta anos, com a crescente multipolaridade mundial, consiga dobrar a prepotência dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança no sentido de banir essa discriminação no princípio básico das relações internacionais contemporâneas, que é a igualdade soberana dos Estados, como proclamava Rui Barbosa em 1907. 

Não será uma caminhada fácil, pois o atual sistema do CSNU se parece muito com aquele velho samba-canção sobre a gafieira: “quem está fora não entra, quem está dentro não sai”, mas não é verdade que o baile segue calmamente: as tensões, e as ameaças de conflito nuclear, se acumulam, enquanto déspotas agressores permanecerem impunes. Pois é isso que está em causa atualmente no debate nos foros multilaterais sobre como tratar o caso da Rússia, de acordo com os princípios consagrados do Direito Internacional, ou aceitando escapatórias ao que deve ser feito, como parece estar ocorrendo neste mesmo momento com a diplomacia do Brasil sob o atual governo.

Com efeito, segundo leio uma matéria do jornalista Jamil Chade no UOL desta quarta-feira: 

O governo de Jair Bolsonaro manobra para tentar esvaziar uma resolução que será votada nesta semana na ONU (Organização das Nações Unidas) e retirar acusações diretas sobre crimes que possam ter sido cometidos na Ucrânia pela Rússia. O Itamaraty chegou a propor a exclusão do termo "agressão contra a Ucrânia" do projeto de resolução apoiado por europeus e países ocidentais. (“Na ONU, Brasil tenta esvaziar acusação contra Rússia por causa da guerra”, UOL notícias, 11/05/2022; link: https://noticias.uol.com.br/colunas/jamil-chade/2022/05/11/na-onu-brasil-tenta-esvaziar-acusacao-contra-russia-por-causa-da-guerra.htm?cmpid=copiaecola&fbclid=IwAR2DeQ9qUOaaL9SHr4pN5HIFYzerGs0qWPcXWSVCTN1brteavEw5BjJ1wCk)

 

Como ainda escreveu o competente jornalista, registrando que a delegação do Brasil tem se esforçado para eliminar qualquer responsabilização da Rússia pelo que ela chama de  “conflito” e não de agressão, há um esforço visível para poupar a Rússia de qualquer tipo de acusação mais contundente: 

Ao longo das últimas semanas, o Itamaraty passou a adotar uma postura crítica contra diferentes resoluções apresentadas pela Europa nos vários órgãos internacionais. O argumento do Brasil é de que o "cancelamento diplomático" da Rússia ameaça aprofundar a crise e radicalizar as posições. Ao lado de China, Índia e outros países, o Brasil também é contra a expulsão dos russos do G20 e não deu seu voto para a suspensão do Kremlin do Conselho de Direitos Humanos.

 

Esse é o mesmo Brasil que, junto com o G4 – em companhia da Índia, da Alemanha e da África do Sul – tem envidado muitos esforços, desde a era Lula, para reformar a Carta da ONU, ampliar o número dos membros permanentes do seu Conselho de Segurança, a pretexto de “democratizar as relações internacionais”, que mais parece uma tentativa de ampliar a atual oligarquia num sistema que deveria ser simplesmente eliminado. Se não fosse uma ilusão política, sem qualquer correspondência com a capacidade do Brasil de contribuir efetivamente para a paz e a segurança internacionais, eu diria que é pura hipocrisia.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4153: 11 maio 2022, 5 p.


sexta-feira, 13 de maio de 2022

Vale comemorar o bicentenário da independência? - palestra de Rubens Ricupero, Livraria Tapera Taperá, 21/05/2022, 10:00hs

Rubens Ricupero profere conferência sobre os sentidos do bicentenário da independência brasileira. Evento gratuito marca reabertura do espaço Tapera Taperá.

No dia 21 de maio, sábado, às 10 horas, o Instituto Diplomacia para Democracia, em parceria com a Cátedra Jose Bonifácio da USP, promoverá conferência do embaixador Rubens Ricupero “Vale comemorar o bicentenário da independência? O que fizemos em 200 anos? O que deixamos de fazer ou fizemos errado?”.

