Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
quinta-feira, 4 de abril de 2013
Coreia do Norte: paraiso do Photoshop (quem diria...)
Eu também concordo: vou passar a photoshopar (existe este verbo?) meus livros, e transformá-los em muitas dezenas mais, como faz a poderosa marinha norte-coreana.
Stalin, coitado, só tinha a tesoura e a cola para recompor fotografias. Nossos amigos norte-coreanos podem se desempenhar com a melhor tecnologia capitalista...
Paulo Roberto de Almeida
A guerra de imagens da Coreia do Norte
VEJA.com, 3/04/2013
Na tentativa de intimidar inimigos externos e demonstrar poder para o público interno, a Coreia do Norte parece ter se inspirado no realismo socialista dos anos 1930 – a arte “patrocinada” (ou antes imposta) pelo regime soviético, que invariavelmente mostrava trabalhadores e soldados construindo unidos a sociedade do futuro. A retórica belicista norte-coreana, inflada desde as novas sanções aprovadas pela ONU contra o país, em resposta a um teste nuclear realizado em fevereiro, vem acompanhada por várias dessas imagens “realistas”.
As fotos divulgadas pela agência estatal norte-coreana e distribuídas pelas agências internacionais têm como temática constante as inspeções feitas pelo ditador Kim Jong-un a fabricas e quartéis, militares em treinamentos e equipamentos de guerra. Todas as imagens mostram o contrario do que pretendiam – ou seja, que o poderio da Coreia do Norte não é tão ameaçador quanto Pyongyang tenta fazer crer.
Um artigo publicado pelo jornal The Washington Post chamou a atenção para a foto de uma visita de Kim Jong-un a uma unidade do Exército que estaria desenvolvendo tecnologia militar. “É possível que este computador – colocado em uma caixa de metal gigante bem retrô – faça algo extraordinário. Mas preste atenção à cadeira de sala de jantar, ao teclado e ao mouse Logitech. Nada disso grita ‘tecnologia militar avançada’”, diz o texto (leia a íntegra, em inglês).
Além disso, algumas fotos não passam de montagens. Como a que mostra a chegada de embarcações e soldados em local não identificado do Norte. Um editor de fotografia da agência France-Presse disse ao jornal britânico The Telegraph que os barcos foram copiados e colados na imagem para dar a impressão de que são muitos. “Geralmente, um simples exame com nosso software descarta as fotos da (agência estatal) KCNA, mas eles estão ficando melhores com o Photoshop”, disse Eric Baradat.
Internamente, destacou a agência Associated Press, os norte-coreanos têm acesso a uma imagem mais leve do ditador, que é retratado como um jovem líder enérgico, do povo, um homem de família – ao lado da sorridente mulher, Ri Sol Ju. Vale lembrar que depois da morte de Kim Jong-il, anunciada em dezembro de 2011, rodaram o mundo imagens igualmente ensaiadas da população chorando, desconsolada, a perda do “amado líder”. A escola norte-coreana de propaganda tem longa tradição.
Vídeos
Além das fotos, a guerra propagandística do governo de Kim Jong-un usa vídeos para indicar o que poderia fazer contra adversários. Na última montagem, o Exército do Norte invade Seul com milhares de paraquedistas e toma milhares de americano como reféns no sul a península. Nos vídeos anteriores, a ofensiva foi contra a Casa Branca e Capitólio , ambos destruídos por mísseis, e Nova York, que aparece em chamas.
Se depender dos efeitos especiais dos vídeos, o vizinho do Sul e os Estados Unidos não têm com o quê se preocupar. A guerra de palavras reforça as versões alucinadas da realidade, ao mirar alvos estratégicos nos EUA que a Coreia do Norte esta longe de poder alcançar.
Como sempre, ao longo das últimas décadas, os rugidos de rato de Pyongyang têm o objetivo de arrancar da comunidade internacional os recursos básicos – a começar por alimentos – de que o regime precisa para se sustentar. O realismo socialista das fotos e vídeos da Coreia do Norte é tao somente um motivo de piadas. O motivo de preocupação se encontra, infelizmente, no eventual irrealismo socialista de Kim Jong-un e seus generais, que podem, sim, causar danos reais à Coreia do Sul e talvez ao Japão – sem falar no dano profundo que continuam a causar à sua própria população.
Um comentário:
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.
http://www.foreignaffairs.com/articles/139091/keir-a-lieber-and-daryl-g-press/the-next-korean-war?cid=nlc-this_week_on_foreignaffairs_co-040413-the_next_korean_war_3-040413
ResponderExcluirVale!