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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A China prestigia a posse de Lula, pensando em seus objetivos estratégicos- Jamil Chade (UOL)

 Não sei se o mesmo podecser dito do Brasil, nem antes, nem talvez depois. PRA

China envia delegação de mais alto nível que EUA para posse de Lula
Jamil Chade  
Colunista do UOL
29/12/2022 11h04

O governo da China decidiu enviar para a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva o vice-presidente do país, Wang Qisha, e espera que o encontro com o novo governo brasileiro garanta um "impulso" na relação estratégica entre os dois países. No total, quase 60 delegações estrangeiras desembarcam em Brasília nos próximos dias.

Disputando espaços de hegemonia com os EUA, os chineses optaram por enviar uma delegação de mais alto nível que a missão organizada pela Casa Branca. Numa coletiva de imprensa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, explicou que Qishan liderará a delegação chinesa ao Brasil.

No caso americano, apesar da esperança de que o presidente Joe Biden ou a vicepresidente Kamala Harris estivessem presentes à posse, a escolha do governo de Washington foi pela secretária do Interior dos Estados Unidos, Deb Haaland. 

Wang, com 69 anos, foi prefeito de Pequim no auge do surto da Sars, em 2003, e liderou o comitê olímpico da cidade para os Jogos de 2008. Ele ainda foi o negociador chefe nas relações com os EUA e, recentemente, foi escolhido como vice de Xi Jinping. Entre os diferentes cargos, ele ainda liderou os esforços chineses contra a corrupção.

"A China e o Brasil são ambos grandes países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes", disse Wenbin nesta quinta-feira. "Somos os parceiros estratégicos abrangentes um do outro. Desde que os laços diplomáticos foram estabelecidos há 48 anos, as relações bilaterais têm desfrutado de um desenvolvimento sólido e estável com uma cooperação prática frutífera em vários setores. A natureza abrangente e estratégica de nossa parceria tem se tornado cada vez mais pronunciada e sua influência global está continuamente em ascensão", afirmou.

Segundo o porta-voz, a viagem do vice-presidente Wang Qishan ao Brasil como representante especial do presidente Xi Jinping "diz muito da alta importância que a China atribui ao Brasil e às nossas relações bilaterais".

"Acreditamos que esta visita dará um forte impulso à nossa parceria estratégica abrangente e a levará a novas alturas, proporcionando mais benefícios tanto para os países quanto para os povos e contribuindo para a paz, estabilidade e prosperidade regional e global", completou.

Lula já indicou que Pequim será um de seus primeiros destinos internacionais, junto com os EUA e Argentina.

Se o discurso do bolsonarismo tentou transformar a China numa espécie de vilã internacional e alvo de acusações sobre a ofensiva comunista no mundo, a realidade é que o mandato de Jair Bolsonaro termina com a relação comercial e de investimentos entre os dois países batendo todos os recordes.

Os números se contrastam com os ataques constantes do ex-chanceler Ernesto Araújo contra Pequim, desmentem os discursos do presidente contra a vacina chinesa e mostram o fracasso da estratégia adotada pelo Itamaraty nos primeiros anos do governo para minar qualquer aproximação entre Brasília e Pequim.

No governo, nos primeiros meses de 2019, a ordem era a de promover uma aproximação total aos EUA de Donald Trump e até mesmo forjar alianças diplomáticas contra o país asiático. Em reuniões da ONU, o comunismo chinês era denunciado pelo Itamaraty, enquanto o então ministro da Saúde Luis Henrique Mandetta chegou a confessar que qualquer aproximação de sua pasta com a China era minada pelo Executivo.

A realidade foi bem diferente do discurso bolsonarista. Dados do próprio governo indicaram que, até o final de novembro, a China representava 27% de toda a exportação do Brasil ao mundo.

Ou seja: de cada quatro dólares que o país obtém no mercado internacional com suas vendas, um vem da China.


A competição estratégica EUA-China e a diplomacia brasileira - Paulo Roberto da Silva Gomes Filho e Paulo Roberto de Almeida

 Um coronel da Reserva, xará meu, Paulo Roberto da Silva Gomes Filho, publicou no Estadão desta sexta-feira, 30/12/2022, um interessante e utilíssimo artigo, “Os inimigos e ‘aliados’ dos Estados Unidos” — quem puder postar o texto na íntegra eu agradeço —, sobre dois novos documentos do governo americano, a Estratégia Nacional de Segurança e a Estrégia Nacional de Defesa dos EUA, com ponderações parcialmente corretas sobre nossos interesses nacionais, no sentido de permanecermos equidistantes do grande conflito estratégico entre os EUA e a China. 

Escrevi “parcialmente corretas” pois que ele tratou mais do cenário geopolítico atual, esquecendo a dimensão do Direito Internacional nas relações internacionais do Brasil e, sobretudo, da dimensão MORAL de certas opções de políticas, que deveriam levar em conta as cláusulas de relações internacionais da CF-1988, assim como valores e princípios tradicionais de nossa diplomacia.

