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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

A China prestigia a posse de Lula, pensando em seus objetivos estratégicos- Jamil Chade (UOL)

 Não sei se o mesmo podecser dito do Brasil, nem antes, nem talvez depois. PRA

China envia delegação de mais alto nível que EUA para posse de Lula
Jamil Chade  
Colunista do UOL
29/12/2022 11h04

O governo da China decidiu enviar para a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva o vice-presidente do país, Wang Qisha, e espera que o encontro com o novo governo brasileiro garanta um "impulso" na relação estratégica entre os dois países. No total, quase 60 delegações estrangeiras desembarcam em Brasília nos próximos dias.

Disputando espaços de hegemonia com os EUA, os chineses optaram por enviar uma delegação de mais alto nível que a missão organizada pela Casa Branca. Numa coletiva de imprensa, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, explicou que Qishan liderará a delegação chinesa ao Brasil.

No caso americano, apesar da esperança de que o presidente Joe Biden ou a vicepresidente Kamala Harris estivessem presentes à posse, a escolha do governo de Washington foi pela secretária do Interior dos Estados Unidos, Deb Haaland. 

Wang, com 69 anos, foi prefeito de Pequim no auge do surto da Sars, em 2003, e liderou o comitê olímpico da cidade para os Jogos de 2008. Ele ainda foi o negociador chefe nas relações com os EUA e, recentemente, foi escolhido como vice de Xi Jinping. Entre os diferentes cargos, ele ainda liderou os esforços chineses contra a corrupção.

"A China e o Brasil são ambos grandes países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes", disse Wenbin nesta quinta-feira. "Somos os parceiros estratégicos abrangentes um do outro. Desde que os laços diplomáticos foram estabelecidos há 48 anos, as relações bilaterais têm desfrutado de um desenvolvimento sólido e estável com uma cooperação prática frutífera em vários setores. A natureza abrangente e estratégica de nossa parceria tem se tornado cada vez mais pronunciada e sua influência global está continuamente em ascensão", afirmou.

Segundo o porta-voz, a viagem do vice-presidente Wang Qishan ao Brasil como representante especial do presidente Xi Jinping "diz muito da alta importância que a China atribui ao Brasil e às nossas relações bilaterais".

"Acreditamos que esta visita dará um forte impulso à nossa parceria estratégica abrangente e a levará a novas alturas, proporcionando mais benefícios tanto para os países quanto para os povos e contribuindo para a paz, estabilidade e prosperidade regional e global", completou.

Lula já indicou que Pequim será um de seus primeiros destinos internacionais, junto com os EUA e Argentina.

Se o discurso do bolsonarismo tentou transformar a China numa espécie de vilã internacional e alvo de acusações sobre a ofensiva comunista no mundo, a realidade é que o mandato de Jair Bolsonaro termina com a relação comercial e de investimentos entre os dois países batendo todos os recordes.

Os números se contrastam com os ataques constantes do ex-chanceler Ernesto Araújo contra Pequim, desmentem os discursos do presidente contra a vacina chinesa e mostram o fracasso da estratégia adotada pelo Itamaraty nos primeiros anos do governo para minar qualquer aproximação entre Brasília e Pequim.

No governo, nos primeiros meses de 2019, a ordem era a de promover uma aproximação total aos EUA de Donald Trump e até mesmo forjar alianças diplomáticas contra o país asiático. Em reuniões da ONU, o comunismo chinês era denunciado pelo Itamaraty, enquanto o então ministro da Saúde Luis Henrique Mandetta chegou a confessar que qualquer aproximação de sua pasta com a China era minada pelo Executivo.

A realidade foi bem diferente do discurso bolsonarista. Dados do próprio governo indicaram que, até o final de novembro, a China representava 27% de toda a exportação do Brasil ao mundo.

Ou seja: de cada quatro dólares que o país obtém no mercado internacional com suas vendas, um vem da China.


quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Posse de Lula: presença internacional (Estadão)

 Posse de Lula: nova presidente do Peru e primeira-dama do México confirmam presença; veja lista

Conforme dados divulgados pela equipe de Lula cerca de 120 países estarão representados na posse, com autoridades de todos os níveis. Desses, 53 terão presentes chefes de Estado, de governo ou ministros.