Partindo de texto recente de sua autoria, a conversa propõe “abordagem do bicentenário na base da raiz etimológica de com-memorar, lembrar juntos, em atitude voltada não ao passado, mas empenhada em dar balanço no que se fez e propor uma visão sobre o que falta fazer na construção perene do país”. 


Reabertura da Tapera

O evento marcará a reabertura da livraria e espaço cultural Tapera Taperá, desde março de 2020 sem atividades. Situada no bairro da República, no centro histórico de São Paulo, a Tapera pretende retomar tradição de debates e de ponto de apoio, nestes tempos difíceis, para a afirmação de um Brasil de esperança.


Serviço

Conferência aberta e gratuita “Vale comemorar o bicentenário da independência? O que fizemos em 200 anos? O que deixamos de fazer ou fizemos errado?”.

Com o embaixador Rubens Ricupero, autor de A diplomacia na construção do Brasil, entre outras contribuições.


Sábado, 21 de maio, 10 horas – Tapera Taperá: Avenida São Luis, 187, 2º andar, Loja 29 - Metrô República – São Paulo/SP. info@taperatapera.com.br; 11 3151-3797.

Lugares por ordem de chegada.

Transmissão ao vivo pelos canais do Instituto Diplomacia para Democracia e da Tapera Taperá 


Guerra na Ucrânia e suas implicações no Brasil: Rubens Barbosa, Paulo Roberto de Almeida e Juliano Ferreira - Mackenzie, 13/05/2022, 20:30hs

Guerra na Ucrânia e suas implicações no Brasil

Palestras de encerramento da semana de Ciências Sociais do Mackenzie

13/05/2002, 20:30hs 



Esta noite, o encerramento da Semana de Ciências Sociais das Faculdades Mackenzie, com transmissão ao vivo pelo seguinte canal: 

https://www.mackenzie.br/noticias/artigo/n/a/i/palestra-de-encerramento-da-xx-semana-do-ccsa-discute-as-consequencias-da-guerra-da-ucrania-no-brasil 

Permito-me referir aos três textos sobre a questão da guerra de agressão da Rússia de Putin contra a Ucrânia e o povo ucraniano, dois dos quais já estão referidos no texto que preparei para esta ocasião, mas que não será lido. Ele também estará sendo disponibilizado na página do Centro de Liberdade Econômica do Mackenzie.

Paulo Roberto de Almeida: “Renúncia infame: o abandono do Direito Internacional pelo Brasil”, no blog científico International Law Agendas, ramo brasileiro da International Law Association  (7/03/2022; link: http://ila-brasil.org.br/blog/uma-renuncia-infame/).

________ : “A guerra da Ucrânia e as sanções econômicas multilaterais”, Academia.edu (link: https://www.academia.edu/77013457/A_guerra_da_Ucrânia_e_as_sanções_econômicas_multilaterais_2022_) e blog Diplomatizzando (20/04/2022; link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2022/04/a-guerra-da-ucrania-e-as-sancoes.html); vídeo da conferência disponível no canal do Instituto no Instagram (21/04/2022; link: https://www.instagram.com/p/CcoEemiljnq/).

________ : “O Brasil e a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”; Texto de apoio a palestra no encerramento da Semana de Ciências Sociais do Mackenzie, sobre o tema da “Guerra na Ucrânia e suas implicações para o Brasil” (13/05/2022). Disponibilizado na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/78954459/O_Brasil_e_a_guerra_de_agressão_da_Rússia_contra_a_Ucrânia_2022_) e divulgado no blog Diplomatizzando (link: Guerra na Ucrânia e suas implicações no Brasil: Rubens Barbosa, Paulo Roberto de Almeida e Juliano Ferreira - Mackenzie, 13/05/2022, 20:30hs).

Paulo Roberto de Almeida


quinta-feira, 12 de maio de 2022

Carlo Patti: Timeline of Brasil's Nuclear History (book)

 Uma tabela cronológica das aventuras nucleares do Brasil, no livro de Carlo Patti:

Brazil in the Global Nuclear Order, 1945–2018 

Johns Hopkins Nuclear History and Contemporary Affairs, 2021





Se os economistas são tão espertos, por que não são ricos? - Peter Coy (NYT)

‘If Economists Are So Smart, Why Ain’t They Rich?’