Parece-me que, como na Guerra Fria geopolítica, de 1946 a 1991, estamos em fsce de duas concepções de mundo, de política e de sociedade, uma baseada na liberdade dos indivíduos, a outra no predomínio do Estado e no cerceamento dessas mesmas liberdades. Não é difícil distinguir uma da outra e não creio que os interesses materiais e os fluxos de comércio devam prevalecer sobre o universo dos valores. 

As escolas militares deveriam ter mais aulas sobre direitos humanos, relações internacionais e filosofia política. Se o fizessem, não teriam apoiado um troglodita boçal, inepto e psicopata perverso, como o que conspurcou a cadeira presidencial nos últimos quatro anos (sintomaticamente em troca de vantagens corporativas e de benefícios pessoais). Os militares mancharam seu prestígio nesta mais do que infeliz conjuntura política do Brasil.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 30/12/2022

Extraído do site pessoal do coronel Paulo Roberto da Silva Gomes Filho (paulofilho.net.br), que foi a base para a redação do artigo mais sintético.

Os dois novos documentos dos EUA

Introdução

Recentemente, o governo norte-americano divulgou dois documentos da área de Segurança e Defesa, em sequência: sua nova Estratégia Nacional de Segurança, no dia 12 de outubro, e sua Estratégia de Defesa, no dia 27 de outubro de 2022.

Em conjunto, os dois documentos desvelam a maneira como os norte-americanos enxergam o mundo e definem os princípios que guiarão suas ações estratégicas, para conformá-lo, de maneira que, no futuro, esteja alinhado aos seus interesses e princípios.

1. Estratégia Nacional de Segurança

De acordo com o diagnóstico do documento, o mundo está atravessando um momento crucial, sendo os próximos anos decisivos para a definição do futuro dos Estados Unidos (EUA) e de todo o planeta. Nessa circunstância, o país teria dois grandes desafios estratégicos: o primeiro seria a competição com a China, cujo resultado definiria a ordem internacional pós Guerra Fria. O segundo seria o enfrentamento dos desafios compartilhados globalmente, quais sejam, as mudanças climáticas, a insegurança alimentar, as doenças pandêmicas, o terrorismo, a escassez energética e a inflação. Por serem desafios compartilhados, esses últimos exigiriam a cooperação entre os países. Entretanto, essa cooperação estaria sendo dificultada pelo próprio ambiente de competição geopolítica, que alimentaria nacionalismos e populismos.

No documento, os EUA se posicionam como líderes das democracias mundiais no enfrentamento às autocracias. A Rússia é apresentada como uma ameaça imediata à ordem internacional aberta e livre, pelo desrespeito ao Direito Internacional e pela invasão à Ucrânia. Os russos são acusados de atuar contra os interesses norte-americanos, em várias partes do mundo, inclusive, dentro dos EUA. O apoio à Ucrânia é reafirmado, bem como a intenção de conter a Rússia em todos os campos do poder.

A China, entretanto, é apresentada como o verdadeiro competidor dos EUA, uma vez que teria a intenção de reconfigurar a ordem internacional em seu próprio benefício e, consequentemente, em desfavor dos norte-americanos.

Ao afirmar que pretendem competir com a China, os EUA asseveram, dentre outros aspectos, que irão apoiar seus aliados no Indo-Pacífico, para que tomem suas decisões de forma livre da coerção chinesa. Também dizem que irão responsabilizar Pequim por “genocídio e crimes contra a humanidade em Xinjiang, violação dos direitos humanos no Tibet e desmantelamento da autonomia e das liberdades em Hong Kong”.

Em relação à Taiwan, os norte-americanos afirmam que a paz e a estabilidade do Estreito de Taiwan são críticas para a segurança da região e do mundo. Afirmam que continuam apoiando a política de “uma só China”, contrária à independência da ilha, discordando de quaisquer tentativas de mudança no “status quo” da região. Entretanto, de acordo com a lei que rege as relações com o país, manterão o apoio militar para que aquela ilha esteja em condições de se defender de qualquer agressão chinesa.

A crise climática recebe destaque, sendo apresentada como o “desafio existencial do nosso tempo”. Afinal, o aquecimento do planeta colocaria em perigo os norte-americanos e demais habitantes do planeta, arriscando os suprimentos de comida e água, a saúde pública, a infraestrutura e a própria segurança nacional norte-americana. O documento cita, ainda, as afirmações de cientistas, segundo os quais, sem uma ação global imediata para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, em breve, serão excedidos os 1,5°C de aquecimento, o que ocasionará o aumento do nível do mar e uma perda catastrófica de biodiversidade.

Ao tratar da postura dos EUA em relação às regiões do mundo, o documento esclarece sua opção pela Ásia, mais especificamente pelo Indo-pacífico, considerado o epicentro da Geopolítica no século 21. A Aliança Atlântica, entretanto, não é esquecida, e os EUA reafirmam seu compromisso com a OTAN e seus parceiros europeus. A América do Sul não é citada especificamente, sendo englobada quando o documento trata sobre o Hemisfério Ocidental. Porém, o texto aborda a proteção da “interferência e coerção” que seriam praticadas por Rússia, China e Irã contra países da região. O Brasil só é citado no documento devido à Amazônia, uma vez e superficialmente, para se falar na necessidade de preservação daquele bioma.

