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domingo, 22 de abril de 2012

Ah, esses museus europeus...

Este post é para deixar encantados os apreciadores da cultura refinada, e também para registrar uns poucos -- foram muitos, dezenas mais do que vão aqui consignados -- museus que frequentamos, eu e Carmen Lícia, neste périplo acadêmico-cultural pela velha Europa. Sim, acadêmico, por um lado, já que estou dando aulas na Sorbonne (mas moderadamente, digamos assim), em de outro lado, aproveitando o tempo livre para percorrer os museus da Europa.
Bem, o post pode também irritar alguns inimigos da cultura, do saber, e dos prazeres culturais -- um já se manifestou aqui, como registrei num post abaixo -- e por isso reincido no crime que cometo de maneira absolutamente consciente, e até provocadora: sou sim amigo da boa cultura, do conhecimento agradável, da sofisticação intelectual. E o faço em pleno trade-off financeiro-intelectual: investir em arte, em livros, em cultura, em novos saberes sempre tem alto grau de retorno, que é o prazer de apreciar um belo quadro, saber um pouco mais de artistas da pluma, do pincel, da pena, do computador, poder degustar um bom prato e um excelente vinho, tudo isso com tempo, sem a pressão do trabalho ou de algum compromisso profissional. 
Bem, mas esse porquinho que vai aí do lado não tem culpa nenhuma nessa história, apenas quis registrar a iguaria num "macelaio" de Bologna, que de certa forma também faz a sua arte, talhando belos pratos que prometem muito e só de contemplar dão água na boca.
Estou sempre pressionado por trabalhos prometidos, com um pipeline mais longo do que seria desejável, o que não impede de largar tudo e percorrer centenas de quilômetros apenas para visitar uma exposição do outro lado do continente. Impossível ficar em apenas um museu, pois as atrações se oferecem a todos e a cada um a cada virada de página de jornais de revistas.
Os museus europeus se completam, obviamente, mas em mais de um sentido. Em vários você tem "buracos", ou seja, obras emprestadas de um a outro, para exposições temáticas ou especializadas num artista. Mais de uma vez visitamos a "casa" de um, transformada em museu, para depois visualizar as obras que "faltavam" em outro museu, a centenas de quilômetros dali. Aliás, já nos aconteceu isso até na China, com peças da Umbria (Museu de Perúgia), que estavam numa exposição em Shanghai sobre os 400 anos da morte de Mateo Ricci (aliás em Beijing, onde ele está enterrado, na Academia Militar, e temos fotos das tumbas dos jesuitas).
Algo do gênero aconteceu, por exemplo, com Van Gogh, depois que visitamos seu ambiente derradeiro de trabalho, em Auvers-Sur-Oise, uma cidadezinha-refúgio de artistas, ao norte de Paris, onde ele pintou o Doutor Gachet, que o tratou e o acolheu muito bem, o albergue onde ele se alojou, e também esta igreja, como sempre interpretada à sua maneira. Soubemos, por esses acasos que acontecem, quando se lê toda a imprensa europeia, que uma grande exposição sobre ele estava quase terminando em Genova. Pronto, bastou isso para desviarmos completamente o roteiro da programada Europa central (Alemanha, Praga, e outras paragens frias por lá), para enveredarmos pela nossa Itália sempre acolhedora e fascinante. 
Valeu a pena, pois não era apenas sobre Van Gogh, e sim sobre vários da mesma época, com Cezanne, Monet, e Renoir (que tínhamos visto, como acima ilustrado, em sua casa de Cagnes-Sur-Mer). Aqui vai o cartaz da mostra, no fabuloso Palazzo Ducale de Genova.
Não foi a única exposição em Genova, obviamente, mas seria impossível relatar tudo o que vimos, inclusive no belo museu marítimo, obra arquitetônica do conhecidíssimo Renzo Piano. O conteúdo é mais do que compensador, aliás absolutamente didático, e quase me sinto um companheiro de Colombo, de Fernão de Magalhães e de outros. Aliás, em Dieppe, fomos ver o Museu La Perouse, que ainda pretendo registrar aqui, quando possível. 

Um excelente exemplo de ubiquidade está e presente em Monet, aqui apenas relembrado pelo seu jardim de Giverny, a oeste de Paris. Sua casa também foi transformada em museu, e o jardim, com as pontes "japonesas" nos étangs floridos, foi preservado quase como se ele estivesse ali, vigiando o trabalho dos jardineiros que cuidaram dessa arte "vegetal", enquanto ele cuidava de telas e pincéis, em sua casa-atelier. Monet está em todas as partes na Europa, e até no Brasil (no museu de Arte de SP, por exemplo).
Hoje tudo pode ser visto pelo Arts Project do Google, que permite "penetrar" na tela de perto, mas sempre é uma surpresa chegar perto do original e tentar descobrir como trabalhava aquele artista, como eram feitos aqueles minúsculos pontinhos de tinta que, no conjunto se convertem em telas fascinantes.

