Sem comentários. (E precisa?)
A trajetória decadente do Itamaraty
Deteriora-se uma refinada expertise da burocracia pública
EDITORIAL O Globo, 1/07/2012
Sede do Império português, reino independente, república, o Brasil se notabiliza por se assentar há séculos num grande aparato estatal — até paga um preço por isso, na forma de uma burocracia impenetrável, de uma tentação sempre presente de o poder público exercer uma tutela sobre a sociedade. Construiu, porém, máquinas administrativas de grande tradição, donas de culturas próprias e de razoável profissionalismo. Entre elas está o Itamaraty, um dos únicos segmentos civis da burocracia a ter patrono, como as Forças Armadas, outro braço secular do Estado brasileiro.
José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, se confunde com as bases da moderna diplomacia brasileira, chefiada por ele entre 1902 e 1912, na República. Diplomata ainda no Império, Rio Branco marcou de tal forma o estilo da política externa brasileira que ela se converteu em marca do Itamaraty, independentemente do governo de turno.
Sem uso da força, Rio Branco — nome que manteve com o fim do Império — negociou e consolidou as fronteiras brasileiras, ao exercitar ao extremo a diplomacia, no sentido mais técnico da palavra. Moldou uma política externa serena e firme, sem interferir em assuntos internos de outros países, sem arroubos e com um entendimento claro dos interesses nacionais.
Pois esta herança tem sido dilapidada nos últimos nove anos, sendo a crise com o Paraguai — em que o governo Dilma foi conduzido a partir de interesses externos — um cristalino e preocupante exemplo. Se o Itamaraty costumava trabalhar para afastar turbulências das fronteiras, deixou-se levar por interesses do nacional-populismo chavista e turbinou uma crise com um aliado estratégico, responsável por 15% do fornecimento da energia consumida no país, país onde há uma comunidade de brasiguaios de 400 mil pessoas, parceiro comercial forte etc.
O Itamaraty perdeu a agenda própria. Infelizmente, a agenda da diplomacia brasileira passou a ser a do projeto político do grupo no poder. O Itamaraty tende a ser um ministério qualquer, com rala visão estratégica. Impensável repetir-se o reconhecimento do governo angolano da guerrilha do MPLA, apoiada pelos russos e sustentada por tropas cubanas, num lance de grande profissionalismo do Itamaraty, responsável, nesta decisão, por abrir as portas para grande influência brasileira na costa ocidental africana. Não importou que naquele 1975 o Brasil estivesse sob ditadura militar, sem relações diplomáticas com Havana e a uma fria distância de Moscou. O presidente-general Ernesto Geisel, radical anticomunista, ouviu as ponderações do ministro Antônio Azeredo da Silveira, Silveirinha, do embaixador Ítalo Zappa e ficou do lado certo, do ponto de vista do Estado brasileiro — não do governo.
No início dos anos 80, até por simpatias ideológicas, o governo, ainda militar, de João Baptista Figueiredo tenderia a se alinhar à Casa Rosada, na aventura do general Leopoldo Galtieri na invasão das Malvinas. Mas o Itamaraty de Saraiva Guerreiro manejou a situação com habilidade. O Brasil ficou com a Argentina — como deveria ser devido a razões geopolíticas —, mas não rompeu com a Inglaterra, nem deixou de alertar os americanos para a inviolabilidade do território sul-americano.
Nove anos de subordinação do Itamaraty a um projeto político-partidário já tornam visíveis amplas fissuras nos alicerces de uma das mais refinadas expertises da secular burocracia pública do país.
Notícia publicada em 1/07/12
"... governo Dilma foi conduzido a partir de interesses externos (...) Itamaraty (...) deixou-se levar por interesses do nacional-populismo chavista e turbinou uma crise com um aliado estratégico..." Não poderia ser outra (ou infelizmente poderia ...) o medíocre meio de comunicação a transmitir tamanha distorcida informação: dona Rede Globo, o câncer do país! Vejamos... Primeiramente, o governo Dilma não "se deixou levar" por interesses externos, esquecendo dos interesses internos brasileiros. O Brasil, como parte integrante de "projetos America Latina" (Mercosul, Unasul) não poderia fazer diferente, a não ser agir em conjunto com os importantes blocos econômicos e geo-politicos que se desenham na região; negligencia-los, ai sim, seria não levar em consideração os interesses brasileiros. Segundo, não somente o Brasil não foi influenciado pela esquerda chavista, como infelizmente não o foi! Chavez, junto com Correa (Ecuador) e Morales (Bolivia), propunha, com razão, medidas mais contundentes ao encontro do pais golpista, como sanções econômicas e energéticas. Golpes de estado e ditaduras militares já infectaram por muito tempo esse continente para que sejamos tão complacentes com tais ações, quando estas voltam a bater em nossas portas. Tolerar golpes de estado, sancionando o pais golpista apenas administrativamente, é envia-lo pra casa dando-lhe férias remuneradas: não precisam mais se comprometer com o Mercosur, mas continuam desfrutando dos acordos econômicos! Assim, quando dona Rede Globo se pronuncia dizendo que foi o Brasil que rompeu relações com um parceiro estratégico, o Paraguai, deve-se tomar isto como mais uma desinformação dos medíocres meios de comunicação brasileiros, pois, na realidade, foi o Paraguai que resolveu retomar o caminho das cinzas, dos golpes, das ditaduras. Mas bom, vindo de quem vem, isso não surpreende ninguém! Dona Globo talvez só esteja com saudades de uma época em que ela podia apoiar ditaduras militares em seu próprio pais.
ResponderExcluirVerborragia anti-Globo do caro Anônimo, a todo vapor!
ResponderExcluir1. Importantes Blocos Econômicos e Geopolíticos? (onde, onde?)
2. Quanto ao Paraguai e o Mercosul, observai o Tratado de Assunção e as regras do Direito Internacional, antes de vomitar ladainhas "bolivarianas".
3. Não perca tempo porque a novela das 8 que você deve adorar está começando!
Anônimo anti-Globo,
ResponderExcluirDiria um jornalistas que vcs amam, ou odeiam (não importa), que o primeiro sinal de um petralha furioso, de um Adesista Anônimo, de um governista enraivecido, é que ele, em lugar de se ocupar da substância da matéria, da coisa em si, ele começa a ofender a Globo, a revista Veja, a "mídia" em geral, que são golpistas, que são anti-governo, que criticam as políticas maravilhosas do governo (como se fosse proibido, ou indevido, talvez até antipatriótico).
É o sucedâneo atual daqueles déspotas do passado, que matavam o mensageiro, ou o enviado do inimigo.
Atualmente, são os que atiram contra o termômetro, sem sequer se preocupar com a febre.
Eu não partilho de suas diatribes antiGlobo e acho que vc deveria perder tempo em tratar da substância, e não da mensagem.
Postei agora, mas da próxima vez que um petralha enraivecido começar a xingar a imprensa, em lugar de discutir os problemas, basta cortar...
O Comando dos Petralhas Vigilantes vai ter muito mais trabalho, para elaborar mensagens um pouco melhores, em lugar de só xingar a imprensa.
Bando de totalitários...
Paulo Roberto de Almeida
A causa disso tudo em três letras: MAG
ResponderExcluirCQD
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