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sábado, 29 de julho de 2023

Sobre alguns deslizes da História - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre alguns deslizes da História 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as tragédias provocadas pelos autoritários da História.

  

A tragédia presente da Ucrânia, assim como a anterior e atual do Afeganistão não foram provocadas pelo “imperialismo estadunidense”, ou pelos povos desses dois países, imersos em problemas de identidade nacional e de lenta e difícil construção de um Estado viável para uma nação fraturada por divisões internas. 

A razão principal da violência e da imensa perda de vidas humanas é a prepotência de senhores da guerra, que, sim, ainda existem e insistem na violência pura.

Aliás, tem sido assim desde a guerra de Troia, mas a Helena não tem nada a ver com a guerra total entre gregos e troianos. São as paixões e os interesses dos senhores da guerra, do ódio e da ambição, que motivam esses empreendimentos guerreiros, exclusivamente masculinos.

No caso do Talibã é primitivismo puro.

No caso de Putin, são os instintos primitivos de um mero serviçal de uma máquina totalitária que ficou frustrado com a derrocada, por auto implosão, de um império baseado na opressão e na mentira.

Até hoje os russos atribuem a derrocada e o afundamento da Grande Rússia a um personagem trágico em sua tentativa de reforma: Gorbatchov. 

Ainda não se conscientizaram que fizeram parte de um dos experimentos mais cruéis e extraordinários de toda a história da humanidade: a instalação, por acidente (mas também pelo sentido trágico da História) e o funcionamento por mais de três gerações de um regime escravista contemporâneo, em paralelo a um outro sistema similar, se não semelhante ao bolchevismo: o nazifascismo, este baseado numa suposta identidade de raça, aquele de “classe”. 

Dois irmãos siameses, ou univitelinos, e que ainda deixaram marcas duráveis em certos povos ou indivíduos.

O caso da China é diferente, mas até coerente com suas tradições seculares de um “despotismo oriental” guiado por um mandarinato recrutado com base no mérito individual. O marxismo-leninismo foi mais passageiro no caso do maoísmo e mais superficial, a despeito do leninismo burocrático do Estado atual. A racionalidade tende a predominar sobre os instintos dos dirigentes.

A História, obviamente, não é a autora dessas monstruosidades, é apenas uma espectadora das loucuras dos homens.

Não estamos tão longe assim da guerra de Troia, ou até das tribos primitivas lutando pela sua sobrevivência. 

A humanidade, no conceito civilizatório do termo, é ainda relativamente recente, talvez 50 mil anos ou mesmo o dobro. 

Ainda não tivemos tempo de domar nossos instintos, de nos civilizarmos totalmente.

O caminho é longo, como o provam os feminicídios ainda largamente disseminados em diferentes sociedades.

Desculpem a longa reflexão.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4444, 29 julho 2023, 2 p.


 

 

sábado, 23 de janeiro de 2016

Venezuela: os impasses politicos e economicos se aprofundam; o que faz o Brasil? - Janaina Figueiredo (O Globo)

Não se sabe o que pretende fazer o governo ou a diplomacia brasileira, em face dos problemas crescentes na Venezuela, com um impasse total entre a Assembleia eleita democraticamente e os dois outros poderes, dominados pelo chavismo e até agora apoiados pelos militares.
Argentina deveria assumir o protagonismo diplomático para tentar resolver os impasses.
Depois do golpe contra o governo Chávez, em 2002, o Brasil dos companheiros, ainda que explicitamente favorável ao governo chavista, liderou um esforço de pacificação, chamado "Amigos da Venezuela" (que era majoritariamente de amigos do Chávez).
E agora, o que se faz?
Aparentemente nada...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília 23 de janeiro de 2016

Rejeição a decreto aprofunda embate entre chavismo e Legislativo
POR JANAÍNA FIGUEIREDO, CORRESPONDENTE
O Globo, 23/01/2016 7:00 / atualizado 23/01/2016 7:00

Maduro fica sem opção na Assembleia para aprovar emergência econômica

BUENOS AIRES - Depois de uma semana de forte tensão e troca de acusações entre Executivo e Legislativo, a bancada majoritária da oposição na Assembleia Nacional (AN) da Venezuela rejeitou ontem, por 107 votos contra 53, o decreto de emergência econômica enviado há uma semana pelo presidente Nicolás Maduro. No debate prévio à votação, congressistas do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) acusaram a Mesa de Unidade Democrática (MUD) de “estar virando as costas para o país”. Deputados opositores reiteraram que o polêmico decreto daria “amplos poderes ao presidente para, até mesmo, expropriar empresas” e denunciaram o que consideram uma “armadilha” do governo Maduro “para tentar transferir a responsabilidade da crise”.
Já durante a semana, quando as mais altas autoridades da AN anteciparam a rejeição do decreto, o chefe de Estado assegurou lamentar muito “este giro negativo, muito negativo, que tem mais a ver com outros planos e não com os que possam permitir sair desta situação”. O governo chegou a consultar antecipadamente o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que decidiu pela constitucionalidade do decreto. A maioria opositora na AN, entretanto, avisou que a prerrogativa de aprovar ou rejeitar a medida é do Legislativo, abrindo caminho a um novo embate também com o Judiciário, controlado pelos chavistas.