O documento deixa nítido o entendimento norte-americano de que, apesar da guerra na Ucrânia e das ameaças nucleares que ressurgiram com ela, o mundo caminha para uma nova disputa bipolar, entre EUA e China. Portanto, na China, estarão a atenção e o foco da política exterior norte-americana. Entretanto, a competição dar-se-á em todo o globo terrestre, com os EUA buscando espaço e alinhamentos que lhes sirvam tanto na disputa contra a China quanto no apoio às políticas e estratégias de enfrentamento dos “desafios compartilhados” por toda a humanidade.

2. Estratégia Nacional de Defesa

Em perfeito alinhamento com a Estratégia de Segurança, a Estratégia de Defesa igualmente apresenta um cenário internacional de segurança complexo, com desafios causados por mudanças geopolíticas, tecnológicas, econômicas e ambientais. A competição estratégica com a China é apresentada como o mais complexo desafio à segurança dos EUA, uma vez que aquele país teria um comportamento “coercivo e crescentemente agressivo, com o objetivo de remodelar a região do Indo-Pacífico e o Sistema Internacional, com a finalidade de adequá-los aos seus interesses”. Por sua vez, a Rússia é apresentada como a ameaça do momento, uma vez que “usa a força para mudar fronteiras, ignorando a soberania de países vizinhos, para reimpor uma esfera de influência imperial”.

Portanto, China e Rússia, nessa ordem, são apresentadas como as mais perigosas ameaças à segurança dos EUA. Na verdade, trata-se do aprofundamento da mudança de foco, que também havia ocorrido no governo Trump, o qual listou China, Rússia, Irã e Coreia do Norte como as principais ameaças, na Estratégia de Defesa divulgada à época. A mudança se detém no fato de que, até então, o terrorismo figurava, nos documentos oficiais dos EUA, como principal ameaça à segurança do país.

O documento também lista como ameaças: a Coreia do Norte, em razão de seu status de potência nuclear; o Irã, em razão de seu programa nuclear, das exportações de armas e de seu papel “desestabilizador no Oriente Médio”; além de grupos terroristas como a Al Qaeda, o ISIS e seus afiliados.

As mudanças climáticas, que são percebidas pela elevação das temperaturas médias, elevação dos níveis do mar, mudança nos regimes das chuvas e maior frequência de eventos climáticos extremos, são apresentadas como motrizes de novos conflitos, como, por exemplo, o derretimento da calota polar, no Ártico, que modifica a geoestratégia da região, aumentando a disputa interestatal naquela parte do globo.

Para enfrentar todos esses desafios, a Estratégia norte-americana apresenta uma ferramenta, a chamada “Dissuasão Integrada”. São ações destinadas a alinhar as políticas, os investimentos e as atividades do Departamento de Defesa dos EUA que sustentem e fortaleçam a dissuasão do país em relação aos seus adversários.

Essa dissuasão envolve o aprimoramento de ações em várias áreas que: neguem aos inimigos a possibilidade de conquistar territórios; aumentem a resiliência norte-americana em face de ataques adversários; e demonstrem aos inimigos que os custos de um eventual ataque serão muito superiores a eventuais benefícios. Nesse sentido, a Estratégia prevê investimentos em novas capacidades, como as de ataques a longas distâncias, sistemas de armas hipersônicas e sistemas autônomos. Ademais, priorizar-se-á o desenvolvimento dos campos espacial e cibernético, a capacidade de combater guerras irregulares, o apoio a aliados que estejam enfrentando os inimigos dos EUA, as medidas diplomáticas e as sanções econômicas.

 3. Outros documentos estratégicos

Em complemento às Estratégias de Segurança e de Defesa, os EUA também publicaram a revisão de sua postura nuclear. No documento, reafirma-se a importância da dissuasão nuclear nesse ambiente de deterioração da segurança internacional. A previsão é de que a China possua 1.000 ogivas nucleares até o final da década. Assim, segundo a avaliação norte-americana, na década de 2030, os EUA enfrentarão, pela primeira vez em sua história, duas grandes potências nucleares como concorrentes estratégicos e potenciais adversários. Isso criará novas tensões na estabilidade e novos desafios para a dissuasão, a segurança, o controle de armas e a redução de riscos.

Embora não seja considerada uma rival na mesma escala que a China e a Rússia, a Coreia do Norte também representaria uma ameaça persistente e um perigo crescente para os EUA e a região do Indo-Pacífico, à medida que expande, diversifica e aprimora suas capacidades nucleares, de mísseis balísticos e não nucleares, incluindo seu estoque de armas químicas. Uma crise ou conflito na península coreana poderia envolver vários atores com armas nucleares, aumentando o risco de um conflito mais amplo.

Ainda segundo o documento, o Irã não possui, hoje, uma arma nuclear. No entanto, as recentes atividades iranianas, anteriormente limitadas pelo acordo nuclear (JCPOA), são motivo de grande preocupação, pois são aplicáveis a um programa de armas nucleares. A política dos EUA é impedir que o Irã obtenha uma arma nuclear.

