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sábado, 11 de setembro de 2010

Como fazer a mentira prosperar impunemente...

Fácil: basta que a imprensa deixe de fazer o seu papel. Ou que os repórteres e jornalistas sejam coniventes com a mentira.
A questão é muito simples.
Políticos, de qualquer partido -- mas de alguns partidos em particular -- são mentirosos contumazes. Digamos que seja uma segunda natureza deles.
OK, isso é conhecido. Por isso mesmo, a cada afirmação de um político, sobretudo em época eleitoral, a imprensa deveria checar as afirmações e, se a afirmação representar, não a expressão de meros desejos vagos, mas uma clara violação da verdade factual, efetuar imediatamente um desmentido, puramente objetivo.
Tenho, como todos sabem, certa alergia à burrice, mas tenho ainda mais ojeriza à mentira e, sobretudo, horror quando ela é feita de má-fé, propositadamente, como fraude deliberada, o que já constitui desonestidade intelectual (ainda que este último adjetivo não se aplica em se tratando de certas pessoas).
Não contem comigo para que a mentira prevaleça. Por isso mesmo, sem dispor de acesso direto -- inclusive por impossibilidade logística e geográfica -- aos pronunciamentos mais mentirosos da temporada -- é a estação das mentiras, sabemos, embora para alguns seja o ano inteiro -- recorro ao jornalista conhecido para manter minha campanha de combate à mentira.
Paulo Roberto de Almeida

Lula já não preside o país; agora, só faz campanha. No palanque, espanca a verdade, mas eu a resgato
Reinaldo Azevedo, 11.09.2010

Leiam o que vai no Estadão Online. Volto em seguida:

Por Francisco Carlos de Assis, da Agência Estado:
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou duramente nesta sexta-feira, 10, a gestão do PSDB na área educacional no Estado de São Paulo, nos últimos anos, num ataque indireto ao presidenciável tucano José Serra e a Geraldo Alckmin, candidato da legenda ao Palácio dos Bandeirantes neste pleito. Sem citar nomes, Lula alfinetou: “A elite que governou São Paulo nunca se importou em colocar os pobres para estudar nas universidades”. E emendou: “Isso é uma vergonha para a elite que governou São Paulo nos últimos anos.”

O presidente, que participou na manhã de hoje da inauguração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP), em Suzano, na região leste da Grande São Paulo, também atacou de maneira indireta o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. “Tivemos presidente doutor com pós-graduação no exterior que não construiu uma universidade (no Brasil). Claro, ele já tinha aprendido. Para quê ensinar para os outros?”, ironizou, arrancando aplausos da maioria do público de cerca de 300 pessoas. E salientou que o povo brasileiro quer ter o direito de ser “doutor, engenheiro e não só pedreiro”.

Ainda nas críticas à “elite que governou São Paulo”, o presidente disse que só eles achavam que tinham direito de fazer graduação aqui e depois fazer pós-graduação em Chicago, Paris ou Londres. Enquanto isso, os pobres não tinham sequer direito de terminar o ensino fundamental. Segundo Lula, São Paulo é um dos Estados mais ricos da federação e tem uma das melhores universidades do País, que é a USP, mas infelizmente apenas 96 mil estudantes podem cursá-la.

O presidente lembrou que só o ProUni - programa de sua gestão - já possibilitou o ingresso de 194 mil alunos no ensino superior em São Paulo e no País a abrangência deste programa é de 704 mil alunos. E disse que seu governo atende a todos, independentemente de partido. “Vocês podem viajar por todo o País e perguntar para qualquer prefeito de qualquer partido, até do DEM e PSDB (adversários do PT nessas eleições majoritárias) se já negamos qualquer verba que eles foram pedir.” E voltou a alfinetar: “Enquanto a elite queria construir pontes e viadutos para colocar nomes de mães e tias, nós estamos construindo saneamento básico.”

Em Suzano, Lula falou também aos jovens, dizendo que eles não devem ter preguiça para estudar e cursar uma universidade. “Para constituir família, casar e ter filhos, tem que ter estudo e uma boa renda.” E citou as mulheres, maioria do eleitorado no País, destacando que elas também devem estudar para não depender dos maridos e companheiros. “A gente tem que ficar com a pessoa porque gosta e não em troca de um prato de feijão. A mulher não tem que agüentar desaforo dos homens. Elas podem ganhar mais que os homens sim.”