BRASÍLIA - A nova presidente do Peru, Dina Boluarte, que assumiu o país andino após uma tentativa de golpe de Estado do ex-presidente Pedro Castillo, é a mais recente chefe de Estado a confirmar presença na posse de Luiz Inácio Lula da Silva, no domingo, dia 1º de janeiro. Ao todo, 20 chefes de Estado e de governo assistirão à cerimônia em Brasília.

As confirmações foram enviadas por embaixadas em Brasília, por meio de notas verbais ao Itamaraty e informadas à equipe do gabinete de transição. Ambos são responsáveis pelo cerimonial da posse.

A primeira presidente peruana assumiu o país vizinho no dia 7 de dezembro, após Castillo ter sido destituído pelo Congresso. Desde então, tenta contornar a instabilidade política interna. Ela é a sexta presidente a assumir o governo peruano desde 2016. Nenhum concluiu o mandato. Para tentar evitar o processo de impeachment, ele tentou um golpe, mas não teve apoio e acabou preso. Ela era vice-presidente de Castillo, eleita pelo partido Peru Libre, mas não apoiou as medidas de radicalização num “governo de emergência”: o fechamento do Congresso, ampla reforma no Judiciário e Ministério Público, além de toque de recolher. Na ocasião, a presidência do Peru já havia recebido um convite do Itamaraty, a pedido de Lula. Originalmente, o destinatário era Pedro Castillo.

Outro governante de esquerda na América Latina, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, não atenderá à posse. Ele comunicou que será representado pela mulher, a primeira-dama Beatriz Gutiérrez Müller, recebida em Brasília com status de chefe de Estado. Beatriz tem algo em comum com a mulher de Lula, Janja da Silva: não gosta de ser chamada pela expressão “primeira-dama”.

Também confirmou presença na posse o presidente do Togo, Faure Gnassingbé. O gabinete de transição já havia anunciado os primeiros 17 países com líderes confirmados. Todos são presidentes, à exceção do rei da Espanha, Felipe VI – e agora da primeira-dama mexicana.

Outros países decidiram enviar representantes em lugar dos chefes de Estado e de governo. A expectativa de diplomatas envolvidos nos preparativos é de que a lista não aumente muito até 1º de janeiro. A lista de precedência na posse e de posicionamento obedece à ordem de confirmações.

Conforme dados divulgados pela equipe de Lula cerca de 120 países estarão representados na posse, com autoridades de todos os níveis. Desses, 53 terão presentes chefes de Estado, de governo ou ministros.

Veja a lista países com chefes de Estado confirmados na posse de Lula:

Portugal
Argentina
Timor Leste
Cabo Verde
Alemanha
Espanha
Guiné Bissau
Colômbia
Uruguai
Equador
Angola
Bolívia
Chile
Paraguai
Guiana
Suriname
Honduras
México
Togo
Peru


sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

Posse de Lula em janeiro de 2023: presenças estrangeiras, significado e oportunidades - Paulo Roberto de Almeida

 Comentários livres sobre um evento bastante aguardado, no temor e na esperança.


Comparação entre a nova posse de Lula com posses anteriores.

O comparecimento previsto na terceira posse de Lula, em 1/01/2023, aparece como sumamente modesto, comparativamente às suas duas posses anteriores, em 2003 e 2007. Alguns chefes de Estado ou de governo de grandes países, com histórico de relações tradicionais e amistosas com o Brasil, deverão comparecer, mas o número parece bastante modesto, em face de um volume bem maior de representantes de primeiro escalão de países vizinhos, de velhas amizades africanas e talvez algumas surpresas de última hora (Maduro da Venezuela, por exemplo).

Difícil estabelecer uma comparação apenas com base na presença de altos dignitários estrangeiros – numa data aliás incômoda para todos, o primeiro dia do ano –, inclusive porque as relações internacionais estão sumamente abaladas, depois de mais de dois anos de pandemia – com recrudescimento possível em vários países – e quase um ano de uma guerra de agressão que abalou os alicerces da segurança internacional e que ameaça precipitar o mundo numa nova divisão geopolítica feita de hostilidades e de ameaças ainda mais graves do que os crimes de guerra já perpetrados por Putin na Ucrânia. 