Os EUA consideram, ainda, que a aquisição de armas nucleares por outros Estados pode levar a novos desafios de dissuasão. A atual instabilidade do ambiente de segurança, incluindo as ações do Irã, da Coreia do Norte e a guerra na Ucrânia, poderia criar ou aprofundar incentivos à proliferação nuclear.

Outro anexo à Estratégia de Defesa é a Revisão de Defesa Contra Mísseis. O documento se destina a fornecer orientação ao Departamento de Defesa sobre a estratégia e política de defesa antimísseis. Segundo a análise, os adversários dos EUA estão desenvolvendo, colocando em campo e integrando capacidades aéreas e de mísseis cada vez mais avançadas. Essas capacidades aéreas e de mísseis representariam um risco crescente para o país, seus aliados e parceiros.

Em razão disso, as defesas antimísseis são consideradas críticas para impedir ataques contra os Estados Unidos. Dessa forma, o documento considera ser um imperativo estratégico continuar os investimentos e a inovação no desenvolvimento de capacidades antimísseis de amplo espectro.

Conclusão

Um aspecto da estratégia de dissuasão integrada proposta pelos EUA, em sua Estratégia de Defesa, que merece especial atenção do Brasil é a previsão de uma cerrada colaboração com “aliados e parceiros”. Nesse sentido, é interessante notar que, na Declaração de Brasília, resultante da 15ª Conferência de Ministros da Defesa das Américas, realizada em julho deste ano, os EUA fizeram constar um item que reconhece a “Dissuasão Integrada como um constructo para manter a paz e a estabilidade no Hemisfério Ocidental, priorizando a cooperação regional em todos os domínios de defesa e segurança e reduzindo barreiras em relação ao compartilhamento de informações e capacidades”. Por não ter sido alcançado um consenso sobre esse item, os Ministros da Defesa decidiram que o conceito de Dissuasão Integrada deveria ser aprofundado em estudos no âmbito da Junta Interamericana de Defesa.

Como se vê na Declaração de Brasília, os EUA tentam, por meio da aproximação com as Forças Armadas dos demais países das Américas, consubstanciada pela Dissuasão Integrada, reunir “aliados e parceiros” no enfrentamento de seus adversários. Uma vez que a China, seu principal oponente, é o principal parceiro econômico da maioria dos países da região e tem estabelecido laços cada vez mais estreitos com vários deles, fica claro que se está caminhando em um terreno particularmente espinhoso nas relações internacionais.

Os documentos de Segurança e Defesa dos EUA refletem o momento de contestação da Ordem Internacional, vigente desde o término da 2ª Guerra Mundial, reforçada pelo fim da Guerra Fria, segundo a qual os EUA ainda se apresentam como potência hegemônica. O desafio militar russo e a ascensão chinesa impõem aos norte-americanos uma série de desafios, no sentido de tentar manter sua proeminência geopolítica, sendo o que se constata com a publicação das Estratégias.

Esse tensionamento entre as grandes potências causa reflexos em todo o mundo. Na América do Sul, ele é percebido com crescente intensidade, com movimentos de ambos os oponentes para conter o adversário e atrair os sul-americanos para sua esfera de influência.

Os governos do subcontinente – e do Brasil, em especial – terão o desafio de atuar com equilíbrio, na busca por alcançar seus próprios objetivos sem abrir mão de seus princípios, mantendo a estabilidade e buscando o desenvolvimento regional, sempre com o foco nos próprios interesses nacionais e na manutenção da paz. 

Covid: a inimiga de todos os sistemas autoritários - Joschka Fischer

 Project Syndicate, Praga – 28.12.2022

COVID and the Chinese Social Contract

In response to the COVID-19 pandemic, different countries adopted different strategies, depending on their respective cultural and historical traditions. While China's top-down authoritarian strategy initially seemed effective, the regime's zero-COVID policy ultimately proved to be fatally flawed.

Joschka Fischer

 

BERLIN – In October, the Communist Party of China convened its 20th National Congress, primarily to confirm President Xi Jinping’s hold over the country’s leadership. Everything went according to his plan: the CPC’s top governing body, the Standing Committee, is now staffed only by his most devoted henchmen. With Xi having secured a third term as general secretary – and thus as president – one man now has absolute power in China for the first time since the days of Mao Zedong.

Gone is the principle of collective, term-limited leadership that Deng Xiaoping introduced following Mao’s death – a time when China was just beginning its massively successful modernization phase. Yet, as recent history shows, the return to one-man rule in a country of 1.4 billion people represents one of the greatest risks to China and its status as a rising superpower second only to the United States.

Yes, under Xi, the Chinese regime’s power has increasingly seemed unlimited and unrestricted, owing to massive investments in state-of-the-art digital mass surveillance and social control systems. Yet the CPC’s strength is not based only on all-encompassing “smart” repression. Rather, it is the result of the party’s tremendous successes in modernizing China.