Peter Coy

 The New York Times, 10/5/2022

 

After I wrote a newsletter last month on how economists’ views differ from those of ordinary people, I got emails to the effect of, “If economists are so smart, why ain’t they rich?” I’m not an economist, so the question doesn’t ruffle my feathers. The possible explanations, though, are interesting — sometimes funny, sometimes kind of deep. Here are five theories.

 

1. Economists aren’t trying to be rich. A lot of economists go to work for institutions of government and higher education. You don’t go to work for such employers because you aspire to vast riches. According to the Bureau of Labor Statistics, the median annual wages of economists in May 2021 were $105,630. That’s lower than the median pay of astronomers, nuclear engineers, medical dosimetrists and theatrical and performance makeup artists.

 

Nobody asks Trappist monks why they aren’t rich, because it’s understood that getting rich is not their aspiration. Economics likewise offers rewards beyond money. There’s a joke on Quora about a bunch of investment bankers who ask an economics professor why he isn’t rich if he’s so smart. He asks them why they aren’t smart if they’re so rich.

 

2. Economists are too good at economics. Learning a little economics is useful for a lot of lucrative careers, from management to banking. Warren Buffett, Steven Cohen, Kenneth Griffin, Henry Kravis and Elon Musk are among the billionaires who have bachelor or master degrees in economics. The mistake is loving it so much that you get your doctorate and become an impoverished postdoc or assistant professor. It’s the same with the hard sciences. In “My Life as a Quant,” the theoretical physicist Emanuel Derman writes that he didn’t start making real money until he realized he would never be a world-famous physicist and went to work on Wall Street, where his math skills were in great demand.

 

3. Economists aren’t actually smart. I don’t buy this one. I think that economists are smart. But some — not the good ones — can be blindered. They know their subspecialties well but are weak on others, such as economic history. These economists have technical expertise but not wisdom.

 

4. Economists are hamstrung by the “efficient market hypothesis.” There’s a joke about a young economist who stoops to pick up a $20 bill he sees on the sidewalk. An older colleague tells him not to bother because if there were really a $20 bill there, someone would have picked it up already. Devotion to the efficient markets hypothesis — which assumes that prices reflect all available information — discourages economists from trying to beat the market, and that’s why they never get rich.

 

5. Economists do think they can beat the market, but they’re wrong. A great example of this is Long-Term Capital Management, a heralded hedge fund that included a pair of Nobel economics laureates, Robert Merton and Myron Scholes. It went bust in spectacular fashion in 1998.


Deirdre McCloskey, an economist who wrote a 1990 book titled “If You’re So Smart: The Narrative of Economic Expertise,” wrote to me in an email that when she was at the University of Chicago in the 1970s, senior faculty members were speculating in the bond market. Milton Friedman told her that interest rates were bound to fall. “This was when interest rates were at 6 percent,” she wrote. “They in fact rose to 10 percent” soon after, “and the wise economists lost their shirts.”

Warren Buffett, despite earning a master of science degree in economics from Columbia University in 1951, told a CNBC interviewer in 2016, “I don’t pay any attention to what economists say, frankly.” He added: “You have all these economists with these 160 IQs who spent their life studying it. Can you name me one super-wealthy economist who’s ever made money out of securities?”

Buffett said that the great British economist John Maynard Keynes failed repeatedly as an investor when he tried to use the credit cycle to predict what businesses would do and succeeded when he gave up on that and “settled on buying good businesses cheap,” Buffett’s own approach.

Buffett is right that economics isn’t an ideal way to make money as an investor. On the other hand, that’s not what it’s for. It’s a science of means and ends. Let economists be economists!


As agruras dos economistas na era da inflação - Marcello Averbug (1995)

 ECONOMISTA SOFRE

Marcello Averbug

Publicado no O Globo em 07/01/95 

Como é ingrata a profissão de economista! Não consegue nunca desligar-se dos assuntos de trabalho, mesmo quando está em família ou com amigos. 

Em uma festa, sempre encontra pessoas que cobram, até de forma agressiva, explicações sobre a situação brasileira, como se aquele economista específico fosse diretamente culpado pelos problemas do país. Nessas ocasiões, sente um ar de rancor entre os presentes, como se estivessem pensando: “esse cretino é responsável pelas minhas dificuldades e não tem capacidade de resolvê-las”. 

