Um blog é de certa forma um diário público, o mais próximo de uma exposição pessoal de preferências, gostos, inclinações e orientações políticas que possa existir em nossos tempos de transparência quase absoluta.
A despeito de ser unilateral, ou seja, determinado unicamente pelo seu "proprietário", ele é também uma construção "coletiva", no sentido de ter seguidores, comentaristas, colaboradores voluntários e involuntários.
Tudo isso de forma aberta, livre, gratuita, quase um desmentido da famosa frase que pretende que "não existe almoço livre" no capitalismo. Os blogs parecem ser free lunchs, oferecidos por empresas absolutamente capitalistas e orientadas para o lucro e a acumulação de capital, duas expressões detestadas por certas pessoas.
Na verdade, não se trata exatamente de um free lunch, pois as facilidades que nos são concedidas são cobertas pela publicidade que Google e outras empresas do gênero recolhem no mercado, aí sim, capitalista, o de venda de produtos e serviços.
Pois bem, um blog é, portanto, o reflexo de nossas preferências pessoais, como dizia acima. Se ele agrada certo número de pessoas, ele tem sucesso e "adquire" bom volume de seguidores. Alguns começam a comentar e as relações se firmam e se expandem, até com certa cumplicidade com relação a análises e avaliações.
Obviamente, não se pode contentar a todos e por vezes chegam comentários críticos, opostos ao que vai aqui postado, ou até irônicos, quando não condenatórios. Faz parte do jogo e sempre devemos aceitar comentários de boa fé, pois eles refletem o que pensam as pessoas, mesmo contrariamente à filosofia pessoal e aos princípios do "administrador" do blog.
Nem sempre todo mundo é de boa fé, mas isso também é do jogo.
Existem pessoas, por exemplo, que gostariam de encontrar aqui o que elas mesmas pensam sobre o mundo e a política, e quando isso não ocorre (o que deve ser frequente, pois estou consciente de não representar, em absoluta, a "média" do pensamento universitário brasileiro), elas tomam a iniciativa de passar uma lição de moral ao "postador" principal, que sou eu mesmo.
Enfim, tudo isso é esperado. Patético é quando essas pessoas se revoltam, não contra o fato em si, podendo então analisá-lo em seu mérito próprio, mas contra o "mensageiro", neste caso eu mesmo. Atirar contra o mensageiro é o exercício mais fútil que pessoas sem argumentos praticam, em toda irracionalidade. Por muito menos, os mongóis desmantelaram o império persa, depois que o rei persa matou seus mensageiros.
Não contentes de encontrar aqui algo que contraria suas posições políticas e ideológicas, as pessoas contrariadas, ou ressentidas, querem "ensinar" ao mensageiro algo que ele recusa, por razões pessoais ou filosóficas.
Se não são acolhidos como esperam, elas se põem raivosas, como certo personagem obscuro que me escreveu o seguinte, e eu destaco com tudo o que ele tem direito, em negrito e em itálico:
A cada dia tenho mais certeza da sua falta de preparo para escrever sobre qualquer coisa.
O que eu poderia dizer a respeito disso?
Creio que nada, apenas dois conselhos:
1) Pessoas que se julgam superiormente dotadas, deveriam, em lugar de ficar seguindo os blogs de terceiros, fazer os seus próprios blogs. Eu lhes desejo, antecipadamente, sucesso na empreitada. Concorrência sempre é bom e eu sou partidário da competição aberta.
2) Pessoas bem mais preparadas do que eu para escrever algo de inteligente, deveriam fazê-lo, em lugar de ficar mandando comentários irados em blogs de pessoas tão despreparadas para fazê-lo como eu mesmo. Por que perder tempo batendo em cachorro morto, não é mesmo?
Mas eu sempre aprendo, em todas as situações e circunstâncias, pois estou sempre retirando uma lição útil de todos os episódios da vida.
O que me escreveu o cidadão acima -- não identificado (talvez contrariando seu desejo de publicidade pessoal), não apenas essa frase, mas outros comentários que ele porventura gostaria que eu publicasse, para inflar o seu ego e demonstrar amplamente sua vastíssima capacidade analítica -- me serve para preparar um outro trabalho, de uma série que eu pretendia apenas singela, dedicada a banalidades ortográficas, como os meus mini-tratados (sobre as reticências, as exclamações, as interrogações, as entrelinhas...). Enfim, puro divertissement...
Mas, com base no que o personagem obscuro me escreveu, vou fazer, não sei se nessa série ou em outra, um mini-tratado da mediocridade.
Creio que o indivíduo em questão se verá fielmente retratado...
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 31 de maio de 2010)
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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