Toward the end of the twentieth century, China integrated itself into the world economy, becoming its “extended workbench” and its number-one exporting country. China then leveraged this growth to develop a highly efficient mixed economy, with a growing private sector operating alongside the traditional party-controlled state sector. The results were phenomenal: China consistently recorded massive annual growth rates, lifting hundreds of millions of people (especially in the coastal regions) out of absolute poverty and into a newly emerging middle class.

As China became richer, it increased its military power and pursued more dominant positions on the technological frontier. Within the space of just a few years, its technological successes – born predominantly of the private high-tech sector – made it a serious rival to US Big Tech. For a few years in the late 2010s, it seemed to be only a matter of time before China would replace the US as the world’s largest economy and overwhelmingly dominant technological superpower.

Then came the COVID-19 outbreak in Wuhan in late 2019. Despite some Chinese authorities’ efforts to cover up the emerging epidemic, it soon became the entire world’s problem. On March 11, 2020, the World Health Organization declared the outbreak to be a pandemic, and the global economy ground to a halt as countries locked down to contain the spread of the virus.

But different countries adopted different strategies over the medium term, depending on their respective cultural and historical traditions. The open, democratic societies of the West, for example, embraced transparency and relied on voluntary self-isolation and the rapid development of effective vaccines. Three years later, their populations are now largely immunized – though many people have died.

By contrast, China relied from the beginning on draconian containment measures. Under its zero-COVID policy, every detected infection resulted in forced, closely supervised quarantines for all those affected.For a long time, this strategy seemed superior to the Western approach. China had far fewer deaths, and because it had isolated itself from the rest of the world, its domestic economy also recovered faster than those of the US and Europe. Accordingly, many around the world began to suspect that authoritarian command economies are better equipped for such crises than are the West’s messy, pluralist liberal democracies.

But this view has proved to be deeply mistaken. We now know that China’s zero-COVID policy required a suspension of the social contract between the CPC and the people. Xi seems to have overlooked the fact that today’s China – at least the large metropolises that drive the economy – is not the China of the 1960s and 1970s.

The new China simply is not suited for policies that require the authorities to shut down entire mega-cities with no notice, often locking workers in factories for weeks at a time. Moreover, owing to China’s position in the world economy, self-isolation was always going to be costly. Not only did zero-COVID create enormous disruptions in international supply chains; it also caused considerable damage to China’s own export sector.

Xi wanted to use the pandemic to demonstrate the superiority of the Chinese system over the declining West. Yet this meant that, out of nationalistic arrogance, he refused to import the vastly superior Western mRNA vaccines. With China’s huge population remaining under-vaccinated and unprotected, lifting the zero-COVID measures was bound to be risky.

But so, too, were the never-ending lockdowns. Just weeks after the 20th Party Congress, public frustration exploded across China’s large metropolises. Protesters held up sheets of white paper to decry the CPC’s censorship regime, and the “revolt of the blank sheets” spread like a bushfire. Xi had clearly overreached.

How could China’s seemingly all-powerful autocrat understand so little about the social contract on which his power rests? For all its difficulties, liberal democracy – with its transparency and self-imposed limits – has once again proved more efficient and resilient than autocracy. Accountability to the people and the rule of law is not a weakness; it is a decisive source of strength. Where Xi sees a cacophony of clashing opinions and subversive free expression, the West sees a flexible and self-correcting form of collective intelligence. The results speak for themselves.

Joschka Fischer, Germany’s foreign minister and vice chancellor from 1998 to 2005, was a leader of the German Green Party for almost 20 years.

 

A destruição quase completa da Ucrânia pelo criminoso de guerra Putin, o tirano de um Estado terrorista - Rodolfo Queiroz Laterza e Ricardo Cabral (História Militar em Debate)

 Uma análise quase completa da possível degradação militar da Ucrânia pelo estrangulamento energético e da morte provável ou nova emigração maciça da população pela paralisia econômica e social do país, o maior crime de guerra e contra a humanidade do Estado terrorista de Putin. Não é possível que Lula considere a Rússia como um interlocutor válido nas atuais circunstâncias; se o fizer, será um aliado de um criminoso de guerra.

Impossibilitado de conquistar a Ucrânia, Putin está agora empenhado em destrui-la completamente, em reduzi-la a ruínas, e a matar o seu povo. Depois de Hitler é o mais sério candidato a um Nuremberg, que infelizmente não virá.

Paulo Roberto de Almeida

Breve análise sobre os ataques de mísseis de cruzeiro e drones kamikaze ao sistema energético ucraniano



Rodolfo Queiroz Laterza¹ e Ricardo Cabral²

Introdução

A partir da mudança do comando das forças russas no teatro de operações da Ucrânia, com a assunção do General Surovikin, houve uma alteração significativa na abordagem estratégica por parte da Rússia no conflito.