— Criar um novo confronto seria um erro por parte do governo, a última coisa de que precisamos neste momento é de confronto. Nós estamos dispostos a dialogar e fizemos uma série de propostas ao Executivo — disse ao GLOBO o deputado da MUD Elias Mata, que integrou a comissão parlamentar de avaliação do decreto.
O presidente da comissão, deputado José Guerra, defendeu ontem a necessidade de “ter uma nova política fiscal e, principalmente, de fazer um esforço conjunto para ter um novo modelo de país, um modelo de progresso”.
— Este governo nos colocou num atoleiro e hoje está desnorteado, não sabe o que fazer com o país — afirmou Guerra. — Seria irresponsável aceitar um decreto desta magnitude às cegas, amputaríamos as competências da AN. Quem passou por uma faculdade de Economia não pode redigir um documento como esse.

Em seu relatório entregue ao Legislativo, a comissão comandada pelo deputado deixou claro que o decreto não podia obter sinal verde por várias razões: implicaria a anulação das funções do Parlamento; não protege o gasto social; omite causas centrais da crise econômica, como o modelo cambial; deixa espaço para gastos descontrolados do governo; e não garante a estabilidade da moeda.
— A rejeição do decreto não deveria gerar um conflito, já que a Assembleia está usando suas competências constitucionais e foi dada ao governo a possibilidade de explicar o decreto, algo que o Executivo não fez — disse o deputado da MUD Enrique Márquez.

Com um resultado que era esperado, a minoria parlamentar do PSUV, autoproclamada “bancada patriótica”, aproveitou o debate para insistir num ponto central do discurso chavista: acusar a oposição de não querer colaborar com o governo para superar a crise.
— Ninguém duvida de que estamos atravessando uma emergência econômica, e vocês, como oposição, devem decidir que atitude tomam. Estão contrariando as ações de um governo que pretendem derrubar num prazo de seis meses, como disse próprio o presidente da AN, Henry Ramos Allup — criticou o deputado Héctor Rodríguez, líder do bloco.
Em meio a aplausos de seus colegas de bancada, Rodríguez disse que a oposição venezuelana “deve optar entre estar a favor ou contra o povo venezuelano”. Para os congressistas do PSUV, ontem a MUD “virou as costas para o país”.
As acusações foram rebatidas por vários deputados da oposição, entre eles Omar Barboza, que insistiu na “armadilha de Maduro para tentar se livrar da culpa de uma crise que foi provocada por seu governo”.
— Por que o governo não decretou a emergência econômica antes, quando tinha maioria parlamentar? Por que não discutiu o decreto com a nova AN, sabendo que já não tinha maioria? Vejo muito cálculo político em tudo isso — alfinetou Barboza.
A oposição deixou claro que não vai abrir mão de suas faculdades constitucionais e pediu ao Palácio de Miraflores a negociação de um “pacto para respeitar as atribuições constitucionais de cada um dos Poderes que existe no país”.

A Venezuela viverá um conflito permanente de Poderes que poderia incluir, até mesmo, uma tentativa da Assembleia Nacional (AN) de destituir ministros do governo do presidente Nicolás Maduro. Essa é a avaliação de Luis Vicente León, diretor da empresa de consultoria Datanálisis, que ainda vê o chefe de Estado “com poder político suficiente para permanecer no Palácio de Miraflores”.

A oposição acusou o governo de enviar o decreto de emergência sabendo que seria rechaçado para, assim, poder culpar a Mesa de Unidade Democrática (MUD) pela crise...
Isso está bastante claro. A aprovação do decreto era praticamente impossível. Teria permitido o uso de créditos e recursos do Estado sem controle; a intervenção de empresas privadas sem passar pela Justiça; e até mesmo a implementação de confiscos.
O que vai acontecer agora?
Acho que o governo adotará as mesmas medidas que pretendia aplicar com o decreto, mas sem ele.
Mas isso seria legal?
O governo pode usar o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) para obter a aprovação. Legal não é, porque o decreto foi rechaçado pela AN. Mas na Venezuela de hoje assim é como se governa. Maduro dirá que a oposição é culpada pelo agravamento da crise e isso vai ajudá-lo a unificar o chavismo e confundir setores independentes.
Haverá um choque de Poderes permanente?
Sim. O governo vai continuar usando o TSJ para boicotar a AN.
E a oposição avançará com seu plano de buscar uma maneira de tirar Maduro do poder?
A oposição já disse que vai buscar os mecanismos para tirar Maduro nos próximos seis meses. Mas não está claro se conseguirá isso. O presidente ainda tem poder político para permanecer. Ele controla o TSJ, tem dinheiro, o apoio dos militares, de meios de comunicação...
Qual poderia ser o próximo conflito de Poderes?
A AN poderia pedir o impeachment dos ministros da equipe econômica. Com a maioria qualificada, a MUD pode fazer isso. E o governo pode apelar ao TSJ para impedir uma ação desse tipo. As tensões serão cada vez maiores.


sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Tiranos podem ser lideres eficientes? Ou apenas senhores da guerra? - Book review (Jessica L. P. Weeks)