Ou então tem que escutar sugestões descabidas de como enfrentar as mais complexas questões e, para não ofender, obriga-se a fingir que são razoáveis. Na época em que a inflação era astronômica, antes do Plano Real, minha mãe diariamente me transmitia receitas anti-inflacionárias como quem dá receita de bolo, e ainda zangava-se porque eu não as aproveitava em aulas e artigos. Minha sogra me ligava toda vez que voltava da feira e, escandalizada com os preços, dizia um monte de desaforos e batia com o telefone na minha cara. 

Quando público um artigo sobre economia, acabo tendo mais aborrecimentos do que prazeres, pois recebo mais críticas do que elogios. Uns me tacham de utópico, outros de burguês reacionário e outros de esquerdista radical. E o pior é que relendo-o após sua publicação, até eu passo a detestá-lo. Meus filhos vivem dizendo que não entendem em que consiste a atividade de economista, pois apesar de existirem tantos, a situação do país está cada vez pior. Quando perguntam como acabar com a miséria e não consigo dar resposta consistente, me jogam olhares de desprezo como quem diz: esse cara é um inútil. 

Também no ambiente profissional é raro conseguir descontrair, pois todo economista que se preza jamais concorda instantaneamente com as ideias dos colegas, tanto em um debate público quanto em um papo informal. Isso exige esforço constante em descobrir com rapidez argumentos geniais para evitar a submissão intelectual ao interlocutor. 

Nem sempre consigo encontrar tais argumentos e, então, para não passar pela humilhação de aprovar as ideias do outro, desenvolvi a seguinte tática: dou um sorriso irônico e digo “nosso diálogo é inviável pois raciocinamos em sintonias desarmonizadas; recuso-me a abrir mão de meus princípios macro-neo-marginalistas”, e parto ligeiro para outro assunto. Até hoje ninguém perguntou que princípios são esses e por que inviabilizam o diálogo em causa; assim, tenho escapado ileso. 

Outra tortura é conviver com o maldito “economês”. Por mais que me esforce em ler e estar atualizado com o jargão, o processo de criação de novos termos é tão veloz que, em reuniões de trabalho, com frequência são usados alguns que desconheço. Como é inconcebível o economista confessar ignorância em relação a qualquer assunto ou palavra, nessas ocasiões padeço driblando o risco de ser desmascarado. Ao final da reunião, sinto-me esgotado. 

Ser economista no Rio de Janeiro tem outro inconveniente adicional: enfrentar a Maria da Conceição Tavares. Sempre que produzimos um texto ou palestra trememos de medo das críticas implacáveis da Conceição. Quando discorda de nossas ideias passa um baita pito fazendo-nos sentir como garoto de 

10 anos. As palavras mais doces que usa são burro, imbecil e analfabeto. Depois chora de desgosto pelo tempo perdido dando aulas e conferências não assimiladas. 

Percebi também que os economistas são vulneráveis a uma estranha enfermidade chamada governitose aguda. Quando não fazem parte do governo são férteis em críticas e proposições dignas de Prêmio Nobel. Porém, ao assumirem cargo público esquecem o que disseram e seguem as mesmas políticas precedentes, como se fossem atacados por um vírus que apaga suas ideias e os impregna de fórmulas padronizadas 

Em vista desses fatos, estou avaliando a possibilidade de mudar de profissão. Penso em dedicar-me a uma que proporcione o prazer de desfrutar de clima acolhedor e descontraído em qualquer ambiente. Creio que algo ligado às artes ou à literatura seria ideal. Afinal, o povo ama seus artistas e escritores, não seus economistas. 

 

Itamaraty lança em setembro Instituto Guimarães Rosa, vitrine da língua portuguesa e da cultura brasileira no exterior

 Itamaraty lança em setembro Instituto Guimarães Rosa, vitrine da língua portuguesa e da cultura brasileira no exterior

Notícias UOL, 11/05/2022 12h19

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil criou o Instituto Guimarães Rosa, uma organização que terá como missão a promoção da língua portuguesa e a difusão da cultura brasileira no exterior. Já instituído por decreto em abril, a entidade terá sua marca e seu lançamento divulgados em setembro, como parte das comemorações dos 200 anos de independência do Brasil.