Não se deve, portanto, esperar uma apoteose, tanto porque as condições internas ao Brasil, nos planos econômico e político, são bastante pessimistas.

Expectativa internacional com Lula de volta ao poder

Depois de quatro anos de um dirigente inepto, descortês com chefes de Estado estrangeiros, vulgar ao extremo e sobretudo incapaz de qualquer traços de governança positiva, antes caracterizada pela destruição institucional e uma verdadeira demolição da antes respeitada diplomacia brasileira, a posse de Lula vem sendo saudada com sentimento de alívio a se ter de volta um dirigente que já se distinguiu nos dois mandatos anteriores por uma enorme capacidade de se relacionar com "gregos e troianos", ou seja, capaz de dialogar com todas as grandes potências e com os mais modestos países da comunidade internacional.

As expectativas são ainda maiores em relação à questão ambiental, depois de quatro anos de antipolítica ambiental, voltada deliberadamente para a destruição dos recursos naturais, sobretudo na Amazônia, sob o comando direto de um destruidor da floresta, de um aliado de garimpeiros, madeireiros, mineradores, invasores de terras indígenas, destruidores dos biomas naturais. A grande expectativa, portanto, é com a volta do Brasil aos debates e negociações nos temas da sustentabilidade, assim como nos temas de direitos humanos e de cooperação ao desenvolvimento.

Chances do Brasil de voltar com mais força ao cenário internacional

Existem, certamente, pela força intelectual e qualidade operacional de sua diplomacia profissional, junto com o entusiasmo do chefe de Estado, já experiente, por iniciativas que tendam ao diálogo e à atenção com os países mais pobres, assim como com a desigualdade novamente crescente no mundo.

Cabe registrar, no entanto, que o cenário externo não apresenta as mesmas características positivas dos anos 2000, com crescimento da economia mundial, picos de valorização nas commodities exportadas pelo Brasil, e grande capacidade de atrair investimento pela própria dinâmica da economia brasileira, hoje bem mais modesta. O atual conflito entre o chamado Ocidente – não precisa nem explicar o que é – e as duas grandes autocracias desafiantes se apresenta talvez como um dos grandes desafios diplomáticos, inclusive por que o Brasil de Lula e o Brasil do BRICS – criado por ele, numa primeira aliança com a Rússia de Putin – aparece como aliado de um país não só agressor bárbaro de um vizinho invadido, como um violador deliberado da Carta da ONU e dos princípios mais elementares do Direito Internacional, tendo já perpetrado crimes de guerra que o qualificariam facilmente para um novo Nuremberg.


Viagens internacionais que Lula fará no começo do ano: quais benefícios ao Brasil? 

Espertamente, Lula vai buscar contrabalançar seus primeiros contatos com parceiros tradicionais na região (Argentina em primeiro lugar), assim como às grandes potências definidoras da ordem mundial: EUA, China, talvez Rússia, assim como à UE e alguns europeus comunitários. 

Ele também receberá visitas de diversos países médios com os quais concertará "diálogos estratégicos", que servem mais para retórica do que para grandes iniciativas, inclusive porque o estado das relações internacionais é o pior possível atualmente.

Como todo presidente brasileiro, vai buscar comércio externo e investimentos no Brasil, com algum sucesso relativo, pois seu governo pretende retomar diversos projetos de infraestrutura e de desenvolvimento social.


Quais as principais urgências do Brasil na área externa? 

Certamente recuperar a imagem do Brasil no exterior, a confiabilidade de sua diplomacia, retomar os projetos de integração regional – atualmente numa difícil situação de fragmentação nacional e continental em diversos países – e preparar o Brasil para sediar a COP-30, e talvez mais algumas conferências voltadas para o desenvolvimento social e a cooperação internacional (cenário pouco positivo na presente conjuntura). 

Espera-se que sua diplomacia seja menos sectária do que foi nos mandatos anteriores, quando permaneceu aliado a algumas das ditaduras mais execráveis da região e em outras partes do mundo. Não se trata de urgência, apenas de um elemento moral, que deveria ser um elemento básico da nova diplomacia, depois de quatro anos de ideologia de extrema-direita e de um ridículo antimultilateralismo.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 16/12/2022