Um livro interessante, mas que padece, como muitas outras obras de cientistas políticos americanos, dessa mania de querer modelizar, estilizar todos os tipos de eventos e processos históricos, criando categorias ou tipos-ideais de "tiranos" enquanto líderes políticos ou militares, e seu sucesso relativo em sua tirania.
Acho interessante que se estudem os tiranos da História, e os regimes autoritários, de modo geral, mas eu seria mais circunspecto quanto a essa mania de modelizar a história para encaixar os exemplos concretos disponíveis numa determinada categoria estanque, numa célula do modelo formal, para encaixar tudo bonitinho.
A História é muito mais caótica e imprevisível do que isso, mas esse tipo de exercício não deixa de ter sua utilidade para os estudiosos acadêmicos, e apenas para eles.
Nós, os cidadãos comuns, queremos apenas entender, e eventualmente impedir, que o mesmo aconteça com o nosso país.
Por exemplo, os "tiranos potenciais" que comandam o Brasil desde 2003: não tenho nenhuma dúvida de que são peronistas de botequim, mas se fossem outras as circunstâncias e as condições, estariam se comportando como esses caudilhos do Caribe, como os fascistas de Mussolini, como os nazistas de Hitler, nas suas tentativas de tomar o poder (vários conseguiram), e de levar suas respectivas sociedades para o desastre humano, político e social que sempre constroem.
No caso do Brasil, o que temos são mafiosos travestidos em líderes políticos.
Vale a leitura do livro aqui apenas resenhado.
Paulo Roberto de Almeida

H-Net
Greetings Paulo Almeida,
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Table of Contents

McKoy on Weeks, 'Dictators at War and Peace' [review]
by System Administrator

Jessica L. P. Weeks. Dictators at War and Peace. Cornell Studies in Security Affairs Series. Ithaca: Cornell University Press, 2014. 264 pp. $24.95 (paper), ISBN 978-0-8014-7982-3; $75.00 (cloth), ISBN 978-0-8014-5296-3.

Reviewed by Michael McKoy (Wheaton College)
Published on H-Diplo (September, 2015)
Commissioned by Seth Offenbach

Western victory in the Cold War produced a flood of triumphalist literature on Western liberal-democratic exceptionalism. American social scientists produced a myriad of arguments and hypotheses explaining how and why liberal democracies outlasted and triumphed over its ideological competitors. Authoritarian regimes, in turn, were cast as mere foils and given little analytical attention. However, in the past decade, as nascent democracies stumbled, authoritarian regimes persisted, and Chinese and Iranian ascent threatened US hegemony, political scientists have begun to give authoritarian politics more attention.

Dictators at War and Peace by Jessica L. P. Weeks is one of the most significant contributions to this literature. Weeks argues that not all authoritarians are created equal, and this difference affects their likelihood of initiating and winning military conflicts. Building on research from Barbara Geddes and Brian Lai and Dan Slater, Weeks organizes a typology for authoritarian regimes, categorizing them as either “machines” (civilian leaders constrained by civilian elites), “juntas” (military leaders constrained by military elites), “bosses” (unconstrained civilian leaders), or “strongmen” (unconstrained military leaders).[1] She develops a meticulous questionnaire to ascertain a regime’s type, asking about the military affiliation of the leader and governing elites (militarism), and whether the leader controlled political appointments or created loyalist security institutions (constraints). Weeks argues that machines and juntas are less likely to start international conflicts than bosses and strongmen, because leaders in machines and juntas will face greater domestic punishment for failure, and bosses (e.g., Saddam Hussein) and strongmen (e.g., Muammar Qaddafi) are likely to be more aggressive and risk-prone, given the qualities necessary to become an absolute ruler in the first place. Weeks further hypothesizes that this should make constrained authoritarians more militarily successful than absolute dictators, because they are more prudent about the wars they choose to fight. Thus, while China (machine regime) might pose a greater military threat to its neighbors, it is North Korea (boss regime) that may pose the bigger threat,  because it is more likely to fight ... but also more likely to lose.

Furthermore, between machines and juntas, Weeks expects juntas to be more aggressive, because military leaders are selected and acculturated to value force and distrust diplomacy, while civilians are likely more wary of conflict and amenable to diplomacy. This makes juntas less selective in the military conflicts than machines and thus less successful in wars. Indeed, Weeks ultimately posits that machines should be just as conflict-averse and militarily successful as stable democracies. As long as the civilian leader is accountable to a conflict-averse audience, s/he is likely to be more mindful about getting involved in foreign adventures. This flies in the face of much of the democratic exceptionalism literature of the post-Cold War era.[2]

Weeks’s statistical results bear this out, showing machines to be just as conflict-averse and militarily successful as stable democracies. (Regimes undergoing transitions are counted as “others.”) Bosses and strongmen are much more conflict-prone and militarily unsuccessful, with bosses losing 56 percent of their wars and strongmen losing 73 percent versus machines and democracies losing 25 percent and 28 percent, respectively, from 1921 to 2007 (p. 61). The results for juntas are more mixed and less clear, largely due to the limited number of them in the past century. Weeks does an excellent job explaining the statistical results in accessible terms, but the mechanics will likely be difficult for non-statisticians. She also controls for other factors known to explain conflict initiation and success—capabilities, alliances, and geographic contiguity, among others—along with testing the possibility that involvement in conflicts may instead encourage dictatorial consolidation. She finds that none of these are significant factors, though it would have been helpful for her to consider this reverse causality in the subsequent case studies.