Comento [Reinaldo Azevedo]:
Deixarei de lado as considerações de Lula sobre as relações entre homens e mulheres porque teria de entrar num capítulo que me desviaria do essencial. Quem sabe um dia um desses historiadores da intimidade se interesse pelos sucessos sentimentais da companheirada. Porque vocês sabem: uma “nova era”, como apontam os “inteliquituais”, costuma ter até o seu próprio padrão sexual, certo? Vamos ao que poderia haver de sério e relevante em sua fala.

O Estado de São Paulo é um dos poucos a ter universidades estaduais e é o único que tem três delas, inclusive a USP, a maior e mais importante do país. E o número de vagas se expandiu durante os governos tucanos, atacados com ferocidade bucéfala.

De todas as áreas do governo Lula superfaturadas pela propaganda, a educação é certamente aquela em que se mente mais. Relembro alguns números que já publiquei aqui — números oficiais. Volto em seguida:
1 - Lula afirma por aí ter criado 13 universidades federais. É mentira! Com boa vontade, pode-se afirmar que criou apenas seis; com rigor, quatro. Por quê? A maioria das instituições que ele chama “novas universidades” nasceu de meros rearranjos de instituições, marcados por desmembramentos e fusões. Algumas universidades “criadas” ainda estão no papel. E isso, que é um fato, está espelhado nos números, que são do Ministério da Educação;

2 - Poucos sabem, certa imprensa não diz, mas o fato é que a taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais entre 1995 e 2002 (governo FHC) foi de 6% ao ano, contra 3,2% entre 2003 e 2008 - seis anos de mandato de Lula;

3 - Só no segundo mandato de FHC, entre 1998 e 2003, houve 158.461 novas matrículas nas universidades federais, contra 76.000 em seis anos de governo Lula (2003 a 2008);

4 - Nos oito anos de governo FHC, as vagas em cursos noturnos, nas federais, cresceram 100%; entre 2003 e 2008, 15%;

5 - Sabem o que cresceu para valer no governo Lula? As vagas ociosas em razão de um planejamento porco. Eu provo: em 2003, as federais tiveram 84.341 formandos; em 2008, 84.036;

6 - O que aumentou brutalmente no governo Lula foi a evasão: as vagas ociosas passaram de 0,73% em 2003 para 4,35% em 2008. As matrículas trancadas, desligamentos e afastamentos saltaram de 44.023 em 2003 para 57.802 em 2008;

7 - Sim, há mesmo a preocupação de exibir números gordos. Isso faz com que a expansão das federais, dada como se vê acima, se faça à matroca. Erguem-se escolas sem preocupação com a qualidade e as condições de funcionamento, o que leva os estudantes a desistir do curso. A Universidade Federal do ABC perdeu 42% dos alunos entre 2006 e 2009.

8 - Também cresceu espetacularmente no governo Lula a máquina “companheira”. Eram 62 mil os professores das federais em 2008 - 35% a mais do que em 2002. O número de alunos cresceu apenas 21% no período;

9 - No governo FHC, a relação aluno por docente passou de 8,2 para 11,9 em 2003. No governo Lula, caiu para 10,4 (2008). É uma relação escandalosa! Nas melhores universidades americanas, a relação é de, no mínimo, 16 alunos por professor. Lula transformou as universidades federais numa máquina de empreguismo.

Voltei
Um dia talvez a imprensa chegue ao requinte de não permitir que uma mentira prospere. O sujeito diz um batatada ou um dado impreciso, isso é informado ao leitor, e os dados corretos são fornecidos em seguida — não precisa haver uma bendita ou maldita opinião no texto. Só a informação. Um dia, talvez até a oposição faça isso.

E uma palavra sobre o ProUni: trata-se do maior programa da história brasileira de repasse de dinheiro público para entidades mantenedoras do ensino privado. Seria eu contra o ensino privado? Eu não! Sou a favor de privatizar até Jardim da Infância, embora não seja uma proposta muito influente. Agora, se é para repassar dinheiro público para quem quer que seja, é preciso exigir um padrão mínimo de qualidade no serviço oferecido. É o caso do ProUni? Não é.

Instituições que têm um desempenho ridículo no antigo “provão”, que foi desmoralizado pelo governo Lula, continuam a receber o leite de pata. O governo, com efeito, tem pagado para que os pobres estudem em verdadeira cabeças de porco disfarçadas de universidades.

Ninguém diz? Eu digo! O presidente continuará a sustentar as suas barbaridades por aí sem ser confrontado porque, afinal, “não se pode bater no Lula ou se perde voto”? Pois é. Ainda bem que não sou candidato a nada. Aquele blogueiro oficial e pançudo ironizaria: “É a turma dos 2%…” É bobagem, mas tudo bem. Fosse assim, já seriam 4 milhões de pessoas, não é mesmo? Um bom recomeço, certamente.

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