Surovikin promoveu uma série de mudanças no Exército russo:  retraimento da linha de frente russa para posições mais defensáveis, reforçou as unidades em contato com os inimigos com os mobilizados recebidos dos centros de formação, organizou uma defesa móvel (blindados e tropa aeromovel) mais efetiva e com a chegada de novas unidades (recentemente formadas) promoveu o rodízio das unidades de frete. Em paralelo, reforçou a unidade de comando ampliando as ações de comando e controle sobre as unidades chechenas, de paramilitares e os destacamento de mercenários. Em seguida, procurou retomar a iniciativa com operações de forças especiais e contra-ataque aos pontos frágeis da linha de contato ucraniana. Outra mudança estratégica foi a realização de ataques seletivos à infraestrutura energética ucraniana a qual vamos abordar neste ensaio.

Os ataques a infraestrutura energética ucraniana

Através de drones kamikaze do tipo Geranium-2 (que emprega tecnologia iraniana do drone Shaheed 136 – para maior informação sobre drones iranianos, ver o artigo https://historiamilitaremdebate.com.br/o-programa-de-drones-do-ira/. Ataques da aviação estratégica de longo alcance empregando mísseis de cruzeiro Kh-101 e Kh-55, além de mísseis de cruzeiro Kalibr disparados de navios da Frota do Mar Negro, tem causado danos significativos à infraestrutura energética ucraniana prejudicando sensivelmente o funcionamento da sociedade e da economia (estimativa de queda de até 50% do PIB, somente no ano de 2022 de acordo com previsões do Banco Mundial).

https://sains.sindonews.com/read/919039/768/rusia-sukses-gunakan-drone-kamikaze-gempur-ukraina-berkat-panduan-satelit-glonass-1666347036

Em 15 de novembro de 2022, os russos deflagraram um ataque com mais de 100 mísseis. Neste ataque foram destruídos mais de 15 instalações de energia e explosões foram registradas em quase metade da Ucrânia, incluindo as regiões de Lviv, Kyiv, Rivne, Kharkiv, Zhytomyr, Chernihiv, Poltava, Cherkasy, Dnipro e Khmelnytskyi, informou a mídia ucraniana. As tentativas de Moscou de privar a Ucrânia de calor atingiram um ponto crítico, atualmente Com 7 milhões de cidadãos estão sem energia e as temperaturas noturnas estão caindo abaixo de zero. Os ataques russos, somente no mês de outubro, já tinham danificado mais de 40% da infraestrutura de energia da Ucrânia, aumentando o risco de mortes de civis quando o inverno.

A Rússia continua a infligir ataques ao sistema energético da Ucrânia, razão pela qual em várias regiões ucranianas a eletricidade é fornecida por algumas horas por dia e em algumas regiões o fornecimento de energia está interrompido. De acordo Denys Shmyhal, primeiro-ministro da Ucrânia, quase metade do sistema de energia da Ucrânia já foi desativado.

Mapa ilustrativo dos ataques russos aí sistema energético ucraniano em 22/10/2022. Fonte Ministério de Energia da Ucrânia

Hoje, o balanço energético ucraniano está claramente deslocado para as centrais nucleares, que no ano passado forneciam 55% de toda a eletricidade, seguindo-se as centrais termoelétricas e termeléricas (centrais combinadas de calor e eletricidade) que geram cerca de 30%, as centrais hidroelétricas contribuem com cerca de 7% e as fontes de energia renováveis são em torno de- 8%. 

https://aben.com.br/artigo-guerras-sao-perigosas-usinas-nucleares-muito-menos/

A maioria das usinas nucleares está localizada no oeste da Ucrânia. Essas usinas elas são o elemento mais estável em seu sistema de energia. As usinas termelétricas e a cascata da UHE Dnieper estão concentradas no centro do país. As regiões orientais são alimentadas principalmente por usinas termelétricas, altamente dependentes das reservas de carvão. As usinas hidrelétricas também são vulneráveis: para seu funcionamento estável, o nível de água nos reservatórios é crítico. A destruição de uma ou mais barragens leva a uma séria redução na quantidade de energia gerada.

É importante afirmar que até outubro de 2022, o setor de energia da Ucrânia diminuiu em mais de 30%. Zaporozhye, a maior usina nuclear do país passou a fazer parte da Rússia e foi colocada em “modo de suspensão” devido à ameaça de acidentes. Kyiv também perdeu sete das 15 usinas termelétricas localizadas na região de LPR, DPR e Zaporozhye.

Acima de tudo, de acordo com o Ministério da Energia da Ucrânia, as usinas termelétricas e usinas combinadas de calor e energia (TPPs e CHPPs) sofreram mais – os bombardeios afetaram cerca de 50% de suas capacidades. Ao mesmo tempo, as estações não afetadas pelo bombardeio assumiram a carga das danificadas, de modo que a carga de todo o sistema de energia aumentou. E por causa do aumento do trabalho das usinas hidrelétricas de Kiev e Kanev, o nível da água no Dnieper aumentou.

Além de usinas termelétricas e termelétricas, subestações com nível de tensão de 330 kV (kilovolt) se tornaram alvo do ataque russo, e objetos grandes com nível de tensão de 750 kV aparentemente não foram atingidos.

https://www.reuters.com/world/europe/russian-missiles-hit-30-ukraines-energy-infrastructure-two-days-minister-2022-10-12/

Estes ataques russos a usinas, subestações de energia e a infraestrutura energética prejudicam o fluxo de das várias classes de suprimento às FAU, degradando a logística militar ucraniana. Isso porque os ataques à infraestrutura de energia da Ucrânia não têm efeito direto no curso das hostilidades, porque todas as linhas de frente têm geradores próprios, as brigadas têm motores a gasolina-diesel. Mas sem dúvida minam o moral da tropa e da população.