Weeks complements her statistical analysis with several in-depth case studies. The cases include wars involving Argentina (democracy/junta), Iraq (boss), Japan (machine/junta), the Soviet Union (boss/machine), and Vietnam (machine). All are well researched and well written, and they largely establish the effect regime type can have on military performance. However, the cases vary in how well they test the causal connection between regime type and war initiation. The Argentina and Japan cases are the strongest in this regard. Weeks effectively demonstrates that their transitions from a democracy and machine, respectively, to junta regimes increased their faith that military action would overcome diplomatic impasses. She also successfully challenges the long-standing argument that Argentina’s initiation of the Falklands/Malvinas war was a diversionary strategy, and instead argues that the military leadership’s genuine belief in the efficacy of force—a belief not shared by the previous democratic regime—was determinative. Likewise, Japanese civilian elites in the 1930s were wary of risky foreign adventures, but were eventually overruled and overthrown by the military, who led Japan into war first against China and then the United States. These cases clearly demonstrate the effect regime type had on foreign policy.

Weeks is less successful in demonstrating that the Soviet transition from the Stalinist boss regime to the post-Stalinist machine regimes increased Soviet aggressiveness and military incompetence. Of the four Soviet-initiated invasions from Josef Stalin to Mikhail Gorbachev—against Finland, Hungary, Czechoslovakia, and Afghanistan—all but one occurred under collective leadership. Moreover, under Leonid Brezhnev, whom Weeks lauds as leading the most collectively oriented Soviet regime, Moscow issued the Brezhnev Doctrine, declaring its right to intervene in any socialist country. The Brezhnev regime then followed through by invading Afghanistan in 1979, initiating the Soviet Union’s longest foreign military conflict. Quite surprisingly, Weeks does not examine this war in much detail, explaining that “the Soviets interceded at the invitation of the Afghan government” (p. 166). Yet this was clearly an engineered invitation, and even if not, the Soviet invasion, escalation, and subsequent debacle run directly counter to Weeks’s arguments about military initiation and performance. This would have been an ideal least-likely case for Weeks to better elaborate on her causal mechanisms, but this may be left for future scholars to consider.

In contrast to the other cases, the Vietnam and Iraq cases include no variation in either regime type or war initiation/performance. This is less problematic in the Vietnam case, because Weeks notes that General Secretary Le Duan preferred a more aggressive approach toward South Vietnam earlier than others in the government. This suggests a counterfactual that had Le Duan been less constrained, he may have initiated a direct confrontation sooner. The Iraq case, however, has a difficult time fully testing the connection between regime type and conflict initiation. In an earlier chapter, Weeks references Giacomo Chiozza and Hein Goemans’s argument in Leaders and International Conflict (2011) that vulnerability to harsh domestic punishment makes leaders more likely to “gamble for survival” by engaging in risky foreign adventures (p. 74), as opposed to her argument that invulnerability makes leaders more risk-prone. While she tests Chiozza and Goemans’s argument in the junta cases and convincingly rejects it, she does not apply it to the Iraq case. Yet the vulnerability argument is a plausible alternative explanation for the foreign policy of Iraq under Saddam Hussein. Arguably, Saddam’s decision to invade Kuwait was motivated more by fear than greed. Saddam’s absolute rule required paying rents to critical domestic constituencies; Kuwait’s over-pumping and slant-drilling drove down Iraq’s oil revenues, threatening Saddam’s hold on power. In addition, invading Kuwait allowed Saddam to redirect his battle-hardened and increasingly disgruntled majority-Shi’a army elsewhere. Fear of domestic punishment also offers an alternative explanation of his refusal to withdraw. Saddam justifiably feared revolt, which later came to pass. Weeks acknowledges that there were grumblings among the Sunni generals about a coup as the crisis escalated. The Shi’a and Kurdish uprisings may in fact have saved Saddam, as they rallied the military and Sunni population behind Saddam, who under different circumstances may have overthrown him themselves.

These critiques do not detract from Weeks’s extraordinary contribution. Rather, they provide fruitful avenues for future research in an important and still developing research area. Weeks’s typology and analysis have laid the foundation for understanding the diversity of authoritarian international politics, and Dictators at War and Peace will undoubtedly become the standard for such analysis. Weeks concludes with a brief but very insightful discussion of the policy implications of this authoritarian diversity. Among them is a recommendation to foreign leaders to engage in direct, face-to-face diplomacy with bosses and strongmen, in order to more effectively communicate both threats and assurances. She reasonably worries that sycophantic underlings may water down foreign communications, particularly threats, to appeal to their leaders’ existing views. Face-to-face interactions may do a better job of convincing unconstrained dictators that while they may face little domestic punishment for dangerous behavior, there will be severe foreign consequences. It is good advice for a world that is unlikely to be rid of authoritarian governance for the foreseeable future, if ever.

Notes
[1]. Barbara Geddes, “What Do We Know about Democratization after Twenty Years?” Annual Review of Political Science 2, no. 1 (1999): 115-144; and Brian Lai and Dan Slater, “Institutions of the Offensive: Domestic Sources of Dispute Initiation in Authoritarian Regimes, 1950-1992,” American Journal of Political Science 50, no. 1 (January 2006): 113-126. Weeks borrows her terminology from Lai and Slater but develops different hypotheses regarding international behavior.

