A idiotice e a desonestidade "inteliquitual" são tão grandes que só se pode antever desastres e mais desastres, pelo futuro previsívil.
Multiplique isso que o jornalista está contando por 10 mil, ou mais...
Paulo Roberto de Almeida
Como selecionar apenas os idiotas no ENADE
Por Carlos Alberto Sardenberg*
Mesmo com algumas crises financeiras e bolhas, a economia mundial exibe crescimento vigoroso desde os anos 1990, e simplesmente espetacular de 2003 para cá. Diversos fatores se combinaram para isso - estabilidade monetária (inflação dominada, juros baixos), abertura ao comércio externo e à circulação de capitais, tecnologia de informação e telecomunicações, permitindo ganhos de produtividade. Mas há um outro fator histórico, decisivo: a incorporação de dezenas de países ex-socialistas e seus bilhões de habitantes ao capitalismo global.
Mesmo com algumas crises financeiras e bolhas, a economia mundial exibe crescimento vigoroso desde os anos 1990, e simplesmente espetacular de 2003 para cá. Diversos fatores se combinaram para isso - estabilidade monetária (inflação dominada, juros baixos), abertura ao comércio externo e à circulação de capitais, tecnologia de informação e telecomunicações, permitindo ganhos de produtividade. Mas há um outro fator histórico, decisivo: a incorporação de dezenas de países ex-socialistas e seus bilhões de habitantes ao capitalismo global.
A
enorme capacidade de criar riqueza do capitalismo encontrou locais
propícios para se multiplicar. Capitais do mundo todo encontraram novos
pólos de investimento. Populações desses países - muitas com alto nível
educacional, como as do Leste Europeu - entraram com tudo no modo de
produção capitalista, com uma forte vontade de prosperar. Em diversos
países se formou uma combinação de mão-de-obra educada, mais barata do
que nos centros mundiais e trabalhando em plantas modernas, de alta
produtividade.
Mais
ainda: muitos países trouxeram novos recursos naturais, como o petróleo
e o gás da Rússia e vizinhos, que alimentam a Europa Ocidental. E,
sobretudo, bilhões de novos consumidores foram incorporados aos mercados
mundiais. Com o crescimento acelerado desses novos capitalistas e o
contínuo ganho de renda, os mercados se multiplicaram. (A brasileira
Arezzo vai abrir lojas na China para vender sapatos femininos a partir
de US$ 150 o par. Para quem? Para as novíssimas classes A e B que
crescem naquele país. O consumo de carnes cresce fortemente nesse novo
mundo, para alegria dos exportadores brasileiros.)
Na verdade, como notou Alan Greenspan em seu livro A Era da Turbulência,
temos o privilégio de acompanhar um evento único: estamos verificando a
olho nu, em tempo curto, como se forma esse modo de produção
capitalista, processo que, na outra parte do mundo, levou séculos para
se consolidar.
Há um único lugar no mundo que está tentando fazer o caminho contrário, para o socialismo. Adivinharam, claro, a América Latina.
Só
nesta parte do mundo as idéias socialistas são levadas a sério, na
teoria e na prática. No Brasil, temos conseguido escapar de certas
experiências, mas fica sempre uma inquietação no ar, pois o pensamento
socialista domina as escolas e as faculdades na área de humanas.
O
pessoal continua gastando um tempo enorme estudando marxismo e
socialismo - história morta. E sou capaz de apostar que nenhuma escola
de ciências sociais tem estudos sérios sobre esse fenômeno da introdução
do capitalismo em meio mundo.
Um exemplo desse quadro é a última prova do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), do Ministério da Educação.
Os
testes não deixam outra possibilidade: se o universitário concorda com a
idéia de que a história e a sociedade se movem pelo conflito de classes
entre capital e trabalho, como ensina o marxismo, então deve ter tirado
nota 10.
Se,
ao contrário, o universitário pensa que a liberdade individual, o
mercado livre e o direito de propriedade constituem os melhores
fundamentos das relações sociais e econômicas, como prova o mundo
moderno, esse aluno errou a maior parte das questões.
Se
pensa isso e foi esperto, não errou, pois as questões são construídas
de tal modo que a "resposta socialista" surge como obviamente correta e a
outra, "neoliberal", parece uma estupidez ou uma ingenuidade.
A
questão 10, por exemplo, pede uma breve dissertação sobre o papel
desempenhado pela mídia nas sociedades democráticas, a partir de três
enunciados. Dois deles, um dos quais é uma entrevista de Noam Chomsky,
sustentam que a mídia (assim, no geral) é um instrumento das classes
dominantes, do capital, para manter a exploração e bloquear, de modo
sutil e subliminar, a circulação de "idéias alternativas e
contestadoras".
O
outro enunciado é maroto. Procura elaborar uma caricatura bonitinha.
Diz assim: "A mídia vem cumprindo seu papel de guardiã da ética,
protetora do decoro e do Estado de Direito. Assim, os órgãos midiáticos
vêm prestando um grande serviço às sociedades, com neutralidade
ideológica, com fidelidade à verdade factual, com espírito crítico e com
fiscalização do poder onde quer que ele se manifeste."
Nesse
quadro, se o aluno entendesse que, nos regimes democráticos, há
jornais, revistas, rádios e TVs que procuram relatar os fatos da maneira
mais objetiva possível; que a imprensa não-partidária e não-religiosa é
induzida a isso pela concorrência e pela competição no livre mercado;
que há, sim, imprensa comprometida com a democracia, com a liberdade de
opinião e com a vigilância dos governos, sendo isso testado pelo seu
público, o melhor a fazer seria evitar essa argumentação, pois o
contexto da questão indicava que seria considerada falsa.
Para
o Enade, ou a mídia é de uma santidade exemplar, impoluta e infalível;
ou não existe a menor liberdade de imprensa e de opinião e a mídia dita
democrática é sempre um truque para calar os trabalhadores e suas
lideranças.
Quem
se lembrou dos ataques de membros do governo e do PT à "mídia golpista"
lembrou bem. É essa visão mesmo. Fazer reportagens sobre mensalão e
aloprados, criticar a administração lulista e seu partido só pode ser
coisa da direita, pois o governo, sendo o deles, necessariamente está
certo.
Que o PT diga isso, faz parte do jogo, desde que não tentem, a esse pretexto, melar o jogo. Agora, que o MEC coloque essa visão esquerdista como a verdade, numa prova para milhões de alunos, é lavagem cerebral.
*Carlos Alberto Sardenberg é jornalista. Site: http://www.sardenberg.com.br/
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