Vamos em frente. Já conhecíamos muitos dos museus que estamos visitando pela segunda ou terceira vez, o Louvre incontáveis vezes, mas sempre aparece um novo, ou uma nova exposição (como a de Artemísia, no Maillol, por exemplo).
Uma surpresa agradável, neste caminho através da Suíça, vindos da Itália, foi descobrir o artista completo que era Herman Hesse, o criador de obras literárias universais, das quais eu li poucas, como Sidharta, O Lobo da Estepe, ou Demian, entre muitas outras. Foram todas as suas obras literárias, ou no papel, que acabaram lhe concedendo o Nobel de Literatura em 1946, como retratado abaixo.
Mas pouco conhecíamos, ou raramente tínhamos ouvido falar, do Hesse pintor, geralmente de seu próprio ambiente. Pois o Herman Hesse estava presente em dois cenários, complementares, com obras intercambiadas ou selecionadas dentre coleções particulares, o que é sempre magnífico, pois raramente se tem a oportunidade de ver de perto o que está fora dos museus oficiais.
Na casa em que ele morou em Montagnola, perto de Lugano, estão muitos livros, manuscritos, objetos pessoais e, também, muitas aquarelas, como esta que ele pintou a partir da vista que tinha de sua casa no alto da "colina de ouro". Ali mesmo, na praça, comemos num restaurante local, a excelente comida suíça de sempre. 
Como fazer, então, para descobrir ainda mais coisas de Herman Hesse? Só descobrindo por acaso, ou indo de um museu a outro.
Por sorte nossa, assim como fomos ao último dia do Van Gogh em Veneza, e ao último dia dos arquivos do Vaticano, no museu Capitolino, em Roma, conseguimos encaixar uma visita ao Herman Hesse pintor no Kunstmuseum de Berna, onde pinturas similares estavam expostas, mas basicamente a partir de coleções particulares (como era o caso também de muitos Brueghel em Como).
A pintura ao lado, retrata o Ticino suíço, mas não poderia estar na sua casa de Montagnola, pois foi adquirida por alguém (nenhum dos proprietários particulares teve seu  nome revelado, provavelmente por razões de segurança, mas talvez também por razões fiscais ou de herança...).
Quando residiu em Berna, Herman Hesse foi acometido de depressão, no curso da primeira guerra mundial, quando começou a pintar. 
Foi lá também que escreveu Demian, publicado com o nom de plume de Emil Sinclair, em 1917, como revela esta capa da primeira edição, pelo seu editor alemão. Hesse ainda era muito inseguro quando escreveu esse romance, quase autobiográfico.
Dá vontade de ler novamente. 
Aliás, para não me deixar sem companhia de "bolso" -- sim, além de meus Moleskines de bolso, um médio e um pequeno, sempre tenho um livrinho de bolso. Antes era um Kant no Paraíso, que deixei em Paris; depois foi o Erasmus, de Stefan Zweig -- acabei adequirindo, na casa de Montagnola, uma edição italiana de vários escritos de Hesse sobre livros e leituras: Una biblioteca della letteratura universale (Milano: Adelphi Edizione, 1979), que já está um pouco amassado de tanto andar no meu bolso, em todas as partes...
O resto fica para outra ocasião...


Paulo Roberto de Almeida 
(Basileia, 23/04/2012)

3 comentários:

Anônimo disse...

Prezado Paulo Roberto,
Tenho alguns anos à sua frente e há muito vivi em França, apreciando excelentes livros e suas belas paisagens passando por Bordeaux, Auvergne, Ile-de-France e tantas outras. Não sou tão imbecil para ficar relatando meus feitos de viagens, visto que a discrição faz parte de minha personalidade.
Diferente de você que faz parte da escória do MRE envergonhando a carreira, com sua bipolaridade exacerbada, sou um homem respeitado décadas e décadas.
Lembro-me que quando você passava, todo “mocorongo”, nós ríamos de sua bizarrice, inclusive, em suas vestes desalinhadas e o Lula ainda nem sonhava em estar no Poder.
Eu tenho uma empresa com filhos e noras, o que justifica o meu poder aquisitivo altíssimo: através do trabalho árduo mesmo com a idade que tenho. O tempo que você perde neste blog sem classe alguma, eu ganho trabalhando e gerando renda para o país.
Agora você ? Vai saber...
Não faço e jamais fiz discursos. Tenho atitude. Quanto ao meu português, verifico que tens razão. De fato, escrevi rapidamente e sem observância das regras da norma culta. Um erro meu, que não me desmoraliza em nada.
Agora, quanto à sua vida – você já confessou uma das falhas de seu IR [tão burro que fez prova contra si mesmo].
Curta bastante suas viagens – relaxe e aprecie a Europa, já tive este prazer por toda a minha vida. Agora, em breve, um determinado “Banco no Brasil” apreciará e muito revelar seus investimentos na monta de R$ 200.000,00 ou mais. (“Brasas” que o diga). Não deve ter entendido a brincadeira devido ao meu português ruim, mas eu quis dizer que gosto muito de “brasas” para fazer churrasco, só nos resta saber quem será o churrasco desta vez?
Um simples professor universitário?
Quem dera que todos os professores universitários brasileiros pudessem apreciar tamanha cultura e deter sua eloquência na lapidação de seu saber. Pena que ninguém no Brasil, saiba quem é você.
E saiba sonegação, não dá multa, mas sim cadeia, bem como o investimento em nome próprio de monta de instituição alheia.
Continue analisando o meu português, assim poderá ocupar mais o seu tempo até que volte para ao Brasil.
Eu dormirei tranquilo, quanto a você aproveite sua angústia na Alemanha e indico que vá até Augsburg e Munchen.
Boa viagem, simples professor universitário!
Aguardarei com prazer sua recepção no Brasil...

Um anônimo estatal (e não mais governamental)

Anônimo disse...

Se o senhor soubesse o que é refinamento cultural, e se seu espírito não fosse magro, não escreveria jamais "eu e Carmem Lícia", pois é uma norma básica de etiqueta nos colocarmos por último, sobretudo quando a outra pessoa é uma mulher, assim: "Carmem Lícia e eu".

Gustavo disse...

Agradeço pelo post, professor. Obrigado por compartilhar!

Abraços e aguardamos mais informações e fotos futuras.