[2]. For a survey, see Michael Brown, Owen Coté, Sean Lynne-Jones, and Steven Miller, eds., Do Democracies Win Their Wars? (Boston, MA: MIT Press, 2011).

Printable Version: http://www.h-net.org/reviews/showpdf.php?id=44347

Citation: Michael McKoy. Review of Weeks, Jessica L. P., Dictators at War and Peace. H-Diplo, H-Net Reviews. September, 2015.
URL: http://www.h-net.org/reviews/showrev.php?id=44347

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terça-feira, 22 de julho de 2014

Atencao pessoal: sem sorrisos no dia 8 de julho: Kim Jong-un ordenou

Só a simples ideia de proibir o riso num dia determinado já incita ao riso, desopilante em alguns casis.
Mas atenção, se vc for visitar a RPDC nesse dia não tente sorrir ou fazer piada com essa ideia, pois vc pode ir parar num dos muitos Gulags desse ditadorzinho ridículo, o que não seria piada...
Paulo Roberto de Almeida 

O dia em que é proibido dar risada

Ditador norte-coreano Kim Jong-un visita um centro de cultivo de cogumelos e sorri
No dia 8 de julho é proibido sorrir na Coreia do Norte. Isso mesmo, por mais surreal que possa soar, a risada é vetada neste dia. O motivo é que este dia marca a morte de Kim Il-sung, o fundador do país, avô do atual ditador Kim Jong-un. O decreto existe desde 1994 e proíbe sorrir, levantar a voz na rua, beber álcool e dançar porque todo o país está de luto. Neste dia, a rede de televisão estatal norte-coreana dedica o dia transmitindo a solene – e chata – cerimônia oficial em homenagem ao 'presidente eterno'.



segunda-feira, 5 de março de 2012

Ditadores: grudai no poder (e nao largai, mas alguem pode derrubar...)

A revista Economist é sempre muito precisa quanto aos números, mas de uma metodologia toda inglesa. A Venezuela, por exemplo, trocou muito até 1999; se dependesse do Chávez, agora, ele ficaria até 2030. Não é por vontade própria que ele ficará menos...
Paulo Roberto de Almeida 
Daily chart

Staying power

Mar 5th 2012, 17:12 by The Economist online
How long leaders stay in office in different countries
OMAN’s name is thought to derive from a word meaning “a man residing permanently in the homeland"—but "presiding” might be more apt. Since 1945, the starting point for our analysis, the sultanate has only had two rulers, making it the country with the lowest turnover of leaders in the world. Countries in the Middle East tend to hold on to their leaders longer than anywhere else (a little over eight years on average). Africa comes next at more than seven years. Latin America, cursed for decades by coups, has in a more democratic era maintained its tendency to swap rulers every four years or so. Europeans tire of their leaders quicker than any other region, in part due to a general predominance of prime ministers over presidents, but also to power-sharing arrangements in countries like Switzerland. Our methodology, however, looks at individuals rather than terms, so does not fully account for the variations of revolving-door presidencies like that of Russia under Vladimir Putin.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Nao se fazem mais Honoris Causa como antigamente: Ahmadineyad nomeado “doctor honoris causa” na Universidade de Havana


Antigamente, não nos tempos da brilhantina, mas em tempos normais de excelência acadêmica, os agraciados com prêmios Honoris Causa por universidades nacionais tinham, de fato e de direito, uma extensa folha de contribuições à causa da ciência, da tecnologia, dos direitos humanos, da pesquisa comprometida com os grandes problemas da humanidade, voltada para o benefício do maior número e do progresso material e espiritual dos povos.
Aparentemente, a julgar por certos prêmios concedidos a políticos nos últimos tempos, qualquer populista e demagogo acaba recebendo a distinção de reitores (ou presidentes) de universidades por razões totalmente políticas, ideológicas até, desmerecendo o título e até a universidade. Isso diz muito sobre o crescente processo de mediocrização de certas universidades, sobre o caráter de certos dirigentes universitários, sobre o crescimento do sectarismo político nesses meios, ou até sobre a manipulação vergonhosa de uma instituição que já conheceu melhores dias.
Que a Universidade de Havana o faça em relação ao presidente do Irã, isso apenas testemunha de seu total servilismo em relação ao poder político do Partido Comunista Cubano, um dos últimos partidos stalinistas, junto com o da Coreia do Norte, do planeta, num dos dois únicos países que ainda pretende manter uma vergonhosa e inaceitável ditadura totalitária, quando até mesmo ex-totalitários reciclados na economia de mercado já caminham para algumas demonstrações formais de democracia de fachada.

“Durante su paso por Cuba, el presidente iraní Mahmoud Ahmadineyad fue nominado “doctor honoris causa” en ciencias políticas por la Universidad de La Habana. Probablemente éste haya sido uno de los mayores logros de su rápida gira por cuatro países latinoamericanos: Venezuela, Nicaragua, Cuba y Ecuador, marcada más por la contundencia de las declaraciones contra EEUU y el capitalismo que por los éxitos cosechados…”

sábado, 14 de janeiro de 2012

Ditadores sao politicos, tremendamente politicos - Bruce Bueno de Mesquita (Veja)


Aprenda a ser um ditador
Veja, 14/01/2012
Para os cientistas políticos americanos Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith, a política "nada mais é do que um jogo praticado pelos governantes". No livro que acabam de lançar, The Dictator's Handbook (O Manual do Ditador), eles afirmam que o interesse pessoal, e não o bem comum, é o motor principal das ações de um governante. E que o papel das ideologias é muito menos relevante do que se costuma pensar. Confira a entrevista de Mesquita ao site de VEJA.