A nova organização, com sede em Brasília, terá como modelo de atuação estruturas internacionais já existentes, como o português Instituto Camões e o alemão Instituto Goethe.

"O instituto é vinculado ao ministério das Relações Exteriores e tem a missão de promover a cultura e a língua portuguesa de vertente brasileira pelo mundo", resume Daniella Araújo, conselheira do setor cultural da embaixada da França no Brasil. "Por ocasião das comemorações do dia 7 de setembro, isso vai se tornar mais público, com o anúncio de definição de marca, imagem e tudo", completa.

Criado junto da reestruturação do Ministério das Relações Exteriores, em abril de 2022, o Instituto Guimarães Rosa já tem uma diretora designada, a diplomata Paula Alves de Souza.

Aos poucos, os 24 centros culturais brasileiros no exterior devem ser rebatizados com o nome do instituto que homenageia o expoente da literatura brasileira, que também foi diplomata.

Com isso, explica Araújo, o instituto terá maior autonomia na utilização de recursos e possibilitará uma ação mais específica na promoção da imagem da cultura brasileira e da lusofonia, "sem que isso se dilua no corpo do Ministério das Relações Exteriores", pontua.

Um plano antigo
O decreto de criação do Instituto Guimarães Rosa concretiza finalmente um plano já anunciado em 2019 pelo então chanceler brasileiro Ernesto Araújo.

À época, o Itamaraty chegou a anunciar que algumas das sedes do instituto ficariam em cidades como Nova York, Tel Aviv, Luanda e Lima. No entanto, não há ainda um calendário para essa transformação.

Após sua criação em abril, o ministério passou a divulgar um edital de apoio para a tradução de obras de literatura brasileira por editoras estrangeiras como ação no âmbito do novo instituto. O edital, feito pela Fundação Biblioteca Nacional, está aberto para inscrições até outubro e só deve ter seus repasses efetivados a partir de 2023.

Português como língua para o mundo
Apesar de o português ser o principal idioma de cerca de 250 milhões de pessoas, a língua é ainda pouco procurada como segundo idioma (entre 15 e 20 milhões de falantes), muito atrás do alemão, por exemplo.

Na terça (10), foi realizado um evento sobre o espaço do português na diplomacia francesa em uma escola pública de ensino médio nos arredores de Paris, o Lycée International de l'Est Parisien.

Diante de uma plateia formada por adolescentes que aprendem a vertente brasileira como principal língua estrangeira, o português foi apresentado como idioma policêntrico por estar presente em países dos cinco continentes, mas com destaque para a relevância do Brasil aos olhos das relações internacionais francesas.

"O Brasil é um ator maior na América Latina, pelo seu tamanho, sua população, sua economia. Mas também pela liderança que manteve historicamente em relação aos países vizinhos e pela influência que tem em outros países, notadamente do sul global. E conhecer melhor esse país é interessante para diversos tipos de relações", afirmou o secretário-geral da presidência Francesa no Conselho da União Europeia, Xavier Lapeyre de Cabanes.

A despeito do interesse político e econômico, o conhecimento geral sobre o Brasil na França ainda é escasso e permeado por clichês, sublinhou Thibault Lespagnol, representante da Agência Francesa de Desenvolvimento, que foi porta-voz da embaixada francesa em Brasília.

O novo instituto criado pelo Itamaraty deve permitir um avanço na publicidade da cultura brasileira e do Brasil pelo mundo, assim como ampliar o interesse pelo país. "Espero que este seja o primeiro momento de algo que vai se desdobrar em frutos muito benéficos", salientou Daniella Araújo.

https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/rfi/2022/05/11/itamaraty-lanca-em-setembro-instituto-guimaraes-rosa-vitrine-da-lingua-portuguesa-e-da-cultura-brasileira-no-exterior.htm

Trabalhos PRA mais visualizados em Academia.edu (até o limite inferior de 1.000 visualizações) - Paulo Roberto de Almeida

 Trabalhos PRA mais visualizados em Academia.edu

Compilação seletiva efetuada em 11/05/2022; 

Critério: apenas os mais vistos até o limite inferior de 1.000 visualizações.