Neste contexto, os engenheiros ucranianos estão empenhados em consertar danos a subestações de energia e acionar sistemas de emergência, mas a capacidade de transmissão do sistema de energia em várias regiões da Ucrânia já se esgotou e nada pode ser feito a respeito, pois os bombardeios continuam.

As ferrovias também foram seriamente afetadas: devido a grandes interrupções no fornecimento de energia, os trens elétricos pararam. As locomotivas a diesel existentes não são suficientes para remediar a situação, pois alguns trens de passageiros chegam a atrasar ​​por 14 horas, de acordo com notícias da mídia ucraniana. Vale frisar que 70% das estradas de ferro na Ucrânia são eletrificadas e 30% das estradas são tracionadas por máquinas a diesel. Em termos de densidade ferroviária, a Ucrânia era a mais saturada de todas as repúblicas da URSS, apesar de ser a mais extensa.

https://geopoliticalfutures.com/ukraines-vulnerable-power-grid/

Depois que os ataques das Forças Aerospaciais e da Marinha Russa começaram a destruição das subestações de trens, as FAU começaram a retirar esses motores a diesel, retirando-os das estradas não eletrificadas. Para transportar tropas para o leste, essas locomotivas a diesel sobressalentes são usadas ativamente no momento.

Pela primeira vez, na semana do dia 18-19/12, o Estado de Emergência foi declarado no país devido à situação do setor de energia elétrica.

O tempo de recuperação do sistema de energia indica indiretamente problemas com a precisão dos ataques russos, visto que os mísseis de cruzeiro às vezes não atingem as usinas de energia e estações de distribuição importantes, mas terrenos baldios, deixando enormes buracos. Somente isoladores e fios podem ser danificados dessa maneira, que são em média restaurados em 12 horas.

Entretanto, os ataques as unidades críticas de produção de energia, como as usinas termelétricas e hidrelétricas devem continuar no âmbito da estratégia russa de degradar progressivamente a infraestrutura ucraniana. Em nosso entendimento, o próximo alvo russo deve ser a Usina Termelétrica de Zmievskaya, haja vista ser a principal unidade de fornecimento de energia do complexo de Kharkov,  bem como um ataque à usina CHPP-3, que é responsável por alimentar as instalações industriais da região, algumas delas convertidas para o esforço de guerra ucraniano.

https://www.npr.org/2022/11/23/1138904040/russia-kyiv-ukraine-missile-strikes-cut-power-water

Um dos principais efeitos dos ataques russos no setor de energia da Ucrânia foi a transição generalizada das Forças Armadas da Ucrânia para fontes de energia de backup – geradores a diesel e gasolina. De acordo com fontes como Newsfront e Kiev Independent, a situação mais difícil é observada nas zonas de batalha, ema áreas como Bakhmut , Soledar e Marinka.

Nessas áreas, devido às hostilidades, quase não há fornecimento centralizado de eletricidade, isso é um grande problema tendo em vista que o exército russo estar usando ativamente armas pesadas, provocando um grande número de feridos graves nas FAU. Neste setor do teatro de operações os hospitais de campanha não podem fazer cirurgias mais complexas nos soldados ucranianos feridos em tempo hábil.

A escassez de energia elétrica é agravada pela necessidade da prioridade dos reparos e manutenção de rotina em equipamentos e veículos militares. Todos os geradores a diesel e a gasolina relativamente potentes estão empenhador nos centros de manutenção. Em alguns casos, esse processo é organizado perto de hospitais, onde existem sistemas autônomos de fornecimento de energia relativamente potentes de 800–1000 KVA.

Conectar centenas de consumidores a essas redes causa quebra de equipamentos médicos por sobrecarga operacional. Por exemplo, nas cidades de Konstantinovka, Druzhkovka e Toretsk, já foi registrada a falha de geladeiras para bancos de sangue e sistemas-chave de hospitais distritais e municipais, de salas de cirurgia a vestiários e elevadores, o que complica muito a recepção dos feridos de áreas especialmente perigosas.

Fonte: edição pelo próprio autor.

Na zona de operações de Yuzhno-Bakhmut, de acordo com a mídia ucraniana, desde dezembro, devido a necrotérios superlotados e equipamentos de refrigeração que não funcionavam. Em consequência, os corpos dos soldados mortos das FAU começaram a ser levados para o território do hospital psiquiátrico e edifícios do hospital de tuberculose na vizinha Toretsk para dar lugar a novos cadáveres.

Outro problema das FAU após o início dos ataques às redes elétricas (instalações de geração e linhas de energia) e a consequente escassez de energia foi com o fornecimento de combustível necessário para a operação de geradores a diesel e gasolina. No momento, as FAU estão empenhando recursos significativos na manutenção do sistema de recebimento e distribuição de combustível e lubrificantes tanto na linha de frente quanto na retaguarda.