Política

Cientista político americano cria manual para ditadores

Autor de 'The Dictator's Handbook', Bruce Bueno de Mesquita diz que o interesse pessoal, e não o bem comum, é o que move um governante

Carlos Graieb
Bruce Bueno de Mesquita, cientista político, professor da Universidade de Nova York
Bruce Bueno de Mesquita, cientista político, professor da Universidade de Nova York (Leigh Bureau/Divulgação)
Xadrez, dizia o humorista Millôr Fernandes, nada mais é do que "um jogo chinês que ensina a jogar xadrez". Da mesma forma, para os cientistas políticos americanos Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith a política "nada mais é do que um jogo praticado pelos governantes". Há 20 anos, os dois vêm usando as ferramentas da estatística, do cálculo e da teoria dos jogos para registrar os padrões de comportamento e - em uma palavra - as regras que comandam a conquista e o exercício do poder. Autores de alguns tijolões acadêmicos, eles acabam de publicar um volume dirigido aos leigos para expor os seus achados. O título é provocador: The Dictator's  Handbook (O Manual do Ditador). Segundo o livro, quem deseja entender - ou mesmo prever - as ações de um dirigente em qualquer tipo de organização, inclusive as empresas, deve ter em mente uns poucos fatos. Primeiro, que o interesse pessoal, e não o bem comum, é mesmo o motor principal das ações de um governante, e deixar de levar isso em conta conduz a conclusões equivocadas. Em segundo lugar, que o papel das ideologias é muito menos relevante do que se costuma pensar, ao passo que fatos em geral pouco realçados pelos analistas - o tamanho do eleitorado que permite a um líder chegar ao poder, e o tamanho da coalizão que lhe permite exercê-lo - são na verdade a chave para desvendar quase todos os segredos da política. "Não é errado dizer que nossa abordagem resulta num retrato cínico, ou seja, sem ilusões, da realidade", diz Bueno de Mesquita. "Mas testamos nossas hipóteses há muito tempo, e acreditamos ter formulado o núcleo de uma teoria geral da política." Leia a seguir trechos da entrevista que o professor da Universidade de Nova York concedeu ao site de VEJA.
 
Como alguém pode tornar-se um ditador? Em primeiro lugar, ninguém, nem mesmo os maiores tiranos, tem poder absoluto, a ponto de não depender de um certo número de apoiadores. O tamanho desse grupo, que chamamos no livro de coalizão vencedora, é o principal fator que distingue os regimes fechados dos regimes abertos. Se o grupo de pessoas de quem você depende para se manter no poder for pequeno, então lhe será possível - e na verdade bem mais eficaz - governar oferecendo recompensas somente a quem interessa, praticando e aceitando a corrupção. Quanto maior for esse grupo, mais difícil será "comprar" todos os que podem influir no seu futuro político, e então começa a fazer sentido para você investir em políticas públicas. Essa é a verdade fundamental - mas há uma poucas regras complementares que os aspirantes a ditador precisam ter em mente. (Consulte a lista abaixo para conhecer os cinco mandamentos do Manual dos Ditadores)
 
Onde as pessoas mais erram ao pensar sobre política? Ao escolher um governante por causa de suas belas palavras, de suas "qualidades" pessoais, de suas idiossincrasias.
Quem entra no jogo da política está preocupado, antes de mais nada, com sua própria sobrevivência e com seu próprio bem estar, mais do que com o bem estar das pessoas a quem representa. Por isso o mais importante são as instituições. Quando as instituições determinam que o governante precisa do apoio de muitos não só para chegar, mas também para manter-se no poder, então aumentam as chances de que políticas que beneficiam a todos sejam implementadas. Os regimes democráticos também têm as suas falhas. Quanto mais democrático um país, mais imediatistas serão os seus líderes, pois o “longo prazo” é apenas a próxima eleição. Mas isso não elimina o fato básico de que, nas democracias, é do interesse do líder escolher o que também é melhor para as pessoas. É o empuxo das instituições que nos permite ser otimistas em política, e não a bondade dos candidatos a um cargo público.
 
Esse não é um modo um tanto cínico de olhar a "natureza humana"? Ah, com certeza. Mas veja que eu ainda pude falar em otimismo. E o fato de os pressupostos da teoria serem "cínicos" não a torna menos verdadeira. Já usamos ferramentas analíticas há 20 anos para provar que ela faz sentido. Usando cálculo e estatística testamos quase todas as partes da teoria em inúmeros países, no mínimo com dados dos últimos vinte anos, e sempre que possível retrocedendo a vários séculos. Nós aplicamos nossas idéias a Roma, à Grécia, aos povos da Bíblia - e as coisas se encaixam. Usamos cálculo para identificar quais são os níveis ótimos de cobrança de impostos, oferta de bens públicos como educação e saúde, tolerância à corrupção e clientelismo, e assim por diante, levando em conta nossos fatores básicos, como o tamanho do eleitorado e da coalizão vencedora. 
 