https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida/Analytics/activity/documents

 

Title

All-Time Views

All-Time Downloads

22) Prata da Casa: os livros dos diplomatas (Edição de Autor, 2014)

15,345

698

054) As duas últimas décadas do século XX: fim do socialismo e retomada da globalização (2006)

7,775

319

1297) Contra a antiglobalização: Contradições, insuficiências e impasses do movimento antiglobalizador (2004)

6,203

1,267

107) A diplomacia brasileira perante o potencial e as pretensões belgas (2014)

5,562

83

16) O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado (2010)

4,823

345

A Constituicao Contra o Brasil: Ensaios de Roberto Campos

4,608

1,065

1462) O Brasil e a nanotecnologia: rumo à quarta revolução industrial (2005)

4,320

727

19) Integração Regional: uma introdução (2013)

4,001

659

Um Ornitorrinco no Itamaraty: cronicas do Itamaraty bolsolavista - Ereto da Brocha (2020)

3,734

533

039) Enciclopédia de Guerras e Revoluções do Século XX (2004)

3,652

350

A politica externa brasileira em debate: Ricupero, FHC e Araujo

3,537

257

24) Codex Diplomaticus Brasiliensis: livros de diplomatas brasileiros (2014)

3,445

372

108) Brasil no Brics (2015)

2,639

139

29) O Panorama Visto em Mundorama (2015; 2a. edicao)

2,338

164

Marxismo e Socialismo (2019)

2,224

954

25) Rompendo Fronteiras: a academia pensa a diplomacia (2014)

2,127

105

23) Polindo a Prata da Casa: mini-resenhas de livros de diplomatas (2014)

2,087

225

012) Mercosul, Nafta e Alca: a dimensão social (1999)

2,002

168

091) Teoria das Relações Internacionais – Apresentação (2012)

1,964

84

056) Planejamento no Brasil: memória histórica (2006)

1,874

406

14) O Estudo das Relações Internacionais do Brasil (2006)

1,836

660

094) A economia do Brasil nos tempos do Barão do Rio Branco (2012)

1,800

249

530) Brasil e OCDE: uma interacao necessaria - tese CAE (1996)

1,779

240

005) Os Anos 80: da nova Guerra Fria ao fim da bipolaridade (1997)

1,703

119

07) Relações Brasil-Estados Unidos: assimetrias e convergências (2005)

1,624

239

1820) Mercosul e América do Sul na visão estratégica brasileira: revisão histórica e perspectivas para o futuro

1,569

145

2306) A economia política da velha Guerra Fria e a nova “guerra fria” econômica da atualidade: o que mudou, o que ficou? (2011)

1,523

284

17) Globalizando: ensaios sobre a globalização e a antiglobalização (2011)

1,520

119

01) O Mercosul no contexto regional e internacional (1993)

1,387

172

A Destruicao da Inteligencia no Itamaraty (Edição do Autor, 2019)

1,379

363

102) Oswaldo Aranha: na continuidade do estadismo de Rio Branco (2013)

1,327

262

001) O Paradigma Perdido: a Revolução Burguesa de Florestan Fernandes (1987)

1,320

74

2723) Produção intelectual sobre relações internacionais e política externa do Brasil (1954-2-14)

1,190

237

081) O império em ascensão (por um de seus espectadores): Oliveira Lima (2009)

1,175

30

110) Padroes e tendencias das RI do Brasil (2013-2015)

1,157

70

1378) O desenvolvimento na era da globalização (2005)

1,114

13

21) Nunca Antes na Diplomacia: a politica externa brasileira em tempos não convencionais (2014)

1,071

189

2801) Por Que a América Latina é Pobre e a América do Norte Rica? (2015)

1,068

45

28) Paralelos com o Meridiano 47: ensaios (2015)

1,055

250

11) The Drama of Brazilian Politics: From Dom João to Marina Silva (2014)

1,035

164

007) OCDE, UNCTAD e OMC: uma perspectiva comparada sobre a macroestrutura política das relações econômicas internacionais (1998)

1,025

85

2258) O desenvolvimento do Mercosul: progressos e limitações (2011)

1,022

446

 

Paulo Roberto de Almeida, 4154, Brasília, 11 maio 2022, 3 p.