Ao mesmo tempo, geradores comuns com potência de 3-5 kW não são adequados para consertar equipamentos em escala industrial e usinas com potência de 30 kW e acima requerem pelo menos 115-125 litros de combustível por hora. A partir de outubro de 2022, a logística das FAU não estão conseguindo fornecer as centenas de toneladas de combustível por dia necessárias para manter o ritmo de operações.

Por conta disso, as FAU tiveram que lidar com duas dificuldades: primeiro, obter o combustível necessário para o abastecimento de suas unidades; segundo distribui-la nos centros de formações de combate, divisões, brigadas e batalhões.

A degradação das capacidades logísticas tem redundado em perdas de homens e meio devido à escassez de combustível nas fileiras das FAU. As 24ª, 57ª, 30ª e 71ª Brigadas Jaeger na área de Bakhmut, a 68ª Jaeger e a 72ª Brigada Mecanizada na zona de ação Ugledar e de Pavlovka, além da 79ª Brigada em Maryinka.

https://www.thedefensepost.com/2022/09/13/nato-ukraine-winter-military-aid/

Uma situação semelhante está se desenvolvendo agora na direção de Starobelsky, onde as unidades de defesa territorial, das FAU e dos destacamentos de mercenários exigem um atendimento médico, sendo que cuidar dos feridos é uma questão cada vez mais difícil para o regime ucraniano devido à sobrecarga de toda ordem do sistema logístico.

O governo da Ucrânia pediu às pessoas em todo o país que economizem energia, e aqueles que deixaram o país, se possível, fiquem no exterior durante o inverno. Ademais, a escassez de eletricidade prejudica o trabalho das empresas industriais restantes, incluindo o reparo de equipamentos militares.

Conclusão

Em resposta aos ataques Russos, a Ucrânia, com a ajuda da OTAN, está fortalecendo seus sistemas antimísseis e de defesa aérea (ABM e defesa aérea), como mísseis Patriot, IRIS-T, Hawk e Crotale. No entanto, esses sistemas tem sido insuficientes para defender a grande quantidade de instalações sensíveis.

Na atual conjuntura, início do inverno de 2022, existe a ameaça da continuidade da destruição da infraestrutura de produção e distribuição de energia. Não se pode descartar a possibilidade de que os russos expandam seus ataques a rede de transportes, instalações industriais e centros logísticos.

Até o momento, os ataques seletivo ao setor de produção e distribuição de energia, já reduziu a capacidade ucraniana de sustentar a população e fornecer ao exército os recursos necessários para continuar a guerra, tornando ainda mais oneroso para a OTAN manter as FAU operacionais. A consequência, nós estamos observando no campo de batalha, a redução do ritmo das operações, das capacidades de combate ucranianas e da sua eficácia.

A mobilização dos recursos nacionais russos e a decretação formal de guerra, por parte do Kremlin, somado a contínua provisão de armas e assistência militar, por parte da OTAN, à Ucrânia são fatores que aumentam a possibilidade do prolongamento do conflito.

Uma trégua (sem nenhuma proposta de solução diplomática) como a proposta por Zelensky, daria tempo para a Ucrânia se rearticular em termos logísticos e muito provavelmente prosseguir lutando por mais tempo.

As tentativas de Moscou de reduzir drasticamente a capacidade ucraniana de produzir e distribui energia atingiram um ponto crítico, atualmente com 7 milhões de cidadãos sem gás ou eletricidade, em um ambiente cujas temperaturas estão caindo abaixo de zero. Os ataques russos, somente no mês de outubro, já tinham danificado mais de 40% da infraestrutura energética da Ucrânia, aumentando o risco de mortes, quando o inverno atingir seu apogeu.

No atual ritmo de degradação das capacidades nacionais ucranianas, existe uma grande probabilidade de que em breve a OTAN tenha que lidar com um país vizinho colapsado, com a economia destruída, social e politicamente instável, com setores da sociedade rancorosos e radicalizados.

Imagem de Destaque: http://www.gbnnews.com.br/2015/12/kalibr-o-missil-lancado-na-midia.html#.Y6npsRXMKM8

Autores

¹ Delegado de Polícia, Mestre em Segurança Pública, historiador, pesquisador em geopolítica e conflitos militares

² Mestre e Doutor em História Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada (PPGHC) da UFRJ, professor-colaborador e do Programa de Pós-Graduação em História Militar Brasileira (PPGHMB – lato sensu), da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO e Editor-chefe do site História Militar em Debate e da Revista Brasileira de História Militar. Website: https://historiamilitaremdebate.com.br

Fontes consultadas:

https://focus.ua/

https://www.fpri.org/

https://kyivindependent.com/home

https://jamestown.org/

https://news-front.info/

https://www.pravda.com.ua/

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Mestre em Segurança Pública, historiador, pesquisador de geopolitica e conflitos armados.

Ricardo Cabral

Professor de História formado pela UGF. Mestrado e Doutorado em História pela UFRJ. Autor de artigos sobre História Militar e Geopolítica.