O Brasil discute atualmente a mudança em seu sistema de votação. Qual a influência dos sistemas de voto na vida de um país? Grande. O voto proporcional, por exemplo, leva à existência de muitos partidos, o que pode dar poder desproporcional a legendas pequenas, das quais pode depender a formação de uma maioria. Vemos isso o tempo todo em Israel, onde partidos religiosos nanicos obrigam quem quer que esteja no poder a levar em conta suas demandas. Por isso é tão difícil, por exemplo,  barrar os assentamentos em territórios ocupados e fazer avanços significativos na direção da paz com os Palestinos. O voto distrital tem efeitos inversos. A longo prazo, costuma levar a um sistema bipartidário. Por isso é, sim, importante, discutir sistemas de votação - embora nenhum deles seja imune a defeitos e manipulações. Gosto de citar o caso da Tanzânia, um país que realiza eleições livres, regulares e limpas - que sempre têm o mesmo partido, o CCM, como vencedor. Isso acontece porque a Tanzânia tem 17 partidos políticos, todos alimentados com recursos públicos. Nesse cenário de fragmentação, o CCM consegue vencer com uma proporção relativamente baixa de votos - e ainda pode direcionar dinheiro para os partidos que resolvam fazer parte da sua coalizão. Creio que algo parecido está prestes a acontecer no Egito. A Irmandade Muçulmana, cuja representatividade é de aproximadamente 20% da população, parece ter descoberto o segredo dos sistemas eleitorais – ou seja, que há fórmulas de votação que lhe permitirão tomar conta do poder sem que para isso tenham de recorrer aos mecanismos clássicos de uma ditadura.
 
O ano de 2011 foi ruim para muitos ditadores. Por que Kadafi, por exemplo, caiu? Por que, nos nossos termos "cínicos",  foi ingênuo e cometeu erros. Em 2005 a Freedom House, uma organização que monitora as liberdades civis no mundo, pôs a Líbia no fim do seu ranking de liberdade de imprensa entre os países da mesma região. Em 2010, a situação havia se invertido: só o Egito tinha uma imprensa mais livre na vizinhança. Isso permitiu que as pessoas se organizassem. Em segundo lugar, os líbios têm, em média, dois anos mais de escolaridade do que seus vizinhos. Kadafi educou sua população mais do que seria prudente para os seus próprios interesses. Em terceiro lugar, ele tentou mudar sua imagem nos últimos seis ou sete anos, reduzindo o nível de opressão política. Ele permitiu que as pessoas se organizassem e reduziu o custo de se opor ao governo. São erros graves! E deu no que deu.
 
Bashir al Assad, da Síria, conseguirá se manter no poder? Dificilmente. O seu problema é clássico. Como tantos ditadores, ele depauperou a economia do país e agora está sem dinheiro para comprar a lealdade do exército. Ele ganhou tempo porque recebeu recursos do Irã, do Iraque e da Venezuela. Foram cinco bilhões de dólares dos dois primeiros países, além de promessas de comércio ampliado em 2012, e investimentos venezuelanos numa refinaria de petróleo. Essa injeção de dinheiro permitiu que Assad continuasse a pagar os militares e lhe deu alento num cenário de rebelião. O problema é que Irã, Iraque e Venezuela têm sérias crises internas e dificilmente vão manter a ajuda a Assad. Se o fluxo de dinheiro cessar, as defecções no regime, que já vêm acontecendo, vão ganhar impulso. Assad está encalacrado. Se tentar fazer reformas profundas para aplacar as ruas, seu apoiadores diretos vão querer matá-lo – pois o dinheiro sairá do bolso deles. Assim, o mais provável é que ele esteja engordando uma conta secreta na Suíça e estudando a sua melhor rota de fuga.
 
O que a sucessão na Coreia do Norte ensina sobre as ditaduras? Assim como os reis descobriram no passado as virtudes – para si próprios – dos sistemas dinásticos, os ditadores descobriram a lógica da hereditariedade. A chave para a sobrevivência de um regime ditatorial num momento de transição é, literalmente, a chave do cofre. O sucessor precisa saber onde está o dinheiro para comprar sustentação ao seu mando (entre os militares em primeiro lugar). A transição hereditária reduz muito esse problema. Não há dúvida de que Kim Jong Il informou Kim Jong Un sobre onde estava o dinheiro – ou seja, deu-lhe de mão beijada a ferramenta indispensável para manter a lealdade de uma coalizão que, de outra forma, poderia querer derrubá-lo. O mesmo ocorreu na Síria. A lição é que “ditaduras dinásticas” são uma das maneiras mais eficientes de perpetuar um regime.
 
Há quem elogie ditaduras como a de Fidel Castro por suas políticas de saúde ou educação. Isso faz algum sentido? Não, isso não faz sentido. Quanto mais longa uma ditadura, maior será a erosão dos indicadores sociais. Sim, é verdade que Cuba tem hoje em dia taxas baixas de mortalidade infantil. O "problema" é que em números absolutos  as taxas de mortalidade melhoraram em quase todos os países do mundo nas últimas décadas, dados os avanços na área da medicina. E quando você vai consultar as estatísticas, percebe que antes de Castro a situação relativa de Cuba era muito melhor - o país estava à frente da França e da Bélgica nesse quesito – e hoje está muito atrás. Falemos agora de educação. A taxa de alfabetização de Cuba, como a da Coreia do Norte, está próxima de 100%. Mas por que um ditador não quereria uma população  alfabetizada? As pessoas precisam saber ler instruções. Quando falamos de política educacional, o que precisa ser observado são os dados do ensino médio e superior. Há vários rankings de universidades internacionais. Se você os analisar, verá que Cuba não consta deles. Na verdade, os únicos países não-democráticos que têm universidades entre as melhores 200 do mundo são China e Singapura. E são pouquíssimas universidades chinesas – se não me engano, só 3. A Rússia, com toda a sua notável tradição cultural, não tem nenhuma universidade nesses rankings. Essa foi a herança do regime soviético. Por que o que os ditadores não querem são pessoas capazes de produzir conhecimento independentemente. Existe essa mitologia sobre o regime de Castro. Mas pesquise os dados reais e você verá que, comparativamente, a população estava melhor antes dele. Isso não é ideologia, não é propaganda. São estatísticas da ONU.
 
Para que serve o jargão da esquerda e da direita, das ideologias? Para as pessoas se orientarem na leitura dos jornais, mas não para explicar a realidade. Veja a campanha presidencial americana. Os republicanos falam de mercado livre e governo limitado, democratas falam de seguridade social e mais impostos, e assim por diante. Olho para essa conversa e penso: os republicanos querem cortar benefícios daqueles que, inconvenientemente, votam nos democratas, e vice-versa. Um político quer tirar recompensas de quem se opõe a ele, e dá-las a quem o apoia. Não precisamos de ideologia para explicar esse comportamento.
 
Dos pensadores clássicos da política, quais, a seu ver, se aproximaram mais da verdade? Maquiavel e James Maddison. Hobbes, Montesquieu, Rousseau, Platão, Aristóteles - todos tiveram intuições geniais, mas ficaram longe de formular uma teoria geral da política, que é o que nós pretendemos oferecer. Repito: não estou diminuindo a genialidade desses pensadores, não julgo que sou mais inteligente que eles. Mas temos muito mais informação do que eles tinham, e ferramentas analíticas muito mais poderosas. Ora, Maquiavel não podia usar cálculo... É curioso como as pessoas se ofendem com isso. Na Física, não há problema em dizer que Newton, apesar de seu gênio, só foi capaz de avançar até certo ponto. As pessoas estão prontas a admitir que o uso de ferramentas matemáticas que vieram depois faz a diferença. Mas quando se estuda política dizer essas coisas ainda soa como heresia.

Um guia para os tiranos

Cinco regras básicas da manutenção do poder segundo os cientistas políticos Bruce Bueno de Mesquita e Alastair Smith

1. Tenha um núcleo de poder tão pequeno quanto possível

Quanto menos pessoas forem essenciais ao funcionamento do regime, mais você terá controle e maior será sua liberdade para usar os recursos de que dispõe.
Figura exemplar: Kim Jong-Il, que dependia de não mais que duzentos ou trezentos apoiadores diretos – tanto assim que recebeu o seu posto do pai e conseguiu transmiti-lo ao filho.

2. Dê ao máximo de pessoas possível o direito formal de ascender ao núcleo de poder

Se houver sempre um grande número de postulantes aos cargos mais elevados, as figuras essenciais do regime saberão que podem ser substituídas e tenderão a ser mais leais.
Figura exemplar: Vladimir Lênin, que substituiu o velho e fraudulento sistema eleitoral da Rússia pelo sistema de sufrágio universal. Ele compreendeu as vantagens de ter um vasto contingente de apoiadores "intercambiáveis".

3. Controle o fluxo de dinheiro


É melhor definir quem come do que ter uma mesa farta da qual todos se servem. O sistema mais eficaz para um ditador é aquele em que muitos são pobres e no qual ele pode redistribuir dinheiro discricionariamente, comprando assim apoiadores.
Figura exemplar: O presidente paquistanês Asif Ali Zardari. Embora a  renda per capita do país que ele governa esteja entre as menores do mundo, sua riqueza estimada é de 4 bilhões de dólares.

4. Pague aos seus principais apoiadores apenas o suficiente para mantê-los leais

Lembre-se de que seus asseclas prefeririam ser você, em vez de depender dos seus humores. Sua grande vantagem é ter a chave do cofre. Dê aos membros da sua coalizão o dinheiro necessário para que eles não se sintam tentados a procurar um substituto. E nem um centavo a mais.
Figura exemplar: Robert Mugabe, do Zimbábue. Ele enfrentou diversas ameaças de golpe de estado, mas nunca deixou de pagar o Exército, mantendo o seu controle a qualquer custo.

5. Não melhore a vida da população às custas da riqueza de seus apoiadores mais próximos

Esta regra é um contraponto à anterior. Não diminua a fatia do bolo entregue a sua coalizão para satisfazer as massas. Gente esfomeada não terá energia para derrubá-lo. Mas traidores no seu entorno imediato podem destruí-lo.
Figura exemplar: O general Than Shwe, de Mianmar. Quando o ciclone Nargis devastou seu país, em 2008, ele entregou os alimentos e remédios da ajuda humanitária ao seu grupo militar, que instituiu um mercado negro. Sem acesso direto àqueles gêneros, ao menos 140.000 pessoas morreram na esteira do desastre. Há quem fale em 500.000 mortes.